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Dom Clemente Isnard: dez anos de saudade e gratidão

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Dom Clemente Isnard - quanta luz e força gravadas neste nome! O Senhor escolhe os seus servos e escreve a história da sua providência. Mergulhando a Igreja no mistério de sua graça renovadora. Caminho feito com trabalho, humildade e doação da sabedoria eterna. Libertação pascal semeada na evangelização transformadora. Educação da fé que se traduz em obras da caridade fraterna. Mosteiro de amor a Deus no serviço beneditino a todo irmão. Este hóspede sempre necessitado do pastoreio solidário. Na diocese que fundou com o coração, suor e ardorosa missão.

Dom Clemente Isnard - quanta luz e força gravadas neste nome! O Senhor escolhe os seus servos e escreve a história da sua providência. Mergulhando a Igreja no mistério de sua graça renovadora. Caminho feito com trabalho, humildade e doação da sabedoria eterna. Libertação pascal semeada na evangelização transformadora. Educação da fé que se traduz em obras da caridade fraterna. Mosteiro de amor a Deus no serviço beneditino a todo irmão. Este hóspede sempre necessitado do pastoreio solidário. Na diocese que fundou com o coração, suor e ardorosa missão. Tenacidade do espírito amadurecido na oração, missionário arrojado. Espiritualidade de um monge que assumiu a coragem do cajado. Juventude ofertada na generosidade de quem vislumbrou o verbo.

O fulgor do eterno no tempo, elevando a natureza dos homens. Simplicidade da manjedoura e da carpintaria rebrilhando a glória. Espocando em cada partilha a dignidade da filiação divina. Cultura singularmente talhada, com inteligência fina e gentil.

A raiz do Direito, a liturgia da vida assumida no altar da palavra e da eucaristia.

Rara comunhão de fortaleza, competência, suavidade e sábia visão. Luminosidade de aventura do espírito que impulsiona a entrega e a alegria. O olhar mais humano que é capaz de perceber o divino em cada chão. Sopro de arejamento que forma comunidades, no evangelho de cada dia.

Grande apóstolo da vida, defendida em todas as etapas e expressões. O seu valor é imenso na promoção de tantas ações pastorais. Uma postura firme na ética da justiça, enfrentando explorações. Vaticano II, confirmando as lúcidas inspirações litúrgicas, eclesiais. Ensinadas e aprofundadas por seu abade D. Martinho Michler. Assimiladas pelo aplicado noviço, várias décadas atrás.

Incentivou o apostolado dos leigos e uma Igreja toda ministerial. Servidora do ser humano, inculturada, salgando e iluminando o social. Na proposta autêntica e inequívoca do reino de comunhão. Alimentando durante 33 anos a messe diocesana.

Reclinou sua fronte em Recife, terra irmã, de seu querido amigo D. Hélder. Dia de São Bartolomeu, dez anos de saudade e gratidão.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo e assessor diocesano da Pastoral Familiar. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A alegria do bem agir e a paz espiritual

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Não está claro para muita gente o que gera paz e o que ela é, de fato. O Senhor Jesus lamenta por Jerusalém, dizendo: “Se tu também compreendesses hoje o que te pode trazer a paz!” (Lc 19,42). Com certeza, o primeiro passo para a paz pessoal completa é compreender de onde ela procede. Digo paz pessoal porque não quero refletir, aqui, sobre a paz social e, sim, a paz interior, da qual podem nascer tantas outras.

Não está claro para muita gente o que gera paz e o que ela é, de fato. O Senhor Jesus lamenta por Jerusalém, dizendo: “Se tu também compreendesses hoje o que te pode trazer a paz!” (Lc 19,42). Com certeza, o primeiro passo para a paz pessoal completa é compreender de onde ela procede. Digo paz pessoal porque não quero refletir, aqui, sobre a paz social e, sim, a paz interior, da qual podem nascer tantas outras.

Um bem precioso é, sem dúvida, a consciência tranquila diante do dever cumprido. Qual o seu estado de vida: casado ou sacerdote; consagrado ou solteiro? Qual sua profissão: médico, empregada doméstica, advogado, dentista, construtor, funcionário público? Por mais que seja duro, cumprir todas as obrigações do seu estado trará o gosto e o prazer do dever cumprido. Isso pode gerar calma e serenidade, além de inspirar confiança àqueles ao seu redor. Podemos chamar esse tipo de paz de "a alegria do bem agir", como certa vez ouvi um padre amigo refletir.

Quanto sorriso vejo no cansaço de quem trabalhou o dia inteiro e o ano todo com honestidade, mesmo diante dos exemplos contrários ao seu redor. Mas, atenção: essa alegria é paulatina e acumulativa. Ou seja, é gerada com o tempo e a perseverança no bem. Não dá para adquiri-la nos primeiros anos de ofício e só é possível senti-la depois de ter a alma experimentada na tentação da desistência, já que a compreendemos melhor pelo contraste com situações que poderiam relativizar a importância do nosso esforço ético.

