Blog de terezamalcher_17966

A elegância literária existe pela incompletude da obra

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Vou dar continuidade ao tema anterior em que abordei a elegância literária com as palavras de Freud. “No sentido moderado em que é admitida como possível, a felicidade constitui um problema da economia libidinal do indivíduo. Não há, aqui, um conselho válido para todos; cada um tem que descobrir a sua maneira particular de ser feliz.”

Vou dar continuidade ao tema anterior em que abordei a elegância literária com as palavras de Freud. “No sentido moderado em que é admitida como possível, a felicidade constitui um problema da economia libidinal do indivíduo. Não há, aqui, um conselho válido para todos; cada um tem que descobrir a sua maneira particular de ser feliz.”

Freud se utiliza da palavra indivíduo para se referir a nós. A qualquer um de nós, para ser mais exata. E não somos mais do que isso. E, por isso mesmo, o cuidado com a energia que ilumina a busca pela felicidade, que é a causa do fazer inebriante do indivíduo em todos os momentos dos seus dias, precisa ser utilizada com esmero. Com amor, para melhor dizer.  A caracterização do ser humano, enquanto ser possuidor de identidade própria, nos amplia a percepção da experiência pessoal pelos meandros das circunstâncias quotidianas em busca do que é perfumado, belo e prazeroso. Como a sensação de felicidade é tão etérea, como abstrata e particular, as realizações se tornam múltiplas, e a criatividade é uma estratégia inteligente para a conquista de bens maiores. Com a força imperiosa do desejo, a rapidez do fazer pode colocar em risco a grandiosidade das construções humanas, tornando a elegância não mais do que um sonho impossível.

O apressado não se delicia com a arte. Se descuidado ao fazê-la, não pretende oferecê-la ao outro para que este, ao vê-la, encontre momentos enriquecidos pela sensação de felicidade e de completude. A arte tem a capacidade de proporcionar satisfação, além de tocar o mundo para enriquecê-lo, quiçá modificá-lo. E aí está a elegância literária, que se faz presente em cada palavra. A palavra possui força sensorial através da sua sonoridade peculiar. Além do mais, as palavras ficam nos indivíduos. Em suas almas. Em seus pensamentos. Possuem força de expressão e interferência. É tão forte o seu poder, que é capaz de contribuir para a construção do processo de identidade individual. Social inclusive. Cada palavra tem utilidade ou utilidades individuais e culturais. Não há civilização que não seja verbalizada.

A pessoa elegante tem uma palavra que a caracteriza, da mesma forma a arte. Com que palavra se caracteriza um livro? Uma crônica, um conto? As obras literárias são individualmente caracterizadas e são determinadas pelas palavras que constroem as ideias que as compõem. As obras literárias de valor possuem estética, na medida em que esclarecem a obscuridade dos fatos da vida, que pode ser explicada pela incompletude essencial dos seres. Sempre falta algo. Este vazio tem elegância, na medida em que é um hiato, uma falta que oferece múltiplas possibilidades. A perfeição é incrédula porque nada mais pode completá-la. Por sorte nossa, nada é pronto; tudo é inacabado. 

Ah, não se faz uma obra literária de um dia para noite. As palavras maltratadas colaboram para a pobreza do texto. Entretanto toda palavra possui riqueza de significados, e seu emprego abre caminhos diversos para a composição textual. Eu me arrisco afirmar que a palavra é como a conjunção adversativa, uma vez que possui força maior e só deve ser empregada na medida em que seja indispensável. Além do mais é carregada de condições.  

A elegância literária vai se exibindo sutilmente aos olhos do leitor que vai interpretando o texto a cada palavra lida e refletida. Nunca o escritor vai lapidar um texto até chegar a sua perfeição, nem tão pouco, o leitor vai ter diante dos olhos o mais primoroso texto. 

 

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Elegância literária

segunda-feira, 03 de fevereiro de 2020

Ontem fui dormir pensando no assunto que dissertaria nesta coluna. Antes de começar a escrever, sempre tenho um momento de reflexão para chegar a uma decisão a respeito do tema que vou desenvolver e em que ponto de vista vou abordá-lo. Confesso que não é fácil escrever semanalmente, entretanto é um desafio que me permite aprimorar as habilidades relativas à produção criativa de textos, bem como é um incentivo à leitura e à pesquisa. Considero-o uma responsabilidade saudável e que gosto de ter.

Ontem fui dormir pensando no assunto que dissertaria nesta coluna. Antes de começar a escrever, sempre tenho um momento de reflexão para chegar a uma decisão a respeito do tema que vou desenvolver e em que ponto de vista vou abordá-lo. Confesso que não é fácil escrever semanalmente, entretanto é um desafio que me permite aprimorar as habilidades relativas à produção criativa de textos, bem como é um incentivo à leitura e à pesquisa. Considero-o uma responsabilidade saudável e que gosto de ter.

No silêncio da noite pude rever os últimos temas que desenvolvi e conversar comigo nos esconderijos do travesseiro. De repente, uma palavra saltou à minha frente: elegância. A elegância tem graciosidade, expressa individualidade, tem valor e força de expressão. Quem não admira a elegância e deixa-se levar pela beleza contida na essência do que ou de quem a possui? Toda a elegância tem um quê de encantamento e de sedução; não suscita adereços, nem exuberâncias. 

