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Acreditastes porque me viste?

terça-feira, 26 de abril de 2022

Passado o terror da crucificação, os discípulos de Jesus ainda não compreendiam o que havia acontecido. Em seus corações havia um misto de medo, angústia e tristeza. O seu Mestre havia sido morto, o que poderia acontecer com os que o seguiam? Como haveria de cumprir suas palavras? Tudo não havia passado de um desvario?

Passado o terror da crucificação, os discípulos de Jesus ainda não compreendiam o que havia acontecido. Em seus corações havia um misto de medo, angústia e tristeza. O seu Mestre havia sido morto, o que poderia acontecer com os que o seguiam? Como haveria de cumprir suas palavras? Tudo não havia passado de um desvario?

O primeiro dia da semana após todo aquele pesadelo foi marcado pelos sinais do ressuscitado. Logo pela manhã, Madalena depara-se com a pedra do sepulcro removida e encontra-se com Jesus. Os discípulos, Pedro e João, também foram ao túmulo e, avistando a pedra removida e os panos ao chão, acreditaram. Ao entardecer daquele mesmo dia, o Senhor entrou no lugar onde eles se encontravam trancados, por medo dos judeus. Contudo, Tomé não estava com eles, e não pode, pois, ver o Senhor nem ouvir as suas palavras consoladoras (cf Jo 20, 19 – 31).

Foi Tomé que diante da decisão de Jesus de ir ao encontro do perigo disse: “Vamos também nós, para morrermos com ele” (Jo 11, 16b). E, também foi ele que na última ceia manifestou seu desejo de seguir Jesus: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14, 5).

A conhecida falta de fé de Tomé, é na verdade um sufocamento da esperança causado pela profunda dor de testemunhar a crucificação e morte do seu amado Mestre. Sua angústia era tamanha que precisava de sinais concretos da ressurreição.

Quantas vezes não condenamos Tomé por sua crise de fé? Como pôde ele, que conviveu com Jesus, ouviu sua pregação, viu os sinais que realizava, duvidar? Pensamentos como este revelam que estamos contaminados pela vaidade do perfeccionismo.

O Papa Francisco, ao refletir sobre a crise de fé de São Tomé, revela que “Muitas vezes elas (as crises) nos tornam humildes, porque nos despojam da ideia de ter razão, de ser melhores do que os outros. As crises nos ajudam a reconhecer que estamos necessitados: despertam nossa necessidade de Deus e assim nos permitem retornar ao Senhor, tocar suas feridas, voltar a experimentar o seu amor”. Assim, insiste o Papa Francisco: “É melhor uma fé imperfeita, mas humilde, que sempre regressa a Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e arrogantes". (Regina Coeli, 24 abr. 2022).

As dúvidas de Tomé serviram para que a fé dos que mais tarde haveriam de crer no Senhor ressuscitado fosse confirmada. São Gregório Magno disse certa vez: “porventura pensais que foi um simples acaso que aquele discípulo escolhido estivesse ausente, e que depois, ao voltar, ouvisse relatar a aparição e, ao ouvir, duvidasse, e, duvidando, apalpasse, e, apalpando, acreditasse? (...) A divina clemência agiu de modo admirável quando este discípulo que duvidava tocou as feridas da carne do seu Mestre, pois assim curava em nós as chagas da incredulidade" (homilias sobre os Evangelhos, 26, 7).

Aquele que ficara conhecido por duvidar do testemunho do ressuscitado, fora também aquele que, depois de tocar as chagas de Jesus, manteve-se firme na fé a ponto de entregar a própria vida nas mãos dos perseguidores.

Diante disso, recai sobre nós a responsabilidade de dar um testemunho firme e consciente de nossa fé naquele que venceu a morte e deu-nos a vida. Mesmo que durante alguns momentos difíceis, ou um período de crise, nos fechemos em nós mesmos, nos refugiemos nos nossos problemas, voltemos ao Senhor, revelando assim, que é Dele que vem a nossa força e é Nele que alimentamos nossa esperança.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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A manhã da Ressurreição

terça-feira, 19 de abril de 2022

A terra toda estava envolta em trevas. A esperança havia sido sepultada com o corpo de Jesus. Os discípulos estavam dispersos, incrédulos, retomavam as atividades que exerciam antes de se encontrarem com Jesus. Invadia seus pensamentos a ideia de que tudo havia sido uma grande ilusão. As palavras de paz e fraternidade que ouviram de seus lábios cederam lugar às cenas de terror. Ver o corpo do Mestre pregado no madeiro, a mais terrível morte, transpassou, como uma espada lancinante a alma dos que o seguiam. Tudo perdeu o sentido.

A terra toda estava envolta em trevas. A esperança havia sido sepultada com o corpo de Jesus. Os discípulos estavam dispersos, incrédulos, retomavam as atividades que exerciam antes de se encontrarem com Jesus. Invadia seus pensamentos a ideia de que tudo havia sido uma grande ilusão. As palavras de paz e fraternidade que ouviram de seus lábios cederam lugar às cenas de terror. Ver o corpo do Mestre pregado no madeiro, a mais terrível morte, transpassou, como uma espada lancinante a alma dos que o seguiam. Tudo perdeu o sentido.

