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Carta às mães

terça-feira, 12 de maio de 2020

Às Mães

Sei que esta carta só vai chegar na segunda-feira em suas mãos, depois da comemoração do seu dia, uma vez que minha coluna é publicada neste dia da semana. Através da homenagem que tenho vontade de fazer, quero abraçar a pessoa que guarda em seu peito o amor maior, o maternal. A quem o faz transbordar todos os dias do ano com generosidade. 

Às Mães

Sei que esta carta só vai chegar na segunda-feira em suas mãos, depois da comemoração do seu dia, uma vez que minha coluna é publicada neste dia da semana. Através da homenagem que tenho vontade de fazer, quero abraçar a pessoa que guarda em seu peito o amor maior, o maternal. A quem o faz transbordar todos os dias do ano com generosidade. 

Certamente, está direcionada às mulheres. Pode ser aos homens, talvez. Provavelmente aos avós. Na verdade, quero reverenciar as pessoas que, por livre arbítrio, decidiram cultivar esta sublime afetividade, entretanto, muitas vezes, difícil de viver. Não restam dúvidas de que o amor é espontâneo, porém experimentá-lo em sua plenitude é uma opção, sempre renovada ao longo dos anos.  

Este é o dia de agradecimento ao seu olhar atento, ao jeito habilidoso que tem nas mãos para fazer, concertar ou ajeitar os tantos objetos e miudezas que fazem parte da vida. Aos modos de nos cuidar. Ah, como as mães penteiam bem e sabem resolver os problemas quotidianos e tantos outros mais complicados. É o dia em que se vai admirar a voz aveludada e firme daquelas pessoas que querem o melhor para uma outra e para a qual fazem o impossível. São mais do que amigas, são mais do que irmãs. São mães. Verdadeiras mestras que carregam em suas células a sabedoria milenar, sendo capazes de notar, num golpe de olhar, sem trisar, o que o semblante do seu filho quer dizer. Que percepção possuem! São como leoas que assistem suas crias e defendem-nas com vigor, tomando providências, das simples às mais extremas, para afastar os riscos que as ameaçam.

Além de serem tomadas pelo sentimento de preservação, até exacerbados, as mães não contam as noites em claro que passaram, acalentando os filhos em seus colos, controlando suas febres e esquentado suas barrigas quando têm cólicas. Em cada esquina, encontramos mães velhas que acolhem filhos grisalhos. Em cada rua, sabemos de mães que cuidam dos netos, até dos bisnetos. Em cada lugar, há mães que veem seus filhos partirem para o universo.    

Neste domingo, quero me lembrar dos primeiros sons que escutei da minha mãe; seus passos, respiração, risos e espirros. Dos sapatos dela que calcei. Das broncas que me deu. Da vida que tivemos. 

Se biológica ou não, mãe se define pelo velar, mesmo que não haja presença física, mas na sensação apaziguadora e confortante que habita no coração de seu filho, dando-lhe a certeza de que onde estiver dele cuidará. Pela pessoa a quem se pode buscar em qualquer hora; nas difíceis e prazerosas, nas arrastadas e movimentadas.

Salve, as mães! Os anjos que nos acolheram para que fôssemos a pessoa que somos. Que encontraram a felicidade em nos criar, apesar do trabalho que demos. Apesar das chaves que perdemos, dos copos que quebramos e das janelas que pulamos.

É tão bom dizer: mamãe.

 

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Textos védicos, antiquíssimos e atuais

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Nestes tempos de pandemia, a literatura tomou conta dos momentos nossos de quietude, e, assim, tive a interessante experiência de voltar a ser ouvinte de histórias. Quando criança eu as escutava de minhas avós, como também nos discos, que me eram colocados em vitrolas antigas. Minha avó Minussa ou Minuça, até hoje não sei se o nome dela era escrito com ç ou ss, contava longas histórias em capítulos, todas as noites, às 20h, na época em que havia “blecaute” (as luzes da cidade do Rio de Janeiro eram desligadas). Eu me sentava com as pernas cruzadas e a escutava a perder o tempo.

Nestes tempos de pandemia, a literatura tomou conta dos momentos nossos de quietude, e, assim, tive a interessante experiência de voltar a ser ouvinte de histórias. Quando criança eu as escutava de minhas avós, como também nos discos, que me eram colocados em vitrolas antigas. Minha avó Minussa ou Minuça, até hoje não sei se o nome dela era escrito com ç ou ss, contava longas histórias em capítulos, todas as noites, às 20h, na época em que havia “blecaute” (as luzes da cidade do Rio de Janeiro eram desligadas). Eu me sentava com as pernas cruzadas e a escutava a perder o tempo.

Com a pandemia, um primo me indicou as histórias védicas, o Mahabharata, contadas em português. São mais de 300 capítulos. Coloquei o fone de ouvido e me pus a escutá-las. E, deste modo, comecei a conhecer a milenar Cultura Védica.

