Blog de paulafarsoun_25873

Novo normal

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Esse novo momento que estamos vivendo já recebeu apelido: é o “novo normal”.  O que esperarmos dele? Bem, acho que não sabemos o que esperar e nem podemos. As coisas estão acontecendo de maneira absolutamente veloz e se vêm se transformando da noite para o dia. Nesse cenário, alguns de nós encontrará terreno fértil para crescimento, outros terão mais dificuldades de adaptarem suas realidades a essa nova forma de existir. Fato é que uma característica pessoal tem se mostrado preciosa: a adaptabilidade.

Esse novo momento que estamos vivendo já recebeu apelido: é o “novo normal”.  O que esperarmos dele? Bem, acho que não sabemos o que esperar e nem podemos. As coisas estão acontecendo de maneira absolutamente veloz e se vêm se transformando da noite para o dia. Nesse cenário, alguns de nós encontrará terreno fértil para crescimento, outros terão mais dificuldades de adaptarem suas realidades a essa nova forma de existir. Fato é que uma característica pessoal tem se mostrado preciosa: a adaptabilidade.

Diante de tantas mudanças repentinas e das necessidades abruptas de convivermos com novos medos, de precisarmos buscar soluções eficientes para problemas novos, de nos reinventarmos não apenas como indivíduos, mas enquanto sociedade, deparamo-nos com um sem fim de interrogações para as quais não temos respostas prontas e nem um gabarito ao final. E não é simples nem fácil sermos partes orgânicas de tantas incógnitas sem expectativa de soluções pragmáticas.

Não aparecerá um super herói para nos salvar. Não encontraremos o pote mágico ao final do arco-íris. Não é possível zerar o game. Não dá também para viver na ilusão e fingir que nada está acontecendo e que o novo normal não existe. 

A indagação que tenho feito a mim mesma, consiste em quem eu quero ser nesse novo normal. Qual o papel que me atribuirei para essa nova realidade. Como eu quero viver meus próximos dias. Com que. Fazendo o quê. Sendo útil a quem. Contribuindo como. Tem me sido muito cara essa reflexão no pouco tempo que me sobra para pensar diante de todas as minhas atribuições privilegiadas de quem pode trabalhar nesse momento e em home office.

A uma conclusão eu já cheguei: não é possível continuar sendo a mesma pessoa diante do novo normal. Já mudei. Já mudamos. Para onde vamos?

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Cancelamento

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Que história é essa de cancelar gente? Juro que vi e não entendi. “Fulano foi cancelado”. “Cancelaram Beltrano na internet.” Oi ? Do que se trata o cancelamento de pessoas? O dicionário Aurélio traz como alguns dos significados do verbo cancelar  “tornar sem efeito, anular, eliminar; suspender, suprimir”.

Que história é essa de cancelar gente? Juro que vi e não entendi. “Fulano foi cancelado”. “Cancelaram Beltrano na internet.” Oi ? Do que se trata o cancelamento de pessoas? O dicionário Aurélio traz como alguns dos significados do verbo cancelar  “tornar sem efeito, anular, eliminar; suspender, suprimir”.

Bem, a mera tentativa de tentar anular ou eliminar um ser humano eu já acho cruel por si só. Aliás, toda e qualquer forma de minimizar a existência de outra pessoa já é repugnante por natureza. O mundo virtual, em que todos nós de alguma maneira estamos inseridos e, em tese, guarnecidos por telas, tem apresentado algumas nuances difíceis de lidar.

Uma delas, justamente, vem ganhando corpo nesses novos tempos: o tal “cancelamento” de pessoas pelas redes sociais. O linchamento pelas redes sociais podem causar prejuízos das mais diversas ordens e o mais surpreendente disso é que ele vem acontecendo muitas vezes de forma natural, como se natural fosse, mas municiado de um volume muito grande de pessoas com atitudes simulares e intenção de prejudicar o alvo do momento. Tal como uma diversão.

