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Agir com misericórdia

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Aproxima-se o fim de mais um ano e a abertura de mais um ciclo em nossas vidas. Todo recomeçar é permeado da esperança de que tudo será diferente. No entanto, está sob nossa responsabilidade fazer construir essa nova realidade. Diante de tudo o que vivemos em 2021, é desejo comum que em 2022 sejamos promotores de humanidade. Assim, é urgente que a misericórdia ocupe o primeiro lugar em nossas atitudes.

Aproxima-se o fim de mais um ano e a abertura de mais um ciclo em nossas vidas. Todo recomeçar é permeado da esperança de que tudo será diferente. No entanto, está sob nossa responsabilidade fazer construir essa nova realidade. Diante de tudo o que vivemos em 2021, é desejo comum que em 2022 sejamos promotores de humanidade. Assim, é urgente que a misericórdia ocupe o primeiro lugar em nossas atitudes.

Na bula de proclamação do Ano Santo da Misericórdia (2015-2016), o Santo Padre convocou toda a Igreja para ser sinal eficaz do agir de Deus Pai. Somos chamados a testemunhar a misericórdia de Deus por toda a humanidade. Não é aleatória a escolha deste tema na era em que vivemos. O mundo está necessitado de misericórdia, a humanidade está necessitada de compaixão.

Como um pastor que conduz seu rebanho, o Papa Francisco encaminha toda sua grei às entranhas da misericórdia de Deus. Ele traça com clareza o caminho que devemos seguir, mostra-nos necessitados da misericórdia, evidencia exemplos, ensina-nos a ver a misericórdia divina que toca nossa humanidade e nos faz relembrar como deve ser o agir de um verdadeiro cristão.

O Sumo Pontífice faz-nos perceber que somos necessitados da misericórdia de Deus. Já em sua primeira missa com o povo (17 de março de  2013), o Santo Padre diz que o primeiro passo para experimentar a misericórdia é reconhecer que somos necessitados dela. Somos homens feridos pelo pecado. Sabemos escolher entre o bem e o mal, mas devido a nossa fraqueza escolhemos o mal. E esta realidade acrescenta-se à ideia de que nosso pecado não pode ser perdoado. Falta-nos a experiência concreta da misericórdia. “(...) é triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais” (Misericordiae vultus, 10).

Nosso agir, por vezes, se aproxima do “servo sem compaixão” (Mt 18,22), que tendo sido perdoado de uma alta dívida foi incapaz de perdoar a pequena parcela de seu devedor. Afirma, categoricamente, o Santo Padre que a misericórdia não pode ser compreendida por nós só como a agir do Pai, mas é um dever para nós cristãos. “Somos chamados a viver a misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para conosco” (idem, 9). Assim, por termos experimentado a misericórdia divina, somos impelidos a expressá-la em nosso agir.

Façamos com que este próximo ano seja marcado pela misericórdia, estando atentos às dores de nossos irmãos, às suas necessidades mais urgentes, partilhando como verdadeiros irmãos e fazendo acontecer a paz, igualdade e fraternidade.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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“O povo que andava na escuridão viu uma grande luz” (Is 9,1)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

“A Palavra eterna se fez pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Se fez criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré” (Bento XVI, Verbum Domini, 12).

“A Palavra eterna se fez pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Se fez criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré” (Bento XVI, Verbum Domini, 12).

O Príncipe da Paz quer renascer em nós e, com Ele, podemos também renascer para uma vida nova, orientada pela Palavra de Deus, jamais pelo ódio, divisões, mentiras e desinformação. Se Jesus vem ao nosso encontro precisamos encontrá-Lo no próximo e vivenciar o amor e a unidade: “Agora e em todos os tempos, Ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade” (Prefácio Advento I).

“Na realidade, só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente o mistério do homem” (GS, 22). A doutrina sobre a dignidade do ser humano se funda na Criação, Encarnação e Redenção. A dignidade humana, portanto, consiste em saber que Cristo, assumindo a nossa condição e redimindo a humanidade, está ao lado, isto é, unido a todos os homens e mulheres deste planeta, ainda que alguns não sejam conscientes dessa realidade e presença. “Em Cristo a natureza humana foi assumida e não destruída, por isso mesmo também em nós foi elevada a sublime dignidade. Porque, pela sua Encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem” (Ibid.).    

Somos todos irmãos! Logo, Natal é assumir o compromisso de humanizar nossas relações e toda a sociedade. Vamos assumir um compromisso concreto de tornar o próximo ano mais humano. Nesse tempo de avaliação, reflexão, agradecimento, encontros e formulação de bons propósitos para o próximo ano, cremos ser importante propor as seguintes interrogações: o que eu posso fazer para tornar 2022 um ano mais humano? Antes, o que eu fiz para tornar 2021 mais humano? Estou crescendo como pessoa humana ou me desumanizando em atos e atitudes destrutivas?