A literatura védica é a primeira do mundo, que foi manuscrita antes da civilização egípcia, grega ou mesopotâmica. Surpreendentemente atuais, seus escritos guardam todos os aspectos da vida, enquanto matemática, física quântica, medicina, arquitetura. As artes e o yoga. Os temas relativos à ciência e a espiritualidade estão contidos nestes manuscritos, como a teoria da relatividade, o cálculo da velocidade da luz, a idade da Terra, a lei do carma, os conceitos de alma e de consciência, a teoria da reencarnação. Dentre outros.

Cientistas, filósofos e estudiosos buscam nesta literatura a exatidão e a perfeição do conhecimento e do pensamento. A leitura dos Vedas expressa a busca da qualidade da consciência que existe em nós porque esses escritos têm a chave da sabedoria. Outras culturas, como a Maia, encontraram fundamentos nesta literatura.

Antes da escrita, os versos védicos eram transmitidos por tradição verbal e foram compilados há mais de cinco mil anos. O Mahabharata é um dos manuscritos, dentre outros que trazem a essência do conhecimento Vedas, escritos em Sânscrito, língua ancestral do Nepal e da Índia.

O Mahabharata contém a tradição, a beleza e as características da civilização védica, que guarda o conhecimento da natureza livre do ser humano, que respeita e valoriza da verdade absoluta, que preconiza a contribuição de cada pessoa para a sociedade e os padrões de comportamento pacíficos e não violentos. Essas histórias revelam a essência do sujeito, enquanto ser completo. Os Vedas propõem um estilo de vida que tem como propósito a maturidade emocional, enquanto resultado do crescimento físico e do cuidado para com a saúde, do domínio sobre si mesmo a partir do entendimento da própria mente, do desapego, do questionamento e do conhecimento puro para que a pessoa possa buscar seus objetivos na vida.

A cultura védica valoriza, enquanto busca pela maturidade emocional, a união entre duas pessoas, ou seja, o casamento, de modo que o prazer e a construção da família sejam preservados.

Escutá-las têm-me sido um aprendizado. Tenho a impressão de que, ao mergulhar na sabedoria milenar, vou começar a me preparar para a próxima vida.

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Toque literário em tom acetinado

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Depois que a pandemia nos tomou de assalto, fazendo o quotidiano entrar em crepúsculo, tirando-nos a possibilidade de uma vida possível e com largas fronteiras, a literatura surge mansamente, fazendo-nos uma visita diária e matinal. Como as ideias não poupam pessoas dotadas de criatividade, Márcia Lobosco, coordenadora e criadora do Clube de Leitura Vivências, nos traz textos literários, contos, crônicas ou poesias.

Depois que a pandemia nos tomou de assalto, fazendo o quotidiano entrar em crepúsculo, tirando-nos a possibilidade de uma vida possível e com largas fronteiras, a literatura surge mansamente, fazendo-nos uma visita diária e matinal. Como as ideias não poupam pessoas dotadas de criatividade, Márcia Lobosco, coordenadora e criadora do Clube de Leitura Vivências, nos traz textos literários, contos, crônicas ou poesias.

Cada uma das participantes do Clube escolhe e lê um texto em voz alta pelo áudio do WhatsApp. Diariamente, um toque literário vem a nós, através das vozes das participantes do Clube, tão bem cuidadas, que chegam a ganhar tons acetinados.

Dia a dia, a novidade vai se tornando rotina. Rotina macia e terna. Acolhedora. Quando o relógio vai chegando perto das dez horas, todas do Clube já se preparam para sentir a literatura invadir a alma através de uma voz conhecida e amiga. Quem vai ler hoje? Qual autor escolhido? Que texto será? O tempo que antecipa à leitura é marcado por perguntas. É uma sensação que nos leva à infância ante os presentes colocados na árvore de natal que gerava uma curiosidade sem fim. Ah, a surpresa era uma das melhores sensações que o presente poderia nos oferecer.

Nestes tempos de pandemia, principalmente para os que fazem parte dos grupos de risco, que ficam aquietados em seus cantos, este breve momento surge como um brinde à vida. Durante os poucos minutos em que um texto é lido, na voz de alguém, que tão bem conhecemos o formato das mãos e a cor dos olhos, tudo é esquecido. As preocupações se esvaziam e ficamos como sentados na beira da calçada, admirando e refletindo a respeito do sentido das palavras escutadas, se em prosa ou em verso.

Depois daquele momento acetinado, o dia, para cada uma de nós, ganha uma cor, com tonalidade reforçada pelos comentários, reflexões, trocas de impressões. E, assim, recebemos um toque de suavidade e de presença de pessoas amigas, mesmo que de modo virtual.

