Blog de paulafarsoun_25873

Metáforas

sexta-feira, 05 de março de 2021

Disseram-me que prazos são uma "coisa chata". Que melhor seria viver sem tê-los, sem cumpri-los, sem que sequer existissem. De certo, concordei. Liberdade, pensei. Fazer o que quiser, da forma como pretender, no momento que entender adequado. Mas em sequência, retruquei: teríamos maturidade e responsabilidade suficientes para convivermos em uma sociedade moderna dessa maneira? Prazos perturbam ao mesmo passo que nos lembram dos limites, das regras, das tarefas que devemos desempenhar. Compromisso. Prazo tem a ver com isso.

Disseram-me que prazos são uma "coisa chata". Que melhor seria viver sem tê-los, sem cumpri-los, sem que sequer existissem. De certo, concordei. Liberdade, pensei. Fazer o que quiser, da forma como pretender, no momento que entender adequado. Mas em sequência, retruquei: teríamos maturidade e responsabilidade suficientes para convivermos em uma sociedade moderna dessa maneira? Prazos perturbam ao mesmo passo que nos lembram dos limites, das regras, das tarefas que devemos desempenhar. Compromisso. Prazo tem a ver com isso. Conviver com a ideia de que o tempo passa e que não podemos procrastinar. E que se o fizermos, arcaremos com as devidas consequências. Cumprir prazos pode ser por vezes desagradável, mas não desnecessário.

Esse diálogo trouxe a lembrança de uma explicação interessante que certa vez ouvi de um professor em uma aula de geopolítica, correlacionando o desenvolvimento econômico de um país com o seu clima, oportunidade que indagou: em um país tropical como o Brasil, alguém que more em frente à praia tende a preferir passar seus dias de folga estudando filosofia? Lendo Machado de Assis? E a resposta foi: os fortes escolherão os livros. E o contra-argumento imediato de um colega foi: e os felizes optarão por viver – como se dissesse que vivem aqueles que degustam do que a generosa natureza tem a oferecer.

Esse pequeno espectro por si só originaria uma série de discussões filosóficas e existenciais. Por que só os "fortes" gostariam de estudar? Qual a definição de força? Por que viver significaria ir para à praia? O que é felicidade?  E o que isso tem a ver com o clima de onde vivemos? E qual a correlação de tudo isso com os prazos a cumprir, a procrastinação e o tempo que não cessa?

Viver não deixa de ser uma habilidade de conviver com muitos pontos de interrogação sem respostas para todas as perguntas. Ainda assim, vale viver a buscar caminhos para encontrá-las. Mas não tem respostas prontas, certo e errado. Acho que vou parar por aqui. Não porque eu não tenho o gabarito dessas questões. Não porque eu realmente seja o tipo de pessoa que verdadeiramente gosta de prazos, da adrenalina da agenda cheia e da satisfação do dever cumprido. Não por isso. Não porque a ponta do novelo de lã se perdeu no emaranhado dos pensamentos. Não porque o comentário de hoje cedo a respeito dessas questões que envolvem os “prazos para tudo na vida” tenha me feito imaginar um cidadão em frente à praia de Ipanema em um sábado de folga ensolarado lendo Nietzche. Não porque percebo que me transformei em uma máquina de metáforas sobre a vida. E que está confuso.

Na verdade, enquanto divago sobre isso, o fio de lã continua completamente perdido no novelo arrevesado e corre contra mim um relógio que não para e prazos que não esperam.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Cancelamento

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Eu tenho uma proposta a fazer. Não serei a primeira e muito menos a última pessoa a fazê-la. É tecnicamente simples, porém de aplicação rara. O treinamento é o seguinte: ponha-se no lugar do outro. Esse é o primeiro passo. Em sequência, reflita: eu gostaria que fizessem comigo o que eu faço com ele ?

Eu tenho uma proposta a fazer. Não serei a primeira e muito menos a última pessoa a fazê-la. É tecnicamente simples, porém de aplicação rara. O treinamento é o seguinte: ponha-se no lugar do outro. Esse é o primeiro passo. Em sequência, reflita: eu gostaria que fizessem comigo o que eu faço com ele ?