Precisamos fugir e evitar todas propostas, mensagens e atitudes que nos desumanizam. O caminho da humanização não tem fim. Quanto mais humanos, mais tomamos consciência de que temos ainda um longo percurso de crescimento. “A busca da santidade não me torna menos humano porque é o encontro da minha fragilidade com a força da Graça” (Francisco, GE, n.34). A vida humana e espiritual tem por objetivo ajudar o ser humano a ser o que ele pode e deve ser: melhor. O ser humano pode se elevar, se plenificar, embora tenha consciência que a plenitude e completude está reservada para a vida eterna.

Ser melhor não significa ser completo e perfeito. Quanto mais somos humanos, mais nos aproximamos de Deus e da santidade. Quanto mais humanos, melhores seremos. Afinal, tudo aquilo que é verdadeiramente humano é também divino, pois Jesus assumiu a nossa condição humana no Natal que estamos celebrando. O mundo contemporâneo carece de humanismo. Fala-se muito em humanização no mundo da saúde, ciências, tecnologias, economia, política, trabalho, redes sociais, entre outros. Constata-se hoje um excesso de conhecimento e informação, porém pouco humanismo nas relações. A solidariedade e comprometimento com o semelhante potencializam nossa humanidade. Por isso, vejamos o que podemos fazer em âmbito pessoal, eclesial, comunitário e social para que 2022 seja um ano mais humano.  Para tanto precisamos ser mais humanos! “Semear a paz ao nosso redor: isso é santidade” (Francisco, GE, n.89).

Cantemos: “Só o amor, muda o que já se fez. E a força da paz junta todos outra vez... Se você começar outros vão te acompanhar” (Roupa Nova). A ocasião permite externar, como bispo diocesano, um sincero agradecimento a todos e todas que, não obstante a pandemia e situações adversas, continuaram servindo à vida, fazendo o bem e vivenciando sua fé, em Cristo Vivo e companheiro de caminhada.  Gratidão por todas as iniciativas de cuidado com a vida pessoal e do próximo, especialmente dos pobres e vulneráveis. Renovemos nossa esperança de dias melhores. Acolhemos Jesus com abertura de coração, rezando: Vem Senhor Jesus, fica conosco e nos torne mais humanos. Feliz Natal a todos e todas! Vamos em frente, de pé, no olhar da fé. Com minha benção, gratidão sincera e proximidade.

 

 

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Símbolos natalinos

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Na proximidade do Natal, é notória a mobilização das pessoas: o clima natalino invade ruas e praças, as casas são enfeitadas de luzes e todos aguardam ansiosos a troca de presentes e a sonora mensagem “Feliz Natal!”.

Muitos são os símbolos utilizados neste momento jubiloso do ano. Tudo parece se transformar: as trevas sedem lugar à claridade, árvores e presentes invadem a cidade. Todas estas comemorações são legítimas e necessárias, mas quando expressam a alegria de nossos corações alimentados pela esperança de um tempo melhor, mais feliz e justo.

Na proximidade do Natal, é notória a mobilização das pessoas: o clima natalino invade ruas e praças, as casas são enfeitadas de luzes e todos aguardam ansiosos a troca de presentes e a sonora mensagem “Feliz Natal!”.

Muitos são os símbolos utilizados neste momento jubiloso do ano. Tudo parece se transformar: as trevas sedem lugar à claridade, árvores e presentes invadem a cidade. Todas estas comemorações são legítimas e necessárias, mas quando expressam a alegria de nossos corações alimentados pela esperança de um tempo melhor, mais feliz e justo.

O Papa Francisco em sua conta do Twitter explicou o sentido de alguns desses símbolos. “A árvore de Natal evoca o renascimento, o dom de Deus que se une ao homem para sempre, que nos presenteia a sua vida. As luzes  evocam Jesus, a luz do amor que continua a resplandecer nas noites do mundo” (20 dez. 2021).

Poderíamos elencar aqui vários outros símbolos e seus respectivos significados. Mas, gostaria de me ater ao mais importante símbolo do Natal: a caridade. A doutrina da Igreja ensina que “a prática da vida moral animada pela caridade dá ao cristão a liberdade espiritual dos filhos de Deus. O cristão já não está diante de Deus como um escravo, com temor servil, nem como o mercenário à espera do salário, mas como um filho que corresponde ao amor ‘d'aquele que nos amou primeiro’ (Catecismo da Igreja Católica, 1828). O documento ainda ensina que os frutos da caridade são: a alegria, a paz e a misericórdia; frutos estes que ambicionamos para nossa vida.

O santo padre motiva-nos à vivência da caridade como obra de conversão do mundo. “A caridade para com o próximo nos estimula a nos reconhecermos como filhos de um único pai, que nos criou e nos ama. Portanto, que não diminua nosso compromisso de testemunhar a fé em nosso tempo muitas vezes perdido, sabendo que a fé não é transmitida por meio do proselitismo, mas sim pela atração, isto é, através do testemunho. Não se trata de representar esquemas do passado, mas de nos deixarmos guiar pelo Espírito do Senhor para propor a alegria que emana do Evangelho aos homens e mulheres que encontramos em nosso ministério diário” (Papa Francisco, Mensagem à Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, em 3 de outubro de 2019).

