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Os frutos do individualismo

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Algumas vezes aqui nesta coluna se falou sobre o grande mal da cultura contemporânea: o individualismo. Historicamente, ele assumiu um papel de fundamental importância no desenvolvimento da cultura ocidental.

Algumas vezes aqui nesta coluna se falou sobre o grande mal da cultura contemporânea: o individualismo. Historicamente, ele assumiu um papel de fundamental importância no desenvolvimento da cultura ocidental.

No âmbito econômico teve papel decisivo no sistema capitalista, proporcionando grande mudança na forma de compreender e avaliar o indivíduo.  O dinheiro torna-se o objeto de poder, vale mais quem ganha mais. Ou seja, ele, utopicamente, dá ao homem a mesma liberdade e personalidade em todos os lugares do mundo. Contudo, quando alguém não consegue adaptar-se a esta realidade sofre as terríveis consequências.

Infelizmente, quando um indivíduo não consegue incluir-se nos padrões impostos pelo individualismo, torna-se alvo de muitas doenças psíquicas e sociais. As crises de identidade, os transtornos obsessivos compulsivos, a síndrome do pânico, a ansiedade, a depressão, entre outros, certamente são sintomas desse processo de individualização. De igual modo, a exclusão e o abandono podem ser contados entre as doenças sociais causadas pelo individualismo doentio.

Desde o início de seu pontificado, Francisco acusa a “cultura do descarte” como uma triste consequência dos padrões de vida escolhidos pela sociedade. “Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que, aliás, chega a ser promovida” (Evangelii gaudium, 53). Esta realidade é agravada no contexto da pandemia em que estamos vivendo.

Assim, o Papa Francisco alerta que “o coronavírus não é a única doença a ser combatida, mas a pandemia trouxe à luz patologias sociais mais vastas. Uma delas é a visão distorcida da pessoa, um olhar que ignora a sua dignidade e a sua índole relacional. Por vezes, consideramos os outros como objetos, objetos para serem usados e descartados. Na realidade, este tipo de olhar cega e fomenta uma cultura do descarte individualista e agressiva, que transforma o ser humano num bem de consumo” (Audiência Geral, 12 ago. 2020).

À luz da fé, sabemos que aos olhos de Deus todos nós possuímos o mesmo valor e somos amados sem distinção. Fomos criados não como objetos, mas como pessoas amadas e capazes de amar; fomos criados à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 27).

Cientes dessa verdade, somos levados a assumir o papel de protagonistas da transformação cultural promovendo ambientes de valorização da dignidade, do bem comum e do respeito de toda a criação.

Esta consciência renovada pela dignidade de cada ser humano tem sérias implicações sociais, econômicas e políticas. Olhar para o irmão e para toda a criação como uma dádiva recebida do amor do Pai suscita um comportamento de atenção, cuidado e admiração” (idem).

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Um olhar para a educação

terça-feira, 08 de fevereiro de 2022

A chegada do mês de fevereiro traz consigo um importante tema para nossa reflexão: a educação.

Falar de educação no Brasil parece ser uma tarefa esgotada e estéril, pois todas as reflexões parecem desencadear num diálogo em que todos falam e ninguém se escuta. Mas, apesar de ser uma empreitada difícil e muitas vezes silenciada, não se pode deixar de clamar a atenção sobre tão importante tema para a formação pessoal e coletiva de nossos jovens e crianças.

A chegada do mês de fevereiro traz consigo um importante tema para nossa reflexão: a educação.

Falar de educação no Brasil parece ser uma tarefa esgotada e estéril, pois todas as reflexões parecem desencadear num diálogo em que todos falam e ninguém se escuta. Mas, apesar de ser uma empreitada difícil e muitas vezes silenciada, não se pode deixar de clamar a atenção sobre tão importante tema para a formação pessoal e coletiva de nossos jovens e crianças.

É notório o quanto a educação no Brasil sofre com o descaso e incompreensão dos que nos governam. Faz-se cada dia mais urgente uma política transformadora educacional que garanta o acesso a uma formação de qualidade a todos os indivíduos.

A urgência e gravidade desta transformação se acentuaram com pandemia da Covid-19. Afastados das salas do ambiente escolar, os alunos sofreram grandes danos na formação acadêmica-intelectual e social.

A nova realidade fez aumentar a diferença entre aqueles que tinham mais dificuldades de aprender; afastou muitos da educação por falta de condições de acesso às plataformas digitais; exigiu do educador se reinventar e se adaptar às novas tecnologias, novas metodologias, transformando-se. Infelizmente, ainda nos deparamos com o lastimoso e progressivo esvaziamento do sentido e do valor da ‘educação’ e o descaso com os profissionais que dedicam suas vidas no auxílio aos pais na nobre tarefa de educar os filhos.

