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Maria na história da nossa salvação

terça-feira, 24 de maio de 2022

Primeira parte

A Diocese de Nova Friburgo iniciou em 29 de abril as celebrações do Mês Mariano Diocesano, tempo no qual recordamos os 60 anos da consagração desta diocese à Imaculada Conceição, sua padroeira. Para iluminar a vivência deste tempo de graça, utilizaremos este espaço nesta e na próxima semana para refletir sobre Maria na história da salvação, com a apresentação deste artigo em duas partes.

Primeira parte

A Diocese de Nova Friburgo iniciou em 29 de abril as celebrações do Mês Mariano Diocesano, tempo no qual recordamos os 60 anos da consagração desta diocese à Imaculada Conceição, sua padroeira. Para iluminar a vivência deste tempo de graça, utilizaremos este espaço nesta e na próxima semana para refletir sobre Maria na história da salvação, com a apresentação deste artigo em duas partes.

O Plano eterno de Deus de revelar a Sua glória na intimidade paternal com o homem, criado à Sua imagem e semelhança, ganhou uma dimensão redentora a partir de Gn 3,15 - o proto-evangelho, a primeira boa nova, a promessa da redenção através da descendência da mulher que esmagaria a cabeça da serpente, contra o pecado original da primeira humanidade: Adão e Eva. A descendência da mulher é o Verbo encarnado, o Filho de Deus, nascido de mulher, na plenitude dos tempos (Gl 4,4), o Messias Salvador. Assim se cumpre em Maria, a jovem de Nazaré, este luminoso anúncio da restauração de toda a humanidade através da encarnação do Redentor. Ele é verdadeiramente humano, nascido da nossa natureza, herdada da Virgem fiel, discípula da Palavra.

Como anunciavam as profecias do Antigo Testamento: "Uma virgem conceberá e dará à luz um filho que será chamado Emanuel" (Is 7,14;  cf  Mq 5,2-3). Ela é a escolhida dentre os humildes e pobres do Senhor, a excelsa Filha de Sião que recebe a concretização desta graça, objeto de uma longa espera do povo sofrido. A virgindade é um grande sinal de que o nascimento também é um evento divino e não do plano do homem, de que acontece a entrada do Verbo na natureza e no horizonte da convivência da família humana, no diálogo direto salvífico com os homens.

No anúncio do anjo à Maria (Lc 1,28) - "Ave, plena de graça!", há a sublimidade da delicadeza de Deus, falando ao íntimo da jovem de fé, sobre Seu chamado para a realização desta grande missão que já era conhecida pelos discípulos da Aliança de Israel e esperada em sua concretização a partir de uma "almah" (donzela, virgem) de Israel. Só não sabia Maria que seria ela. Esta foi a grande surpresa, acompanhada de um compreensível temor diante do grande mistério que se comunicava a ela: "Não temas, Maria, pois encontraste graça diante do Senhor. Eis que conceberás e darás à luz um filho a quem porás o nome de Jesus." "O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra".

Deus escolhe, chama, mas dá a segurança de Sua proximidade: "O Senhor é contigo" (Deus conosco, Emanuel). Ao mesmo tempo capacita, fortalece, cobre com a sua sombra protetora e geradora, fecundadora. Esta Sua presença entre nós, em nós, é a nossa salvação (Jesus, Yeshua, Deus salva). Maria é toda plasmada pelo Espírito Santo desde a sua concepção, imaculada, plena da graça do Senhor, preparada pelo Amor divino para ser a Grande Mãe do Seu Filho Jesus. Faltava dela a resposta livre, própria da cooperação da natureza humana ao plano do Criador, que teoricamente sempre pode ser "não”. Mas na docilidade discipular do coração da adolescente fiel à Palavra de Deus, na forte experiência religiosa da Aliança da Lei, no conhecimento da promessa esperada por todo Israel, mergulhada num profundo amor ao Senhor, na iluminação e unção especial da sua eleição, da benção da plenitude da graça (kecharitomene), sua expressão de mulher forte e pura firmou o mais belo itinerário de fé para todos os seguidores da Divina Providência: "Eu sou a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38).

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo

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Gratidão

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Ao celebrar os 204 anos da nossa querida cidade de Nova Friburgo, não poderia iniciar esta reflexão com outra expressão: Gratidão.

Esta palavra é uma marca no discurso do Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, bispo de Nova Friburgo, que, por desígnio divino, celebrou a dádiva de sua vida no mesmo dia que comemoramos o aniversário de nossa cidade.

Ao celebrar os 204 anos da nossa querida cidade de Nova Friburgo, não poderia iniciar esta reflexão com outra expressão: Gratidão.

Esta palavra é uma marca no discurso do Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, bispo de Nova Friburgo, que, por desígnio divino, celebrou a dádiva de sua vida no mesmo dia que comemoramos o aniversário de nossa cidade.

Desde sua chegada a esta terra, Dom Luiz tem nos ensinado com suas atitudes e palavras a importância de um coração agradecido. Em seu discurso de posse, o prelado chamou atenção para a desafiadora realidade da pandemia da Covid-19 que cercava aquele momento.