É comum e louvável neste tempo surgirem ações caritativas. Vários setores da comunidade civil e religiosa se mobilizam para prover o necessário aos mais necessitados. Mas Francisco explica que os mais simples gestos, quando feitos com consciência e responsabilidade, são capazes de alcançar até os corações mais feridos. “O primeiro ato de caridade que podemos fazer ao próximo é oferecer-lhe um rosto sereno e sorridente. É levar-lhe a alegria de Jesus, como fez Maria com Isabel” (Papa Francisco, 19 dez. 2021).

Vivemos a realidade de um mundo envolto em muitas sombras geradas pelo fechamento dos corações, preocupados apenas com o exterior, com a aparência de uma felicidade frágil e passageira.

Deixemo-nos, pois, ser inspirados pelos pastores e magos, que, iluminados pela fé, atravessaram as trevas que envolviam a terra e encontraram a “grande luz”, e se deixaram transformar por ela e a anunciaram a todo o mundo.  

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A proximidade de Deus

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

“Alegrai-vos sempre no Senhor!” (Fl 4, 4.5) É com este imperativo que a liturgia católica celebrou o terceiro domingo do Advento, neste último dia 12. Este tempo preparatório para a grande festa do Natal, traduz-se num convite à alegria e a renovação das nossas esperanças. A expectativa do nascimento do menino Deus reforça a pretensão de vivermos tempos alegres. Mas qual é o motivo dessa alegria?

“Alegrai-vos sempre no Senhor!” (Fl 4, 4.5) É com este imperativo que a liturgia católica celebrou o terceiro domingo do Advento, neste último dia 12. Este tempo preparatório para a grande festa do Natal, traduz-se num convite à alegria e a renovação das nossas esperanças. A expectativa do nascimento do menino Deus reforça a pretensão de vivermos tempos alegres. Mas qual é o motivo dessa alegria?

Estamos vivendo tempos muito difíceis. Quanta dor, quanto sofrimento, quantas incertezas... A dureza das situações inesperadas tende a nos roubar a alegria do coração e a enfraquecer a nossa fé. Somos levados a considerar a vida como um conjunto de golpes de fatalidades sem nenhum sentido.

Contudo, a esperança cristã nos ensina que, mesmo em meio a tanto sofrimento e incertezas, o Senhor se faz próximo. Celebrar o Natal é celebrar a certeza de que não estamos sozinhos.

A alegria de que fala o apóstolo tem um fundamento sólido. Ela não se apoia nas coisas passageiras: notícias agradáveis, saúde, tranquilidade, situação econômica desafogada etc. As dificuldades são uma realidade com a qual temos que contar. Todos estamos a mercê de contratempos.

O próprio Senhor, ao assumir nossa condição humana, enfrentou a dor e o sofrimento. Acompanhamos neste tempo a angústia dos seus pais por não encontrarem um lugar para o seu nascimento. Reclinado em uma manjedoura, cercado por animais e pessoas humildes, o Menino Deus enfrentou o perigo de morte e precisou fugir da violência que lhe ameaçava.

Quanta proximidade! Neste tempo somos chamados a olhar as necessidades dos que nos rodeiam e, num gesto de fraternidade e responsabilidade, procurar reduzir e/ou sanar as dores desta sociedade marcada pelo egoísmo gerador do ódio e divisão. Todos os dias vemos pais que sofrem por não poderem dar condições de vida digna a seus filhos. E tantos outros que precisam se esconder da violência que os assolam.

Inspirado pelo capítulo 3 do Evangelho de São Lucas motiva-nos o santo padre: “Perguntemo-nos também nós: o que é bom fazer por mim e pelos irmãos? Como posso contribuir para o bem da Igreja, para o bem da sociedade? O tempo do Advento serve para isto: parar e perguntar-nos como preparar o Natal. Estamos ocupados com tantos preparativos, com dons e coisas que passam, mas perguntemo-nos o que devemos fazer por Jesus e pelos outros! O que devemos fazer?” (Angelus, 12 dez. 2021).

Continuando a reflexão, o Papa Francisco pede que, nestes dias em que se aproxima o Natal, deixemo-nos incomodar por este questionamento: como posso fazer a minha parte? Somos chamados a assumirmos um compromisso concreto, mesmo que pequeno, que se ajuste à nossa situação de vida, e levemo-lo a cabo para nos prepararmos para este Natal.