É inevitável pensar que esta grande transformação só será possível quando houver um comprometimento integral da comunidade brasileira. “Não transformaremos o mundo, se não mudarmos a educação […] O pacto educacional, um pacto educativo que se cria entre a família, a escola, a pátria, a cultura, rompeu-se profundamente e já não se consegue consertar. O pacto educacional que se rompeu significa que tanto a sociedade como a família e as diversas instituições delegam a educação aos agentes da educação, aos docentes que — geralmente mal pagos — carregam nos seus ombros esta responsabilidade e, se não obtêm bons resultados, são repreendidos” (Papa Francisco. Discurso por ocasião do IV Congresso Mundial de Scholas Occurrentes, 5 de fevereiro de 2015).

Seguindo a consciência de que educar é um ato que envolve toda a sociedade, isto é, não está restrito à escola, se faz necessário destacar as palavras do Papa Francisco aos participantes na Plenária da Congregação para a Educação Católica: “Educar é um gesto de amor, é dar vida. E o amor é exigente, requer que utilizemos os melhores recursos, que despertemos a paixão e que nos coloquemos a caminho com paciência, juntamente com os jovens. [...] Os jovens têm necessidade de qualidade do ensino e igualmente de valores, não apenas enunciados, mas testemunhados. A coerência é um fator indispensável na educação dos jovens. Coerência! Não se consegue fazer crescer, não se pode educar, sem coerência: coerência e testemunho” (13 fev. 2014).

Desta forma, cabe a nós assumir com compromisso e como uma verdadeira ‘comunidade educativa’ o progresso no campo da educação. Construindo uma cultura que dá o devido valor à formação integral do indivíduo, que seja capaz de ultrapassar o limite da técnica e responsabilizar-se também pela formação moral do indivíduo.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Saber acolher Deus

terça-feira, 01 de fevereiro de 2022

No último domingo, 30 de janeiro, o Papa Francisco discursou sobre a primeira pregação de Jesus na sua cidade, Nazaré. Em vez de receber aprovação, Jesus encontrou incompreensão e até hostilidade (cf. Lc 4, 21-30). Os seus concidadãos, mais do que uma palavra de verdade, queriam milagres, sinais prodigiosos. O Senhor não os realiza e eles rejeitam-no, pois dizem que já o conheciam desde criança, que é o filho de José (cf. v. 22) e outras coisas mais. Então, Jesus pronunciou uma frase que se tornou proverbial: “Nenhum profeta é bem aceito na sua pátria” (v. 24).

No último domingo, 30 de janeiro, o Papa Francisco discursou sobre a primeira pregação de Jesus na sua cidade, Nazaré. Em vez de receber aprovação, Jesus encontrou incompreensão e até hostilidade (cf. Lc 4, 21-30). Os seus concidadãos, mais do que uma palavra de verdade, queriam milagres, sinais prodigiosos. O Senhor não os realiza e eles rejeitam-no, pois dizem que já o conheciam desde criança, que é o filho de José (cf. v. 22) e outras coisas mais. Então, Jesus pronunciou uma frase que se tornou proverbial: “Nenhum profeta é bem aceito na sua pátria” (v. 24).

Jesus conhecia o seu povo, conhecia o coração do seu povo, conhecia o risco que estava a correr e previa a rejeição. Então podemos perguntar-nos: se é assim, se previa o fracasso, por que foi à sua cidade? Por que fazer o bem a pessoas que não estão dispostas a aceitá-lo? A resposta é simples: diante dos nossos fechamentos, Ele não retrocede: não põe limites ao seu amor. Perante os nossos fechamentos, ele vai em frente. Vemos um reflexo disto nos pais que estão conscientes da ingratidão dos filhos, mas não deixam de os amar e de lhes fazer o bem. Deus é assim, mas a um nível muito mais elevado. E hoje também nos convida a acreditar no bem, a nunca deixar de procurar fazer o bem.

Mas no que aconteceu em Nazaré encontramos outro aspecto. A hostilidade para com Jesus por parte dos “seus” provoca-nos: eles não foram acolhedores, e nós? Diante deste questionamento, o Papa ressalta que Jesus apresentou dois modelos de acolhimento: uma viúva de Sarepta, na Sidônia, e Naamã, o sírio. Duas figuras, que apesar de pagãs, acolheram os profetas: a primeira acolheu Elias, o segundo Eliseu. E concluiu: o modo de acolher Deus é estar sempre disponível, acolhê-lo e ser humilde. A fé passa por isto: disponibilidade e humildade. A viúva e Naamã não rejeitaram os caminhos de Deus e dos seus profetas; foram dóceis, não rígidos e nem fechados.