Não obstante essa dura realidade, somos convidados a renovar a teimosa esperança em dias melhores, permanecendo, como Maria, em pé, no olhar da fé, ainda que seja aos pés da Cruz. Maria é a Mãe da Igreja - por isso a liturgia escolhida para a minha posse, e nos foi dada como Mãe naquele derradeiro e doloroso momento de Cristo. Apesar da dor e cansaço, podemos sim permanecer em pé, mantendo viva a “esperança que não decepciona”. (...) Com Maria podemos permanecer em pé diante das cruzes, mas também cantar as maravilhas que o Bom Deus realiza em nós e por meio de nós, quando agimos em seu nome, fazendo o bem, por Amor e com Amor. “Feliz aquele servo, que o Senhor, ao voltar, encontrar agindo assim” (Mt 24,46).

Nestes 204 anos, o povo friburguense provou que é persistente na esperança. Muitas foram as adversidades que sobrevieram sobre esta terra serrana, mas a união na esperança de reconstruir na paz, na justiça e na dignidade esteve sempre presente no coração do friburguense. Na superação das diferenças de credos e posição social todos se abraçaram na certeza de que a fraternidade é a garantia do futuro.

O Papa Francisco também nos ensina que é importante saber agradecer. “Se somos portadores de gratidão o mundo também se torna melhor, mesmo que ligeiramente, mas isso é o suficiente para dar-lhe um pouco de esperança. O mundo precisa de esperança e com gratidão, com esta atitude de agradecimento, transmitimos um pouco de esperança” (Catequese semanal, 30 dez. 2020).

Neste dia, saibamos agradecer e louvar por tudo aquilo que o Senhor faz por nós! Não nos esqueçamos de dizer obrigado a nossa família, a nossos amigos, comunidade. Sejamos agradecidos a quem nos ajuda, a quem está ao nosso lado, a quem nos acompanha na vida. Agradecidos a quem nos incentiva na esperança.

Parabéns a Nova Friburgo! Parabéns ao povo friburguense! Que sejamos capazes de construir muitos anos de história pautados na esperança e na gratidão!

Foto da galeria

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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Mês mariano: 60 anos de consagração da Diocese à Imaculada Conceição

terça-feira, 10 de maio de 2022

Celebrar o Mês Mariano Diocesano é, em primeiro lugar, render graças a Deus por nos ter dado como mãe, a Sua Mãe. Mas, também é celebrar uma pequena e significativa parte da história de nossa Igreja Particular.

Celebrar o Mês Mariano Diocesano é, em primeiro lugar, render graças a Deus por nos ter dado como mãe, a Sua Mãe. Mas, também é celebrar uma pequena e significativa parte da história de nossa Igreja Particular.

Em 26 de março de 1960 foi criada a Diocese de Nova Friburgo. O que chamava a atenção era o grande número de paróquias e comunidades dedicadas à Virgem Maria. Porém, o único título mariano que, na época, se repetia como padroeira de paróquia nos três vicariatos era o de Nossa Senhora da Conceição. Por Breve Pontifício de 3 de julho de 1961, documento assinado pelo Papa São João XXIII, a diocese recebeu como padroeira principal a Bem-aventurada Virgem Maria, sob o título de “Imaculada Conceição''.

Mas, não bastava dizer que a Imaculada Mãe de Deus era a padroeira apenas no papel, era preciso aproximá-la do coração do povo. A localidade de Rio das Ostras, até então, apenas uma pequena comunidade, possuía a imagem da Imaculada Conceição mais antiga de todo o território diocesano. Dom Clemente José Carlos Isnard, primeiro bispo diocesano, iniciou uma peregrinação com esta em toda a diocese, chegando em Nova Friburgo em 24 de maio de 1962. Às 18h, a imagem foi transladada da matriz de Olaria para a Catedral São João Batista. As autoridades civis uniram-se ao bispo e ao clero, seminaristas, educandários católicos e fiéis, concentrados na Praça Marcílio Dias (Paissandu), para receber a imagem formando um só cortejo em direção à catedral.

Após a sua chegada foi celebrada a Santa Missa, seguindo-se a consagração do bispado e a vigília até às 24h, quando houve outra missa. O programa, extenso e movimentado, aconteceu nos dias 25, 26 e 27. Em 27 de maio de 1962, foi impressionante a religiosidade. Milhares de pessoas presenciaram um desfile. No campo do Nova Friburgo F.C., no Centro, houve missa campal. A multidão encheu as arquibancadas e o gramado do espaçoso estádio. Dom Clemente Isnard presidiu a celebração, ladeado por outros quatro bispos. Terminada a missa, Dom Clemente fez a consagração da diocese à Imaculada Conceição. Cerca de 20 mil pessoas presentes aclamaram Nossa Senhora, acenando com as suas bandeirinhas e cantando.

Dom Alano Maria Pena, OP, segundo bispo, sempre terminava suas pregações citando a "Escola de Maria”, onde o exemplo da Mãe de Deus deveria sempre iluminar nossa caminhada rumo à Casa eterna do Pai. Posteriormente, Dom Rafael Llano Cifuentes terceiro bispo, ardente devoto da Virgem Maria, sempre insistia que a diocese deveria aumentar sua a devoção à padroeira, tanto que, em seu pastoreio, o Seminário Diocesano voltou a ter a Imaculada como sua patrona.

