Blog de jornalismodiocesenf_28755

O milagre brasileiro

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Nesta quarta-feira, 12, o povo brasileiro celebrará o dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, consagrada Rainha e Padroeira do Brasil. Este dia tem sua importância e dignidade reconhecidas com a declaração do feriado nacional, desde 1980.

Nesta quarta-feira, 12, o povo brasileiro celebrará o dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, consagrada Rainha e Padroeira do Brasil. Este dia tem sua importância e dignidade reconhecidas com a declaração do feriado nacional, desde 1980.

Hoje o que se tornou o maior ato de devoção na Terra de Santa Cruz, teve seu início na resposta de Deus ao apelo de seu povo. Na segunda quinzena de outubro, três pobres e simples pescadores, no desejo de pescar e diante da pesca frustrada clamaram a Deus, pedindo ajuda. Naquela que seria a última tentativa de lançar as redes, a resposta às preces apareceu enrolada nas redes. O pequenino corpo, ainda incompleto, de uma imagem que fazia lembrar as figuras de Nossa Senhora da Conceição, renovou as esperanças daqueles três homens e depois de toda uma nação.

Ao longo destes mais de três séculos, a representação da Mãe de Todas as Raças continua sinalizando a intercessão de Nossa Senhora por nosso povo brasileiro. Assim como este sofrido povo, a pequenina imagem também foi alvo de perseguição dos poderosos e sofreu a ação de corações raivosos.

É de se fazer notar a permanente atitude orante da Virgem Aparecida. As mãos postas marcam sua intercessão que eleva aos céus o grito de dor deste povo; seu olhar sempre fixo em seus filhos, que a todo instante recorrem ao seu amor insondável de mãe, faz-nos lembrar sua presença em nossas lidas.

Esta proximidade mariana move-nos à proximidade com Cristo. O Papa João Paulo II, hoje declarado santo, ressaltou na missa de dedicação da Basílica à Senhora de Aparecida que assim como a Virgem Santíssima, Mãe de Deus e da Igreja, é presença singular na arquitetura daquele templo, o é também no seio da vida da Igreja.

“Qual é a missão da Igreja senão a de fazer nascer o Cristo no coração dos fiéis, pela ação do mesmo Espírito Santo, através da evangelização? Assim, a “Estrela da Evangelização” aponta e ilumina os caminhos do anúncio do Evangelho. Este anúncio de Cristo Redentor, de sua mensagem de Salvação, não pode ser reduzido a um mero projeto humano de bem-estar e felicidade temporal. Tem certamente incidências na história humana coletiva e individual, mas é fundamentalmente um anúncio de libertação do pecado para a comunhão com Deus, em Jesus Cristo. De resto, esta comunhão com Deus não prescinde de uma comunhão dos homens uns com os outros, pois os que se convertem a Cristo, autor da Salvação e princípio de unidade, são chamados a congregar-se em Igreja, sacramento visível desta unidade salvífica” (Homilia, 04 jul. 1980).

Assim, olhando para o exemplo da grande Mãe de Deus, o cristão é chamado, como discípulo, a ser presença de Cristo neste mundo. Desejemos do fundo do coração nos unir a Maria, impelidos por uma profunda necessidade da fé, da esperança e da caridade na construção de um mundo mais justo e fraterno.

Que Nossa Senhora Aparecida continue protegendo com suas mãos maternas este nosso povo brasileiro, que na confiança inabalável em seu Deus, continuará a escrever sua história, que jamais prescindirá da presença amorosa da Mãe de Jesus e nossa!

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior, assessor diocesano da Pastoral da Comunicação 

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A missão da Igreja nos documentos do magistério eclesial

segunda-feira, 03 de outubro de 2022

No início deste mês de outubro, tempo que a Igreja Católica dedica às missões, queremos de forma sintética oferecer um roteiro para o estudo e aplicação desta importante tarefa, mandato de Cristo e exigência do seu Amor salvador e solidário. Uma visão global atual evidencia a urgência de propor para toda a Igreja em estado de missão, como já anunciava o cardeal João Batista Montini, antes de ser elevado ao pontificado como Papa Paulo VI, prefaciando o livro de um outro grande profeta, D.Leo-Jozef Suenens, de título "Novos Rumos da Igreja Missionária"( 1956).

No início deste mês de outubro, tempo que a Igreja Católica dedica às missões, queremos de forma sintética oferecer um roteiro para o estudo e aplicação desta importante tarefa, mandato de Cristo e exigência do seu Amor salvador e solidário. Uma visão global atual evidencia a urgência de propor para toda a Igreja em estado de missão, como já anunciava o cardeal João Batista Montini, antes de ser elevado ao pontificado como Papa Paulo VI, prefaciando o livro de um outro grande profeta, D.Leo-Jozef Suenens, de título "Novos Rumos da Igreja Missionária"( 1956). Da mesma forma, o Código de Direito Canônico de 1983, reafirmando o Decreto Ad Gentes do Concílio Vaticano II (AG  2,5 e 6), diz que toda Igreja é, por sua natureza, missionária e, por isso, todos os fiéis cristãos (hierarquia, religiosos e leigos) devem assumir a obra missionária, sob a direção suprema do Sumo Pontífice do Colégio dos Bispos, salientando-se a solicitude especial de cada bispo (cf cânones 781 e 782 ,1 e 2).