Na manhã de Páscoa, também os nossos olhos são levados a verem somente os sinais de morte. O Santo Padre chama de Páscoa de guerra, na qual somos bombardeados a todo instante com as mais cruentas notícias. “Demasiado sangue, vimos; demasiada violência. Também os nossos corações se encheram de medo e angústia, enquanto muitos dos nossos irmãos e irmãs tiveram de se fechar nos subterrâneos para se defender das bombas” (Papa Francisco, Mensagem Urbi et Orbi, Páscoa 2022).

Parece que a possibilidade de um mundo de paz, amor e fraternidade não passa de uma utopia inalcançável. “Sentimos dificuldade em acreditar que Jesus tenha verdadeiramente ressuscitado, que tenha verdadeiramente vencido a morte” (idem).

Mas, não podemos nos esquecer que as palavras de vida e verdade que ouvimos de Jesus superam toda a dificuldade. Vejamos o exemplo de Maria Madalena. A dor que envolvia o seu coração era imensurável, só não era maior que o amor que ela sentia pelo seu Mestre. Sem compreender o que estava acontecendo; sem entender como as palavras Dele iriam se cumprir, Madalena pôs-se a caminho, ficaria o mais próximo possível do seu Senhor.

Ao longo do caminho, ela, certamente, recordava os momentos felizes ao lado do Mestre; por vezes, a alegria das memórias era tamanha que aliviava a dor e o sofrimento. Ao mesmo tempo, as lembranças das cenas de terror atroz roubavam-lhe o ar. Mas sua persistência e amor a Jesus a mantiveram firme no caminho e a tornaram a primeira testemunha do ressuscitado.

Bastou ver a pedra removida e os panos no chão, mesmo sem compreender, que a chama da esperança reacendeu em seu coração. Correu ao encontro dos seus e os animou com a notícia.

O exemplo de fé e perseverança desta mulher nos motiva a não desistir. “Hoje mais do que nunca precisamos d’Ele, no termo de uma Quaresma que parece não querer acabar. Temos atrás de nós dois anos de pandemia, que deixaram marcas pesadas. Era o momento de sairmos do túnel juntos, de mãos dadas, juntando as forças e os recursos…” (idem). Em vez disso, somos atormentados pelo terror da guerra.

Contudo, anima-nos o Papa Francisco a encontrarmos os sinais do ressuscitado. Como Madalena, perseverantes no amor e na esperança, precisamos encontrar os sinais que animam e restauram nossas forças e fazê-los serem conhecidos por todo o canto. “No meio da angústia da guerra, não faltam também sinais encorajadores, como as portas abertas de tantas famílias e comunidades que acolhem migrantes e refugiados em toda a Europa. Que estes numerosos atos de caridade se tornem uma bênção para as nossas sociedades, por vezes degradadas por tanto egoísmo e individualismo, e contribuam para torná-las acolhedoras com todos”.

Sejamos, pois, também nós, sinais do ressuscitado! Feliz Páscoa!

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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Homilia do Papa Francisco – Domingo De Ramos 2022

terça-feira, 12 de abril de 2022

No calvário, confrontam-se duas mentalidades; vemos, no Evangelho, como as palavras de Jesus crucificado se contrapõem às dos seus adversários. Estes vão repetindo, como se fosse um refrão, “salva-te a ti mesmo”. (...) Salvar-se a si mesmo, olhar por si mesmo, pensar em si mesmo; não nos outros, mas apenas na própria saúde, no próprio sucesso, nos próprios interesses; ter, poder e aparecer. Salva-te a ti mesmo: é o refrão da humanidade, que crucificou o Senhor. Reflitamos nisso.

No calvário, confrontam-se duas mentalidades; vemos, no Evangelho, como as palavras de Jesus crucificado se contrapõem às dos seus adversários. Estes vão repetindo, como se fosse um refrão, “salva-te a ti mesmo”. (...) Salvar-se a si mesmo, olhar por si mesmo, pensar em si mesmo; não nos outros, mas apenas na própria saúde, no próprio sucesso, nos próprios interesses; ter, poder e aparecer. Salva-te a ti mesmo: é o refrão da humanidade, que crucificou o Senhor. Reflitamos nisso.

Mas, à mentalidade do “eu”, opõe-se à de Deus; o salva-te a ti mesmo confronta-se com o Salvador que Se oferece a Si mesmo. Em resposta Jesus toma a palavra, mas em nenhum dos casos reivindica qualquer coisa para Si mesmo; na verdade, nem sequer Se defende ou justifica a Si mesmo. Reza ao Pai e oferece misericórdia ao bom ladrão. Particularmente uma das suas expressões marca a diferença do salva-te a ti mesmo: “Perdoa-lhes, Pai”

Detenhamo-nos nestas palavras. Quando são pronunciadas pelo Senhor? Num momento específico: durante a crucifixão, quando sente os cravos perfurar-Lhe os pulsos e os pés. Tentemos imaginar a dor lancinante que isso provocava. Lá, na dor física mais aguda da Paixão, Cristo pede perdão para quem O está perfurando. Naqueles momentos, nos apeteceria apenas gritar toda a nossa raiva e sofrimento; Jesus, ao contrário, diz: Perdoa-lhes, Pai.