Jesus também segue o caminho dos profetas: apresenta-se como não o esperaríamos. Aqueles que procuram milagres não o encontrarão, aqueles que procuram novas sensações, experiências íntimas, coisas estranhas; aqueles que procuram uma fé feita de poder e de sinais exteriores não o encontrarão. Não, eles não o encontrarão. Apenas aqueles que aceitam os seus caminhos e desafios, sem queixas, sem suspeitas, sem críticas e nem caras feias, o encontrarão. Jesus, por outras palavras, pede-nos que O acolhamos na realidade cotidiana que vivemos; na Igreja de hoje, como ela é; naqueles que estão próximos todos os dias; na vida concreta dos necessitados, nos problemas das nossas famílias, nos pais, nos filhos, nos avós, ali acolhemos Deus.

E nós, somos acolhedores ou parecidos com os seus concidadãos, que pensavam saber tudo sobre ele? “Estudei teologia, fiz o curso de catequese... Sei tudo sobre Jesus!”. Sim, como um estulto! Não sejas estúpido, não conheces Jesus. Talvez, após tantos anos de fé, pensamos que conhecemos bem o Senhor, muitas vezes com as nossas ideias e julgamentos. O risco é acostumar-nos, acostumar-nos a Jesus. E como nos habituamos? Fechando-nos, fechando-nos à sua novidade, ao momento em que ele bate à porta e nos diz algo novo, ele quer entrar em nós. Devemos sair deste permanecer fixados nas nossas posições. O Senhor pede uma mente aberta e um coração simples. E quando uma pessoa tem uma mente aberta, um coração simples, tem a capacidade de se surpreender, de se maravilhar. O Senhor surpreende-nos sempre, esta é a beleza do encontro com Jesus. (Angelus, 30 jan. 2022 - Fonte: www.vatican.va)

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Palavra e vida

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Na semana passada refletimos sobre o perigo do silêncio de nossos sentimentos. Nesta semana voltemos nosso olhar para o valor da palavra como fonte de vida. No último domingo, 23, o Papa Francisco ao refletir sobre a inauguração da pregação de Jesus (cf. Lc 4:14-21) recordou que, após a leitura do texto do Profeta Isaías, "todos os olhos estavam fixos Nele" (v. 20) e Jesus começa dizendo: "Esta Escritura, que você acabou de ouvir, foi cumprida hoje" (v. 21).

Na semana passada refletimos sobre o perigo do silêncio de nossos sentimentos. Nesta semana voltemos nosso olhar para o valor da palavra como fonte de vida. No último domingo, 23, o Papa Francisco ao refletir sobre a inauguração da pregação de Jesus (cf. Lc 4:14-21) recordou que, após a leitura do texto do Profeta Isaías, "todos os olhos estavam fixos Nele" (v. 20) e Jesus começa dizendo: "Esta Escritura, que você acabou de ouvir, foi cumprida hoje" (v. 21).

Seguindo a reflexão, Francisco nos convida a pensar no mistério da atualidade da Palavra de Jesus. “A Palavra de Deus é sempre ‘hoje’. Um ‘hoje’ começa: quando você lê a Palavra de Deus, um ‘hoje’ começa em sua alma, se você entende bem. Hoje. A profecia de Isaías remonta séculos antes, mas Jesus, ‘pelo poder do Espírito’ (v. 14), a torna atual e, acima de tudo, a traz à realização e indica o caminho para receber a Palavra de Deus: hoje. Não como uma história antiga, não: hoje. Hoje fale com seu coração”.

O Santo Padre chama atenção para a necessidade de encarnarmos a Palavra de Deus em nossa vida. “Os compatriotas de Jesus ficam impressionados com suas palavras. Mesmo que, ofuscados por preconceitos, não acreditem nele, percebem que seu ensino é diferente do de outros professores (cf. v. 22): sentem que há mais em Jesus”. E continua chamando a atenção aos que têm o compromisso de ensinar e pregar a palavra de Deus: “às vezes, acontece que nossas pregações e ensinamentos permanecem genéricos, abstratos, não tocam a alma e a vida das pessoas. E por quê? Por falta da força disso hoje, aquele que Jesus "preenche com significado" com o poder do Espírito é hoje. Hoje ele está falando com você. Sim, às vezes você ouve palestras impecáveis, discursos bem construídos, mas eles não movem o coração, e assim tudo permanece como antes”.

O Papa lamenta as vezes que as homilias em nossas Igrejas são abstratas e, em vez de despertar a alma, elas dormem. E denuncia: “A pregação sem a unção do Espírito, empobrece a Palavra de Deus, cai no moralismo ou conceitos abstratos; ele apresenta o Evangelho com desprendimento, como se estivesse fora do tempo, longe da realidade. E este não é o caminho. Mas uma palavra na qual a força de hoje não pulsa não é digna de Jesus e não ajuda a vida das pessoas. É por isso que aquele que prega, por favor, é o primeiro que deve experimentar o hoje de Jesus, a fim de poder comunicá-lo no hoje dos outros.