A Academia Friburguense de Letras, por iniciativa do nosso mestre maior, Robério José Canto, vai adotar a leitura, como forma, também, de propiciar aos acadêmicos fazerem uma visita literária entre si. Será mais uma conversa literária entre bons amigos.    

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Nesta Páscoa

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Sentimento urgente

                                              Clarice Linspector

Saudade é um pouco como fome
Só passa quando se come a presença
Mas, às vezes, a saudade é tão
profunda que a presença é pouco
Quer-se absorver a outra pessoa toda
Essa vontade de um ser o outro para
uma unificação inteira
É um dos sentimentos mais
urgentes que a vida tem

 

Sentimento urgente

                                              Clarice Linspector

Saudade é um pouco como fome
Só passa quando se come a presença
Mas, às vezes, a saudade é tão
profunda que a presença é pouco
Quer-se absorver a outra pessoa toda
Essa vontade de um ser o outro para
uma unificação inteira
É um dos sentimentos mais
urgentes que a vida tem

 

Escrevo esta coluna no domingo de Páscoa, inspirada pela poesia de Clarice, a sábia escritora nossa, brasileira. A saudade sobrevoa este dia, marcado pelo isolamento que abraça nossos sentimentos.

O Covid 19 está mudando o mundo, reafirmando o movimento da vida que vai se fazendo e refazendo ao acontecer, se esperado ou não. O acontecer desta Páscoa foi inesperado e exigiu o distanciamento entre pessoas como forma de preservar a vida e como expressão do desejo que o outro sobreviva ao Corona vírus, esta terrível ameaça viral. Ah, como este sentimento diferente nos invadiu ante a impossibilidade de participar daqueles momentos de encontro presenciais entre familiares e amigos, característicos desta época do ano. A distância se tornou a possibilidade de amar e respeitar.

Mas não deixou de haver a aproximação virtual entre as pessoas, tão afetiva, quanto a presencial. Se, ao mesmo tempo, o sentimento de tristeza e vazio tomou conta de nós, a sensação de enternecimento preencheu a ausência, através das mensagens e conversas.

O prazer de saborear o chocolate não foi maior do que a responsabilidade de preservar a saúde. Amanhecemos neste domingo de Páscoa, pensando em todos que não estão presentes e tudo o que vivenciarmos terá o sabor da falta.

Sei que esta coluna está triste. Mas faço questão de terminá-la com um toque de esperança, acenando a bandeira branca e orando o Pai Nosso, traduzido do aramaico, que está escrito numa pedra de mármore branca, no Monte das Oliveiras, em Jerusalém.

 

Pai-Mãe, respiração da vida,
Fonte do som, ação sem palavras, Criador do Cosmos!
Faça sua Luz brilhar dentro de nós, entre nós e fora de nós
Para que possamos torná-la útil.

Ajude-nos a seguir nosso caminho,
Respirando apenas o sentimento que emana do Senhor...

... Nosso Eu, no mesmo passo, possa estar com o Seu
Para que caminhemos como Reis e Rainhas
Com todas as outras criaturas.
Que o Seu e o nosso desejo, sejam um só, em toda a Luz,
Assim como em todas as formas, em toda existência individual,
Assim como em todas as comunidades...

... Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós,
Pois, assim, sentiremos a Sabedoria que existe em tudo.
Não permita que a superficialidade
E a aparência das coisas nos iluda,
E nos liberte de tudo aquilo que impede nosso crescimento...

... Não nos deixe ser tomados pelo esquecimento
De que o Senhor é o Poder e a Glória do mundo,
A canção que se renova de tempos em tempos e que a tudo
embeleza.

Possa o Seu amor ser o solo onde crescem nossas ações.

Que assim seja

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Reflexões sobre o tempo

segunda-feira, 06 de abril de 2020

Com a tão repentina chegada do Corona Vírus, as paredes serenam e não mais limitam a vontade irresistível de ultrapassá-las. Aos poucos, vão se tornando resignadas companheiras durante o isolamento, ficando solidárias a este modo de estar solitário. Tão silenciosas como o tempo que circula entre elas, que não mais transpassa suas estruturas rígidas, deixando pensamentos, emoções e afazeres bailarem nos espaços vazios. O tempo se torna inexistente como, de fato, é. A quietude das paredes, então, passa a mostrar a verdade que as pessoas fazem questão de não perceber: o tempo não existe.

Com a tão repentina chegada do Corona Vírus, as paredes serenam e não mais limitam a vontade irresistível de ultrapassá-las. Aos poucos, vão se tornando resignadas companheiras durante o isolamento, ficando solidárias a este modo de estar solitário. Tão silenciosas como o tempo que circula entre elas, que não mais transpassa suas estruturas rígidas, deixando pensamentos, emoções e afazeres bailarem nos espaços vazios. O tempo se torna inexistente como, de fato, é. A quietude das paredes, então, passa a mostrar a verdade que as pessoas fazem questão de não perceber: o tempo não existe.