Irmãos, irmãs! Pensemos que Deus procede assim também conosco: quando Lhe provocamos dor com as nossas ações, Ele sofre e o único desejo que tem é poder perdoar-nos. Para nos darmos conta disto, contemplemos o Crucificado. Fixemos Jesus na cruz e pensemos que nunca recebemos palavras melhores: Perdoa-lhes, Pai. Fixemos Jesus na cruz e vejamos que nunca recebemos um olhar mais terno e compassivo. Fixemos Jesus na cruz e convençamo-nos de que nunca recebemos um abraço mais amoroso. Fixemos o Crucificado e digamos: “Obrigado, Jesus! Amas-me e perdoas-me sempre, mesmo quando me custa amar e perdoar a mim mesmo”.

Lá, enquanto é crucificado, no momento mais difícil, Jesus vive o seu mandamento mais difícil: o amor aos inimigos. Pensemos em alguém que nos feriu, ofendeu, decepcionou; em alguém que nos irritou, não nos compreendeu ou não foi um bom exemplo. Quanto tempo nós demoramos a pensar em quem nos fez mal! Como também a olhar para nós mesmos e a lamuriar-nos pelas feridas que nos infligiram os outros, a vida ou a história.

Hoje, Jesus ensina-nos a não nos perdermos nisso, mas a reagir, a romper o círculo vicioso do mal e dos queixumes, a reagir aos cravos da vida com o amor, aos golpes do ódio com a carícia do perdão. Mas nós, discípulos de Jesus, seguimos o Mestre ou o nosso instinto rancoroso? Se queremos verificar a nossa pertença a Cristo, vejamos como nos comportamos com quem nos feriu. O Senhor pede-nos para responder, não como apetece a nós nem como fazem todos, mas como Ele procede conosco. Pede-nos para quebrar a corrente do “amo-te se me amares; sou teu amigo, se fores meu amigo; ajudo-te se me ajudares”. Em vez disso, compaixão e misericórdia para com todos, porque Deus vê um filho em cada um. Não nos divide em bons e maus, em amigos e inimigos.

Deus não Se cansa de perdoar. Devemos compreender isto… e não só com a mente, mas compreendê-lo com o coração: Deus não Se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de Lhe pedir perdão, mas Ele nunca Se cansa de perdoar. Ele não suporta até certo ponto para depois mudar de ideias, como nós somos tentados a fazer. Jesus – ensina o Evangelho de Lucas – veio ao mundo para nos trazer o perdão dos nossos pecados (cf. Lc 1, 77) e, no fim, deixou-nos esta ordem concreta: pregar a todos, no seu nome, o perdão dos pecados (cf. Lc 24, 47). Irmãos e irmãs, não nos cansemos do perdão de Deus.

Fonte: www.vatican.va

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O inferno é o outro

terça-feira, 05 de abril de 2022

A assertiva que dá nome a este artigo é dita por uma das personagens da peça de teatro Huis clos (Entre quatro paredes, na tradução brasileira), do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre, escrita em 1945. A trama narra a história de duas mulheres e um homem que se encontram no inferno, condenados a permanecer para sempre juntos, “entre quatro paredes”.

A assertiva que dá nome a este artigo é dita por uma das personagens da peça de teatro Huis clos (Entre quatro paredes, na tradução brasileira), do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre, escrita em 1945. A trama narra a história de duas mulheres e um homem que se encontram no inferno, condenados a permanecer para sempre juntos, “entre quatro paredes”.

A inspiração veio da disputa entre três amigos seus que queriam uma peça na qual nenhum personagem tivesse mais destaque que os demais. Assim, Sartre pôs todos em cena presos no inferno onde cada personagem era carrasco dos demais. Neste sentido, a expressão “o inferno é o outro” pondera que o outro, na verdade, é fundamental para o conhecimento de si mesmo.

O ser humano necessita relacionar-se com o outro para construir a sua identidade, conhecer seus próprios demônios. A sociedade individualista faz com que os indivíduos se voltem somente para si, isolando-se em ilhas cada vez menores, fechados à experiência social. Desta forma, acaba-se por interpretar negativamente a fala de Sartre.

O Papa Francisco, analisando as consequências da pandemia da Covid-19, denuncia que a sociedade individualista tende a tornar natural o olhar superficial sobre os que estão ao nosso redor.

No entanto, o coronavírus não é a única doença a ser combatida, mas a pandemia trouxe à luz patologias sociais mais vastas. Uma delas é a visão distorcida da pessoa, um olhar que ignora a sua dignidade e a sua índole relacional. Por vezes consideramos os outros como objetos, objetos para serem usados e descartados. Na realidade, este tipo de olhar cega e fomenta uma cultura do descarte individualista e agressiva, que transforma o ser humano num bem de consumo” (Audiência Geral, 12 ago. 2020).