Concluindo a meditação dominical, o Papa Francisco ressalta que a Palavra de Deus é viva e eficaz e que produz vida. “Ela nos muda, entra em nossos assuntos, ilumina nosso cotidiano, conforta e traz ordem. Lembremos: a Palavra de Deus transforma qualquer dia no hoje em que Deus nos fala. Então, vamos levar o evangelho na mão, a cada dia uma pequena passagem para ler e reler. Leve o Evangelho no bolso ou na sua bolsa, para lê-lo na viagem, a qualquer momento e leia-o calmamente. Com o tempo, descobriremos que essas palavras são feitas propositalmente para nós, para nossa vida. Eles nos ajudarão a receber cada dia com um olhar melhor, mais sereno, porque, quando o Evangelho entra hoje, ele enche-o de Deus”.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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O grito do silêncio

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

“Para onde vão nossos silêncios quando deixamos de dizer o que sentimos?” Esta semana me deparei com este questionamento da Mafalda, a famosa e perspicaz personagem em quadrinho de Joaquín Salvador Lavado. A dúvida de Mafalda gerou em mim um certo incômodo, o que me levou a escrever esta reflexão.

“Para onde vão nossos silêncios quando deixamos de dizer o que sentimos?” Esta semana me deparei com este questionamento da Mafalda, a famosa e perspicaz personagem em quadrinho de Joaquín Salvador Lavado. A dúvida de Mafalda gerou em mim um certo incômodo, o que me levou a escrever esta reflexão.

Analisando o cotidiano de nossa sociedade, percebi que muitas vezes somos levados a calar a voz do que sentimos ou pensamos para nos enquadrarmos num pseudoparadigma do que é certo ou errado. As redes sociais estão cheias de pessoas felizes e sorridentes, o que faz parecer uma realidade paralela quando comparada a vida real. Seguimos uma ditadura do bem-estar, do super-homem.

Forçados a calar a voz dos sentimentos, da própria identidade, na tentativa de se enquadrar nos ditames da cultura hodierna, a humanidade é levada a ignorar a voz da sua própria essência. E, esquecendo-se de que a vulnerabilidade à dor é o que nos torna humanos, calamos o que sentimos e acabamos por sucumbir a transtornos, doenças e a morte.

Desde crianças somos obrigados a segurar as emoções. Quantas vezes ouvimos que chorar é “sinal de fraqueza”. Desde muito pequenos, vamos sendo castrados em nossos sentimentos e emoções. E, quando podemos tomar nossas próprias decisões, em nome de “convenções da sociedade”, seguramos nossa raiva, nossa indignação, não abraçamos nossos amigos e nossos pais.

Quando percebemos nos tornamos um poço de sentimentos que precisam sair de alguma forma. Se não as expressamos do modo correto, estes sentimentos calados passam a se manifestar em forma de raiva e/ou tristeza, e por muitas vezes nos levam a depressão e à morte. Quanto mais tempo sofremos calado, mais doente ficamos. A dor faz parte da nossa condição humana e por isso não pode ser negligenciada e calada. Não é porque se sofre que se é mais fraco.

O Papa Bento XVI adverte que “aqueles que diante do sofrimento só sabem dizer que ele deve ser combatido nos enganam” e completa dizendo que, sem dúvida, é preciso fazer tudo para aliviar o sofrimento dos inocentes e limitar a dor. Contudo, não se pode esquecer que não existe vida humana sem sofrimento e que ele é fonte de amadurecimento humano (cf. Ratizinger, J. Compreender a Igreja hoje. p.85).

Jesus em sua vida pública foi capaz de perceber o grito de dor silenciado no coração das pessoas. A mulher pecadora silenciada sob o grito da multidão teve sua dor ouvida pelo Salvador. Ele foi capaz de levantá-la e de fazê-la uma voz a gritar que a lei do amor e da misericórdia é capaz de superar e curar o pecado.

Ela não foi a única a ser percebida por Jesus. Zaqueu, Mateus, o Cego de Jericó, os leprosos e todo aquele que fora silenciado pela ditadura cruel da aparência encontrou em Jesus um ouvinte sincero, leal e compassivo. Seguindo os passos de Jesus, somos chamados a estar atentos às dores caladas de nossa sociedade e proporcionar lugares de fala e escuta aos que sofrem. Seremos capazes de aliviar as dores do mundo quando formos capazes de dar voz e vez a todos.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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De um padre, uma homenagem

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Quero falar a partir do que sei, do que vi e experimentei, por isso, quando falo em primeira pessoa não interprete como pedantismo, mas como testemunho de uma verdade vivida.

