Saudade do nosso cotidiano de cada dia

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 04 de abril de 2020

Saudade. Estou com uma saudade daquelas de tanta gente. Gente que nem sabe ou poderia imaginar que estou com saudade delas. Saudade tipo do Léo, do Marquinho, do Reginaldo, dos camaradas lá do Bar América. Da Rivana, a maravilhosa da Rivana. Saudade da Ana Paula no Willa, da Kátia do Casarão. Saudade da menina que me atende lá no Baião e também do senhor que trabalha naquela pastelaria que me fugiu o nome agora. Saudade do tanto de gente que cumprimento na Alberto Braune. Saudade daquela senhorinha, das tantas senhorinhas que pedem informação na fila do banco. Saudade do cotidiano. Desse cotidiano de ruas abarrotadas, de buzina, de ônibus atrasado, de fila, de guarda-chuva em marquise, de cobrador de estacionamento, de gente que te olha torto só porque você não votou no Bolsonaro e de outras que te olham tão estranho quanto porque você não é petista. Saudade dessa discussão, mas olho no olho. De rede social, estou cheio. Porque na rede, falta o tom de voz que mostra respeito e empatia.

Não tenho saudade do vazio. Cidades fantasmas não são cidades, porque cidades precisam de gente para serem cidades. Um publicitário, Wilson Peixoto, define bem: “Saudade é a essência em estado latente do amor”. Com muita saudade da minha Nova Friburgo. Das suas segundas, quartas e sábados. Da barraca do Pelé, da cocada da esquina da Renver, da Arlete na Rua Portugal, do Chiquinho da banca, do Vovô em seu bar, em Lumiar.

Estou com saudades da minha vovó, dos meus irmãos e dos meus pequeninos afilhados... Miguel, Tiago, Davi. Saudade do Davi (outro Davi), filho do Marcellinho, que nasceu em meio a essa pandemia e que nem pude conhecer ainda, a não ser por foto. Saudade da turma dos tantos trabalhos, porque home office não é tão divertido quanto cumprir horas no serviço. Saudade da Naiara, de todas as minhas amigas e amigos de longa data, de curta data, de outras vidas. Do Gui e do amigo famoso (Bernardo Dugin) dos amigos flamenguistas, tanto quanto dos vascaínos, tricolores e botafoguenses. Andrezin, Bruno, Hugo, Thiago, Marcos Vinicius, Dani, João Victor, compadre Bernardo (outro Bernardo famoso), Raphinha, Rafael, Rafão, Gustavo, Lucas, Digão, Filipes... Luís Filipe, Charanga, Pinguin e a família toda dele e a família da Tamara e tantas outras famílias de amigos e mais amigos de todas as tribos... Do time todo do Friburguense.

Quanta saudade também dos meus papos no FIFA (Tomás). Saudade daquela amizade que comecei a me encantar e que o encantamento está cheio de saudade de seguir a se encantar. Saudade do jantar de aniversário que nem aconteceu, mas que estou devendo, Mathias. Saudade, saudade, saudade... Saudade de você que me lê agora. Saudade... esse sentimento tão bonito.

Tenho até saudade das reuniões chatas e mais ainda daquelas de traçar futuro, sonhar junto. Teremos futuro? Saudade gigante que me faz perceber que eu amo muitas pessoas e amo o cotidiano que divido ou multiplico com elas. Mas sabe? Eu fiz uma escolha para minha saudade, pelas nossas saudades. Vai durar mais uns dias, duas semanas talvez, um mês... Não sei. Prefiro ter saudade que vai acabar no reencontro do que saudade eterna de nunca mais poder ver, exatamente do jeito que nos vimos da última vez, de nunca mais ter essas coisas, viver isso e aquilo que passa tão despercebido no dia a dia de pessoas que esperam o ônibus ou as que se aglomeram nos bares da Monte Líbano ou as poucas e boas que enchem a minha casa... e o meu coração de sentimento bom.

Por isso, estou em casa o tanto quanto posso, recolhido com a minha saudade que logo, logo – acaba. Tudo isso aí vai passar e a gente há de ser feliz como diz aquela música. Que música? Ah! São tantas que dizem que sorriremos de novo, que nos veremos de novo, que vamos nos reencontrar... Quer saber? Escolhe você a música, cada um escolhe uma que haveremos de cantar bonito e forte para acabar com essa saudade, nessa nossa saudade da roda de samba com o Bigode Serrano e toda música que a gente dança juntinhos com Vitor Ferraz ou Sam Lucca ou os dois juntos. Com a Bruninha Petribu e o Alan no intervalo... Todos nós felizes e vencedores dessa batalha pela vida, vencida graças ao amor incondicional que nos dedicamos uns aos outros.

Publicidade
TAGS:

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.