Olhar para o outro é um obrigar-se a sair de si, da zona de conforto e proteção que criamos em torno de nós. Ao voltarmos a atenção à miséria alheia, tomamos consciência de nossa responsabilidade.

É preciso, portanto, pedirmos ao Senhor que nos conceda um olhar atento aos irmãos e irmãs, especialmente aos que sofrem. “Como discípulos de Jesus, não queremos ser indiferentes ou individualistas. São estas as duas atitudes negativas contra a harmonia. Indiferente: olho para o outro lado. Individualista: considerar apenas o próprio interesse. A harmonia criada por Deus pede que olhemos para os outros, para as necessidades dos demais, para os problemas do próximo, estar em comunhão. Queremos reconhecer em cada pessoa a dignidade humana, qualquer que seja a sua raça, língua ou condição. A harmonia faz reconhecer a dignidade humana, aquela harmonia criada por Deus, com o homem no centro” (idem).

Assim, a provocação de Sartre ganha destaque em nossa reflexão por nos mostrar o quanto é incômodo sair de si e caminhar ao encontro do outro. Contudo, todos os dias precisamos vencer os nossos demônios para construir o Reino de Deus já aqui e agora.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Tire as sandálias

terça-feira, 29 de março de 2022

Na conhecida passagem da Sarça ardente (cf. Ex 3,1-5), na qual revela-se a vocação de Moisés, lemos uma intrigante fala de Deus: “Moisés, Moisés… Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa” (v.4.5).

Seguimos, segundo o senso comum, a interpretação de que a ordem divina se refere às impurezas contidas nas sandálias. Isso porque vivemos uma cultura em que o impuro não pode estar diante de Deus. Como consequência desse pensamento, muitos se afastam de Deus por viverem situações de pecado.

Na conhecida passagem da Sarça ardente (cf. Ex 3,1-5), na qual revela-se a vocação de Moisés, lemos uma intrigante fala de Deus: “Moisés, Moisés… Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa” (v.4.5).

Seguimos, segundo o senso comum, a interpretação de que a ordem divina se refere às impurezas contidas nas sandálias. Isso porque vivemos uma cultura em que o impuro não pode estar diante de Deus. Como consequência desse pensamento, muitos se afastam de Deus por viverem situações de pecado.

Contudo, é preciso voltarmos nossa reflexão para a realidade de que as sandálias nos pés de Moisés eram a única coisa que o impedia de ser tocado por Deus e viver intimamente a experiência de estar naquele lugar sagrado.

Jesus diz nos evangelhos que “os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. (Lc 5,27-32). É justamente por sermos pecadores que precisamos ir ao encontro de Deus.

O Papa Francisco em um de seus primeiros discursos revela-nos a universalidade da misericórdia de Deus. “Comove-nos a atitude de Jesus: não escutamos palavras de desprezo, não escutamos palavras de condenação, mas sim palavras de amor, de misericórdia, que convidam à conversão. Irmãos e irmãs, o rosto de Deus é o de um pai misericordioso, que tem sempre paciência! Já pensastes na paciência que tem para com cada um de nós? Essa é a sua misericórdia! Tem sempre paciência para conosco, compreende-nos, está à nossa espera, não se cansa de nos perdoar se soubermos voltar com o coração contrito. É grande a misericórdia do Senhor” (Angelus, 17 mar. 2013).

Entretanto, é necessário ter cuidado para que a experiência do amor de Deus não seja falsamente interpretada e nos deixarmos encher de vaidade, nos sentindo melhores ou superiores aos que ainda não tiveram a oportunidade de fazer a mesma experiência com o Senhor. O que nos diferencia é a consciência de que somos pecadores e necessitamos buscar a Graça do Pai.

É preciso repensar nossa experiência com o Sagrado. Quantas vezes nos aproximamos dele ainda com as “sandálias nos pés”, sem nos despojarmos de tudo que limita o verdadeiro encontro com o Senhor.

A Quaresma é o tempo oportuno para buscarmos uma sincera e profunda conversão, deixando pelo caminho as sandálias que nos impedem de experimentar o verdadeiro encontro com o Cristo.

Assim, somos levados a refletir as palavras do Papa Francisco: “Deus confia em nós e acompanha-nos com paciência, a paciência de Deus conosco. Não desanima, mas coloca sempre esperança em nós. Deus é Pai e olha para ti como um pai: como o melhor dos pais, ele não vê os resultados que ainda não conseguiste, mas os frutos que ainda podes dar; ele não conta os teus fracassos, mas encoraja as tuas possibilidades; não se detém no teu passado, mas aposta confiante no teu futuro. Porque Deus está perto de nós, Ele está perto de nós. O estilo de Deus, não nos esqueçamos é a proximidade, Ele está perto, com misericórdia e ternura. E é assim que Deus nos acompanha: próximo, misericordioso e terno. Portanto, peçamos à Virgem Maria que nos dê esperança e coragem, e que acenda em nós o desejo da conversão” (Angelus, 20 mar. 2022).

