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Cristo Rei

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

A quem proclamamos como nosso Rei? Nosso Rei é o Cordeiro imolado, Jesus Cristo, que se fez homem por nós, por nós anunciou e tornou presente o Reino do Pai e, para nos dar esse Reino de modo definitivo, por nós entregou-se na Cruz, morreu e ressuscitou.  Neste sentido, o Reinado de Cristo somente pode ser entendido a partir da lógica do próprio Cristo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Eis a maneira como Jesus Cristo reina: servindo, dando a própria vida.

A quem proclamamos como nosso Rei? Nosso Rei é o Cordeiro imolado, Jesus Cristo, que se fez homem por nós, por nós anunciou e tornou presente o Reino do Pai e, para nos dar esse Reino de modo definitivo, por nós entregou-se na Cruz, morreu e ressuscitou.  Neste sentido, o Reinado de Cristo somente pode ser entendido a partir da lógica do próprio Cristo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Eis a maneira como Jesus Cristo reina: servindo, dando a própria vida. Jesus é Rei porque se fez solidário conosco ao fazer-se um de nós, é Rei porque tomou sobre si o peso dos nossos pecados, é Rei porque passou entre nós servindo até entregar-Se totalmente por nós na cruz.

Refletindo sobre o servir, que é próprio da missão de Cristo e, também, ação dos seus discípulos, no último domingo, 20, na Solenidade de Cristo Rei do Universo, celebramos o dia dedicado aos leigos e às leigas, que são chamados, pelo batismo, a implantarem o Reinado de Deus no mundo por seu testemunho de vida, sendo fermento, sal e luz.

A Sagrada Escritura nos apresenta Davi ungido e reconhecido como rei por todas as tribos de Israel. Destaca-se na figura do Rei de Israel dois aspectos: primeiro: ser rei é apascentar, guiar, cuidar e zelar; segundo: o Senhor afirma que o povo é Seu, é de Deus, não de Davi. Portanto, o rei não é dono nem senhor do povo, mas apenas um servo do Senhor que tem a missão de conduzir o povo pelo caminho da Aliança com o Senhor.

São Paulo escrevendo aos Colossenses resume em três pontos a obra salvadora de Deus em Cristo: 1. Deus nos fez participar gratuitamente da herança que havia preparado para seu povo santo; 2. Ele nos tirou do domínio das trevas e nos recebeu no Reino de seu Filho; 3. Ele nos concedeu o perdão pela Cruz de Cristo.

Já no Evangelho temos Jesus pregado na cruz, sendo causa de zombaria de muitos. São Lucas escreve que, acima dele havia um letreiro: “Esse é o Rei dos judeus”. Ao lado de Jesus, encontra-se o bom ladrão que a tradição identifica como São Dimas. Ele está ali presenciando e testemunhando todos os acontecimentos. Na verdade, junto a Jesus estavam dois malfeitores, um se converte e se salva, pois soube aproveitar aquela oportunidade, a companhia de Jesus, o outro, não.

O mau ladrão estava junto de Jesus na cruz, no entanto, não soube aproveitar este momento. O bom ladrão, ao contrário, reconhece a sua inocência e faz uma alusão à sua realeza ao dirigir a Ele estas palavras: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado” (v. 42). Ele faz isto em um espírito de fé e obtém de Cristo uma resposta: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. (v. 43)

Queridos irmãos e irmãs, somente o bom ladrão atinge o mistério profundo de Jesus. Precisamente um bandido é o único que entende algo do que está acontecendo. Ele reprova a atitude do companheiro, e reconhece que Cristo foi condenado injustamente, para finalmente lhe suplicar com humildade: “Jesus, lembra-te de mim quando chegares em teu reino” (v. 42) E, Jesus que até então estava calado e não havia respondido aos que zombavam dele, abriu os lábios para falar ao bom ladrão: “Em verdade vos digo: hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (v. 43). Assim foi ele o primeiro beneficiário da salvação trazida ao homem pela cruz de Cristo.

De fato, se o coração não arde de amor por Cristo e seu chamado, os pés não andam; caímos na inércia espiritual. Acabamos por não corresponder ao Amor. Essa não correspondência acaba por não gerar felicidade, pois só é feliz aquele que vive a sua vocação. Onde há muito apego não há atenção ao apelo de Cristo. É ele quem chama e envia os que Ele quer. Desde o nosso batismo temos de nos perceber escolhidos e enviados. Escolhidos por Cristo em seu amor e enviados para sermos bons operários da vinha, transformando realidades, levando a verdade do Evangelho, construindo pontes e atraindo mais corações para bem perto do Sagrado Coração.

Padre Raphael Costa dos Santos é vice-reitor do Seminário Diocesano Imaculada Conceição

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Comunicar o Reino de Deus!

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Bendito seja o nome do Senhor hoje e sempre, em todos os momentos e passos de nossas vidas

Comunicar o Reino é sempre estar primeiro em comunhão com o Senhor, o Deus da vida e do amor, beber de Sua graça e deixar-se iluminar por Ele que nos capacita para a missão. Este Seu Plano ultrapassa qualquer horizonte de ilusão, desequilíbrio e injustiça deste mundo. Ao contrário, é a semeadura da fraternidade, da justiça, da solidariedade e da paz nesta realidade terrestre, unindo todos os irmãos na verdade e na caridade.

