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Viver é político

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Viver, por si só, é um ato político, de alguma maneira. A forma como se vive expressa, em alguma medida, o lugar que se decide ocupar no mundo. Não me refiro à política e nem aos políticos. Faço alusão às nossas escolhas reais enquanto cidadãos todos os dias. Estamos atravessando um período que consubstancia grande marco da democracia que tem um de seus vértices no processo eleitoral, quando os cidadãos escolhem por meio do voto secreto parte de seus representantes conforme as diretrizes constitucionais.

Viver, por si só, é um ato político, de alguma maneira. A forma como se vive expressa, em alguma medida, o lugar que se decide ocupar no mundo. Não me refiro à política e nem aos políticos. Faço alusão às nossas escolhas reais enquanto cidadãos todos os dias. Estamos atravessando um período que consubstancia grande marco da democracia que tem um de seus vértices no processo eleitoral, quando os cidadãos escolhem por meio do voto secreto parte de seus representantes conforme as diretrizes constitucionais. No próximo domingo, 15,  escolheremos muitos de nossos governantes, chefes do Poder Executivo e componentes do Poder Legislativo em âmbito municipal. De fato, as eleições são um acontecimento extremamente importante para uma sociedade fincada nos preceitos democráticos.

Contudo, não só as eleições municipais decodificam os atos políticos que praticamos nesses tempos. E em todos os outros. De alguma forma, tudo é político. A forma como se vive, repita-se, a rigor, manifesta em profundidade escolhas que dizem bastante sobre nós e nossa sociedade como um todo. Somos protagonistas da estrutura social e nossas ações e omissões podem representar, também, muito do que evoluímos – ou involuímos – enquanto coletividade. A forma como tratamos as pessoas em geral, como nos preocupamos com o meio ambiente, a limpeza do bairro, o respeito às estruturas educacionais, às leis, aos outros, os exemplos aos filhos, a postura no trabalho, dizem muito sobre nós.

A dicotomia entre direita e esquerda como embate ideológico pode configurar uma bipolaridade que às vezes me parece rasa, sobretudo quando olhamos pelo viés do dia a dia, das pequenas coisas, dos impactos reais das vidas das pessoas. Penso que diante das múltiplas formas de existir, dentro do campo do livre arbítrio de cada um, os atos políticos cotidianos podem retratar efeitos reais, volúveis ou duradouros, sentidos pela coletividade. Até mesmo a escala de prioridades das pessoas podem refletir no meio social.

Aquilo que escolhemos fazer no dia a dia pode fazer alguma diferença social, para melhor ou pior, já que tudo começa por um pequeno protótipo. Um pequeno problema que se torna uma grande causa, uma pequena solução que também pode se tornar uma grande causa. Uma boa ideia pode espelhar resultados geniais, da mesma forma que uma má ideia pode gerar prejuízos severos.

Estamos há meses enfrentando um contexto pandêmico sem precedentes. É, de fato, um laboratório de vida que nos impõe uma vulnerabilidade tamanha frente a problemas gigantes. Como estamos passando por esta fase? O que estamos aprendendo, contribuindo? Já parou para pensar como suas ações podem ajudar a salvar vidas, por exemplo? Tem feito bom uso das máscaras por mais desconfortáveis que sejam? Tem respeitado os idosos? Os profissionais da saúde? Tem contribuído com informações baseadas em fontes fidedignas? Tem procurado ajudar os que mais estão precisando? Tem feito o que pode pelos trabalhadores? E pelas empresas que te remuneram? Pelo comerciante local? Pelos mais vulneráveis?  O que tem feito de bom, de útil? Sua honestidade segue ilibada, seu caráter preservado, consegue sentir compaixão e agir dentro de sua esfera de possibilidades? Veja se não é uma escola e tanto de vida. Nossas condutas nesse momento não estão previstas em cartilhas anteriormente estudadas. Vivemos o hoje e queremos todos a sobrevivência digna. E que tudo passe. Como nos ajudamos, creia, também diz muito sobre os seres políticos que somos. Fica a reflexão.

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Flores de luz

sexta-feira, 06 de novembro de 2020

Sejamos flores. Sejamos luz. Aprendamos a ver beleza, ser beleza. Não essa estereotipada, remexida, aparente. Beleza de alma, de sentimentos, de postura diante da vida, das pessoas, do mundo. Quando não soubermos para onde irmos e o que levarmos, lembremos delas. Na dúvida, ofereçamos flores. Levemos flores. Em uma pétala, pode haver o mundo inteiro. O mundo de alguém.

Sejamos flores. Sejamos luz. Aprendamos a ver beleza, ser beleza. Não essa estereotipada, remexida, aparente. Beleza de alma, de sentimentos, de postura diante da vida, das pessoas, do mundo. Quando não soubermos para onde irmos e o que levarmos, lembremos delas. Na dúvida, ofereçamos flores. Levemos flores. Em uma pétala, pode haver o mundo inteiro. O mundo de alguém.

