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Reconciliação: justiça, misericórdia e paz se abraçarão!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

O Dia Diocesano da Reconciliação instituído pelo nosso Bispo D. Luiz Antonio Lopes Ricci, celebrado no último dia 16, em todas as paróquias, nos propõe um momento e um espaço para a reconstrução dos laços de unidade, perdoando e sendo perdoado, superando mágoas e ressentimentos, resgatando o espírito fundamental do respeito à dignidade de cada pessoa humana de "imagem e semelhança" do Criador, de filha de Deus.

O Dia Diocesano da Reconciliação instituído pelo nosso Bispo D. Luiz Antonio Lopes Ricci, celebrado no último dia 16, em todas as paróquias, nos propõe um momento e um espaço para a reconstrução dos laços de unidade, perdoando e sendo perdoado, superando mágoas e ressentimentos, resgatando o espírito fundamental do respeito à dignidade de cada pessoa humana de "imagem e semelhança" do Criador, de filha de Deus.

Um oportuno e necessário gesto concreto de reaproximação, de refeitura dos laços das amizades, da união familiar, da fraternidade da comunidade, da Igreja, da comunhão bela de um só povo e nação, em busca do Bem comum.

E sabemos que "a paz é fruto da justiça" (Is 32,17), da verdade, da conversão e conformação de nossas vidas e consciências à vontade do nosso Deus amoroso. Sobre esta temática falam os vários e ricos textos do tempo litúrgico do advento, que prepara o nosso coração para a segunda vinda do Senhor (até o dia 16 de dezembro) e, mais proximamente, a primeira vinda do Messias-Salvador, o seu luminoso Natal, quando o Verbo divino, solidário a nós, se encarna, assumindo a nossa natureza, para libertar-nos de nossos pecados, egoísmo e soberba (de 17 a 24 de dezembro). Nasce na simplicidade de uma manjedoura, com a humildade do casal de Nazaré, da doação e fidelidade do justo São José, na entrega total de amor da Santíssima Maria, a grande Mãe da Luz e da Graça que se tornou, como serva fiel, Mãe de toda a humanidade, da Igreja.

A justiça de São João Batista ao preparar o caminho do Senhor, como aquela voz que clama no deserto, promoveu a chegada do Príncipe da Paz, como anunciava o Profeta Isaías (cf Is 9,6). A perseverança de um homem sólido, autêntico e sua pregação e batismo de conversão, respaldados pela sua vida e testemunho austero de santidade, aplainou as estradas do Senhor Salvador. O santo (qadosh em hebraico) é aquele que pratica a justiça (sedaqá) e o direito (tsadiq). Portanto, o justo que também é santo é aquele que, com sua consistência da caridade, constrói as veredas de um mundo mais pacificado, com aquela "tranquilitas ordinis" de que nos fala Santo Agostinho.

A paz é a tranquilidade da ordem de todas as coisas, aquela preservação, proteção e mesmo o resgate da ordem original da criação, a concórdia da harmonia e respeito à natureza, à casa comum, aos outros irmãos, aos direitos humanos, sociais, no amor à verdade, no diálogo enriquecedor, na partilha fraterna, no amor ao próximo, como nos ensinou Jesus, também e, principalmente, no abraço misericordioso aos mais necessitados, aos mais perdidos e doentes, os mais abandonados, pecadores, marginalizados e excluídos. Justiça e misericórdia se abraçam, na justiça-santidade da Nova Aliança, o dar a vida, perdoando, sem julgar, nem condenar, reintegrando sempre os que mais se afastaram da proposta do Pai, iluminando-os com o Espírito, abrigando-os todos no Coração Amorosíssimo de Cristo que com seu sangue já os lavou no alto da cruz, morrendo por eles e por nós, todos feridos pelos próprios pecados.

Sempre que pavimentarmos este caminho de reconciliação com Deus, com a nossa consciência e identidade, com a nossa dignidade, com os irmãos e com toda a criação, vendo em cada rosto, especialmente o mais sofrido, o próprio Jesus, então fazemos acontecer o Natal verdadeiro e profundo: Cristo que nasce dentro de nós, o Amor que se encarna em nossa história, que nos eleva e nos faz cada vez mais filhos do céu, na fraternidade que partilha, na solidariedade que promove, no gratuito amor que perdoa, que edifica e que liberta. Feliz Reconciliação! Feliz Natal!

Pe. Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça

Chanceler da Diocese

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Dia Diocesano da Reconciliação

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Hoje trazemos em nossa coluna a Carta de Proclamação do Dia Diocesano da Reconciliação, cuja data é 16 de dezembro de 2022, de autoria do bispo diocesano de Nova Friburgo, Dom Luiz Antonio Lopes Ricci.

Hoje trazemos em nossa coluna a Carta de Proclamação do Dia Diocesano da Reconciliação, cuja data é 16 de dezembro de 2022, de autoria do bispo diocesano de Nova Friburgo, Dom Luiz Antonio Lopes Ricci.

“Inspirado por Deus, durante a Eucaristia que presidi na sexta-feira, 25 de novembro, consciente de minha missão de pastor para exercer o Ministério da Reconciliação (cf. 2 Cor 5, 18), pacificação, unidade e misericórdia, referendado por unanimidade na reunião do Conselho de Pastoral Diocesano, realizada em 26 de novembro, convoco a todos e todas para um Dia Diocesano da  Reconciliação, neste tempo favorável do Advento, a realizar-se em 16 de dezembro, que precede o Domingo da Alegria e o início da preparação próxima para o Natal do Senhor.

