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Viagem diferente

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Chegou o mês de julho. Para muitas pessoas, era um mês esperado, com alguns dias de férias e oportunidade de descansar, dar uma breve pausa, quem sabe até fazer uma viagem. Não à toa os pacotes turísticos para esta época do ano sempre foram muito procurados.

Chegou o mês de julho. Para muitas pessoas, era um mês esperado, com alguns dias de férias e oportunidade de descansar, dar uma breve pausa, quem sabe até fazer uma viagem. Não à toa os pacotes turísticos para esta época do ano sempre foram muito procurados.

O mês de julho, para aqueles que podiam, sempre combinou muito bem com viagens, sem importar o destino. As crianças, com suas pausas clássicas de férias muitas vezes ditavam o ritmo de mudanças por alguns dias nas rotinas dos pais. Crianças em casa, sempre pareceu ser sinônimo de necessidade de reinvenção dos pais. Uma situação bastante típica. Os adoradores da estação do inverno também costumavam se deleitar esse mês ... festivais de inverno, passeios por lugares frios, busca por cantinhos aconchegantes de preferência com lareira, fondue e araucárias. Os que curtem neve e tinham possibilidades financeiras, lotavam os pontos turísticos e estações de esqui na América do Sul.

O cenário costumava ser bastante convidativo, claro, para aqueles que tinham essas possibilidades. Mas e agora? O ano de 2020 nos apresenta uma proposta diferente. Proposta essa não formulada por ninguém, sem roteiro, sem destino, sem planejamento, sem data para acabar. Em meio ao caos da pandemia, incertezas, perdas, doença, medo, dificuldades financeiras, isolamento, a viagem de meio de ano será bastante diferente para muita gente.

Com as novas perspectivas impostas pelo vírus, muitos roteiros foram repensados, e inúmeros destinos voltaram-se para os interiores dos lares e das pessoas. O tempo também foi relativizado. O estado de espírito do viajante empolgado, também foi impactado pela pandemia. Talvez os pais precisem reinventar o lúdico dessas férias de julho com os elementos reais e factíveis, que estão em suas próprias mãos.

Aliás, muita coisa está precisando ser reinventada e ressignificada neste ano atípico e complexo. Não sabemos os rumos de tudo isso ao certo e a incógnita tem sido um elemento diferencial neste processo de nos voltarmos para dentro, de administrarmos as mais variadas emoções, desta vez com nuances inéditas, de fitarmos de forma tão próxima com a efemeridade da vida, com os recursos escassos, com a limitação de nossa liberdade e o que temos feito com tudo que nos era proporcionado e possibilitado até então. Que viagem difícil essa. Sem malas reais, mas com uma bagagem sem tamanho para carregar.

Não deixemos de viajar. Desta vez, para o âmago de nossos anseios, para o autoconhecimento, em busca da sabedoria profunda sobre quem seremos e para onde iremos quando tudo isso acabar. Se acabar...

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E se ...

sexta-feira, 03 de julho de 2020

E se o amanhã não for o que esperamos dele. E se o mundo mudar da noite para o dia. E se a nota não corresponder ao tanto que for estudado. E se o amor não for correspondido na mesma medida do que foi emanado. E se não chover. Se não passar. Se não melhorar. E se os males vierem para o bem. Se encontrar pessoas certas na hora certa. E se o sonho não se concretizar. E se o emprego não der certo. E se as projeções forem frustradas. E se uma nuvem de gafanhotos invadir o país.  E se ...

E se o amanhã não for o que esperamos dele. E se o mundo mudar da noite para o dia. E se a nota não corresponder ao tanto que for estudado. E se o amor não for correspondido na mesma medida do que foi emanado. E se não chover. Se não passar. Se não melhorar. E se os males vierem para o bem. Se encontrar pessoas certas na hora certa. E se o sonho não se concretizar. E se o emprego não der certo. E se as projeções forem frustradas. E se uma nuvem de gafanhotos invadir o país.  E se ...