E mais, a massificação de atuações pelas redes sociais por vezes é provocada pelo comando a robôs, com o intuito aparente de propagar informação falsa, denegrir imagem de pessoas, “coisificar” pessoas como se objetos, brinquedos, mercadorias fossem. Estranho mesmo, desde quando gente é produto? Como cancelar existências pelo impulsionar de dedos de gente ou de robôs em teclados de computadores e smarthphones?

Tempos difíceis. Achar graça das mazelas alheias e atuar, ainda que minimamente, para encorpar os discursos de ódio são condutas, a meu ver, irresponsáveis. E, por vezes, irreparáveis. Aquele ditado que muitos de nós aprendemos com nossos pais ainda crianças, de não fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco, nunca fez tanto sentido.

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Conte-me a verdade

sábado, 13 de junho de 2020

“ - Conte-me a verdade, mas se possível, fale com palavras suaves para que não perca meu lampejo de esperança.” Assim pediu o senhor ao neto que chegara à sua casa com informações recentes sobre economia, política e saúde pública. O neto, pôs-se a pensar sobre estranho pedido do avô, afinal, como contar-lhe a verdade sobre o mundo de forma a nutrir alguma esperança? Ele não sabia fazê-lo. Não estava preparado.

“ - Conte-me a verdade, mas se possível, fale com palavras suaves para que não perca meu lampejo de esperança.” Assim pediu o senhor ao neto que chegara à sua casa com informações recentes sobre economia, política e saúde pública. O neto, pôs-se a pensar sobre estranho pedido do avô, afinal, como contar-lhe a verdade sobre o mundo de forma a nutrir alguma esperança? Ele não sabia fazê-lo. Não estava preparado.

Infelizmente, o neto crescera em um contexto em que a tecnologia é o caminho das verdades postas, não se acostumou a pensar em fontes de informação, sequer havia até aquele momento pensando sobre quem seriam as mentes e as mãos a escrever todo aquele conteúdo que ele consumia pelas telas. Não sabia, também, contar os fatos que chegavam até ele de uma forma leve. Ele não foi ensinado sobre ser sincero e gentil ao mesmo tempo. Cresceu ouvindo dizer que o bonito é “falar as coisas na cara, doa a quem doer”. E pasme, sem saber, orgulhoso, empregava sua franqueza sem ao menos saber se trazia verdades.

Também não aprimorou, o jovem, a nutrir esperança. Nem a dele, nem a de ninguém. Entendeu que mesmo o que era esperança ele não sabia, senão o significado vazio da palavra. Pobre jovem, aprendeu pouco sobre coisas tão importantes.

Constatando que o neto seria incapaz de trazer informações verdadeiras sobre tais assuntos e contar-lhe de forma gentil sobre o mundo, sem perder o afeto e a esperança em sua fala, o avô preferiu dialogar pouco com ele. Preferia apenas tomar o chá, ler o jornal e observar a natureza, como forma de afastar dele não o neto, mas a avalanche de dados desencontrados que ele gostava de despejar todos os dias ao chegar em casa. E o fazia até animado, agitado, com uma certa empolgação, deixando o avô por vezes até preocupado.

Dentro de si, além das preocupações com o mundo, com a saúde, com a família , temia pela geração daqueles jovens que pouco liam, pouco acessavam a arte, pouco refletiam, pouco dialogavam. Temeu por crescerem sem esperança. Temeu por não ser uma questão do seu neto e sim de uma geração inteira.

Em vista do seu amor pelo jovem, utilizou das boas técnicas antigas usadas por sua avó com ele décadas antes. Criou o momento deles. Só os dois. Com calma. Polindo a paciência de ambos. Pôs-se a sentar todos os dias com o jovem.  Dialogar. Propôs-se a abrir sua mente para entender esses novos conceitos dessa nova geração. Aprendeu um bocado de coisas. E ensinou ainda mais. Os bate-papos entre eles trouxeram para aquela casa muito mais que aprendizados para ambos. Trouxeram o foco no que é essencial, a presença, a partilha, a construção de memórias afetivas, o entendimento e a evolução de ambos.