 No ano jubilar de 2010, pelos 50 anos da criação da Diocese de Nova Friburgo, Dom Edney Gouvêa Mattoso, quarto bispo, seguindo as pegadas de Dom Clemente, ordenou uma peregrinação jubilar da Imaculada Conceição por todas as paróquias da diocese. Infelizmente, nesse período, aconteceu a tragédia climática na Região Serrana provocada pelas chuvas, porém, no meio de tantas tristezas, a presença da Virgem Maria peregrinando levou o consolo divino à tantas vítimas que sofriam com tal catástrofe.

Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, chegou para ser o quinto bispo diocesano num momento muito difícil para a toda a humanidade: a pandemia da Covid-19. Ele, porém, também trouxe consigo uma imensa devoção à Virgem Maria.

Agora, em maio de 2022, quando se comemoram os 60 anos da consagração desta diocese à Imaculada Conceição, vamos mais uma vez levar as três imagens da padroeira pela diocese. A Imaculada Conceição percorrerá os três vicariatos no Mês Mariano Diocesano para que, nessa época ‘pós-pandemia’, na sombra da guerra e no enfrentamento da crise econômica, o povo possa, com o seu auxílio materno, saber transformar as tristezas em alegria.

Três pequeninas imagens da Virgem Maria podem parecer pouco para percorrer o imenso território diocesano em apenas um mês. Mas, elas são como os cinco pães e os dois peixes apresentados a Jesus para alimentar a multidão. Temos a certeza de que o Senhor multiplicará as graças por onde essas imagens passarem a ponto de, ao término da peregrinação, as graças serão tantas que irão até sobrar.

Padre Marcus Vinícius Moreira Falcão é pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro Olaria.

 

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A força transformadora do trabalho

terça-feira, 03 de maio de 2022

A celebração do Dia do Trabalho é a manutenção da memória de uma conquista de grande importância para a humanidade. Em 1º de maio de 1886, milhares de trabalhadores iniciaram uma greve nas fábricas de Chicago, Estados Unidos, exigindo uma jornada laboral de oito horas diárias e condições justas e dignas.

Hoje, mais de um século depois, ainda somos surpreendidos com notícias de homens e mulheres que vivem e convivem em condições ultrajantes de trabalho. Pessoas subjugadas por sua etnia, cor de pele, sexo e idade. A luta permanece constante.

A celebração do Dia do Trabalho é a manutenção da memória de uma conquista de grande importância para a humanidade. Em 1º de maio de 1886, milhares de trabalhadores iniciaram uma greve nas fábricas de Chicago, Estados Unidos, exigindo uma jornada laboral de oito horas diárias e condições justas e dignas.

Hoje, mais de um século depois, ainda somos surpreendidos com notícias de homens e mulheres que vivem e convivem em condições ultrajantes de trabalho. Pessoas subjugadas por sua etnia, cor de pele, sexo e idade. A luta permanece constante.

O labor constitui, desde o princípio do mundo, uma dimensão fundamental da existência humana sobre a terra. A Sagrada Escritura ensina que Deus, após criar homem e mulher à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,27), ordena-lhes submeter a terra (cf. Gn 1,28), tornando-os participantes de sua obra criadora.

Refletindo sobre a dignidade da labuta, o Papa Francisco diz que “é o trabalho que torna o homem semelhante a Deus, pois com o trabalho o homem é criador, é capaz de criar, de criar muitas coisas; até mesmo de criar uma família para seguir em frente. O homem é criador e cria com o trabalho. Esta é a vocação. (...) o trabalho tem em si uma bondade e cria a harmonia das coisas - beleza, bondade - e envolve o homem em tudo: no seu pensamento, na sua atuação, em tudo. O homem participa no trabalho. É a primeira vocação do homem: trabalhar. E isto dá dignidade ao homem. É a dignidade que o faz assemelhar-se a Deus. A dignidade do trabalho” (Homilia, 1 mai. 2020).

Infelizmente, a busca desenfreada pelo poder faz com que seja furtado do labor sua bela força transformadora, assumindo um caráter opressivo e penoso. A expansão da economia global e a constante luta pelo lucro agrava a competitividade e limita o valor do homem e do trabalho à produtividade. Merece destaque as significativas mudanças estratégicas para a ampliação dos lucros dos investidores e os consequentes impactos sobre a classe dos trabalhadores (cf. Visita Pastoral do Papa Francisco a Gênova).

A influência da cultura do materialismo faz com que tratemos o trabalho humano como uma mercadoria e a pessoa como uma força anônima, necessária para a produção. Nesta dinâmica, cresce a necessidade de longas jornadas, em detrimento do descanso digno de operário, além da precarização da labuta, causada pelo aumento da terceirização, entre tantas outras situações que privam o trabalhador de sua dignidade. É necessário sempre relembrar que o “trabalho é ‘para o homem’ e não o homem ‘para o trabalho’” (Laborem exercens, 6).

Não se pode cair na tentação de julgar o valor e a dignidade do labor apenas pelas conquistas materiais e financeiras que ele proporciona. Pois, independentemente da finalidade e objeto do trabalho - de todo e qualquer que seja - permanece sempre a pessoa como seu sujeito principal.

