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Chamados para construir a família humana

terça-feira, 02 de agosto de 2022

Estamos iniciando o mês de agosto, tempo dedicado à oração pelas vocações. Trazemos para a reflexão desta semana a Mensagem do Papa Francisco para o 59º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado em maio deste ano. A palavra «vocação» não deve ser entendida em sentido restrito, referindo-a apenas àqueles que seguem o Senhor pelo caminho duma consagração específica. Todos somos chamados a participar na missão de Cristo de reunir a humanidade dispersa e reconciliá-la com Deus.

Estamos iniciando o mês de agosto, tempo dedicado à oração pelas vocações. Trazemos para a reflexão desta semana a Mensagem do Papa Francisco para o 59º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado em maio deste ano. A palavra «vocação» não deve ser entendida em sentido restrito, referindo-a apenas àqueles que seguem o Senhor pelo caminho duma consagração específica. Todos somos chamados a participar na missão de Cristo de reunir a humanidade dispersa e reconciliá-la com Deus. De modo mais geral, cada pessoa humana, antes ainda de viver o encontro com Cristo e abraçar a fé cristã, recebe com o dom da vida um chamamento fundamental. Somos chamados a ser guardiões uns dos outros, a construir laços de concórdia e partilha, a curar as feridas da criação para que não seja destruída a sua beleza.

Nesta grande vocação comum, insere-se a chamada mais particular que Deus nos dirige, alcançando a nossa existência com o seu amor e orientando-a para a sua meta definitiva, para uma plenitude que ultrapassa até mesmo o limiar da morte. Assim quis Deus olhar, e olha, para a nossa vida. Esta é a dinâmica de cada vocação: somos alcançados pelo olhar de Deus, que nos chama. A vocação – como aliás a santidade – não é uma experiência extraordinária reservada a poucos. Tal como existem «os santos ao pé da porta» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 6-9), assim também a vocação é para todos, porque todos são olhados com amor e chamados por Deus.

Assim a vocação nasce, graças à arte do Escultor divino que, com as suas «mãos», nos faz sair de nós mesmos, para que se delineie em nós a obra-prima que somos chamados a ser. Particularmente capaz de nos purificar, iluminar e recriar é a Palavra de Deus, que nos liberta do egocentrismo. Coloquemo-nos, pois, à escuta da Palavra, para nos abrirmos à vocação que Deus nos confia! E aprendamos a escutar também os irmãos e irmãs na fé, porque nos seus conselhos e exemplo pode esconder-se a iniciativa de Deus, que nos indica estradas sempre novas a percorrer.

O olhar amoroso e criador de Deus alcançou-nos de forma singular em Jesus. Ao falar do jovem rico, o evangelista Marcos observa: «Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele» (10, 21). O mesmo olhar de Jesus, cheio de amor, pousa sobre cada um de nós. Deixemo-nos tocar por este olhar e ser levados por Ele para além de nós mesmos! E aprendamos também a olhar de tal modo um para o outro que as pessoas com quem vivemos e as que encontramos – sejam elas quem forem – possam sentir-se acolhidas e descobrir que há alguém que as olha com amor, convidando-as a desenvolverem todas as suas potencialidades.

A nossa vida muda quando acolhemos este olhar. Tudo se torna um diálogo vocacional entre nós e o Senhor, mas também entre nós e os outros. Um diálogo que, vivido em profundidade, nos faz tornar cada vez mais aquilo que somos: na vocação ao sacerdócio ordenado, ser instrumento da graça e da misericórdia de Cristo; na vocação à vida consagrada, ser louvor de Deus e profecia de nova humanidade; na vocação ao matrimónio, ser dom mútuo e geradores e educadores da vida; em cada vocação e ministério na Igreja, em geral, que nos chama a olhar os outros e o mundo com os olhos de Deus, servir o bem e difundir o amor com as obras e as palavras.

Portanto, quando falamos de «vocação», não se trata apenas de escolher esta ou aquela forma de vida, mas trata-se sobretudo de realizar o sonho de Deus, o grande desígnio da fraternidade que Jesus tinha no coração quando pediu ao Pai «que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Rezemos, irmãos e irmãs, para que o Povo de Deus, no meio das dramáticas vicissitudes da história, corresponda cada vez mais a esta vocação. Invoquemos a luz do Espírito Santo, para que cada um e cada uma de nós possa encontrar o respetivo lugar e dar o melhor de si neste grande desígnio!” Fonte: www.vatican.va

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Ensina-nos a rezar

terça-feira, 26 de julho de 2022

No último domingo, 24, ouvimos o pedido sincero dos discípulos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Este clamor provindo de homens que conviviam diariamente com Jesus nos conduz a um lugar de reflexão tão importante nos tempos de hoje. Poderíamos pensar que este é um tema que se restringe apenas a uma religião específica. Contudo, aprendemos com o Papa Francisco que o ato da oração pertence a todos os homens de todas as religiões e até, de certo modo, àqueles que não professam religião alguma.