Bendito seja o nome do Senhor hoje e sempre, em todos os momentos e passos de nossas vidas

Comunicar o Reino é sempre estar primeiro em comunhão com o Senhor, o Deus da vida e do amor, beber de Sua graça e deixar-se iluminar por Ele que nos capacita para a missão. Este Seu Plano ultrapassa qualquer horizonte de ilusão, desequilíbrio e injustiça deste mundo. Ao contrário, é a semeadura da fraternidade, da justiça, da solidariedade e da paz nesta realidade terrestre, unindo todos os irmãos na verdade e na caridade.

A comunicação pastoral sempre foi um valiosíssimo meio usado pela Igreja para estender a todos os povos, a todas as pessoas a Boa Nova de Jesus Cristo - a misericórdia redentora do Pai, no sacrifício da cruz do Filho, gesto maior de doação de amor para nos resgatar, elevar, curar, na salvação-libertação do pecado, da maldade e de todo egoísmo destruidor, no transbordamento de Sua fortaleza e sabedoria no Espírito Santo, na unção da Comunidade Eclesial.

Foi o que o Papa Francisco pediu na Plenária do Dicastério de Comunicação do Vaticano, no último dia 12: uma comunicação humana que transmita os valores cristãos, não puramente técnica. Que haja por detrás da competência técnica um coração humano que seja sensível ao retorno do que foi comunicado, a realidade do outro.

Neste sentido, o Pontífice celebrou no último domingo, 13, o Dia Mundial dos Pobres que ele mesmo instituiu para ressaltar a importância de se resgatar a dignidade destes irmãos, amando-os verdadeiramente, com gestos concretos, na luta pacífica pela justiça do Reino, incentivando várias iniciativas pelo mundo de solidariedade, amor fraterno e desenvolvimento de ações criativas para erradicar a pobreza e a miséria.

O próprio Papa tem realizado várias obras de caridade social no Vaticano, em Roma, como ambulatórios, assistência médica, de higiene, de acolhida em albergues, de formação profissional, de evangelização e promoção humana, além de todas as contribuições da Igreja com a Cáritas e outros órgãos ligados ao Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e outros organismos eclesiais, com fundos que apoiam e ajudam as necessidades de populações de vários países.

Muito significativo que este domingo do Cristo Pobre anteceda o domingo de Cristo Rei, que será celebrado neste dia 20, dimensionando que tipo de Reino Cristo veio instaurar: Reino de Amor fraterno, de humildade que serve o próximo, de justiça e paz. Não um reino humano de pompas ou luxo, de tronos e afirmação de superioridade, de privilégios e sofisticações, de soberba e vaidades. Este é o reino dos homens pecadores.

O Rei Jesus só teve e aceitou uma coroa, a de espinhos. Só teve um trono, a cruz sobre a qual libertou todos nós de nosso próprio egoísmo. Só teve um cetro, o seu cajado de Bom Pastor que percorreu todas as estradas e recantos da miséria humana para resgatar as ovelhas mais doentes e mais perdidas. Sua carruagem? Um jumentinho emprestado para entrar em Jerusalém, quando não andava a pé com os seus discípulos. Seu templo suntuoso e refinado? Uma sala de jantar também emprestada para celebrar com os apóstolos a Ceia Pascal, antes de abraçar a Paixão, quando se doou na Eucaristia, para nos alimentar espiritualmente, fortalecendo-nos como sua Igreja, mantendo sua presença entre nós para sempre. Sua corte capacitada e honrada? A multidão de Lázaros, coxos, cegos, paralíticos, doentes, marginalizados, prostituídos, pecadores públicos, perdidos, abandonados, profundamente amados por Ele, sem nenhum distanciamento ou formalidade. 

Portanto, celebrar o Cristo Rei é celebrar o Cristo Pobre, despojado de si mesmo, na espiritualidade da caridade, da humildade, da missão que Ele nos deu como Igreja de amar os irmãos do mesmo jeito: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 13,34). "São os doentes que precisam de médico" (Mc 2,17). "Não há maior amor do que dar a vida pelo irmão" (Jo 15,13).

"Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus" (Mt 5,3). Ou seja, a espiritualidade missionária da kénosis (esvaziamento de si) para servir e do ágape (amor gratuito, doação) para resgatar e elevar os irmãos, especialmente os mais necessitados. Vivamos esta bela e rica missão!

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo

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Seja feita a tua vontade

segunda-feira, 07 de novembro de 2022

A dinâmica da revelação divina está ancorada na bondade e sabedoria de Deus que quis tornar conhecido à humanidade os planos de sua vontade. Em Cristo, Ele revela o mais profundo do seu querer: “que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4). Contudo, nem sempre é fácil entender os caminhos que conduzirão à plena realização da vontade divina.

A dinâmica da revelação divina está ancorada na bondade e sabedoria de Deus que quis tornar conhecido à humanidade os planos de sua vontade. Em Cristo, Ele revela o mais profundo do seu querer: “que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4). Contudo, nem sempre é fácil entender os caminhos que conduzirão à plena realização da vontade divina.