Convoco a se unirem, sobretudo neste dia, em oração, jejum e realização                     de um gesto concreto de caridade e reconciliação. Que neste dia, seja celebrada em todas as paróquias, no mesmo horário, às 19h, a Santa Missa  pela Reconciliação.

Vamos rezar pela reconciliação e paz nas famílias, entre amigos, colegas de trabalho, de  escola, comunidades, Igreja, sociedade, grupos de redes sociais, pelo Brasil e pelo mundo. Sabemos que há muitas famílias divididas e pessoas distanciadas, principalmente por questões  políticas, partidárias e ideológicas.

Urge reconciliar e cicatrizar as feridas, somos todos irmãos e precisamos reaprender a conviver pacificamente com opiniões divergentes. O que deve prevalecer é o Amor, a Unidade e a Misericórdia. Portanto, trata-se de uma iniciativa evangelizadora, que visa restaurar, em Cristo, as relações feridas, e indicar uma urgente necessidade de retorno ao Primeiro Amor (cf. Ap 2,4), colocando Jesus no centro de nossa vida, escolhas e atitudes, como opção fundamental, capaz de “fazer novas todas as coisas” (Ap 21,5).

Sem o perdão não há festa! O Natal é por tradição uma festa familiar. Como celebrar o

 Natal, com tantas divisões e rivalidades na família de sangue, na família de amigos e colegas de trabalho, na família Igreja e na grande família, a sociedade brasileira? O Advento é o tempo  favorável para a reconciliação. Como bispo diocesano, a serviço da pacificação, unidade e diálogo, solicito, humildemente, a acolhida desta minha intuição, com docilidade, cuja fundamentação é unicamente espiritual, evangélica e eclesial, não sendo permitida nenhuma conotação ideológica ou política para este Dia Diocesano da Reconciliação.

“Somos, pois, embaixadores de Cristo; é como se Deus mesmo fizesse seu apelo através de nós. Em nome de Cristo, vos suplicamos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5, 20) e, consequentemente, com os irmãos e irmãs, vivendo fraternalmente, sem brigas e rivalidades, deixando-nos guiar pela Luz do Senhor.

Rezemos e trabalhemos pela paz, não apenas no proposto Dia da Reconciliação, mas durante todos os dias de nossa vida. A paz verdadeira é filha da justiça e do perdão. Portanto, com humildade, procure pedir o perdão, dar o perdão e perdoar a si mesmo. Somos todos irmãos! É hora de “ouvir cantos de festa e de alegria” (Sl 50,10), que vem da festa oferecida pelo Pai Misericordioso a nós, Diocese da Alegria, da Unidade, da Gratidão e da Misericórdia (os quatro pilares norteadores que apresentei no dia de minha posse na diocese, em 4 de julho de 2020).

Desejo-lhes um frutuoso tempo do Advento, um Feliz Novo Ano Litúrgico e uma  autêntica e corajosa preparação para o Natal do Senhor, que passa pelo perdão, reconciliação e fraternidade. Rezemos: Vem Senhor Jesus para nos reconciliar com o Pai, conosco mesmos  e com os irmãos e irmãs. Que Nossa Senhora das Graças, nos conceda a graça da reconciliação e da vivência autêntica de nossa fé em Cristo.

Gratidão! Com minha benção, unidos nesta mesma intenção, verdadeiramente cristã, necessária e natalina.  

Dom Luiz Antônio Lopes Ricci, bispo da Diocese de Nova Friburgo  

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Um Messias diferente

segunda-feira, 05 de dezembro de 2022

A vivência do Tempo do Advento nos conduz a momentos de reflexão e oração voltados para a conversão do coração e a fé no Reino que vai chegar. Os textos bíblicos que nos acompanham neste itinerário fazem lembrar a promessa messiânica do antigo Israel. Os textos do profeta Isaías aprofundam nossa reflexão sobre o Messias esperado. “Nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor. (...) Ele trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos” (Is 11,4).

A vivência do Tempo do Advento nos conduz a momentos de reflexão e oração voltados para a conversão do coração e a fé no Reino que vai chegar. Os textos bíblicos que nos acompanham neste itinerário fazem lembrar a promessa messiânica do antigo Israel. Os textos do profeta Isaías aprofundam nossa reflexão sobre o Messias esperado. “Nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor. (...) Ele trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos” (Is 11,4).

A expectativa da chegada do Messias traz consigo a esperança de um mundo justo onde a concórdia alimente a paz e a prosperidade. A certeza que perpassa esta esperança é que o Justo Juiz vem para quem tem o coração pobre, para os que têm a consciência de que sozinhos não conseguirão levar o peso dos sofrimentos da vida. A justiça tão esperada por Israel não está somente na devolução da Terra Prometida, mas no consolo da alma abatida, na recuperação da força física, psíquica, econômica e existencial.

A paz prometida ultrapassa nossa humilde compreensão: “O lobo e o cordeiro pastarão juntos, o leão, como um boi, se alimentará de palha, e a serpente comerá terra. Nenhum mal nem desordem alguma será cometida, em todo o meu monte santo” (Is 65,25). A promessa indica a reconciliação de toda a criação.