No último domingo, 24, ouvimos o pedido sincero dos discípulos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Este clamor provindo de homens que conviviam diariamente com Jesus nos conduz a um lugar de reflexão tão importante nos tempos de hoje. Poderíamos pensar que este é um tema que se restringe apenas a uma religião específica. Contudo, aprendemos com o Papa Francisco que o ato da oração pertence a todos os homens de todas as religiões e até, de certo modo, àqueles que não professam religião alguma.

A oração não é uma ação exterior ao orante, mas é fruto de um mergulho profundo no interior de si, é um encontro com o “eu” sem máscaras, sem reserva. O Catecismo ensina que o seu lugar de nascimento é o coração (cf. CIC, 2562-2563). Deste modo, “as emoções rezam, mas não se pode dizer que a oração é unicamente emoção. A inteligência reza, mas rezar não é apenas um ato intelectual. O corpo reza, mas pode-se falar com Deus até na invalidez mais grave. Por conseguinte, é o homem todo que ora, se o seu ‘coração’ reza” (Papa Francisco, 13 mai. 2020).

Assim, a oração é fruto do encontro do ‘eu’ consigo mesmo que o conduz ao ‘tu’, ao “outro’. Um caminho que vai sendo construído/conquistado a cada passo, numa dinâmica constante de esvaziamento de si e quebra de pré-conceitos. Este itinerário que não pode ser calculado é conduzido apenas pela necessidade de realizar a essência de ser social.

Contudo, a cultura atual se traduz em uma sociedade onde a comunicação a cada dia se torna mais virtual, esvaziando a beleza do encontro. Esta realidade tem atingido inclusive a vida de oração. Hoje, somos levados a viver uma realidade puramente intimista, voltada apenas para a satisfação de nossas paixões e caprichos. Anula-se o comprometimento de crescer no conhecimento de si e do encontro.

O tríplice âmbito do encontro – consigo, com Deus e com o outro - não pode ser substituído pelo vazio de muitas palavras. É preciso fortalecer o cuidado de, também na vida de oração, não substituir as relações interpessoais pelas amizades virtuais, limitando a vida, o contato, a proximidade, somente aos momentos de interesses. Hoje é recorrente ver amigos sentados em uma mesma mesa, cada qual conectado ao próprio mundo, fechados nos horizontes de seus próprios interesses e ignorando os que estão ao redor.

A oração encerrada no individualismo é estéril. A revolução gerada pelo cristianismo se fundamenta na relação entre Deus e o homem. O caminho de encontro é uma iniciativa do próprio Deus. É Ele que em primeiro se comunica e revela-se ao homem. Desde o ato criador, Deus entrou em relação conosco rompendo toda herança “feudal”, de servidão. “No património da nossa fé não existem expressões como ‘subjugação’, ‘escravatura’ ou ‘vassalagem’; mas sim palavras como ‘aliança’, ‘amizade’, ‘promessa’, ‘comunhão’, ‘proximidade’. No seu longo discurso de despedida dos discípulos, Jesus diz assim: «Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Ibidem).

Procuremos, pois, entrar no grande mistério desta aliança de amor. Colocar-nos em oração nos braços misericordiosos de Deus, sentir-nos envolvidos por esse enigma de felicidade, que é a vida trinitária, conectando-nos com nossas dores e misérias, saindo ao encontro das urgências de nosso tempo.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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A hospitalidade

terça-feira, 19 de julho de 2022

Nesta semana vamos refletir sobre duas virtudes necessárias para a edificação de uma comunidade de amor: hospitalidade e empatia. A narração do Evangelho de Lucas nos coloca diante do momento em que Jesus visita uma pequena aldeia chamada Betânia e entra na casa de Marta e Maria. No relato, encontramos Marta afoita com os muitos afazeres e Maria sedenta, sentada aos pés do mestre, que como uma verdadeira discípula escuta atenta suas palavras.

Nesta semana vamos refletir sobre duas virtudes necessárias para a edificação de uma comunidade de amor: hospitalidade e empatia. A narração do Evangelho de Lucas nos coloca diante do momento em que Jesus visita uma pequena aldeia chamada Betânia e entra na casa de Marta e Maria. No relato, encontramos Marta afoita com os muitos afazeres e Maria sedenta, sentada aos pés do mestre, que como uma verdadeira discípula escuta atenta suas palavras.

Ao incomodo de Marta com a postura de sua irmã, Jesus adverte sobre as preocupações excessivas com os afazeres da vida cotidiana e a convida a discernir sobre o que é mais importante: se o que está estabelecido pela lei e pelas práticas culturais ou a acolhida da novidade do Reino.

Nesta passagem Marta realiza o “normal”, faz tudo o que ditam as normas de hospitalidade de seu tempo. Ela é o ícone dos que acreditam que basta cumprir a lei para a salvação e colocam um pesado julgo aos ombros dos que não a cumprem. Por outro lado, Maria também cumpre o costume da acolhida e da hospitalidade, mas de um modo diferente. Ela deixa transbordar o coração!

