Eles verão…

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 16 de dezembro de 2023

O que eles verão? Deixa ver. Que o mar, apesar de parecer desaguar no infinito, se fantasia de horizonte. Entre o que parece e é, há toda imaginação. É fértil a ilusão e toda pretensão do que cria. Criatividade é uma bondade dos astros conosco. E tudo podemos e nada nos fortalece mais do que a fé na vida.

Verão: a alegria de ser quem se é e ser até aquilo que, admitidamente, não gostaríamos de ser. E isso não pode nos fazer amar menos a si. A perfeição é um delírio sem música. E a vida sem música é tão sem graça. É como um clímax de cena de filme sem trilha sonora. Portanto, sem desaprovação: julgar-se, quando há tudo em volta para te julgar também — é uma automutilação.

Veremos a vida vivendo-a intensamente. Porque é banhar-se de sol quando o sol vem e bronzear-se na chuva quando a chuva cai. Tão bom banho de chuva, ter as roupas encharcadas, os cabelos mergulhados, a alma lavada. Sorrir antes de secar-se e sorrindo deixar que o sol evapore os pesos que nos impõem. Aviso: não nos imporão verdades absolutas, tampouco liberdades falsas. 

Somos carnaval, fervo, somos vigília e acontecimento. Somos teto, amparo, somos abrigados e abraço. Somos múltiplos, singulares, somos coletivo e mundo. Não queremos ser guerra para alcançar a paz. Quanto ainda perdurarão as guerras em nome de paraísos de paz? A falácia dos séculos há de cair.

O planeta somos nós e que nome daremos a ele? Terra? Sol? Gaia? Grande casa? Caos? Ana? João? Antônia? José? Glaucia? Miguel? Bete? André? Nosso lugar pode ser uma pessoa, um conjunto de pessoas. Meu planeta tem seu nome. Tem luas com tantos outros nomes. Não nascemos para ser sós. 

Verão: ter saudades a cada 21 de dezembro e todos os dias depois dele. Querer saudades futuras, mesmo sem perceber que as produzimos agora. E da estrada que se espera linha reta, curvas descortinam jardins de flores nunca vistas em meio a estrelas suspensas sobre a grama. 

Atenção com contemplação. E deixe-se ser admirado. Admire. Ofereça beijos, mas se não for do agrado beijos, oferte sorrisos com a boca larga ou apenas com o olhar, mas jamais deixe despercebido o afeto dado. Apaixonado, não esconda este sentimento tão arrebatador. 

Descubra-se bobo, dançarino, andarilho, poeta, cantor. Mesmo sozinho na sala vazia de um museu nunca antes visitado ou na mesma galeria dos quadros fotografados por aquele seu olhar que ficou naquele encontro findado. Mas a novidade vem, sem que a felicidade tenha ido. A gente vai, mesmo sem despedidas.      

Ninguém quer ser esquecido. Às vezes, só não se quer ser lembrado. Não há mal em querer se guardar em gavetas sem chaves. Ficar recolhido. Mas ficar recolhido só faz sentido se há propósito de volta. Deslumbrante. Como o Verão. De poucos panos, cabelos ao vento, boas vibrações. 

Receber massagem das mãos mágicas das águas da cachoeira. Viajar pelos caminhos que as águas fazem, o passeio pelas rochas, suas quedas fazendo correntezas e virando rio. Somos mais semelhantes às cachoeiras do que aos oceanos.

Veremos assim o amor chegar porque fizemos chamados por ele. Verão o amor transbordar, transformar, revolucionar, porque se o amor une, ele também faz mover. A Era de Aquário surgirá em um outono qualquer deste século, mas já é desejada por muitos verões. Veremos. Verão.            

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