Entenda: em um contexto de imediatismo onde as pessoas burlam os passos que deveriam dar a cada dia para chegarem a algum lugar e, com isso, perdem a noção de processo e paciência, você e eu somos tentados a uma espécie de auto sabotagem onde, na mínima contrariedade, caímos no desalento e nem sequer nos damos a chance de sermos provados na tentação da desistência, cuja finalidade é nos fortalecer para o próximo passo. A dica é: seja forte e queira passar pela prova que te fortalece, cumprindo, passo a passo, o seu dever diário. A paz virá, tenha certeza!

E para que saibamos que bem precioso é a paz, em um segundo momento, deveríamos refletir sobre a alegria espiritual dos santos, a qual provém da união mística com Jesus e está muito acima do que experimentamos como a “alegria do bem agir”. Por hora, basta compreender que, por mais que você experimente o dom de uma consciência tranquila, há sempre melhores e maiores patamares onde se pode chegar, pois o espírito humano aspira ao infinito. Então, não se canse de fazer bem o bem que deve realizar. Bom trabalho!

Padre Celso Henrique Macedo Diniz é administrador da Paróquia Santo Antônio e Cristo Ressuscitado, no Prado, distrito de Conselheiro Paulino.

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A alegria do amor na família

terça-feira, 10 de agosto de 2021

"Dá e recebe, e alegra a ti mesmo" (Sir 14,16)

"Dá e recebe, e alegra a ti mesmo" (Sir 14,16)

Com este título como tema e com este lema bíblico, se apresenta a Semana Nacional da Família 2021, celebrada até o próximo dia 15, com os subsídios e reflexões da Comissão Nacional da Pastoral Familiar da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que aproveita a motivação do lançamento, pelo Papa Francisco, do Ano Amoris Laetitia, comemorativo dos cinco anos de sua exortação apostólica de mesmo nome (A alegria do Amor). Desta forma, o ensinamento do sucessor de Pedro se estende de forma mais popular às dioceses do país, envolvendo diversas pastorais, especialmente a Pastoral Familiar, grupos, associações religiosas, educacionais e culturais, atualizando a importância da missão da comunidade familiar, primeira escola das virtudes humanas e cristãs, santuário do amor e da vida, igreja doméstica e protagonista na evangelização.

Como afirma o pontífice, "... o evangelho da família é uma alegria que enche o coração e a vida inteira" (AL 200). A família é chamada a ser evangelizadora de si mesma, aberta missionariamente depois a tantas outras famílias em situações tão diversas de necessidades espirituais, psicológicas, sociais... É a base para a formação e renovação de toda a sociedade. Por isso, a grande urgência de uma preparação mais sólida e consistente da estrutura familiar nos princípios humano-cristãos, desenvolvendo as virtudes do amor fraterno, da honestidade, da justiça, entre outras, na comunhão e sensibilidade na construção conjunta do bem comum, na maturidade e segurança de uma paternidade e maternidade, capaz de não só de gerar os filhos biologicamente, mas de educá-los integralmente, gerando-os também espiritualmente, na alegria e liberdade do autêntico amor, conforme o exemplo de Cristo.

Nesta direção, se organiza a Pastoral Familiar de nossa Igreja, nos seus três setores: o pré-matrimonial, oferecendo encontros e atividades de preparação dos casais para a vida conjugal, na profundidade do sacramento do matrimônio, um catecumenato familiar, compreendendo e vivenciando as suas propriedades essenciais de unidade-fidelidade e indissolubilidade, formando-se misticamente para as finalidades da aliança divina que são o bem dos cônjuges, no amor da comunhão de vida toda e a geração e educação dos filhos, fruto deste "ser uma só carne"; o pós-matrimonial, fornecendo instrumentos de formação e perseverança da família em sua vocação e missão basilar, apoiando, acompanhando e ajudando a resgatar o sentido e a dignidade dos matrimônios e uniões familiares, no fortalecimento para enfrentar os inúmeros desafios do mundo atual; e o setor de casos especiais, dedicando-se às situações difíceis e de necessidades diferenciadas, de forma singular os casais em segunda união que devem ser acolhidos, acompanhados, apoiados, integrados no amor misericordioso de Jesus, sem juízos ou tratamento generalizado, mas com uma fraterna pastoral de formação espiritual, na vivência e participação eclesial progressiva, dentro da sua situação particular, avaliada caso a caso pelo pároco, bispo e padres assessores, analisando-se sempre a possibilidade da introdução de um processo de nulidade matrimonial no tribunal eclesiástico.

Em todo o trabalho da Pastoral Familiar está o amor pastoral do coração de Cristo, que vai ao encontro das ovelhas, especialmente as mais afastadas e feridas, acolhe-as onde estão e como são, ama-as profundamente com o olhar de sua compaixão e misericórdia, mostra o seu grande valor em sua dignidade fundamental de filhos de Deus, fortalece-as com a riqueza e sentido libertador de sua palavra, nutre-as com a sua graça, promove-as no espírito da verdade na caridade como discípulas, alegra-as e impulsiona no carisma missionário, enviando-as depois na alegria de quem, amado e liberto, se doa com generosidade para amar e libertar, para pregar a Boa Nova e comunicar o amor. É o dar e receber, alegrando-se a si mesmo. O receber e o dar, no dom da partilha-missão.