As atitudes das irmãs à primeira vista parecem ser opostas e se anularem, contudo, elas são complementares. Hospitalidade é também saber sentir a necessidade do outro, ser sensível à dor alheia. É ser empático! Neste tempo de pandemia tivemos a oportunidade de testemunhar muitos homens e mulheres de boa vontade que não se limitaram a cumprir a lei, mas arriscaram a própria vida para ir ao encontro das amarguras dos irmãos.

O Papa Francisco analisando a conjuntura social de nosso tempo denunciou: “o coronavírus não é a única doença a ser combatida, mas a pandemia trouxe à luz patologias sociais mais vastas. Uma delas é a visão distorcida da pessoa, um olhar que ignora a sua dignidade e a sua índole relacional. Por vezes consideramos os outros como objetos, objetos para serem usados e descartados. Na realidade, este tipo de olhar cega e fomenta uma cultura do descarte individualista e agressiva, que transforma o ser humano num bem de consumo” (Audiência geral, 12 ago. 2020).

É indiscutível a importância da lei para a sadia e frutuosa convivência da humanidade. Mas é estéril a comunidade que vive a lei pela lei, diminuindo o valor da vida e das pessoas. Aprendemos do Evangelho que a lei foi feita para o homem e não o homem para a lei (cf. Mc 2,23 – 3,6). Isto é, a lei deve ser libertadora e nunca poderá oprimir a caridade. O critério deve ser sempre o ser humano, portanto nenhuma norma que oprima, marginalize e/ou o exclua poderá ser aceita.

Duas atitudes que ferem a harmonia são a indiferença: o olhar para o outro lado; e o individualismo: o olhar somente para si, para os próprios interesses. Como pessoas que querem construir um mundo mais fraterno e justo precisamos aprender mais da hospitalidade de Cristo Mestre. A harmoniosa hospitalidade de Jesus nos ensina a olhar para os outros, para as suas necessidades, para os seus problemas, estar em comunhão. Ser empático!

Busquemos reconhecer em cada pessoa a sua dignidade humana, independente de qual seja a sua raça, língua, condição social e econômica, orientação sexual e política. A pessoa no centro, sem adjetivos ou acidentais.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

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“Viu e teve compaixão” (Lc 10, 33)

terça-feira, 12 de julho de 2022

Esta semana refletiremos as palavras do Papa Francisco sobre a parábola do bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37).

Esta semana refletiremos as palavras do Papa Francisco sobre a parábola do bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37).

 “Como pano de fundo, há a estrada que de Jerusalém desce até Jericó, ao longo da qual se encontra um homem espancado brutalmente e assaltado por ladrões. Um sacerdote que passa, vê-o, mas não para, vai além; assim como um levita, ou seja, um ministro do culto no templo. «Mas, um samaritano», diz o Evangelho, «que estava a caminho, chegando àquele lugar, viu-o e teve compaixão dele» (v. 33). Não esqueçamos estas palavras: “teve compaixão dele”; é o que Deus sente cada vez que nos vê com um problema, num pecado, numa miséria: “teve compaixão dele”.

O Evangelista deseja especificar que o Samaritano estava a caminho. Portanto, aquele Samaritano, embora tivesse os seus programas e se dirigisse para uma meta distante, não encontra desculpas e deixa-se interpelar, deixa-se interpelar, pelo que acontece ao longo do caminho. Pensemos: não nos ensina o Senhor a fazer exatamente isto? A olhar para longe, para a meta final, contudo prestando muita atenção aos passos que devemos dar, aqui e agora, para lá chegar.

 O crente é muito parecido com o Samaritano: como ele, está a caminho. Sabe que não é alguém que “chegou”, mas quer aprender todos os dias, seguindo o Senhor Jesus, que disse: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6). Eu sou o caminho: o discípulo de Cristo caminha seguindo-o, e assim torna-se um “discípulo do Caminho”. Segue o Senhor, que não é um sedentário, mas está a caminho: ao longo da estrada encontra pessoas, cura doentes, visita aldeias e cidades. Assim agia o Senhor, sempre a caminho!

Por isso, o “discípulo do Caminho” - ou seja, o cristão - vê que a sua maneira de pensar e de agir muda gradualmente, conformando-se cada vez mais com a do Mestre. Seguindo os passos de Cristo, torna-se um viandante e aprende - como o Samaritano - a ver e a ter compaixão. Em primeiro lugar, vê: abre os olhos para a realidade, não permanece egoisticamente fechado dentro dos próprios pensamentos. Ao contrário, o sacerdote e o levita veem o infeliz, mas é como se não o vissem, vão além, olham para o outro lado. O Evangelho educa-nos a ver: leva cada um de nós a compreender corretamente a realidade, superando dia após dia os preconceitos e os dogmatismos. Muitos crentes refugiam-se nos dogmatismos para se defenderem da realidade. E depois ensina-nos a seguir Jesus, porque seguir Jesus nos ensina a ter compaixão: a dar-nos conta dos outros, especialmente daqueles que sofrem, dos mais necessitados. E para agir como o Samaritano: não ir além, mas parar.