Existindo por aí, interagindo com as pessoas, olhando as multidões, percebendo o cotidiano, não podemos alcançar com nossos olhos o que está por trás dos olhos daquelas pessoas. O mundo delas. Seus problemas, seus sonhos, seus amores, suas dificuldades. É uma imensidão inalcançável.

Mas se tem algo que venho aprendendo, é que de uma maneira geral, as histórias por trás das faces não costumam ser fáceis. Tantas vezes vi belos sorrisos e com alguma conversa e um pouco de sensibilidade percebi o tamanho da dor que as pessoas escondiam por trás daquele generoso e gentil esforço em sorrir. Quantas vezes eu disfarcei momentos difíceis utilizando o subterfúgio mais prático do qual podemos lançar mão quando não desejamos despertar a preocupação do outro – o sorriso?

Felizmente a vida sempre me deu muito mais razões para sorrir do que para chorar. E pela abundância de oportunidades que recebi e recebo diariamente, tento optar por oferecer a melhor versão desse recurso maravilhoso que Deus nos deu no meio do rosto. E assim escolho disfarçar um dia difícil, o cansaço extremo, uma notícia inesperada. Não por não ser transparente, mas por acreditar que o esforço gera luz. Inclusive esse estímulo em tentar sorrir para a vida em qualquer circunstância.

É como um ciclo, o primeiro sorriso atrai o próximo, que puxa o seguinte, que recompensa com a retribuição de alguém, que muda a vibração de tudo e que quando percebemos, já nos tomamos pela energia do sorriso, de quem é grato pela vida e deseja apresentar para o mundo a melhor versão de seu estado de espírito.

E as flores? Então .... convido o leitor para uma experiência nada científica, porém que dá muito certo na prática. Já fiz o teste e é hors concours. É assim: quando alguém estiver triste, enfrentando uma doença, encarando uma fase de luto, passando por muitos problemas, vivenciando preocupações, sentindo-se carente, precisando de afeto e carinho (ou seja, quase todas as pessoas que conhecemos), ofereça uma flor para ela. Pode ser uma única flor. Não precisa ser o jardim inteiro: mas empreguem nela o sentimento do jardim inteiro, do jardim de amor, perdão, compaixão, beleza, união, superação, fraternidade e principalmente, de gratidão. Coloque ali o desejo de que a vida seja tão bela quanto a flor.  A alquimia é perfeita. A flor, obra-prima da arte divina, e o seu sentimento, sua intenção de levar felicidade a alguém.

O resultado dessa magia é uma flor de luz que pode transformar a vida de alguém, a começar pela sua, assim como muitas vezes transforma a minha. Por isso digo e repito, na dúvida, ofereça uma flor com o melhor dos sentimentos. Ela harmoniza lares, aquieta mentes, embeleza vidas, enriquece relações, alegra as pessoas. Tem um poder grandioso. A importância desse gesto pode ter um valor inestimável na vida de alguém, e render belos sorrisos. De dentro para fora. Da alma.

Meu admirado poeta Manoel de Barros certa vez escreveu sobre importâncias, belo texto cujo trecho desejo compartilhar aqui: “Um fotógrafo-artista me disse outra vez: veja que pingo de sol no couro de um lagarto é para nós mais importante do que o sol inteiro no corpo do mar. Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem com barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.

Assim um passarinho que pousa nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que a Cordilheira dos Andes. Que um osso é mais importante para o cachorro do que uma pedra de diamante. E um dente de macaco da era terciária é mais importante para os arqueólogos do que a Torre Eifel. (Veja que só um dente de macaco!) Que uma boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que o Empire State Building.”

Assim, garanto, uma flor de luz pode mudar o mundo de alguém. Nem que seja por alguns instantes...

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Intuição

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Intuição é coisa séria. Eis algo que eu respeito a cada dia mais. Sei que não é algo palpável. De fato, crer no invisível, naquilo que não sabemos explicar e nem mesmo entendemos, não é tarefa fácil. E é isso, se tem uma coisa que não é explicável com precisão é a tal da intuição. Não sei vocês, mas eu resolvi ficar atenta a esse sinalzinho sutil, essa mensagem subliminar que, eu acredito, insiste em me proteger.

Intuição é coisa séria. Eis algo que eu respeito a cada dia mais. Sei que não é algo palpável. De fato, crer no invisível, naquilo que não sabemos explicar e nem mesmo entendemos, não é tarefa fácil. E é isso, se tem uma coisa que não é explicável com precisão é a tal da intuição. Não sei vocês, mas eu resolvi ficar atenta a esse sinalzinho sutil, essa mensagem subliminar que, eu acredito, insiste em me proteger.

Lá em nosso íntimo, em nosso ‘tão tão distante”, talvez chamemos isso a que me refiro de sexto sentido. Aquele lampejo de inspiração, o passarinho que invisível assopra no ouvido, aquele sonho sem pé nem cabeça, o impulso em não atravessar a rua naquele momento, a sensação de que não é pra ser, ou que é pra ser. Essas coisas factíveis embora sem forma física que nos rodeiam e se ficarmos atentos à ela, podemos percebê-las, senti-las.