Nesta linha, está pautada a iluminada exortação Amoris Laetitia, em que o Papa reafirma este pastoreio do Senhor, chamado fundamental e exigência da graça da nossa consagração batismal, tendo como seu primeiro campo de vivência a comunidade familiar. Por isto, bem se situa a Semana Nacional da Família no mês em que a Igreja celebra todas as vocações, como a grande família de Deus. A nossa comissão pastoral diocesana Vida e Família preparou uma boa programação, com missas, com a palavra do bispo diocesano Dom Luiz Ricci, participações e partilha de reflexões pela internet sobre este tema. Acompanhe pelas redes sociais da diocese e bons frutos!

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Pastoral Familiar da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Vocação à família

terça-feira, 03 de agosto de 2021

Tradicionalmente a Igreja Católica no Brasil celebra o mês de agosto como o Mês das Vocações. O objetivo desta prática é separar um tempo durante o ano para a reflexão e conscientização das comunidades acerca da sua responsabilidade e importância no processo vocacional de cada pessoa. Assim, em cada domingo deste mês, celebra-se uma forma de vocação específica.

Tradicionalmente a Igreja Católica no Brasil celebra o mês de agosto como o Mês das Vocações. O objetivo desta prática é separar um tempo durante o ano para a reflexão e conscientização das comunidades acerca da sua responsabilidade e importância no processo vocacional de cada pessoa. Assim, em cada domingo deste mês, celebra-se uma forma de vocação específica.

Ao contrário do que muitos podem pensar, quando a Igreja reflete sobre o tema da vocação, ela não se restringe somente à vocação religiosa e sacerdotal. O que pouco se conhece é que a Igreja reconhece e incentiva como vocação fundamental a vocação leiga, principalmente no exercício da missão sacerdotal.

A célula base da sociedade é a família. E é nela que se forma o indivíduo que com seu agir construirá o futuro. Todo sacerdote, todo religioso, toda religiosa, todo consagrado, todo pai, toda mãe, todo profissional da Saúde e da Educação, infinitamente todos os agentes sociais foram formados no seio de uma família, e dela receberam os valores que reproduzem no mundo. O seio familiar é a base para a construção da nossa identidade, valores e vocações. Nela damos os primeiros passos de vida em comunidade e, sobretudo, nela nos deparamos com as principais questões que vão formar quem somos.

O Diretório Pastoral Familiar da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – 79, esclarece que homem e mulher são chamados a viver a comunhão de amor à imagem de Deus-Trindade impressa no ser humano desde a sua criação. Aí está a razão fundamental de sua dignidade. Este diretório pontua ainda que o matrimônio, desde a criação do homem e da mulher, é um projeto de Deus, obra predileta nesse seu projeto de amor. Não é criação humana, nem do Estado, nem da Igreja. Está constitutivamente ligado à essência do homem e da mulher, para o bem pessoal e da comunidade.

Acentua também que as duas finalidades do matrimônio previstas na Bíblia são: de um lado, a realização plena de cada um, homem e mulher, tanto na sua dimensão corpóreo-sexual quanto na sua realidade afetiva e espiritual; e, de outro, a geração e educação dos filhos (cf. n. 45-71). Quanto à tarefa formativa dos filhos, o diretório ressalta que o pai e a mãe devem assumir o compromisso mútuo e complementar, numa pedagogia que junta a firmeza e disciplina do homem e a ternura e amabilidade da mulher. Por isso, “O pai não pode descuidar seus deveres de educador com a desculpa de que sua função é trabalhar para sustentar a casa ou de que tarefa da educação dos filhos é responsabilidade da mãe ou de algum parente” (n.128).

Na exortação apostólica Amoris Laetitia, sobre o amor na família, o Papa Francisco, atento às necessidades e urgências das famílias no mundo contemporâneo, propõe à humanidade apreciar os dons do matrimônio e da família e a manter um amor forte e cheio de valores como a generosidade, o compromisso, a fidelidade e a paciência; e encoraja todos a serem sinais de misericórdia e proximidade para a vida familiar (cf. n. 5).

Deste modo, ao iniciar o mês das vocações, busquemos dar o devido destaque e valor à vocação familiar, a qual todos somos chamados à cultivar e proteger com afinco e devoção.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior, assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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O sentido do sofrimento

terça-feira, 27 de julho de 2021

Diante de uma visão panorâmica da sociedade contemporânea, desfila-se um quadro sobre um dos temas que estão entre as principais perguntas existenciais do homem: Qual o sentido do sofrimento? As práticas do homem moderno, suas ideologias e a compreensão da essência da humanidade parecem sempre caminhar para uma total negação do sofrimento e uma busca desenfreada pelo prazer. Neste sentido, o ser humano foge ou nega tudo aquilo que pode lhe proporcionar qualquer tipo de desprazer.