Nascido poucos dias antes do nascimento do meu pai, em 7 de março de 1956, tendo, portanto, idade e gabarito para ser, não só meu pai, mas meu mestre, como o foi de muitos nestas terras friburguenses, o padre Genival Nunes Fernandes decide deixar um vazio em nossos corações ao retornar para sua terra natal.

Quero falar a partir do que sei, do que vi e experimentei, por isso, quando falo em primeira pessoa não interprete como pedantismo, mas como testemunho de uma verdade vivida.

Nascido poucos dias antes do nascimento do meu pai, em 7 de março de 1956, tendo, portanto, idade e gabarito para ser, não só meu pai, mas meu mestre, como o foi de muitos nestas terras friburguenses, o padre Genival Nunes Fernandes decide deixar um vazio em nossos corações ao retornar para sua terra natal.

Presença silenciosa e muitas vezes divertida é marca de sua personalidade. Quantas vezes “choramos de rir” dentro da sala de aula, em sua pregação ou numa conversa informal. Com um sotaque típico nordestino, por sinal belíssimo, nunca cedeu espaço para o chiado “carioquês”, como que querendo dizer: “não me arranque de minhas origens senão pego na minha peixeira”.

As inúmeras funções que exerceu com tanto carinho demonstraram sua envergadura e fundura de seu caráter. Somos testemunhas disto, inclusive eu, pois convivi com ele na Mitra Diocesana, e não foram poucas as vezes que pude ver seu esmero pela verdade.

É um mestre espiritual, sem dúvida, porque conhece os mestres espirituais, mas também porque sabe escutar e falar. Todas as vezes que estive diante dele na confissão ou orientação espiritual, sentia como se estivesse próximo a alguém que sabe suspender os juízos e, portanto, não dar respostas prontas. Numa palavra, caminha junto com o penitente sabendo que está diante de uma pessoa única.

Só de ordenação possui quase o tanto que eu de idade, 37 anos. Ordenou-se, como ele mesmo disse em determinada ocasião, para ajudar todo tipo de pobre, mas enriqueceu a muitos com sua erudição.

Décimo sexto filho de uma família com 17 irmãos, vai voltar para o nordeste, mas por aqui deixará saudades e uma família espiritual mais numerosa que a de suas origens. Não voltará para Riacho de São Bento, em Juazeirinho, na Paraíba, onde nasceu, contudo, retornará para descansar de sua labuta como um autêntico filho espiritual de São Bento, cuja Regra aconselha que, em seus anos mais longevos, o monge possa recolher-se numa vida pacata e dedicada à oração.

E, por fim, creio que posso falar por todos os padres e amigos: desejamos, do fundo do nosso coração, um retorno feliz na certeza de que Padre Genival completou a sua carreira em nossa diocese. Sem dúvida, somente por aqui, pois queremos vê-lo bem, vivendo longos anos com saúde no corpo e na alma. Desejamos, sobretudo, aquela alegria do céu, a espiritual, que ninguém pode dar a não ser Deus. Pela intercessão da Virgem Imaculada, a quem entregamos nosso querido amigo, pedimos que todos os sonhos de santidade que ele possui no coração não sejam frustrados, porém realizados conforme a ação divina na infinita misericórdia de Jesus.

Padre Celso Henrique Macedo Diniz é administrador da Paróquia Santo Antônio e Cristo Ressuscitado, no Prado, distrito de Conselheiro Paulino. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Desperte o novo que há em você!

terça-feira, 04 de janeiro de 2022

Esse é um texto sobre o recomeçar, no contexto do Ano Novo que se inicia, mesmo que, a princípio, não pareça. Para os apaixonados por café, nada melhor que começar o dia com uma boa dose da bebida, preparada com grãos moídos na hora e coagem feita em uma cafeteira especial, como a prensa francesa ou a moca italiana, ou mesmo o tradicional coador de pano. Isso é maravilhoso! Contudo, tem gente que não sabe que o sabor do café se perde juntamente com o cheiro que escapa. Pois aquele pó guardado há dias dentro do pote que já está sem cheiro, sem gosto e sem encanto não serve para mais nada.

Esse é um texto sobre o recomeçar, no contexto do Ano Novo que se inicia, mesmo que, a princípio, não pareça. Para os apaixonados por café, nada melhor que começar o dia com uma boa dose da bebida, preparada com grãos moídos na hora e coagem feita em uma cafeteira especial, como a prensa francesa ou a moca italiana, ou mesmo o tradicional coador de pano. Isso é maravilhoso! Contudo, tem gente que não sabe que o sabor do café se perde juntamente com o cheiro que escapa. Pois aquele pó guardado há dias dentro do pote que já está sem cheiro, sem gosto e sem encanto não serve para mais nada. É preciso um novo pó a cada novo dia, se quiser ter cheiro e sabor.