A fé cristã aponta para Jesus Cristo como o cumpridor dessas promessas, apesar de a esperança messiânica parecer ser frustrada por motivo do sofrimento assumido por Jesus. O sentimento de fracasso encheu o coração dos discípulos depois da morte cruenta do Messias. Eles haviam depositado todas as suas esperanças e desejos no Mestre. Contudo, depois da escandalosa morte na cruz, voltaram abatidos à vida anterior. As esperanças em que acreditavam desfizeram-se em pedaços, os sonhos que queriam realizar cedem o lugar à desilusão e à amargura.

O Papa Francisco nos faz recordar que a mensagem evangélica abre as perspectivas da humanidade para além das situações de decepção e tristeza. “Ainda hoje, quando experimentamos a violência do mal e a vergonha da culpa, quando o rio da nossa vida seca no pecado e no fracasso, quando, despojados de tudo, nos parece não ter mais nada, precisamente então é que o Senhor vem ao nosso encontro e caminha conosco” (Papa Francisco, homilia, 28 jul. 2022).

Assim, apesar de parecer que Jesus não satisfaz as expectativas do antigo Israel, podemos perceber que seu poder vai além das esferas deste tempo. E mais, a missão salvífica do Messias que é partilhada com cada cristão não se realiza num passo de mágica. Ela se faz num processo de conversão pessoal que atinge a totalidade do mundo.

A eficácia da ação messiânica está na proximidade e unidade com o Senhor que está presente no nosso caminho, que nos acompanha e nos fala. Para isso é preciso ter o cuidado de não nos deixarmos distrair, como tantas vezes somos levados, pelas futilidades e paixões deste mundo.

Construamos, pois, o reino de paz nos deixando “chacoalhar pelo torpor e despertando do sono” que paralisa (Papa Francisco, Angelus, 27 de novembro de 2022).

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção no bairro Bela Vista

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Advento

terça-feira, 29 de novembro de 2022

No Evangelho ouvimos uma bonita promessa que nos introduz no Tempo de Advento: “Virá o vosso Senhor” (Mt 24,42). Este é o fundamento da nossa esperança, é o que nos sustenta até nos momentos mais difíceis e dolorosos da nossa vida: Deus vem, Deus está próximo e vem. Nunca nos esqueçamos disto! O Senhor vem sempre, o Senhor visita-nos, o Senhor está próximo e voltará no final dos tempos para nos acolher no seu abraço.

No Evangelho ouvimos uma bonita promessa que nos introduz no Tempo de Advento: “Virá o vosso Senhor” (Mt 24,42). Este é o fundamento da nossa esperança, é o que nos sustenta até nos momentos mais difíceis e dolorosos da nossa vida: Deus vem, Deus está próximo e vem. Nunca nos esqueçamos disto! O Senhor vem sempre, o Senhor visita-nos, o Senhor está próximo e voltará no final dos tempos para nos acolher no seu abraço.

Diante desta palavra, perguntamo-nos: como vem o Senhor? E como o reconhecemos e acolhemos? Reflitamos brevemente sobre estas duas perguntas: A primeira pergunta: como vem o Senhor? Tantas vezes ouvimos dizer que o Senhor está presente no nosso caminho, que Ele nos acompanha e nos fala. Mas talvez, distraídos como estamos por tantas coisas, esta verdade permanece para nós apenas teórica; sim, sabemos que o Senhor vem, mas não vivemos esta verdade ou imaginamos que o Senhor vem de uma forma sensacional, talvez através de algum sinal prodigioso. Ao contrário, Jesus diz que isso acontecerá “como nos dias de Noé” (cf. v. 37). E o que faziam nos dias de Noé?  Simplesmente as coisas normais e cotidianas da vida, como sempre: «comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento» (v. 38).

Tenhamos isto em mente: Deus está escondido na nossa vida, Ele está sempre ali, Ele está escondido nas situações mais comuns e ordinárias da nossa vida. Ele não vem em eventos extraordinários, mas nas coisas do dia a dia, Ele manifesta-se nas coisas de todos os dias. Ele está ali, no nosso trabalho diário, num encontro casual, no rosto de uma pessoa em necessidade, inclusive quando enfrentamos dias que parecem cinzentos e monótonos, precisamente ali está o Senhor, que nos chama, fala-nos e inspira as nossas ações.

No entanto, há uma segunda pergunta: como reconhecer e acolher o Senhor? Devemos permanecer acordados, alerta, vigilantes. Jesus avisa-nos: há o perigo de não perceber a sua vinda e de não estar preparado para a sua visita. Recordei noutras ocasiões o que Santo Agostinho disse: “Temo o Senhor que passa” (Serm. 88.14.13), ou seja, temo que Ele passe e eu não O reconheça!

De fato, Jesus diz das pessoas do tempo de Noé que comiam e bebiam “e não deram por nada até chegar o dilúvio” (v. 39). Prestemos atenção a isto: eles não repararam em nada! Estavam preocupados com as próprias coisas e não se aperceberam que o dilúvio estava a chegar. De fato, Jesus diz que quando Ele vier, «estarão dois homens no campo: um será levado e o outro será deixado» (v. 40). Em que sentido? Qual é a diferença? Simplesmente que um foi vigilante, esperava, capaz de discernir a presença de Deus na vida diária; o outro, ao contrário, estava distraído, “ia vivendo”, e não se deu conta de nada.