Diante de uma visão panorâmica da sociedade contemporânea, desfila-se um quadro sobre um dos temas que estão entre as principais perguntas existenciais do homem: Qual o sentido do sofrimento? As práticas do homem moderno, suas ideologias e a compreensão da essência da humanidade parecem sempre caminhar para uma total negação do sofrimento e uma busca desenfreada pelo prazer. Neste sentido, o ser humano foge ou nega tudo aquilo que pode lhe proporcionar qualquer tipo de desprazer. Não é à toa que numa sociedade como a que vivemos impere a lei do menor esforço, da vantagem, do individualismo, do egoísmo e do hedonismo.

No entanto, o sofrimento faz parte da existência humana. Não se pode evitá-lo. Ele é uma realidade! Mesmo que em graus diferentes algum dia todos se encontrarão com ele. Assim, aumenta a angústia do homem frente a esta realidade da qual não se pode fugir. Algumas correntes teológicas baseadas na concepção de que Deus criou o homem para a felicidade, seguem o mesmo caminho da sociedade hedonista.

A busca pelo prazer e pela satisfação, por vezes, vem mascarada de prosperidade garantida por Deus àqueles que professam nele a sua fé. Ou ainda a negação do sofrimento como uma realidade permitida por Deus, e que, por isso, deve ser superada.

A fé católica, centrada no exemplo de Cristo, que padeceu e se entregou ao sacrifício como livre oferta de amor, não pode se fundar sob o pretexto de proclamar a felicidade eterna em um mundo futuro. A fé não pode alienar-se à angústia do ser humano, muito menos subestimar o seu valor. Primeiramente, a fé destaca que o mal e o sofrimento sempre estiveram presentes na história e na humanidade. Depois, observa que, em grande parte, a fonte do mal e do sofrimento humano é o coração do homem, nos seus reflexos egoístas, no apetite pelo prazer e pelo poder, principalmente na dureza do coração. Fatos estes já apresentados como consequência da busca de uma vida sem tribulações.

Logo, a busca de uma vida assim gera ainda mais sofrimento. Pode parecer então que não existe esperança para quem sofre, contudo a revelação bíblica e a fé cristã incentivam o homem na busca de caminhos que o conduzem a uma mudança, apelando ao livre arbítrio e para o senso de responsabilidade. Afirma ainda a Igreja que a presença de dores e alegrias na vida dos povos é uma ação de Deus, para que tudo concorra para o bem dos que o amam.

Para além da tentativa de compreender e situar o sofrimento na vida do homem, a Igreja defende junto com São Paulo o gozo no sofrer e assim convida aos que sofrem a entrarem no sentido salvífico do sofrimento. A especificidade do agir cristão diante da angústia é testemunhada na pregação apostólica e no testemunho dos mártires. Entendem que seu sofrimento é uma forte via de união ao sacrifício de Cristo por toda a humanidade.

Por isso, ao invés de ser negado, evitado ou superado o sofrimento deve ser abraçado por amor a Cristo e à sua Igreja, mas não com mera passividade, e sim livre acolhimento e testemunha de amor ao sofrimento.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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O devorador

terça-feira, 20 de julho de 2021

O contexto atual é marcado pela velocidade e se encontra sob a (o)pressão do relógio. Esta máquina de medir o tempo, que antes ficava nas praças, depois invadiu as casas e nas paredes passou a tiranizar a existência humana. Com o progresso, foi entrando no bolso e chegou ao pulso do homem, e agora está dentro do coração/mente, onde marca o passo, um passo acelerado que oprime e que faz este homem esquivar-se de sua essência.

O contexto atual é marcado pela velocidade e se encontra sob a (o)pressão do relógio. Esta máquina de medir o tempo, que antes ficava nas praças, depois invadiu as casas e nas paredes passou a tiranizar a existência humana. Com o progresso, foi entrando no bolso e chegou ao pulso do homem, e agora está dentro do coração/mente, onde marca o passo, um passo acelerado que oprime e que faz este homem esquivar-se de sua essência.

A vida é contada pelo passar das horas, dos dias, dos meses e dos anos e não mais a partir das atividades realizadas nesse tempo. O homem rende-se ao senhorio do time cronológico. Este modo de proceder nos faz lembrar a figura mitológica do Chronos, o deus do tempo, que devorava seus próprios filhos para manter-se no poder.

O homem contemporâneo vive imerso em uma sociedade que exige cada dia mais agilidade e produtividade. Tanto que agora é possível acelerar áudios em aplicativos de mensagens, a fim de que se possa fazer mais em menos tempo. Subjugando, assim, as relações interpessoais ao lucro do tempo.

A regra da vida do homem não está mais relacionada ao seu corpo – tempo biológico – e às necessidades que este lhe apresenta. É cada vez mais comum encontrar pessoas que se rendem às jornadas de trabalhos exaustivas e abusivas. Não se respeita mais as horas de sono, de se alimentar, de descansar, mas respeitam-se unicamente os ponteiros do relógio que administra as horas de trabalho, de produção e de consumo.

Outro fator que se pode evidenciar é o descaso, ou melhor, a inversão do tempo social. É notável que a vida do homem em sociedade, em certo período, vem se transformando a ponto deste homem perder-se em meio às horas contadas na exigência de produzir e não mais atentar para as necessidades de relacionamentos. O tempo reclama o homem só para ele. As relações com os outros – amigos, família, e até mesmo com o transcendente – estão cada vez mais restritas pelo tempo, que nunca sobra.