Neste sentido insistiram os grandes apóstolos da missão, S. Paulo VI e S. João Paulo II, respectivamente com a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi,1975 e a Carta Encíclica Redemptoris Missio, 1990, de forma especial trabalhando o tema da evangelização e da missão frente aos desafios do mundo contemporâneo descristianizado (EN 14,15 e capítulo V e VI), na convocação a um renovado empenho missionário, com novos métodos com a encarnação do Evangelho na cultura dos povos, diante dos imensos horizontes da missão ad gentes, nestes novos areópagos modernos, tendo o Espírito Santo como protagonista, com a comunhão e cooperação de todos os agentes e responsáveis pela atividade missionária (RMi 2; 21-30; 31-38; capítulo VI e VII).

Na mesma esteira vão os ensinamentos dos papas Bento XVI, baseando a missão na redescoberta do caminho da fé, na comunhão com o Deus-Amor, Palavra e Eucaristia e no "testemunho da caridade"- a Nova Evangelização para a transmissão da fé, superando os niilismos e relativismos da sociedade atual (Deus Caritas Est - 2005; Porta Fidei - 2011, dentre outros)  e o Papa Francisco, especialmente com a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013), propondo uma total renovação da Igreja, na alegria de evangelizar, numa conversão pastoral, numa Igreja em saída, em estado permanente de missão, reforçando a nova evangelização e todo o conteúdo teológico missionário dos outros papas e do Concílio Vaticano II, com grande acento para a Constituição Pastoral Gaudium et Spes. Resumindo: o Evangelho do Senhor que salga e ilumina, por meio da missão da Igreja, todas as realidades humanas no inseparável testemunho missionário da caridade evangélica que não pode deixar de resgatar a dignidade humana, promovendo e libertando a pessoa humana integralmente, mergulhando-a no mistério salvífico de Cristo (EG 14-15; 21-23; capítulo III e IV).

Este impulso com novo ardor todos os batizados devem assumir. Também os institutos de vida consagrada, os leigos devidamente instruídos e os catequistas são convocados para a grande campanha de âmbito universal e de assinalado interesse local nas igrejas particulares (cânones 783 e 785,1 e 2). Os leigos, de forma específica são chamados ao apostolado missionário no mundo, conteúdo claro apontado no Decreto Conciliar Apostolicam Actuositatem, reafirmado e explicitado na Exortação Apostólica Christifidelis Laici (1988), de São João Paulo II. Sobre este tema é muito rico o documento 105 da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sobre a identidade, vocação e missão dos leigos que, incorporados a Cristo pelo batismo e, participando de Seu Sacerdócio comum, exercem também o tríplice múnus de santificar, ensinar e pastorear, como sujeitos eclesiais, em continuidade com o Magistério Conciliar (cf Lumen Gentium 31), na cooperação em comunhão com o sacerdócio ministerial dos pastores e ministros ordenados.

Há ainda o esforço missionário ecumênico, como sinal testemunhal da própria natureza da Igreja comunhão de um só rebanho e um só pastor, buscando a reintegração da unidade dos cristãos, na esteira do decreto conciliar Unitatis Redintegratio, impulsionado pela carta encíclica Ut Unum Sint de São João Paulo II (1995), reafirmado pelo Magistério Pontifício posterior, não como algo facultativo, mas como essencial e inerente à identidade e missão eclesial.

Vários pontos primordiais da ação missionária são recolhidos e apresentados no Código de Direito Canônico: o diálogo dos missionários, com o reforço do testemunho da vida e da palavra, com os que não têm a fé em Cristo; o respeito à índole e cultura dos povos aos quais se leva o anúncio do Evangelho (cf cânon 787,1); a cooperação de todas as dioceses (cf cânon 791); a organização do catecumenato segundo as diretrizes da Conferência dos Bispos (cf cânon 788,3).

Vemos em todo o ensinamento magisterial conciliar e pontifício uma continuidade e riqueza na sensibilidade pastoral em relação a cada tempo, enfrentando os novos desafios dos âmbitos da missão, preservando o patrimônio da fé, numa visão inculturada, dialogal, testemunhal, de anúncio da Boa Nova, através do serviço da caridade, na condução do Espírito Santo.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Nota da Regional Leste 1 da CNBB sobre as eleições

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Hoje trazemos em nossa coluna uma síntese da nota da Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para as eleições de 2022.

Hoje trazemos em nossa coluna uma síntese da nota da Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para as eleições de 2022.

