Divisão de tarefas

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 07 de agosto de 2020

Dia desses assisti a um documentário que retratava o dia a dia de uma família cuja distribuição de tarefas domésticas não existia, visto que todas elas “naturalmente” recairiam sofre a figura feminina que na casa residia. Era uma crítica. Mas nem é preciso assistir a obras para sabermos qual é a realidade vivida por muitas mulheres assoberbadas com o rol infinito de afazeres em seus lares acumulados com todas as suas outras inúmeras funções.

É no mínimo intrigante pensarmos que em pleno século 21, os membros de uma família não compreenderem que cuidar do lar é dever de todos que nele habitam e não atribuição exclusiva das mulheres, vez ou outra repartida por favor ou altruísmo dos demais.

Muito temos ouvido falar, discutido, estudado, lido e dialogado a respeito do machismo estrutural deveras arraigado em nossa sociedade. Ele é real e certamente nocivo a muitas mulheres, por mais que às vezes pareçam mais uma mensagem subliminar ao invés de uma verdade escancarada. Fato é que muitas de nós, mulheres, sentimos na pele as consequências da sobrecarga mental, emocional e física deste acúmulo infinito de atribuições até os dias de hoje.

Os últimos meses têm sido atípicos e desafiadores para todo mundo. É inegável. A pandemia e suas imposições repentinas, fáticas, refletiram na necessidade real de reclusão da maior parte das pessoas em suas casas, apontando o afastamento social como necessidade de proteção, questão de sobrevivência e em muitos casos, obrigação. E infelizmente, esse contexto se apresentou nas vidas de muitas mulheres como uma avalanche ainda mais onerosa.

Alguns dados apontam que durante este período, muitas mulheres procuraram por cuidados médicos e psicológicos em decorrência do esgotamento físico e mental, outras tantas foram diagnosticadas com síndrome de burnout em seus trabalhos, inúmeras mais foram vítimas de violência doméstica por parte de seus parceiros em incidência ainda maior neste período de confinamento e tantos outros problemas com os quais nos depararemos se olharmos para os lados.

Observamos atualmente muitas mulheres exaustas tendo de trabalhar, tomar decisões, preocuparem-se com o equilíbrio da família, cuidar de sua saúde mental, cuidar dos filhos, auxiliar com as aulas remotas, com os deveres de casa, com sua educação, sobreviver em meio à pandemia, preocupar-se com as pessoas e ainda por cima cozinhar, arrumar, lavar, limpar, passar, providenciar as compras, desinfetar tudo que entra e sai e mesmo arcar com os custos da casa. Não é fácil e a balança tende a ser desequilibrada em desfavor delas.

Obviamente esta não é a realidade de todas. Não é a minha, felizmente. Acho lindas as famílias conscientes nas quais se propõe uma convivência em equilíbrio e cooperação. Homens e mulheres que cooperam mutuamente e se revezam nas funções da família e que se apoiam. Há um número cada vez maior de pessoas cientes de seus verdadeiros papéis nos lares e que batalham dia após dia para reverterem o machismo que leva a crer que os homens que contribuem em seus afazeres domésticos estão ajudando as mulheres.

Na verdade, estão fazendo o que deve ser feito, a obrigação da boa convivência, os preceitos da boa higiene, a cooperação em uma sociedade igualitária e porque não, com mais amor. Aquilo que deve ser feito independente do gênero de quem o faz. Há muitos de nós batalhando até mesmo por divisão de tarefas com respeito, por sermos conscientes de que a sobrecarga para um dos lados, além de nociva à saúde é injusta.

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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