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A verdade vos tornará livres

terça-feira, 22 de março de 2022

Diante de uma sociedade cada vez mais influenciada e polarizada por notícias falsas e discursos de ódio, faz-se oportuno partilhar a atualidade da mensagem do Papa Francisco para o 52° Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 13 de maio de 2018, com o lema " A verdade vos tornará livres (Jo 8,32) - Fake news e Jornalismo da paz", a qual dividimos em dez pontos:

1. "A comunicação humana é uma modalidade essencial para viver a comunhão", afirma o Papa. Exalta a capacidade humana de expressão, compartilhamento e construção de sua própria memória.

Diante de uma sociedade cada vez mais influenciada e polarizada por notícias falsas e discursos de ódio, faz-se oportuno partilhar a atualidade da mensagem do Papa Francisco para o 52° Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 13 de maio de 2018, com o lema " A verdade vos tornará livres (Jo 8,32) - Fake news e Jornalismo da paz", a qual dividimos em dez pontos:

1. "A comunicação humana é uma modalidade essencial para viver a comunhão", afirma o Papa. Exalta a capacidade humana de expressão, compartilhamento e construção de sua própria memória.

2. Porém, o egoísmo é um sentimento destrutivo, capaz de distorcer a comunicação e a verdade, em prol de um bem individual ou de um grupo.

3. Um tema a ser refletido são as "fake news" - as notícias falsas, que são "notícias" verossímeis - aquilo que parece intuitivamente verdadeiro, mas não é. São capazes de chamar a atenção dos leitores e receptores, usando estereótipos e preconceitos generalizados. Exploram emoções como ansiedade, desprezo, ira e frustração e se difundem, em sua maioria, nas redes sociais, onde ganham visibilidade e tornam seus danos irreparáveis.

4. As notícias falsas, segundo o Pontífice, visam objetivos prefixados - como influenciar opções políticas e favorecer lucros econômicos. Geram ambientes digitais de confronto, de descrédito do outro, que passa a ser visto como um inimigo. Uma demonização que pode fomentar conflitos. Devem ser erradicadas em uma corrente de conscientização das pessoas que interagem com este conteúdo.

5. O drama da desinformação gera intolerância, arrogância e ódio e as fake news seguem a "lógica da serpente", como na narração do pecado original, como figura de confusão e tentação para o homem e para a mulher. "Este episódio bíblico revela assim um fato essencial para o nosso tema: nenhuma desinformação é inofensiva; antes, pelo contrário, fiar-se naquilo que é falso produz consequências nefastas. Mesmo uma distorção da verdade aparentemente leve pode ter efeitos perigosos".

6. Comunicar a verdade: O Papa Francisco manifesta o desejo de uma contribuição para a prevenção da difusão destas notícias falsas e para a redescoberta do valor da profissão jornalística e da responsabilidade pessoal de cada um na comunicação da verdade." O antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar pela verdade". Considera louváveis as iniciativas que ensinam os homens e mulheres como avaliar o conteúdo comunicativo e a não serem divulgadores inconscientes de desinformação, mas atores de seu desvendamento. Valoriza também as iniciativas institucionais e jurídicas neste objetivo.

7. O homem descobre sempre mais a verdade quando a experimenta em si mesmo como fidelidade e fiabilidade de quem o ama. "O melhor antídoto contra as falsidades não são as estratégias, mas as pessoas que, livres da ambição, estão prontas a ouvir e, através da fadiga de um diálogo sincero, deixam emergir a verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da linguagem", explicita o Vigário de Cristo.

 8. Jornalismo de paz: o Papa direciona a mensagem aos jornalistas que, segundo ele, são obrigados por profissão a ser responsáveis ao informar. Como guardiães das notícias, não desempenham apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão, "tem o dever de lembrar que no centro da notícia não estão a velocidade em comunicá-la, nem o impacto sobre a audiência, mas as pessoas. Informar é formar; é lidar com a vida das pessoas. Por isso, a precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros e próprios processos de desenvolvimento do bem que geram confiança e abrem vias de comunhão e de paz".

9. Francisco convidou os profissionais de comunicação a promover um jornalismo de paz que não negue a existência de problemas graves, mas que, pelo contrário, não use de fingimentos, seja hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas. Um jornalismo a serviço das pessoas que não se limite a queimar notícias, mas que se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, favorecendo a compreensão das raízes e empenhado em indicar soluções e alternativas.

10.Termina com uma oração inspirada na oração franciscana da paz: "Senhor, fazei de nós instrumentos da vossa paz. Fazei-nos reconhecer o mal que se insinua em uma comunicação que não cria comunhão" (trecho da oração final da mensagem).

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A experiência Tabor

terça-feira, 15 de março de 2022

A liturgia do segundo domingo da Quaresma, último dia 13, nos apresenta o episódio do Monte Tabor. Jesus que sobe à montanha com seus discípulos – Pedro, Tiago e João – e ali se transfigura diante deles. Certamente, aquela experiência daquele dia marcou a vida dos três discípulos. Nenhum destes havia experimentado algo tão grandioso. A manifestação da glória divina não só apontou para a realidade da pessoa de Jesus, mas também inundou o coração daqueles homens temerosos.