Parece bobo. E é. Mas não é. Uma antítese caprichada. Deveria ser algo corriqueiro, simplório. No entanto, quase não vemos mais esse tipo de pensamento por aí. Basta observarmos quantas pessoas são vítimas do tal “cancelamento” diariamente no país. É algo inconcebível. Nossa sociedade carece tanto de empatia que convivemos com pessoas que são capazes de empregar um real esforço e alguma energia em prejudicar a vida alheia, em achincalhar um terceiro, agredir de forma intencional, repetitiva, discriminar, ferir, prejudicar alguém nesse nível e sem razão alguma. É realmente difícil entender que o “bicho homem” continue sendo capaz disso até hoje.

Tudo é tão claro, somos suficientemente munidos de informações e bom senso para termos o discernimento de que a prática do bullying, do cancelamento, da rejeição de pessoas, pode gerar consequências inimagináveis, pode macular as profundezas da alma de alguém, marcar negativamente sua existência, provocar dor à família, quando não resulta em conflito ou tragédia. Sabemos de tudo isso. Sobra noção dessa realidade. Creio que as pessoas estão plenamente cientes do mal que fazem às outras. Acho que o que falta é amor.

Alguém que faz bullying, que aponta dedos, que exclui o outro sem dó e empatia certamente é alguém que não quero que componha o rol seleto do meu coração. Não quero ter como amigo. Dispenso sair para um café. Prefiro optar partilhar essa vida única com aqueles que optam por emanar compaixão, que disparam coisas boas por aí, que se unem às minorias, que defendem essas vítimas cotidianas da irresponsabilidade alheia. Gente que “joga” com o amor. Que não desperdiça oportunidade de fazer pessoas felizes. Que estende as mãos. Que acolhe com um abraço. Que se esforça dia após dia para ser alguém melhor, que saiba ouvir mais, que procure ser mais paciente. Que partilhe coisas boas ao invés de juntá-las e acumulá-las em um mundo fechado e restrito. Gente que batalhe contra o próprio egoísmo. Gente que prefira dizer coisas boas. Ser do bem. Que não maltrata, não isola, não se omite, não ofende. Que realmente não carrega no coração a intenção de fazer mal a alguém.

Não é sobre bullying. Sobre cancelamento de seres humanos em si. É sobre amor no coração, amor pelo próximo, amor e compaixão, amor e empatia, amor e respeito. Que eu seja sempre a mão estendida para aqueles que sofrem e jamais a que lança maldades ao vento. Que eu consiga ser essa gente do bem que espero ter ao meu lado por toda vida.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Caminhos

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Ele resolveu investir em si mesmo. Pensou sobre como começar. Resolveu, então, traçar o ponto de partida a começar por suas reflexões. Quis pensar na estratégia. Tentou entender-se. Inevitável. Autoconhecer-se antes de tudo. Como se diz, para quem sequer sabe aonde chegar, qualquer lugar pode ser o destino. Ele queria caminhos. Mergulhou, então, no universo quase desconhecido de saber mais sobre o que deveria saber. Atentou-se em buscar o que queria fazer. Esbarrou no desconhecimento sobre quem ele era. Enganou-se por subestimar a profundidade de seus anseios.

Ele resolveu investir em si mesmo. Pensou sobre como começar. Resolveu, então, traçar o ponto de partida a começar por suas reflexões. Quis pensar na estratégia. Tentou entender-se. Inevitável. Autoconhecer-se antes de tudo. Como se diz, para quem sequer sabe aonde chegar, qualquer lugar pode ser o destino. Ele queria caminhos. Mergulhou, então, no universo quase desconhecido de saber mais sobre o que deveria saber. Atentou-se em buscar o que queria fazer. Esbarrou no desconhecimento sobre quem ele era. Enganou-se por subestimar a profundidade de seus anseios.