Tantas coisas podem dar certo. Ou não. O depende é uma constância, da mesma forma em que essa circunstância condicional pode significar o grande barato da vida. A verdade é que não sabemos o que será, nem o que teria sido caso as escolhas tivessem sido outras. Por vezes, a opção é justamente escolher, tomar decisão, direcionar, agir em determinado sentido. Talvez, quem consegue se lançar nos desafios sem um retrovisor se questione menos sobre o que poderia ter sido e não foi.

Nesses tempos de reclusão forçada por força da pandemia, muitos se viram obrigados a enfrentarem de uma hora para outra, uma conversa dificílima que estava sendo adiada há anos, quiçá a vida inteira: o diálogo interno, aquele bate-papo em que o significado maior pode estar justamente em ouvir-se, entender-se. E então o questionamento que pode surgir é: como compreender os desígnios, anseios, desejos, medos de um ser tão assoberbado pela avalanche de medos, preocupações, mudanças e incertezas. E se nada disso estivesse acontecendo? Haveria tempo para essa conversa séria?

E se ... ah ! Se já era desafiador existir com a sobra de condicionantes, imaginemos agora em que o “se” passou a habitar um canto especial da vida da maioria de nós. Para cada “e se...”, tenho respondido com um “tomara” mental. Funciona assim: cada condição abre brecha para uma possibilidade melhor que a outra. É inevitável percebermos que para cada incógnita da existência, mais de um resultado se faz possível. Tenho procurado me agarrar ao melhor deles possível de ser vislumbrado. E então, suspiro um “tomara”. E sigo em frente, tentando fazer acontecer. Quem sabe...

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Novo normal

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Esse novo momento que estamos vivendo já recebeu apelido: é o “novo normal”.  O que esperarmos dele? Bem, acho que não sabemos o que esperar e nem podemos. As coisas estão acontecendo de maneira absolutamente veloz e se vêm se transformando da noite para o dia. Nesse cenário, alguns de nós encontrará terreno fértil para crescimento, outros terão mais dificuldades de adaptarem suas realidades a essa nova forma de existir. Fato é que uma característica pessoal tem se mostrado preciosa: a adaptabilidade.

Esse novo momento que estamos vivendo já recebeu apelido: é o “novo normal”.  O que esperarmos dele? Bem, acho que não sabemos o que esperar e nem podemos. As coisas estão acontecendo de maneira absolutamente veloz e se vêm se transformando da noite para o dia. Nesse cenário, alguns de nós encontrará terreno fértil para crescimento, outros terão mais dificuldades de adaptarem suas realidades a essa nova forma de existir. Fato é que uma característica pessoal tem se mostrado preciosa: a adaptabilidade.

Diante de tantas mudanças repentinas e das necessidades abruptas de convivermos com novos medos, de precisarmos buscar soluções eficientes para problemas novos, de nos reinventarmos não apenas como indivíduos, mas enquanto sociedade, deparamo-nos com um sem fim de interrogações para as quais não temos respostas prontas e nem um gabarito ao final. E não é simples nem fácil sermos partes orgânicas de tantas incógnitas sem expectativa de soluções pragmáticas.

Não aparecerá um super herói para nos salvar. Não encontraremos o pote mágico ao final do arco-íris. Não é possível zerar o game. Não dá também para viver na ilusão e fingir que nada está acontecendo e que o novo normal não existe. 

A indagação que tenho feito a mim mesma, consiste em quem eu quero ser nesse novo normal. Qual o papel que me atribuirei para essa nova realidade. Como eu quero viver meus próximos dias. Com que. Fazendo o quê. Sendo útil a quem. Contribuindo como. Tem me sido muito cara essa reflexão no pouco tempo que me sobra para pensar diante de todas as minhas atribuições privilegiadas de quem pode trabalhar nesse momento e em home office.