Um exemplo claro desta triste realidade é o descaso com os idosos. Homens e mulheres que viveram intensamente e que souberam extrair das horas vividas o bálsamo da sabedoria, agora são esquecidos à margem da sociedade. No próximo dia 25, a Igreja celebrará o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, instituído pelo Papa Francisco no começo de 2021, na busca de ressaltar o valor que a história tem para a construção do futuro.

O que nos falta é, sem dúvida, tomar as rédeas de nossa vida novamente em nossas próprias mãos. Porém, não se pode alimentar a ilusão de que seremos capazes de nos livrar do alcance do tempo sobre nossa vida. Somos seres temporais, temos o tempo como condição necessária para a existência. Contudo, é preciso vencer a opressão cronológica, e dar margens e valor ao tempo de nosso corpo, ao tempo sociocultural, cosmológico e religioso. Devemos, portanto, assumir a função de regente de nossa vida e de todas as formas de tempo que giram ao seu redor.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A espiritualidade conjugal e familiar

terça-feira, 13 de julho de 2021

No último capítulo da exortação apostólica Amoris Laetitia, o pastor maior da Igreja Católica, o Papa Francisco, reflete sobre a espiritualidade do casal e da família (313-325), destacando que a presença do Senhor habita na comunidade familiar real e concreta, com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos diários. O papa apresenta o seu entusiasmo pela "alegria do amor": "...apesar das muitas dificuldades" (1), é preciso ir em frente, contando sempre com Cristo. "Avancemos, famílias. Continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais!

No último capítulo da exortação apostólica Amoris Laetitia, o pastor maior da Igreja Católica, o Papa Francisco, reflete sobre a espiritualidade do casal e da família (313-325), destacando que a presença do Senhor habita na comunidade familiar real e concreta, com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos diários. O papa apresenta o seu entusiasmo pela "alegria do amor": "...apesar das muitas dificuldades" (1), é preciso ir em frente, contando sempre com Cristo. "Avancemos, famílias. Continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais! Não percamos a esperança por causa de nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida"(325).

Reafirma a inabitação do próprio Deus na comunhão familiar: "A presença do Senhor habita na família real e concreta, com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos divinos"; "A espiritualidade familiar é feita de milhares de gestos reais e concretos. Deus tem a sua própria habitação nesta variedade de dons e encontros que fazem maturar a comunhão. Esta dedicação une o 'humano e o divino' porque está cheia do amor de Deus" (315). Sublinha que "a comunhão familiar vivida é um verdadeiro caminho de santificação na vida ordinária e de crescimento místico, um meio para a união íntima com Deus".

Com o subtítulo - ‘Unidos em oração à luz da Páscoa’, ressalta a oração em família como "um meio privilegiado para exprimir e reforçar a fé pascal" (317), acentuando as expressões da piedade popular, com a culminância na palavra e na eucaristia na celebração e no descanso dominical. Com o outro subtítulo – ‘Espiritualidade do amor exclusivo e libertador’, reforça que se deve reconhecer a presença de Cristo no outro, onde "os esposos assumem o desafio e o anseio de envelhecer e gastar-se juntos e assim refletem a fidelidade de Deus. Esta firme decisão que marca um estilo de vida é uma 'exigência interior do pacto de amor conjugal" (319).

Tematizando a 'Espiritualidade da solicitude, da consolação e do estímulo', o sucessor de Pedro afirma que "os esposos cristãos são cooperadores da graça e testemunhas da fé um para o outro, para com os filhos e mais familiares". Para tal doação deve haver a disponibilidade gratuita e generosa, o despojamento e a liberdade interior, na compreensão de que não pode possuir o outro na sua total intimidade, mas que ambos pertencem ao Senhor, desenvolvendo uma madura autonomia. E enfatiza: "A vida em casal é uma participação na obra fecunda de Deus e cada um é para o outro uma permanente provocação do espírito. Assim, os dois são entre si reflexos do amor divino que conforta com a palavra, o olhar, a carícia, o abraço" (321). Espiritualidade refletida também na santidade da união afetivo-sexual, já abordada pelo papa (cf  74), cumprindo o fim unitivo do amor conjugal no matrimônio, como valorizara na exortação (cf  36), ao lado do outro fim, procriativo, na geração e educação dos filhos, na consciência e vivência amorosa das duas propriedades essenciais, a unidade-fidelidade e a indissolubilidade.

O papa chama esta divina missão de "pastoreio misericordioso", onde cada um é "pescador de homens" (Lc 5,10) ou "um lavrador que trabalha nesta terra fresca que são os seus entes queridos, incentivando o melhor deles". E conclui: "A fecundidade matrimonial implica promover" (...) "Isto é um culto a Deus, pois foi ele que semeou muitas coisas boas nos outros, com a esperança de que as façamos crescer" (322). O sentido missionário da família cristã que recoloca, com entusiasmo: "Sob o impulso do espírito, o núcleo familiar não só acolhe a vida no próprio seio, mas abre-se também, sai de si para derramar o seu bem nos outros para cuidar deles e procurar a sua felicidade" (324). E termina com uma belíssima oração pela família.