Irmãos e irmãs, neste tempo de Advento, deixemo-nos despertar do torpor e acordemos do sono! Perguntemo-nos: estou consciente do que vivo, estou alerta, estou desperto? Procuremos perguntar-nos: estou ciente daquilo que vivo, estou atento, estou acordado? Procuro reconhecer a presença de Deus nas situações quotidianas, ou estou distraído e um pouco sobrecarregado com as coisas? Se hoje não estivermos conscientes da sua vinda, também não estaremos preparados quando Ele chegar no final dos tempos.

Portanto, irmãos e irmãs, mantenhamo-nos vigilantes! À espera que o Senhor venha, à espera que o Senhor se aproxime de nós, pois Ele está presente, mas esperemos vigilantes. Que a Virgem Santa, Mulher da espera, que soube captar a passagem de Deus na vida humilde e escondida de Nazaré e o acolheu no seu ventre, nos ajude neste caminho a estar atentos para esperar o Senhor que está entre nós e passa.

Papa Francisco. Angelus, 27 nov. 2022 (Fonte: vatican.va)

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Cristo Rei

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

A quem proclamamos como nosso Rei? Nosso Rei é o Cordeiro imolado, Jesus Cristo, que se fez homem por nós, por nós anunciou e tornou presente o Reino do Pai e, para nos dar esse Reino de modo definitivo, por nós entregou-se na Cruz, morreu e ressuscitou.  Neste sentido, o Reinado de Cristo somente pode ser entendido a partir da lógica do próprio Cristo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Eis a maneira como Jesus Cristo reina: servindo, dando a própria vida.

A quem proclamamos como nosso Rei? Nosso Rei é o Cordeiro imolado, Jesus Cristo, que se fez homem por nós, por nós anunciou e tornou presente o Reino do Pai e, para nos dar esse Reino de modo definitivo, por nós entregou-se na Cruz, morreu e ressuscitou.  Neste sentido, o Reinado de Cristo somente pode ser entendido a partir da lógica do próprio Cristo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Eis a maneira como Jesus Cristo reina: servindo, dando a própria vida. Jesus é Rei porque se fez solidário conosco ao fazer-se um de nós, é Rei porque tomou sobre si o peso dos nossos pecados, é Rei porque passou entre nós servindo até entregar-Se totalmente por nós na cruz.

Refletindo sobre o servir, que é próprio da missão de Cristo e, também, ação dos seus discípulos, no último domingo, 20, na Solenidade de Cristo Rei do Universo, celebramos o dia dedicado aos leigos e às leigas, que são chamados, pelo batismo, a implantarem o Reinado de Deus no mundo por seu testemunho de vida, sendo fermento, sal e luz.

A Sagrada Escritura nos apresenta Davi ungido e reconhecido como rei por todas as tribos de Israel. Destaca-se na figura do Rei de Israel dois aspectos: primeiro: ser rei é apascentar, guiar, cuidar e zelar; segundo: o Senhor afirma que o povo é Seu, é de Deus, não de Davi. Portanto, o rei não é dono nem senhor do povo, mas apenas um servo do Senhor que tem a missão de conduzir o povo pelo caminho da Aliança com o Senhor.

São Paulo escrevendo aos Colossenses resume em três pontos a obra salvadora de Deus em Cristo: 1. Deus nos fez participar gratuitamente da herança que havia preparado para seu povo santo; 2. Ele nos tirou do domínio das trevas e nos recebeu no Reino de seu Filho; 3. Ele nos concedeu o perdão pela Cruz de Cristo.

Já no Evangelho temos Jesus pregado na cruz, sendo causa de zombaria de muitos. São Lucas escreve que, acima dele havia um letreiro: “Esse é o Rei dos judeus”. Ao lado de Jesus, encontra-se o bom ladrão que a tradição identifica como São Dimas. Ele está ali presenciando e testemunhando todos os acontecimentos. Na verdade, junto a Jesus estavam dois malfeitores, um se converte e se salva, pois soube aproveitar aquela oportunidade, a companhia de Jesus, o outro, não.

O mau ladrão estava junto de Jesus na cruz, no entanto, não soube aproveitar este momento. O bom ladrão, ao contrário, reconhece a sua inocência e faz uma alusão à sua realeza ao dirigir a Ele estas palavras: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado” (v. 42). Ele faz isto em um espírito de fé e obtém de Cristo uma resposta: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. (v. 43)

Queridos irmãos e irmãs, somente o bom ladrão atinge o mistério profundo de Jesus. Precisamente um bandido é o único que entende algo do que está acontecendo. Ele reprova a atitude do companheiro, e reconhece que Cristo foi condenado injustamente, para finalmente lhe suplicar com humildade: “Jesus, lembra-te de mim quando chegares em teu reino” (v. 42) E, Jesus que até então estava calado e não havia respondido aos que zombavam dele, abriu os lábios para falar ao bom ladrão: “Em verdade vos digo: hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (v. 43). Assim foi ele o primeiro beneficiário da salvação trazida ao homem pela cruz de Cristo.

