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Arranha-céus
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
Quando foi que o homem inventou os edifícios? Há dois mil anos ou mais… Primeiro com dois andares, três, depois com cinco, oito, onze. O prédio com mais andares do mundo em 1885 não chega nem perto dos 46 do prédio mais alto da São Paulo de hoje. E o que dizer dos 290 metros de altura do prédio mais alto do Brasil, em Balneário Camboriú? Apenas um terço do Burj Khalifa, em Dubai.
Arranha-céus. Como ousam cruzar o céu? Cimento e aço materializando loucuras. À estratosfera? Jamais. Talvez, daqui a alguns anos, quem sabe?
Empilham pessoas. Dormindo umas sobre as outras tendo insônia. Estranhos no mesmo lar. O que é lar? O céu! O inferno. O que há entre cada andar? Conectados por telas de celular. E a vida?
A termosfera segue morada dos satélites que nos vigiam e enviam bytes, megabytes acumulando informações em algoritmos. E nós? Alguns seguem sonhando em ser astronautas para poder cruzar a exosfera. Há quem queira se candidatar à cobaia para ser um dos primeiros moradores do experimento Marte. Filhos da nostalgia seguirão apreciando os 139 metros de altura da Grande Pirâmide de Gizé.
Os adeptos ao romance vivem à moda antiga. Morar em 1920. Antes de Elvis. Antes da existência da Velha Guarda da Portela. Ser dela. Ser dos tempos da Tropicália. Ser Bossa Nova. Não há taciturnidade alguma em toda esta nostalgia que se achega. Anima. Mesmo que cantem a pujança de Anitta. Há sabedoria no que os críticos dizem que não presta. A grande maioria das películas que os críticos indicam, são filmes arrastadamente chatos.
Quem disse que queremos prestar? Queremos viver, nem tanto saber, ousar… A ousadia é para os poetas, como os poetas são para a poesia. Devorar Quintana. Amar Drummond. Imitar Djavan. Ser compositor do cotidiano e sublinhar nele os versos que rimam: eu e você. Nós.
Ver a vida de cima é tarefa dos deuses. Bom mesmo é estar aqui. Dando a eles o dom da observação e do altruísmo para não serem invejosos. Pois invejem, porque é divino esse nosso ir e vir daqui de baixo. Acertar e errar, aceitar e recusar, amar e amargar o peso de um coração vazio.
Quando quiser ir ao céu evapore e evaporar não faz inexistir. Volte como chuva, neblina, como tez na manhã do amanhã que cismar retornar. Partir e andar para encontrar ou se deixar ser encontrado, ou não.
Descobrir sem a ânsia de desvendar. Descoberto, tremer quando o frio vestir e se despir para o sol quando o sol vem. Neste planeta, podemos ser felizes. Por que se faz tanta confusão? Qual será o primeiro edifício da constelação de Dorado?
É cínico construir tantos edifícios de alturas exageradas e ver tantas pessoas disputando espaço debaixo das pontes, tantos de nós sem abrigo.
Há dois séculos ainda se construíam igrejas o quanto mais altas possíveis, não para estar mais próximo de Deus, mas para demonstrar poder na ilusão de que altura faz estar mais perto do Todo Poderoso. É tão estranho impor interseção para falar ao sobrenatural tanto quanto é estapafúrdio querer medir a fé.
O que era arranha-céu ontem não é mais e amanhã... O conceito de arranha-céu muda de acordo com a evolução da engenharia. Já foi considerado arranha-céu edifícios de 10 andares. Atualmente, é preciso ter mais de 40 andares e ser mais alto que 150 metros para ser um arranha-céu. Amanhã… Quem sabe?
O que nunca muda, no entanto, é que a altura de tudo pouco importa quando se pode ser humanamente gigante em si mesmo. Somos e sempre seremos, afinal, arranha-céus.
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
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