A elegância é desenvolvida e cultivada ao longo da vida. Ou das vidas passadas, se é que posso me referir à eternidade da alma. Talvez uma única vida não seja suficiente para dotar uma pessoa de comportamento harmônico e autêntico. De louco a mestre, de camundongo a girafa, de rama a árvore, ela vai passar por várias formas e estágios de vida até se constituir em um ser dotado de elegância. 

Do mesmo modo posso me referir ao escritor que faz sua formação a partir da construção do hábito de tratar um texto feito de palavras, unidades linguísticas que exprimem significados. As mesmas palavras com que se escreve uma anotação ou uma matéria de jornal podem compor uma poesia, um ensaio ou uma crônica. Da mesma maneira que é possível usar quaisquer palavras para escrever uma carta, pode-se cuidar do emprego das palavras para elaborar uma obra literária. 

Na verdade, a literatura decorre de questões particulares: quem a pessoa quer ser e qual escritor pretende avivar. Com formação e dedicação, é possível fazer-se escritor. Quero dizer: pinçar palavras do dicionário da língua portuguesa e usá-las como obra de arte não é talento, é trabalho sobre trabalho. Ah, a elegância literária não é feita de truques: as palavras não necessitam de adjetivos ou advérbios para mostrar o poder de expressão do texto, nem um livro precisa ser escrito em tinta reluzente.

E vou mais além. Cada palavra empregada decorre da sublimação da libido do escritor que busca seu prazer no fazer literário. Seu desejo inebriante e sublimado transita na força de expressão das frases, laboradas durante a produção de um texto de sentido válido; contundente. 

A obra, escrita com elegância, pode ser admirada como uma paisagem.


 

P.S.: continuo semana que vem 

 

 

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Ufa, fiquei sem ar!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

As finanças e os livros de autoajuda estão no ranking dos mais vendidos em 2019 no Brasil. Primeiramente, dois títulos me chamaram a atenção nessa listagem: A Sutil Arte de Ligar o Foda-se, de Mark Manson, ocupando o primeiro lugar, e Seja Foda, de Caio Carneiro, o terceiro lugar. Seus autores empregaram a palavra foda em seus títulos, expressão que, do xingamento ao elogio, ganha vários significados. É, inclusive, uma expressão banal, chula e desnecessária que exprime exagero, raiva e desdém.

Será que os títulos atraíram as vendas?

As finanças e os livros de autoajuda estão no ranking dos mais vendidos em 2019 no Brasil. Primeiramente, dois títulos me chamaram a atenção nessa listagem: A Sutil Arte de Ligar o Foda-se, de Mark Manson, ocupando o primeiro lugar, e Seja Foda, de Caio Carneiro, o terceiro lugar. Seus autores empregaram a palavra foda em seus títulos, expressão que, do xingamento ao elogio, ganha vários significados. É, inclusive, uma expressão banal, chula e desnecessária que exprime exagero, raiva e desdém.

Será que os títulos atraíram as vendas?

As pessoas estão se acostumando a serem grosseiras e ofensivas?  

O brasileiro emprega a língua portuguesa de modo vulgar porque está incapaz de empregá-la com elegância e inteligência criativa?

Ou será que está com uma visão de si tão empobrecida que a expressão “foda-se” lhe é uma finalidade? Quer dizer, transformou-se em uma expressão mágica.

A palavra foda pode ser classificada como substantivo, adjetivo e verbo, que diz respeito ao ato de foder e está flexionada na primeira e na terceira pessoa do singular do presente do subjuntivo deste verbo, como também na terceira pessoa do singular do imperativo afirmativo e negativo. É uma palavra que vem do grego antigo e significa mina. Reúne significados ambíguos, como o ato de copular e algo difícil de realizar ou insuportável. Até envolve a definição de alguma coisa ou pessoa agradável, bonita e positiva. É um termo complexo porque ao mesmo tempo em que exprime a finalidade maior da vida e de bom sucesso, é sinônimo de desmerecimento, complicação e dificuldade. Se formos um pouco mais perspicazes, podemos pensar que unindo os dois sentidos, surge um terceiro: superação.

Os títulos dos livros mais vendidos em 2019 podem estar expressando a alma de pessoas que querem fazer uma nova geração que possa lhes trazer mudanças de um status quo sofrido. Ao mesmo tempo, presas às exigências dos tempos modernos, sentem dificuldades de saber quem são. E nem mesmo conseguem vislumbrar o que poderiam fazer para construírem a própria identidade. 

Os estilos de leitura que compuseram o ranking de vendas me fazem novamente mergulhar em Freud, em seu livro O Mal estar da civilização, escrito em 1930, que abre o primeiro capítulo com a afirmação: “É difícil escapar à impressão de que em geral as pessoas usam medidas falsas, de que buscam poder, sucesso e riqueza para si mesmas e admiram aqueles que os têm, subestimando os autênticos valores da vida.” Mais adianta afirma “A satisfação irrestrita de todas as necessidades se apresenta como uma maneira mais tentadora de conduzir a vida, mas significa pôr o gozo à frente da cautela, trazendo logo o seu próprio castigo”.