O menino aprendeu sobre esperança. E sobre o falar sincero e gentil, com a percepção verdadeira sobre o estado de espírito do interlocutor. E o avô, pasme, aprendeu até a mexer nas redes sociais e interagir com pessoas. Reencontrou velhos amigos e ria da barriga doer relembrando casos antigos pela internet.  E seguiram, juntos, após esse pontapé que nasceu da percepção, reflexão e vontade de uma frase que continha ao mesmo tempo, verdade, gentileza e esperança.

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Castelo de areia

sexta-feira, 05 de junho de 2020

Hoje me permitirei a paráfrase. De mim mesma. Das minhas próprias palavras publicadas. Muita coisa continua igual, infelizmente, embora o cenário esteja ainda pior. Em fevereiro de 2018, nesta coluna, publiquei um texto intitulado “O mundo não é bipolar”. E continua não sendo, embora a dicotomia se mostre absolutamente presente em algumas estruturas de pensamento, a meu ver, humildemente, limitadas.

Hoje me permitirei a paráfrase. De mim mesma. Das minhas próprias palavras publicadas. Muita coisa continua igual, infelizmente, embora o cenário esteja ainda pior. Em fevereiro de 2018, nesta coluna, publiquei um texto intitulado “O mundo não é bipolar”. E continua não sendo, embora a dicotomia se mostre absolutamente presente em algumas estruturas de pensamento, a meu ver, humildemente, limitadas.

Somos hoje o triste epicentro da crescente curva de contaminados e mortos da pandemia provocada pelo coronavírus. Nenhum dos nossos vizinhos se depara com tamanho desafio e os números absolutos de vítimas passam longe de nós. Somos parte de um país absolutamente desigual. Nossa desigualdade histórica, estrutural, abissal e das mais diversas ordens vem se agravando nesse momento. E infelizmente há quem siga teimando em ampliar as lacunas e evidenciar lados, fomentando ainda mais as disparidades sociais seríssimas que experienciamos e enaltecendo uma guerra de lados cujos perdedores somos todos nós.

Repito: que enfadonha essa tentativa de dividir o posicionamento e as opiniões das pessoas em esquerda ou direita, certo ou errado, bem ou mal, sim ou não, como se não existissem plúrimas visões e interpretações sobre os mesmos fatos, como se a vida devesse ser necessariamente polarizada. Não deveria. Mas às vezes tem sido. É enfadonha, aliás, a própria necessidade de se ter opinião sobre tudo quando o que se faz necessário em um cenário atipicamente caótico como o atual é aparato técnico-científico, pesquisa, estudo de credibilidade, fonte fidedigna e verdadeira de conteúdo sério produzido por quem tem expertise para tanto.

Não é porque você está certo que eu estou errada. E vice-versa. Tudo tem mais de um lado, que não só o seu ou o meu. Há liberdade de pensamento, de crenças, de ideologias políticas, de filosofia de vida, embora tanta gente teime em categorizar a vida em apenas dois lados. Não é bem assim, não é sempre assim. Ou não deveria ser. Mas há momentos em que as divergências não podem ser o ponto central da questão, simplesmente porque não vão resolver as mazelas sociais, não apresentarão respostas às questões sérias que envolvem vidas humanas.

O que achamos ou deixamos de achar, se não for impactar positivamente nas vidas das pessoas, passa a ser pensamentos lançados ao vento sem nenhuma eficácia prática. Precisamos de soluções concretas, pensamentos voltados para o que interessa, pois se chega a um ponto em que valores intransponíveis estão em jogo: vidas humanas. Não dá para brincar, não é possível resetar a partida, bagunçar o tabuleiro, parar de jogar.

Não é a imprensa. Não é culpa do professor. Não é o político X, o filósofo Z ou o amigo Y. Não somente. É a bagagem de vida, são os pensamentos, os valores, as vivências que livremente fazem parte de nossas existências e nos transformam no que somos: seres múltiplos, complexos, diferentes. E de nada adiantarão se não puderem transformar esse ambiente compartilhado chamado Planeta Terra.

