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Não devemos julgar os outros, mas ajudá-los

segunda-feira, 11 de março de 2024

Aquele que conhece Jesus carrega a luz da salvação de Deus, não o machado de seus próprios julgamentos. Portanto, o conhecimento e a compreensão que temos dos outros não são para julgá-los, mas para ajudá-los: disse o Papa no Angelus, ao meio-dia deste IV Domingo da Quaresma em preparação para a Páscoa do Senhor.

Aquele que conhece Jesus carrega a luz da salvação de Deus, não o machado de seus próprios julgamentos. Portanto, o conhecimento e a compreensão que temos dos outros não são para julgá-los, mas para ajudá-los: disse o Papa no Angelus, ao meio-dia deste IV Domingo da Quaresma em preparação para a Páscoa do Senhor.

O olhar do Senhor sobre nós não é um farol ofuscante que nos ofusca e nos coloca em dificuldade, mas o brilho suave de uma lâmpada amiga, que nos ajuda a ver o bem em nós e a perceber o mal, para que possamos nos converter e ser curados com o apoio de sua graça. Foi o que disse o Papa no Angelus.

 

Jesus não veio para condenar, mas para salvar o mundo

Na alocução que precedeu a oração mariana diante de milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro para rezar com o Pontífice, Francisco deteve-se sobre a página do Evangelho do dia (Jo 3,14-21), que nos apresenta a figura de Nicodemos, um fariseu, "um dos chefes dos Judeus". Ele viu os sinais que Jesus realizou, reconheceu n’Ele um mestre enviado por Deus e foi encontrá-lo à noite, para não ser visto.

O Senhor o recebeu, dialogou com ele e lhe revelou que não tinha vindo para condenar, mas para salvar o mundo, ressaltou Francisco, convidando a refletir sobre isso: Jesus não veio para condenar, mas para salvar o mundo.

Com frequência, no Evangelho, vemos Cristo revelar as intenções das pessoas que encontra, às vezes desmascarando suas atitudes falsas, como no caso dos fariseus, observou o Santo Padre, ou fazendo-as refletir sobre a desordem de suas vidas, como no caso da Samaritana.

 

Jesus não quer que nenhum de nós se perca

Diante d’Ele não há segredos: Ele lê os corações. Essa capacidade pode ser inquietadora porque, se mal utilizada, prejudica as pessoas, expondo-as a julgamentos impiedosos. Pois ninguém é perfeito, todos somos pecadores, todos erramos, e se o Senhor usasse o conhecimento de nossas fraquezas para nos condenar, ninguém poderia ser salvo.

Mas não é assim, continuou o Papa. Pois Ele não a usa para apontar o dedo para nós, mas para abraçar nossas vidas, para nos libertar do pecado e nos salvar. Jesus não está interessado em nos colocar em julgamento e nos submeter a sentenças; Ele não quer que nenhum de nós se perca. Jesus não veio para condenar, mas para salvar o mundo.

 

Que o Senhor nos dê um olhar de misericórdia

Antes de concluir, o Santo Padre solicitou-nos a pedir ao Senhor que nos dê um olhar de misericórdia, para não julgar os outros, mas ajudá-los, que olhemos para os outros como Ele olha para todos nós.

Pensemos em nós, que tantas vezes condenamos os outros; tantas vezes gostamos de fazer fofoca, de procurar fazer fofoca contra os outros. Peçamos ao Senhor que nos dê esse olhar de misericórdia, que olhe para os outros como Ele olha para todos nós. Que Maria nos ajude a desejar o bem uns dos outros.

(Fonte: Vatican News)

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A Virgem Maria, modelo do “Sim” quaresmal

segunda-feira, 04 de março de 2024

    O tempo litúrgico da quaresma nos remete a uma preparação piedosa e contrita para a Páscoa do Senhor. São-nos indicadas várias atitudes e práticas para este período: a oração, o arrependimento, a penitência, o jejum, a conversão, a ação da caridade fraterna. Temos em Maria, a Mãe Auxiliadora, uma modelar companheira de jornada rumo à Ressurreição do seu Filho Jesus Cristo. Ela que foi a primeira discípula d"Ele, concebendo o Verbo primeiramente no coração e só depois no ventre, como nos ensina Santo Agostinho.

    O tempo litúrgico da quaresma nos remete a uma preparação piedosa e contrita para a Páscoa do Senhor. São-nos indicadas várias atitudes e práticas para este período: a oração, o arrependimento, a penitência, o jejum, a conversão, a ação da caridade fraterna. Temos em Maria, a Mãe Auxiliadora, uma modelar companheira de jornada rumo à Ressurreição do seu Filho Jesus Cristo. Ela que foi a primeira discípula d"Ele, concebendo o Verbo primeiramente no coração e só depois no ventre, como nos ensina Santo Agostinho. Com certeza, ela é a serena Mestra da oração, a Virgem que sabe ouvir, solícita à proposta de Deus, guardando todo o mistério da Epifania divina no silêncio do seu coração, transformando o diálogo com Deus em atitude humilde e fiel: "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim, segundo a sua palavra" (Lc 1,37). 