Aristóteles afirmou que o homem precisou criar os calendários, as horas e os minutos para evitar o caos, mas os animais não usam relógios porque não sentem necessidade em organizar seus dias; eles o vivem. Ah, os pirilampos ficam fosforescentes ao anoitecer e não precisam de alarmes que lhes avisem que está na hora de se apagarem; o nascer do sol lhes é suficiente. As cigarras, ao sentirem o calor do verão, cantam operetas nas árvores. A Dama-da-Noite exala perfume quando as estrelas enfeitam o céu.

Esse vírus nos fez retirar a palavra tempo do vocabulário porque agora sentimos o jeito dos momentos pelo o que sentimos e fazemos. Para alguns pode ter o ritmo do sapateado, para outros o som do canto do rouxinol. Ainda há quem sinta o sabor do azedo quando o vivenciam. A vida se realiza no vai e vem do acontecer, como a espuma do mar que desaparece na areia. Nada se repete e tudo se faz de novo. Acordamos para um amanhecer diferente e nunca comemos a mesma torta de maçã.

A vida acontece do brilho da lua cheia ao quarto minguante, como a gota d´água que brota na nascente e rio abaixo vai, deslizando em corredeiras, despencando em cachoeiras, batendo em pedras, descansando em poços. Até no mar desaguar. 

A ciranda da vida roda sem pedir consentimentos. Cada um vai sendo e fazendo sua história. Com o gosto de mel ao de fel, cada um vai regando suas hortas, trabalhando nas colheitas, temperando e degustando as refeições.

O covid 19 nos mostra que em qualquer instante pode haver uma caixa de surpresa. Nestas épocas de pandemia, quando a tampa abriu, escutamos os ruídos do trovão. Mas, amanhã, queremos ver os raios de sol.  


 

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Assim não dá para continuar

segunda-feira, 30 de março de 2020

Faz tempo que li o Ponto de Mutação (1982), de Fritjof Capra, filósofo e
escritor austríaco. Também autor de O Tao da Física (1975). Eu me lembro
que, na época, o livro, bastante debatido pelas suas inéditas ideias, aborda as
mudanças intensas que o planeta vem sofrendo. Sua obra é influenciada pelo I
Ching, O Livro das Mutações, que descreve, através dos oráculos, a dinâmica
entre Yang e Yin. A força da energia de yang, o masculino e ativo, certamente
muito mal utilizada, construiu os métodos de dominação e exploração que

Faz tempo que li o Ponto de Mutação (1982), de Fritjof Capra, filósofo e
escritor austríaco. Também autor de O Tao da Física (1975). Eu me lembro
que, na época, o livro, bastante debatido pelas suas inéditas ideias, aborda as
mudanças intensas que o planeta vem sofrendo. Sua obra é influenciada pelo I
Ching, O Livro das Mutações, que descreve, através dos oráculos, a dinâmica
entre Yang e Yin. A força da energia de yang, o masculino e ativo, certamente
muito mal utilizada, construiu os métodos de dominação e exploração que
devastam o planeta e reprime o Yin, o feminino, criativo e intuitivo. Tal dinâmica
estruturou um modo de pensar que provocou o desmatamento, a poluição, a
escravidão humana e animal. O momento que vivemos hoje, marcado pela luta
do mundo contra um microscópico organismo, o coronavírus, o Covid 19, está
fazendo com que as cidades do planeta parem e as pessoas se recolham, é
decorrente deste modo de conceber a vida humana na Terra.
Mais do que nunca, acima de divergências políticas, interesses
econômicos e guerras, este minúsculo vírus exige uma ação conjunta de todos
os povos para eliminar a sua ação devastadora, que coloca em risco a
existência humana no planeta, principalmente a dos idosos.
A compreensão da vida requer uma perspectiva ampla. Entretanto, hoje,
este entendimento tende a ser simplificado e repartido. A força da modernidade
nos induz a tê-lo, mesmo que seus propósitos, veiculados pelos quatro cantos
da Terra, ainda possam ser divergentes desta premissa. O planeta, os povos, a
natureza são indissociáveis; tudo está intimamente interligado. Nada é
individualizado; tudo está suscetível à dinâmica do todo, fazendo-se necessário
conhecer profundamente as formas de existências físicas e naturais em sua
totalidade.
Hoje, caminhando pela mata, o pensamento de Capra me fez pensar nos
modos como a natureza vem preservando a vida há milhares de anos. A
natureza sabe proteger cada vida sua. É sábia quando a folha de uma árvore
não cai imediatamente no solo quando morre; há um tempo para se desprender
do galho e tombar no chão. Por sua vez, a terra a absorve, deixando-se