Intuição foge à lógica. Passa por uma percepção fugaz que nos ajuda a escolher entre direita ou esquerda diante da encruzilhada. Às vezes a classificamos como um medo bobo ou infundado, outras a percebemos como um aperto diferente no peito, ou mesmo um brilho especial no ar. Ela está aí, de alguma maneira, se faz presente. Volta e meia mostra a que veio, sinaliza que não está à passeio, mostra sua voz sem nada dizer.

Eu prefiro andar alinhada à minha. Sei que muitos desconsideram a sua existência, não acreditam em intuição, mas sabe aqueles avisos que as mães dão aos filhos e que passado um tempo percebemos que elas tinham razão? O tempo firme, sol radiante e elas, como se metereologistas fossem, avisam sobre a necessidade do agasalho, da sombrinha e, do nada, parece que uma nuvem carregada paira sobre nossas cabeças quase que para dizerem que elas tinham razão? Então, intuição é tipo isso. Não adianta desconsiderarmos, desacreditarmos, ignorarmos. Ela simplesmente está ali e se acomoda em algum cantinho oferecido por nós. Se cedemos espaço, ela mostra-se mais confortavelmente, sua presença é mais marcante. Se a deixamos num canto, ela pode passar o tempo todo ali, como se de castigo, sem ser notada. Mas ela segue ali.

Nos últimos anos, por via das dúvidas, estou dando mais crédito a essa tal de intuição e venho percebendo que quanto mais acomodada no sofá confortável da sala do meu ser, mais ela aflora e dá o ar de sua graça. Sinto que ela vem protegendo e já estou cheia de contos sobre como ela vem atuando. Acho que nos últimos dias deixei de ser mordida por um cachorro, evitamos um acidente, tomei decisões certas nas horas certas, contentei-me em esperar, pensei duas vezes antes de dizer algumas coisas e até mesmo senti alertas à saúde. Coisas sérias. E ela, essa grande aliada, estava aqui comigo. Resolvi chamar tais lampejos de sensações que por vezes atuam como guias, alertas e percepções de intuição. Mas poderia tê-la nominado por proteção. Espero que ela goste do nome.

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Crescer dói

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Se foram avisados que crescer dói, eu não sei. Mas está aí uma verdade. Dói e por vezes não é pouco. Não custa avisar, quem sabe animam-se em se prepararem.

Se foram avisados que crescer dói, eu não sei. Mas está aí uma verdade. Dói e por vezes não é pouco. Não custa avisar, quem sabe animam-se em se prepararem.

 Ilude-se aquele que pensa que conquistas substanciais são frutos de um nada na imensidão do universo. Pode até ser que muitos logrem êxitos sem tanto esforço. Que virem gente grande sem enfrentar as metamorfoses, as dores e as delícias de cada fase da vida. Que entendem os valores reais das coisas certas para suas vidas da forma mais simples. Pode ser. Mas creio que grandes descobertas da existência sejam regadas de algumas frustrações, renúncias, perdas. Afinal, não podemos supor que aprenderemos tudo de que necessitamos sem mensurarmos dores, sem superação e aprendizado.

Crescer dói e não é pouco. Em muitos sentidos. Mas é plenamente possível que aprendamos a ressignificar tais processos e tê-los como aliados necessários sem os quais passaríamos a vida sem experienciarmos as transformações bem vindas.

Creio que a maioria das conquistas foram precedidas de muito suor e persistência. Conquistas existenciais, mentais, fraternas, profissionais, pessoais, materiais, espirituais e de quaisquer outras ordens. Como se diz, “não existe almoço grátis”, “as coisas não caem do céu”, “não adianta ficar aí, parado.” Verdade. Não mesmo.

 Fato é que não devemos viver de comparações. Nem tampouco centrados naquilo que parece não dar certo. Se estamos aqui, vivos e com saúde para filosofarmos um pouco sobre as mazelas e as maravilhas do existir, já somos privilegiados.

Querendo ou não, há de se ter em mente que os dias cinzas virão. E passarão. O mundo não para se estamos tristes. Dia e noite continuam se revezando no espetáculo da vida. Somos nós que temos e perdemos a capacidade de apreciarmos o show.

Realmente todas as fases da vida em alguma medida fazem jus à essa roupagem de ciclos de que se vestem. Não há como negar. Algumas fases mais parecem lições, há diálogos que parecem aulas, trocas regadas de aprendizados. Conversas em dias cinzas têm seu poder, é verdade. Dia desses falávamos sobre o tempo, sobre cronologia e necessidade de percebermos que as fases, boas ou ruins, passam, e que a maturidade aos poucos nos acalma à medida em que acalenta a afobação de termos nossos problemas resolvidos “para ontem”, como num passe de mágica que não existe.