Começar o dia despertando o barista que há em você (profissional que produz cafés especiais e bebidas baseadas no café) é uma ótima maneira de provocar a criatividade ao longo do dia. Não se trata de um requinte. É uma arte, assim como na culinária, que dá à mesa diária um toque de esforço pessoal para não permitir que a rotina se encha de tédio e preguiça.

Mas, por que falar de café se o tema central é o ano novo? A maior parte dos brasileiros inicia o dia com uma boa xícara dessa deliciosa bebida que, aliás, harmoniza com muita coisa. E cada um deles é um pouco barista nessa hora. Quem nunca saboreou o delicioso café da Dona Maria e ficou com receio de recusar, numa visita informal, a bebida mais oferecida em sinal de simpatia e acolhida? O café tem o poder de despertar em nós o recomeçar de todo dia, mas também o começar de uma aproximação amigável. É como se disséssemos: “não tenho nada a oferecer, porém, com o café se abre meu coração para você que se aproxima de mim”.

A cada novo ano, é preciso despertar algo novo dentro de nós para uma aproximação amigável com a nova etapa, que não pode acontecer sem o esforço realizado no ano anterior, dia após dia, tal como o café de todos os dias desperta em nós o sabor de recomeçar a jornada diária. Nada de mágico acontece na virada do ano. Eu e você continuaremos a mesma pessoa: aquela que soube recomeçar todos os dias com criatividade ou aquela que desistiu muitas vezes de despertar o barista que há em si logo pela manhã.

Na vida espiritual, é preciso despertar o santo que há em nós pela capacidade de, a cada manhã, a cada recomeço preparar com a bebida da oração a mesa alegre do dia a dia. Ninguém aprende a fazer um café delicioso sem o conhecimento e prática necessárias. E, assim como não é mágica despertar algo novo e criativo dentro de nós, tão pouco o é começar o ano sendo uma pessoa melhor, mais disponível, mais amável, mais generosa para com Deus, mais santa. O ano é novo para quem está se propondo ao novo a cada dia; para quem soube recomeçar depois de cada queda; quem não se conformou com o que já sabia, mas manteve a mente aberta a novos conhecimentos. Em resumo, não há nada de novo ao redor se dentro já não houver.

Não! Infelizmente, não existe um “pó de pirlimpimpim” que transforme tudo que eu fiz de errado em algo maravilhoso. Com responsabilidade e maturidade, enfrentemos com novo ânimo as consequências das escolhas erradas. Entretanto, assim como um novo dia pode começar melhor com o pó de café cheiroso, com sabor de moído na hora, assim sua vida se enche de esperança com o ano novo se você oferecer a ele o propósito de não desistir. Não temos nenhuma mágica a nosso favor, mas temos a graça de Cristo que opera na vontade e a aperfeiçoa. Assim, queira ser novo no Ano Novo, queira aproveitar mais uma chance e Deus também quererá te ajudar. Por fim, ofereça ao Ano Novo uma acolhida amorosa, cheia de realismo, mas graciosa e diga: “não gostaria de entrar para tomar uma xícara de café?”

Padre Celso Henrique Macedo Diniz é administrador da Paróquia Santo Antônio e Cristo Ressuscitado, no Prado, distrito de Conselheiro Paulino. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Agir com misericórdia

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Aproxima-se o fim de mais um ano e a abertura de mais um ciclo em nossas vidas. Todo recomeçar é permeado da esperança de que tudo será diferente. No entanto, está sob nossa responsabilidade fazer construir essa nova realidade. Diante de tudo o que vivemos em 2021, é desejo comum que em 2022 sejamos promotores de humanidade. Assim, é urgente que a misericórdia ocupe o primeiro lugar em nossas atitudes.

Aproxima-se o fim de mais um ano e a abertura de mais um ciclo em nossas vidas. Todo recomeçar é permeado da esperança de que tudo será diferente. No entanto, está sob nossa responsabilidade fazer construir essa nova realidade. Diante de tudo o que vivemos em 2021, é desejo comum que em 2022 sejamos promotores de humanidade. Assim, é urgente que a misericórdia ocupe o primeiro lugar em nossas atitudes.

Na bula de proclamação do Ano Santo da Misericórdia (2015-2016), o Santo Padre convocou toda a Igreja para ser sinal eficaz do agir de Deus Pai. Somos chamados a testemunhar a misericórdia de Deus por toda a humanidade. Não é aleatória a escolha deste tema na era em que vivemos. O mundo está necessitado de misericórdia, a humanidade está necessitada de compaixão.

Como um pastor que conduz seu rebanho, o Papa Francisco encaminha toda sua grei às entranhas da misericórdia de Deus. Ele traça com clareza o caminho que devemos seguir, mostra-nos necessitados da misericórdia, evidencia exemplos, ensina-nos a ver a misericórdia divina que toca nossa humanidade e nos faz relembrar como deve ser o agir de um verdadeiro cristão.