A uma conclusão eu já cheguei: não é possível continuar sendo a mesma pessoa diante do novo normal. Já mudei. Já mudamos. Para onde vamos?

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Cancelamento

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Que história é essa de cancelar gente? Juro que vi e não entendi. “Fulano foi cancelado”. “Cancelaram Beltrano na internet.” Oi ? Do que se trata o cancelamento de pessoas? O dicionário Aurélio traz como alguns dos significados do verbo cancelar  “tornar sem efeito, anular, eliminar; suspender, suprimir”.

Que história é essa de cancelar gente? Juro que vi e não entendi. “Fulano foi cancelado”. “Cancelaram Beltrano na internet.” Oi ? Do que se trata o cancelamento de pessoas? O dicionário Aurélio traz como alguns dos significados do verbo cancelar  “tornar sem efeito, anular, eliminar; suspender, suprimir”.

Bem, a mera tentativa de tentar anular ou eliminar um ser humano eu já acho cruel por si só. Aliás, toda e qualquer forma de minimizar a existência de outra pessoa já é repugnante por natureza. O mundo virtual, em que todos nós de alguma maneira estamos inseridos e, em tese, guarnecidos por telas, tem apresentado algumas nuances difíceis de lidar.

Uma delas, justamente, vem ganhando corpo nesses novos tempos: o tal “cancelamento” de pessoas pelas redes sociais. O linchamento pelas redes sociais podem causar prejuízos das mais diversas ordens e o mais surpreendente disso é que ele vem acontecendo muitas vezes de forma natural, como se natural fosse, mas municiado de um volume muito grande de pessoas com atitudes simulares e intenção de prejudicar o alvo do momento. Tal como uma diversão.

E mais, a massificação de atuações pelas redes sociais por vezes é provocada pelo comando a robôs, com o intuito aparente de propagar informação falsa, denegrir imagem de pessoas, “coisificar” pessoas como se objetos, brinquedos, mercadorias fossem. Estranho mesmo, desde quando gente é produto? Como cancelar existências pelo impulsionar de dedos de gente ou de robôs em teclados de computadores e smarthphones?

Tempos difíceis. Achar graça das mazelas alheias e atuar, ainda que minimamente, para encorpar os discursos de ódio são condutas, a meu ver, irresponsáveis. E, por vezes, irreparáveis. Aquele ditado que muitos de nós aprendemos com nossos pais ainda crianças, de não fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco, nunca fez tanto sentido.

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Conte-me a verdade

sábado, 13 de junho de 2020

“ - Conte-me a verdade, mas se possível, fale com palavras suaves para que não perca meu lampejo de esperança.” Assim pediu o senhor ao neto que chegara à sua casa com informações recentes sobre economia, política e saúde pública. O neto, pôs-se a pensar sobre estranho pedido do avô, afinal, como contar-lhe a verdade sobre o mundo de forma a nutrir alguma esperança? Ele não sabia fazê-lo. Não estava preparado.

“ - Conte-me a verdade, mas se possível, fale com palavras suaves para que não perca meu lampejo de esperança.” Assim pediu o senhor ao neto que chegara à sua casa com informações recentes sobre economia, política e saúde pública. O neto, pôs-se a pensar sobre estranho pedido do avô, afinal, como contar-lhe a verdade sobre o mundo de forma a nutrir alguma esperança? Ele não sabia fazê-lo. Não estava preparado.

Infelizmente, o neto crescera em um contexto em que a tecnologia é o caminho das verdades postas, não se acostumou a pensar em fontes de informação, sequer havia até aquele momento pensando sobre quem seriam as mentes e as mãos a escrever todo aquele conteúdo que ele consumia pelas telas. Não sabia, também, contar os fatos que chegavam até ele de uma forma leve. Ele não foi ensinado sobre ser sincero e gentil ao mesmo tempo. Cresceu ouvindo dizer que o bonito é “falar as coisas na cara, doa a quem doer”. E pasme, sem saber, orgulhoso, empregava sua franqueza sem ao menos saber se trazia verdades.