Importante lembrar que a missão de submeter a si a terra e tudo o que ela contém, de governar o mundo na justiça e na santidade implica a ordenação de todo trabalho humano à glorificação do nome de Deus por toda a terra (cf. Gaudium et Spes, 34).

Neste sentido, o trabalho humano, “longe de ser desprovido de dignidade, molesto e odioso, é, pelo contrário, uma fonte de alegria, de felicidade e de nobreza” (Fulgens Radiatur, 29). O labor não é apenas uma ação que transforma as coisas provendo o sustento do homem e da sociedade; é, antes de tudo, realização plena do próprio sujeito que executa a ação; por meio do serviço “se aprende muitas coisas, desenvolve as próprias faculdades, sai de si e eleva-se sobre si mesmo. Este desenvolvimento, bem compreendido, vale mais do que os bens externos que se possam conseguir” (Gaudium et spes, 35), fazendo valer assim a sabedoria popular: o trabalho enobrece o homem.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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Acreditastes porque me viste?

terça-feira, 26 de abril de 2022

Passado o terror da crucificação, os discípulos de Jesus ainda não compreendiam o que havia acontecido. Em seus corações havia um misto de medo, angústia e tristeza. O seu Mestre havia sido morto, o que poderia acontecer com os que o seguiam? Como haveria de cumprir suas palavras? Tudo não havia passado de um desvario?

Passado o terror da crucificação, os discípulos de Jesus ainda não compreendiam o que havia acontecido. Em seus corações havia um misto de medo, angústia e tristeza. O seu Mestre havia sido morto, o que poderia acontecer com os que o seguiam? Como haveria de cumprir suas palavras? Tudo não havia passado de um desvario?

O primeiro dia da semana após todo aquele pesadelo foi marcado pelos sinais do ressuscitado. Logo pela manhã, Madalena depara-se com a pedra do sepulcro removida e encontra-se com Jesus. Os discípulos, Pedro e João, também foram ao túmulo e, avistando a pedra removida e os panos ao chão, acreditaram. Ao entardecer daquele mesmo dia, o Senhor entrou no lugar onde eles se encontravam trancados, por medo dos judeus. Contudo, Tomé não estava com eles, e não pode, pois, ver o Senhor nem ouvir as suas palavras consoladoras (cf Jo 20, 19 – 31).

Foi Tomé que diante da decisão de Jesus de ir ao encontro do perigo disse: “Vamos também nós, para morrermos com ele” (Jo 11, 16b). E, também foi ele que na última ceia manifestou seu desejo de seguir Jesus: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14, 5).

A conhecida falta de fé de Tomé, é na verdade um sufocamento da esperança causado pela profunda dor de testemunhar a crucificação e morte do seu amado Mestre. Sua angústia era tamanha que precisava de sinais concretos da ressurreição.

Quantas vezes não condenamos Tomé por sua crise de fé? Como pôde ele, que conviveu com Jesus, ouviu sua pregação, viu os sinais que realizava, duvidar? Pensamentos como este revelam que estamos contaminados pela vaidade do perfeccionismo.

O Papa Francisco, ao refletir sobre a crise de fé de São Tomé, revela que “Muitas vezes elas (as crises) nos tornam humildes, porque nos despojam da ideia de ter razão, de ser melhores do que os outros. As crises nos ajudam a reconhecer que estamos necessitados: despertam nossa necessidade de Deus e assim nos permitem retornar ao Senhor, tocar suas feridas, voltar a experimentar o seu amor”. Assim, insiste o Papa Francisco: “É melhor uma fé imperfeita, mas humilde, que sempre regressa a Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e arrogantes". (Regina Coeli, 24 abr. 2022).

As dúvidas de Tomé serviram para que a fé dos que mais tarde haveriam de crer no Senhor ressuscitado fosse confirmada. São Gregório Magno disse certa vez: “porventura pensais que foi um simples acaso que aquele discípulo escolhido estivesse ausente, e que depois, ao voltar, ouvisse relatar a aparição e, ao ouvir, duvidasse, e, duvidando, apalpasse, e, apalpando, acreditasse? (...) A divina clemência agiu de modo admirável quando este discípulo que duvidava tocou as feridas da carne do seu Mestre, pois assim curava em nós as chagas da incredulidade" (homilias sobre os Evangelhos, 26, 7).

Aquele que ficara conhecido por duvidar do testemunho do ressuscitado, fora também aquele que, depois de tocar as chagas de Jesus, manteve-se firme na fé a ponto de entregar a própria vida nas mãos dos perseguidores.

Diante disso, recai sobre nós a responsabilidade de dar um testemunho firme e consciente de nossa fé naquele que venceu a morte e deu-nos a vida. Mesmo que durante alguns momentos difíceis, ou um período de crise, nos fechemos em nós mesmos, nos refugiemos nos nossos problemas, voltemos ao Senhor, revelando assim, que é Dele que vem a nossa força e é Nele que alimentamos nossa esperança.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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A manhã da Ressurreição

terça-feira, 19 de abril de 2022

A terra toda estava envolta em trevas. A esperança havia sido sepultada com o corpo de Jesus. Os discípulos estavam dispersos, incrédulos, retomavam as atividades que exerciam antes de se encontrarem com Jesus. Invadia seus pensamentos a ideia de que tudo havia sido uma grande ilusão. As palavras de paz e fraternidade que ouviram de seus lábios cederam lugar às cenas de terror. Ver o corpo do Mestre pregado no madeiro, a mais terrível morte, transpassou, como uma espada lancinante a alma dos que o seguiam. Tudo perdeu o sentido.