Diante desta parábola evangélica, pode acontecer que demos a culpa a outros ou a nós mesmos, apontando o dedo contra o próximo, comparando-o com o sacerdote e com o levita: “Mas este ou aquele vão além, não param!”, ou culpando-nos a nós próprios, enumeramos a nossa falta de atenção ao próximo. Mas gostaria de vos sugerir outro tipo de exercício. Não tanto o de nos culparmos, não; sem dúvida, devemos reconhecer quando fomos indiferentes e quando nos justificamos, mas não nos limitemos a isto. Devemos reconhecê-lo, é um erro, mas peçamos ao Senhor que nos faça sair da nossa indiferença egoísta e nos coloque no Caminho. Peçamos-lhe para ver ter compaixão. É uma graça, devemos pedi-la ao Senhor. É a prece que hoje vos sugiro: “Senhor, que eu veja, que eu tenha compaixão, como Tu me vês e tens compaixão de mim!”. Tenhamos compaixão daqueles que encontramos ao longo do caminho, sobretudo de quantos sofrem e estão em necessidade, para nos aproximarmos e fazer o que pudermos para ajudar.

Muitas vezes, quando me encontro com algum cristão ou cristã que vem falar de coisas espirituais, pergunto se dá esmola. “Sim”, responde-me - “E, diz-me, tocas a mão da pessoa a quem dás a moeda?”. “Não, não, lanço-a lá”. “E fitas os olhos daquela pessoa?”. “Não, não me passa pela cabeça”. Se deres esmola sem tocares na realidade, sem fitares os olhos da pessoa em necessidade, aquela esmola é para ti, não para ela. Pensemos nisto: “Toco as misérias, até as misérias que ajudo? Fito nos olhos das pessoas que sofrem, as pessoas que ajudo?”. Deixo-vos este pensamento: ver e ter compaixão!”

Fonte: www.vatican.va

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As roupas fazem as pessoas

terça-feira, 05 de julho de 2022

Existe um conto antigo que narra a história de um alfaiate desempregado e faminto que vagava sem destino e cuja única posse eram suas roupas, distintas e elegantes, feitas por ele mesmo. Por usar roupas bem-acabadas e por ser um jovem esguio e belo, é confundido com um conde, se hospeda na cidade, onde inadvertidamente caiu nas graças de seus habitantes e acabou se casando com uma bela donzela.

Existe um conto antigo que narra a história de um alfaiate desempregado e faminto que vagava sem destino e cuja única posse eram suas roupas, distintas e elegantes, feitas por ele mesmo. Por usar roupas bem-acabadas e por ser um jovem esguio e belo, é confundido com um conde, se hospeda na cidade, onde inadvertidamente caiu nas graças de seus habitantes e acabou se casando com uma bela donzela.

A história, apesar de se passar na sociedade europeia do século XIX, ainda pode ser encarada como uma crítica direta ao modo que estamos conduzindo nossas relações interpessoais e, assim, construindo uma realidade enganadora.

O filósofo britânico-americano Alan Watts afirma que a humanidade está caminhando em vias de uma sociedade de aparências:

Compramos produtos projetados para apresentar uma fachada em detrimento de seu conteúdo: frutas enormes e sem gosto, pão que é pouco mais que uma espuma leve, vinho adulterado com produtos químicos e vegetais cujo sabor é devido às misturas secas dos tubos de ensaio que eles os dotam de uma celulose muito mais impressionante”.

Infelizmente, esta estrutura de pensamento pode ser identificada há muito tempo. Desde a época de Jesus percebe-se que a aparência usurpa o lugar da essência. Ao confrontar a sociedade de seu tempo, Cristo denuncia:

Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o copo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão. Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mt 23, 25-28).

Estes esquemas mundanos que fazem apodrecer o coração da humanidade tornam-se como pequenos ídolos. Prestamos culto e idolatramos o poder, a aparência e a superioridade, escravizando e nos deixando escravizar por eles. O Papa Francisco em sua conta do Twitter adverte:

A cultura da aparência, que nos leva a viver para as coisas que passam, é um grande engano. Porque é como uma chama: uma vez terminada, restam apenas as cinzas” (26 mar. 2019).

É preciso romper com este modo doentio de encarar a vida. Muitas pessoas estão adoecidas na busca desenfreada pela aparência. Algumas são capazes de mutilar seu próprio corpo, outras criam um mundo paralelo virtual minando sua própria essência e felicidade.

Assim, cultivemos a sinceridade em nossas relações, em nossos projetos de futuro. No exercício de nos colocar diariamente sob o olhar de Deus vamos enxergar quem somos, sem adereços, sem predicados. A felicidade está no encontro real com nós mesmos, sem maquiagem, sem disfarce. Aceitando nossas limitações e defeitos, buscando a superação não para agradar, mas para ser para si, diante de Deus, uma pessoa melhor.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior
Assessor Diocesano da Pastoral da Comunicação

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Carta às famílias

terça-feira, 28 de junho de 2022

Vivenciamos na última semana o clima abençoado do X Encontro Mundial das Famílias, promovido pelo Papa Francisco, com o tema "Amor em família - vocação e caminho de santidade", incentivando-nos a celebrar todos juntos, nas dioceses do mundo inteiro, como uma grande festa, a graça da família cristã e alegria do amor. Celebrar a família é confirmar o projeto do Criador em nossa sociedade, resgatando a bênção original do Gênesis, numa só carne, na geração e educação dos filhos, na promoção e defesa da vida, no compromisso, diálogo e partilha amorosa.