adubar. Os frutos são comidos pelos passarinhos, cujas sementes, através das
fezes, germinam o solo. Cada gota de orvalho umedece a terra, penetra no
solo e alimenta o lençol freático. As matas ciliares protegem os rios, enquanto
suas águas regam a vegetação que as protegem. O bater das asas de uma
borboleta interfere em todo o ambiente natural. Tudo tem sentido e harmonia.
A natureza é de uma imensa simplicidade. Porém conhecê-la decorre de
um saber sofisticado que tem por finalidade exercer interferências na política,
na economia e nos modos de viver dos povos. É um domínio intelectual que,
de todo e qualquer modo, tem de estar voltado para o bem-estar da população.
E nem sempre isso acontece.
A construção deste saber é responsabilidade das ciências. É dos
governantes o compromisso para com ações respeitosas, sejam políticas,
econômicas, ideológicas ou religiosas. Cabe a cada um dos habitantes da
Terra a preservação da vida, seja humana, animal e vegetal. Inclusive a dos
seres brutos, como as montanhas e rochas.
Infelizmente, a vida humana do planeta ainda não está educacionalmente
preparada para adequar-se à natureza que o acolhe. Certamente, este
momento será um aprendizado. Além de sofrido, custará a vida de muitos,
especialmente daqueles que ainda possuem uma experiência e um saber a
transmitir aos mais novos.
Inesperadamente, o momento de mutação invadiu os horizontes. Ao
admirar um passarinho pousar numa exuberante folha de uma samambaia do
mato, entendi que o surgimento deste vírus é mais uma sábia maneira da
natureza nos dizer que assim não dá para continuar.
Salve Fritjof Capra!

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É tempo de mudar a roupa

terça-feira, 24 de março de 2020

A letra da música O Dia Em Que a Terra Parou, mesmo sendo veiculada pelos quatro cantos da internet, nos oferece motivos para refletir. Escrita em 1977, há 33 anos, Raul Seixas, por quem tenho admiração, principalmente pela inteligência e sagacidade, descreveu o momento em que vivemos, sem atribuir a um vírus, o COVID-19, a causa de fazer o mundo parar. Da criatividade à premonição, da vidência à profecia, não há como determinar porque nosso músico-poeta criou essa obra.

A letra da música O Dia Em Que a Terra Parou, mesmo sendo veiculada pelos quatro cantos da internet, nos oferece motivos para refletir. Escrita em 1977, há 33 anos, Raul Seixas, por quem tenho admiração, principalmente pela inteligência e sagacidade, descreveu o momento em que vivemos, sem atribuir a um vírus, o COVID-19, a causa de fazer o mundo parar. Da criatividade à premonição, da vidência à profecia, não há como determinar porque nosso músico-poeta criou essa obra.

Entretanto, a ideia de versatilidade me toma a atenção. Neste momento, em que todos precisam respeitar o isolamento social, ficando em suas casas, a pluralidade de interesses e de capacidades se tornam características relevantes à personalidade das pessoas.

Foi decidido que todos devem se aquietar em seu canto por um tempo, provavelmente longo. Fala-se em seis meses. Ou quatro. Que sejam três; de noventa a cento e oitenta dias. De 2.210 horas a 4.420 horas, mais precisamente. Ah, como será preciso buscar o bem-estar nesse tempo e encontrar formas de torná-lo útil. Não há receitas para sugerir o que as pessoas devem fazer; cada um tem de buscar outros modos de fazer o dia.  

Resolvi pesquisar em Freud algumas ideias, especificamente na obra O Mal-Estar na Civilização. A primeira que achei, em apenas o virar de uma página, foi a de que é saudável expandir a capacidade de observar o mundo que nos cerca; olhar para as estrelas, reparar no verde da natureza, até no formato das unhas das mãos. Tudo pode nos sugerir pontos de partida para o restabelecimento de uma rotina diferente.

Estamos acostumados com a ordem o que nos impele à repetição de hábitos; como, onde e quando as coisas devem ser feitas, evitando ao máximo as oscilações e hesitações. Estou acostumada a fazer o café numa cafeteira de ágata azul. Se não for exatamente nesta minha cafeteira, vou estranhar, a ponto de prejudicar o prazer que tenho em fazê-lo e saboreá-lo. 

A organização de vida em determinados padrões é benéfica, confortável e segura, além de poupar energias físicas e psíquicas. Quem gosta de lidar com dificuldades? A sociedade nos exige e nos educa para que não sejamos negligentes e que respeitemos modelos que prezam pela limpeza, pela beleza e pela organização. Imagine um saguão de um edifício comercial com quatro portas de elevador que transportam cem pessoas ou mais, num espaço de dez minutos. Se não houver filas organizadas, haverá o caos, empurra-empurra, brigas e outras situações estressantes.

Quem vai afirmar que as filas não são importantes? 

Entretanto, agora, com este vírus que pegou o mundo desprevenido, precisamos buscar outras formas de viver em nossos cantos. De fazer novas filas. Vamos reconfigurar este nosso lugar delimitado para passarmos um tempo. Além do que, teremos a oportunidade para descobrirmos um pouco melhor quem somos e como queremos viver os dias que temos pela frente.