Certo estava de prosseguir. Por instante sentiu-se em um beco sem saída, percurso sem volta. Mas decidiu se conhecer melhor, afinal, seria ele próprio o destinatário de todo o investimento projetado, não poderia apostar todas as fichas no desconhecido. Não queria ser a “zebra” da própria vida. Estava disposto a afundar, se preciso fosse. Resistiria de toda forma. Estava esperançoso por descobrir as asas imaginárias que o possibilitassem voar. Já amava o voo (tanto quanto a metáfora).

Nesse processo, como investidor, percebeu que seus lucros seriam maiores se cuidasse muito bem do seu principal patrimônio, a que apelidou de templo. Referia-se à sua própria saúde. Ao seu corpo físico, mental, espiritual. Concluiu que a mola mestra da máquina, sua mente, estava mal da engrenagem. Enferrujada, em mal estado de funcionamento. Seria ela o início do processo. Começou a aplicar em seus cuidados. O retorno foi rápido. Estava certo de seu propósito e prosseguiu. O equilíbrio pretendido passava pela reforma interior e exterior. Mãos à obra. Logo percebeu que deveria concentrar em si os esforços da reforma, pois só ele se empenharia no nível desejado e conhecia bem o projeto.

Feliz com o resultado, templo em equilíbrio, resolveu transmutar seu olhar sobre o mundo e sobre o outro. Fomentou práticas altruístas e quanto mais útil ao bem do próximo se tornava, mais se deparava com uma sensação até então inédita, que começou a desconfiar que fosse a tal felicidade. Ao olhar-se no espelho, o semblante ranzinza cedia espaço para um sorriso leve que despertava até uma vontade estranha de continuar sorrindo.

Decidiu incrementar suas habilidades. Investir em conhecimento, aprimorar suas habilidades mais técnicas, ler bons livros, priorizar contatos com pessoas a quem admirava. Foi certeiro. O retorno veio à galope. E quanto mais cuidava do seu templo e desenvolvia suas habilidades, mais satisfeito estava por ter feito um bom negócio.  Mudou até seu conceito de riqueza. Sentiu-se detentor de um super poder, voltou a acreditar em si, enxergou seu potencial e percebeu-se habitante de um belo templo, cujas energias sentia-se de longe. Renasceu. Foi o melhor investimento de sua vida.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Diz o céu

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

“ – Moça, que céu é esse?” Ouço, paro e, por dois segundos, penso se ela falou comigo. Ao perceber que sim, fico sem resposta. O que tem o céu? Noto que havia me esquecido de olhar para lá. Não poderia descrevê-lo naquele momento. Não saberia fazê-lo. Que descuido o meu. Logo eu que venho tentando centrar no momento presente. Concentrar. Degustar cada oportunidade de apreciar a natureza. Isso, a natureza. O céu e tudo o que tem nele. Eu deveria tê-lo admirado.

“ – Moça, que céu é esse?” Ouço, paro e, por dois segundos, penso se ela falou comigo. Ao perceber que sim, fico sem resposta. O que tem o céu? Noto que havia me esquecido de olhar para lá. Não poderia descrevê-lo naquele momento. Não saberia fazê-lo. Que descuido o meu. Logo eu que venho tentando centrar no momento presente. Concentrar. Degustar cada oportunidade de apreciar a natureza. Isso, a natureza. O céu e tudo o que tem nele. Eu deveria tê-lo admirado.

Logo eu, não saberia quais as cores do céu! Daquele céu. Parei, olhei. O que tinha de diferente lá em cima? Até agora não sei. O céu estava cinza. Com cara de chuva. Se chovesse, eu seria pega desprevenida. Novamente: que descuido o meu. O dia clareou e a noite estava prestes a chegar e eu sequer percebi, nesse interregno de tempo do dia inteiro, se o sol havia aparecido para desejar um lindo dia antes de ser encoberto pelas nuvens pesadas.

Talvez a chuva naquela hora fosse uma boa providência para lavar a alma. Mas nem isso eu podia. A pressa é demais. Rotina que segue. Dor de cabeça dando as caras. Como aos olhos dos atentos, nenhum sinal do propósito perseguido passa despercebido, pude aproveitar a noite extasiada com a presença da frondosa lua cheia. Foi ontem. Foi lindo. Salvou o meu dia.