Também não aprimorou, o jovem, a nutrir esperança. Nem a dele, nem a de ninguém. Entendeu que mesmo o que era esperança ele não sabia, senão o significado vazio da palavra. Pobre jovem, aprendeu pouco sobre coisas tão importantes.

Constatando que o neto seria incapaz de trazer informações verdadeiras sobre tais assuntos e contar-lhe de forma gentil sobre o mundo, sem perder o afeto e a esperança em sua fala, o avô preferiu dialogar pouco com ele. Preferia apenas tomar o chá, ler o jornal e observar a natureza, como forma de afastar dele não o neto, mas a avalanche de dados desencontrados que ele gostava de despejar todos os dias ao chegar em casa. E o fazia até animado, agitado, com uma certa empolgação, deixando o avô por vezes até preocupado.

Dentro de si, além das preocupações com o mundo, com a saúde, com a família , temia pela geração daqueles jovens que pouco liam, pouco acessavam a arte, pouco refletiam, pouco dialogavam. Temeu por crescerem sem esperança. Temeu por não ser uma questão do seu neto e sim de uma geração inteira.

Em vista do seu amor pelo jovem, utilizou das boas técnicas antigas usadas por sua avó com ele décadas antes. Criou o momento deles. Só os dois. Com calma. Polindo a paciência de ambos. Pôs-se a sentar todos os dias com o jovem.  Dialogar. Propôs-se a abrir sua mente para entender esses novos conceitos dessa nova geração. Aprendeu um bocado de coisas. E ensinou ainda mais. Os bate-papos entre eles trouxeram para aquela casa muito mais que aprendizados para ambos. Trouxeram o foco no que é essencial, a presença, a partilha, a construção de memórias afetivas, o entendimento e a evolução de ambos.

O menino aprendeu sobre esperança. E sobre o falar sincero e gentil, com a percepção verdadeira sobre o estado de espírito do interlocutor. E o avô, pasme, aprendeu até a mexer nas redes sociais e interagir com pessoas. Reencontrou velhos amigos e ria da barriga doer relembrando casos antigos pela internet.  E seguiram, juntos, após esse pontapé que nasceu da percepção, reflexão e vontade de uma frase que continha ao mesmo tempo, verdade, gentileza e esperança.

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Castelo de areia

sexta-feira, 05 de junho de 2020

Hoje me permitirei a paráfrase. De mim mesma. Das minhas próprias palavras publicadas. Muita coisa continua igual, infelizmente, embora o cenário esteja ainda pior. Em fevereiro de 2018, nesta coluna, publiquei um texto intitulado “O mundo não é bipolar”. E continua não sendo, embora a dicotomia se mostre absolutamente presente em algumas estruturas de pensamento, a meu ver, humildemente, limitadas.

Hoje me permitirei a paráfrase. De mim mesma. Das minhas próprias palavras publicadas. Muita coisa continua igual, infelizmente, embora o cenário esteja ainda pior. Em fevereiro de 2018, nesta coluna, publiquei um texto intitulado “O mundo não é bipolar”. E continua não sendo, embora a dicotomia se mostre absolutamente presente em algumas estruturas de pensamento, a meu ver, humildemente, limitadas.

Somos hoje o triste epicentro da crescente curva de contaminados e mortos da pandemia provocada pelo coronavírus. Nenhum dos nossos vizinhos se depara com tamanho desafio e os números absolutos de vítimas passam longe de nós. Somos parte de um país absolutamente desigual. Nossa desigualdade histórica, estrutural, abissal e das mais diversas ordens vem se agravando nesse momento. E infelizmente há quem siga teimando em ampliar as lacunas e evidenciar lados, fomentando ainda mais as disparidades sociais seríssimas que experienciamos e enaltecendo uma guerra de lados cujos perdedores somos todos nós.