Sei que será preciso ter abertura de pensamento e curiosidade aguçada para construirmos diferentes modos de colocar nossa vida em prática. Agora não é época para teorias e divagações. É, sim, um tempo de mudar a roupa. 

Deixo, para terminar, a letra da música do nosso Raul, O Dia em que a Terra Parou. Como todas suas obras, cada verso contém uma riqueza de ideias extravagantes. Mas a vida é assim.

 

Essa noite eu tive um sonho

De sonhador

Maluco que sou, eu sonhei

Com o dia em que a Terra parou

Com o dia em que a Terra parou

 

Foi assim

No dia em que todas as pessoas

Do planeta inteiro

Resolveram que ninguém ia sair de casa

Como se fosse combinado em todo

O planeta

Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém

 

O empregado não saiu pro seu trabalho

Pois sabia que o patrão também não tava lá

Dona de casa não saiu pra comprar pão

Pois sabia que o padeiro também não tava lá

E o guarda não saiu pra prender

Pois sabia que o ladrão, também não tava lá

E o ladrão não saiu pra roubar

Pois sabia que não ia ter onde gastar

No dia em que a Terra parou (êê)

No dia em que a Terra parou (ôô)

No dia em que a Terra parou (ôô)

No dia em que a Terra parou

 

E nas igrejas nenhum sino a badalar

Pois sabia que os fiéis também não tavam lá

E os fiéis não saíram pra rezar

Pois sabiam que o padre também não tava lá

E o aluno não saiu pra estudar

Pois sabia que o professor também não tava lá

E o professor não saiu pra lecionar

Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

 

No dia em que a Terra parou (ôôô)

No dia em que a Terra parou (ôôô)

No dia em que a Terra parou (uuu)

No dia em que a Terra parou

 

O comandante não saiu para o quartel

Pois sabia que o soldado também não tava lá

E o soldado não saiu pra ir pra guerra

Pois sabia que o inimigo também não tava lá

E o paciente não saiu pra se tratar

Pois sabia que o doutor também não tava lá

E o doutor não saiu pra medicar

Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

 

No dia em que a Terra parou (oh, heah)

No dia em que a Terra parou (ôôô)

No dia em que a Terra parou (eu acordei)

No dia em que a Terra parou (acordei)

No dia em que a Terra parou (justamente)

No dia em que a Terra parou (eu não sonhei acordado)

No dia em que a Terra parou (êêê)

No dia em que a Terra parou

No dia em que a Terra parou

 

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A intimidade de uma reflexão

segunda-feira, 16 de março de 2020

O poeta Solidade Lima, vencedor por duas vezes, na categoria poesia, do
Concurso de Literário Nacional Julio Salusse da Academia Friburguense de
Letras, nas 4ª. e 5ª. edições, em 2017 e 2018 respectivamente. Em 2020,
muito nos honra ter conhecimento de que Solidade foi vencedor do XVIII
Prêmio Nacional Fritz Teixeira Salles de Poesia, da Fundação Cultural Pascoal
Andreta, Monte Sião, Minas Gerais, com o poema A Íntima Chama.
Solidade Lima é amigo da nossa Casa, presente no grupo de amigos da
AFL no whatsApp.

O poeta Solidade Lima, vencedor por duas vezes, na categoria poesia, do
Concurso de Literário Nacional Julio Salusse da Academia Friburguense de
Letras, nas 4ª. e 5ª. edições, em 2017 e 2018 respectivamente. Em 2020,
muito nos honra ter conhecimento de que Solidade foi vencedor do XVIII
Prêmio Nacional Fritz Teixeira Salles de Poesia, da Fundação Cultural Pascoal
Andreta, Monte Sião, Minas Gerais, com o poema A Íntima Chama.
Solidade Lima é amigo da nossa Casa, presente no grupo de amigos da
AFL no whatsApp.

Nosso poeta fez em a A Íntima Chama uma viagem ao seu interior. Com
essa poesia fui até o âmago da minha existência e abracei meus medos e
incertezas. Acredito que este percurso seja um dos maiores desafios de
qualquer vivente, cujo espírito está revestido por um corpo; a pele tem paredes
rígidas. Queremos, pois, a liberdade plena que vai além dos limites corporais;
possivelmente sejamos um espírito em experiência corpórea, o que nos faz
ansiar pela ausência de restrições. Além do mais, somos, sem dúvidas, o mais
imperfeito dos seres; enquanto inacabados, desejamos atingir a beleza, a
perfeição e a plenitude nos modos de ser e fazer. Como as experiências que
temos estão aquém das expectativas, esmiuçamos nossos ossos, conforme ele
disse, para compreender o hiato que sentimos diante de tudo; somos feitos de
hiâncias. Talvez, por isso, fazemo-nos escritores e produzimos, quase sempre,
ao nosso pequeno modo de olhar, o melhor dos textos. Construímos literatura
com primor para termos a sensação de que, pelo menos nas palavras,
conseguimos vislumbrar o nirvana idealizado.
Esta viagem provoca o encontro entre o sujeito, sujeitado que é, quem
gostaria de ser, como é percebido pelos outros e concebido pelo grande Outro.
É uma viagem, se espontânea ou não, que causa uma surpreendente
exposição da pessoa a si mesmo. Se amarga? A realidade objetiva apresenta a
verdade, e, por vezes, não queremos encará-la. Mas é uma reflexão
necessária para conseguirmos viver mais um dia. Para termos mais um
amanhã. Um modo de nos socorrermos? De nos salvarmos? Não mais do que