Amanheceu. Que belo dia. Recomeçou o ciclo. A vida acontece agora. Nova oportunidade. Dessa vez o “bom dia” foi dado pela janela, para frente e para cima. Sem telas. Sem mensagens. Sem cores artificiais. Eram seis da manhã. O céu já dava os sinais. Dia lindo. A vibração é outra. Energia em alta. A xícara de café sobre a bancada da varanda e os olhos focados em tudo o que era verde. Assim começou. Em meio a todas as múltiplas e muitas tarefas, pude perceber o presente que veio do céu. E assim o acompanhei até que o final de tarde nos contemplasse com o céu rosa. Literalmente. Pareceu um presente. Foi um presente. Foi hoje. E está sendo. A lua lá fora espelha a perfeição desse universo infinito e misterioso que não deve deixar de ser notado e contemplado todos os dias.

Tenho a sensação de que se aquela senhora cruzasse pelo meu caminho na rua nesse instante e me fizesse a mesma pergunta, eu saberia descrever o céu azul da manhã, as nuvens que passearam por lá ao meio dia, o entardecer avermelhado e deslumbrante e o exato formato com que a lua brilha nesse instante. Para quem anda atento, todo sinal é uma oportunidade de melhora. Provavelmente, se tivesse a oportunidade, agradeceria pela pergunta cotidiana. Sem querer, mudou meu dia.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Coisa de energia

sexta-feira, 05 de fevereiro de 2021

Tudo estava empoeirado. Parecia não existir ninguém ali, aliás, parecia que ninguém trabalhava, conversava, tomava uma xícara de café ou lia um livro naquele ambiente. Era até difícil imaginar o tanto de decisões que poderiam ter sido tomadas naquela sala de reuniões ou a troca de olhares entre os anfitriões. Nas caixas havia sinais de que alguém passara por ali; havia folhas brancas, novas, entre as amareladas e gastas pelo tempo. Nas prateleiras, tesouros em forma de livros novos dividiam espaço com as “relíquias” do século passado.

Tudo estava empoeirado. Parecia não existir ninguém ali, aliás, parecia que ninguém trabalhava, conversava, tomava uma xícara de café ou lia um livro naquele ambiente. Era até difícil imaginar o tanto de decisões que poderiam ter sido tomadas naquela sala de reuniões ou a troca de olhares entre os anfitriões. Nas caixas havia sinais de que alguém passara por ali; havia folhas brancas, novas, entre as amareladas e gastas pelo tempo. Nas prateleiras, tesouros em forma de livros novos dividiam espaço com as “relíquias” do século passado. Sim, o século passado estava logo ali – deu-se conta de que ele próprio já era uma antiguidade de outra época.

Tomado por uma curiosidade de entender aquele local, prosseguiu, afinal de contas, passaria lá todos os seus dias, quando não algumas noites. Avistou um computador que chamaria de seu muito em breve. Imaginou se teria internet, acesso aos programas dos quais precisava para trabalhar e lembrou-se da necessidade de abrir sua caixa de e-mail. Aproximou-se, viu uma luz acesa no equipamento abaixo e respirou aliviado por não ser o único por ali.

 Percebeu, então, a escuridão a que estava submerso. Sentiu a energia presa, uma angústia no peito, a sensação de que aquilo era estranho, feio, sem vida. Pôs-se a refletir em como mudar, recomeçar, dar novo sentido e reescrever aquela história. Sabia que o trabalho seria grandioso, mas não havia como fugir, vez que aceitara a missão e era homem de palavra. E mais, queria realmente fazer da lagarta a borboleta e ser o promotor daquela metamorfose antinatural.

 Luz! Era isso. Queria que a luz entrasse e fizesse morada por entre aquelas prateleiras, passando pelas janelas que percebeu serem bem grandes e se instalando por ali como o dono de tudo. Que simples. Correu para o interruptor e acendeu as luzes, algo que tragado pela energia sombria do local esquecera-se completamente de fazer. Ufa, melhorou. Abriu as janelas, deixou o vento circular e recebeu da natureza uma brisa especial. Providenciou uma limpeza de tudo. Contou com ajuda, mas arregaçou as mangas e propôs-se a promovê-la. Foi um processo lindo.