   Orar com Maria na quaresma é mergulhar neste silêncio do Pai, escutar despojadamente a voz do Criador, reevocando a nossa íntima identidade de "imagem e semelhança", o projeto original de Seu Amor. É reconhecer todas as dissonâncias e ranhuras advindas do pecado, do "não" desintegrador e desagregador da soberba de Adão e Eva, assumindo o sim da Mãe da nova humanidade, na ordem da graça, a "Nova Eva", como chama São Irineu, São Justino e outros padres da Igreja, que desata os nós da antiga negação. Pelo exemplo e intercessão de Maria, identificamo-nos com a obediência do "Novo Adão" (cf 1 Cor 15, 20-21; Rm 5),17-19 ) Jesus Cristo, mergulhando-nos no seu mistério salvífico, revivenciando a nossa dignidade de filhos de Deus, caráter indelével batismal.

    Fazer penitência com Maria é seguir o seu testemunho de permanência em Deus, fortaleza da Mãe das Dores que sofre e atravessa o vale das sombras, sabendo com confiança do sentido misterioso divino, com a fé de que tudo se cumpriria conforme a promessa do Senhor. É despir-se das nossas falsas seguranças, das ilusões e escravidões dos prazeres, esvaziar-se como a Mãe peregrina que renunciou às projeções pessoais para assumir totalmente o projeto salvífico. Por isso, não é só privar-se de algumas coisas por algum tempo, mas penitenciar-se é gerar no seu interior uma atitude de "kénosis", esvazamento de si, na simplicidade e prioridade do serviço ao Reino, como Maria, inteiramente doada ao Filho de Deus e à sua missão, avançando na obediência itinerante da fé. Suportou a Mãe da Esperança todas as dúvidas, incertezas do mistério dos desígnios do Criador-Redentor, as angústias e preocupações diante da exposição do seu amado filho, incompreendido e, muitas vezes, rejeitado, injustiçado, o sofrimento extremo de vê-lo torturado, crucificado e morto em seus braços maternais.

    A Mãe da Ressurreição nos ensina a trilhar o caminho das tentações, provações e opressões do mal, resilientes, centrados na fé, confiantes, aprendendo com os erros e pecados, arrependendo-nos, crucificando as nossas paixões no madeiro de Cristo, como nos diz o apóstolo São Paulo. Como Maria, mulher forte diante da cruz, não nos deixamos quebrar diante de tantas contrariedades e obstáculos, mas mergulhando nos olhos do Redentor, pelos olhos da Mãe oferente, vislumbramos já a vitória da Luz. Nossa Senhora, Stella Maris, nos conduz neste êxodo quaresmal à grande libertação, integral, a reconciliação de nossas consciências com Deus, com nossos irmãos e com a natureza, na vivência da paz, da justiça e do amor fraterno, numa conversão pessoal, social e ecológica, como nos relembra o nosso Papa Francisco.

    Ser missionário com Maria, a Estrela da Evangelização, a Mãe solidária que, alimentada pelo amor divino aos mais necessitados, partiu apressada para servir a Isabel, deve ser o coroamento de toda a nossa ação quaresmal. A prática da caridade servidora é missão da quaresma de uma vida inteira, na permanente preparação espiritual da Páscoa eterna, mistericamente já experimentada no tempo e na história presente, sob os véus do Inefável, entre as lutas e cruzes, na comunhão com o Senhor Ressuscitado, na alegria de sua graça salvífica. Sem este amor concreto de misericórdia, ficam sem sentido a oração, o jejum e a penitência e ficam sem consistência de verdade as palavras de arrependimento e de conversão, como nos fala fortemente o profeta Isaías. (cf Is 58, 6-10). 

A Mãe da Divina Providência, do Perpétuo Socorro, das Mercês, das Graças de Deus, será sempre o nosso luminoso exemplo de doação total, a partir do silêncio orante, do esvaziamento de si, da penitência da entrega confiante, da suportação das dores e provas, da inclinação amorosa e maternal a todos os filhos, abraçando-os e servindo-os com o Dom do Cristo e de sua redenção. É a Nossa Senhora Aparecida, que aparece em nossas vidas para comunicar-nos, solícita, o Amor de Deus. Encontrada, sim. Mas aquela que, antes, quis nos encontrar, em nossas necessidades e fraquezas como fora na atitude com Isabel e com os pescadores. Também, agora, é Ela que intercede por nós, pecadores, como Mãe da Misericórdia, para ajudar a restaurar em nós, pelo Espírito, a imagem do Seu Filho. Tenhamo-la, nesta quaresma e sempre, como a nossa querida Mãe, Advogada e Protetora, Modelo e Companheira de nossa peregrinação e servir eclesial.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico diocesano da Comunicação Institucional, da Formação e da Pastoral Familiar da Diocese de Nova Friburgo

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Quaresma: tempo de conversão pessoal, comunitária e pastoral

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

A quaresma é um tempo litúrgico da Igreja de 40 dias de preparação para a Páscoa, que se torna propício para uma reflexão mais aprofundada sobre a nossa vida espiritual, para nos arrependermos de nossos pecados e nos reaproximarmos da graça de Deus, numa conversão pessoal, social e pastoral.

 

A volta à unidade com Deus e com a própria consciência

A quaresma é um tempo litúrgico da Igreja de 40 dias de preparação para a Páscoa, que se torna propício para uma reflexão mais aprofundada sobre a nossa vida espiritual, para nos arrependermos de nossos pecados e nos reaproximarmos da graça de Deus, numa conversão pessoal, social e pastoral.