Jesus, ao ensinar a seus discípulos como rezar, inclui, entre as sete preces do ‘Pai nosso’, o desejo que a vontade do Pai se realize tanto no céu, quanto na terra. E aqui está a “revolução copernicana” do cristianismo, isto é, a mudança de direção na compreensão da eficácia da oração.

O ato de dirigir a Deus os nossos pedidos é fruto de uma confiança certa naquele que pode fazer o impossível. Ainda assim, essa certa confiança é, por vezes, provada na tribulação de não se ver o resultado de nosso pedido concretizado, levando-nos a crer que não fomos ouvidos.

O Papa Francisco ensina que “as provações da vida se transformam em ocasiões para crescer na fé e na caridade. O caminho diário, incluindo as dificuldades, adquire a perspectiva de uma ‘vocação’. A oração tem o poder de transformar em bem o que de outra forma seria uma condenação na vida; a oração tem o poder de abrir um grande horizonte para a mente e de alargar o coração” (Audiência geral, 04 nov. 2020).

A oração fiel e confiante não tem a intenção de mudar o coração de Deus à nossa mera vontade, mas o seu primeiro fruto é a transformação do coração que reza. O Pontífice ressalta que o “seja feita a vossa vontade” não é realizado no dobrar a cabeça servilmente, como se fôssemos escravos. Deus reserva e preserva ao homem a liberdade.

O “Pai Nosso”, de fato, é a oração dos filhos, não dos escravos; mas dos filhos que conhecem o coração do seu pai e estão certos do seu desígnio de amor. Ai de nós se, pronunciando essas palavras, levantássemos os ombros em sinal de rendição diante de um destino que não podemos mudar. Ao contrário, é uma oração cheia de confiança ardente em Deus, que quer para nós o bem, a vida, a salvação. Uma oração corajosa, também combativa, porque no mundo há tantas realidades que não são segundo o plano de Deus. Todos as conhecemos” (Audiência geral, 20 mar. 2019).

E continua: “O “Pai Nosso” é uma oração que acende em nós o mesmo amor de Jesus pela vontade do Pai, uma chama que leva a transformar o mundo com o amor. O cristão não acredita em um “fato” inelutável. Não há nada de aleatório na fé dos cristãos: há, em vez disso, uma salvação que espera manifestar-se na vida de cada homem e mulher e de realizar-se na eternidade. Se rezamos é porque acreditamos que Deus pode e quer transformar a realidade vencendo o mal com o bem. A este Deus tem sentido obedecer e abandonar-se também na hora da prova mais difícil (idem).

Assim, o ato de confiar a Deus os desejos de nossa alma é também um exercício de fé que nos conduz na certeza de que Ele nos dará, no tempo certo, o que é justo e necessário para que a vontade suprema de Deus se realize em nós!

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

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A esperança certa

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A morte sempre inquietou a humanidade. O desejo de imortalidade e a dura realidade da morte sempre geraram no homem medo e tristeza. Muitas teorias foram criadas e vividas ao longo dos séculos.

Diante de tanta incerteza, a realidade da finitude faz nosso coração estremecer, e ainda que a ciência médica faça crescer a longevidade biológica, ela nunca poderá apagar o anseio de eternidade inscrito no coração do homem (Cfr. GS 18). Somente na unidade plena com Cristo poderemos saciar nossa sede do eterno.

A morte sempre inquietou a humanidade. O desejo de imortalidade e a dura realidade da morte sempre geraram no homem medo e tristeza. Muitas teorias foram criadas e vividas ao longo dos séculos.

Diante de tanta incerteza, a realidade da finitude faz nosso coração estremecer, e ainda que a ciência médica faça crescer a longevidade biológica, ela nunca poderá apagar o anseio de eternidade inscrito no coração do homem (Cfr. GS 18). Somente na unidade plena com Cristo poderemos saciar nossa sede do eterno.

O modo de ver e pensar a morte no cristianismo renova a esperança e anima a construção de um mundo de paz e verdade. São Francisco de Assis mergulhado nesta certeza chama a Morte de irmã, pois ela abre as portas para a felicidade eterna.

A fé da Igreja vivida em sua liturgia nos insere na realidade profunda de nossa esperança. A celebração do Dia de Finados aponta para uma realidade que supera a concepção intramundana que temos da morte. Cremos que a morte é um sono do qual somos despertados pelo próprio Senhor. A dor que sentimos ante esta realidade converte-se em esperança quando é posta à luz da ressurreição de Cristo. Para nós cristãos “a vida não é tirada, mas transformada e, enquanto é destruída a morada deste exílio terreno, é preparada uma habitação eterna no céu” (Prefácio dos fiéis defuntos).

O Papa Francisco, ao refletir sobre o tema da esperança cristã, destaca que toda a humanidade irá passar pelos umbrais da morte, e isso não deve nos desesperar, pois em Cristo temos a certeza de que a vida ressurgirá. “Todos nós trilharemos esta vereda. Mais cedo ou mais tarde, mas todos! Com dor, mais ou menos dor, mas todos! No entanto, com a flor da esperança, com aquele fio forte que está ancorado no além. Eis a âncora que não desengana: a esperança da ressurreição. E quem percorreu primeiro este caminho foi Jesus. Nós trilhamos a vereda que Ele já percorreu. E quem nos abriu a porta foi Ele mesmo, Jesus: com a sua Cruz, abriu-nos a porta da esperança, descerrou-nos a porta para entrar no lugar onde contemplaremos Deus” (Homilia, 2 nov. 2016).