De fato, se o coração não arde de amor por Cristo e seu chamado, os pés não andam; caímos na inércia espiritual. Acabamos por não corresponder ao Amor. Essa não correspondência acaba por não gerar felicidade, pois só é feliz aquele que vive a sua vocação. Onde há muito apego não há atenção ao apelo de Cristo. É ele quem chama e envia os que Ele quer. Desde o nosso batismo temos de nos perceber escolhidos e enviados. Escolhidos por Cristo em seu amor e enviados para sermos bons operários da vinha, transformando realidades, levando a verdade do Evangelho, construindo pontes e atraindo mais corações para bem perto do Sagrado Coração.

Padre Raphael Costa dos Santos é vice-reitor do Seminário Diocesano Imaculada Conceição

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Comunicar o Reino de Deus!

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Bendito seja o nome do Senhor hoje e sempre, em todos os momentos e passos de nossas vidas

Comunicar o Reino é sempre estar primeiro em comunhão com o Senhor, o Deus da vida e do amor, beber de Sua graça e deixar-se iluminar por Ele que nos capacita para a missão. Este Seu Plano ultrapassa qualquer horizonte de ilusão, desequilíbrio e injustiça deste mundo. Ao contrário, é a semeadura da fraternidade, da justiça, da solidariedade e da paz nesta realidade terrestre, unindo todos os irmãos na verdade e na caridade.

Bendito seja o nome do Senhor hoje e sempre, em todos os momentos e passos de nossas vidas

Comunicar o Reino é sempre estar primeiro em comunhão com o Senhor, o Deus da vida e do amor, beber de Sua graça e deixar-se iluminar por Ele que nos capacita para a missão. Este Seu Plano ultrapassa qualquer horizonte de ilusão, desequilíbrio e injustiça deste mundo. Ao contrário, é a semeadura da fraternidade, da justiça, da solidariedade e da paz nesta realidade terrestre, unindo todos os irmãos na verdade e na caridade.

A comunicação pastoral sempre foi um valiosíssimo meio usado pela Igreja para estender a todos os povos, a todas as pessoas a Boa Nova de Jesus Cristo - a misericórdia redentora do Pai, no sacrifício da cruz do Filho, gesto maior de doação de amor para nos resgatar, elevar, curar, na salvação-libertação do pecado, da maldade e de todo egoísmo destruidor, no transbordamento de Sua fortaleza e sabedoria no Espírito Santo, na unção da Comunidade Eclesial.

Foi o que o Papa Francisco pediu na Plenária do Dicastério de Comunicação do Vaticano, no último dia 12: uma comunicação humana que transmita os valores cristãos, não puramente técnica. Que haja por detrás da competência técnica um coração humano que seja sensível ao retorno do que foi comunicado, a realidade do outro.

Neste sentido, o Pontífice celebrou no último domingo, 13, o Dia Mundial dos Pobres que ele mesmo instituiu para ressaltar a importância de se resgatar a dignidade destes irmãos, amando-os verdadeiramente, com gestos concretos, na luta pacífica pela justiça do Reino, incentivando várias iniciativas pelo mundo de solidariedade, amor fraterno e desenvolvimento de ações criativas para erradicar a pobreza e a miséria.

O próprio Papa tem realizado várias obras de caridade social no Vaticano, em Roma, como ambulatórios, assistência médica, de higiene, de acolhida em albergues, de formação profissional, de evangelização e promoção humana, além de todas as contribuições da Igreja com a Cáritas e outros órgãos ligados ao Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e outros organismos eclesiais, com fundos que apoiam e ajudam as necessidades de populações de vários países.

Muito significativo que este domingo do Cristo Pobre anteceda o domingo de Cristo Rei, que será celebrado neste dia 20, dimensionando que tipo de Reino Cristo veio instaurar: Reino de Amor fraterno, de humildade que serve o próximo, de justiça e paz. Não um reino humano de pompas ou luxo, de tronos e afirmação de superioridade, de privilégios e sofisticações, de soberba e vaidades. Este é o reino dos homens pecadores.

O Rei Jesus só teve e aceitou uma coroa, a de espinhos. Só teve um trono, a cruz sobre a qual libertou todos nós de nosso próprio egoísmo. Só teve um cetro, o seu cajado de Bom Pastor que percorreu todas as estradas e recantos da miséria humana para resgatar as ovelhas mais doentes e mais perdidas. Sua carruagem? Um jumentinho emprestado para entrar em Jerusalém, quando não andava a pé com os seus discípulos. Seu templo suntuoso e refinado? Uma sala de jantar também emprestada para celebrar com os apóstolos a Ceia Pascal, antes de abraçar a Paixão, quando se doou na Eucaristia, para nos alimentar espiritualmente, fortalecendo-nos como sua Igreja, mantendo sua presença entre nós para sempre. Sua corte capacitada e honrada? A multidão de Lázaros, coxos, cegos, paralíticos, doentes, marginalizados, prostituídos, pecadores públicos, perdidos, abandonados, profundamente amados por Ele, sem nenhum distanciamento ou formalidade. 

Portanto, celebrar o Cristo Rei é celebrar o Cristo Pobre, despojado de si mesmo, na espiritualidade da caridade, da humildade, da missão que Ele nos deu como Igreja de amar os irmãos do mesmo jeito: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 13,34). "São os doentes que precisam de médico" (Mc 2,17). "Não há maior amor do que dar a vida pelo irmão" (Jo 15,13).

"Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus" (Mt 5,3). Ou seja, a espiritualidade missionária da kénosis (esvaziamento de si) para servir e do ágape (amor gratuito, doação) para resgatar e elevar os irmãos, especialmente os mais necessitados. Vivamos esta bela e rica missão!

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo

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Seja feita a tua vontade

segunda-feira, 07 de novembro de 2022

A dinâmica da revelação divina está ancorada na bondade e sabedoria de Deus que quis tornar conhecido à humanidade os planos de sua vontade. Em Cristo, Ele revela o mais profundo do seu querer: “que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4). Contudo, nem sempre é fácil entender os caminhos que conduzirão à plena realização da vontade divina.

A dinâmica da revelação divina está ancorada na bondade e sabedoria de Deus que quis tornar conhecido à humanidade os planos de sua vontade. Em Cristo, Ele revela o mais profundo do seu querer: “que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4). Contudo, nem sempre é fácil entender os caminhos que conduzirão à plena realização da vontade divina.

Jesus, ao ensinar a seus discípulos como rezar, inclui, entre as sete preces do ‘Pai nosso’, o desejo que a vontade do Pai se realize tanto no céu, quanto na terra. E aqui está a “revolução copernicana” do cristianismo, isto é, a mudança de direção na compreensão da eficácia da oração.

O ato de dirigir a Deus os nossos pedidos é fruto de uma confiança certa naquele que pode fazer o impossível. Ainda assim, essa certa confiança é, por vezes, provada na tribulação de não se ver o resultado de nosso pedido concretizado, levando-nos a crer que não fomos ouvidos.

O Papa Francisco ensina que “as provações da vida se transformam em ocasiões para crescer na fé e na caridade. O caminho diário, incluindo as dificuldades, adquire a perspectiva de uma ‘vocação’. A oração tem o poder de transformar em bem o que de outra forma seria uma condenação na vida; a oração tem o poder de abrir um grande horizonte para a mente e de alargar o coração” (Audiência geral, 04 nov. 2020).

A oração fiel e confiante não tem a intenção de mudar o coração de Deus à nossa mera vontade, mas o seu primeiro fruto é a transformação do coração que reza. O Pontífice ressalta que o “seja feita a vossa vontade” não é realizado no dobrar a cabeça servilmente, como se fôssemos escravos. Deus reserva e preserva ao homem a liberdade.

O “Pai Nosso”, de fato, é a oração dos filhos, não dos escravos; mas dos filhos que conhecem o coração do seu pai e estão certos do seu desígnio de amor. Ai de nós se, pronunciando essas palavras, levantássemos os ombros em sinal de rendição diante de um destino que não podemos mudar. Ao contrário, é uma oração cheia de confiança ardente em Deus, que quer para nós o bem, a vida, a salvação. Uma oração corajosa, também combativa, porque no mundo há tantas realidades que não são segundo o plano de Deus. Todos as conhecemos” (Audiência geral, 20 mar. 2019).

E continua: “O “Pai Nosso” é uma oração que acende em nós o mesmo amor de Jesus pela vontade do Pai, uma chama que leva a transformar o mundo com o amor. O cristão não acredita em um “fato” inelutável. Não há nada de aleatório na fé dos cristãos: há, em vez disso, uma salvação que espera manifestar-se na vida de cada homem e mulher e de realizar-se na eternidade. Se rezamos é porque acreditamos que Deus pode e quer transformar a realidade vencendo o mal com o bem. A este Deus tem sentido obedecer e abandonar-se também na hora da prova mais difícil (idem).

Assim, o ato de confiar a Deus os desejos de nossa alma é também um exercício de fé que nos conduz na certeza de que Ele nos dará, no tempo certo, o que é justo e necessário para que a vontade suprema de Deus se realize em nós!

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

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A esperança certa

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A morte sempre inquietou a humanidade. O desejo de imortalidade e a dura realidade da morte sempre geraram no homem medo e tristeza. Muitas teorias foram criadas e vividas ao longo dos séculos.

Diante de tanta incerteza, a realidade da finitude faz nosso coração estremecer, e ainda que a ciência médica faça crescer a longevidade biológica, ela nunca poderá apagar o anseio de eternidade inscrito no coração do homem (Cfr. GS 18). Somente na unidade plena com Cristo poderemos saciar nossa sede do eterno.

A morte sempre inquietou a humanidade. O desejo de imortalidade e a dura realidade da morte sempre geraram no homem medo e tristeza. Muitas teorias foram criadas e vividas ao longo dos séculos.

Diante de tanta incerteza, a realidade da finitude faz nosso coração estremecer, e ainda que a ciência médica faça crescer a longevidade biológica, ela nunca poderá apagar o anseio de eternidade inscrito no coração do homem (Cfr. GS 18). Somente na unidade plena com Cristo poderemos saciar nossa sede do eterno.

O modo de ver e pensar a morte no cristianismo renova a esperança e anima a construção de um mundo de paz e verdade. São Francisco de Assis mergulhado nesta certeza chama a Morte de irmã, pois ela abre as portas para a felicidade eterna.