Vivenciamos na última semana o clima abençoado do X Encontro Mundial das Famílias, promovido pelo Papa Francisco, com o tema "Amor em família - vocação e caminho de santidade", incentivando-nos a celebrar todos juntos, nas dioceses do mundo inteiro, como uma grande festa, a graça da família cristã e alegria do amor. Celebrar a família é confirmar o projeto do Criador em nossa sociedade, resgatando a bênção original do Gênesis, numa só carne, na geração e educação dos filhos, na promoção e defesa da vida, no compromisso, diálogo e partilha amorosa.

Quero expressar, neste momento de perseverança e superação de tantos sofrimentos e perdas nas famílias,  a minha proximidade e gratidão a todos vocês que, no olhar da fé e em pé, atravessaram juntos conosco o deserto e  as dificuldades da longa pandemia (que ainda enfrentamos) e que tanto abalou nossas estruturas de vida familiar, espiritual, física, emocional, financeira e mental.

Quero agradecer também a todos que continuaram a buscar na Palavra de Deus, na Eucaristia, nos demais sacramentos e oração, o alimento da Graça para o prosseguimento da missão familiar, levando aos filhos e a outros  familiares o conforto do amor de Deus, continuando o serviço de evangelização e promoção da vida, com especial  atenção aos mais necessitados. Sabemos que a pandemia afetou duramente as famílias, em vários aspectos. Não faltaram iniciativas de solidariedade e comprometimento com a vida. Gratidão a todos e todas que se colocaram a serviço da vida, não obstante às situações adversas. A Igreja defende e promove a vida da concepção até o seu declínio natural.

Assim se expressa o Papa Francisco: “A defesa do inocente nascituro, deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada. Mas igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravidão e em todas as formas de descarte. Não podemos propor um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo” (Francisco, 2018, GE, n.101). Portanto, o Amor familiar, a defesa da vida e a caridade concreta são caminhos de santidade, de crescimento e de humanização. Quanto mais humano, mais santo e quanto mais santo, mais humano.

Gratidão pelo belo testemunho da família como Santuário da Vida e do Amor, como escola primeira das virtudes humanas e cristãs, como célula fundamental e alicerce da nossa Igreja e de toda a sociedade. Gratidão por  servirem a Cristo no rosto e na vida de cada irmão necessitado, dos irmãos cada vez mais empobrecidos do pão material, do pão da acolhida e da dignidade, da escuta e proximidade.

Renovamos o compromisso de formar, defender, preservar e nutrir nossas famílias com os valores e a verdade do Evangelho e da Moral cristã. Ao mesmo tempo, com a força e a luz da Verdade que é Cristo, rejeitamos toda mentira e mensagens falsas de manipulação e destruição da vida, da ética e da dignidade humana, dizendo não  a todo discurso de ódio, de divisão, de violência, de calúnia e difamação, de condenação, discriminação ou exclusão.  Como famílias cristãs queremos semear o amor, a misericórdia do Senhor, o bem querer e o respeito a todos os irmãos e irmãs, para um mundo mais humano e fraterno, mais justo e solidário, conforme o exemplo do Coração de Cristo. Assumimos, com toda empatia, sensibilidade e corresponsabilidade, as realidades mais sofridas das famílias e do nosso mundo, como irmãos de todos, para a promoção da igualdade, da paz, na superação dos problemas, conflitos e carências sociais e humanas.

Como Bispo Pastor, me uno a vocês e ao Papa, fortalecendo a nossa comunhão como Igreja, família de famílias, numa participação plena, consciente, ativa e frutuosa. Recebam a minha bênção episcopal e meu  sentimento de proximidade e apoio, pelas mãos de Maria Santíssima, por ocasião dos 60 anos de consagração da nossa diocese à Imaculada Conceição, e por intercessão também de nosso co-padroeiro São João Batista. Acendamos a fogueira do Amor na qual podemos queimar tudo o que não for expressão de amor e respeito.  Onde reina o Amor, Deus aí está! Gratidão queridas famílias! Sejamos instrumentos de paz: onde houver ódio, que levemos o amor. Que tudo contribua para a nossa santificação e crescimento humano. Com minha cordial saudação  e sincera gratidão por tudo, por tanto e por todos e todas. Unidos, caminhando juntos, na comunhão, participação e  missão.

Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, bispo diocesano de Nova Friburgo. Colaboração do Pe. Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça, assessor Diocesano da Pastoral Familiar.

 

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Pão em todas as mesas

terça-feira, 21 de junho de 2022

Estamos vivenciando o florescer do século 21, uma era marcada pelo desenvolvimento tecnológico e avanço da informação, na qual as relações interpessoais são cada vez mais complexas. Entretanto, ainda vivemos a realidade de milhões de indivíduos atingidos pelos flagelos da fome e da subnutrição ou pelas consequências da insegurança alimentar.