Enquanto limpava tudo aquilo, percebeu que purificava ao mesmo tempo a sua própria alma. Colocou flores por todos os cantos, fez um café tão caprichado que seu cheiro espalhou-se por tudo. Os livros em ordem. Poltronas prontas a convidar o próximo leitor. O chão com o brilho que merecia. Viu beleza naquele lugar. Sentiu desejo de ali ficar, motivou-se a trabalhar, quis receber pessoas, recomeçar. Sentiu que a transformação se deu também em seu interior. Recomeçaria em outro nível, com outra energia e daria seu melhor com menos esforço e mais alegria. Pronto. A luz entrou.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Por menos imperativo e mais por favor

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Há quem tenha uma espécie de intolerância ao uso excessivo de verbos no modo imperativo. Eu sou uma dessas pessoas. “Faça. Pegue. Diga. Vá. Venha.” Dependendo do contexto em que essas palavras são ditas, não soam bem aos ouvidos.

O imperativo quando utilizado por aquele que fala ou escreve, comumente expressa a intenção de que seu interlocutor realize uma ação, em tom de ordem. O incômodo acontece quando o modo verbal é empregado em uma frase desacompanhado das palavras básicas da gentileza.

Há quem tenha uma espécie de intolerância ao uso excessivo de verbos no modo imperativo. Eu sou uma dessas pessoas. “Faça. Pegue. Diga. Vá. Venha.” Dependendo do contexto em que essas palavras são ditas, não soam bem aos ouvidos.

O imperativo quando utilizado por aquele que fala ou escreve, comumente expressa a intenção de que seu interlocutor realize uma ação, em tom de ordem. O incômodo acontece quando o modo verbal é empregado em uma frase desacompanhado das palavras básicas da gentileza.

Certamente, qualquer mandamento acompanhado por expressões cordiais surtirá efeito positivo se comparado a uma ordem seca. Uma ordem pode até (e provavelmente irá) resultar na execução da ação, mas certamente não provocará o melhor sentimento da pessoa. Tudo o que é dito e solicitado com simpatia tende a importar um resultado melhor, pois a ação pretendida possivelmente será desempenhada com mais boa vontade e alegria.

Basta comparar: “Fulano, faça isso!” e “Fulano, gostaria de que você fizesse isso, por favor.” Creio que a maioria das pessoas se sentiriam muito mais motivadas a fazer se lhes fosse solicitado com gentileza, como na segunda frase.

Desconfio que o tom excessivamente imperativo cause desconforto em todo e qualquer ouvinte ou leitor. Ao contrário, comunicação baseada na simpatia estimula um convívio mais cordial entre as pessoas. O quesito bem-estar deve estar agregado aos diálogos e às relações, sejam elas quais forem.

Não estou a questionar o uso da norma culta da língua, nem tampouco o emprego dos vocábulos e o uso escorreito da gramática. Acredito apenas que o sentido, o sentimento, a entoação e a intenção do comunicador impregnam as palavras, de modo que expressões grosseiras maculam as relações, gerando muitas vezes um mal-estar desnecessário.

Aposto no efeito da cortesia no trato com as pessoas, seja em qual ambiente for, no ambiente corporativo, nas relações de trabalho, no núcleo familiar, na comunicação entre amigos ou entre estranhos.

Por gentileza... Sejamos mais cordiais e sensíveis com o uso das palavras. Treinemos a prática de utilizar expressões de cordialidade, de educação. Apoiemos uma forma de falar sem constranger, sem impor indelicadamente, sem estressar a outra pessoa. Não se trata de certo e errado. É questão de seletividade e coerência. Dizer da forma como gostaria de ouvir, escrever da forma como gostaria de ler. Mais sutil. Mais respeitosa. Mais empática.