 

A volta à unidade com Deus e com a própria consciência

O afastamento de Deus, a falta de oração, a vaidade, a confiança demasiada nas próprias forças e capacidades, a frieza e indiferença ao projeto de Deus. Tudo isso faz com que nos percamos em nossos próprios planos e interesses e coloquemos pouco a pouco a Palavra de Deus em segundo lugar. Aí servimos não mais ao Senhor, mas a nós mesmos. Sem a referência da verdade de Deus, nos desfiguramos, desintegramos nossa personalidade, quebramos a nossa integridade, desrespeitamos a nossa dignidade, violamos a nossa própria consciência.

É preciso voltar à comunhão com Deus, com humildade, pela entrega na oração, agradecendo pelos dons e capacidades, bebendo da misericórdia divina, harmonizando o coração, reequilibrando a razão interior para ser verdadeiro discípulo e missionário, com a dignidade de filhos de Deus, reluzente, com uma só face, na paz de quem segue o Mestre que é o Caminho, Verdade e Vida. Peçamos perdão ao Senhor por nos afastarmos da Sua Luz e nos enfraquecermos. Por nos distanciarmos da Sua Força e nos enchermos de trevas e confusão. Por nos desintegrarmos, sem a Sua verdade, enchendo-nos de mentiras e justificativas para nossas vaidades.

 

A volta à unidade com os irmãos

Quando nos fechamos a Deus, perdemos a nossa referência ética, nos escravizamos ao nosso próprio egoísmo e queremos virar o centro de tudo, relativizando os princípios morais, conforme a nossa conveniência. Isto, é claro, nos afasta também dos outros. Pois, sem vermos Deus como Pai, já não os vemos como irmãos, mas simplesmente como "concorrentes" que devem ser derrotados. Ou por nos sentirmos maiores ou melhores, os vemos apenas como peças manipuladas para o aumento do nosso Poder, do nosso Prazer ou nosso Dinheiro.

Esta tríplice idolatria já é acusada na III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Celam) em Puebla, em 1979. E a realidade de uma multidão de excluídos e da indignidade da miséria de muitos lázaros no continente latino americano, com enormes desigualdades sociais, já havia sido apontada na II Conferência em Medellin, em 1968. Tudo fruto da ambição, da soberba, da falta de amor ao próximo, pela falta de amor a Deus e de reconhecimento de sua vontade como verdade da ética pessoal e social.

Também o fechamento em si mesmo, nos torna insensíveis à cultura dos outros, nos achando "superiores", na autoidolatria de nossa linguagem, nossas expressões e valores, querendo impô-los aos irmãos. É o caso das discriminações culturais, étnicas, por motivos físicos, sociais, etc... Menospreza-se o negro, o indígena, o pobre, a pessoa com deficiência... E estamos, muitas vezes, bloqueados no coração e na razão para a inculturação do Evangelho, ou seja, a evangelização a partir das "sementes do Verbo", das riquezas e valores próprios do Bem de cada cultura, na autêntica promoção humana.

Sobre isto nos fala a IV Conferência de Santo Domingo, em 1992. Na linha do discipulado missionário, a partir de Cristo, modelo perfeito de amor e doação ao próximo, o qual deve provocar em nossas comunidades uma verdadeira conversão pastoral, como apresenta a V Conferência de Aparecida, em 2007. Peçamos perdão ao Senhor e mostremos a Ele que queremos voltar à unidade com os nossos irmãos, na solidariedade, no amor fraterno que nos leva a uma autêntica opção preferencial pelos mais pobres e o abandono de todas as vaidades e ambições.

Queremos ser discípulos missionários, despojados de toda ilusão de poder, de toda embriaguez dos prazeres e de todo apego ao dinheiro. Queremos compreender os valores de cada cultura, de cada irmão, com a humildade e a compaixão de Cristo, aproveitando de cada realidade as sementes divinas espalhadas na Sabedoria da criação, livres de toda soberba, preconceito ou sentimento de superioridade em relação aos outros.

 

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico diocesano da Comunicação Institucional, da Pastoral Familiar e da Formação da Diocese de Nova Friburgo 

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Campanha da Fraternidade 2024

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Caros irmãos, hoje trazemos para a reflexão o texto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a respeito da abertura da Campanha da Fraternidade 2024. A Santa Missa aconteceu no Santuário Nacional de Aparecida, presidida por dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no último dia 18. “Jesus foi levado para o deserto! Deserto é o lugar onde nada separa Jesus de Deus!

Caros irmãos, hoje trazemos para a reflexão o texto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a respeito da abertura da Campanha da Fraternidade 2024. A Santa Missa aconteceu no Santuário Nacional de Aparecida, presidida por dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no último dia 18. “Jesus foi levado para o deserto! Deserto é o lugar onde nada separa Jesus de Deus!

Estamos iniciando nossa caminhada de 40 dias, rumo à celebração da Páscoa. Também nós, com Jesus, desejamos viver este tempo de ‘deserto’ mais intensamente na escuta da Palavra, pois ela converte o coração; na prática dos exercícios característicos deste tempo (oração, jejum e caridade), no cultivo da solidariedade, pois sabemos: somos todos irmãos e irmãs.