Estamos vivenciando o florescer do século 21, uma era marcada pelo desenvolvimento tecnológico e avanço da informação, na qual as relações interpessoais são cada vez mais complexas. Entretanto, ainda vivemos a realidade de milhões de indivíduos atingidos pelos flagelos da fome e da subnutrição ou pelas consequências da insegurança alimentar.

A multidão de famintos, constituída por crianças, mulheres, idosos, imigrantes, fugitivos e desempregados, permanece à margem desta evolução. Mesmo com toda a proximidade proporcionada pelas redes sociais, a humanidade parece cada vez mais distante do sentimento de responsabilidade, partilha e comprometimento.

O mundo inteiro vive um agravamento escandaloso das desigualdades sociais, com a difusão consequente de uma cultura que valoriza a competição e o individualismo. Portanto, embora no meio do povo sempre possamos descobrir belos exemplos de solidariedade fraterna, a sociedade, por seus segmentos dominantes, insensível à comunhão, caminha na direção oposta à da partilha do pão para todas as mesas.

Em 1979, o Papa João Paulo II afirmou que a amplitude do fenômeno da fome e da miséria colocava em questão as estruturas e os mecanismos financeiros, monetários, produtivos e comerciais, que, apoiando-se em diversas pressões políticas, regiam a economia mundial. E denunciou: que estas estruturas existentes “demonstram-se como que incapazes quer para reabsorver as situações sociais injustas, herdadas do passado, quer para fazer face aos desafios urgentes e às exigências éticas do presente. Submetendo o homem às tensões por ele mesmo criadas, dilapidando, com um ritmo acelerado, os recursos materiais e energéticos e comprometendo o ambiente geofísico, tais estruturas dão ensejo a que se estendam incessantemente as zonas de miséria e, junto com esta, a angústia, a frustração e a amargura” (Carta Encíclica Redemptor hominis, n. 16).

Avançar no caminho da indispensável transformação das estruturas da vida econômica requer uma verdadeira conversão das mentes, das vontades e dos corações. Esta mudança cultural exige a aplicação decidida de todos os homens e mulheres livres e solidários.

A fé da Igreja na Eucaristia, atenta ao mandato do Senhor: “fazeis isto para celebrar a minha memória”, ensina que o pão partilhado é a solução para o mundo. Somos chamados a entender que o ‘Pão da Vida’ move a Igreja a sair de si, das zonas de conforto, para alcançar as periferias existenciais.

O compromisso social da partilha, como proposta de vida, é da natureza mesma da Eucaristia. Se procurarmos ligar a fé com a vida concreta, temos de nos preocupar com que nossas celebrações eucarísticas se tornem atos de partilha e anúncio de uma comunhão que pode ser um modo novo da sociedade humana se organizar” (Texto-base XVIII Congresso Eucarístico Nacional).

Assim, com a força que emana da Eucaristia possamos chegar aonde chegaram os primeiros cristãos que “repartiam o pão com alegria e não havia necessitados entre eles”.

Foto da galeria

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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Santíssima Trindade

terça-feira, 14 de junho de 2022

Depois de celebrar as solenidades da Páscoa e Pentecostes, a Igreja Católica festejou no último domingo, 12, a Solenidade da Santíssima Trindade, o grande mistério da fé cristã. O Deus que é Uno e Trino, é glorificado por suas maravilhas em favor da humanidade.

Longe de poder compreender este grande mistério de amor, o crente percebe-se envolvido e inserido nos laços que unem a indivisível tríade: Pai, Filho e Espírito Santo. Todo aquele que professa a fé no Deus uno e trino reconhece que tudo provém do Pai, passa pelo Filho e se completa no Espírito Santo.

Depois de celebrar as solenidades da Páscoa e Pentecostes, a Igreja Católica festejou no último domingo, 12, a Solenidade da Santíssima Trindade, o grande mistério da fé cristã. O Deus que é Uno e Trino, é glorificado por suas maravilhas em favor da humanidade.

Longe de poder compreender este grande mistério de amor, o crente percebe-se envolvido e inserido nos laços que unem a indivisível tríade: Pai, Filho e Espírito Santo. Todo aquele que professa a fé no Deus uno e trino reconhece que tudo provém do Pai, passa pelo Filho e se completa no Espírito Santo.

Há de se esclarecer que não se trata de três deuses, mas um único Deus em três pessoas. Ao longo dos séculos o dogma trinitário foi se moldando no aprofundamento do conhecimento da Sagrada Escritura, na riqueza da Sagrada Tradição e na fidelidade do Sagrado Magistério.

Os esforços em purificar a fé das impurezas e imperfeições foram enormes. Muitos homens e mulheres escreveram os seus nomes na história da fé percorrendo os sinais revelados por Deus. A fé batismal teve suas raízes na experiência pascal das comunidades primitivas na pessoa de Jesus de Nazaré, que unido ao Pai e ao Espírito Santo, falava em nome de seu Pai, fez a sua vontade e morreu para a salvação da humanidade.