Repito: que enfadonha essa tentativa de dividir o posicionamento e as opiniões das pessoas em esquerda ou direita, certo ou errado, bem ou mal, sim ou não, como se não existissem plúrimas visões e interpretações sobre os mesmos fatos, como se a vida devesse ser necessariamente polarizada. Não deveria. Mas às vezes tem sido. É enfadonha, aliás, a própria necessidade de se ter opinião sobre tudo quando o que se faz necessário em um cenário atipicamente caótico como o atual é aparato técnico-científico, pesquisa, estudo de credibilidade, fonte fidedigna e verdadeira de conteúdo sério produzido por quem tem expertise para tanto.

Não é porque você está certo que eu estou errada. E vice-versa. Tudo tem mais de um lado, que não só o seu ou o meu. Há liberdade de pensamento, de crenças, de ideologias políticas, de filosofia de vida, embora tanta gente teime em categorizar a vida em apenas dois lados. Não é bem assim, não é sempre assim. Ou não deveria ser. Mas há momentos em que as divergências não podem ser o ponto central da questão, simplesmente porque não vão resolver as mazelas sociais, não apresentarão respostas às questões sérias que envolvem vidas humanas.

O que achamos ou deixamos de achar, se não for impactar positivamente nas vidas das pessoas, passa a ser pensamentos lançados ao vento sem nenhuma eficácia prática. Precisamos de soluções concretas, pensamentos voltados para o que interessa, pois se chega a um ponto em que valores intransponíveis estão em jogo: vidas humanas. Não dá para brincar, não é possível resetar a partida, bagunçar o tabuleiro, parar de jogar.

Não é a imprensa. Não é culpa do professor. Não é o político X, o filósofo Z ou o amigo Y. Não somente. É a bagagem de vida, são os pensamentos, os valores, as vivências que livremente fazem parte de nossas existências e nos transformam no que somos: seres múltiplos, complexos, diferentes. E de nada adiantarão se não puderem transformar esse ambiente compartilhado chamado Planeta Terra.

A vida polarizada tem se mostrado deveras triste. O vírus está entre nós. Matando nossa gente. Corroendo nossas bases. Evidenciando nossas feridas. Causando falta de ar. Falta de tudo. E ainda assim, vale o bate-boca, a guerra de perdedores, a disputa de egos, a irresponsabilidade desvairada. Vergonha alheia que não tem mais fim. Não se consegue focar no combate à pandemia com a seriedade e devida importância que a situação impõe. O vírus fez morada por aqui e se deparou com um ambiente fértil de propagação: desordem, descaso, despreparo, desunião, desmando, deboche, desumanidade.

Enquanto isso, nosso povo vai perecendo, as pessoas vão morrendo e as ausências jamais serão supridas. Há muita batalha. Há aqueles que estão lutando com suas próprias vidas para salvar a de outros. Há os que se solidarizam. Os que buscam alternativas. Os que estendem mãos. Os que pensam em saídas. Que pensam no próximo. Que pensam nas vidas.

E há os que quando não indiferentes, riem e se aproveitam disso tudo que está aí. Palavras ao vento. Castelo de areia. Que pena.

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Queria

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Só queria tempo para olhar com toda calma para esse azul pintado no céu desses dias. Observar que apesar de todo caos que estamos vivendo, ele continua lá, com uma beleza exuberante. Queria ter como experienciar os dias frios com a intensidade que pude em outros outonos e invernos. Era bom saborear as delícias dessa época com o olhar mais despreocupado.

Só queria tempo para olhar com toda calma para esse azul pintado no céu desses dias. Observar que apesar de todo caos que estamos vivendo, ele continua lá, com uma beleza exuberante. Queria ter como experienciar os dias frios com a intensidade que pude em outros outonos e invernos. Era bom saborear as delícias dessa época com o olhar mais despreocupado.