A fé da Igreja vivida em sua liturgia nos insere na realidade profunda de nossa esperança. A celebração do Dia de Finados aponta para uma realidade que supera a concepção intramundana que temos da morte. Cremos que a morte é um sono do qual somos despertados pelo próprio Senhor. A dor que sentimos ante esta realidade converte-se em esperança quando é posta à luz da ressurreição de Cristo. Para nós cristãos “a vida não é tirada, mas transformada e, enquanto é destruída a morada deste exílio terreno, é preparada uma habitação eterna no céu” (Prefácio dos fiéis defuntos).

O Papa Francisco, ao refletir sobre o tema da esperança cristã, destaca que toda a humanidade irá passar pelos umbrais da morte, e isso não deve nos desesperar, pois em Cristo temos a certeza de que a vida ressurgirá. “Todos nós trilharemos esta vereda. Mais cedo ou mais tarde, mas todos! Com dor, mais ou menos dor, mas todos! No entanto, com a flor da esperança, com aquele fio forte que está ancorado no além. Eis a âncora que não desengana: a esperança da ressurreição. E quem percorreu primeiro este caminho foi Jesus. Nós trilhamos a vereda que Ele já percorreu. E quem nos abriu a porta foi Ele mesmo, Jesus: com a sua Cruz, abriu-nos a porta da esperança, descerrou-nos a porta para entrar no lugar onde contemplaremos Deus” (Homilia, 2 nov. 2016).

E a nós, que nesta vida caminhamos em direção à Jerusalém celeste, cabe lembrar as palavras do Concílio Vaticano II: “Entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, avança, peregrina, a Igreja, anunciando a cruz e a morte do Senhor, até que ele venha. Mas é fortalecida pela força do Senhor ressuscitado, a fim de vencer, pela paciência e pela caridade, suas aflições e dificuldades, tanto internas quando externas, para poder revelar ao mundo o mistério d’Ele, embora entre sombras, porém com fidelidade, até que no fim seja manifestado em plena luz” (Lumen Gentium,8).

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

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O fariseu e o publicano

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

No último domingo, 23, o Papa Francisco refletiu sobre a parábola do fariseu e o publicano. Acompanhemos sua mensagem: “Esta parábola que tem dois protagonistas, um fariseu e um publicano (cf. Lc 18, 9-14), ou seja, um homem religioso e um pecador confesso. Ambos sobem ao templo para rezar, mas só o publicano se eleva verdadeiramente a Deus, porque humildemente desce à verdade de si mesmo e se apresenta como é, sem máscaras, com a sua pobreza. Poderíamos então dizer que a parábola se situa entre dois movimentos, expressos por dois verbos: subir e descer.

No último domingo, 23, o Papa Francisco refletiu sobre a parábola do fariseu e o publicano. Acompanhemos sua mensagem: “Esta parábola que tem dois protagonistas, um fariseu e um publicano (cf. Lc 18, 9-14), ou seja, um homem religioso e um pecador confesso. Ambos sobem ao templo para rezar, mas só o publicano se eleva verdadeiramente a Deus, porque humildemente desce à verdade de si mesmo e se apresenta como é, sem máscaras, com a sua pobreza. Poderíamos então dizer que a parábola se situa entre dois movimentos, expressos por dois verbos: subir e descer.

O primeiro movimento é subir. Na verdade, o texto começa dizendo: ‘Dois homens subiram ao templo para rezar’ (v. 10). Este aspecto recorda muitos episódios da Bíblia, nos quais para encontrar o Senhor se sobe à montanha da sua presença: Abraão sobe a montanha para oferecer o sacrifício; Moisés sobe ao Sinai para receber os mandamentos; Jesus sobe à montanha, onde é transfigurado. Portanto, subir exprime a necessidade do coração de se desligar de uma vida monótona para ir ao encontro do Senhor; de se erguer das planícies do nosso ego para ascender até Deus - livrar-se do próprio eu; de recolher o que vivemos no vale para o levar perante o Senhor. Isto é “subir”, e quando rezamos, ascendemos.

Mas para vivermos o encontro com Ele e sermos transformados pela oração, para nos elevarmos a Deus, precisamos do segundo movimento: descer. Por quê? O que significa isto? Para ascender até Ele devemos descer dentro de nós: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre as nossas fragilidades e as nossas pobrezas interiores. Com efeito, na humildade tornamo-nos capazes de levar a Deus, sem fingimento, o que realmente somos, as limitações e feridas, os pecados, as misérias que pesam sobre o nosso coração, e de invocar a sua misericórdia para que nos cure, nos sare, nos levante. É Ele quem nos ergue, não nós. Quanto mais descermos com humildade, mais Deus nos elevará.

De fato, o publicano na parábola para humildemente à distância (cf. v. 13); não se aproxima, envergonha-se, pede perdão, e o Senhor eleva-o. Ao contrário, o fariseu exalta-se, seguro de si, convencido de que está bem: ali parado, começa a falar apenas de si mesmo ao Senhor, elogiando-se, enumerando todas as boas obras religiosas que pratica, e despreza os outros: “Não sou como aquele ali...”. Porque a soberba espiritual isso faz [...]. Esta é a soberba espiritual: “Estou bem, sou melhor que os outros: isto é a tal coisa, aquele é a outra…”. E assim, sem nos darmos conta, adoramos o nosso eu e cancelamos o nosso Deus. É rodar em volta de si mesmo. É a oração sem humildade.