“Nós, bispos católicos do Estado do Rio de Janeiro, somos conscientes de que, como sucessores dos Apóstolos, nos cabe uma particular responsabilidade de anunciar explícita e integralmente Jesus Cristo, “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6). À luz desse anúncio fundamental, neste ano eleitoral, oportunamente reafirmamos que a Igreja “não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político” (56ª Assembleia Geral, Mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ao Povo de Deus, Aparecida, 19 de abril de 2018). A Igreja ‘não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça’ (Papa Bento XVI – Deus Caritas Est, 28). E do Evangelho nos vem a consciência de que ‘todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo melhor’ (Papa Francisco – Evangelii Gaudium, 183).

Eleições são ocasiões de exercício da democracia que requerem dos candidatos e candidatas propostas e projetos pautados pela justiça e pela paz social. Essa é ‘uma obra que nos pede para não esmorecermos no esforço por construir a unidade da nação e – apesar dos obstáculos, das diferenças e das diversas abordagens sobre o modo como conseguir a convivência pacífica – persistirmos na labuta por favorecer a cultura do encontro, que exige que, no centro de toda a ação política, social e econômica, se coloque a pessoa humana, a sua sublime dignidade e o respeito pelo bem comum’ (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 232).

Num autêntico Estado Laico é legitimo que entidades e grupos tenham e explicitem seus critérios de discernimento em vista da escolha do voto. A Igreja também tem o direito e o dever de o fazer, e o faça a partir do Evangelho e da Doutrina Social. Sendo assim, exortamos todos os cristãos católicos e pessoas de boa vontade a identificar candidatos e candidatas que tenham compromisso claro com os princípios do Bem Comum, da dignidade da pessoa humana, da defesa integral da vida – desde a sua concepção até a morte natural –, incluindo o respeito e a promoção da democracia e dos direitos humanos e sociais, a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento integral, social e econômico.

Recordamos ainda a Lei da Ficha Limpa (lei complementar 135, de 4 de junho de 2010), referencial no combate à corrupção e à sonegação. Os candidatos e candidatas portadores desses princípios merecem o nosso voto.

O Estado do Rio de Janeiro necessita de especial atenção para que ocorrências climáticas não continuem causando catástrofes e sofrimentos. A promoção da educação pública de qualidade e o combate à violência são também prioritários.

Um saudável clima de comunicação e troca de informações é instrumento eficaz para o discernimento em vista do voto. É preciso ter presente que a concórdia e o respeito pelas opiniões diferentes preservam a harmonia em nossas famílias, paróquias, comunidades, pastorais e círculos de amizade. Recordamos vivamente que nos espaços da Igreja e durante as atividades litúrgicas e pastorais não deve ser feita política partidária nem indicação de candidatos específicos. Isso gera divisão na comunidade. É preciso promover a fraternidade.

Não podemos deixar de alertar para o perigo das fakenews. Elas têm causado graves prejuízos à democracia. No uso das redes sociais, é preciso ter consciência de que o repasse de mensagens implica responsabilidade moral e jurídica. No exercício dos direitos e deveres democráticos, é preciso dar atenção não só aos cargos majoritários (presidente da República e vice-presidente, governador do Estado e vice-governador), mas também à composição das casas legislativas (senadores, deputados federais e deputados estaduais).

Na esperança de que, nas Eleições 2022, possamos viver um momento de autêntica democracia, pedimos que o Senhor conceda aos membros de nossa sociedade a determinação de buscarmos juntos ‘a política melhor, a política colocada ao serviço do verdadeiro Bem Comum’. (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 154).”

Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A lei do amor

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Ao longo dos relatos evangélicos encontramos Jesus combatendo o modo egoísta e vazio com o qual os fariseus e mestres da lei interpretavam a Palavra de Deus. Por diversas vezes, o Senhor os repreende por suas atitudes e ensinamentos.

Talvez a mais evidente dessas correções esteja descrita na cena da pecadora apresentada a Jesus para que fosse apedrejada. O proceder de Jesus, longe de amenizar o pecado, evidencia o valor da vida daquela mulher (cf. Jo 8,1-11).

Ao longo dos relatos evangélicos encontramos Jesus combatendo o modo egoísta e vazio com o qual os fariseus e mestres da lei interpretavam a Palavra de Deus. Por diversas vezes, o Senhor os repreende por suas atitudes e ensinamentos.

Talvez a mais evidente dessas correções esteja descrita na cena da pecadora apresentada a Jesus para que fosse apedrejada. O proceder de Jesus, longe de amenizar o pecado, evidencia o valor da vida daquela mulher (cf. Jo 8,1-11).

A verdadeira intenção daqueles homens era colocar Jesus à prova, fazendo-o escolher entre a misericórdia e a justiça. Deste modo, conseguiriam acusá-lo de prevaricador, inimigo da lei de Moisés e, portanto, inimigo de Deus. Em momento algum olharam para a mulher. Ela era apenas um instrumento para matarem aquele que era aclamado como o Messias.

A resposta de Jesus, além de convidar-nos a saltar da lei, que é meramente executada para a interiorização, nos convoca à responsabilidade que todos temos no processo de conversão pessoal e social.