Queria o tempo para preparar um fondue e a tranquilidade de saber que tudo está bem. Queria o suor do trabalho duro sendo amenizado pelos abraços e encontros no dia a dia do ofício. Queria temperar a saudade do que já foi com a perspectiva de novos momentos que estão por vir, sabendo que dependia de mim promovê-los.

Queria mais tempo para ouvir a passarinhada, o canto dos pássaros que não sabem que o planeta terra está sendo transmutado por um vírus e tudo de ruim que vêm aflorando em muitos seres. Queria esse tempo. Poderia ouvi-los enquanto a mente descansaria e os raios de sol sobre a pele aqueceria o dia frio, aquela sensação gostosa de estar imerso em si, com pitadas de natureza. Enquanto isso, a mente presente, despreocupada, repousaria em paz.

Queria o tempo para contemplar as flores vermelhas que brotaram nas pontas dos galhos da árvore em frente à janela. Coisa linda. Queria poder analisar suas nuances e imaginar como o divino criou tamanha perfeição. Melhor ainda seria se eu pudesse ir até ela, sem máscara, sem medo, sem precisar cumprir o checklist de cuidados ao retornar.

Queria muito além do tempo em meu dia para fazer essas coisas simples. Queria a possibilidade de fazê-lo em paz. Sem o assombro do medo, das mortes, da doença, das preocupações, do descaso, das frases proferidas por políticos que insistem em ecoar e embaraçar nossas mentes e gerar ainda mais tristeza e aflição, refletindo na sensação de estarmos no bonde sem freio. E quem consegue sentir a beleza divina e perceber o céu azul, a passarinhada e as flores que brotam no topo dos galhos secos estando sentado na primeira poltrona do trem desgovernado?

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Maquinário novo

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Máquina nova interessante essa. Que de nova não tem nada, mas está sendo revisitada, recebendo uma releitura “à la 2020”. A potência é boa, produz bastante, apresenta resultados e até pensa. Que maravilha. Não tem a ver com inteligência artificial, é gente de verdade. Esse aparato super moderno é humano. Se adapta às mais variáveis circunstâncias, é flexível, multitarefas, inovador, apresenta ideias, as executa, faz reparos e prospecções futuras. Pensa, sente e até se emociona.

Máquina nova interessante essa. Que de nova não tem nada, mas está sendo revisitada, recebendo uma releitura “à la 2020”. A potência é boa, produz bastante, apresenta resultados e até pensa. Que maravilha. Não tem a ver com inteligência artificial, é gente de verdade. Esse aparato super moderno é humano. Se adapta às mais variáveis circunstâncias, é flexível, multitarefas, inovador, apresenta ideias, as executa, faz reparos e prospecções futuras. Pensa, sente e até se emociona.

Às vezes, a máquina perece. Adoece. Sucumbe às dores mundanas, não apresenta a melhor performance, rateia e até para de funcionar. Fala mais do que deve, faz mais do que pode e até reclama. Há que diga que é super econômica, custa muito pouco pelo tempo que trabalha. Há quem pense ser cara demais, afinal de contas, há várias peças custosas agregadas, mais conhecidas como direitos e prerrogativas.

A grande verdade é que os trabalhadores do século 21, essas máquinas da metáfora, são essenciais ao funcionamento de tudo, embora o incremento da tecnologia agregue possibilidades ao mesmo passo em que tenta substituí-las. Nessa crise inesperada provocada pela pandemia, o maquinário anda oscilante. Parte dele, inclusive, nunca produziu tanto. Outra parte, está sendo descartada, por ser dispensável ou onerosa demais. O “equipamento” humano é subjugado, sobrecarregado, desvalorizado, descartado. Exige-se de gente de carne e osso o que nem máquina faz.

