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Abaixo a tolerância
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
“Basta de intolerância e de tolerância como resposta à intolerância” (pode descatar)
Amor é amor e ponto. Por isso, é démodé demais essa de tolero. Amor não pede tolerância, quando tolerância é o contrário de intolerância. Amores não são para serem tolerados. São para serem admirados, respeitados, difundidos, consagrados, compartilhados para além dos livros, poemas e canções. Sem olhar a quem, ao par, a forma que tem, à soma que faz.
Ama-se porque se ama, sem porquês e longas explicações, sem regulamentos, porque amor não tem regramento ou proibições. Amar é permitido em premissa e, logo, nenhuma forma de amar pode ser censurada, escondida ou subtraída.
Há quem odeie o amor e é difícil entender como o amor, ainda mais o alheio, possa ser odiado. Invejado, se pondera. Desejado, também. Mas se alheio a si, como se pode odiar o amor que o outro sente? Não lhe diz respeito, mas os que odeiam chamam para si verdades e sentenças que não são suas, nem de ninguém. O amor não tem proprietário, societário ou qualquer outro termo que dê a quem quer que seja aval para ordenar ou mesmo dizer o que pode ou não pode. Todo amor pode tudo.
Quantos amores deixam de existir ao se perceberem na necessidade de se esconder por medo? E ao não ter “permitida” a existência do amor da forma que amam acabam si mesmos não existindo. Não que não queiram, muito pelo contrário. Mas ao amor sabido e negado, negam a si próprios.
Não há crime coletivo maior. Relegar-se, relegar o que sente a uma sobrevivência em vida anulada. Não estamos aqui para sobreviver e na luz do amor reconhecemos o quão abundante pode e deve ser a vida, o quão livre devem ser os nossos sentimentos.
É cruel o preconceito. Mais cruel ainda os que vomitam curas, seja por desatualizada psicologia ou pela ainda mais falsa “fé”. O amor nunca foi doença e nunca será. O amor nunca foi desvio ou pecado. É cura, é redenção, inclusive para os que estão no pedestal de seus pseudomoralismos. É quando me lembro de resposta brilhante a um desses comentários contra a união homoafetiva. “Aceitar ou não o casamento entre pessoas do mesmo sexo é tarefa para quem foi pedido em casamento. Se você não é homossexual, pare de se sentir o noivo”.
Basta de intolerância e de tolerância como resposta à intolerância. O amor pede muito mais. Ninguém merece o travestido respeito ao que sente para ser tolerado. De condescendentes a fila para o inferno já está congestionada.
Que o amor seja plural como deve ser, sem coleção de porquês para justificá-lo. Amor não é justificativas ou procura por proteções jurídico legais.
Que aja respeito no seu âmago e motivos para torcer para a felicidade de todos os amores que se unem no dia a dia; que se beijam nas ruas; que dançam entre quatro paredes; que cantam nos jardins; que se revelam nos discos; que se declaram nos bilhetes de geladeira; que criam enredos nas mensagens de celular; que se vestem de fantasias na falta de roupa debaixo dos edredons; que se revigoram a cada carnaval; que inventam narrativas no jantar e que até brigam na proximidade de todos os décimos dias úteis de cada mês; que se reinventam na mesmice do cotidiano e que não se envergonham de amar porque amam e isso deveria bastar para ser aplaudido e aplaudir todos os homens que beijam mulheres, todas as meninas que beijam meninas, todos os rapazes que beijam rapazes e todas as junções possíveis e inimagináveis.
Cada um sabe o que lhe delicia e mais ninguém deve opinar, muito menos julgar o outro sobre o gosto que o outro tem. Afinal, amor é amor e ponto.
Wanderson Nogueira
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
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