Ao intimar os que não tinham pecado para executarem a sentença proclamada pela multidão, o Mestre comprova que o discurso frio da lei estava mascarado pela hipocrisia. “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra” (Jo 8,7). Revela também a hipocrisia que rege nosso egoísmo e orgulho. Quantas vezes apontamos o dedo, discriminamos ou julgamos quem poderá se salvar ou não? Por que deixamos de olhar o irmão e passamos a olhar somente para a sua miséria? Por que apontamos o dedo, ao invés de estender nossa mão?

O Papa Francisco nos adverte para este triste vício que macula o coração da humanidade.  “O diabo se mostra forte com os hipócritas, usa-os para destruir, destruir as pessoas, destruir a sociedade, destruir a Igreja. A força do diabo é a hipocrisia, porque ele é mentiroso: mostra-se como príncipe poderoso, belíssimo, e por trás é um assassino” (Homilia, 20 set. 2018).

Em outra oportunidade o Pontífice explica o que é a hipocrisia e qual sua consequência. “O hipócrita é uma pessoa que finge, lisonjeia e engana porque vive com uma máscara no rosto, e não tem a coragem de enfrentar a verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente: limita-se a viver pelo egoísmo e não tem a força para mostrar o seu coração com transparência” (Audiência geral, 25 ago. 2021).

É preciso lutarmos contra esta corrente. É escandaloso a um cristão se utilizar da Palavra de Deus para oprimir e condenar um irmão. Fujamos da “hipocrisia dos ‘justos’, dos ‘puros’, daqueles que se creem salvos pelos próprios méritos externos” (20 set. 2018). Fujamos da tentação de esconder a podridão do nosso coração pelas belezas e perfeições externas.

Construamos um mundo pautado na verdade e no amor, como nos ensina o Salvador.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. 

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Mestre em proximidade

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A grande novidade do cristianismo é a proximidade de um Deus que se faz homem. Sua crença não se baseia em um ser divino que está ao longe, mas sim que vem ao encontro da humanidade.

Em sua Carta aos Filipenses, São Paulo enaltece a humildade de Jesus Cristo em não se apegar à sua condição divina, “Ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,7-8).

A grande novidade do cristianismo é a proximidade de um Deus que se faz homem. Sua crença não se baseia em um ser divino que está ao longe, mas sim que vem ao encontro da humanidade.

Em sua Carta aos Filipenses, São Paulo enaltece a humildade de Jesus Cristo em não se apegar à sua condição divina, “Ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,7-8).

Esta característica divina pode também ser percebida na conhecida Parábola do Filho Pródigo. O Pai que ao ver o filho regressar ao longe na estrada corre ao seu encontro, o abraça, ama-o e devolve sua dignidade (cf. Lc 15, 20-22).

Por vezes, diante das dores da vida, somos levados a crer que Deus se afastou de nós, ou até mesmo que Ele não nos ama. Mergulhamos tão profundamente em nós, em nosso egoísmo que não percebemos todas as investidas da parte de Deus de se fazer próximo. E vamos nos afastando cada vez mais. Mas, Ele não desiste de nós.

Nosso Deus não é um Deus isolado, é um Deus-com, em particular conosco, isso é, com a criatura humana. O nosso Deus não é um Deus ausente, levado por um céu distante; é, em vez disso, um Deus ‘apaixonado’ pelo homem, tão ternamente amante a ponto de ser incapaz de se separar dele. Nós humanos somos hábeis em cortar ligações e pontos. Ele, em vez disso, não. Se o nosso coração se esfria, o seu permanece sempre incandescente. O nosso Deus nos acompanha sempre, mesmo se porventura nós nos esquecêssemos Dele. Na linha que divide a incredulidade da fé, decisiva é a descoberta de ser amados e acompanhados pelo nosso Pai, de não sermos nunca deixados sozinhos por Ele” (Audiência geral, 26 abr. 17).

A dinâmica da História da Salvação nos ensina que, apesar de nossa infidelidade, Deus está sempre nos atraindo a Si. Chegou ao ponto de enviar seu Filho Único a morrer na cruz para nos recuperar das garras da morte e do pecado.

O Santo Padre, em uma de suas homilias, lembra que a Bíblia diz que Deus falava ao povo, manifestando Sua proximidade, como um pai com Seu filho. “São as mãos de Deus que nos acariciam nos momentos de dor, confortam-nos. É nosso Pai que nos acaricia! Ele nos quer tão bem. E até mesmo nessas carícias, muitas vezes, há o perdão” (Homilia, 12 nov. 2013).

Em outra reflexão o Pontífice frisou que “Jesus ‘entendia’ os problemas das pessoas, as suas dores, os seus pecados. Ele compreendeu bem que aquele paralítico no tanque de Betsaida era um pecador e, depois de o ter curado, o que lhe disse? ‘Não voltes a pecar’. Disse o mesmo à adúltera” (Homilia, 09 jan. 2018).