A terra toda estava envolta em trevas. A esperança havia sido sepultada com o corpo de Jesus. Os discípulos estavam dispersos, incrédulos, retomavam as atividades que exerciam antes de se encontrarem com Jesus. Invadia seus pensamentos a ideia de que tudo havia sido uma grande ilusão. As palavras de paz e fraternidade que ouviram de seus lábios cederam lugar às cenas de terror. Ver o corpo do Mestre pregado no madeiro, a mais terrível morte, transpassou, como uma espada lancinante a alma dos que o seguiam. Tudo perdeu o sentido.

Na manhã de Páscoa, também os nossos olhos são levados a verem somente os sinais de morte. O Santo Padre chama de Páscoa de guerra, na qual somos bombardeados a todo instante com as mais cruentas notícias. “Demasiado sangue, vimos; demasiada violência. Também os nossos corações se encheram de medo e angústia, enquanto muitos dos nossos irmãos e irmãs tiveram de se fechar nos subterrâneos para se defender das bombas” (Papa Francisco, Mensagem Urbi et Orbi, Páscoa 2022).

Parece que a possibilidade de um mundo de paz, amor e fraternidade não passa de uma utopia inalcançável. “Sentimos dificuldade em acreditar que Jesus tenha verdadeiramente ressuscitado, que tenha verdadeiramente vencido a morte” (idem).

Mas, não podemos nos esquecer que as palavras de vida e verdade que ouvimos de Jesus superam toda a dificuldade. Vejamos o exemplo de Maria Madalena. A dor que envolvia o seu coração era imensurável, só não era maior que o amor que ela sentia pelo seu Mestre. Sem compreender o que estava acontecendo; sem entender como as palavras Dele iriam se cumprir, Madalena pôs-se a caminho, ficaria o mais próximo possível do seu Senhor.

Ao longo do caminho, ela, certamente, recordava os momentos felizes ao lado do Mestre; por vezes, a alegria das memórias era tamanha que aliviava a dor e o sofrimento. Ao mesmo tempo, as lembranças das cenas de terror atroz roubavam-lhe o ar. Mas sua persistência e amor a Jesus a mantiveram firme no caminho e a tornaram a primeira testemunha do ressuscitado.

Bastou ver a pedra removida e os panos no chão, mesmo sem compreender, que a chama da esperança reacendeu em seu coração. Correu ao encontro dos seus e os animou com a notícia.

O exemplo de fé e perseverança desta mulher nos motiva a não desistir. “Hoje mais do que nunca precisamos d’Ele, no termo de uma Quaresma que parece não querer acabar. Temos atrás de nós dois anos de pandemia, que deixaram marcas pesadas. Era o momento de sairmos do túnel juntos, de mãos dadas, juntando as forças e os recursos…” (idem). Em vez disso, somos atormentados pelo terror da guerra.

Contudo, anima-nos o Papa Francisco a encontrarmos os sinais do ressuscitado. Como Madalena, perseverantes no amor e na esperança, precisamos encontrar os sinais que animam e restauram nossas forças e fazê-los serem conhecidos por todo o canto. “No meio da angústia da guerra, não faltam também sinais encorajadores, como as portas abertas de tantas famílias e comunidades que acolhem migrantes e refugiados em toda a Europa. Que estes numerosos atos de caridade se tornem uma bênção para as nossas sociedades, por vezes degradadas por tanto egoísmo e individualismo, e contribuam para torná-las acolhedoras com todos”.

Sejamos, pois, também nós, sinais do ressuscitado! Feliz Páscoa!

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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Homilia do Papa Francisco – Domingo De Ramos 2022

terça-feira, 12 de abril de 2022

No calvário, confrontam-se duas mentalidades; vemos, no Evangelho, como as palavras de Jesus crucificado se contrapõem às dos seus adversários. Estes vão repetindo, como se fosse um refrão, “salva-te a ti mesmo”. (...) Salvar-se a si mesmo, olhar por si mesmo, pensar em si mesmo; não nos outros, mas apenas na própria saúde, no próprio sucesso, nos próprios interesses; ter, poder e aparecer. Salva-te a ti mesmo: é o refrão da humanidade, que crucificou o Senhor. Reflitamos nisso.

No calvário, confrontam-se duas mentalidades; vemos, no Evangelho, como as palavras de Jesus crucificado se contrapõem às dos seus adversários. Estes vão repetindo, como se fosse um refrão, “salva-te a ti mesmo”. (...) Salvar-se a si mesmo, olhar por si mesmo, pensar em si mesmo; não nos outros, mas apenas na própria saúde, no próprio sucesso, nos próprios interesses; ter, poder e aparecer. Salva-te a ti mesmo: é o refrão da humanidade, que crucificou o Senhor. Reflitamos nisso.