A liturgia do segundo domingo da Quaresma, último dia 13, nos apresenta o episódio do Monte Tabor. Jesus que sobe à montanha com seus discípulos – Pedro, Tiago e João – e ali se transfigura diante deles. Certamente, aquela experiência daquele dia marcou a vida dos três discípulos. Nenhum destes havia experimentado algo tão grandioso. A manifestação da glória divina não só apontou para a realidade da pessoa de Jesus, mas também inundou o coração daqueles homens temerosos.

Pedro, o mais impetuoso, deixa transbordar o sentimento de gozo e exclama: “Senhor, é bom estarmos aqui, façamos três tendas...” (Lc 9,33). Ele queria prolongar aquela situação mística e prazerosa. Contudo, o mesmo discípulo após a experiência da Ressurreição e de Pentecostes compreende que suas palavras eram vazias de sentido. Pois, o que realmente importa não é estar ali ou aqui, mas é estar sempre na presença de Deus, em qual parte, realidade ou situação. Encontrar o Cristo por de trás de qualquer situação, e mais, ser a sua presença!

Assim como Pedro, nós queremos prolongar em nossa vida os momentos felizes e prazerosos. No entanto, a vida presente é cercada de situações que nos roubam os momentos de tranquilidade. Convivemos todos os instantes com a inquietação temerosa de perder o que temos ou o que somos. Assim, traduzimos nossa esperança e nossas ações voltadas apenas para as coisas contingentes deste mundo.

O Tempo Quaresmal nos impele a viver na cotidianidade de nossa vida, a experiência do Tabor. Não podemos esquecer, nem ignorar as inúmeras situações de morte que enfrentamos todos os dias. Ao contrário, precisamos conquistar um olhar mais atento às dores do mundo em que vivemos e, com a força que emana de nossa experiência com Deus, mudar as cruéis e violentas realidades que a humanidade enfrenta.

O Papa Francisco, ao refletir sobre o relato do Monte Tabor, destaca que “no final da admirável experiência da Transfiguração, os discípulos desceram do monte com os olhos e o coração transfigurados pelo encontro com o Senhor. E nos motiva: “É o percurso que podemos realizar também nós. A redescoberta cada vez mais viva de Jesus não constitui um fim em si, mas induz-nos a ‘descer do monte’, restaurados pela força do Espírito divino, para decidir novos passos de conversão e para testemunhar constantemente a caridade, como lei de vida diária. Transformados pela presença de Cristo e pelo fervor da sua palavra, seremos sinal concreto do amor vivificador de Deus por todos os nossos irmãos, sobretudo por quem sofre, por quantos se encontram na solidão e no abandono, pelos doentes e pela multidão de homens e mulheres que, em diversas partes do mundo, são humilhados pela injustiça, pela prepotência e pela violência” (Angelus, 6 ago. 2017).

A experiência do Tabor nos ensina que é preciso descer da montanha com a força que vem da experiência de Transfiguração, presente também em nossa vida de fé, e não nos deixar vencer pelas provações, incompreensões, perseguições, calúnias e dores. As dificuldades da vida precisam ser abraçadas com a certeza da verdade e a garantia da vitória que vence o mundo, a nossa fé! (cf. 1Jo 5,4).

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Mensagem do Papa Francisco para a Campanha da Fraternidade 2022

terça-feira, 08 de março de 2022

Todos os anos no tempo da Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realiza a Campanha da Fraternidade (CF). Em 2022, a CF tem com o tema “Fraternidade e Educação” e lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). No último dia 10 de janeiro, o Papa Francisco enviou aos fiéis brasileiros uma mensagem para a vivência desta campanha.

Todos os anos no tempo da Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realiza a Campanha da Fraternidade (CF). Em 2022, a CF tem com o tema “Fraternidade e Educação” e lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). No último dia 10 de janeiro, o Papa Francisco enviou aos fiéis brasileiros uma mensagem para a vivência desta campanha.

O Pontífice começa a sua reflexão destacando que ao iniciarmos a caminhada quaresmal de conversão rumo à celebração do Mistério Pascal de Cristo, nos dispomos a ouvir o chamado de Deus que deseja conduzir-nos, através das práticas penitenciais do jejum, da esmola e da oração, ao encontro pessoal e renovador com o Ressuscitado, em quem temos a verdadeira vida e do qual devemos ser fiéis testemunhas.

Francisco recorda que para auxiliar os fiéis nesse percurso de encontro, a Igreja no Brasil propõe à reflexão de todos, na Campanha da Fraternidade deste ano, o importante tema da relação entre “Fraternidade e Educação”, fundamental para a valorização do ser humano em sua integralidade, evitando a “cultura do descarte” – que coloca os mais vulneráveis à margem da sociedade – e despertando-o para a importância do cuidado da criação.

O Bispo de Roma continua a sua reflexão enfatizando que, ao olhar para a sociedade hodierna, percebe-se de maneira muito clara a urgência em adotar ações transformadoras no âmbito educativo a fim de que tenhamos uma educação promotora da fraternidade universal e do humanismo integral, como recordado no convite para um Pacto Educativo Global: “Nunca, como agora, houve necessidade de unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna” (Mensagem do Papa Francisco, 12/09/19).