E a nós, que nesta vida caminhamos em direção à Jerusalém celeste, cabe lembrar as palavras do Concílio Vaticano II: “Entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, avança, peregrina, a Igreja, anunciando a cruz e a morte do Senhor, até que ele venha. Mas é fortalecida pela força do Senhor ressuscitado, a fim de vencer, pela paciência e pela caridade, suas aflições e dificuldades, tanto internas quando externas, para poder revelar ao mundo o mistério d’Ele, embora entre sombras, porém com fidelidade, até que no fim seja manifestado em plena luz” (Lumen Gentium,8).

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

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O fariseu e o publicano

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

No último domingo, 23, o Papa Francisco refletiu sobre a parábola do fariseu e o publicano. Acompanhemos sua mensagem: “Esta parábola que tem dois protagonistas, um fariseu e um publicano (cf. Lc 18, 9-14), ou seja, um homem religioso e um pecador confesso. Ambos sobem ao templo para rezar, mas só o publicano se eleva verdadeiramente a Deus, porque humildemente desce à verdade de si mesmo e se apresenta como é, sem máscaras, com a sua pobreza. Poderíamos então dizer que a parábola se situa entre dois movimentos, expressos por dois verbos: subir e descer.

No último domingo, 23, o Papa Francisco refletiu sobre a parábola do fariseu e o publicano. Acompanhemos sua mensagem: “Esta parábola que tem dois protagonistas, um fariseu e um publicano (cf. Lc 18, 9-14), ou seja, um homem religioso e um pecador confesso. Ambos sobem ao templo para rezar, mas só o publicano se eleva verdadeiramente a Deus, porque humildemente desce à verdade de si mesmo e se apresenta como é, sem máscaras, com a sua pobreza. Poderíamos então dizer que a parábola se situa entre dois movimentos, expressos por dois verbos: subir e descer.

O primeiro movimento é subir. Na verdade, o texto começa dizendo: ‘Dois homens subiram ao templo para rezar’ (v. 10). Este aspecto recorda muitos episódios da Bíblia, nos quais para encontrar o Senhor se sobe à montanha da sua presença: Abraão sobe a montanha para oferecer o sacrifício; Moisés sobe ao Sinai para receber os mandamentos; Jesus sobe à montanha, onde é transfigurado. Portanto, subir exprime a necessidade do coração de se desligar de uma vida monótona para ir ao encontro do Senhor; de se erguer das planícies do nosso ego para ascender até Deus - livrar-se do próprio eu; de recolher o que vivemos no vale para o levar perante o Senhor. Isto é “subir”, e quando rezamos, ascendemos.

Mas para vivermos o encontro com Ele e sermos transformados pela oração, para nos elevarmos a Deus, precisamos do segundo movimento: descer. Por quê? O que significa isto? Para ascender até Ele devemos descer dentro de nós: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre as nossas fragilidades e as nossas pobrezas interiores. Com efeito, na humildade tornamo-nos capazes de levar a Deus, sem fingimento, o que realmente somos, as limitações e feridas, os pecados, as misérias que pesam sobre o nosso coração, e de invocar a sua misericórdia para que nos cure, nos sare, nos levante. É Ele quem nos ergue, não nós. Quanto mais descermos com humildade, mais Deus nos elevará.

De fato, o publicano na parábola para humildemente à distância (cf. v. 13); não se aproxima, envergonha-se, pede perdão, e o Senhor eleva-o. Ao contrário, o fariseu exalta-se, seguro de si, convencido de que está bem: ali parado, começa a falar apenas de si mesmo ao Senhor, elogiando-se, enumerando todas as boas obras religiosas que pratica, e despreza os outros: “Não sou como aquele ali...”. Porque a soberba espiritual isso faz [...]. Esta é a soberba espiritual: “Estou bem, sou melhor que os outros: isto é a tal coisa, aquele é a outra…”. E assim, sem nos darmos conta, adoramos o nosso eu e cancelamos o nosso Deus. É rodar em volta de si mesmo. É a oração sem humildade.

Irmãos e irmãs, o fariseu e o publicano dizem-nos respeito de perto. Pensando neles, olhemos para nós mesmos: verifiquemos se em nós, como no fariseu, existe ‘a íntima presunção de ser justo’ (v. 9) que nos leva a desprezar os outros. Acontece, por exemplo, quando procuramos elogios e enumeramos sempre os nossos méritos e boas obras, quando nos preocupamos em aparecer em vez de ser, quando nos deixamos apanhar pelo narcisismo e pelo exibicionismo. Vigiemos sobre o narcisismo e o exibicionismo, fundados na vanglória, que também nos leva a nós cristãos, nós sacerdotes, nós bispos a ter sempre uma palavra nos lábios, qual palavra? ‘Eu’ [...]. Assim, faz com que caias até no ridículo.

Peçamos a intercessão de Maria Santíssima, a humilde serva do Senhor, imagem viva do que o Senhor gosta de realizar, derrubando os poderosos dos tronos e elevando os humildes (cf. Lc 1, 52).”