Concordo com Shakespeare quando disse: “Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras”.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Toda esperança do mundo

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Toda esperança do mundo caberia em uma seringa? Em um sinal de proteção e alívio? E eis que enquanto escrevia a coluna, recebi a informação de que tivemos a primeira pessoa vacinada em nossa cidade. Ufa! Mudei o rumo da prosa da semana. Óbvio! Como deixar de manifestar toda a esperança inerente à primeira agulhada tão perto de nós. Confesso que havia visto um helicóptero vermelho sobrevoando minha casa, quando tempos depois, soube que poderia ser ele a conduzir as doses de vacina para nossa região, senti-me emocionada.

Toda esperança do mundo caberia em uma seringa? Em um sinal de proteção e alívio? E eis que enquanto escrevia a coluna, recebi a informação de que tivemos a primeira pessoa vacinada em nossa cidade. Ufa! Mudei o rumo da prosa da semana. Óbvio! Como deixar de manifestar toda a esperança inerente à primeira agulhada tão perto de nós. Confesso que havia visto um helicóptero vermelho sobrevoando minha casa, quando tempos depois, soube que poderia ser ele a conduzir as doses de vacina para nossa região, senti-me emocionada. Sabe aquela sensação pueril, de infância, da criança que supõe ter visto o “trenó do Papai Noel no céu”? Pois bem. Foi uma sensação assim. Eu sei, a comparação não foi boa, mas o sentimento foi bom demais.

É claro que sabemos que é só o início de um processo longo. Complexo. Com muitas incógnitas. Temos plena consciência dos desafios grandiosos que seguem por vir. Mas toda vida importa. E cada sopro de esperança diante do caos, merece ser comemorado. O feixe de luz na escuridão significa a esperança de que tudo seja, num próximo instante, iluminado. E quem não quer a luz? Enxergar a saída do beco? Penso que a maioria de nós tem esse desejo, sobretudo diante de problemas aparentemente de difíceis soluções.

A experiência coletiva que vivenciamos no contexto pandêmico aliada às nossas experiências pessoais têm sido um desafio, para muitos, sem precedentes.  Dificílimo. Caminhamos por vezes sem saber o destino. Esperamos sem saber exatamente pelo quê. Agimos por impulso, por desespero, por medo. Deixamos de fazer coisas, ficamos inertes diante de uma série de situações. É realmente extremamente difícil lidar com o novo, sem cura, invisível, letal. Não nos ensinaram sobre isso em lugar algum. Estamos aprendendo na marra a enfrentar tudo isso em meio às demais crises que nos assolam no campo coletivo...crise política, econômica, social etc., e no campo individual...angústia, preocupação, doenças etc.

Não é fácil viver um dos capítulos mais importantes dos livros de história, biologia, estudos sociais, filosofia, química, matemática das gerações vindouras. Eu que trabalho com ciências jurídicas nas salas de aulas, já estou atravessando, profissionalmente, um desafio e tanto. Os contextos sensíveis e técnicos aglomerados demandam ainda mais estudo, responsabilidade e empatia.

 Diante de tudo isso, qualquer lampejo comprovadamente eficaz para manejarmos nossas expectativas e nos aproximarmos tanto quanto possível de uma vida habilitada ao “novo normal” emociona mesmo. Eu chorei de emoção. E pretendo ainda vivenciar a mesma emoção por muitas vezes. Um dia, a materialização da ciência chegará aos meus também. Espero. Enquanto isso, celebrarei cada vacina aplicada a cada cidadão ao mesmo tempo em que chorarei por cada ato irresponsável que atenta contra vidas humanas, por cada cidadão sem ar, por cada profissional de saúde que luta incessantemente e se expõe aos mais variados riscos, por cada família enlutada.

Por tudo de terrível que vem acontecendo. Já entendi que sorriso e lágrimas acontecem ao mesmo tempo, que esperança e dor são vizinhas e convivem bem no mesmo ser, no mesmo rosto.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Faltam palavras

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

E quando faltam palavras? Acontece com vocês? Por aqui, às vezes a ausência do que dizer se faz presente. Na verdade, não por falta de assunto, mas por excesso. Excesso de acontecimentos. Excesso de preocupações. Excesso de circunstâncias, de argumentos, de pensamentos. De tudo! Por vezes acho até que tantas coisas podem significar vazios de outras. Se há barulho, falta o silêncio. Se o problema persiste, falta a solução. Se o medo, a angústia e a preocupação encontram morada, talvez falte a paz. E por aí vai.