Somos chamados a sermos neste mundo a proximidade de Deus. Cada gesto nosso deve traduzir o amor de Deus para com toda a humanidade. Sejamos a força da alegria que vence o ódio. Sejamos a resistência da esperança que desfaz as estruturas engessadas da injustiça.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Maria, um advento da graça de Deus

terça-feira, 07 de dezembro de 2021

“Ave plena de Graça!” Com este anúncio o arcanjo Gabriel descortinava um novo cenário místico para toda a história da salvação e, com o sim da jovem Virgem de Nazaré, o céu e a terra se encontravam num matrimônio libertador. No seu ventre sagrado o chamado transformava-se na encarnação do Verbo, Jesus Cristo.

“Ave plena de Graça!” Com este anúncio o arcanjo Gabriel descortinava um novo cenário místico para toda a história da salvação e, com o sim da jovem Virgem de Nazaré, o céu e a terra se encontravam num matrimônio libertador. No seu ventre sagrado o chamado transformava-se na encarnação do Verbo, Jesus Cristo.

Maria torna-se, então, o próprio advento da glória do Criador no plano de restauração de todo o cosmo e da humanidade, de todo horizonte natural e histórico, portal da esperança e da certeza de que o eterno se instaurou no tempo e o divino se humanizou para divinizar o humano.

A dócil Mãe na sua resposta humilde e despojada: “Eu sou a serva do Senhor. Faça-se em mim, segundo a sua palavra” iniciou, tal como no tempo litúrgico do advento (preparação para o Natal), a confiante espera e o espírito de entrega ao mistério, na gravidez da fé. A forte e perseverante missionária que guardava tudo no silêncio do seu coração, acreditava que se cumpririam todas as promessas do Senhor. Maria, exemplo da espera resiliente e confiante, foi proativa na serenidade, fiel no serviço cotidiano da construção do reino.

Toda a Igreja é chamada a seguir Jesus Cristo e o modelo é a sua mãe que ele nos deu como nossa Mãe que nos foi entregue no alto da cruz: “Filho, eis aí a tua mãe. Mãe, eis aí o teu filho”. Ela foi a primeira discípula missionária do seu filho, que o concebeu primeiro no coração e só depois no ventre, como afirma Santo Agostinho, porque Ele já era a Palavra, o Verbo divino que Maria acolhia como dedicada seguidora dos mandamentos, como filha de Sião, conhecedora das profecias sobre o messias que nasceria de uma virgem e que se chamaria Emanuel - Deus conosco (cf. Is 7,14).

A grande novidade é que ela seria o cumprimento desta boa nova, a simples jovem de uma pequenina e pobre cidade do interior, o humilde que Deus escolhe para confundir e desbaratar o sistema dos que se julgam doutos e dominadores de tudo, centralizadores da relevância. Também esta espiritualidade deve ser seguida por toda a comunidade eclesial missionária: a da simplicidade e do escondimento, referenciando sempre Deus, como centro, Cristo e sua missão, instaurando o seu reino de justiça e de paz, de verdade e de amor. A espiritualidade da humildade e da fortaleza no Senhor, como a casa sobre a rocha, sabedoria que sabe onde põe a sua fé e o sentido de sua vida e trabalho missionário.

Maria é sempre aquela estrela matutina que precede e anuncia o sol de nossa salvação que é Jesus Cristo, seu filho amado, aquela estrela do mar que guia e orienta a todos nós, navegantes do barco da Igreja e do mundo, indo à frente, na singeleza e força de sinal daquele que é o Senhor, o que nos liberta com seu poder, sua luz radiante de graça e redenção.

É assim o advento vivo que nos prepara e ensina os caminhos da correspondência livre e amorosa, a total oferta da vida nas mãos de Deus, para servirmos como instrumentos humildes do plano maior da iluminação, do resgate, da promoção, do renascimento e salvação de tantos irmãos, vontade paternal do Senhor.

Caminhemos com Maria, como Maria, nestes tempos e clima espiritual do advento, preparando a recepção de Jesus nos nossos corações, concentrados no seu amor e sinalização de luz, interiorizados na dimensão do amor ao próximo, no grande significado da doação da cruz que já se faz presente no presépio, no esvaziamento missionário que já se ouve no Glória contido e no ensaio do coro dos anjos para a festa natalina, no rebrilho transformador do coração daquele que nascendo na Belém do mundo, quer nascer agora dentro de nós, num novo olhar, num novo sentir, numa revolução do amor fraterno.

Recebamos, com fé e caridade, alegria e paz, o maravilhoso Deus que vem até nós para encontrar os frutos do que já semeou, os talentos multiplicados dos dons que nos concedeu, a paz luminosa que dimana da sua própria presença em nosso meio. E digamos, então, com Maria, a mãe da Igreja: “Marana tha” – “Vem, Senhor Jesus!”.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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O banquete no inferno e o banquete no céu

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Diz certo conto popular que certa vez Deus convidou uma alma santa para conhecer o céu e o inferno. Ao se abrirem as portas do inferno, era possível ver uma grande sala em cujo centro havia um caldeirão onde se cozinhava uma suculenta sopa. Em volta dela, estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas. Cada uma dessas pessoas segurava uma colher de cabo tão comprido que lhes permitia alcançar o caldeirão, mas não suas próprias bocas. O sofrimento era imenso, pois mesmo diante de um alimento tão saboroso não conseguiam se alimentar.