Fonte: www.vatican.va

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Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Com a proximidade do Dia Mundial das Missões, celebrado no próximo domingo, 23, trouxemos para nossa reflexão semanal as palavras do Papa Francisco para esta ocasião. Ao refletir sobre o tema proposto para este ano, “Sereis minhas testemunhas”, o pontífice destaca que faz parte da missão de todos os batizados a responsabilidade de testemunhar Cristo.

Com a proximidade do Dia Mundial das Missões, celebrado no próximo domingo, 23, trouxemos para nossa reflexão semanal as palavras do Papa Francisco para esta ocasião. Ao refletir sobre o tema proposto para este ano, “Sereis minhas testemunhas”, o pontífice destaca que faz parte da missão de todos os batizados a responsabilidade de testemunhar Cristo.

“Uma releitura de conjunto mais aprofundada esclarece-nos alguns aspectos sempre atuais da missão confiada por Cristo aos discípulos: Sereis minhas testemunhas. A forma plural destaca o caráter comunitário-eclesial da chamada missionária dos discípulos. Todo o batizado é chamado à missão na Igreja e por mandato da Igreja: por isso a missão realiza-se em conjunto, não individualmente: em comunhão com a comunidade eclesial e não por iniciativa própria. E ainda que alguém, numa situação muito particular, leve avante a missão evangelizadora sozinho, realiza-a e deve realizá-la sempre em comunhão com a Igreja que o enviou”. E reforça: “Não foi por acaso que o Senhor Jesus mandou os seus discípulos em missão dois a dois; o testemunho prestado pelos cristãos a Cristo tem caráter sobretudo comunitário”.

Outro ponto que Francisco destaca é missão como algo inerente à vida do cristão. “[Os discípulos] são enviados por Jesus ao mundo não só para fazer a missão, mas também e sobretudo para viver a missão que lhes foi confiada; não só para dar testemunho, mas também e sobretudo para ser testemunhas de Cristo. Os missionários de Cristo não são enviados para comunicar-se a si mesmos, mostrar as suas qualidades e capacidades persuasivas ou os seus dotes de gestão. Em vez disso, têm a honra sublime de oferecer Cristo, por palavras e ações, anunciando a todos a Boa Nova da sua salvação com alegria e ousadia, como os primeiros apóstolos”.

“Por isso, na evangelização, caminham juntos o exemplo de vida cristã e o anúncio de Cristo. Um serve ao outro. São os dois pulmões com que deve respirar cada comunidade para ser missionária. Este testemunho completo, coerente e jubiloso de Cristo será seguramente a força de atração para o crescimento da Igreja também no terceiro milênio”. 

Continuando a reflexão o papa destaca o caráter universal da missão dos discípulos, relembrando e incentivando o trabalho missionário de tantos homens e mulheres que ainda hoje são perseguidos por anunciar a palavra da verdade.

“A Igreja de Cristo sempre esteve, está e estará ‘em saída’ rumo aos novos horizontes geográficos, sociais, existenciais, rumo aos lugares e situações humanos ‘de confim’, para dar testemunho de Cristo e do seu amor a todos os homens e mulheres de cada povo, cultura e estado social. Neste sentido, a missão será sempre também missio ad gentes, porque a Igreja terá sempre de ir mais longe, mais além das próprias fronteiras, para testemunhar a todos o amor de Cristo”.

Por fim, o pontífice anima aos que assumem seu lugar na evangelização lembrando que toda ação evangelizadora é animada e sustentada pelo Espírito Santo. “Ao anunciar aos discípulos a missão de serem suas testemunhas, Cristo ressuscitado prometeu também a graça para uma tão grande responsabilidade: Recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas (At 1, 8). Assim começa a era da evangelização do mundo por parte dos discípulos de Jesus, que antes apareciam fracos, medrosos, fechados. O Espírito Santo fortaleceu-os, deu-lhes coragem e sabedoria para testemunhar Cristo diante de todos”.

“Assim, o Espírito é o verdadeiro protagonista da missão: é Ele que dá a palavra certa no momento justo e sob a devida forma. O mesmo Espírito, que guia a Igreja universal, inspira também homens e mulheres simples para missões extraordinárias”.

Fonte: www.vatican.va

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O milagre brasileiro

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Nesta quarta-feira, 12, o povo brasileiro celebrará o dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, consagrada Rainha e Padroeira do Brasil. Este dia tem sua importância e dignidade reconhecidas com a declaração do feriado nacional, desde 1980.

Nesta quarta-feira, 12, o povo brasileiro celebrará o dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, consagrada Rainha e Padroeira do Brasil. Este dia tem sua importância e dignidade reconhecidas com a declaração do feriado nacional, desde 1980.

Hoje o que se tornou o maior ato de devoção na Terra de Santa Cruz, teve seu início na resposta de Deus ao apelo de seu povo. Na segunda quinzena de outubro, três pobres e simples pescadores, no desejo de pescar e diante da pesca frustrada clamaram a Deus, pedindo ajuda. Naquela que seria a última tentativa de lançar as redes, a resposta às preces apareceu enrolada nas redes. O pequenino corpo, ainda incompleto, de uma imagem que fazia lembrar as figuras de Nossa Senhora da Conceição, renovou as esperanças daqueles três homens e depois de toda uma nação.

