Datas memoráveis

Robério Canto

Escrevivendo

No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

terça-feira, 04 de outubro de 2022

O Brasil, onde o que não falta é criatividade para inventar besteira

Eu não me canso de ouvir no rádio, toda manhã, a que ou a quem aquele dia é dedicado. E uma vez que inutilidade também é cultura, não custa você ficar sabendo essas coisas. Afinal, como dizia minha mãe, saber não ocupa lugar. Assim sendo, no desejo de colaborar com a erudição do prezado leitor e da não menos prezada leitora, trago valiosas informações a respeito de algumas dessas efemérides, se me permitem usar a palavra “efeméride”, por ser a mais compatível com a dignidade do assunto.

Tem, por exemplo, o Dia Nacional do Adulto, destinado a criar mais uma oportunidade de bons negócios para o comércio. Acho que a ideia não pegou porque talvez as crianças quisessem dar presentes em retribuição aos que costumam ganhar em 12 de outubro, mas para isso precisariam pedir dinheiro aos próprios adultos, e ninguém gosta de pagar para ser homenageado. O que me lembra aquela anedota em que Napoleão Bonaparte vai a uma cidadezinha, onde é ricamente recebido:  festas, vinhos, banquetes.  Na despedida, o prefeito lhe pede dinheiro, alegando que está com o baú vazio. O imperador lhe pergunta então como pode a cidade estar falida, se haviam gasto uma fortuna para recebê-lo. Ao que o sensato burgomestre responde: “Majestade, não fizemos mais do que devíamos, mas devemos tudo que fizemos”.

Não falta o Dia Estadual do Samurai (que não é no Japão, e sim em Santa Catarina), nem o Dia Municipal do Orgasmo, na orgíaca cidade de Esperantina, no Piauí. Mas não só o brasileiro gosta de safadeza. Nos Estados Unidos, por exemplo, tem o Dia da Masturbação, oficializado na época da Aids, com a santa intenção de incentivar as pessoas mais necessitadas a evitarem sexo promíscuo e assim escaparem da doença. E é lá que se comemora o Dia Mundial do Disco Voador, não faltando americano que jura de pés juntos já ter visto mais de um alienígena e até mesmo ter sido abduzido, dado umas voltas pelo universo e gentilmente deixado de volta na porta de casa.

Retornando ao Brasil, onde o que não falta é criatividade para inventar besteira, encontramos o Dia da Injustiça, enquanto vamos sonhando com o dia da justiça, que tanto demora a chegar. Por fim, para não alongar a lista interminavelmente, temos o Dia Municipal da Luta de Braço, criado pela laboriosa Câmara de Vereadores de Belo Horizonte, para valorizar a conhecida “queda de braço”, popular não só na capital mineira, mas nos botequins de todo o Brasil.

Vai ver que é justamente por falta de informação que você tem trabalhado no 10 de agosto, estando desobrigado dessa canseira, por se tratar do Dia Internacional da Preguiça. Macunaíma, “o herói da nossa gente”, era tão preguiçoso que levou seis anos para falar, e a primeira frase que disse foi “Ai, que preguiça!” Se não é bem assim, os leitores de Mário de Andrade que me corrijam. Apesar do bom exemplo macunaímico, o brasileiro trabalha pelo menos 44 horas semanais, enquanto um holandês não fica no batente nem 30 horas. Pra ser sincero, os europeus são um bando de preguiçosos, senão, vejamos: dinamarqueses, 32, noruegueses, suíços, austríacos, belgas, italianos, irlandeses, suecos e finlandeses, entre 34 e 35 horas. O que nos consola é saber que os colombianos encaram 47 horas semanais e, lá como cá, como diria o professor Raimundo, o salário: oh! 

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No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

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