Dia de sensíveis recordações

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 06 de novembro de 2023

Estou começando a escrever esta coluna às 14h do Dia de Finados. Um dia que, a meu ver, deve ser vivenciado com naturalidade e de modo particular. Quantas pessoas não fazem aniversário hoje e tantas boas notícias não são recebidas em 02 de novembro? É um dia comum; o relógio vai girar da mesma forma, o sol despontou no alto da montanha e vai se pôr ao anoitecer. Hoje, como em todos os dias, invariavelmente, uma flor de hibisco vermelha nasceu, enquanto outra caiu sobre a grama, em frente à minha janela. 

Hoje é um dia em que nos lembramos dos que já partiram, das pessoas que fizeram parte da nossa vida e nos influenciaram. Também dos animais de estimação que estiveram ao nosso lado por algum tempo. Ah, como eles vivem pouco... As pessoas e os animas são efêmeros, mas podem se tornar presentes em nossos dias, basta pensar neles que revivemos os momentos em que compartilhamos afetos. A vida é veloz, passa de um instante a outro, e, quase em um supetão, nos traz cestas de pães variados e leva malas cheias de nós. 

O personagem de Saint Exupéry do livro “O Pequeno Príncipe” nunca se esqueceu da frágil rosa que deixou em seu planeta. Da mesma forma, Lola, personagem do livro “Éramos Seis”, de Maria José Dupré, que relembra a história de sua família. Nossas recordações dão vida a quem desejamos que assim permaneça porque nos deram sustento emocional. O que levamos para a vida espiritual não são saldos bancários nem gavetas cheias de perfumes ou joias. Se as nossas bagagens possuíssem unicamente a materialidade das coisas, seríamos um inflado saco vazio, sem espiritualidade e afetividade. 

Concordo com o pensamento de Fernando Pessoa: somos a vida e, também, somos a morte. A vida é rápida; a morte tem eternidade. Enquanto vivos estamos de mãos dadas com o destino. Porém, aqueles que se foram nos deixaram marcas que estarão registradas em cada passo que daremos em nosso caminhar. Tal qual minha imaginação, agora, retoma Saint-Exupéry e Fernando Pessoa. Não somos geração espontânea.  Que bom!

Hoje é o dia que gosto de me recolher para rever pessoas que coloriram as células do meu corpo. Foi bom tê-las deixado me pintar. É saudável tocá-las nesta tarde nublada em que o sol também está se recolhendo atrás das nuvens.

Amanhã será outro dia, e eu estarei mais plena do que nunca.

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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