A vida polarizada tem se mostrado deveras triste. O vírus está entre nós. Matando nossa gente. Corroendo nossas bases. Evidenciando nossas feridas. Causando falta de ar. Falta de tudo. E ainda assim, vale o bate-boca, a guerra de perdedores, a disputa de egos, a irresponsabilidade desvairada. Vergonha alheia que não tem mais fim. Não se consegue focar no combate à pandemia com a seriedade e devida importância que a situação impõe. O vírus fez morada por aqui e se deparou com um ambiente fértil de propagação: desordem, descaso, despreparo, desunião, desmando, deboche, desumanidade.

Enquanto isso, nosso povo vai perecendo, as pessoas vão morrendo e as ausências jamais serão supridas. Há muita batalha. Há aqueles que estão lutando com suas próprias vidas para salvar a de outros. Há os que se solidarizam. Os que buscam alternativas. Os que estendem mãos. Os que pensam em saídas. Que pensam no próximo. Que pensam nas vidas.

E há os que quando não indiferentes, riem e se aproveitam disso tudo que está aí. Palavras ao vento. Castelo de areia. Que pena.

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Queria

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Só queria tempo para olhar com toda calma para esse azul pintado no céu desses dias. Observar que apesar de todo caos que estamos vivendo, ele continua lá, com uma beleza exuberante. Queria ter como experienciar os dias frios com a intensidade que pude em outros outonos e invernos. Era bom saborear as delícias dessa época com o olhar mais despreocupado.

Só queria tempo para olhar com toda calma para esse azul pintado no céu desses dias. Observar que apesar de todo caos que estamos vivendo, ele continua lá, com uma beleza exuberante. Queria ter como experienciar os dias frios com a intensidade que pude em outros outonos e invernos. Era bom saborear as delícias dessa época com o olhar mais despreocupado.

Queria o tempo para preparar um fondue e a tranquilidade de saber que tudo está bem. Queria o suor do trabalho duro sendo amenizado pelos abraços e encontros no dia a dia do ofício. Queria temperar a saudade do que já foi com a perspectiva de novos momentos que estão por vir, sabendo que dependia de mim promovê-los.

Queria mais tempo para ouvir a passarinhada, o canto dos pássaros que não sabem que o planeta terra está sendo transmutado por um vírus e tudo de ruim que vêm aflorando em muitos seres. Queria esse tempo. Poderia ouvi-los enquanto a mente descansaria e os raios de sol sobre a pele aqueceria o dia frio, aquela sensação gostosa de estar imerso em si, com pitadas de natureza. Enquanto isso, a mente presente, despreocupada, repousaria em paz.

Queria o tempo para contemplar as flores vermelhas que brotaram nas pontas dos galhos da árvore em frente à janela. Coisa linda. Queria poder analisar suas nuances e imaginar como o divino criou tamanha perfeição. Melhor ainda seria se eu pudesse ir até ela, sem máscara, sem medo, sem precisar cumprir o checklist de cuidados ao retornar.

Queria muito além do tempo em meu dia para fazer essas coisas simples. Queria a possibilidade de fazê-lo em paz. Sem o assombro do medo, das mortes, da doença, das preocupações, do descaso, das frases proferidas por políticos que insistem em ecoar e embaraçar nossas mentes e gerar ainda mais tristeza e aflição, refletindo na sensação de estarmos no bonde sem freio. E quem consegue sentir a beleza divina e perceber o céu azul, a passarinhada e as flores que brotam no topo dos galhos secos estando sentado na primeira poltrona do trem desgovernado?

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Maquinário novo

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Máquina nova interessante essa. Que de nova não tem nada, mas está sendo revisitada, recebendo uma releitura “à la 2020”. A potência é boa, produz bastante, apresenta resultados e até pensa. Que maravilha. Não tem a ver com inteligência artificial, é gente de verdade. Esse aparato super moderno é humano. Se adapta às mais variáveis circunstâncias, é flexível, multitarefas, inovador, apresenta ideias, as executa, faz reparos e prospecções futuras. Pensa, sente e até se emociona.

