“Não sou obrigado a nada”

A Voz da Diocese

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Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

No universo das redes sociais pululam expressões que, sob o véu do cômico, traduzem a identidade da cultura atual, revelando os sentimentos mais sinceros do coração humano. Como num passe de mágica, alguns jargões ganham lugar nas conversações de grupos de indivíduos das mais variadas idades. Dentre tantas expressões consagradas, ouvimos, aqui e acolá alguém bradar: “Não sou obrigado a nada”.

Não há quem duvide que a dita expressão é manifestação da liberdade conquistada pela pessoa, fruto de um processo de libertação de paradigmas e preconceitos que regeram a sociedade por muitos anos. De fato, a liberdade humana é um tesouro que deve ser defendido e honrado por todos nós. O Catecismo da Igreja Católica exprime o Magistério da Igreja sobre o tema com as seguintes palavras: “A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto, de praticar atos deliberados. Pelo livre-arbítrio, cada qual dispõe sobre si mesmo. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade” (§1731).

Mas ao mesmo tempo, é preciso cuidar para não deturpar o verdadeiro sentido da liberdade humana e confundi-lo com o modo libertino de viver ou com a falta de responsabilidade na preservação do bem-comum. Sobre isso, alertou o Papa Francisco: “A liberdade não é uma forma libertina de viver, segundo a carne, ou segundo o instinto, desejos individuais e impulsos egoístas; pelo contrário, a liberdade de Jesus nos leva a estar ‘ao serviço uns dos outros’ (Gl 5,13b). Em outras palavras, a verdadeira liberdade é plenamente expressa na caridade. Mais uma vez encontramo-nos perante o paradoxo do Evangelho: somos livres para servir; e não em fazer o que queremos. Encontramo-nos plenamente na medida em que nos doamos; possuímos a vida se a perdemos” (Audiência Geral, 20 out. 2021).

Ou seja, o exercício da liberdade não implica no direito de o indivíduo fazer e dizer tudo o que bem deseja. Este modo de pensar a liberdade revela o quão a humanidade está mergulhada no individualismo revelado no descaso com a luta pelo legítimo direito de todos. É bastante comum perceber que as condições de ordem econômica e social, política e cultural, requeridas para um justo exercício da liberdade, são com demasiada frequência desprezadas e violadas. Atitudes como estas abalam a vida moral e induzem tanto os fracos como os fortes na tentação de pecar contra a caridade. O que não se percebe é que na prática do falso sentido de liberdade o homem faz-se escravo de si mesmo quebrando os laços de fraternidade (cf. CIC 1740).

Assim, a expressão mencionada possui duas vertentes interpretativas bastante distintas uma da outra. Uma que defende a dignidade e a liberdade humana, construindo uma cultura totalmente emancipada dos preconceitos e paradigmas massacrantes da essência pessoal; e outra, que é manifestação de uma ideologia individualista que favorece a desigualdade social. Seja livre para fazer o mundo livre!

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

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