Os limites da esperança

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Hoje vou escrever a coluna baseada no filme romeno “O pai que move
montanhas”. O diretor e roteirista, Daniel Sandu, se inspirou no noticiário local que
mostrou a resiliência dos pais que reuniram todas suas forças e recursos para resgatar
o filho que desapareceu com a namorada num passeio nas montanhas da Romênia.
Naquela região do país, o sumiço de pessoas é comum devido às condições extremas
do lugar, como escarpas íngremes, nevascas e avalanches.
O filme mostra a história do personagem Mircea, um policial aposentado, que
procura seu filho incansavelmente por dias consecutivos e monta sua própria equipe
de busca depois de as locais sofrerem acidentes e desistirem. A mãe e os pais da
namorada também abandonaram as montanhas ao terem a certeza de não haver mais
possibilidades de encontrá-los vivos sob o gelo.
O filme nos faz refletir sobre várias questões como o amor de um pai ou a culpa
por ele ter se afastado da família, dentre outras questões relevantes. Aqui, vou
abordar os limites da esperança porque, em vários momentos da minha vida, avancei
sobre as condições impossíveis de atingir um objetivo. Esta coluna me será uma
terapia educativa.
A vida é uma grande universidade. A experiência diária nos ensina, inclusive de
modo doloroso, até quando devemos continuar ou parar. A esperança é uma
expectativa de melhora ou solução de uma situação ruim e tem suas raízes fincadas na
emoção e na vontade das pessoas. A sensatez é a capacidade de discernir sobre as
decisões e ações para avaliar as mais adequadas a serem tomadas. Tanto a esperança
como a sensatez ou o bom senso emergem da impossibilidade de dominar uma
circunstância e do respeito à vida, de si e do outro; A esperança tem fator emocional
predominante; já a sensatez, o discernimento.
O valor desta abordagem está na reflexão sobre a impulsividade. Ou seja, penso,
na falta de reconhecimento das possibilidades e impossibilidades, bem como nas
consequências das decisões tomadas e na forma como as ações serão realizadas.

Então me vejo diante da afirmação que guardo no fundo das minhas células: a
esperança como a última a morrer. A dialética sentir, pensar e agir nos faz seguir os
caminhos do destino. A aceitação das possibilidades e impedimentos é resultado do
amadurecimento que só acontece através do tempo, que nos ensina a aprender a
conviver com as perdas e a perceber como podemos aproveitá-las e valorizá-las no
presente e no futuro. Como é importante reverenciar o que temos em todos os
momentos já que tudo é efêmero! Inclusive nós... A esperança tem limites e é saudável
reconhecê-los para não sucumbir.
No filme, Mircea, o pai, tinha questões não resolvidas com o filho e,
provavelmente, foram uma das causas da sua persistência. As pendências são amarras
que prendem e minimizam as forças da vontade de viver com alegria. Quando nosso
olhar se direciona para outras paisagens, a esperança ganha cores e tonalidades
diferentes.
Concluo que quando fazemos o melhor dentro de nossas possibilidades, temos a
sensação de apaziguamento, mesmo se as finalidades não tenham sido atingidas com
plenitude.

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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