Não nos interessa aqui fazer um tratado teológico sobre o Mistério Trinitário, mas, na contemplação, buscar traduzir em atos o que professamos com as palavras. “O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. É, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que os ilumina” (Catecismo da Igreja Católica, 234).

Pelo Batismo, o cristão é inserido na comunhão divina de amor e nos tornamos responsáveis pela unidade de todo gênero humano, promovendo a reconciliação de todos os corações em Cristo, base da civilização do amor que todos queremos.

A perfeita união vivida no Deus uno e trino é fonte de inspiração da comunhão entre as pessoas. Toda forma de divisão e intolerância fere em sua essência a humanidade criada para o amor. A Palavra de Deus exorta: “Procurai a paz com todos e a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12,14) e “mantendo um bom entendimento uns com os outros” (Rm 12, 16). Quando não enxergamos o próximo como templo onde Deus habita, mas a partir de nossos próprios interesses, ferimos esta paz.

É sempre difícil conviver com as diferenças e, no entanto, este é nosso ambiente natural. Portanto, a paz com os vizinhos, com os amigos e, sobretudo, na família não é puramente resultado dos elementos convergentes de nossos ideais e comportamentos, mas do mútuo entendimento, da tolerância e do amor recíproco.

A paz só será uma realidade possível pela unidade. São Paulo nos ensina que, para sermos com Cristo um só corpo, é preciso jogar fora o velho fermento da maldade e da iniquidade, vivendo como pães ázimos da pureza e da verdade (cf. I Cor 5, 7-8).

Deste modo, compreendemos que a verdadeira paz tem sua raiz na comunhão da Trindade Divina. E que só é verdadeiramente pacífico quem se deixa vencer pela Verdade e vive a comunhão com Deus e com os irmãos na prática da justiça e da caridade.

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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Pentecostes

terça-feira, 07 de junho de 2022

No último domingo, 5, celebramos Pentecostes, solenidade que marca o encerramento do Tempo Pascal. Para a reflexão desta semana, extraímos alguns trechos da homilia pronunciada pelo Papa Francisco, comentando o Evangelho deste domingo, de modo especial a última frase: “O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, Esse é que vos ensinará tudo, e há de recordar-vos tudo o que Eu vos disse” (Jo 14, 26). Este “tudo”, explicou o Papa, pode ser expresso em três dinâmicas: no grande caminho da vida, o Espírito Santo nos ensina por onde começar, que caminhos seguir e como caminhar.

No último domingo, 5, celebramos Pentecostes, solenidade que marca o encerramento do Tempo Pascal. Para a reflexão desta semana, extraímos alguns trechos da homilia pronunciada pelo Papa Francisco, comentando o Evangelho deste domingo, de modo especial a última frase: “O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, Esse é que vos ensinará tudo, e há de recordar-vos tudo o que Eu vos disse” (Jo 14, 26). Este “tudo”, explicou o Papa, pode ser expresso em três dinâmicas: no grande caminho da vida, o Espírito Santo nos ensina por onde começar, que caminhos seguir e como caminhar.

O pontífice destacou que o ponto de partida é o amor, pois o Espírito nos lembra que, sem o amor na base, tudo o mais é vão. Ele é o “motor” da nossa vida espiritual, alimentando nossa memória positiva. Ele nos ensina a não extirpar as recordações de pessoas e situações que nos fizeram mal, mas deixá-las habitar pela sua presença. O Espírito cura as recordações, colocando em cima da lista aquilo que conta: a recordação do amor de Deus, o seu olhar pousado sobre nós.

Nas encruzilhadas da vida, o Espírito nos sugere o melhor caminho a seguir, mas para isso é importante saber discernir entre a voz Dele e a do espírito do mal. E nem sempre é a voz que queremos ouvir, pois exige esforço, luta interior e sacrifício.

Francisco afirmou ainda que, além de nos recordar o ponto de partida, o Espírito ensina-nos que caminhos seguir. O Espírito Santo ensina à Igreja o modo como caminhar. E este é sempre voltado para fora, para a abertura, para a necessidade vital de sair, a necessidade fisiológica de anunciar, de não ficar fechada em si mesma.

“Ensina a não ser um rebanho que reforça o recinto, mas uma pastagem aberta, para que todos possam alimentar-se da beleza de Deus; ensina a ser uma casa acolhedora, sem divisórias”, afirmou o Papa.

É o Espírito Santo quem rejuvenesce a Igreja, não nós. “Porque a Igreja não se programa, e os projetos de modernização não bastam”, comentou o Papa. O Espírito nos convida a percorrer caminhos antigos e sempre novos, ou seja, “os do testemunho, da pobreza, da missão, para libertar-nos de nós mesmos e enviar-nos ao mundo”. Paradoxalmente, o Espírito é autor da divisão no sentido de promover os carismas. "Ele faz a divisão com os carismas e faz a harmonia com toda esta divisão. Esta é a riqueza da Igreja".