Nos diversos ângulos da vida cristã e da edificação da pessoa humana, do casal, da família e da Igreja, a exortação apostólica Amoris Laetitia se apresenta como uma abençoada enciclopédia teológica, afetiva, espiritual e pastoral, refletindo a maternidade e a paternidade eclesial, no serviço de acolhida, compreensão, acompanhamento, cooperação, amparo, auxílio, conversão, direcionamento, iluminação, evangelização, santificação e salvação de cada filho, o mais perdido, o mais afastado, o mais equivocado, esmagado, desfigurado ou destruído, com todas as graças abundantes e regeneradoras da misericórdia do Bom Pastor.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler e assessor eclesiástico diocesano da Pastoral Familiar. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Consciência, comunhão e pastoral em favor da família

domingo, 04 de julho de 2021

Continuamos a nossa apresentação sintética sobre a exortação Amoris Laetitia, do Papa Francisco, sobre a alegria do amor na família, a dignidade e missão desta divina instituição do projeto de Deus. No quinto capítulo (163-198), o pontífice reflete sobre a fecundidade: “o amor conjugal ' não se esgota no interior do próprio casal (...). Os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmos a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe" (165).

Continuamos a nossa apresentação sintética sobre a exortação Amoris Laetitia, do Papa Francisco, sobre a alegria do amor na família, a dignidade e missão desta divina instituição do projeto de Deus. No quinto capítulo (163-198), o pontífice reflete sobre a fecundidade: “o amor conjugal ' não se esgota no interior do próprio casal (...). Os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmos a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe" (165). Aprofunda o sentido do amor dos pais e o lugar que os filhos ocupam na família. E constata: "desde o início, numerosas crianças são rejeitadas, abandonadas e subtraídas à sua infância e ao seu futuro. Alguns ousam dizer, como que para se justificar que foi um erro tê-las feito vir ao mundo. Isto é vergonhoso!".

E questiona: " Que aproveitam as solenes declarações dos direitos do homem e dos direitos da criança, se depois punimos as crianças pelos erros dos adultos?"  Ao contrário, o sucessor de Pedro afirma que "os pais ou os membros da família devem fazer todo o possível para aceitá-la (a criança) como dom de Deus e assumir a responsabilidade e carinho" (166). Também frisa a valorização e o amor aos idosos: "como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descarte, com a alegria transbordante de um novo abraço entre jovens e idosos" (191). Ainda ressalta a relação entre os irmãos: "...uma experiência forte, inestimável, insubstituível" (194). Destaca o valor da vida e da gravidez e agradece às mães: "Queridas mães, obrigado... por aquilo que sois na família e pelo que dais à Igreja e ao mundo". Incentiva a adoção e reafirma a valorização e o sentido cristão do corpo.

No sexto capítulo (199-258), reflete sobre as ações pastorais da Igreja em favor da família, destacando a preparação dos noivos, recordando a riqueza da atuação pastoral remota acentuada pela Familiaris Consortio, de São João Paulo II, a formação das crianças, adolescentes e jovens para o sentido profundo e responsável do matrimônio e da família, a preparação próxima, o cuidado para com a celebração, a assistência e apoio psicológico e espiritual dos casais mais experientes aos mais novos nos primeiros anos de vida matrimonial, com plantões e consultórios de acompanhamento da Pastoral Familiar;  o planejamento familiar, o suporte às crises da vida conjugal também por uma estrutura pastoral organizada, fazendo a mediação dos conflitos e sustentando a perseverança dos casais.

Conclui com as situações que chama de "complexas", como a homoafetividade, os casos de nulidade e a morte. Em todas estas situações deve haver um abraço acolhedor de misericórdia, compreendendo a pessoa humana e iluminando-a para um caminho de santificação, amparo e aperfeiçoamento espiritual a partir da proposta cristã. O que o Papa chama de progressividade pedagógica e pastoral.

No capítulo seguinte, reflete sobre a educação dos filhos, especialmente a moral, afetiva, sexual e religiosa. Relembra que os pais são os primeiros formadores na fé e na vida religiosa, sendo a família a Igreja doméstica e a primeira escola de virtudes humanas e cristãs. Alerta para o uso da internet, a educação para uma visão crítica e ética conforme os valores e os princípios do equilíbrio, na liberdade com a responsabilidade, exercendo também a correção no amor (259-290).

Trata ainda, no capítulo oitavo, sobre as situações chamadas de "irregularidades" no matrimônio (291-312) como o divórcio e o recasamento. Lembra que os casais em tal situação não estão excomungados da Igreja. Ao contrário, devem participar dela (243). Mostra que muitas realidades devem ser analisadas caso a caso, levando em consideração as injustiças, dores e sofrimentos das pessoas que vivenciam estas experiências, não se devendo tratar de forma generalizada todos os casos, evitando-se os julgamentos. Deve haver, sobretudo, a acolhida na misericórdia e o engajamento na vida e espiritualidade eclesial, com retiros, formações e atividades pastorais.