Na verdade, seria um tanto interessante assimilarmos que até mesmo a paisagem lá fora é relativa ao nosso sentir, tem a ver com a nossa forma de enxergar o dia, ainda que o tempo esteja chuvoso ou ensolarado para todos e os relógios avancem na mesma cadência para todo mundo. E nessa toada, fica uma sugestão: observe um bambuzal. Fixe seu olhar em um bambu e perceba que seu crescimento um tanto interessante, retilíneo, alto e belo só é possível pelos nós que compõem sua trajetória para o alto. Não há bambu sem seus nós. E sim também somos nós! Avante.

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Missão Docente

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

A prosa hoje é dedicada aos professores que tiveram o seu dia celebrado nesta quinta-feira, 15. Rendo minhas singelas palavras sobre o magistério e a razão precípua da missão de lecionar: os alunos. Quero falar sobre eles, sobre nós, sobre essa relação que transcende as mais variadas designações. Enquanto professora, asseguro: a missão não é fácil. Não mesmo.

A prosa hoje é dedicada aos professores que tiveram o seu dia celebrado nesta quinta-feira, 15. Rendo minhas singelas palavras sobre o magistério e a razão precípua da missão de lecionar: os alunos. Quero falar sobre eles, sobre nós, sobre essa relação que transcende as mais variadas designações. Enquanto professora, asseguro: a missão não é fácil. Não mesmo. Em uma sociedade absolutamente complexa e plural, escolhemos dedicar uma vida aos estudos e às relações interpessoais, com o objetivo claro de primar pela educação e contribuir para a construção de pontes invisíveis e bem fincadas nas vidas de outras pessoas. Os professores têm esse privilégio. E para tanto, trabalham com esmero e dedicação infinitamente maiores do que possa parecer.

Não raras vezes, ouço a pergunta: “vale a pena?”. E aproveito a oportunidade para dizer a todos com todas as letras garrafais: s-i-m. Participar das vidas de pessoas contribuindo para sua formação é uma dádiva. Só quem sabe o valor do olhar de um aluno para nós transpondo toda a esperança do mundo, sabe do que estou falando. Quem recebe mensagens de carinho, um abraço afetuoso num dia ruim, quem vibra com a realização do outro, com o crescimento pessoal e profissional dele, sabe do que estou falando.

Felizes aqueles que reconhecem nessa relação entre professor e aluno o tesouro infindável de partilha, de conhecimento, de experiências preciosas. E amor. Porque sala de aula é amor. Não de forma lúdica ou ilusória. Amor real: com dores, desafios, superação, paciência, vontade, abraços, choro, compreensão, humildade, perdão, acertos, erros, empenho etc etc etc.

Certa vez, aqui mesmo, escrevi que o dia dos professores merece uma digressão. E peço licença para mais uma vez expressá-la. O professor ou a professora, talvez seja nosso verdadeiro primeiro contato com o mundo humano (e adulto) para além da família, ainda na infância. Quando entramos na escola, é esse profissional importantíssimo quem nos conduz para um novo universo, para novas etapas de aprendizagem e interação. Lembro-me de como essa figura me importou desde a primeira vez. Muito valor sendo agregado. Sentia como se tivesse naquela pessoa, alguém em quem eu poderia confiar. A quem orgulhosa eu mostrava minhas primeiras sílabas escritas e quem eu adoraria que hoje lesse meus textos. Alguém que me ensinou muito sobre as letras, a convivência e os seres humanos.

Guardo até hoje nomes, sobrenomes, jeitos, trejeitos, vozes e, principalmente, ensinamentos, de muitos dos professores que tive ao longo da vida. Cravaram seus rostos em minha história de maneira indelével. E alguns desses mestres, a quem guardo no coração com apreço especial, possuíam (possuem) uma característica, além da brilhante formação e do notável conhecimento do conteúdo: o amor! De novo, ele – sempre! – o amor. Nítido amor por lecionar; tão límpido quanto o amor pelos alunos. De importantes para minha formação, se tornaram, então, inesquecíveis.

Hoje, muitos anos depois, felizmente continuo com a memória boa e coleciono memórias, afetos, nomes, sobrenomes, jeitos, trejeitos, vozes e ensinamentos dos meus alunos. E sinto na pele o nítido amor por lecionar. E por eles. Que incrível a vida. Que maravilhoso o poder do ensino.

Em tempos sombrios, felizmente continuo crendo que a educação é o caminho. Sou defensora fervorosa de que o estudo fomenta a construção de um patrimônio incalculável e intransferível. Aquele nosso tesouro que jamais se perde, que não pode ser subtraído de nós. Acredito que a formação de profissionais alinhados com sentimentos nobres, conhecedores de seus deveres e defensores de direitos e prerrogativas de todos os seres, possa transformar o mundo. Para melhor. Cada vez mais. Sem limites. Tenho esperança.