Diz certo conto popular que certa vez Deus convidou uma alma santa para conhecer o céu e o inferno. Ao se abrirem as portas do inferno, era possível ver uma grande sala em cujo centro havia um caldeirão onde se cozinhava uma suculenta sopa. Em volta dela, estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas. Cada uma dessas pessoas segurava uma colher de cabo tão comprido que lhes permitia alcançar o caldeirão, mas não suas próprias bocas. O sofrimento era imenso, pois mesmo diante de um alimento tão saboroso não conseguiam se alimentar.

Em seguida, a alma foi levada para conhecer o céu. Ao se abrirem as portas, grande foi a surpresa em encontrar uma sala idêntica à que havia no inferno. No centro do salão o mesmo caldeirão, as pessoas em volta, as colheres de cabo comprido. Mas uma diferença grande era percebida, havia alegria e satisfação.

Diante do contraditório quadro, a alma ficou confusa e questionou a Deus: “Eu não compreendo, por que no céu estas pessoas estão felizes, enquanto no inferno todos morrem de aflição, se é tudo igual?”

Deus sorriu e respondeu: “Você não percebeu?” É porque enquanto no inferno aquelas pessoas estão fechadas na busca de suas próprias satisfações, aqui, no céu, estas aprenderam a olhar a necessidade de quem está ao seu redor. E entenderam que ao saciar o irmão tem a sua própria necessidade saciada.

Esta historieta, apesar de sua inocente aparência, denuncia um grave pecado de nosso século: o individualismo. Vivemos a cultura da “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Importa somente que nós estejamos saciados, a dor do outro não nos toca, não nos diz respeito.

O Papa Francisco, na encíclica Fratelli Tutti, denunciou: “O individualismo não nos torna mais livres, mais iguais, mais irmãos. A mera soma dos interesses individuais não é capaz de gerar um mundo melhor para toda a humanidade. Nem pode sequer preservar-nos de tantos males, que se tornam cada vez mais globais. Mas o individualismo radical é o vírus mais difícil de vencer. Ilude. Faz-nos crer que tudo se reduz a deixar à rédea solta as próprias ambições, como se, acumulando ambições e seguranças individuais, pudéssemos construir o bem comum” (§105).

É gritante a contradição com as palavras do evangelho. Basta lembrarmos da icônica cena da multiplicação dos pães. Enquanto os discípulos estavam preocupados com o seu próprio bem-estar, Jesus os convida a pôr em comum o que possuíam, e assim foi possível alimentar, com fartura, toda a multidão (cf. Jo 6,1-15). Ou, ainda, o louvor ao gesto da viúva que dando apenas duas moedas deu mais que todos, pois partilhou tudo o que possuía (cf. Mc 12.38-44).

O tempo do Advento (de preparação espiritual para o Natal) alimenta em nós a esperança de um mundo novo com a chegada no menino Deus. Mas como podemos levantar a cabeça e não nos deixarmos absorver pelas dificuldades, pelos sofrimentos e pelas derrotas? Jesus indica-nos o caminho com um forte apelo: “Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados [...]. Velai, orando continuamente” (Lc 21,34.36).

Assim, na proximidade da grande festa do Natal, busquemos superar as divisões e indiferenças da comunidade atual construindo ações reais que favoreçam o bem comum e a dignidade de nossos irmãos.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Processo sinodal: resposta do povo de Deus

terça-feira, 23 de novembro de 2021

A Igreja é convocada em um sínodo. O caminho, intitulado “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, iniciou-se nos dias 9 e 10 de outubro de 2021, em Roma, e em 17 de outubro, em cada uma das dioceses do mundo inteiro. Com esta convocação, o Papa Francisco convida a Igreja a interrogar-se sobre um tema decisivo para a sua vida e a sua missão: “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio?”

A Igreja é convocada em um sínodo. O caminho, intitulado “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, iniciou-se nos dias 9 e 10 de outubro de 2021, em Roma, e em 17 de outubro, em cada uma das dioceses do mundo inteiro. Com esta convocação, o Papa Francisco convida a Igreja a interrogar-se sobre um tema decisivo para a sua vida e a sua missão: “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio?”

A interrogação fundamental que orienta esta consulta do povo de Deus é a seguinte: Anunciando o Evangelho, uma Igreja sinodal “caminha em conjunto”: como é que este “caminhar juntos” se realiza hoje na nossa Igreja particular? Que passos o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso “caminhar juntos”?