Quaresma é tempo favorável para sairmos de nossa alienação existencial causada pelo pecado. É tempo de resgatarmos nossa identidade batismal, ou seja, de irmãos e irmãs, em Cristo. É tempo de conversão! Conversão consiste em rever o modo de ser, de viver, de agir, de relacionar-se para conduzir uma vida segundo o Evangelho. A conversão passa pela experiência da humildade, da aceitação do outro e da alegria do encontro com o Crucificado-Ressuscitado, que continua perguntando a cada um de nós: “Tu me amas?” Um coração convertido, jamais será indiferente aos irmãos e irmãs, pois sabe que o amor a Deus e ao próximo sintetizam o projeto do Reino. Um coração convertido é um coração fraterno.

Corações fraternos são sinal de santidade, característica de quem acolheu o projeto de Jesus, reconhecendo que todos são filhos e filhas do mesmo Pai, e, portanto, irmãos e irmãs. A Campanha da Fraternidade da qual participamos, nos ajuda a viver a fraternidade ainda mais concretamente; oferece oportunidade para viver ainda mais intensamente a espiritualidade quaresmal; auxilia na vivência concreta do mandamento da caridade, do amor ao próximo.

A fraternidade é irmã gêmea da conversão. Não existe autêntica conversão sem o cultivo da fraternidade; em outras palavras, não há verdadeira conversão sem promoção da amizade social, de relações humanas mais atentas, respeitosas, cuidadosas, ultrapassando barreiras da geografia e do espaço (FT, n.1). Fraternidade e amizade social! “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).” (d. Jaime Spengler)

Fonte: CNBB

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A Quaresma é tempo de conversão

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Segundo o Pontífice, “o êxodo pode ser interrompido: não se explicaria de outro modo porque é que tendo uma humanidade chegado ao limiar da fraternidade universal e a níveis de progresso científico, técnico, cultural e jurídico capazes de garantir a todos a dignidade, tateie ainda na escuridão das desigualdades e dos conflitos”.

Segundo o Pontífice, “o êxodo pode ser interrompido: não se explicaria de outro modo porque é que tendo uma humanidade chegado ao limiar da fraternidade universal e a níveis de progresso científico, técnico, cultural e jurídico capazes de garantir a todos a dignidade, tateie ainda na escuridão das desigualdades e dos conflitos”.

“Deus não se cansou de nós. A Quaresma é tempo de conversão, tempo de liberdade. O próprio Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto a fim de ser posto à prova na sua liberdade. O deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão. Na Quaresma, encontramos novos critérios de juízo e uma comunidade com a qual avançar por um caminho nunca percorrido”, escreve ainda Francisco, ressaltando que “isto comporta uma luta: assim nos dizem claramente o livro do Êxodo e as tentações de Jesus no deserto”.

 

Mais temíveis que o Faraó são os ídolos

De acordo com Francisco, “mais temíveis que o Faraó são os ídolos: poderíamos considerá-los como a voz do inimigo dentro de nós. Poder tudo, ser louvado por todos, levar a melhor sobre todos: todo o ser humano sente dentro de si a sedução desta mentira. É uma velha estrada. Assim podemos apegar-nos ao dinheiro, a certos projetos, ideias, objetivos, à nossa posição, a uma tradição, até mesmo a algumas pessoas. Em vez de nos pôr em movimento, nos paralisam. Em vez de nos fazer encontrar, nos dividem”.

Porém, “existe uma nova humanidade, o povo dos pequeninos e humildes que não cedeu ao fascínio da mentira. Enquanto os ídolos tornam mudos, cegos, surdos, imóveis aqueles que os servem, os pobres em espírito estão imediatamente disponíveis e prontos: uma força silenciosa de bem que cuida e sustenta o mundo”.

 

Agir é também parar

“É tempo de agir e, na Quaresma, agir é também parar: parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano na presença do irmão ferido”, sublinha o Papa. Segundo ele, “a oração, esmola e jejum não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: lancemos fora os ídolos que nos tornam pesados, fora os apegos que nos aprisionam. Então o coração atrofiado e isolado despertará”.

 

Quaresma, tempo de decisões comunitárias

Segundo o Papa, “a forma sinodal da Igreja, que estamos redescobrindo e cultivando nestes anos, sugere que a Quaresma seja também tempo de decisões comunitárias, de pequenas e grandes opções contracorrente, capazes de modificar a vida quotidiana das pessoas e a vida de toda uma coletividade: os hábitos nas compras, o cuidado com a criação, a inclusão de quem não é visto ou é desprezado”.

“Na medida em que esta Quaresma for de conversão, a humanidade extraviada sentirá um abalo de criatividade: o lampejar de uma nova esperança”, escreve ainda o Papa, recordando as suas palavras dirigidas aos jovens da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) de Lisboa, no verão passado: “Procurai e arriscai; sim, procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos dolorosos: estamos vivendo uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início de um grande espetáculo. E é preciso coragem para pensar assim”.

“É a coragem da conversão, da saída da escravidão. A fé e a caridade guiam pela mão esta esperança menina. Elas a ensinam a caminhar e, ao mesmo tempo, ela as puxa para a frente”, conclui o Santo Padre.

