Um mundo diferente sim, mas acima de tudo melhor

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 02 de maio de 2020

A Baía de Guanabara já tem alguns pontos com águas claras. A cinza São Paulo está com o ar mais puro. Em alguns grandes centros, já se pode observar melhor as estrelas no céu. Os moradores deste planeta, continuam habitando-o. O que mudou é a relação dos moradores com os lugares em que vivem. Por obrigatoriedade, é verdade. Será possível viver com menos? Será ilusão poluir menos? Podemos mudar nosso comportamento no futuro em que estivermos liberados para ir às ruas?

O mundo nunca mais será o mesmo - afirmam especialistas das mais diversas áreas. Espero que a razão deles vá ao encontro de um mundo diferente sim, mas acima de tudo melhor. E, isso depende diretamente de ações individuais que encontrem eco no coletivo.

Um mundo melhor, para mim, é um mundo mais sustentável, mais igualitário, mais livre. Um mundo em que impere o amor, em que a conexão entre as pessoas seja mais de alma, do que por cabos de fibra óptica. Empatia. Um mundo onde o homem é parte da natureza e como parte, cuida dela como cuida a si mesmo, como espécie que respeita também aos que virão. Resiliência. Um mundo que valorize a educação mais do que o consumo, e, a sabedoria mais do que o dinheiro. Solidariedade. Um mundo que derrube fronteiras e que se desfaça até das linhas imaginárias que nos dividem em nações. Nenhuma explorando a outra ou sendo explorada. Um mundo que consiga execrar do dicionário, de todos os dicionários das mais diversas línguas, o significado tacanho do verbo explorar. Que explorar seja apenas conjugado para descobertas interiores, para conhecimento conjunto da paz e da fraternidade.

O meu lado pessimista não consegue deixar de observar a ganância e o desprezo de alguns para com a vida. Narrativas arrogantes que se levantam contra a vida, baseadas no rancor e na raiva. Infelizmente, vejo gente, com talento para o bem, insuflada - pelo desespero ou mesmo pela falta de conhecimento – a, como gado, comprar a “verdade” de quem só vende mentiras: diz uma coisa, mas pratica outra. E seguem esse ritmo para a escuridão, na tentativa de manter tudo como está ou para um mundo diferente, ainda pior.

Mas meu lado otimista é contagiado pela fé que respeita a ciência e faz de Deus um professor que nos guia pelo livre arbítrio a encontrar respostas e não depender de milagres a toda hora. Meu lado otimista enxerga os aplausos em reconhecimento aos verdadeiros heróis que ganham capa nesse momento de extrema necessidade. Mas são heróis também no dia-a-dia para antes e para além da crise, ainda que suas capas caiam para os corriqueiros uniformes de médicos, garis, motoboys, operadores de internet, caixas de supermercado, funcionários de bancos, costureiras, jornalistas, agricultores, motoristas de ônibus, caminhoneiros...

Todos são importantes e meu otimismo aumenta quando se amplia a consciência de que daremos importância ao que, cotidianamente, somos instados a desperceber. O otimismo me toma por completo, com as inúmeras ações de solidariedade que não servem ao ego, mas ao outro cumprimentado pelo mais profundo eu que reside em cada um de nós.

Na balança do otimismo e do pessimismo, um mundo diferente já surge do caos. Se melhor ou pior, dependerá de cada um de nós. Sinceramente, que possamos ter céu extenso para melhor observar o universo acima de nós e olhar com afeto todos que estão, como nós, aqui embaixo.  

 

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