um esforço para aceitarmos os frágeis amores em tardes de céu azul. E como
temos momentos assim; ninguém é bela da tarde por longo tempo. Ah, como
precisamos nos esforçar para compreender nossas tantas e estranhas
metáforas.

Vivemos uma vida para conquistarmos certezas, já que a única que temos
é a morte; somos efêmeros e não admitimos sê-lo. Ninguém nos entende mais
do que nós, e quanto mais nós nos buscamos na vida, mesmo sentados na
varanda, observando-a passar, melhor nos conhecemos. Por isso precisamos
que uma íntima chama ilumine nossos tortuosos caminhos.

Deixo a vocês a profunda poesia de Solidade Lima para que possam se
adentrar. Sem medo e pudor.

Também um abraço em nosso amigo poeta.

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Modos diferentes de ser e de fazer

segunda-feira, 09 de março de 2020

Nesta coluna dou prosseguimento à anterior, em que abordei questões relevantes sobre a leitura e o saber. Na essência destas questões se encontram as diferenças entre a literatura e a pedagogia, que têm enfoques distintos e bem delimitados. Não é incomum haver uma percepção que venha a confundi-las. Eu mesma já pensei que a pedagogia e a literatura se fundiam em alguns momentos, entretanto, ao longo dos meus estudos, constatei que, caso isto aconteça, ambas correm o risco de perder o foco.

Nesta coluna dou prosseguimento à anterior, em que abordei questões relevantes sobre a leitura e o saber. Na essência destas questões se encontram as diferenças entre a literatura e a pedagogia, que têm enfoques distintos e bem delimitados. Não é incomum haver uma percepção que venha a confundi-las. Eu mesma já pensei que a pedagogia e a literatura se fundiam em alguns momentos, entretanto, ao longo dos meus estudos, constatei que, caso isto aconteça, ambas correm o risco de perder o foco.

Gosto de definir a pedagogia por Emile Durkheim, sociólogo inglês, que concebe a educação como um ato intencional, através do qual uma geração adulta prepara uma outra, mais nova, para a vida coletiva, socializando-a. Ou por Dermeval Saviani, educador brasileiro, que define o trabalho educativo como um ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens.

O fazer literário, por sua vez, segundo Fernando Pessoa, escritor e filósofo português, é um modo de esquecer a vida, apesar de simulá-la. Oscar Wilde, escritor irlandês, a avalia como uma forma de moldar os fatos aos desígnios do escritor. E Jorge Luiz Borges, escritor argentino, afirma que a literatura é feita de sonhos, os quais se fazem através da combinação de ideias e de recordações.

Seus fundamentos são essencialmente diferentes. A literatura é arte e não tem a intenção de ensinar; o pensamento pedagógico não se estabelece no devaneio. Entretanto são complementares. A literatura enriquece o pedagógico, e o pedagógico oferece meios ao escritor para criar e produzir textos em diversos estilos literários, como também ao leitor para ler, interpretar e adquirir conhecimentos, para interagir e transformar o ambiente e os próprios modos de viver.

As cartilhas são livros de cunho pedagógico. Possuem conteúdos didáticos e são utilizadas facilitar e fixar a aprendizagem. Hoje são usadas nos programas de educação de pessoas portadoras de doenças, como o Diabetes, com a finalidade de empoderar os pacientes, promover a autogestão e os cuidados com a saúde. Na pedagogia tradicional são comumente utilizadas.

Os livros de literatura, como os de poemas e de poesias, servem para tocar a alma do leitor de modo a despertar reflexões e sentimentos. São elaborados com sensibilidade e revelam o olhar do escritor para o mundo. 

Esta coluna para mim é esclarecedora. Aliás sempre me utilizo deste espaço para pesquisar e tirar dúvidas ou algum resto de incerteza que fica serpenteando meus pensamentos sobre o ser e o fazer literário. Mas acredito que esta questão, disparada na semana passada pela escola de samba Império da Tijuca, sugerida pela Gerda, uma querida amiga, seja a de alguns leitores e fazedores de literatura que não sejam conhecedores das letras com maior profundidade.