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2024

Fonte: CNBB

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Mensagem do papa para a Quaresma

segunda-feira, 05 de fevereiro de 2024

Foi divulgada, na última quinta-feira, 1°, a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2024 sobre o tema “Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade”. Na mensagem, Francisco reconhece que a humanidade de hoje atingiu “níveis de desenvolvimento científico, técnico, cultural e jurídico capazes de garantir dignidade a todos”, mas o risco é que, sem rever os estilos de vida, se caia na “escravidão” de práticas que arruínam o planeta e alimentam as desigualdades.

Foi divulgada, na última quinta-feira, 1°, a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2024 sobre o tema “Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade”. Na mensagem, Francisco reconhece que a humanidade de hoje atingiu “níveis de desenvolvimento científico, técnico, cultural e jurídico capazes de garantir dignidade a todos”, mas o risco é que, sem rever os estilos de vida, se caia na “escravidão” de práticas que arruínam o planeta e alimentam as desigualdades.

O Santo Padre inicia o texto com um versículo do Livro do Êxodo: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egito, da casa da servidão”. “Assim inicia o decálogo dado a Moisés no Monte Sinai”, escreve o Papa, acrescentando que “quando o nosso Deus se revela, comunica liberdade”.

 

Deserto, lugar do primeiro amor

“O povo sabe bem de que êxodo Deus está falando: traz ainda gravada na sua carne a experiência da escravidão. Como Israel no deserto tinha ainda dentro de si o Egito, também hoje o povo de Deus traz dentro de si vínculos opressivos que deve optar por abandonar. Damo-nos conta disto, quando nos falta a esperança e vagueamos na vida como em terra desolada, sem uma terra prometida para a qual tendermos juntos”, sublinha o Papa.

A seguir, Francisco recorda que “a Quaresma é o tempo de graça em que o deserto volta a ser – como anuncia o profeta Oséias – o lugar do primeiro amor. Deus educa o seu povo, para que saia das suas escravidões e experimente a passagem da morte para a vida. Como um esposo, atrai-nos novamente a si e sussurra ao nosso coração palavras de amor”.

 

Ver a realidade

“O êxodo da escravidão para a liberdade não é um caminho abstrato. A fim de ser concreta também a nossa Quaresma, o primeiro passo é querer ver a realidade. Também hoje o grito de tantos irmãos e irmãs oprimidos chega ao céu”, escreve o Pontífice. A seguir, Francisco pergunta: o grito desses nossos irmãos e irmãs “chega também a nós? Mexe conosco? Comove-nos? Há muitos fatores que nos afastam uns dos outros, negando a fraternidade que originariamente nos une”.

A este propósito, o Papa recorda sua viagem a Lampedusa, em 8 de julho de 2013, ressaltando que à globalização da indiferença ele contrapôs duas perguntas, que se tornam cada vez mais atuais: ‘Onde estás?’ e ‘Onde está o teu irmão?’. Segundo Francisco, “o caminho quaresmal será concreto, se, voltando a ouvir tais perguntas, confessarmos que hoje ainda estamos sob o domínio do Faraó. É um domínio que nos deixa exaustos e insensíveis. É um modelo de crescimento que nos divide e nos rouba o futuro. A terra, o ar e a água estão poluídos por ele, mas as próprias almas acabam contaminadas por tal domínio. De fato, embora a nossa libertação tenha começado com o Batismo, permanece em nós uma inexplicável nostalgia da escravidão. É como uma atração para a segurança das coisas já vistas, em detrimento da liberdade”.

Fonte: CNBB

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Desafios para a educação

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Caros leitores, hoje encerramos a reflexão acerca da Mensagem do Papa Francisco sobre a Inteligência Artificial e a Paz, apresentando os últimos tópicos. Acompanhe a seguir.

Caros leitores, hoje encerramos a reflexão acerca da Mensagem do Papa Francisco sobre a Inteligência Artificial e a Paz, apresentando os últimos tópicos. Acompanhe a seguir.

O desenvolvimento de uma tecnologia que respeite e sirva a dignidade humana tem implicações claras para as instituições educativas e para o mundo da cultura. Ao multiplicar as possibilidades de comunicação, as tecnologias digitais permitiram encontrar-se de novas formas. Todavia continua a ser necessária uma reflexão contínua sobre o tipo de relações para onde nos estão encaminhando. Os jovens estão a crescer em ambientes culturais impregnados de tecnologia, o que não pode deixar de pôr em causa os métodos de ensino e formação.

A educação para o uso de formas de inteligência artificial deveria visar sobretudo a promoção do pensamento crítico. É necessário que pessoas de várias idades, principalmente os jovens, desenvolvam uma capacidade de discernimento no uso de dados e conteúdos recolhidos na web ou produzidos por sistemas de inteligência artificial. As escolas, as universidades e as sociedades científicas são chamadas a ajudar os estudantes e profissionais a assumir os aspectos sociais e éticos do progresso e da utilização da tecnologia.

A formação no uso dos novos instrumentos de comunicação deveria ter em conta não só a desinformação, as notícias falsas, mas também a recrudescência preocupante de «medos ancestrais (...) que souberam esconder-se e revigorar-se por detrás das novas tecnologias». 