Assim, como resposta a esta proximidade com Deus, também nós precisamos buscar proximidade com Ele. E para isso existem vários meios.

Sem dúvidas, a vida de oração é a principal via de cercania com Deus. Na oração encontramos um lugar no qual podemos abrir nosso coração, apresentar nossas angústias e sofrimentos a quem, de fato, está disposto a nos escutar. E Ele nos responde. Seja de modo ordinário ou extraordinário. Há quem o escute como uma voz interior, mas sempre o podemos escutar em sua Palavra e na vida dos irmãos. A autêntica proximidade com Deus nos leva ao encontro dos irmãos, de suas dores e necessidades.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Mensagem da CNBB ao povo brasileiro

terça-feira, 06 de setembro de 2022

Hoje em nossa coluna trazemos uma síntese da mensagem de reflexão sobre o momento atual em nosso país, escrita pelos bispos católicos a todos os homens e mulheres de boa vontade.

“Como pastores, temos presente a vida e a história de nossas comunidades, o rosto de nossa de gente, marcado pela fé, esperança e capacidade de resiliência. Nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias são as mesmas de cada brasileira e brasileiro. Com esta mensagem, queremos falar ao coração de todos.

Hoje em nossa coluna trazemos uma síntese da mensagem de reflexão sobre o momento atual em nosso país, escrita pelos bispos católicos a todos os homens e mulheres de boa vontade.

“Como pastores, temos presente a vida e a história de nossas comunidades, o rosto de nossa de gente, marcado pela fé, esperança e capacidade de resiliência. Nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias são as mesmas de cada brasileira e brasileiro. Com esta mensagem, queremos falar ao coração de todos.

Nossa fé comporta exigências éticas que se traduzem em compaixão e solidariedade concretas. O compromisso com a promoção, o cuidado e a defesa da vida, desde a concepção até o seu término natural, bem como, da família, da ecologia integral e do estado democrático de direito estão intrinsecamente vinculados à nossa missão apostólica. Todas as vezes que esses compromissos têm sido abalados, não nos furtamos em levantar nossa voz. ‘A Igreja é advogada da justiça e dos pobres, exatamente por não se identificar com os políticos nem com os interesses de partido’ (Bento XVI, Discurso Inaugural da Conferência de Aparecida).

Com a esperança que nos vem do Senhor, reconhecemos o tempo difícil em que vivemos. Nosso país está envolto numa complexa e sistêmica crise, que escancara a desigualdade estrutural, historicamente enraizada na sociedade brasileira. Entre outros aspectos destes tempos estão o desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para todos. A fome é certamente o mais cruel e criminoso deles, pois a alimentação é um direito inalienável (cf. Papa Francisco, Fratelli Tutti, 189).

Como se não bastassem todos os desafios estruturais e conjunturais a serem enfrentados, urge reafirmar o óbvio: Nossa jovem democracia precisa ser protegida, por meio de amplo pacto nacional. Isso não significa somente ‘um respeito formal de regras, mas é o fruto da convicta aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticos [...] se não há um consenso sobre tais valores, se perde o significado da democracia e se compromete a sua estabilidade’ (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 407).

É fundamental ter presente que somos uma nação marcada por riquezas e potencialidades, contudo, carente de um projeto de desenvolvimento humano, integral e sustentável. Vítimas de uma economia que mata, celebramos as conquistas desses 200 anos de independência conscientes de que condições de vida digna para todos ainda constituem um grande desafio. É necessário o compromisso autêntico com a verdade, com a promoção de políticas de Estado capazes de contribuir de forma efetiva para a diminuição das desigualdades, a superação da violência e a ampliação do acesso a teto, trabalho e terra.

É motivo de preocupação a manipulação religiosa e a disseminação de fake news que têm o poder de desestruturar a harmonia entre pessoas, povos e culturas, colocando em risco a democracia. A manipulação religiosa, protagonizada por políticos e religiosos, desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil.

A corrupção histórica, contínua e persistente, subtrai o que pertence aos mais pobres. A Lei da Ficha Limpa, que proíbe que condenados por órgãos colegiados possam se candidatar a cargos políticos, é uma conquista popular e democrática, que deve ser promovida, juntamente com outros mecanismos de controle que garantam a ética na política.

Pelo seu exercício responsável e consciente, a população tem a capacidade de refazer caminhos, corrigir equívocos e reafirmar valores. Reiteramos nosso apoio incondicional às instituições da República, responsáveis pela legitimação do processo e dos resultados das eleições.

Assim, conclamamos, mais uma vez, toda a sociedade brasileira a participar ativa e pacificamente das eleições, escolhendo candidatos e candidatas, para o executivo e o legislativo, que representem projetos comprometidos com o bem comum, a justiça social, a defesa integral da vida, da família e da Casa Comum.”