A mensagem prossegue apontando o seguinte: ao mesmo tempo em que se reconhece e valoriza a responsabilidade dos governos na tarefa de auxiliar as famílias na educação dos filhos, garantindo a todos o acesso à escola, deve-se igualmente reconhecer e valorizar a importante missão da Igreja no âmbito educativo: “As religiões sempre tiveram uma relação estreita com a educação, acompanhando as atividades religiosas com as educativas, escolares e acadêmicas. Como no passado, também hoje queremos, com a sabedoria e a humanidade das nossas tradições religiosas, ser estímulo para uma renovada ação educativa que possa fazer crescer no mundo a fraternidade universal” (Discurso do Papa Francisco, 5/10/21).

O Pontífice manifestou o desejo de que a escolha do tema “Fraternidade e Educação” se torne causa de grande esperança em cada comunidade eclesial e de efetiva renovação nas escolas e universidades católicas, a fim de que, tendo como modelo de seu projeto pedagógico a Cristo, transmitam a sabedoria educando com amor, tornando-se assim modelos desta formação integral para as demais instituições educativas.

Desejou igualmente que o itinerário quaresmal, iluminado pela reflexão proposta, seja ocasião de verdadeira conversão e que as sementes lançadas ao longo deste caminho encontrem nos corações dos fiéis a boa terra onde possam frutificar em ações concretas a favor de uma educação integral e de qualidade.

Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida e como penhor de abundantes graças celestes que auxiliem as iniciativas nascidas a partir da Campanha da Fraternidade, Francisco concedeu à nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham por uma educação mais fraterna, a Bênção Apostólica.

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Façamos o bem

quinta-feira, 03 de março de 2022

Nesta quarta-feira de cinzas, 2, teve início a Quaresma, tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Com o intuito de nos ajudar neste caminho, o Papa Francisco escreveu a mensagem quaresmal de 2022 refletindo sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas: “Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos” (Gal 6, 9-10a).

Nesta quarta-feira de cinzas, 2, teve início a Quaresma, tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Com o intuito de nos ajudar neste caminho, o Papa Francisco escreveu a mensagem quaresmal de 2022 refletindo sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas: “Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos” (Gal 6, 9-10a).

Sem dúvida alguma, esta é uma reflexão urgente para o nosso tempo. Francisco, movido pelas palavras do apóstolo, questiona: “Qual poderá ser para nós este tempo favorável?” E responde que é a nossa inteira existência terrena. Mas denuncia: “Muitas vezes, na nossa vida, prevalecem a ganância e a soberba, o anseio de possuir, acumular e consumir, como se vê no homem insensato da parábola evangélica, que considerava assegurada e feliz a sua vida pela grande colheita acumulada nos seus celeiros (cf. Lc 12, 16-21)”.

É preciso mudar a mentalidade. O pontífice diz que a Quaresma nos convida à conversão de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo.

Somos chamados a ser “cooperadores de Deus” (1 Cor 3, 9), aproveitando o tempo presente (cf. Ef 5, 16) e o lugar onde Deus nos colocou para semearmos o bem. Somente assim poderemos colher um mundo de paz e de verdadeira prosperidade.

“Um primeiro fruto do bem semeado, temo-lo em nós mesmos e nas nossas relações diárias, incluindo os gestos mais insignificantes de bondade. Em Deus, nenhum ato de amor, por menor que seja, e nenhuma das nossas «generosas fadigas» se perde (cf. Exort. Evangelii gaudium, 279). Tal como a árvore se reconhece pelos frutos (cf. Mt 7, 16.20), assim também a vida repleta de obras boas é luminosa (cf. Mt 5, 14-16) e difunde pelo mundo o perfume de Cristo (cf. 2 Cor 2, 15). Servir a Deus, livres do pecado, faz maturar frutos de santificação para a salvação de todos (cf. Rm 6, 22)”.

O Papa ainda chama atenção para a generosidade no ato de semear o bem. “É precisamente semeando para o bem do próximo que participamos na magnanimidade de Deus: constitui “grande nobreza ser capaz de desencadear processos cujos frutos serão colhidos por outros, com a esperança colocada na força secreta do bem que se semeia» (Enc. Fratelli tutti, 196). Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus”.

Contra a tentação de fechar-se no egoísmo individualista e, à vista dos sofrimentos alheios, refugiar-se na indiferença, o Papa Francisco convida a humanidade a não desistir diante das dificuldades e desafios de nosso tempo. Em primeiro lugar, nos chama a perseverar na oração. “Precisamos rezar, porque necessitamos de Deus. A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa”. Ainda nos anima a não nos cansarmos de extirpar o mal da nossa vida e a não desistir de combater a concupiscência. Por fim, o pontífice nos motiva a fazer o bem, através de uma operosa caridade para com o próximo.