 

Desafios para o desenvolvimento do direito internacional

O alcance global da inteligência artificial deixa claro que, juntamente com a responsabilidade dos estados soberanos de regular a sua utilização internamente, as organizações internacionais podem desempenhar um papel decisivo na obtenção de acordos multilaterais e na coordenação da sua aplicação e implementação. A este respeito, exorto a Comunidade das Nações a trabalhar unida para adotar um tratado internacional vinculativo, que regule o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial nas suas variadas formas. Naturalmente o objetivo da regulamentação não deveria ser apenas a prevenção de más aplicações, mas também o incentivo às boas aplicações, estimulando abordagens novas e criativas e facilitando iniciativas pessoais e coletivas.

Em última análise, na busca de modelos normativos que possam fornecer uma orientação ética aos criadores de tecnologias digitais, é indispensável identificar os valores humanos que deveriam estar na base dos esforços das sociedades para formular, adotar e aplicar os quadros legislativos necessários. O trabalho de elaboração de diretrizes éticas para a produção de formas de inteligência artificial não pode prescindir da consideração de questões mais profundas relativas ao significado da existência humana, à proteção dos direitos humanos fundamentais, à busca da justiça e da paz. Este processo de discernimento ético e jurídico pode revelar-se preciosa ocasião para uma reflexão compartilhada sobre o papel que a tecnologia deveria ter na nossa vida individual e comunitária e sobre a forma como a sua utilização possa contribuir para a criação dum mundo mais equitativo e humano.

Espero que esta reflexão encoraje você leitor a fazer com que os progressos no desenvolvimento de formas de inteligência artificial sirvam, em última análise, a causa da fraternidade humana e da paz. Não é responsabilidade de poucos, mas da família humana inteira. De fato, a paz é fruto de relações que reconhecem e acolhem o outro na sua dignidade inalienável, e de cooperação e compromisso na busca do desenvolvimento integral de todas as pessoas e de todos os povos.

No início do novo ano, a minha oração é que o rápido desenvolvimento de formas de inteligência artificial não aumente as já demasiadas desigualdades e injustiças presentes no mundo, mas contribua para pôr fim às guerras e conflitos e para aliviar muitas formas de sofrimento que afligem a família humana. Possam os fiéis cristãos, os crentes das várias religiões e os homens e mulheres de boa vontade colaborar harmoniosamente para aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios colocados pela revolução digital, e entregar às gerações futuras um mundo mais solidário, justo e pacífico.

Fonte: Vaticano

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​Temas quentes para a ética

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Caros irmãos, prosseguimos refletindo sobre a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, tratando acerca da Inteligência Artificial e da Paz.

Caros irmãos, prosseguimos refletindo sobre a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, tratando acerca da Inteligência Artificial e da Paz.

No futuro, a fiabilidade de quem solicita um mútuo, a idoneidade de um indivíduo para determinado emprego, a possibilidade de reincidência de um condenado ou o direito a receber asilo político ou assistência social poderão ser determinados por sistemas de inteligência artificial. A falta de níveis diversificados de mediação que tais sistemas introduzem está particularmente exposta a formas de preconceito e discriminação: os erros do sistema podem multiplicar-se facilmente, gerando não só injustiças em casos individuais, mas também, por efeito dominó, verdadeiras formas de desigualdade social.

Além disso, por vezes, as formas de inteligência artificial parecem capazes de influenciar as decisões dos indivíduos através de opções predeterminadas associadas a estímulos e dissuasões, ou então através de sistemas de regulação das opções pessoais baseados na organização das informações. Estas formas de manipulação ou controle social requerem atenção e vigilância cuidadosas, implicando uma clara responsabilidade legal por parte dos produtores, de quem os contrata e das autoridades governamentais.

O ato de se confiar a processos automáticos que dispõem os indivíduos por categorias, por exemplo, através de um uso invasivo da vigilância ou da adoção de sistemas de crédito social, poderia ter repercussões profundas também no tecido civil, estabelecendo classificações inadequadas entre os cidadãos. E estes processos artificiais de classificação poderiam levar também a conflitos de poder, envolvendo não apenas destinatários virtuais, mas também pessoas de carne e osso. O respeito fundamental pela dignidade humana requer a rejeição de que a unicidade da pessoa seja identificada com um conjunto de dados.

Não se deve permitir que os algoritmos determinem o modo como entendemos os direitos humanos e ponham de lado os valores essenciais da compaixão, da misericórdia e do perdão, ou eliminem a possibilidade de um indivíduo mudar e deixar para trás o passado.

Não podemos deixar de considerar o impacto das novas tecnologias no âmbito laboral: trabalhos, que outrora eram prerrogativa exclusiva da mão-de-obra humana, acabam rapidamente absorvidos pelas aplicações industriais da inteligência artificial. Também neste caso, há substancialmente o risco de uma vantagem desproporcionada para poucos à custa do empobrecimento de muitos.

 

Transformaremos as espadas em relhas de arado?

Nestes dias, contemplando o mundo que nos rodeia, não se pode ignorar as graves questões éticas relacionadas com o setor dos armamentos. A possibilidade de efetuar operações militares através de sistemas de controle remoto levou a uma percepção menor da devastação por eles causada e da responsabilidade da sua utilização, contribuindo para uma abordagem ainda mais fria e destacada da imensa tragédia da guerra. A pesquisa sobre as tecnologias emergentes no setor dos chamados «sistemas de armas letais autônomas», incluindo a utilização bélica da inteligência artificial, é um grave motivo de preocupação ética.