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Humildade e gratuidade

terça-feira, 30 de agosto de 2022

A vida de Jesus é um coerente testemunho de vida e palavras. Toda sua pregação encontra eco em suas atitudes e suas ações refletem os seus ensinamentos. Ouvi-lo falar de humildade e gratuidade é, ao mesmo tempo, vê-lo sendo manso, humilde e livre em tudo o que fez.

Há uma passagem do Evangelho de Lucas, na qual Jesus é convidado a uma festa na casa de um dos chefes dos fariseus, gente de alta classe. Ao chegar, começou a observar as atitudes dos convidados que buscavam ocupar os primeiros lugares, sustentando a certeza de que uns eram melhores que os outros.

A vida de Jesus é um coerente testemunho de vida e palavras. Toda sua pregação encontra eco em suas atitudes e suas ações refletem os seus ensinamentos. Ouvi-lo falar de humildade e gratuidade é, ao mesmo tempo, vê-lo sendo manso, humilde e livre em tudo o que fez.

Há uma passagem do Evangelho de Lucas, na qual Jesus é convidado a uma festa na casa de um dos chefes dos fariseus, gente de alta classe. Ao chegar, começou a observar as atitudes dos convidados que buscavam ocupar os primeiros lugares, sustentando a certeza de que uns eram melhores que os outros.

Aproveitando a situação, o Mestre dá um ensinamento: “Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: 'Dá o lugar a ele'. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar” (Lc 14, 8). E ainda, afirmou a quem o havia convidado: “Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa” (Lc 14,12).

Ou seja, Jesus aproveita-se de um fato corriqueiro para falar de duas virtudes importantes na vida de quem espera alcançar um lugar no banquete celestial. Todo homem de boa vontade e íntegro em suas atitudes deve praticar a humildade e a gratuidade.

Em sua passagem por este mundo, Jesus sempre se portou como o menor dos menores, como aquele que serve e tudo o que fez em favor da humanidade o fez com espírito de gratuidade, sem esperar nada em troca.

Contudo, parece que nos esquecemos constantemente desses ensinamentos e conduzimos nossas atitudes como quem quer ocupar sempre os primeiros lugares. Somos levados a todo instante a desejar o reconhecimento, a fama como garantia de felicidade e satisfação.

Ser humilde é reconhecer-se pequeno, dependente, pobre, limitado diante de Deus. “O humilde tem diante de si a sua própria verdade: é pobre, é indigente, mas infinitamente agraciado e amado por Deus. Por isso, o humilde é livre e, porque livre, manso” (Dom Henrique Soares).

Quem vive assim, já está a um pequeno passo de viver a segunda virtude ensinada por Jesus. A atitude de dar sem esperar nada em troca, dar e sentir-se feliz e realizado pode ser encontrada no testemunho de muitos homens e mulheres que buscaram imitar Jesus. Um exemplo encontramos nos escritos de Santa Teresinha do Menino Jesus: “Viver de amor é dar sem medida, sem nesta terra salário reclamar; sem fazer conta eu dou, pois, convencida de que quem ama já não sabe calcular”. É garantia de uma vida livre de amarras e vícios.

O Papa Francisco nos alerta para o perigo da não gratuidade que ameaça também a nossa vida espiritual. “Senhor, se me fizeres isto, eu dou-te isto.” A relação da humanidade com Deus deve ser sem nenhuma cobrança. As promessas feitas por nós não podem ser um meio de obrigar Deus a cumprir nossa vontade, mas deve alargar o coração para receber o que é gratuito para nós. “Esta relação de gratuidade com Deus é a que nos ajudará depois a tê-la com os outros, seja no nosso testemunho cristão seja no serviço cristão e na vida pastoral daqueles que são pastores do povo de Deus. Sirvam e deem de graça o que receberam de graça. Que a nossa vida de santidade seja este ampliar o coração, para que a gratuidade de Deus, as graças de Deus que estão ali, gratuitas, que Ele quer nos dar, possam chegar ao nosso coração” (Papa Francisco, 11 jun. 2019).

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é assessor diocesano da Pastoral a Comunicação

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Amor familiar, vocação e caminho de santidade

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Com este tema, celebramos e partilhamos a Semana Nacional da Família em nossas comunidades paroquiais, em toda a diocese, nestes últimos dias, com várias expressões de oração, formação e atividades em prol da família - célula mater de nossa sociedade, base para a formação da pessoa humana, como primeira escola das virtudes humanas e cristãs, santuário da vida e do amor.

Com este tema, celebramos e partilhamos a Semana Nacional da Família em nossas comunidades paroquiais, em toda a diocese, nestes últimos dias, com várias expressões de oração, formação e atividades em prol da família - célula mater de nossa sociedade, base para a formação da pessoa humana, como primeira escola das virtudes humanas e cristãs, santuário da vida e do amor.