Fato é que deveríamos repensar as estruturas que fazem a máquina funcionar. Tudo funcionar. Não basta a reflexão e preocupação quanto espaços físicos, viabilidades econômicas e o seu bom e produtivo uso. Deve-se, principalmente, considerar sua própria formação, seus cuidados, suas necessidades. Pode parecer difícil para muitas pessoas compreenderem, mas a máquina humana, sente, pensa, necessita, respira. Sinto informar, mas esse “maquinário novo”, nem máquina é. Nosso planeta ainda não é habitado por robôs. Não percamos a noção disso.

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Sejamos

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Sejamos gentis com todas as dores. Com todas as perdas. Com todas as dificuldades. Com todos os amores. Sejamos educados para lidarmos com os outros, com os problemas deles, com suas dificuldades. Sejamos complacentes com a tragédia e o luto. Sejamos fortes para enfrentarmos barreiras. Para tratarmos de doenças. As físicas, as psíquicas, as da alma. Sejamos honestos com nossas limitações, com as coisas dos outros, com nossas responsabilidades e com o que podemos fazer. Sejamos justos em nossas ações, generosos em nossas palavras e benevolentes em nossos pensamentos.

Sejamos gentis com todas as dores. Com todas as perdas. Com todas as dificuldades. Com todos os amores. Sejamos educados para lidarmos com os outros, com os problemas deles, com suas dificuldades. Sejamos complacentes com a tragédia e o luto. Sejamos fortes para enfrentarmos barreiras. Para tratarmos de doenças. As físicas, as psíquicas, as da alma. Sejamos honestos com nossas limitações, com as coisas dos outros, com nossas responsabilidades e com o que podemos fazer. Sejamos justos em nossas ações, generosos em nossas palavras e benevolentes em nossos pensamentos.

Estou com muito medo. Além da angústia pelas perdas, o receio da doença, a apreensão pelo desconhecido, a iminente miséria, tenho medo de as pessoas perderem a humanidade, justamente a humanidade, que as fazem humanas.

Tenho a sorte de lidar com pessoas generosas, esforçadas em compreender, otimistas o suficiente para seguirem o percurso e enfrentarem a batalha, esperançosas para enxergarem luz no fim do túnel e compartilharem um pouco esse olhar. Acho que fiz boas escolhas na vida. As pessoas, esses tesouros que são o que mais importam. Escolhi essa gente de bem para caminhar comigo. Gente generosa, que estende mãos, que se coloca no lugar do outro. É o que me mantém sã. Que sustenta a sanidade e a fé nos homens.

Sinto pena verdadeira de quem não compartilha da mesma sorte que eu, que não escolheu suas pessoas com base em critérios e valores bem estabelecidos e afins com sua proposta de vida. Vejo muitas pessoas sambando na tragédia alheia, debochando das mortes, rindo de caixões, fazendo piada do pavor, ignorando os mais pobres, fingindo que nada está acontecendo e que esse problema não é humano. Sinto dó de quem já perdeu completamente a humanidade. De quem se desconectou de sentimentos de amor, de bondade, de empatia. De quem se endureceu a ponto de parecer uma pedra de verdade. Sem alma.

Ando muito triste com nosso cenário caótico. Tenho dificuldade de lidar com estatísticas de dor e sofrimento, por mais protegida que eu esteja. Ou que aparentemente esteja. Lidar com o invisível perigoso é um grande laboratório de vida que mudará nossas perspectivas e tudo o que conhecemos sobre existir até hoje. Não estou só. Sou parte integrante de um todo que está doído. Sou os enfermeiros que arriscam suas vidas e são atacados. Infelizmente, sou parte dessa sociedade com tanta ignorância e maldade. Compadeço-me com o sofrimento alheio e com o meu próprio sofrimento.