Irmãos e irmãs, o fariseu e o publicano dizem-nos respeito de perto. Pensando neles, olhemos para nós mesmos: verifiquemos se em nós, como no fariseu, existe ‘a íntima presunção de ser justo’ (v. 9) que nos leva a desprezar os outros. Acontece, por exemplo, quando procuramos elogios e enumeramos sempre os nossos méritos e boas obras, quando nos preocupamos em aparecer em vez de ser, quando nos deixamos apanhar pelo narcisismo e pelo exibicionismo. Vigiemos sobre o narcisismo e o exibicionismo, fundados na vanglória, que também nos leva a nós cristãos, nós sacerdotes, nós bispos a ter sempre uma palavra nos lábios, qual palavra? ‘Eu’ [...]. Assim, faz com que caias até no ridículo.

Peçamos a intercessão de Maria Santíssima, a humilde serva do Senhor, imagem viva do que o Senhor gosta de realizar, derrubando os poderosos dos tronos e elevando os humildes (cf. Lc 1, 52).”

Fonte: www.vatican.va

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Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Com a proximidade do Dia Mundial das Missões, celebrado no próximo domingo, 23, trouxemos para nossa reflexão semanal as palavras do Papa Francisco para esta ocasião. Ao refletir sobre o tema proposto para este ano, “Sereis minhas testemunhas”, o pontífice destaca que faz parte da missão de todos os batizados a responsabilidade de testemunhar Cristo.

Com a proximidade do Dia Mundial das Missões, celebrado no próximo domingo, 23, trouxemos para nossa reflexão semanal as palavras do Papa Francisco para esta ocasião. Ao refletir sobre o tema proposto para este ano, “Sereis minhas testemunhas”, o pontífice destaca que faz parte da missão de todos os batizados a responsabilidade de testemunhar Cristo.

“Uma releitura de conjunto mais aprofundada esclarece-nos alguns aspectos sempre atuais da missão confiada por Cristo aos discípulos: Sereis minhas testemunhas. A forma plural destaca o caráter comunitário-eclesial da chamada missionária dos discípulos. Todo o batizado é chamado à missão na Igreja e por mandato da Igreja: por isso a missão realiza-se em conjunto, não individualmente: em comunhão com a comunidade eclesial e não por iniciativa própria. E ainda que alguém, numa situação muito particular, leve avante a missão evangelizadora sozinho, realiza-a e deve realizá-la sempre em comunhão com a Igreja que o enviou”. E reforça: “Não foi por acaso que o Senhor Jesus mandou os seus discípulos em missão dois a dois; o testemunho prestado pelos cristãos a Cristo tem caráter sobretudo comunitário”.

Outro ponto que Francisco destaca é missão como algo inerente à vida do cristão. “[Os discípulos] são enviados por Jesus ao mundo não só para fazer a missão, mas também e sobretudo para viver a missão que lhes foi confiada; não só para dar testemunho, mas também e sobretudo para ser testemunhas de Cristo. Os missionários de Cristo não são enviados para comunicar-se a si mesmos, mostrar as suas qualidades e capacidades persuasivas ou os seus dotes de gestão. Em vez disso, têm a honra sublime de oferecer Cristo, por palavras e ações, anunciando a todos a Boa Nova da sua salvação com alegria e ousadia, como os primeiros apóstolos”.

“Por isso, na evangelização, caminham juntos o exemplo de vida cristã e o anúncio de Cristo. Um serve ao outro. São os dois pulmões com que deve respirar cada comunidade para ser missionária. Este testemunho completo, coerente e jubiloso de Cristo será seguramente a força de atração para o crescimento da Igreja também no terceiro milênio”. 

Continuando a reflexão o papa destaca o caráter universal da missão dos discípulos, relembrando e incentivando o trabalho missionário de tantos homens e mulheres que ainda hoje são perseguidos por anunciar a palavra da verdade.

“A Igreja de Cristo sempre esteve, está e estará ‘em saída’ rumo aos novos horizontes geográficos, sociais, existenciais, rumo aos lugares e situações humanos ‘de confim’, para dar testemunho de Cristo e do seu amor a todos os homens e mulheres de cada povo, cultura e estado social. Neste sentido, a missão será sempre também missio ad gentes, porque a Igreja terá sempre de ir mais longe, mais além das próprias fronteiras, para testemunhar a todos o amor de Cristo”.

Por fim, o pontífice anima aos que assumem seu lugar na evangelização lembrando que toda ação evangelizadora é animada e sustentada pelo Espírito Santo. “Ao anunciar aos discípulos a missão de serem suas testemunhas, Cristo ressuscitado prometeu também a graça para uma tão grande responsabilidade: Recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas (At 1, 8). Assim começa a era da evangelização do mundo por parte dos discípulos de Jesus, que antes apareciam fracos, medrosos, fechados. O Espírito Santo fortaleceu-os, deu-lhes coragem e sabedoria para testemunhar Cristo diante de todos”.

“Assim, o Espírito é o verdadeiro protagonista da missão: é Ele que dá a palavra certa no momento justo e sob a devida forma. O mesmo Espírito, que guia a Igreja universal, inspira também homens e mulheres simples para missões extraordinárias”.

Fonte: www.vatican.va

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