Por isso, o Papa São João Paulo II, em sua Carta às Famílias (Gratissimam Sane, 1), afirmou um determinado itinerário missionário: "A família - a via da Igreja". Isto ratifica o que ele mesmo colocou na sua primeira encíclica como roteiro do seu pontificado: "O homem é a via da Igreja" (Redemptor Hominis, 14). Por isso, a Igreja tem a sua "tarefa fundamental, central e unificadora de descobrir e ajudar a descobrir a dignidade inviolável de cada pessoa humana" (Christifideles Laici, 37) que exige o respeito, a defesa e a promoção dos seus direitos. Trata-se de direitos naturais, universais e invioláveis. Ninguém, nem o indivíduo, nem o grupo, nem a autoridade, nem o Estado, pode modificar ou muito menos eliminar estes direitos que emanam do próprio Deus "(ChL 38).

Sendo, portanto, a família a primeira e basilar expressão da vocação, formação e garantia dos direitos fundamentais do ser humano, em toda a sua dignidade pessoal, a comunidade missionária eclesial tem como seu múnus essencial instruí-la conforme o projeto de Deus, defendê-la e protegê-la em sua integridade, promovê-la em seus direitos, identidade e espiritualidade.

A bússola, o motor e a alma de todo este trabalho pastoral será o amor que vem de Deus e inunda a família de bem-querer, de partilha, de doação um pelo outro, de solidariedade, de cooperação em vista do bem comum, a felicidade e realização de todos, na mística da busca da santidade, da conformação ao Plano do Senhor e Criador - a família como crescimento e multiplicação da vida, na aliança amorosa que transborda nos filhos, sendo "uma só carne" na cumplicidade generosa de uma sementeira.

O amor em família é um caminho de crescimento que abre os seus membros uns para os outros, e se amplia para outras famílias que se apoiam nos compromissos sociais e de fé (cf. Papa Francisco, Amoris Laetitia, 196). Esta dedicação de amor salga e ilumina o matrimônio e a família, como Igreja doméstica, abrindo-se para a sociedade, como comunidade educadora das virtudes sociais, a exemplo de Cristo, iluminando a vida de tantos outros, mostrando que a santidade implica num primeiro passo irrenunciável para o cumprimento do Reino de Deus.

Quanto mais humanos, conforme o modelo do Homem perfeito, Jesus Cristo (cf. Gaudium et Spes, 22), mais santos e santificadores da vida de tantos que precisam de sentido espiritual para suas existências, mas talvez estejam se esquecendo de "humanizar" seus pensamentos, suas atitudes, suas ações e relações num mundo cada vez mais mecanizado e frio, que despersonaliza e transforma os seres humanos em objetos ou peças de uma engrenagem egoísta e materialista.

O Magistério da Igreja coloca como prioritária e urgente a organização da Pastoral Familiar, como uma pastoral-eixo, uma vez que todos os membros da Igreja e da sociedade pertencem a uma família e no horizonte familiar têm seu alicerce, nutrição, desenvolvimento e formação, sendo assim uma dimensão que permeia todas as pastorais. Com o objetivo de Educar para o Amor, de acolher, assistir, instruir e orientar os casais e famílias, preparando-os para a união matrimonial no sentido da doação cristã, acompanhando-os durante a vida conjugal, reforçando e defendendo os valores familiares, ético-cristãos e protegendo-os em situações difíceis.

Deste modo, a família estará sempre resguardada na sua identidade original - o Amor de Deus, conforme o seu projeto de felicidade e plenificação da humanidade -santidade no seguimento de Cristo, crescendo sempre nos dons de Sua Redenção: a filiação divina, a misericórdia restauradora, o alimento eucarístico, a graça do homem novo da fidelidade e do dar a vida pelos irmãos, na construção de uma civilização nova da fraternidade, da justiça e da paz.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler e assessor diocesano da Pastoral Familiar

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

“Não sou obrigado a nada”

terça-feira, 16 de agosto de 2022

No universo das redes sociais pululam expressões que, sob o véu do cômico, traduzem a identidade da cultura atual, revelando os sentimentos mais sinceros do coração humano. Como num passe de mágica, alguns jargões ganham lugar nas conversações de grupos de indivíduos das mais variadas idades. Dentre tantas expressões consagradas, ouvimos, aqui e acolá alguém bradar: “Não sou obrigado a nada”.

No universo das redes sociais pululam expressões que, sob o véu do cômico, traduzem a identidade da cultura atual, revelando os sentimentos mais sinceros do coração humano. Como num passe de mágica, alguns jargões ganham lugar nas conversações de grupos de indivíduos das mais variadas idades. Dentre tantas expressões consagradas, ouvimos, aqui e acolá alguém bradar: “Não sou obrigado a nada”.

Não há quem duvide que a dita expressão é manifestação da liberdade conquistada pela pessoa, fruto de um processo de libertação de paradigmas e preconceitos que regeram a sociedade por muitos anos. De fato, a liberdade humana é um tesouro que deve ser defendido e honrado por todos nós. O Catecismo da Igreja Católica exprime o Magistério da Igreja sobre o tema com as seguintes palavras: “A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto, de praticar atos deliberados. Pelo livre-arbítrio, cada qual dispõe sobre si mesmo. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade” (§1731).