Foto da galeria

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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Maria, modelo de educadora na sabedoria e no amor

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A Campanha da Fraternidade deste ano, com o tema "Fraternidade e Educação" e com o lema "Fala com sabedoria, ensina com amor" (Pr 31,26), cumpre o propósito deste evento organizado pela CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, desde 1964: "ser um caminho para que os cristãos vivam a espiritualidade quaresmal com o sentido de mudança e transformação pessoal rumo à solidariedade a um problema concreto da sociedade brasileira". A realidade da educação interpela e exige profunda conversão de todos.

A Campanha da Fraternidade deste ano, com o tema "Fraternidade e Educação" e com o lema "Fala com sabedoria, ensina com amor" (Pr 31,26), cumpre o propósito deste evento organizado pela CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, desde 1964: "ser um caminho para que os cristãos vivam a espiritualidade quaresmal com o sentido de mudança e transformação pessoal rumo à solidariedade a um problema concreto da sociedade brasileira". A realidade da educação interpela e exige profunda conversão de todos. E ninguém melhor do que Maria, a nossa querida Mãe, para ser referência de uma nova educação que "promova o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna e a cidadania" (Texto Base 05).

Maria é a grande educadora da sabedoria que vivia com integridade e fidelidade os valores da fé, da verdade, da justiça, da fraternidade, conforme a Palavra de Deus, fazendo da casa de Nazaré, com São José, a primeira escola das virtudes humanas essencialmente integradas ao sentido maior da vontade do Senhor. Num sólido testemunho de fé-vida, iluminou a infância e a juventude de Jesus, com os exemplos de trabalho, oração, fervor religioso, serviço missionário, partilha de caridade com os mais necessitados, responsabilidade com os deveres da justiça e comunhão social. Ensinava com amor o Filho de Deus, o Verbo Encarnado, que recebeu dela em sua natureza humana, verdadeira e completa, toda a educação ética, religiosa, cultural, espiritual, cidadã, como servo do Pai, no desenvolvimento global de sua humanidade. Os primeiros passos, as primeiras palavras, orações, os conselhos e orientações, a interação dos sentimentos, das tarefas do dia a dia, o suporte e o preparo carinhoso da alimentação, na cumplicidade com o 'homem justo" e pai adotivo do Salvador.

Nossa Mãe das Graças nos apresenta, em sua eloquente humildade e fortaleza, que a base da educação é uma família consistente, alicerçada em Deus, diante dos desafios da vida. Isto nos faz refletir sobre a importância de investirmos em ações de evangelização e formação em favor das famílias, estruturando-as como base de educação integral da pessoa. Deve haver na sociedade e diversos ambientes educacionais uma verdadeira mudança de mentalidade, na busca de um "...caminho educativo integral que humanize, promova e estabeleça relações de proximidade, justiça e paz" (TB 06). Nos diversos âmbitos, a educação deve ser iluminada pela Palavra de Deus, encontrando-se meios eficazes que favoreçam processos mais adequados e criativos a fim de que ninguém seja excluído deste projeto de promoção social.

Maria, Mãe da dignidade humana, ensina com amor e testemunha a educação aberta às culturas, de ações verdadeiramente a serviço da vida, em especial, dos mais pobres. Ela nos convida a "refletir sobre os fundamentos do ato de educar. É encontro no qual todos são educadores e educandos. É tarefa da própria pessoa, da família, da Igreja e de toda a sociedade" (TB Ap.). Ela mesma aprendia muito de todo o processo histórico da encarnação-salvação, enquanto ensinava como mãe zelosa, guardando tudo em seu coração (cf  Lc 2, 16-21;41-51).

A Mãe de Nazaré foi a primeira discípula-missionária do Verbo. Foi a educadora exímia, capaz de escutar e ler nos sinais da história, dialogando e discernindo o caminho, à luz do Espírito, acolhendo com humildade o Mistério de Deus. Iluminam este escutar e discernir, as encíclicas Laudato Si, Fratelli Tutti, as propostas da economia de Francisco e de Clara, apresentadas pelo Papa Francisco.

Por fim, agir, ter passos e metas, um projeto de vida, fonte de uma nova sociedade. A Educação planejada de forma "sinodal", interativa, discernindo os melhores caminhos, políticas públicas, meios específicos, recursos, investimentos, junto às escolas, universidades e outros espaços educativos, com um serviço pastoral. Maria é a mulher da ação, numa profunda espiritualidade que transforma a oração e os ensinamentos em atos de amor solidário, como o serviço a Isabel, a cooperação com os discípulos, dando suporte ao seu filho na sua árdua missão, até aos pés da cruz, em comunhão com os apóstolos, como Mãe da Igreja, participando das ações e múnus da comunidade apostólica, inundada também pela luz de Pentecostes.

Nesta linha do Agir-trnasformar é que o profético Papa Francisco apresenta o Pacto Educativo Global que impulsiona esta campanha e propõe educar para um novo humanismo, com a iluminação dos princípios cristãos. Que Maria, Mãe da Educação, abençoe este projeto e interceda junto ao Filho Mestre, Educador, derramando as graças necessárias para esta humana renovação social.

Boa Campanha da Fraternidade a todos!

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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