Para dar uma resposta, somos convidados a: 1. Perguntar-nos que experiências da nossa Igreja particular essa interrogação fundamental nos traz à mente? 2. Reler estas experiências mais profundamente: que alegrias proporcionaram? Que dificuldades e obstáculos encontraram? Que feridas fizeram emergir? Que intuições suscitaram? 3. Colher os frutos para compartilhar: onde, nestas experiências, ressoa a voz do Espírito? O que ela nos pede? Quais são os pontos a confirmar, as perspectivas de mudança, os passos a dar? Onde alcançamos um consenso? Que caminhos se abrem para a nossa Igreja particular?

Dez núcleos temáticos a aprofundar

  1. Os companheiros de viagem - Na Igreja e na sociedade, estamos no mesmo caminho, lado a lado. Na nossa Igreja local, quem são aqueles que “caminham juntos” tanto no perímetro eclesial quanto fora do perímetro eclesial?
  2. Ouvir – A escuta é o primeiro passo, mas requer que a mente e o coração estejam abertos, sem preconceitos. Como são ouvidos os leigos, de modo particular os jovens, as mulheres, os consagrados e consagradas, as minorias, os excluídos?
  3. Tomar a palavra - Todos estão convidados a falar com coragem integrando liberdade, verdade e caridade. Como promovemos, no seio da comunidade e dos seus organismos, um estilo comunicativo livre e autêntico, sem ambiguidades e oportunismos?
  4. Celebrar - “Caminhar juntos” só é possível se nos basearmos na escuta comunitária da palavra e na celebração da Eucaristia. De que forma a oração e a celebração litúrgica inspiram e orientam o nosso “caminhar juntos” na participação ativa de todos os fiéis e no exercício da função de santificar?
  5. Corresponsáveis na missão - Na sinodalidade está o serviço da missão da Igreja, na qual todos os seus membros são chamados a participar. De que maneira cada um dos batizados é convocado para ser missionário no serviço à sociedade (na responsabilidade social e política, no ensino, na promoção da justiça social, na salvaguarda dos direitos humanos e no cuidado da casa comum, entre outros)?
  6. Dialogar na igreja e na sociedade - O diálogo é um caminho de perseverança, que inclui também silêncios e sofrimentos, mas é capaz de recolher a experiência das pessoas e dos povos. Quais são os lugares e as modalidades de diálogo no seio da nossa Igreja particular e como são enfrentadas as divergências de visão, os conflitos, as dificuldades?
  7. Com as outras confissões cristãs - O diálogo entre cristãos de diferentes confissões, unidos por um único batismo, ocupa um lugar particular no caminho sinodal. Que relacionamentos mantemos hoje com os irmãos e as irmãs das outras confissões cristãs?
  8. Autoridade e participação - Uma Igreja sinodal é uma Igreja participativa e corresponsável. Como se exerce a autoridade no seio da nossa Igreja particular e como se promovem os ministérios laicais e a assunção de responsabilidade por parte dos fiéis?
  9. Discernir e decidir - Num estilo sinodal, decide-se por discernimento, com base num consenso que dimana da obediência comum ao Espírito. Com que procedimentos e com que métodos discernimos em conjunto e tomamos decisões?
  10. Formar-se na sinodalidade - A espiritualidade do caminhar juntos é chamada a tornar-se princípio educativo para a formação da pessoa humana e do cristão, das famílias e das comunidades. Como formamos as pessoas, de maneira particular aquelas que desempenham funções de responsabilidade no seio da comunidade cristã, a fim de as tornar mais capazes de “caminhar juntas”, de se ouvir mutuamente e de dialogar?

Texto da Comissão para o Sínodo da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

 

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Pacto educativo global

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Educar é um ato eminentemente humano e de participação na obra redentora. O poder de transformação da educação é a principal arma que podemos usar no enfrentamento da lógica estéril e paralisadora da indiferença. “Torna-se necessária uma educação que ensine a pensar criticamente e ofereça um caminho de amadurecimento nos valores” (Evangelium Gaudium, 64).

Educar é um ato eminentemente humano e de participação na obra redentora. O poder de transformação da educação é a principal arma que podemos usar no enfrentamento da lógica estéril e paralisadora da indiferença. “Torna-se necessária uma educação que ensine a pensar criticamente e ofereça um caminho de amadurecimento nos valores” (Evangelium Gaudium, 64).

O Papa Francisco, atento às urgências de nosso tempo, lançou em 2019 um convite ao diálogo sobre a forma como estamos construindo o futuro da humanidade. A iniciativa do “Pacto Educativo Global” intenta promover o caminho educativo de amadurecimento de uma solidariedade universal e uma sociedade mais acolhedora.

Isso requer audácia e comprometimento de todos. Assim, provoca o Pontífice: “Sejamos parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas. Hoje temos à nossa frente a grande ocasião de expressar o nosso ser irmãos, de ser outros bons samaritanos que tomam sobre si a dor dos fracassos, em vez de fomentar ódios e ressentimentos” (Enc. Fratelli tutti, 77).

