A quarta capa e a produção do mel

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Esta coluna vai me respaldar para escrever a quarta capa do livro de uma
amiga e escritora que me presenteou com esta oportunidade. O convite para
participar de uma obra literária é uma reverência ao convidado, um
reconhecimento às suas qualidades literárias e pessoais. Não são seus belos
olhos, muito menos seu agradável sorriso que vão fundamentar o delicado
convite, mas os valores e as capacidades literárias que ele desenvolveu a
longo do tempo com esforços e dedicação.
***

O livro é vestido por quatro capas. A primeira é o cartão de visitas. A
segunda é a parte oposta à primeira capa. A terceira é o lado oposto à
contracapa. A última é a quarta capa. Particularmente, gosto da segunda e da
terceira, chamadas de guarda, que possuem a função de grudar as capas ao
miolo e podem ser lisas ou ornamentadas com desenhos e estampas, que
encantam o leitor quando folheiam o livro. Em todos os livros que editei, cuidei
dessas capas com cuidados especiais.
A quarta capa ou a contracapa faz parte da vestimenta do livro, que
desfila em vários ambientes reais, como vitrines de livrarias, prateleiras de
bibliotecas e estandes de feiras literárias. Em ambientes virtuais, como sites,
bibliotecas e livrarias. Uma obra literária tem que percorrer os caminhos do
mundo para ser lida por diferentes pessoas e em culturas distintas. São
histórias e ideias que não podem ficar esquecidas ou guardadas, devem
fomentar novos pensamentos, fazeres e transformações. Os livros modificaram
as civilizações e atualizam a cada dia os modos de ser e fazer. São fontes
inesgotáveis de mutação.
Cada obra literária deve seduzir e cativar o leitor, que é sujeito único.
Quando exposta, o leitor vai ter vontade de conhecê-la de imediato,
observando sua capa para ter ciência do autor, do assunto, sempre contido no
título e na apresentação gráfica, da editora, do ilustrador e de outras questões
mais. A seguir, invariavelmente, detendo-se na quarta capa, em que o autor ou

alguém por ele escolhido, vai informar a respeito da obra, indicar o público-alvo
a que se destina, apresentar uma sinopse e fazer reflexões a respeito da obra
de modo que o leitor seja tocado em seus centros de interesse e tenha vontade
de adquiri-la para lê-la, presenteá-la, usá-la como fonte de pesquisa.
O texto da quarta capa deve ser suscinto, claro e objetivo. Não deve
confundir o leitor, uma vez que várias informações num curto espaço atordoam,
e o essencial acaba sendo ofuscado pelo irrelevante. Não deixa de ser uma
forma de divulgar a obra, ao apresentar uma avaliação positiva do texto e até
mesmo da ilustração.
O texto da quarta capa pede zelo de quem o escreve pelas necessidades
de concisão, criatividade e harmonia que exige. Em poucas linhas, através de
uma leitura agradável e atraente, deve conter a essência da obra. Quando
elaborado por um convidado, contém um olhar diferente do autor.
Se é o autor ou não, quem o escreve deve ter a presteza das abelhas que
retiram o néctar das flores, desprezam os micro-organismos e produzem o mel.

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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