Na minha opinião, é como se o dinheiro, enquanto poder econômico, político e social, fosse capaz de lhes garantir a felicidade. Será que o brasileiro está precisando de ajuda para conquistar bens materiais?

Ufa, fiquei sem ar! 

Espero que a literatura, rica em valores humanos e que bem empregue a nossa bela e romântica língua portuguesa, possa amparar a construção de pessoas virtuosas.

Ah, Camões, Saramago, Fernando Pessoa, Sartre, Freud, Marcuse, Saint-Exupéry, Clarice Linspector, Shakespeare, Miguel de Cervantes, Saramago. Depois de ler suas obras e de outros autores, vamos poder conhecer um pouco mais da vida e de nós mesmos. Suas obras penteiam nossas almas.   

 

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Os livros de autoajuda

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Ao escrever a coluna da semana passada, o ato de pedir ajuda me chamou a
atenção porque, em vários momentos da vida, escutei dizer que é preciso buscá-la
quando necessário, além de não haver motivos para sentir constrangimentos ao
solicitá-la; todo mundo tem a opção de aceitar ou não ajudar. Quando fazia
psicoterapia, compreendi que precisamos respeitar nossos limites. Enfim, ajudar ou
não e pedir ajuda ou não é uma questão pessoal.
Ao escrever, semana passada, a coluna, O Sonho de Vanka, texto sensível e

Ao escrever a coluna da semana passada, o ato de pedir ajuda me chamou a
atenção porque, em vários momentos da vida, escutei dizer que é preciso buscá-la
quando necessário, além de não haver motivos para sentir constrangimentos ao
solicitá-la; todo mundo tem a opção de aceitar ou não ajudar. Quando fazia
psicoterapia, compreendi que precisamos respeitar nossos limites. Enfim, ajudar ou
não e pedir ajuda ou não é uma questão pessoal.
Ao escrever, semana passada, a coluna, O Sonho de Vanka, texto sensível e
triste, senti vontade de mergulhar nos livros de autoajuda, decisão que ainda não tinha
tomado desde que comecei a escrever para o jornal A Voz da Serra. De início, eu me
perguntei: estes livros são literários? Deparei-me, então, com um universo de questões
a serem refletidas e pesquisadas. Em princípio, penso que o livro de literatura é
provedor do crescimento pessoal, na medida em que faz pensar, estimula mudanças
nos modos de agir e possibilita o amadurecimento. Os contos de Thchekhov, como
tantas outras obras clássicas, são fontes de valores e foram humanamente construídos
por escritores que conseguiram pinçar questões relevantes da vida. E, acima de
qualquer ponto de vista, não possuíram a intenção de ensinar; eles se comoveram com
a existência em sua mais profunda expressão e escreveram a respeito.
Os livros de autoajuda são lidos amplamente, o que denota a tendência humana
de querer melhorar os modos de ser e de viver. Podem ser considerados como
recursos para combater ou suavizar os males existenciais. Além do que indicam
caminhos para a felicidade, o grande propósito da existência humana. São, às vezes,
verdadeiros manuais, ricos em informações sobre os modos de viver e conviver, as
possibilidades pessoais e o uso de técnicas e métodos. Os que abordam temas
relacionados à espiritualidade e aos sentidos da vida estão neste grupo também.
A busca por esta leitura pode ser explicada pela obra de Sigmund Freud, O Mal-
estar na Civilização, publicado em 1930. Neste trabalho, de cunho científico,
considerado um clássico da antropologia, sociologia e psicologia, Freud aborda as
complexas e conflitantes relações entre o ego e o mundo exterior, causa do embate

entre o indivíduo e a vida em civilização na medida em que o ego precisa se distinguir
da realidade concreta. Nessa complexa e sofrida delimitação entre o eu, o outro
(abrange as relações sociais mais próximas) e o grande Outro (abrange as relações
sociais mais amplas), o eu se restringe, criando um conflito insuperável entre a
sexualidade e a civilização. Desta incompatibilidade entre a libido e a realidade,
emerge o desejo de proteção, que é sustentado ao longo da vida, quando passamos a
temer as circunstâncias do destino e a querer dominá-lo.
Os livros de autoajuda abrangem as áreas da espiritualidade, educação,
economia, psicologia e outras. O primeiro foi escrito pelo escocês Samuel Smiles e
publicado em 1859, em cuja primeira página trazia a proposição: “O céu ajuda aqueles
que ajudam a si mesmos”.
Enfim, se literários ou não, o importante é que o leitor possa ter opções de
leitura diversas e seja capaz de avaliar a validade das informações. A versatilidade na
escolha de um livro é um modo saudável para adquirir conhecimentos, buscar o
aprimoramento pessoal e profissional. Além de ser uma excelente maneira de ocupar
o tempo dedicado ao descanso e lazer.
Ah, faço questão de fechar esta coluna dizendo que estou relendo o “O Mal-estar
na Civilização”. Excelente leitura!

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