A proposta lançada por Francisco tornou-se ainda mais urgente com as consequências da pandemia da Covid-19, que acentuou a disparidade de oportunidades educacionais e tecnológicas, a ponto de constituir-se uma “catástrofe educativa”.

Esta catástrofe denunciada pelo Papa diz respeito a milhões de crianças que se viram obrigadas a abandonar a escola por causa da dificuldade de acesso aos meios tecnológicos. No Estado do Rio de Janeiro, segundo a Secretaria de Educação (Seeduc), mais de 80 mil estudantes afastaram-se da escola.

Unem-se duas urgências. Superar as dificuldades socioeconômicas que tendem afastar os alunos das escolas e promover uma educação capaz de reavivar o compromisso para e com as novas gerações, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de ouvir com paciência, de diálogo construtivo e de compreensão mútua.

Neste sentido, o Santo Padre propõe uma mudança precisa na caminhada educativa de modo que envolva a todos. E conclama a construção de uma “aldeia da educação”, onde, na diversidade, se partilhe o compromisso de gerar uma rede de relações humanas e abertas (cf. Mensagem do Papa Francisco para o lançamento do Pacto Educativo Global).

O Papa Francisco adverte ainda que “a educação é, sobretudo, uma questão de amor e responsabilidade que se transmite, ao longo do tempo, de geração em geração. Por conseguinte, a educação apresenta-se como o antídoto natural à cultura individualista.” (Papa Francisco, videomensagem, 15 out. 2020). Deste modo, é responsabilidade de todos encontrar soluções, iniciar, sem medo, processos de transformação e olhar para o futuro com esperança.

Ouvindo o convite do Santo Padre, sejamos protagonistas da transformação mundial, assumindo o compromisso pessoal e comunitário de cultivar, juntos, o sonho de um humanismo solidário, que corresponda às expectativas do homem e ao desígnio de Deus.

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Padre Aurecir de Melo Júnior é assessor da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo.

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“Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14, 7)

terça-feira, 09 de novembro de 2021

No próximo domingo, 14, a Igreja Católica celebrará a quinta edição do Dia Mundial dos Pobres. No artigo desta semana trazemos um resumo da mensagem do santo padre, o Papa Francisco. Refletindo sobre o versículo “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14, 7), Francisco, relembra o gesto da mulher que invade a refeição em casa de Simão e derrama sobre a cabeça de Jesus um vaso de alabastro cheio de perfume precioso. Gesto que suscitou grande estupefação e deu origem a duas interpretações diversas.

No próximo domingo, 14, a Igreja Católica celebrará a quinta edição do Dia Mundial dos Pobres. No artigo desta semana trazemos um resumo da mensagem do santo padre, o Papa Francisco. Refletindo sobre o versículo “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14, 7), Francisco, relembra o gesto da mulher que invade a refeição em casa de Simão e derrama sobre a cabeça de Jesus um vaso de alabastro cheio de perfume precioso. Gesto que suscitou grande estupefação e deu origem a duas interpretações diversas. A primeira referente à indignação de alguns dos presentes, incluindo os discípulos, e a segunda, referente à interpretação de Jesus sobre o fato.

Destaca o pontífice que “Jesus recorda-lhes que ele é o primeiro pobre, o mais pobre entre os pobres, porque os representa a todos. E é também em nome dos pobres, das pessoas abandonadas, marginalizadas e discriminadas que o filho de Deus aceita o gesto daquela mulher. Esta, com a sua sensibilidade feminina, demonstra ser a única que compreendeu o estado de espírito do Senhor. [...] As mulheres, tantas vezes discriminadas e mantidas ao largo dos postos de responsabilidade, nas páginas do Evangelho são, pelo contrário, protagonistas na história da revelação”.

O Papa Francisco repete com insistência, a mensagem que os pobres são os verdadeiros evangelizadores, pois levam ao mundo o Cristo em suas tribulações e indigências, nas condições, por vezes desumanas, em que são obrigados a viver.

Relembrando a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, instrui que “o nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro, considerando-o como um só consigo mesmo. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo de procurar efetivamente o seu bem” (198-199).

Assim, no discurso, legitima que os pobres não são pessoas “externas” à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social.

Seguir Jesus comporta uma mudança de mentalidade a esse propósito, ou seja, acolher o desafio da partilha e da comparticipação. Tornar-se seu discípulo implica a opção de não acumular tesouros na terra, que dão a ilusão duma segurança em realidade frágil e efêmera; ao contrário, requer disponibilidade para se libertar de todos os vínculos que impedem de alcançar a verdadeira felicidade e bem-aventurança, para reconhecer aquilo que é duradouro e que nada e ninguém pode destruir (cf. Mt 6, 19-20).

Francisco nos lembra que no ato de dar esmolas corremos o risco de gratificar aquele que dá e humilhar aquele que recebe, enquanto a partilha reforça a solidariedade e cria as premissas necessárias para se alcançar a justiça.