O Sumo Pontífice faz-nos perceber que somos necessitados da misericórdia de Deus. Já em sua primeira missa com o povo (17 de março de  2013), o Santo Padre diz que o primeiro passo para experimentar a misericórdia é reconhecer que somos necessitados dela. Somos homens feridos pelo pecado. Sabemos escolher entre o bem e o mal, mas devido a nossa fraqueza escolhemos o mal. E esta realidade acrescenta-se à ideia de que nosso pecado não pode ser perdoado. Falta-nos a experiência concreta da misericórdia. “(...) é triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais” (Misericordiae vultus, 10).

Nosso agir, por vezes, se aproxima do “servo sem compaixão” (Mt 18,22), que tendo sido perdoado de uma alta dívida foi incapaz de perdoar a pequena parcela de seu devedor. Afirma, categoricamente, o Santo Padre que a misericórdia não pode ser compreendida por nós só como a agir do Pai, mas é um dever para nós cristãos. “Somos chamados a viver a misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para conosco” (idem, 9). Assim, por termos experimentado a misericórdia divina, somos impelidos a expressá-la em nosso agir.

Façamos com que este próximo ano seja marcado pela misericórdia, estando atentos às dores de nossos irmãos, às suas necessidades mais urgentes, partilhando como verdadeiros irmãos e fazendo acontecer a paz, igualdade e fraternidade.

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“O povo que andava na escuridão viu uma grande luz” (Is 9,1)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

“A Palavra eterna se fez pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Se fez criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré” (Bento XVI, Verbum Domini, 12).

“A Palavra eterna se fez pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Se fez criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré” (Bento XVI, Verbum Domini, 12).

O Príncipe da Paz quer renascer em nós e, com Ele, podemos também renascer para uma vida nova, orientada pela Palavra de Deus, jamais pelo ódio, divisões, mentiras e desinformação. Se Jesus vem ao nosso encontro precisamos encontrá-Lo no próximo e vivenciar o amor e a unidade: “Agora e em todos os tempos, Ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade” (Prefácio Advento I).

“Na realidade, só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente o mistério do homem” (GS, 22). A doutrina sobre a dignidade do ser humano se funda na Criação, Encarnação e Redenção. A dignidade humana, portanto, consiste em saber que Cristo, assumindo a nossa condição e redimindo a humanidade, está ao lado, isto é, unido a todos os homens e mulheres deste planeta, ainda que alguns não sejam conscientes dessa realidade e presença. “Em Cristo a natureza humana foi assumida e não destruída, por isso mesmo também em nós foi elevada a sublime dignidade. Porque, pela sua Encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem” (Ibid.).    

Somos todos irmãos! Logo, Natal é assumir o compromisso de humanizar nossas relações e toda a sociedade. Vamos assumir um compromisso concreto de tornar o próximo ano mais humano. Nesse tempo de avaliação, reflexão, agradecimento, encontros e formulação de bons propósitos para o próximo ano, cremos ser importante propor as seguintes interrogações: o que eu posso fazer para tornar 2022 um ano mais humano? Antes, o que eu fiz para tornar 2021 mais humano? Estou crescendo como pessoa humana ou me desumanizando em atos e atitudes destrutivas?

Precisamos fugir e evitar todas propostas, mensagens e atitudes que nos desumanizam. O caminho da humanização não tem fim. Quanto mais humanos, mais tomamos consciência de que temos ainda um longo percurso de crescimento. “A busca da santidade não me torna menos humano porque é o encontro da minha fragilidade com a força da Graça” (Francisco, GE, n.34). A vida humana e espiritual tem por objetivo ajudar o ser humano a ser o que ele pode e deve ser: melhor. O ser humano pode se elevar, se plenificar, embora tenha consciência que a plenitude e completude está reservada para a vida eterna.

Ser melhor não significa ser completo e perfeito. Quanto mais somos humanos, mais nos aproximamos de Deus e da santidade. Quanto mais humanos, melhores seremos. Afinal, tudo aquilo que é verdadeiramente humano é também divino, pois Jesus assumiu a nossa condição humana no Natal que estamos celebrando. O mundo contemporâneo carece de humanismo. Fala-se muito em humanização no mundo da saúde, ciências, tecnologias, economia, política, trabalho, redes sociais, entre outros. Constata-se hoje um excesso de conhecimento e informação, porém pouco humanismo nas relações. A solidariedade e comprometimento com o semelhante potencializam nossa humanidade. Por isso, vejamos o que podemos fazer em âmbito pessoal, eclesial, comunitário e social para que 2022 seja um ano mais humano.  Para tanto precisamos ser mais humanos! “Semear a paz ao nosso redor: isso é santidade” (Francisco, GE, n.89).