Mas ao mesmo tempo, é preciso cuidar para não deturpar o verdadeiro sentido da liberdade humana e confundi-lo com o modo libertino de viver ou com a falta de responsabilidade na preservação do bem-comum. Sobre isso, alertou o Papa Francisco: “A liberdade não é uma forma libertina de viver, segundo a carne, ou segundo o instinto, desejos individuais e impulsos egoístas; pelo contrário, a liberdade de Jesus nos leva a estar ‘ao serviço uns dos outros’ (Gl 5,13b). Em outras palavras, a verdadeira liberdade é plenamente expressa na caridade. Mais uma vez encontramo-nos perante o paradoxo do Evangelho: somos livres para servir; e não em fazer o que queremos. Encontramo-nos plenamente na medida em que nos doamos; possuímos a vida se a perdemos” (Audiência Geral, 20 out. 2021).

Ou seja, o exercício da liberdade não implica no direito de o indivíduo fazer e dizer tudo o que bem deseja. Este modo de pensar a liberdade revela o quão a humanidade está mergulhada no individualismo revelado no descaso com a luta pelo legítimo direito de todos. É bastante comum perceber que as condições de ordem econômica e social, política e cultural, requeridas para um justo exercício da liberdade, são com demasiada frequência desprezadas e violadas. Atitudes como estas abalam a vida moral e induzem tanto os fracos como os fortes na tentação de pecar contra a caridade. O que não se percebe é que na prática do falso sentido de liberdade o homem faz-se escravo de si mesmo quebrando os laços de fraternidade (cf. CIC 1740).

Assim, a expressão mencionada possui duas vertentes interpretativas bastante distintas uma da outra. Uma que defende a dignidade e a liberdade humana, construindo uma cultura totalmente emancipada dos preconceitos e paradigmas massacrantes da essência pessoal; e outra, que é manifestação de uma ideologia individualista que favorece a desigualdade social. Seja livre para fazer o mundo livre!

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

terça-feira, 09 de agosto de 2022

Esta semana vamos refletir sobre esta pequena palavra, composta apenas por duas letras, mas que ao mesmo tempo traz em si uma gama enorme de significado: FÉ. Geralmente contraposta à razão, a fé tem sido relegada à categoria das coisas inúteis para o desenvolvimento humano. Contudo, há de se convir que todos acreditam ou esperam alguma coisa. Alguns acreditam num mundo melhor, outros esperam o fim da pandemia; existe ainda quem crê que um dia irá acertar os números da Mega-Sena.

Esta semana vamos refletir sobre esta pequena palavra, composta apenas por duas letras, mas que ao mesmo tempo traz em si uma gama enorme de significado: FÉ. Geralmente contraposta à razão, a fé tem sido relegada à categoria das coisas inúteis para o desenvolvimento humano. Contudo, há de se convir que todos acreditam ou esperam alguma coisa. Alguns acreditam num mundo melhor, outros esperam o fim da pandemia; existe ainda quem crê que um dia irá acertar os números da Mega-Sena. Enfim, sempre se espera ou se acredita em alguma coisa, o que muda é sujeito ou, em alguns casos, o objeto em que se credita o ato de crer.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que fé é uma resposta livre e pessoal que se dá a uma realidade revelada e/ou esperada. No caso dos cristãos, a fé traduz-se no assentimento das verdades sobre um Deus que se dá a conhecer à humanidade ao inserir-se na história.

Hoje, construímos uma sociedade que tem se sufocado em um vazio existencial. A acelerada mudança social, incluindo as transformações valorativas, conduzem a humanidade a um imediatismo no qual extingue a fé e torna a esperança estéril.

Ao mudar o objeto da fé para o que é contingente, o homem encontra-se, sempre mais frequentemente, com a frustração e a insegurança. Esta cruel realidade nos faz mergulhar numa constante crise de consciência e nos conduz a uma angústia existencial, roubando o sentido da vida.

O Papa Bento XVI, certa vez refletindo sobre o caminho traçado pelo pensamento moderno, escreveu: “Aquele que não vê mais futuro algum diante de si não pode suportar o presente”. Estas palavras traduzem com maestria o sentimento de quem deposita toda a esperança na técnica e diante do impossível se desespera.

Deste modo, reafirmamos o valor da fé na construção de um indivíduo que compreende o seu lugar na dinâmica evolutiva da sociedade mundial. A fé, por assim dizer, é este olhar capaz de ver o sentido profundo da existência humana e de compreender a corresponsabilidade social de cada indivíduo. É ela que capacita e motiva a humanidade no desenvolvimento de caminhos novos e na superação dos desafios, pois ilumina um mundo de possibilidades. 

Assim, a fé é a capacidade que o homem tem de olhar além do momento presente compreendendo que o sentido da vida está no processo criativo e que os valores a serem conquistados estão para além da contingência. Somente desta forma o homem terá a possibilidade de vir a ser algo totalmente transformado com meta em sua realização plena e na construção de um futuro de paz e prosperidade.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.