Máquina nova interessante essa. Que de nova não tem nada, mas está sendo revisitada, recebendo uma releitura “à la 2020”. A potência é boa, produz bastante, apresenta resultados e até pensa. Que maravilha. Não tem a ver com inteligência artificial, é gente de verdade. Esse aparato super moderno é humano. Se adapta às mais variáveis circunstâncias, é flexível, multitarefas, inovador, apresenta ideias, as executa, faz reparos e prospecções futuras. Pensa, sente e até se emociona.

Às vezes, a máquina perece. Adoece. Sucumbe às dores mundanas, não apresenta a melhor performance, rateia e até para de funcionar. Fala mais do que deve, faz mais do que pode e até reclama. Há que diga que é super econômica, custa muito pouco pelo tempo que trabalha. Há quem pense ser cara demais, afinal de contas, há várias peças custosas agregadas, mais conhecidas como direitos e prerrogativas.

A grande verdade é que os trabalhadores do século 21, essas máquinas da metáfora, são essenciais ao funcionamento de tudo, embora o incremento da tecnologia agregue possibilidades ao mesmo passo em que tenta substituí-las. Nessa crise inesperada provocada pela pandemia, o maquinário anda oscilante. Parte dele, inclusive, nunca produziu tanto. Outra parte, está sendo descartada, por ser dispensável ou onerosa demais. O “equipamento” humano é subjugado, sobrecarregado, desvalorizado, descartado. Exige-se de gente de carne e osso o que nem máquina faz.

Fato é que deveríamos repensar as estruturas que fazem a máquina funcionar. Tudo funcionar. Não basta a reflexão e preocupação quanto espaços físicos, viabilidades econômicas e o seu bom e produtivo uso. Deve-se, principalmente, considerar sua própria formação, seus cuidados, suas necessidades. Pode parecer difícil para muitas pessoas compreenderem, mas a máquina humana, sente, pensa, necessita, respira. Sinto informar, mas esse “maquinário novo”, nem máquina é. Nosso planeta ainda não é habitado por robôs. Não percamos a noção disso.

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Sejamos

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Sejamos gentis com todas as dores. Com todas as perdas. Com todas as dificuldades. Com todos os amores. Sejamos educados para lidarmos com os outros, com os problemas deles, com suas dificuldades. Sejamos complacentes com a tragédia e o luto. Sejamos fortes para enfrentarmos barreiras. Para tratarmos de doenças. As físicas, as psíquicas, as da alma. Sejamos honestos com nossas limitações, com as coisas dos outros, com nossas responsabilidades e com o que podemos fazer. Sejamos justos em nossas ações, generosos em nossas palavras e benevolentes em nossos pensamentos.

Sejamos gentis com todas as dores. Com todas as perdas. Com todas as dificuldades. Com todos os amores. Sejamos educados para lidarmos com os outros, com os problemas deles, com suas dificuldades. Sejamos complacentes com a tragédia e o luto. Sejamos fortes para enfrentarmos barreiras. Para tratarmos de doenças. As físicas, as psíquicas, as da alma. Sejamos honestos com nossas limitações, com as coisas dos outros, com nossas responsabilidades e com o que podemos fazer. Sejamos justos em nossas ações, generosos em nossas palavras e benevolentes em nossos pensamentos.

Estou com muito medo. Além da angústia pelas perdas, o receio da doença, a apreensão pelo desconhecido, a iminente miséria, tenho medo de as pessoas perderem a humanidade, justamente a humanidade, que as fazem humanas.

Tenho a sorte de lidar com pessoas generosas, esforçadas em compreender, otimistas o suficiente para seguirem o percurso e enfrentarem a batalha, esperançosas para enxergarem luz no fim do túnel e compartilharem um pouco esse olhar. Acho que fiz boas escolhas na vida. As pessoas, esses tesouros que são o que mais importam. Escolhi essa gente de bem para caminhar comigo. Gente generosa, que estende mãos, que se coloca no lugar do outro. É o que me mantém sã. Que sustenta a sanidade e a fé nos homens.