Reafirma ainda as normas da Igreja, sem absolutizá-las e conclui de forma iluminadora: "Compreendo aqueles que preferem uma pastoral mais rígida que não dê lugar a confusão alguma, mas creio sinceramente que Jesus Cristo quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito derrama no meio da fragilidade" (308).

Esta é a marca e a reafirmação profética do pastoreio do Papa Francisco: o encontro, como o impulso acolhedor de Cristo, da missão pastoral com o coração humano onde está e como está, com suas dores e sofrimentos, com suas deficiências e dificuldades, limitações e contradições, erros e pecados... para o resgate amoroso e salvação, no abraço misericordioso do Pai, na iluminação do Espírito Santo.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler e assessor eclesiástico diocesano da Pastoral Familiar. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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O amor vivido e comunicado na família

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Nunca é demais falar sobre a família, sua importância, riqueza, beleza, valores, sua fundação divina. Comunicar a família, o alicerce de toda a sociedade, a escola primeira e permanente das virtudes humanas e cristãs, o santuário da vida e do amor, a Igreja doméstica... sempre será a nossa missão, preservando a identidade da própria pessoa humana e de toda a humanidade, cooperando para a realização do projeto de Deus da criação e sustentação da união sagrada familiar rumo à plenitude da santificação na comunhão celeste.

Nunca é demais falar sobre a família, sua importância, riqueza, beleza, valores, sua fundação divina. Comunicar a família, o alicerce de toda a sociedade, a escola primeira e permanente das virtudes humanas e cristãs, o santuário da vida e do amor, a Igreja doméstica... sempre será a nossa missão, preservando a identidade da própria pessoa humana e de toda a humanidade, cooperando para a realização do projeto de Deus da criação e sustentação da união sagrada familiar rumo à plenitude da santificação na comunhão celeste.

No capítulo terceiro ainda da Exortação Apostólica Amoris Laetitia (89-164), o Papa Francisco exalta o matrimônio como "a íntima comunidade de vida e amor conjugal que constitui um bem para os próprios esposos e a sexualidade está ordenada para o amor conjugal entre o homem e a mulher". E, por isso, "a vida conjugal cheia de sentido humano e cristão pode ser concretizada pelos esposos a quem Deus não concedeu ter filhos". "Contudo essa união está ordenada para a geração 'por sua própria natureza' (n. 80).

Ressalta ainda: "É preciso redescobrir a mensagem da encíclica Humanae Vitae de São Paulo VI que sublinha a necessidade de respeitar a dignidade da pessoa na avaliação moral dos métodos de regulação da natalidade(...) A escolha da adoção e do acolhimento exprime uma fecundidade particular da experiência conjugal". E completa: " Com particular gratidão a Igreja apoia as famílias que acolhem, educam, rodeiam de carinho os filhos portadores de necessidades especiais" (n. 82). Rejeita, com firmeza, o aborto, a eutanásia e a pena de morte. Afirma que "se a família é o santuário da vida, o lugar em que a vida é gerada e cuidada, constitui uma contradição pungente fazer dela o lugar em que a vida é engada e destruída".

Ainda neste capítulo, o Papa recorda a obrigação moral e a objeção de consciência àqueles que trabalham nas estruturas de assistência de saúde (n. 83). Conclui reafirmando que "a Igreja é chamada a colaborar com uma ação pastoral adequada, para que os próprios pais possam cumprir a sua missão educativa" (n. 85), a começar pela iniciação cristã, por meio de comunidades acolhedoras, lembrando que "a educação integral dos filhos é simultaneamente 'dever gravíssimo" e "direito primário" dos pais (n. 84). A Igreja é família de famílias constantemente enriquecida pela vida de todas as igrejas domésticas" (n. 87).

No quarto capítulo, o sucessor de Pedro reflete sobre o amor verdadeiro no matrimônio. Partindo do texto de 1Cor 13, apresenta suas atitudes essenciais: paciência, serviço, cura da inveja, humildade, amabilidade, desprendimento, conciliação, perdão, alegria, desculpa, confiança, espera, suportação. Fala, em seguida, sobre o crescer na caridade conjugal, num "... amor santificado, enriquecido e iluminado pela graça do sacramento do matrimônio". "O espírito que o Senhor infunde dá um coração novo e torna o homem e a mulher capazes de se amarem como Cristo nos amou" (n.120). "0 matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós" (n. 121).

Insiste que o amor entre os esposos deve crescer em Cristo, desde o namoro, na valorização do diálogo. É uma união de vida toda e de tudo em comum, com alegria e beleza, num casamento por amor. Amor que se manifesta e cresce, vivenciando as emoções, sinais afetivos basilares - prazer ou sofrimento, alegria ou tristeza, ternura ou receio - pressuposto da atividade psicológica elementar, buscando que se tornem um bem para a família e estejam a serviço da vida em comum, referencial de maturidade e de um amor sobrenatural. (n.123-146) Em seguida, o Papa refere-se à dimensão erótica do amor, entendendo-a como "dom de Deus que embeleza o 'encontro dos esposos". Rejeita a submissão sexual e enfatiza a riqueza do matrimônio, da virgindade e do celibato.