Numa ótica mais positiva, se a inteligência artificial fosse utilizada para promover o desenvolvimento humano integral, poderia introduzir inovações importantes na agricultura, na instrução e na cultura, uma melhoria do nível de vida de inteiras nações e povos, o crescimento da fraternidade humana e da amizade social. Em última análise, a forma como a utilizamos para incluir os últimos, isto é, os irmãos e irmãs mais frágeis e necessitados, é a medida reveladora da nossa humanidade.

Um olhar humano e o desejo de um futuro melhor para o nosso mundo levam à necessidade de um diálogo interdisciplinar voltado para um desenvolvimento ético dos algoritmos – a algor-ética -, em que sejam os valores a orientar os percursos das novas tecnologias. As questões éticas deveriam ser tidas em consideração desde o início da pesquisa, bem como nas fases de experimentação, projetação, produção, distribuição e comercialização. Esta é a abordagem da ética da projetação, na qual as instituições educativas e os responsáveis pelo processo de decisão têm um papel essencial a desempenhar.

 

Fonte: Vaticano

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A tecnologia do futuro: máquinas que aprendem sozinhas

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Caros irmãos, nesta semana continuamos apresentando neste espaço a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz: 1º de janeiro de 2024, intitulada “Inteligência Artificial e Paz”. Desta vez, trazemos o terceiro e o quarto tópico da mensagem de Francisco:            

Caros irmãos, nesta semana continuamos apresentando neste espaço a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz: 1º de janeiro de 2024, intitulada “Inteligência Artificial e Paz”. Desta vez, trazemos o terceiro e o quarto tópico da mensagem de Francisco:            

“Nas suas múltiplas formas, a inteligência artificial, baseada em técnicas de aprendizagem automática (machine learning), embora ainda numa fase pioneira, já está a introduzir mudanças notáveis no tecido das sociedades, exercendo uma influência profunda nas culturas, nos comportamentos sociais e na construção da paz.

Desenvolvimentos como a aprendizagem automática ou a aprendizagem profunda (deep learning) levantam questões que transcendem os âmbitos da tecnologia e da engenharia e têm a ver com uma compreensão intimamente ligada ao significado da vida humana, aos processos basilares do conhecimento e à capacidade que tem a mente de alcançar a verdade.

A capacidade de alguns dispositivos produzirem textos sintática e semanticamente coerentes, por exemplo, não é garantia de fiabilidade. Diz-se que podem «alucinar», isto é, gerar afirmações que à primeira vista parecem plausíveis, mas na realidade são infundadas ou preconceituosas. Isto coloca um sério problema quando a inteligência artificial é utilizada em campanhas de desinformação que espalham notícias falsas e levam a uma desconfiança crescente relativamente aos meios de comunicação. A confidencialidade, a posse dos dados e a propriedade intelectual são outros âmbitos em que as tecnologias em questão comportam graves riscos, aos quais se vêm juntar outras consequências negativas ligadas a um uso indevido, como a discriminação, a interferência nos processos eleitorais, a formação de uma sociedade que vigia e controla as pessoas, a exclusão digital e a exacerbação de um individualismo cada vez mais desligado da coletividade. Todos estes fatores correm o risco de alimentar os conflitos e obstaculizar a paz.

O sentido do limite, no paradigma tecnocrático

O nosso mundo é demasiado vasto, variado e complexo para ser completamente conhecido e classificado. A mente humana nunca poderá esgotar a sua riqueza, nem sequer com a ajuda dos algoritmos mais avançados. De fato, estes não oferecem previsões garantidas do futuro, mas apenas aproximações estatísticas. Nem tudo pode ser previsto, nem tudo pode ser calculado; no fim de contas, «a realidade é superior à ideia» e, por mais prodigiosa que seja a nossa capacidade de calcular, haverá sempre um resíduo inacessível que escapa a qualquer tentativa de quantificação.

As máquinas inteligentes podem desempenhar as tarefas que lhes são atribuídas com uma eficiência cada vez maior, mas a finalidade e o significado das suas operações continuarão a ser determinados ou capacitados por seres humanos com o seu próprio universo de valores. O risco é que os critérios subjacentes a certas escolhas se tornem menos claros, que a responsabilidade de decisão seja ocultada e que os produtores possam subtrair-se à obrigação de agir para o bem da comunidade. Em certo sentido, isto é favorecido pelo sistema tecnocrático, que alia a economia à tecnologia e privilegia o critério da eficiência, tendendo a ignorar tudo o que não esteja ligado aos seus interesses imediatos.

Isto deve fazer-nos refletir sobre um aspeto transcurado frequentemente na atual mentalidade tecnocrática e eficientista, mas decisivo para o desenvolvimento pessoal e social: o «sentido do limite». Com efeito, o ser humano, mortal por definição, pensando em ultrapassar todo o limite mediante a técnica, corre o risco, na obsessão de querer controlar tudo, de perder o controle sobre si mesmo; na busca de uma liberdade absoluta, de cair na espiral de uma ditadura tecnológica. Reconhecer e aceitar o próprio limite de criatura é condição indispensável para que o homem alcance ou, melhor, acolha a plenitude como uma dádiva; ao passo que, no contexto ideológico de um paradigma tecnocrático animado por uma prometeica presunção de autossuficiência, as desigualdades poderiam crescer sem medida, e o conhecimento e a riqueza acumular-se nas mãos de poucos, com graves riscos para as sociedades democráticas e uma coexistência pacífica.”