Sinto pena verdadeira de quem não compartilha da mesma sorte que eu, que não escolheu suas pessoas com base em critérios e valores bem estabelecidos e afins com sua proposta de vida. Vejo muitas pessoas sambando na tragédia alheia, debochando das mortes, rindo de caixões, fazendo piada do pavor, ignorando os mais pobres, fingindo que nada está acontecendo e que esse problema não é humano. Sinto dó de quem já perdeu completamente a humanidade. De quem se desconectou de sentimentos de amor, de bondade, de empatia. De quem se endureceu a ponto de parecer uma pedra de verdade. Sem alma.

Ando muito triste com nosso cenário caótico. Tenho dificuldade de lidar com estatísticas de dor e sofrimento, por mais protegida que eu esteja. Ou que aparentemente esteja. Lidar com o invisível perigoso é um grande laboratório de vida que mudará nossas perspectivas e tudo o que conhecemos sobre existir até hoje. Não estou só. Sou parte integrante de um todo que está doído. Sou os enfermeiros que arriscam suas vidas e são atacados. Infelizmente, sou parte dessa sociedade com tanta ignorância e maldade. Compadeço-me com o sofrimento alheio e com o meu próprio sofrimento.

Enxergo bem a sociedade em que vivemos, absolutamente desigual. Sinto o vazio de não me sentir bem representada, desamparada, quando não achacada por quem deveria nos defender. Estamos cada vez mais sós nessa batalha e ao mesmo tempo, mais unidos do que nunca. Nós, a humanidade, com “h” maiúsculo, o planeta inteiro. O mínimo que devemos ser é humanos. Sejamos!

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Lives

sexta-feira, 08 de maio de 2020

Nesses tempos difíceis, eis que uma figura nova chegou com o ar da graça e veio com força total: as lives, transmitidas pelas redes sociais. Já tem gente com implicância contra elas. De tantas que são, todo santo dia. Uma, duas, três, 100 lives em um dia dentro da rede de contatos sociais. O isolamento repentino aliado à angústia de viver uma pandemia sem precedentes tem sido um terreno fértil e absolutamente propício a essas formas de interação e transmissão de informações.

Nesses tempos difíceis, eis que uma figura nova chegou com o ar da graça e veio com força total: as lives, transmitidas pelas redes sociais. Já tem gente com implicância contra elas. De tantas que são, todo santo dia. Uma, duas, três, 100 lives em um dia dentro da rede de contatos sociais. O isolamento repentino aliado à angústia de viver uma pandemia sem precedentes tem sido um terreno fértil e absolutamente propício a essas formas de interação e transmissão de informações.

Eu mesma já me rendi aos encantos. Já fiz algumas e assisti a tantas outras. Não houve escapatória. Há muitas coisas acontecendo e a partilha é inerente aos seres humanos do século 21. Já me rendi a toda forma de comunicação remota. Trabalho pelas telas e interajo com centenas de pessoas semanalmente por conta do meu ofício. Já me habituei, inclusive, a falar para uma tela cinza enquanto dezenas de pessoas me veem. É uma questão de costume. E de necessidade. Necessidade jamais vivida e imaginada. A gente aprende. Essa é a parte mais fácil de tudo que estamos vivendo. Não há razão para reclamar.

Devo confessar que a tecnologia tem sido “mocinha e bandida” na minha existência durante a pandemia. Pude participar do almoço de Páscoa virtual com a família, bati papo com meus primos ao redor do mundo, descobri o sexo do novo bebê da família em tempo real, tomei decisões importantes, reuni-me com meus chefes e colegas, com meus clientes e até mesmo com gente que nunca vi na vida, mas com quem troquei informações seletas pelos canais de comunicação.

Por aqui também vivi momento difíceis. Informei-me sobre a tragédia, decorei os sintomas da doença Covid-19 e os traços diferenciadores em relação à gripe comum, resfriado e alergia respiratória. Vi cenas chocantes, acontecimentos vergonhosos na política, estatísticas de doer a alma, números de mortes crescendo. Adoeci, chorei, sufoquei e consumi todo tipo de notícia ruim e triste até que um dia mudei a busca para sobreviver. O oposto de doença é cura? Ok. Vamos tentar focar nela. Esforço tremendo.