Ah, a literatura e a pedagogia não se fazem de qualquer forma. São criteriosas.

 

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Uma pérola do carnaval de 2020

segunda-feira, 02 de março de 2020

Uma querida amiga do Clube de Leitura Vivências divulgou no nosso grupo do WhatsApp que a escola de samba Império da Tijuca apresentou, neste ano de 2020, o tema “Quimeras de um eterno aprendiz” em que, através das cores verde e branco, defendeu a tese de que a leitura e o saber promovem a transformação. Eu me emocionei com a letra do samba enredo porque  considero que a literatura e a educação são meios de crescimento e de difusão do conhecimento.

Uma querida amiga do Clube de Leitura Vivências divulgou no nosso grupo do WhatsApp que a escola de samba Império da Tijuca apresentou, neste ano de 2020, o tema “Quimeras de um eterno aprendiz” em que, através das cores verde e branco, defendeu a tese de que a leitura e o saber promovem a transformação. Eu me emocionei com a letra do samba enredo porque  considero que a literatura e a educação são meios de crescimento e de difusão do conhecimento.

A letra brilhou diante dos meus olhos quando diz que os livros contêm páginas de esperança na medida em que iluminam a travessia do aprendiz. Quem lê se veste de fé e coragem para conquistar um novo dia e lutar pelo seu país. Nos livros, a ciência brota como uma deusa da inteligência, das narrativas e das emoções. A literatura e a educação deveriam estar vivas e por toda a parte. Não ser apenas um sonho.

Em estado de encantamento, fui buscar minhas anotações sobre o tema que fiz durante cursos, seminários e palestras que assisti. Então, aqui faço questão de mostrar alguns registros que me são verdadeiras relíquias.

O primeiro deles é que todos têm direito à leitura, e o livro deve ter importância na família, na escola e na sociedade. A desvalorização da literatura minimiza o nível de qualidade de vida de um povo e acontece quando as obras que possibilitam a abordagem de questões significativas à formação da cidadania crítica, à compreensão do outro, ao entendimento dos povos e à apreensão dos valores culturais ficam esquecidas.

A literatura é a arte que testemunha a existência humana e sua aventura através dos tempos. Enquanto arte, utiliza-se de uma linguagem literária elevada a seu potencial máximo. Ao possuir o compromisso de olhar a vida através da palavra, além de ter pluralidade de significantes e significados, expressa a perplexidade que o escritor sente diante do mundo.

O primeiro critério da literatura é a qualidade de vida. Mesmo sendo a qualidade um critério subjetivo, tanto no plano individual, como no coletivo, a literatura se revela quando é construída com beleza e originalidade. Tanto é que um livro de qualidade literária permanece vivo na dimensão tempo-espacial. Sua perenidade indica que o leitor gosta de se apropriar de obras de qualidade e delas se beneficiar.

O livro é fonte suprema de alimentação do saber e de descobertas, possibilitando o despertar do indivíduo e do profissional, bem como a formação do cidadão. Deve ter, portanto, espaço privilegiado na família, na escola e em diversos âmbitos da sociedade. São espaços que precisam ser abastecidos de livros. Especialmente a escola, que deve cuidar de uma biblioteca rica de livros de vários gêneros literários e para todas as idades.

Quando a escola ensina o aluno a ler, está favorecendo o diálogo dele com o mundo, criando maneiras de estabelecer formas de inserção entre a vida de dentro de sala de aula com a vida fora da escola. Ou seja, a leitura é uma atividade de interseção.

Tendo a escola a função dar condições ao aluno para poder sonhar, através do vislumbre de perspectivas concretas, encontra nos livros recursos eficientes para promover o desenvolvimento de aprendizagens capacitadoras. 

Para finalizar, deixo aqui a letra do samba enredo do Império da Tijuca, que considero uma pérola do carnaval de 2020.

 

Letra

Eu, sou a luz no breu

A transformação, o conhecimento

Páginas que enchem de esperança

Mudança escrita no tempo

Vento leva meu desejo de bravura

Quero ser a armadura da leitura e do saber

Mesmo andarilho, estandarte

Retirante da arte

A quimera em você

 

Pelo rio navega, mero aprendiz

É a fé que me leva pelo meu país

Construindo exemplo, o milagre contempla

Porque ainda é tempo de final feliz

 

Nativa ciência

Floriu em livros a ciência

No livro é deusa da inteligência

De narrativas, emoções

Pequenas tiras entre praças e canções

O samba é sabedoria

No morro Formiga, minha inspiração

Enredo de bordado no verde do meu pavilhão império

Tantas vezes eu fui companheiro

Hoje, fiel escudeiro no sonho por mais educação

 

Vamos nos dar as mãos, seguindo na luta

Brilha a coroa, isso é Império da Tijuca

Já clareou novo dia

Minha alma é poesia

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