Nesse contexto, ser professor é uma grande e difícil missão. Muito difícil. Tem que amar para exercer.  Por felicidade, cruzamos com alunos tão incríveis que a tarefa fica mais leve e prazerosa. Contribuir positivamente para o crescimento de alguém é algo sublime. Por isso, dia e noite desejo manifestar gratidão aos alunos, pois sem esse grupo tão especial de gente do bem, também não cresceríamos como pessoas que somos antes de sermos profissionais.

A vida me fez professora. De gente grande. De gente linda, de gente cheia de sonhos. E dificuldades. E peculiaridades muitas vezes difíceis de lidar. E força de vontade. Sinto vontade de dizer que tudo vai dar certo para eles. Sinto que vai. É o que desejo para cada um deles. É preciso incentivá-los a manterem-se no caminho do bem. Custe o que custar. E serem honestos. Serem esforçados. Acreditarem em seu potencial. E trabalharem duro. Estudarem muito. Sentindo-se muito gratos pela oportunidade de evoluírem.

É preciso ter paixão por tudo isso. Não vislumbro outro caminho. E o retorno é seguro. Amar o ofício e exercê-lo com respeito, dedicação e humildade garantem o retorno que muitos professores sonham: o aprendizado, a evolução e o amor recíproco dos alunos. É o sentido de tudo.

Os grandes exemplos de devoção à profissão que vejo em muitos professores, uniram-se à uma vontade pessoal de contribuir para fazer pessoas felizes onde quer que eu esteja. Acredito plenamente nessa fórmula. Empatia, carinho, cumplicidade são combustíveis para o crescimento coletivo e individual, para a tolerância, o respeito e a dignidade que vai muito além dos livros.

Como bem disse Rubem Alves, os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor”. É isso. Sala de aula é sobre amor. Feliz dia dos professores!

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Sobre olhar para nós

sexta-feira, 09 de outubro de 2020

O olhar sobre a vida do outro em muitos momentos parece aduzir uma percepção ilusória da realidade. A grama do vizinho é realmente mais verde que a nossa? Por que tanta gente acha que os sonhos realizados pelo outro são mais fáceis de serem alcançados? Que na casa dos outros não tem bagunça, que o casal lindo que vemos pelas fotos das redes sociais não tem contas a pagar? Que a doença do outro cura mais facilmente, que o trabalho dele rende mais ou mesmo que é fácil ser ele? Difícil mesmo é ser você, não é mesmo?  De onde o ser humano tira a ideia de que o melhor está lá e não aqui ?

O olhar sobre a vida do outro em muitos momentos parece aduzir uma percepção ilusória da realidade. A grama do vizinho é realmente mais verde que a nossa? Por que tanta gente acha que os sonhos realizados pelo outro são mais fáceis de serem alcançados? Que na casa dos outros não tem bagunça, que o casal lindo que vemos pelas fotos das redes sociais não tem contas a pagar? Que a doença do outro cura mais facilmente, que o trabalho dele rende mais ou mesmo que é fácil ser ele? Difícil mesmo é ser você, não é mesmo?  De onde o ser humano tira a ideia de que o melhor está lá e não aqui ?

Acho que falta gratidão no mundo. Percebo uma zona cinzenta em que um contingente incontável de seres habitam. O dia de hoje está aquém do que deveria estar, e ao mesmo tempo, quando a coisa piora, se percebe que aquele dia estava na verdade muito bom.

Uma comparação constante e massiva com o colega do lado. Uma observação para o que acontece do lado de fora que cega as pessoas para o lado de dentro de seus lares e seus corações. Dá medo. Eu não quero sentir isso e desejo fortemente que não sintam isso em relação a mim.

Muita gente já não se contenta mais em ter saúde e paz. Faltam as fotos maravilhosas de viagens, o príncipe encantado, o melhor emprego, a casa mais frondosa. A vitrine das redes sociais, a meu ver, tem sido um portal para essa ilusão de que a vida do outro é mais feliz que a nossa. Prosperar é lindo. Amar e ser amado é uma dádiva. A realização profissional é uma alegria. Viajar é uma maravilha. O esquisito é o grau de comparação muitas vezes doentio que mingua algumas pessoas. 

Falta gratidão. Só pode ser. A partir do momento em que uma pessoa agradece por tudo o que é, pelo que faz e pelo que possui, a coisa muda de figura. Na verdade, a grama do outro passa a não ter tanta importância. Quando somos gratos pelas oportunidades que temos, pela vida que nos é dada, pela proteção diária, pelas pessoas que nos cercam, conseguimos olhar para o outro com admiração e alegria por suas conquistas. Não com inveja. Não com cobiça.

Se é para olharmos para o outro lado do muro, que seja então para observarmos o tanto de esforço que aquele "vizinho" emprega em prol de suas conquistas. E então, nos esforçarmos também. Empenho precede o resultado. Grandes conquistas decorrem de emprego de energia, preparação, renúncias, investimento de tempo etc etc etc. Salvo se a grama do vizinho for sintética, ela requer plantio e cuidados. E ainda que seja sintética, requer possibilidade de compra, que demanda trabalho, dinheiro, prioridade e por aí vai. Não é de graça. Não é à toa. Não somos um amontoado de seres aleatórios em que coisas boas acontecem arbitrariamente para os outros e as ruins, para mim.   