Mas, à mentalidade do “eu”, opõe-se à de Deus; o salva-te a ti mesmo confronta-se com o Salvador que Se oferece a Si mesmo. Em resposta Jesus toma a palavra, mas em nenhum dos casos reivindica qualquer coisa para Si mesmo; na verdade, nem sequer Se defende ou justifica a Si mesmo. Reza ao Pai e oferece misericórdia ao bom ladrão. Particularmente uma das suas expressões marca a diferença do salva-te a ti mesmo: “Perdoa-lhes, Pai”

Detenhamo-nos nestas palavras. Quando são pronunciadas pelo Senhor? Num momento específico: durante a crucifixão, quando sente os cravos perfurar-Lhe os pulsos e os pés. Tentemos imaginar a dor lancinante que isso provocava. Lá, na dor física mais aguda da Paixão, Cristo pede perdão para quem O está perfurando. Naqueles momentos, nos apeteceria apenas gritar toda a nossa raiva e sofrimento; Jesus, ao contrário, diz: Perdoa-lhes, Pai.

Irmãos, irmãs! Pensemos que Deus procede assim também conosco: quando Lhe provocamos dor com as nossas ações, Ele sofre e o único desejo que tem é poder perdoar-nos. Para nos darmos conta disto, contemplemos o Crucificado. Fixemos Jesus na cruz e pensemos que nunca recebemos palavras melhores: Perdoa-lhes, Pai. Fixemos Jesus na cruz e vejamos que nunca recebemos um olhar mais terno e compassivo. Fixemos Jesus na cruz e convençamo-nos de que nunca recebemos um abraço mais amoroso. Fixemos o Crucificado e digamos: “Obrigado, Jesus! Amas-me e perdoas-me sempre, mesmo quando me custa amar e perdoar a mim mesmo”.

Lá, enquanto é crucificado, no momento mais difícil, Jesus vive o seu mandamento mais difícil: o amor aos inimigos. Pensemos em alguém que nos feriu, ofendeu, decepcionou; em alguém que nos irritou, não nos compreendeu ou não foi um bom exemplo. Quanto tempo nós demoramos a pensar em quem nos fez mal! Como também a olhar para nós mesmos e a lamuriar-nos pelas feridas que nos infligiram os outros, a vida ou a história.

Hoje, Jesus ensina-nos a não nos perdermos nisso, mas a reagir, a romper o círculo vicioso do mal e dos queixumes, a reagir aos cravos da vida com o amor, aos golpes do ódio com a carícia do perdão. Mas nós, discípulos de Jesus, seguimos o Mestre ou o nosso instinto rancoroso? Se queremos verificar a nossa pertença a Cristo, vejamos como nos comportamos com quem nos feriu. O Senhor pede-nos para responder, não como apetece a nós nem como fazem todos, mas como Ele procede conosco. Pede-nos para quebrar a corrente do “amo-te se me amares; sou teu amigo, se fores meu amigo; ajudo-te se me ajudares”. Em vez disso, compaixão e misericórdia para com todos, porque Deus vê um filho em cada um. Não nos divide em bons e maus, em amigos e inimigos.

Deus não Se cansa de perdoar. Devemos compreender isto… e não só com a mente, mas compreendê-lo com o coração: Deus não Se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de Lhe pedir perdão, mas Ele nunca Se cansa de perdoar. Ele não suporta até certo ponto para depois mudar de ideias, como nós somos tentados a fazer. Jesus – ensina o Evangelho de Lucas – veio ao mundo para nos trazer o perdão dos nossos pecados (cf. Lc 1, 77) e, no fim, deixou-nos esta ordem concreta: pregar a todos, no seu nome, o perdão dos pecados (cf. Lc 24, 47). Irmãos e irmãs, não nos cansemos do perdão de Deus.

Fonte: www.vatican.va

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O inferno é o outro

terça-feira, 05 de abril de 2022

A assertiva que dá nome a este artigo é dita por uma das personagens da peça de teatro Huis clos (Entre quatro paredes, na tradução brasileira), do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre, escrita em 1945. A trama narra a história de duas mulheres e um homem que se encontram no inferno, condenados a permanecer para sempre juntos, “entre quatro paredes”.

A assertiva que dá nome a este artigo é dita por uma das personagens da peça de teatro Huis clos (Entre quatro paredes, na tradução brasileira), do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre, escrita em 1945. A trama narra a história de duas mulheres e um homem que se encontram no inferno, condenados a permanecer para sempre juntos, “entre quatro paredes”.

A inspiração veio da disputa entre três amigos seus que queriam uma peça na qual nenhum personagem tivesse mais destaque que os demais. Assim, Sartre pôs todos em cena presos no inferno onde cada personagem era carrasco dos demais. Neste sentido, a expressão “o inferno é o outro” pondera que o outro, na verdade, é fundamental para o conhecimento de si mesmo.

O ser humano necessita relacionar-se com o outro para construir a sua identidade, conhecer seus próprios demônios. A sociedade individualista faz com que os indivíduos se voltem somente para si, isolando-se em ilhas cada vez menores, fechados à experiência social. Desta forma, acaba-se por interpretar negativamente a fala de Sartre.