Enxergo bem a sociedade em que vivemos, absolutamente desigual. Sinto o vazio de não me sentir bem representada, desamparada, quando não achacada por quem deveria nos defender. Estamos cada vez mais sós nessa batalha e ao mesmo tempo, mais unidos do que nunca. Nós, a humanidade, com “h” maiúsculo, o planeta inteiro. O mínimo que devemos ser é humanos. Sejamos!

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Lives

sexta-feira, 08 de maio de 2020

Nesses tempos difíceis, eis que uma figura nova chegou com o ar da graça e veio com força total: as lives, transmitidas pelas redes sociais. Já tem gente com implicância contra elas. De tantas que são, todo santo dia. Uma, duas, três, 100 lives em um dia dentro da rede de contatos sociais. O isolamento repentino aliado à angústia de viver uma pandemia sem precedentes tem sido um terreno fértil e absolutamente propício a essas formas de interação e transmissão de informações.

Nesses tempos difíceis, eis que uma figura nova chegou com o ar da graça e veio com força total: as lives, transmitidas pelas redes sociais. Já tem gente com implicância contra elas. De tantas que são, todo santo dia. Uma, duas, três, 100 lives em um dia dentro da rede de contatos sociais. O isolamento repentino aliado à angústia de viver uma pandemia sem precedentes tem sido um terreno fértil e absolutamente propício a essas formas de interação e transmissão de informações.

Eu mesma já me rendi aos encantos. Já fiz algumas e assisti a tantas outras. Não houve escapatória. Há muitas coisas acontecendo e a partilha é inerente aos seres humanos do século 21. Já me rendi a toda forma de comunicação remota. Trabalho pelas telas e interajo com centenas de pessoas semanalmente por conta do meu ofício. Já me habituei, inclusive, a falar para uma tela cinza enquanto dezenas de pessoas me veem. É uma questão de costume. E de necessidade. Necessidade jamais vivida e imaginada. A gente aprende. Essa é a parte mais fácil de tudo que estamos vivendo. Não há razão para reclamar.

Devo confessar que a tecnologia tem sido “mocinha e bandida” na minha existência durante a pandemia. Pude participar do almoço de Páscoa virtual com a família, bati papo com meus primos ao redor do mundo, descobri o sexo do novo bebê da família em tempo real, tomei decisões importantes, reuni-me com meus chefes e colegas, com meus clientes e até mesmo com gente que nunca vi na vida, mas com quem troquei informações seletas pelos canais de comunicação.

Por aqui também vivi momento difíceis. Informei-me sobre a tragédia, decorei os sintomas da doença Covid-19 e os traços diferenciadores em relação à gripe comum, resfriado e alergia respiratória. Vi cenas chocantes, acontecimentos vergonhosos na política, estatísticas de doer a alma, números de mortes crescendo. Adoeci, chorei, sufoquei e consumi todo tipo de notícia ruim e triste até que um dia mudei a busca para sobreviver. O oposto de doença é cura? Ok. Vamos tentar focar nela. Esforço tremendo.

Já descobri também formas diferentes de meditar, conheci as funções dos aromas, participei das cerimônias religiosas da minha igreja, a última delas, transmitida ao vivo do Japão. Da janela de casa, por entre as nuvens todas, o esforço para perceber que o sol continua a brilhar.

Incrível o que a tecnologia tem feito conosco. Tem sido nosso elo, nosso canal com o mundo, com os médicos, com os amigos, com a família e com nosso trabalho. Alerta até que hoje é noite de lua cheia. Boa lembrança. Corro para ver. Existe céu e a lua também continua lá. As lives promovidas por artistas têm sido, por vezes, a única forma de entretenimento de tantas pessoas em sofrimento. Podem ser o alento de alguém no hospital. As lives informativas podem ser nossas fontes benéficas diante desse fluxo severo, veloz e alucinante de informações.

Não, não vou implicar com elas que têm sido portais de conexão com a vida real de tanta gente. Aliás, o Dia das Mães está aí, não perco esse encontro virtual com a família por nada. Salve a tecnologia.

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