Concluindo, recorda as palavras de São João Crisóstomo: “Quem é generoso não deve pedir contas do comportamento, mas somente melhorar a condição de pobreza e satisfazer a necessidade. O pobre só tem uma defesa: a sua pobreza e a condição de necessidade em que se encontra. Não lhe peças mais nada; mesmo que fosse o homem mais malvado do mundo, se lhe vier a faltar o alimento necessário, libertemo-lo da fome. (…) O homem misericordioso é um porto para quem está em necessidade: o porto acolhe e liberta do perigo todos os náufragos, sejam eles malfeitores, bons ou como forem. Aos que se encontram em perigo, o porto acolhe-os, coloca-os em segurança dentro da sua enseada. Também tu, portanto, quando vês por terra um homem que sofreu o naufrágio da pobreza, não o julgues, nem lhe peças conta do seu comportamento, mas liberta-o da desventura” (Discursos sobre o pobre Lázaro, II, 5).

Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/20210613-messaggio-v-giornatamondiale-poveri-2021.html

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A irmã morte

terça-feira, 02 de novembro de 2021

Todos os anos, no dia 2 de novembro, fazemos uma pausa de nossas atividades cotidianas para nos lembrarmos de nossos irmãos e irmãs, parentes e amigos, que já partiram do nosso convívio. Refletir sobre a morte sempre foi importante para a humanidade, quanto mais nos é neste momento que estamos vivendo.

Passados quase dois anos do início da pandemia da Covid-19, os números de mortes ainda nos assustam. Muitas pessoas que ocupam um lugar importante em nossa peregrinação, através do tempo e da história, largaram suas mãos de nossas mãos.

Todos os anos, no dia 2 de novembro, fazemos uma pausa de nossas atividades cotidianas para nos lembrarmos de nossos irmãos e irmãs, parentes e amigos, que já partiram do nosso convívio. Refletir sobre a morte sempre foi importante para a humanidade, quanto mais nos é neste momento que estamos vivendo.

Passados quase dois anos do início da pandemia da Covid-19, os números de mortes ainda nos assustam. Muitas pessoas que ocupam um lugar importante em nossa peregrinação, através do tempo e da história, largaram suas mãos de nossas mãos.

Contemplar a morte tão de perto nos faz pensar sobre nossa finitude e sobre o que estamos cultivando nesta vida. Nem sempre é possível encarar com serenidade a chegada desse final inevitável para todos. A humanidade tem um desejo incontrolável de vida. Construímos nossa existência com momentos marcantes, planejamos o futuro sem nos dar conta que um dia esta vida será abruptamente interrompida. Não há quem um dia não enfrente o mistério da morte.

Contudo, não se pode delegar somente um aspecto negativo sobre este momento ímpar de nossa existência. Ao vivenciar o processo do fim, num primeiro momento poderíamos repetir como o autor sagrado “Tanto morre o sábio como morre o louco! E assim detestei a vida, pois a meus olhos tudo é mau no que se passa debaixo do sol; sim, tudo é efêmero e vento que passa. Também se tornou odioso para mim todo o trabalho que produzi debaixo do sol, visto que devo deixá-lo àquele que virá depois de mim” (Ecle 2, 16b-18).

Mas, é importante recordar que ao contemplar todo o caminho de sua existência, o mesmo autor conclui: “que nada é melhor para o homem do que alegrar-se e procurar o bem-estar durante sua vida. Igualmente é dom de Deus que todos possam comer, beber e gozar do fruto de seu trabalho. Reconheci que tudo o que Deus faz dura para sempre, sem que se possa ajuntar nada, nem nada suprimir. Deus procede dessa maneira para ser temido. Aquilo que é, já existia, e aquilo que há de ser, já existiu; Deus chama de novo o que passou" (Ecle 3, 12-14).

Assim, compreendemos que a morte é um processo natural da vida, com todas as finitudes que ela possui (doenças, enfermidades, idade). São Francisco de Assis chama a morte de irmã, pois a vê como aquela que no fim do decurso nesta vida nos dá a mão e nos conduz ao bem supremo. Como um autêntico arauto da paz, Francisco, jamais diria ‘bem-vinda irmã morte’ quando ela é consequência do pecado humano. O santo de Assis gritaria ao mundo de hoje: “Maldita a morte causada por toda a violência armada; maldita a morte causada pela fome em consequência da não partilha; maldita a morte provocada pela privação dos direitos sociais, causada pelo enriquecimento ilícito dos que legislam em causa própria; maldita a morte causada pela disseminação da segregação racial, ideológica e religiosa. Enfim, maldita a morte que destrói a vida das nossas florestas; maldita a morte, fruto dos produtos tóxicos despejados sobre o alimento; maldita a morte dos nossos rios, resultado da ganância das mineradoras; maldita a morte das nossas praias nordestinas, causada pela omissão dos primeiros responsáveis e pela ganância” (Frei Fidêncio Vanboemmel).

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