Eis então a exortação final de Francisco: “Irmãos e irmãs, vamos à escola do Espírito Santo, para que nos ensine tudo. Invoquemo-lo todos os dias, para que nos lembre de começar sempre do olhar de Deus pousado sobre nós, mover-nos nas nossas escolhas escutando a sua voz, caminhar juntos, como Igreja, dóceis a Ele e abertos ao mundo”.

Fonte: Vatican News - Homilia do Papa Francisco, 5 de junho de 2022 - Solenidade de Pentecostes

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Maria na história da nossa salvação - Segunda parte

terça-feira, 31 de maio de 2022

Prosseguindo com nossa reflexão, trazemos a segunda parte do artigo ‘Maria na história da nossa salvação’. Como afirmou Santo Agostinho, Maria concebeu o Verbo primeiro no coração e só depois no ventre.

Prosseguindo com nossa reflexão, trazemos a segunda parte do artigo ‘Maria na história da nossa salvação’. Como afirmou Santo Agostinho, Maria concebeu o Verbo primeiro no coração e só depois no ventre. E na expressão de Santo Irineu e São Justino, padres também da Igreja, ela se tornou a "Nova Eva", como mãe de uma nova humanidade na ordem da graça, substituindo o não dado por Eva, pelo seu sim obediente e humilde, desatando os nós da desobediência original, como Cristo se tornara o "novo Adão", superando o não do primeiro homem e restaurando e redimindo a humanidade, numa nova aliança, pelo seu fiat, no sacrifício da cruz: "Pai, se for possível, afasta de mim este cálice, mas não se faça a minha vontade, mas a tua!"(Mt 26,39). É a nova criação, na redenção, que se inicia como a primeira, com o "faça-se" de adesão natural, docilidade e palavra-acontecimento (dabah): "Faça-se a luz!".

Mas esta adesão e aceitação disponível à vontade do Senhor não retira da mulher histórica, peregrina e lutadora da fé, os desafios concretos do cotidiano. Coerente com a sua resposta e seu Magnificat, Maria se faz verdadeiramente serva, pondo os pés na estrada para servir a Isabel, sua parenta, vivenciando a missão da caridade fraterna, sabedora de sua vocação de Mãe do Messias. "O Senhor olhou para a pequenez de sua serva e fez em mim maravilhas"." Por isso, todas as gerações me chamarão bem-aventurada". E ouviu o testemunho do Espírito Santo que falou pela boca de Isabel (Lc 1,42): "Bendita és tu entre todas as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Donde a mim a honra de me visitar a mãe do meu Senhor?”.

Viveu a vida simples e despojada de Nazaré, junto ao bom, santo e justo José, na pobreza e dificuldade do nascimento do filho de Deus, na acolhida da profecia da dor sobre o menino como sinal de contradição e sobre a espada da dor que transpassaria seu coração (Lc 2,34-35). Na defesa e proteção da criança, fugindo para o Egito. No trabalho de cada dia, dedicando-se à educação e sustento do filho Jesus, na aflição de sua perda e encontro no templo, entendendo passo a passo a missão concreta e histórica do Messias, guardando e meditando todo o imenso mistério no silêncio do seu coração (cf Lc 2, 41-51).

A mesma Mãe solícita, desde pequena, fiel e ouvinte da Palavra, acompanha o filho, elogiada por Ele, mais pela sua maternidade discipular do que pela honra frisada por alguns sobre sua maternidade física (cf Lc 11,27). Por isso, aparece significativamente na vida pública de Jesus, desde o início, nas núpcias de Caná, intercedendo como Mãe da misericórdia e solidariedade pelos noivos em dificuldade, antecipando os sinais messiânicos de seu filho, unido profundamente a ela pelo Amor libertador e promotor dos homens: "Fazei tudo que ele vos disser", disse a Mãe medianeira e missionária (cf Jo 2, 1-11).

Assim O acompanhou como mulher toda entregue à obra misteriosa de Deus, "avançou na peregrinação da fé" (Lumen Gentium, cap. VIII, 58), forte e confiante, até a cruz (Jo 19,25), associando-se ao sacrifício do seu filho, sentindo com a lança que o atravessava, a profética espada em sua alma. Do alto mesmo do madeiro é dada pelo Redentor como mãe do discípulo-apóstolo, como Mãe da Igreja apostólica (Jo 19, 26-27). Torna-se "Mãe do Cristo total, cabeça e membros", como afirmava Santo Agostinho.

E desta forma estava Maria, a mãe de Jesus, perseverando com os apóstolos, com as mulheres e familiares, unanimemente em oração, para receber o Espírito Santo prometido por Jesus (At 1,14). É a Mãe no Pentecostes impulsionador missionário da Igreja, testemunha de Cristo Ressuscitado. "Finalmente, a Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste" (Lumen Gentium, cap. VIII, 59), unindo-se plenamente ao seu filho, como intercessora no mesmo amor de Nazaré e de Caná, na comunhão solidária aos filhos peregrinos, como medianeira, como Mãe e modelo dos discípulos missionários, na mediação subordinada à única mediação redentora de Jesus. 

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo

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