Somos resultado do que fazemos para mudar, para melhorar, para aprimorar. São mesmo dias de luta e dias de glórias. É a vida. Se o vizinho tem um relacionamento saudável e feliz, o que ele fez por merecer? Felicidade no amor não é para qualquer um. Tem que merecer, deve se dedicar, jogar energia boa para o universo, respeitar as pessoas, ser sincero, acolher o lado bom das pessoas. Não dá para ser um caçador de defeitos, andar com uma lupa para o negativo e encontrar pessoas maravilhosas com quem conviver. Somos todos imperfeitos. Todos. A grama alheia também pode ser. Não se pode julgar pela aparência.

Em tempos de terreno ermo, barreado, cheio de lama, a gente desanima. Mas aí é que temos que buscar aquela força que todos temos e poucos sabemos. A força de dentro. A mola da possibilidade de superação e realização.

Falar é fácil, exercer essa ideia é mais difícil. Eu sei. Mas não subestimo nossa capacidade de decidir e perseguir o objetivo. O que eu quero? Ser grata em qualquer circunstância. Amar meu próprio jardim, mesmo quando as ervas daninhas insistirem em castigá-lo. E desejar que o jardim do outro tão garboso quanto eu quero que seja o meu.

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Reconstrução

sexta-feira, 02 de outubro de 2020

Muito já ouvi falar que para construirmos uma obra nova devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal, promover as adaptações que se fizerem necessárias. Na verdade, essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.

Muito já ouvi falar que para construirmos uma obra nova devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal, promover as adaptações que se fizerem necessárias. Na verdade, essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.

Passamos muito tempo de nossas vidas construindo ideias sobre os outros. E o tanto que nos enganamos é algo grandioso. Creio que não somos tão bem-sucedidos nessas obras. Inevitavelmente, nos equivocamos. Erramos o cálculo. Confundimos a perspectiva. Mudamos o projeto.

Seres humanos não são esse tipo de projeto que elaboramos com técnica. Somos, na verdade, uma obra sempre inacabada e complexa. Imperfeita por natureza. Em evolução (ou involução). O projeto é de vida e não há nada mais pessoal do que isso. O outro, por mais perito no assunto que seja, não pode precisar com exatidão o que acontece no interior da obra, nem apresentar soluções lapidares.

Esse terreno – que somos nós – não está descoberto a ponto de desvendarmos seus desníveis pelo olhar. Tem até areia movediça por baixo do mato verde. Tem de tudo, como se diz.

Investimos preciosos minutos de vida construindo uma imagem do outro. Supondo coisas. Julgando e prejulgando pelo pouco que conhecemos a seu respeito. Por isso o culto reverenciado pela imagem. Nem sempre a real. Quase sempre a projetada. A que pode ser vista. Isso é uma grande tolice, pois ao construirmos pessoas fictícias em nosso imaginário, empenharemos o dobro de energia para desconstrui-las, pois comumente erramos as análises. Os outros não são o que pensamos deles. Os outros são o que são.

Seria interessante se aceitássemos que o jogo começa com as peças do quebra-cabeças desmontadas, para então, com o tempo pudéssemos aprofundar e conhecer a imagem real que será formada. Daria menos trabalho e as surpresas talvez fossem mais prazerosas. Ou mais reais.

Mania estranha essa de querermos jogar um jogo ganho. Imagens preestabelecidas. Vencedores determinados. E no final das contas, a frustração da decepção. O girassol que eu estava montando no meu quebra-cabeças não passa de uma forma geométrica e sem sentido. Uma bola amarela. E vice e versa. Quantos girassóis deixamos de descobrir no meio do jogo justamente por superficialmente só enxergarmos a bola amarela. Sem essência. Forma e não flor.

Desconstruir é preciso. E se tivermos ânimo, reconstruir. Não sei se me fiz entender. Mas também não é preciso. Referenciando mais uma vez Clarice Lispector: “Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”. Não me preocupo, pois.

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Do pó à luz

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Tudo estava empoeirado. Parecia não existir ninguém ali, aliás, parecia que ninguém trabalhava, conversava, tomava uma xícara de café ou lia um livro naquele ambiente. Era até difícil imaginar o tanto de decisões que poderiam ter sido tomadas naquela sala de reuniões ou a troca de olhares entre os anfitriões. Nas caixas havia sinais de que alguém passara por ali; havia folhas brancas, novas, entre as amareladas e gastas pelo tempo. Nas prateleiras, tesouros em forma de livros novos dividiam espaço com as “relíquias” do século passado.