Ao longo destes mais de três séculos, a representação da Mãe de Todas as Raças continua sinalizando a intercessão de Nossa Senhora por nosso povo brasileiro. Assim como este sofrido povo, a pequenina imagem também foi alvo de perseguição dos poderosos e sofreu a ação de corações raivosos.

É de se fazer notar a permanente atitude orante da Virgem Aparecida. As mãos postas marcam sua intercessão que eleva aos céus o grito de dor deste povo; seu olhar sempre fixo em seus filhos, que a todo instante recorrem ao seu amor insondável de mãe, faz-nos lembrar sua presença em nossas lidas.

Esta proximidade mariana move-nos à proximidade com Cristo. O Papa João Paulo II, hoje declarado santo, ressaltou na missa de dedicação da Basílica à Senhora de Aparecida que assim como a Virgem Santíssima, Mãe de Deus e da Igreja, é presença singular na arquitetura daquele templo, o é também no seio da vida da Igreja.

“Qual é a missão da Igreja senão a de fazer nascer o Cristo no coração dos fiéis, pela ação do mesmo Espírito Santo, através da evangelização? Assim, a “Estrela da Evangelização” aponta e ilumina os caminhos do anúncio do Evangelho. Este anúncio de Cristo Redentor, de sua mensagem de Salvação, não pode ser reduzido a um mero projeto humano de bem-estar e felicidade temporal. Tem certamente incidências na história humana coletiva e individual, mas é fundamentalmente um anúncio de libertação do pecado para a comunhão com Deus, em Jesus Cristo. De resto, esta comunhão com Deus não prescinde de uma comunhão dos homens uns com os outros, pois os que se convertem a Cristo, autor da Salvação e princípio de unidade, são chamados a congregar-se em Igreja, sacramento visível desta unidade salvífica” (Homilia, 04 jul. 1980).

Assim, olhando para o exemplo da grande Mãe de Deus, o cristão é chamado, como discípulo, a ser presença de Cristo neste mundo. Desejemos do fundo do coração nos unir a Maria, impelidos por uma profunda necessidade da fé, da esperança e da caridade na construção de um mundo mais justo e fraterno.

Que Nossa Senhora Aparecida continue protegendo com suas mãos maternas este nosso povo brasileiro, que na confiança inabalável em seu Deus, continuará a escrever sua história, que jamais prescindirá da presença amorosa da Mãe de Jesus e nossa!

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior, assessor diocesano da Pastoral da Comunicação 

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A missão da Igreja nos documentos do magistério eclesial

segunda-feira, 03 de outubro de 2022

No início deste mês de outubro, tempo que a Igreja Católica dedica às missões, queremos de forma sintética oferecer um roteiro para o estudo e aplicação desta importante tarefa, mandato de Cristo e exigência do seu Amor salvador e solidário. Uma visão global atual evidencia a urgência de propor para toda a Igreja em estado de missão, como já anunciava o cardeal João Batista Montini, antes de ser elevado ao pontificado como Papa Paulo VI, prefaciando o livro de um outro grande profeta, D.Leo-Jozef Suenens, de título "Novos Rumos da Igreja Missionária"( 1956).

No início deste mês de outubro, tempo que a Igreja Católica dedica às missões, queremos de forma sintética oferecer um roteiro para o estudo e aplicação desta importante tarefa, mandato de Cristo e exigência do seu Amor salvador e solidário. Uma visão global atual evidencia a urgência de propor para toda a Igreja em estado de missão, como já anunciava o cardeal João Batista Montini, antes de ser elevado ao pontificado como Papa Paulo VI, prefaciando o livro de um outro grande profeta, D.Leo-Jozef Suenens, de título "Novos Rumos da Igreja Missionária"( 1956). Da mesma forma, o Código de Direito Canônico de 1983, reafirmando o Decreto Ad Gentes do Concílio Vaticano II (AG  2,5 e 6), diz que toda Igreja é, por sua natureza, missionária e, por isso, todos os fiéis cristãos (hierarquia, religiosos e leigos) devem assumir a obra missionária, sob a direção suprema do Sumo Pontífice do Colégio dos Bispos, salientando-se a solicitude especial de cada bispo (cf cânones 781 e 782 ,1 e 2).

Neste sentido insistiram os grandes apóstolos da missão, S. Paulo VI e S. João Paulo II, respectivamente com a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi,1975 e a Carta Encíclica Redemptoris Missio, 1990, de forma especial trabalhando o tema da evangelização e da missão frente aos desafios do mundo contemporâneo descristianizado (EN 14,15 e capítulo V e VI), na convocação a um renovado empenho missionário, com novos métodos com a encarnação do Evangelho na cultura dos povos, diante dos imensos horizontes da missão ad gentes, nestes novos areópagos modernos, tendo o Espírito Santo como protagonista, com a comunhão e cooperação de todos os agentes e responsáveis pela atividade missionária (RMi 2; 21-30; 31-38; capítulo VI e VII).