O Papa Francisco, analisando as consequências da pandemia da Covid-19, denuncia que a sociedade individualista tende a tornar natural o olhar superficial sobre os que estão ao nosso redor.

No entanto, o coronavírus não é a única doença a ser combatida, mas a pandemia trouxe à luz patologias sociais mais vastas. Uma delas é a visão distorcida da pessoa, um olhar que ignora a sua dignidade e a sua índole relacional. Por vezes consideramos os outros como objetos, objetos para serem usados e descartados. Na realidade, este tipo de olhar cega e fomenta uma cultura do descarte individualista e agressiva, que transforma o ser humano num bem de consumo” (Audiência Geral, 12 ago. 2020).

Olhar para o outro é um obrigar-se a sair de si, da zona de conforto e proteção que criamos em torno de nós. Ao voltarmos a atenção à miséria alheia, tomamos consciência de nossa responsabilidade.

É preciso, portanto, pedirmos ao Senhor que nos conceda um olhar atento aos irmãos e irmãs, especialmente aos que sofrem. “Como discípulos de Jesus, não queremos ser indiferentes ou individualistas. São estas as duas atitudes negativas contra a harmonia. Indiferente: olho para o outro lado. Individualista: considerar apenas o próprio interesse. A harmonia criada por Deus pede que olhemos para os outros, para as necessidades dos demais, para os problemas do próximo, estar em comunhão. Queremos reconhecer em cada pessoa a dignidade humana, qualquer que seja a sua raça, língua ou condição. A harmonia faz reconhecer a dignidade humana, aquela harmonia criada por Deus, com o homem no centro” (idem).

Assim, a provocação de Sartre ganha destaque em nossa reflexão por nos mostrar o quanto é incômodo sair de si e caminhar ao encontro do outro. Contudo, todos os dias precisamos vencer os nossos demônios para construir o Reino de Deus já aqui e agora.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Tire as sandálias

terça-feira, 29 de março de 2022

Na conhecida passagem da Sarça ardente (cf. Ex 3,1-5), na qual revela-se a vocação de Moisés, lemos uma intrigante fala de Deus: “Moisés, Moisés… Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa” (v.4.5).

Seguimos, segundo o senso comum, a interpretação de que a ordem divina se refere às impurezas contidas nas sandálias. Isso porque vivemos uma cultura em que o impuro não pode estar diante de Deus. Como consequência desse pensamento, muitos se afastam de Deus por viverem situações de pecado.

Na conhecida passagem da Sarça ardente (cf. Ex 3,1-5), na qual revela-se a vocação de Moisés, lemos uma intrigante fala de Deus: “Moisés, Moisés… Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa” (v.4.5).

Seguimos, segundo o senso comum, a interpretação de que a ordem divina se refere às impurezas contidas nas sandálias. Isso porque vivemos uma cultura em que o impuro não pode estar diante de Deus. Como consequência desse pensamento, muitos se afastam de Deus por viverem situações de pecado.

Contudo, é preciso voltarmos nossa reflexão para a realidade de que as sandálias nos pés de Moisés eram a única coisa que o impedia de ser tocado por Deus e viver intimamente a experiência de estar naquele lugar sagrado.

Jesus diz nos evangelhos que “os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. (Lc 5,27-32). É justamente por sermos pecadores que precisamos ir ao encontro de Deus.

O Papa Francisco em um de seus primeiros discursos revela-nos a universalidade da misericórdia de Deus. “Comove-nos a atitude de Jesus: não escutamos palavras de desprezo, não escutamos palavras de condenação, mas sim palavras de amor, de misericórdia, que convidam à conversão. Irmãos e irmãs, o rosto de Deus é o de um pai misericordioso, que tem sempre paciência! Já pensastes na paciência que tem para com cada um de nós? Essa é a sua misericórdia! Tem sempre paciência para conosco, compreende-nos, está à nossa espera, não se cansa de nos perdoar se soubermos voltar com o coração contrito. É grande a misericórdia do Senhor” (Angelus, 17 mar. 2013).

Entretanto, é necessário ter cuidado para que a experiência do amor de Deus não seja falsamente interpretada e nos deixarmos encher de vaidade, nos sentindo melhores ou superiores aos que ainda não tiveram a oportunidade de fazer a mesma experiência com o Senhor. O que nos diferencia é a consciência de que somos pecadores e necessitamos buscar a Graça do Pai.

É preciso repensar nossa experiência com o Sagrado. Quantas vezes nos aproximamos dele ainda com as “sandálias nos pés”, sem nos despojarmos de tudo que limita o verdadeiro encontro com o Senhor.

A Quaresma é o tempo oportuno para buscarmos uma sincera e profunda conversão, deixando pelo caminho as sandálias que nos impedem de experimentar o verdadeiro encontro com o Cristo.