Em toda a exortação rebrilha a fundamental teologia do matrimônio, como expressão do amor infinito e misericordioso de Deus, com profunda sensibilidade pastoral, contemplando os diversos âmbitos da antropologia e da psicologia à luz da revelação cristã na construção da comunhão familiar.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese e assessor eclesiástico da Pastoral Familiar.

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Comunicar a alegria do amor na família

terça-feira, 22 de junho de 2021

Comemoramos em 2021, o Ano da Exortação Apostólica Amoris Laetitia. Publicada em 2016, esta rica palavra do nosso iluminado Papa Francisco ecoa nos campos da Igreja. Nela, ele trata da alegria do Amor na Família e o seu texto é a conclusão de uma longa jornada de reflexão com os bispos durante dois sínodos: em 2014 e 2015.

Comemoramos em 2021, o Ano da Exortação Apostólica Amoris Laetitia. Publicada em 2016, esta rica palavra do nosso iluminado Papa Francisco ecoa nos campos da Igreja. Nela, ele trata da alegria do Amor na Família e o seu texto é a conclusão de uma longa jornada de reflexão com os bispos durante dois sínodos: em 2014 e 2015.

Com uma introdução e nove capítulos, o papa trata do tema em 325 números, com uma abertura inspirada na Sagrada Escritura, considerando a partir daí a situação atual das famílias, lembrando, a seguir, alguns elementos essenciais da doutrina da Igreja sobre o matrimônio e a família, dedicando depois dois capítulos ao amor. Destaca, em seguida, alguns caminhos pastorais que nos levam à construção familiar sólida e fecunda, conforme o plano de Deus, com um capítulo especial para a educação dos filhos. Faz, então, "um convite à misericórdia e ao discernimento pastoral perante situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor nos propõe". No final, traça breves linhas de espiritualidade familiar, concluindo a exortação com uma oração à Sagrada Família.

Todas as famílias, sem exceção, são oportunidades e não problemas, afirma o papa (nº 7). Falar da família é falar de uma boa notícia (nº 1). Insiste na sua beleza, missão e valor, inclusive a incompleta (n.n. 296-300). Reafirma a ideia central de que a família é o lugar de realização e de amor, mesmo tendo falhas e limitações. Crê que ela é espaço de felicidade sempre e encoraja a todos a apreciar os dons do matrimônio e da família, a uma convivência familiar. Reflete sobre a dignidade do casal (homem e mulher) e da família na Sagrada Escritura, a união conjugal que os leva a "tornar-se uma só carne", quando se tornam "mestres da fé para seus filhos", devendo educá-los, destacando-se nas famílias a virtude da ternura, nestes "tempos de relações frenéticas e superficiais" (n.28). Estas são as temáticas do primeiro capítulo (nn.8-30).

Num segundo capítulo (nn. 31-57), é apresentado o quadro atual da família e seus desafios, as luzes e sombras da instituição familiar. Por um lado, mais liberdade e distribuição das tarefas em casa, com uma comunicação pessoal valorizada. Por outro, os elementos que desagregam e destroem: individualismo, pressa e estresse, desvalorização do matrimônio, a cultura do provisório, a afetividade sem limite, o enfraquecimento da fé e da prática religiosa. Manifesta grande preocupação para com as questões delicadas como o abuso sexual de crianças, as migrações, a miséria e a exclusão, as pessoas com deficiências e os idosos. Ressalta também os desafios como a violência, a desconstrução jurídica da família, a negação da diferença e da reciprocidade natural entre homem e mulher, o desemprego.

Há uma profunda reflexão no terceiro capítulo sobre os ensinamentos de Jesus e da Igreja sobre a família, o valor do matrimônio (nn .61-75). O Papa Francisco fala da presença divina, as "sementes do verbo", nas situações de imperfeição. E "o olhar de Cristo, cuja luz ilumina cada homem" (Jo 1,9; Gaudium et Spes n. 22) que "inspira o cuidado pastoral da Igreja pelos fiéis que simplesmente convivem ou que só contraíram o casamento civil, ou então que são divorciados recasados.

Na perspectiva da pedagogia divina, a Igreja dirige-se com amor a quantos participam da vida dela de modo imperfeito: invoca com eles a graça da conversão, encoraja-os a realizar o bem, a cuidar com amor um do outro e a pôr-se a serviço da comunidade na qual vivem e trabalham..." (n. 78). E relembra aos pastores: "Diante de situações difíceis e de famílias feridas, é necessário recordar sempre um princípio geral: 'Saibam os pastores que, por amor à verdade, estão obrigados a discernir bem as situações' (Familiaris Consortio n. 84). O grau de responsabilidade não é igual em todos os casos e podem existir fatores que limitam a capacidade de decisão. Por isso, enquanto se deve expressar claramente a doutrina, é preciso evitar juízos que não levam em consideração a complexidade das diversas situações, e é necessário prestar atenção ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição"(n.79).

Este e outros temas importantes são abordados na exortação do Papa que continuaremos apresentando nos próximos artigos.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese e assessor eclesiástico diocesano da Pastoral Familiar. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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