Fonte: Vaticano

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O futuro da inteligência artificial, por entre promessas e riscos

segunda-feira, 08 de janeiro de 2024

Caros irmãos, nesta semana trazemos para a reflexão o segundo tópico da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, cujo tema é “Inteligência Artificial e Paz”. Confira a seguir.

“Os progressos da informática e o desenvolvimento das tecnologias digitais, nas últimas décadas, começaram já a produzir profundas transformações na sociedade global e nas suas dinâmicas. Os novos instrumentos digitais estão a mudar a fisionomia das comunicações, da administração pública, da instrução, do consumo, dos intercâmbios pessoais e de inúmeros outros aspectos da vida diária.

Caros irmãos, nesta semana trazemos para a reflexão o segundo tópico da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, cujo tema é “Inteligência Artificial e Paz”. Confira a seguir.

“Os progressos da informática e o desenvolvimento das tecnologias digitais, nas últimas décadas, começaram já a produzir profundas transformações na sociedade global e nas suas dinâmicas. Os novos instrumentos digitais estão a mudar a fisionomia das comunicações, da administração pública, da instrução, do consumo, dos intercâmbios pessoais e de inúmeros outros aspectos da vida diária.

Além disso as tecnologias que se servem de uma multiplicidade de algoritmos podem, dos vestígios digitais deixados na internet, extrair dados que permitem controlar os hábitos mentais e relacionais das pessoas para fins comerciais ou políticos, muitas vezes sem o seu conhecimento, limitando o exercício consciente da sua liberdade de escolha.

Devemos recordar-nos de que a pesquisa científica e as inovações tecnológicas não estão desencarnadas da realidade nem são «neutras», [4] mas estão sujeitas às influências culturais. Sendo atividades plenamente humanas, os rumos que tomam refletem opções condicionadas pelos valores pessoais, sociais e culturais de cada época. E o mesmo se diga dos resultados que alcançam.

Isto aplica-se também às formas de inteligência artificial. Desta, até ao momento, não existe uma definição unívoca no mundo da ciência e da tecnologia. A própria designação, que já entrou na linguagem comum, abrange uma variedade de ciências, teorias e técnicas destinadas a fazer com que as máquinas, no seu funcionamento, reproduzam ou imitem as capacidades cognitivas dos seres humanos.

Falar de «formas de inteligência», no plural, pode ajudar, sobretudo a assinalar o fosso intransponível existente entre estes sistemas, por mais surpreendentes e poderosos que sejam, e a pessoa humana: em última análise, aqueles são «fragmentários» já que têm possibilidades de imitar ou reproduzir apenas algumas funções da inteligência humana. Além disso, o uso do plural destaca que tais dispositivos, muito diferentes entre si, devem ser sempre considerados como «sistemas sociotécnicos». Com efeito, o seu impacto, independentemente da tecnologia de base, depende não só da projetação, mas também dos objetivos e interesses de quem os possui e de quem os desenvolve, bem como das situações em que são utilizados.

Por conseguinte, a inteligência artificial deve ser entendida como uma galáxia de realidades diversas e não podemos presumir a priori que o seu desenvolvimento traga um contributo benéfico para o futuro da humanidade e para a paz entre os povos. O resultado positivo só será possível se nos demonstrarmos capazes de agir de maneira responsável e respeitar valores humanos fundamentais como «a inclusão, a transparência, a segurança, a equidade, a privacidade e a fiabilidade».

Assim, a imensa expansão da tecnologia deve ser acompanhada por uma adequada formação da responsabilidade pelo seu desenvolvimento. A liberdade e a convivência pacífica ficam ameaçadas, quando os seres humanos cedem à tentação do egoísmo, do interesse próprio, da ânsia de lucro e da sede de poder. Por isso temos o dever de alargar o olhar e orientar a pesquisa técnico-científica para a prossecução da paz e do bem comum, ao serviço do desenvolvimento integral do homem e da comunidade.

A dignidade intrínseca de cada pessoa e a fraternidade que nos une como membros da única família humana devem estar na base do desenvolvimento de novas tecnologias e servir como critérios indiscutíveis para as avaliar antes da sua utilização, para que o progresso digital possa verificar-se no respeito pela justiça e contribuir para a causa da paz. Os avanços tecnológicos que não conduzem a uma melhoria da qualidade de vida da humanidade inteira, antes pelo contrário agravam as desigualdades e os conflitos, nunca poderão ser considerados um verdadeiro progresso.

A inteligência artificial tornar-se-á cada vez mais importante. Os desafios que coloca não são apenas de ordem técnica, mas também antropológica, educacional, social e política. Precisamos estar conscientes das rápidas transformações em curso e geri-las de forma a salvaguardar os direitos humanos fundamentais, respeitando as instituições e as leis que promovem o progresso humano integral. A inteligência artificial deveria estar ao serviço de um melhor potencial humano e das nossas mais altas aspirações, e não em competição com eles.”

Fonte: Vaticano

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