Tudo estava empoeirado. Parecia não existir ninguém ali, aliás, parecia que ninguém trabalhava, conversava, tomava uma xícara de café ou lia um livro naquele ambiente. Era até difícil imaginar o tanto de decisões que poderiam ter sido tomadas naquela sala de reuniões ou a troca de olhares entre os anfitriões. Nas caixas havia sinais de que alguém passara por ali; havia folhas brancas, novas, entre as amareladas e gastas pelo tempo. Nas prateleiras, tesouros em forma de livros novos dividiam espaço com as “relíquias” do século passado. Sim, o século passado estava logo ali – deu-se conta de que ele próprio já era uma antiguidade de outra época.

Tomado por uma curiosidade de entender aquele local, prosseguiu, afinal de contas, passaria lá todos os seus dias, quando não algumas noites. Avistou um computador que chamaria de seu muito em breve. Imaginou se teria internet, acesso aos programas dos quais precisava para trabalhar e lembrou-se da necessidade de abrir sua caixa de e-mail. Aproximou-se, viu uma luz acesa no equipamento abaixo e respirou aliviado por não ser o único por ali.

Percebeu, então, a escuridão a que estava submerso. Sentiu a energia presa, uma angústia no peito, a sensação de que aquilo era estranho, feio, sem vida. Pôs-se a refletir em como mudar, recomeçar, dar novo sentido e reescrever aquela história. Sabia que o trabalho seria grandioso, mas não havia como fugir, vez que aceitara a missão e era homem de palavra. E mais, queria realmente fazer da lagarta a borboleta e ser o promotor daquela metamorfose antinatural.

Luz! Era isso. Queria que a luz entrasse e fizesse morada por entre aquelas prateleiras, passando pelas janelas que percebeu serem bem grandes e se instalando por ali como o dono de tudo. Que simples. Correu para o interruptor e acendeu as luzes, algo que tragado pela energia sombria do local esquecera-se completamente de fazer. Ufa, melhorou. Abriu as janelas, deixou o vento circular e recebeu da natureza uma brisa especial. Providenciou uma limpeza de tudo. Contou com ajuda, mas arregaçou as mangas e propôs-se a promovê-la. Foi um processo lindo.

Enquanto limpava tudo aquilo, percebeu que purificava ao mesmo tempo a sua própria alma. Colocou flores por todos os cantos, fez um café tão caprichado que seu cheiro espalhou-se por tudo. Os livros em ordem. Poltronas prontas a convidar o próximo leitor. O chão com o brilho que merecia. Viu beleza naquele lugar. Sentiu desejo de ali ficar, motivou-se a trabalhar, quis receber pessoas, recomeçar. Sentiu que a transformação se deu também em seu interior. Recomeçaria em outro nível, com outra energia e daria seu melhor com menos esforço e mais alegria. Pronto. A luz entrou.

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Flores de luz

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Ganhei um cristal energético de presente. Alinhei-o aos demais e impregnei o objeto de sentimento e significado. E como sempre, coloquei-me a refletir sobre a pedra e sua analogia com a vida em si. Lapidar pedra bruta é uma arte. Tanto a bruta quando a lapidada possuem sua beleza e são únicas, especiais. Assim como nós. Contudo, as pedras de verdade para conquistarem a forma desejada, sofrem muitas vezes a interferência do homem, sem a qual, permaneceriam como são simplesmente ou se contentariam com as mudanças contínuas provocadas pelo tempo e os elementos da natureza.

Ganhei um cristal energético de presente. Alinhei-o aos demais e impregnei o objeto de sentimento e significado. E como sempre, coloquei-me a refletir sobre a pedra e sua analogia com a vida em si. Lapidar pedra bruta é uma arte. Tanto a bruta quando a lapidada possuem sua beleza e são únicas, especiais. Assim como nós. Contudo, as pedras de verdade para conquistarem a forma desejada, sofrem muitas vezes a interferência do homem, sem a qual, permaneceriam como são simplesmente ou se contentariam com as mudanças contínuas provocadas pelo tempo e os elementos da natureza. Não poderia dizer qual a mais bela, posto que cada uma tem sua beleza, seu sentido e a partir do momento que vira fonte de energia para alguém, ganha, de alguma maneira, uma missão nova.

Conosco, as mudanças acontecem também. Nascemos feito pedra bruta e temos uma existência para lapidarmos seu brilho ou o deteriorarmos. O lapidar requer o estopim do livre arbítrio. A vontade. O querer. E isso tem uma força muito grande. De dentro para fora. Processo individual. Ninguém é obrigado a querer mudar sua versão original - mas será que de fato temos essa escolha? A lapidação seria uma forma de evolução? Involução?

Essas provocações, por mais inúteis que possam parecer, podem cumprir sua missão, seja no campo filosófico, social, mental ou qualquer outro. A mim, remonta à resiliência. Quanto mais atenta eu fico, mais admiro os seres resilientes. Essa capacidade de adaptação, superação, contentamento conquistam uma profunda admiração.

A habilidade que uma pessoa tem de adaptar-se às mudanças, conseguir retornar ao estado natural, contentar-se com a necessidade de evolução me impressionam. Creio que a resiliência seria a força de sustentação dessa transformação lapidar do ser humano. Somada a tantos outros fatores, é claro. Mas de uma forma ou de outra, ando percebendo que as pessoas que dominam essa capacidade agregam invariavelmente tantas outras habilidades que deveriam florescer coletivamente.