E quando faltam palavras? Acontece com vocês? Por aqui, às vezes a ausência do que dizer se faz presente. Na verdade, não por falta de assunto, mas por excesso. Excesso de acontecimentos. Excesso de preocupações. Excesso de circunstâncias, de argumentos, de pensamentos. De tudo! Por vezes acho até que tantas coisas podem significar vazios de outras. Se há barulho, falta o silêncio. Se o problema persiste, falta a solução. Se o medo, a angústia e a preocupação encontram morada, talvez falte a paz. E por aí vai.

Para quem trabalha com as palavras de toda forma, omiti-las é um desafio. Organizá-las, idem. Selecioná-las, mais um tanto. Um exercício árduo, às vezes voluntário, outras, involuntário. Mas creio que pior é quando elas simplesmente não vêm. Se rebelam, somem, titubeiam e não aparecem. Não cumprem sua missão. Se esvaem por aí. E nós, que delas precisamos a todo instante, o que podemos fazer senão aceitar que o excesso pode ser dicotômico, parente do vazio? Pelo menos por algum tempo.

E assim, vamos. Seguimos. Ninguém sabe encaixar a fala apropriada o tempo todo. Ultimamente, tenho optado por não dizer nada quando não sei o que dizer. Sabe aquela assertiva de que um gesto pode valer mais que mil palavras? Então. Um abraço diz muito. Um sorriso pode ser tudo. Um olhar pode ser toda a comunicação possível e transmitir a mensagem mais verdadeira e necessária para determinada pessoa em determinado momento.

O problema é que o afastamento social e o uso constante de máscaras vêm suprimindo esses contatos que mesmo em silêncio dizem tanto. O abraço quentinho e acolhedor, o colo, o sorriso, a fala de pertinho, o toque afetuoso e tantas manifestações de afeto estão reprimidas há quase um ano, sob pena de adoecermos, espalharmos vírus, causarmos mal a quem amamos sem querer. Há penitência maior que permanecermos, à revelia de nossa vontade, distantes dos abraços de quem amamos? Por proteção. Por respeito. Por consciência individual e coletiva.

Neste cenário, vazio do que dizer, inabilidade de encontrar palavras certas nas horas certas, pode ser delicado. Quantas besteiras ouvimos por aí? Quantas palavras ao vento, sem empatia, são proferidas o tempo todo? Elas possuem efeito. Esse é o ponto. Palavras têm poder. Salvam, ferem, trazem prosperidade, desonra, mágoa, alegrias, problemas, soluções, acalento, dor, informações, notícias, sabedoria, partilha, e tudo mais que sabemos. Comunicação é tesouro que deve ser bem cuidado e uma das formas de nos expressarmos é por meio das palavras de todas as formas. Precisamos, de fato, entendermos seu poder e aprendermos a lidar com elas. E até mesmo, com a falta delas.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Pausa para respirar

sexta-feira, 08 de janeiro de 2021

Há momentos na vida em que pausas se fazem mais que necessárias, por uma série de motivos. Talvez seja mais interessante projetá-las com estratégia, inteligência e planejamento, compreendendo sua importância. Não sei se as pessoas conseguem. O que vejo com bastante frequência é a pausa forçada. Aquela imposta pela vida, pelas circunstâncias, por fatores externos. Ou mesmo quando o corpo grita, a saúde é prejudicada, as forças se esvaem e aí, não resta outro caminho, senão sentir na pele os sinais e ... parar.

Há momentos na vida em que pausas se fazem mais que necessárias, por uma série de motivos. Talvez seja mais interessante projetá-las com estratégia, inteligência e planejamento, compreendendo sua importância. Não sei se as pessoas conseguem. O que vejo com bastante frequência é a pausa forçada. Aquela imposta pela vida, pelas circunstâncias, por fatores externos. Ou mesmo quando o corpo grita, a saúde é prejudicada, as forças se esvaem e aí, não resta outro caminho, senão sentir na pele os sinais e ... parar.