Na mesma esteira vão os ensinamentos dos papas Bento XVI, baseando a missão na redescoberta do caminho da fé, na comunhão com o Deus-Amor, Palavra e Eucaristia e no "testemunho da caridade"- a Nova Evangelização para a transmissão da fé, superando os niilismos e relativismos da sociedade atual (Deus Caritas Est - 2005; Porta Fidei - 2011, dentre outros)  e o Papa Francisco, especialmente com a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013), propondo uma total renovação da Igreja, na alegria de evangelizar, numa conversão pastoral, numa Igreja em saída, em estado permanente de missão, reforçando a nova evangelização e todo o conteúdo teológico missionário dos outros papas e do Concílio Vaticano II, com grande acento para a Constituição Pastoral Gaudium et Spes. Resumindo: o Evangelho do Senhor que salga e ilumina, por meio da missão da Igreja, todas as realidades humanas no inseparável testemunho missionário da caridade evangélica que não pode deixar de resgatar a dignidade humana, promovendo e libertando a pessoa humana integralmente, mergulhando-a no mistério salvífico de Cristo (EG 14-15; 21-23; capítulo III e IV).

Este impulso com novo ardor todos os batizados devem assumir. Também os institutos de vida consagrada, os leigos devidamente instruídos e os catequistas são convocados para a grande campanha de âmbito universal e de assinalado interesse local nas igrejas particulares (cânones 783 e 785,1 e 2). Os leigos, de forma específica são chamados ao apostolado missionário no mundo, conteúdo claro apontado no Decreto Conciliar Apostolicam Actuositatem, reafirmado e explicitado na Exortação Apostólica Christifidelis Laici (1988), de São João Paulo II. Sobre este tema é muito rico o documento 105 da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sobre a identidade, vocação e missão dos leigos que, incorporados a Cristo pelo batismo e, participando de Seu Sacerdócio comum, exercem também o tríplice múnus de santificar, ensinar e pastorear, como sujeitos eclesiais, em continuidade com o Magistério Conciliar (cf Lumen Gentium 31), na cooperação em comunhão com o sacerdócio ministerial dos pastores e ministros ordenados.

Há ainda o esforço missionário ecumênico, como sinal testemunhal da própria natureza da Igreja comunhão de um só rebanho e um só pastor, buscando a reintegração da unidade dos cristãos, na esteira do decreto conciliar Unitatis Redintegratio, impulsionado pela carta encíclica Ut Unum Sint de São João Paulo II (1995), reafirmado pelo Magistério Pontifício posterior, não como algo facultativo, mas como essencial e inerente à identidade e missão eclesial.

Vários pontos primordiais da ação missionária são recolhidos e apresentados no Código de Direito Canônico: o diálogo dos missionários, com o reforço do testemunho da vida e da palavra, com os que não têm a fé em Cristo; o respeito à índole e cultura dos povos aos quais se leva o anúncio do Evangelho (cf cânon 787,1); a cooperação de todas as dioceses (cf cânon 791); a organização do catecumenato segundo as diretrizes da Conferência dos Bispos (cf cânon 788,3).

Vemos em todo o ensinamento magisterial conciliar e pontifício uma continuidade e riqueza na sensibilidade pastoral em relação a cada tempo, enfrentando os novos desafios dos âmbitos da missão, preservando o patrimônio da fé, numa visão inculturada, dialogal, testemunhal, de anúncio da Boa Nova, através do serviço da caridade, na condução do Espírito Santo.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo.

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Nota da Regional Leste 1 da CNBB sobre as eleições

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Hoje trazemos em nossa coluna uma síntese da nota da Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para as eleições de 2022.

Hoje trazemos em nossa coluna uma síntese da nota da Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para as eleições de 2022.

“Nós, bispos católicos do Estado do Rio de Janeiro, somos conscientes de que, como sucessores dos Apóstolos, nos cabe uma particular responsabilidade de anunciar explícita e integralmente Jesus Cristo, “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6). À luz desse anúncio fundamental, neste ano eleitoral, oportunamente reafirmamos que a Igreja “não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político” (56ª Assembleia Geral, Mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ao Povo de Deus, Aparecida, 19 de abril de 2018). A Igreja ‘não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça’ (Papa Bento XVI – Deus Caritas Est, 28). E do Evangelho nos vem a consciência de que ‘todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo melhor’ (Papa Francisco – Evangelii Gaudium, 183).

Eleições são ocasiões de exercício da democracia que requerem dos candidatos e candidatas propostas e projetos pautados pela justiça e pela paz social. Essa é ‘uma obra que nos pede para não esmorecermos no esforço por construir a unidade da nação e – apesar dos obstáculos, das diferenças e das diversas abordagens sobre o modo como conseguir a convivência pacífica – persistirmos na labuta por favorecer a cultura do encontro, que exige que, no centro de toda a ação política, social e econômica, se coloque a pessoa humana, a sua sublime dignidade e o respeito pelo bem comum’ (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 232).

Num autêntico Estado Laico é legitimo que entidades e grupos tenham e explicitem seus critérios de discernimento em vista da escolha do voto. A Igreja também tem o direito e o dever de o fazer, e o faça a partir do Evangelho e da Doutrina Social. Sendo assim, exortamos todos os cristãos católicos e pessoas de boa vontade a identificar candidatos e candidatas que tenham compromisso claro com os princípios do Bem Comum, da dignidade da pessoa humana, da defesa integral da vida – desde a sua concepção até a morte natural –, incluindo o respeito e a promoção da democracia e dos direitos humanos e sociais, a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento integral, social e econômico.