Cantemos: “Só o amor, muda o que já se fez. E a força da paz junta todos outra vez... Se você começar outros vão te acompanhar” (Roupa Nova). A ocasião permite externar, como bispo diocesano, um sincero agradecimento a todos e todas que, não obstante a pandemia e situações adversas, continuaram servindo à vida, fazendo o bem e vivenciando sua fé, em Cristo Vivo e companheiro de caminhada.  Gratidão por todas as iniciativas de cuidado com a vida pessoal e do próximo, especialmente dos pobres e vulneráveis. Renovemos nossa esperança de dias melhores. Acolhemos Jesus com abertura de coração, rezando: Vem Senhor Jesus, fica conosco e nos torne mais humanos. Feliz Natal a todos e todas! Vamos em frente, de pé, no olhar da fé. Com minha benção, gratidão sincera e proximidade.

 

 

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Símbolos natalinos

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Na proximidade do Natal, é notória a mobilização das pessoas: o clima natalino invade ruas e praças, as casas são enfeitadas de luzes e todos aguardam ansiosos a troca de presentes e a sonora mensagem “Feliz Natal!”.

Muitos são os símbolos utilizados neste momento jubiloso do ano. Tudo parece se transformar: as trevas sedem lugar à claridade, árvores e presentes invadem a cidade. Todas estas comemorações são legítimas e necessárias, mas quando expressam a alegria de nossos corações alimentados pela esperança de um tempo melhor, mais feliz e justo.

Na proximidade do Natal, é notória a mobilização das pessoas: o clima natalino invade ruas e praças, as casas são enfeitadas de luzes e todos aguardam ansiosos a troca de presentes e a sonora mensagem “Feliz Natal!”.

Muitos são os símbolos utilizados neste momento jubiloso do ano. Tudo parece se transformar: as trevas sedem lugar à claridade, árvores e presentes invadem a cidade. Todas estas comemorações são legítimas e necessárias, mas quando expressam a alegria de nossos corações alimentados pela esperança de um tempo melhor, mais feliz e justo.

O Papa Francisco em sua conta do Twitter explicou o sentido de alguns desses símbolos. “A árvore de Natal evoca o renascimento, o dom de Deus que se une ao homem para sempre, que nos presenteia a sua vida. As luzes  evocam Jesus, a luz do amor que continua a resplandecer nas noites do mundo” (20 dez. 2021).

Poderíamos elencar aqui vários outros símbolos e seus respectivos significados. Mas, gostaria de me ater ao mais importante símbolo do Natal: a caridade. A doutrina da Igreja ensina que “a prática da vida moral animada pela caridade dá ao cristão a liberdade espiritual dos filhos de Deus. O cristão já não está diante de Deus como um escravo, com temor servil, nem como o mercenário à espera do salário, mas como um filho que corresponde ao amor ‘d'aquele que nos amou primeiro’ (Catecismo da Igreja Católica, 1828). O documento ainda ensina que os frutos da caridade são: a alegria, a paz e a misericórdia; frutos estes que ambicionamos para nossa vida.

O santo padre motiva-nos à vivência da caridade como obra de conversão do mundo. “A caridade para com o próximo nos estimula a nos reconhecermos como filhos de um único pai, que nos criou e nos ama. Portanto, que não diminua nosso compromisso de testemunhar a fé em nosso tempo muitas vezes perdido, sabendo que a fé não é transmitida por meio do proselitismo, mas sim pela atração, isto é, através do testemunho. Não se trata de representar esquemas do passado, mas de nos deixarmos guiar pelo Espírito do Senhor para propor a alegria que emana do Evangelho aos homens e mulheres que encontramos em nosso ministério diário” (Papa Francisco, Mensagem à Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, em 3 de outubro de 2019).

É comum e louvável neste tempo surgirem ações caritativas. Vários setores da comunidade civil e religiosa se mobilizam para prover o necessário aos mais necessitados. Mas Francisco explica que os mais simples gestos, quando feitos com consciência e responsabilidade, são capazes de alcançar até os corações mais feridos. “O primeiro ato de caridade que podemos fazer ao próximo é oferecer-lhe um rosto sereno e sorridente. É levar-lhe a alegria de Jesus, como fez Maria com Isabel” (Papa Francisco, 19 dez. 2021).

Vivemos a realidade de um mundo envolto em muitas sombras geradas pelo fechamento dos corações, preocupados apenas com o exterior, com a aparência de uma felicidade frágil e passageira.

Deixemo-nos, pois, ser inspirados pelos pastores e magos, que, iluminados pela fé, atravessaram as trevas que envolviam a terra e encontraram a “grande luz”, e se deixaram transformar por ela e a anunciaram a todo o mundo.  

Foto da galeria

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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