Já descobri também formas diferentes de meditar, conheci as funções dos aromas, participei das cerimônias religiosas da minha igreja, a última delas, transmitida ao vivo do Japão. Da janela de casa, por entre as nuvens todas, o esforço para perceber que o sol continua a brilhar.

Incrível o que a tecnologia tem feito conosco. Tem sido nosso elo, nosso canal com o mundo, com os médicos, com os amigos, com a família e com nosso trabalho. Alerta até que hoje é noite de lua cheia. Boa lembrança. Corro para ver. Existe céu e a lua também continua lá. As lives promovidas por artistas têm sido, por vezes, a única forma de entretenimento de tantas pessoas em sofrimento. Podem ser o alento de alguém no hospital. As lives informativas podem ser nossas fontes benéficas diante desse fluxo severo, veloz e alucinante de informações.

Não, não vou implicar com elas que têm sido portais de conexão com a vida real de tanta gente. Aliás, o Dia das Mães está aí, não perco esse encontro virtual com a família por nada. Salve a tecnologia.

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Mudança

sexta-feira, 24 de abril de 2020

De repente tudo muda. Às vezes, por nosso querer. Outras, por obra do acaso – se é que ele existe. Só sei que há mudanças planejadas, projetadas na ponta do lápis, perseguidas com empenho e comemoradas. Há outras que nos surpreendem; e nem sempre a surpresa é boa. Só sei que mudar por vezes dói.

De repente tudo muda. Às vezes, por nosso querer. Outras, por obra do acaso – se é que ele existe. Só sei que há mudanças planejadas, projetadas na ponta do lápis, perseguidas com empenho e comemoradas. Há outras que nos surpreendem; e nem sempre a surpresa é boa. Só sei que mudar por vezes dói.

Nós somos seres naturalmente adaptáveis. A maquininha humana é eficaz a ponto de nos preparar para as intercorrências. Até certa medida. Por melhor que seja o funcionamento de nossas engrenagens, é bom ter em mente que a máquina não é infalível, nem dispensa cuidados. Dessa realidade não podemos nos dissociar completamente, pois não somos os super heróis que supomos ser.

Nossas fotos de hoje já não são retratos de quem fomos um dia. Já somos outros. Dia após dia, experiência após experiência, tornamo-nos um tanto diferente do que éramos. Eu não sou hoje a mesma de dez anos atrás. Ninguém pode ser. As coisas mudam, nós mudamos. Mas o grande barato dessa dinâmica me parece ser a conservação da essência. Acho incrível perceber que a forma da caixinha está diferente, mas o conteúdo, aquele mais importante que fica lá no fundinho do recipiente, permanece intacto.

Tudo pode mudar. Pensamentos evoluem (ou involuem), o corpo muda, os valores vão sendo polidos conforme a vivência, dons vão sendo descobertos, ao redor temos novas companhias, um trabalho novo, um lar diferente, perdemos, ganhamos, sofremos, nos alegramos, conhecemos novas culturas, novas dores, novos prazeres. Mas acho lindo quando essência, quem somos de verdade, aquela construção magnífica do nosso ser, apesar de todas as intercorrências, segue intacta.

Sinto-me mais à vontade para mudar tudo sabendo que posso conservar quem eu sou de verdade. Quando creio que os afetos, desafios, perdas, ganhos, vivências vão sendo na verdade incrementados, escolho mudar para melhor, apesar das circunstâncias, zelando pela chave de quem sou de verdade.

Mudar dói, crescer dói, o inesperado dói. Nem sempre, é claro. Vivemos mudanças diárias indolores. Mas algumas não têm como passarem despercebidas. Abalam nossas estruturas, nos apresentam um cenário novo, impõem dedos nas feridas, demandam mais esforço pessoal, mais contar com a sorte, mais integração com o indivíduo, mais malabarismo com o inesperado.