Recordamos ainda a Lei da Ficha Limpa (lei complementar 135, de 4 de junho de 2010), referencial no combate à corrupção e à sonegação. Os candidatos e candidatas portadores desses princípios merecem o nosso voto.

O Estado do Rio de Janeiro necessita de especial atenção para que ocorrências climáticas não continuem causando catástrofes e sofrimentos. A promoção da educação pública de qualidade e o combate à violência são também prioritários.

Um saudável clima de comunicação e troca de informações é instrumento eficaz para o discernimento em vista do voto. É preciso ter presente que a concórdia e o respeito pelas opiniões diferentes preservam a harmonia em nossas famílias, paróquias, comunidades, pastorais e círculos de amizade. Recordamos vivamente que nos espaços da Igreja e durante as atividades litúrgicas e pastorais não deve ser feita política partidária nem indicação de candidatos específicos. Isso gera divisão na comunidade. É preciso promover a fraternidade.

Não podemos deixar de alertar para o perigo das fakenews. Elas têm causado graves prejuízos à democracia. No uso das redes sociais, é preciso ter consciência de que o repasse de mensagens implica responsabilidade moral e jurídica. No exercício dos direitos e deveres democráticos, é preciso dar atenção não só aos cargos majoritários (presidente da República e vice-presidente, governador do Estado e vice-governador), mas também à composição das casas legislativas (senadores, deputados federais e deputados estaduais).

Na esperança de que, nas Eleições 2022, possamos viver um momento de autêntica democracia, pedimos que o Senhor conceda aos membros de nossa sociedade a determinação de buscarmos juntos ‘a política melhor, a política colocada ao serviço do verdadeiro Bem Comum’. (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 154).”

Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

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A lei do amor

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Ao longo dos relatos evangélicos encontramos Jesus combatendo o modo egoísta e vazio com o qual os fariseus e mestres da lei interpretavam a Palavra de Deus. Por diversas vezes, o Senhor os repreende por suas atitudes e ensinamentos.

Talvez a mais evidente dessas correções esteja descrita na cena da pecadora apresentada a Jesus para que fosse apedrejada. O proceder de Jesus, longe de amenizar o pecado, evidencia o valor da vida daquela mulher (cf. Jo 8,1-11).

Ao longo dos relatos evangélicos encontramos Jesus combatendo o modo egoísta e vazio com o qual os fariseus e mestres da lei interpretavam a Palavra de Deus. Por diversas vezes, o Senhor os repreende por suas atitudes e ensinamentos.

Talvez a mais evidente dessas correções esteja descrita na cena da pecadora apresentada a Jesus para que fosse apedrejada. O proceder de Jesus, longe de amenizar o pecado, evidencia o valor da vida daquela mulher (cf. Jo 8,1-11).

A verdadeira intenção daqueles homens era colocar Jesus à prova, fazendo-o escolher entre a misericórdia e a justiça. Deste modo, conseguiriam acusá-lo de prevaricador, inimigo da lei de Moisés e, portanto, inimigo de Deus. Em momento algum olharam para a mulher. Ela era apenas um instrumento para matarem aquele que era aclamado como o Messias.

A resposta de Jesus, além de convidar-nos a saltar da lei, que é meramente executada para a interiorização, nos convoca à responsabilidade que todos temos no processo de conversão pessoal e social.

Ao intimar os que não tinham pecado para executarem a sentença proclamada pela multidão, o Mestre comprova que o discurso frio da lei estava mascarado pela hipocrisia. “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra” (Jo 8,7). Revela também a hipocrisia que rege nosso egoísmo e orgulho. Quantas vezes apontamos o dedo, discriminamos ou julgamos quem poderá se salvar ou não? Por que deixamos de olhar o irmão e passamos a olhar somente para a sua miséria? Por que apontamos o dedo, ao invés de estender nossa mão?

O Papa Francisco nos adverte para este triste vício que macula o coração da humanidade.  “O diabo se mostra forte com os hipócritas, usa-os para destruir, destruir as pessoas, destruir a sociedade, destruir a Igreja. A força do diabo é a hipocrisia, porque ele é mentiroso: mostra-se como príncipe poderoso, belíssimo, e por trás é um assassino” (Homilia, 20 set. 2018).

Em outra oportunidade o Pontífice explica o que é a hipocrisia e qual sua consequência. “O hipócrita é uma pessoa que finge, lisonjeia e engana porque vive com uma máscara no rosto, e não tem a coragem de enfrentar a verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente: limita-se a viver pelo egoísmo e não tem a força para mostrar o seu coração com transparência” (Audiência geral, 25 ago. 2021).

É preciso lutarmos contra esta corrente. É escandaloso a um cristão se utilizar da Palavra de Deus para oprimir e condenar um irmão. Fujamos da “hipocrisia dos ‘justos’, dos ‘puros’, daqueles que se creem salvos pelos próprios méritos externos” (20 set. 2018). Fujamos da tentação de esconder a podridão do nosso coração pelas belezas e perfeições externas.

Construamos um mundo pautado na verdade e no amor, como nos ensina o Salvador.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. 

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