Que missão interessante foi impregnada à pedra com a qual fui presenteada. Disseram-me: “é a pedra do amor e da paz, que possibilita a cura interior, a purificação do corpo e do lar.” Que super presente. Que intenção maravilhosa. Quem dera a cada lembrança que damos e recebemos impregnássemos com uma energia dessas. Eu acredito, de verdade. E por isso presenteio com flores. Flores de luz! Eis que é chegada a primavera, e olha que incrível, flores de luz para todos nós. Em tempos sombrios, que elas sejam a esperança por dias melhores. E que sua energia alcance e transforme todos os lares.

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Boas notícias?

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Não, infelizmente não trago as boas novas que almejo. Na verdade é uma pergunta. O que temos de bom para contar à nossa sociedade no dia de hoje? Bem, para os próximos anos, meses, dias, horas, minutos, segundos, desejo boas notícias. De todos os lados. Que seu telefone toque para que alguém lhe conceda uma boa nova. Que as capas de jornais e revistas ostentem novidades que agreguem, façam crescer e te arranque sorrisos. Que aquela velha expectativa por algum resultado, ceda espaço para um desfecho positivo.

Não, infelizmente não trago as boas novas que almejo. Na verdade é uma pergunta. O que temos de bom para contar à nossa sociedade no dia de hoje? Bem, para os próximos anos, meses, dias, horas, minutos, segundos, desejo boas notícias. De todos os lados. Que seu telefone toque para que alguém lhe conceda uma boa nova. Que as capas de jornais e revistas ostentem novidades que agreguem, façam crescer e te arranque sorrisos. Que aquela velha expectativa por algum resultado, ceda espaço para um desfecho positivo. E sim, que venham as vacinas, os tratamentos, a cura e com eles o reencontros, os abraços, o calor humano nosso de cada dia.

Queremos chuvas de notícias boas, de estatísticas que correspondam com a realidade e que a verdade dos fatos seja cada vez melhor. Que nos deparemos com gráficos que denotem queda dos índices de violência, da fome, do desemprego. E que essas informações sejam o real reflexo das vidas das pessoas.

Desejo que não nos acostumemos com os dados sobre mortes por Covid, que jamais nos esqueçamos que os números não são números, e sim pessoas, famílias, dores. Que não banalizemos os fatos de termos tanta gente morrendo, tanta gente sem emprego, tanta gente sem perspectiva alguma. Que não percamos o discernimento, a empatia e a capacidade de lutar com ética, honestidade e união por dias melhores.

Seria ótimo precisarmos cada vez menos de algum canal para fugirmos de uma realidade que nos desconecte com o que está acontecendo, que não cheguemos aos limites do que é suportável e que cá onde estamos possamos nos deparar com a divulgação de bons e construtivos feitos. Menos bandalheira. Sem roubalheira. Mais oportunidades. Mais arte. Melhor acesso às estruturas do serviço de saúde, viagens mais tranquilas pelas estradas, mais paz e liberdade verdadeira no ir e vir.

Seria ótimo amanhecermos com notícias boas sobre a vacina, com projetos construtivos saindo do papel, com estatísticas de cura, de inclusão, de acesso ao básico do básico para que a dignidade humana seja preservada. Como deve ser. Estamos fartos de corrupção, de desemprego, de empresas sobrecarregadas sobrecarregando seus trabalhadores, esse ciclo vicioso em que todos perdem.

Cansamos das trágicas notícias de que pessoas são baleadas quando erram o caminho; que os funcionários dos hospitais não recebem salários; que pessoas morrem nas filas de espera por atendimento médico; que os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos nessa realidade de desigualdade social abissal; que as verbas para a educação não chegam ao seu destino; que as cidades não estão ainda preparadas para receber chuvas; que o número de desempregados é alarmante; que os bancos nunca lucraram tanto e as famílias estão cada vez mais endividadas; que as prerrogativas dos cidadãos estão sendo mitigadas pelos próprios legisladores.

 Adoraria que você – e eu – recebêssemos mais notícias sobre cura, inclusão, emprego, amor, tolerância religiosa, liberdade, compaixão, respeito e arte. Adoraria, aliás, que a arte estampasse mais os noticiários do que a corrupção, a violência e o desemprego. Não por ilusão ou por cerceamento da liberdade de informação. Jamais. Mas porque finalmente fomentaríamos a esperança, a elevação do espírito por meio do belo, o lazer e a fraternidade por caminhos mais prazerosos e menos tortuosos. Porque de fato, precisaríamos falar menos de dados e fatos negativos justamente porque aconteceriam em menor escala. Seria a realização de um sonho coletivo não termos notícias sobre vítimas de Covid que morreram sem assistência médica para transmitir a ninguém. Seria, sim, a libertação.

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