Assim, somos levados a refletir as palavras do Papa Francisco: “Deus confia em nós e acompanha-nos com paciência, a paciência de Deus conosco. Não desanima, mas coloca sempre esperança em nós. Deus é Pai e olha para ti como um pai: como o melhor dos pais, ele não vê os resultados que ainda não conseguiste, mas os frutos que ainda podes dar; ele não conta os teus fracassos, mas encoraja as tuas possibilidades; não se detém no teu passado, mas aposta confiante no teu futuro. Porque Deus está perto de nós, Ele está perto de nós. O estilo de Deus, não nos esqueçamos é a proximidade, Ele está perto, com misericórdia e ternura. E é assim que Deus nos acompanha: próximo, misericordioso e terno. Portanto, peçamos à Virgem Maria que nos dê esperança e coragem, e que acenda em nós o desejo da conversão” (Angelus, 20 mar. 2022).

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A verdade vos tornará livres

terça-feira, 22 de março de 2022

Diante de uma sociedade cada vez mais influenciada e polarizada por notícias falsas e discursos de ódio, faz-se oportuno partilhar a atualidade da mensagem do Papa Francisco para o 52° Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 13 de maio de 2018, com o lema " A verdade vos tornará livres (Jo 8,32) - Fake news e Jornalismo da paz", a qual dividimos em dez pontos:

1. "A comunicação humana é uma modalidade essencial para viver a comunhão", afirma o Papa. Exalta a capacidade humana de expressão, compartilhamento e construção de sua própria memória.

Diante de uma sociedade cada vez mais influenciada e polarizada por notícias falsas e discursos de ódio, faz-se oportuno partilhar a atualidade da mensagem do Papa Francisco para o 52° Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 13 de maio de 2018, com o lema " A verdade vos tornará livres (Jo 8,32) - Fake news e Jornalismo da paz", a qual dividimos em dez pontos:

1. "A comunicação humana é uma modalidade essencial para viver a comunhão", afirma o Papa. Exalta a capacidade humana de expressão, compartilhamento e construção de sua própria memória.

2. Porém, o egoísmo é um sentimento destrutivo, capaz de distorcer a comunicação e a verdade, em prol de um bem individual ou de um grupo.

3. Um tema a ser refletido são as "fake news" - as notícias falsas, que são "notícias" verossímeis - aquilo que parece intuitivamente verdadeiro, mas não é. São capazes de chamar a atenção dos leitores e receptores, usando estereótipos e preconceitos generalizados. Exploram emoções como ansiedade, desprezo, ira e frustração e se difundem, em sua maioria, nas redes sociais, onde ganham visibilidade e tornam seus danos irreparáveis.

4. As notícias falsas, segundo o Pontífice, visam objetivos prefixados - como influenciar opções políticas e favorecer lucros econômicos. Geram ambientes digitais de confronto, de descrédito do outro, que passa a ser visto como um inimigo. Uma demonização que pode fomentar conflitos. Devem ser erradicadas em uma corrente de conscientização das pessoas que interagem com este conteúdo.

5. O drama da desinformação gera intolerância, arrogância e ódio e as fake news seguem a "lógica da serpente", como na narração do pecado original, como figura de confusão e tentação para o homem e para a mulher. "Este episódio bíblico revela assim um fato essencial para o nosso tema: nenhuma desinformação é inofensiva; antes, pelo contrário, fiar-se naquilo que é falso produz consequências nefastas. Mesmo uma distorção da verdade aparentemente leve pode ter efeitos perigosos".

6. Comunicar a verdade: O Papa Francisco manifesta o desejo de uma contribuição para a prevenção da difusão destas notícias falsas e para a redescoberta do valor da profissão jornalística e da responsabilidade pessoal de cada um na comunicação da verdade." O antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar pela verdade". Considera louváveis as iniciativas que ensinam os homens e mulheres como avaliar o conteúdo comunicativo e a não serem divulgadores inconscientes de desinformação, mas atores de seu desvendamento. Valoriza também as iniciativas institucionais e jurídicas neste objetivo.

7. O homem descobre sempre mais a verdade quando a experimenta em si mesmo como fidelidade e fiabilidade de quem o ama. "O melhor antídoto contra as falsidades não são as estratégias, mas as pessoas que, livres da ambição, estão prontas a ouvir e, através da fadiga de um diálogo sincero, deixam emergir a verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da linguagem", explicita o Vigário de Cristo.

 8. Jornalismo de paz: o Papa direciona a mensagem aos jornalistas que, segundo ele, são obrigados por profissão a ser responsáveis ao informar. Como guardiães das notícias, não desempenham apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão, "tem o dever de lembrar que no centro da notícia não estão a velocidade em comunicá-la, nem o impacto sobre a audiência, mas as pessoas. Informar é formar; é lidar com a vida das pessoas. Por isso, a precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros e próprios processos de desenvolvimento do bem que geram confiança e abrem vias de comunhão e de paz".

9. Francisco convidou os profissionais de comunicação a promover um jornalismo de paz que não negue a existência de problemas graves, mas que, pelo contrário, não use de fingimentos, seja hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas. Um jornalismo a serviço das pessoas que não se limite a queimar notícias, mas que se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, favorecendo a compreensão das raízes e empenhado em indicar soluções e alternativas.

10.Termina com uma oração inspirada na oração franciscana da paz: "Senhor, fazei de nós instrumentos da vossa paz. Fazei-nos reconhecer o mal que se insinua em uma comunicação que não cria comunhão" (trecho da oração final da mensagem).

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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