Recebemos cotidianamente uma avalanche motivacional para seguirmos sempre em frente, haja o que houver, venha o que vier. E por mais que realmente seguir em frente por vezes seja o caminho mais recomendável, percebo que não raras vezes precisamos é de uma pausa efetiva para respirarmos, para nos reconectarmos, para reunirmos forças, renovarmos o repertório, oxigenarmos a mente e darmos consolo ao corpo, muitas vezes tratado com tanta displicência ao longo dos dias de rotina pesada.

Nosso templo precisa de cuidados. E ouso dizer que precisamos priorizá-lo, elevá-lo ao patamar do topo, vertermos nossa atenção, nossas ações, em prol dele, sem o qual simplesmente não temos como seguir adiante. Isso envolve todos os cuidados com nossa saúde física, mental, espiritual ... envolve ser presente, respirar com atenção, ler bons livros, pensar em coisas boas, sonhar com um futuro bom, exercitar o corpo, trabalhar com gratidão, amar e ser amado, cuidar das relações e tudo aquilo que é intangível, primordial e que faz a vida ter sentido.

Essa pausa a que me refiro não é o ficar estático. É o respeito ao tempo de florir-se, de não atropelar a si próprio em nome dessa correria desvairada que impõe barulho em nossas vidas. É o saber respeitar limites, dar descanso ao corpo e refrescar a mente de maus pensamentos, de demandas além da conta e telas coloridas. É o dispersar-se menos com o que não interessa e deixar a mente fluir.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Gente como a gente

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Adoro gente de verdade. Gente cujo conteúdo é real, cujo comportamento é compatível com a fala. Você olha e vê, tem um quê de transparência. Gente que ri, que chora, acerta e erra, que reconhece o tropeço e que perdoa. Que trabalha duro, preconiza a dignidade, diz a verdade. Que sofre e sente, que vibra e comemora, abraça, acolhe. Esse tipo de gente.

Adoro gente de verdade. Gente cujo conteúdo é real, cujo comportamento é compatível com a fala. Você olha e vê, tem um quê de transparência. Gente que ri, que chora, acerta e erra, que reconhece o tropeço e que perdoa. Que trabalha duro, preconiza a dignidade, diz a verdade. Que sofre e sente, que vibra e comemora, abraça, acolhe. Esse tipo de gente.

Gente que entende quando você diz que está cansado. Que se coloca no lugar do outro. Que sabe a hora de falar e a hora de calar. Que sabe ouvir. Gente que compreende um “não”, que reconhece o poder do sonho, que decodifica o sorriso de lado, que percebe a lágrima de canto de olho, que ensina e que aprende com as lições. Gosto de gente com problemas, com angústias a serem trabalhadas, com dúvidas existenciais. Gente com espírito de busca, que busca crescer, que valoriza viver. Gente que respeita a religião dos outros, a opinião dos outros, as escolhas de todos, que respeita as leis. Gente que respeita pessoas, meio ambiente, sociedade, diferenças, individualidades. Gente que respeita e ponto.

Gente gentil, que sabe sorrir com os olhos e gargalhar da barriga doer. Gente que se dói com a dor do outro, que luta pela igualdade, que ama sem limites. Gente que manda a mensagem errada na hora errada, que encaixa as palavras certas na hora certa, que tropeça, mas não cai, que planeja a vida inteira ao mesmo tempo em que é instado a desenvolver o dom do improviso. Que curte o melhor restaurante, mas que sabe viver bem com a sobra do almoço que tem em casa. Que preza pela honestidade, que planeja viagem, que quebra a cara. Gente resiliente, que apesar de todos os pesares, enfrenta as adversidades e ainda consegue confraternizar com o amigo no final do dia. Gente paciente que entende que as coisas têm um tempo certo e que ninguém é igual a ninguém. E que tudo tem um lado bom.

Gosto dessa gente que insiste em ser otimista, que valoriza o solo que pisa, que honra o trabalho. Gente amiga, gente família. Gosto de gente acolhedora, gente de verdade, gente como a gente.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.