Quem conhecer a fórmula mágica para viver os processos profundos de transformação de forma milagrosamente indiferente, desperdiçará uma bela chance de ser a borboleta que vem da lagarta. De perceber a metamorfose. Saber lidar com a dor também é uma forma de crescer. Impregnar o processo de amor, é um alicerce nesse caminho. Mudar com dignidade é uma forma elegante de viver.

Há uma frase escrita por Érico Veríssimo que eu acho simples e fantástica que diz mais ou menos o seguinte: “ Quando os ventos da mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.” É sobre isso que estou falando. Quero ser ventania, não sopro; quero lidar com moinhos de vento, não com barreiras.

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Velho amigo

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Velho amigo. Todo mundo tem um. Ou deveria ter. Pelo menos um para fazer valer a pena. Seria desperdício muito grande existir sem ter ao menos um grande amigo na vida. Daquele para quem basta um olhar para dizer que está tudo bem. Aliás, aquele para quem não precisa dizer nada . Não há necessidade de desculpas sobre a razão do sumiço. Não há cobrança sobre o motivo de não ter ligado nos últimos dias. Nos últimos anos. Simplesmente ele existe e isso muitas vezes, basta.

Velho amigo. Todo mundo tem um. Ou deveria ter. Pelo menos um para fazer valer a pena. Seria desperdício muito grande existir sem ter ao menos um grande amigo na vida. Daquele para quem basta um olhar para dizer que está tudo bem. Aliás, aquele para quem não precisa dizer nada . Não há necessidade de desculpas sobre a razão do sumiço. Não há cobrança sobre o motivo de não ter ligado nos últimos dias. Nos últimos anos. Simplesmente ele existe e isso muitas vezes, basta.

Aquele amigo que guarda teus segredos pueris, que conhece sua essência, que brincou, brigou, sorriu e chorou ao seu lado. Que sabe quem você é. E continua te amando. Que te vê diferente, mas tem a certeza de que nada mudou. Ah! Um velho amigo jovem, pouco importa a idade. Refiro-me àquela pessoa, com “p” maiúsculo, que enche seu rosto com um sorriso genuíno quando aparece, que decifra seu estado de espírito com o olhar, que acha graça das suas piadas sem graça. Que não se importa com o que você tem e sim com quem você é. Que se importa com sua felicidade. Que ama sua família. Que torce por você. Que comemora à distância pelas suas conquistas ou que está ao seu lado para o melhor abraço. Vibra ao falar com você, sobre você. Sabe do que estou falando?

Se você tem alguém assim na vida, amigo, que sorte a sua. A construção dessa relação leva tempo. Ela passa por fases, amadurece, se reinventa, afrouxa, aperta, some, aparece, mas continua intacta. Basta levantar a mão por socorro na multidão das outras companhias para você ver a presença de quem que irá fazer toda a diferença. O alento de ver o rosto conhecido quando estamos perdidos, de sentir a presença quando estamos sós. É ele. Esse amigo que pode ser qualquer pessoa no mundo, com ou sem laços sanguíneos, mas que foi escolhido por você para ser aquela pessoa: a-que-la pes-so-a ! Jamais uma qualquer.

Porque amizade é amor. Amor para poucos. Porque amar na alegria, na prosperidade, na diversão e na saúde, é moleza. Amor de fotografia é lindo, basta um abraço e um sorriso e pronto: fez-se o melhor amigo superficial. Difícil é amar na dureza, na doença, na escassez, no sofrimento. Nessa hora, infelizmente comumente vão-se os dedos e os anéis. Sobra pouco perto de nós. Poucos. E normalmente, quem ali permanecerá será o amor incondicional. O verdadeiro. O diamante em meio ao cascalho. O tesouro imaterial que faz a vida valer a pena.

Feliz de quem possui um velho amigo. Um! Seu referencial e a certeza de que os momentos partilhados fincaram bases sólidas e inquebrantáveis pelo tempo, pelas circunstâncias, pelas novas ou velhas outras presenças. Amor que soma. Amizade que multiplica. Que edifica. Feliz de quem sabe do que estou falando, o que estou sentindo.

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