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Pingos nos is

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Acreditar no ser humano até que ele demonstre que não é digno da sua confiança. Ter boa vontade até que reste comprovado que o destinatário das suas ações não é tão digno assim de recebê-las. Ter a intenção de ajudar, sem requisitar nada em troca (nem nas entrelinhas das segundas intenções). Dar de verdade, doado, porque sim. Sem dívida moral para acertar depois. Compartilhar prosperidade, sem contabilizar os créditos que sua boa ação pode te proporcionar. Fazer sem esperar retorno. Ensinar com a intenção de que aprendam. Aprender com a intenção de aprender mesmo.

Acreditar no ser humano até que ele demonstre que não é digno da sua confiança. Ter boa vontade até que reste comprovado que o destinatário das suas ações não é tão digno assim de recebê-las. Ter a intenção de ajudar, sem requisitar nada em troca (nem nas entrelinhas das segundas intenções). Dar de verdade, doado, porque sim. Sem dívida moral para acertar depois. Compartilhar prosperidade, sem contabilizar os créditos que sua boa ação pode te proporcionar. Fazer sem esperar retorno. Ensinar com a intenção de que aprendam. Aprender com a intenção de aprender mesmo.

Nem tudo vale dinheiro, nem tudo vale crédito, nem tudo vale nota na escala de valores de uma pessoa. Aliás, as coisas mais importantes da vida, nem coisas são. Frase repetida, mas cheia de razão.

Sabe quando alguém é honesto com você e chega a te comover? Quando você recebe um presente como demonstração de gratidão, sem interesse? Quando você é tão bem tratado que fica com vontade de levar aquele bem feitor da gentileza para casa? Quando as pessoas são tão solícitas que chegam a te constranger? Quando te oferecem colo e acalento e você não consegue nem aceitar? Quando te fazem tão bem que você chega a se emocionar? Quando as intenções das pessoas são genuinamente tão boas que chegamos a desconfiar? Então. Quando o lado bom da força transborda, por vezes fica até difícil conseguir lidar. Estranha realidade.

Por que dificultar a vida das pessoas à toa? Para quê criar obstáculos desnecessários? Por que se fazer temer para receber o respeito de alguém? Estamos na era da luz. Nem todos os pingos dos “is” precisam estar milimetricamente em cima dos “is”. Cadê a flexibilidade? O jogo de cintura? O “borogodó”? Cadê a leveza? Le-ve-za.

Não estou me referindo aos jeitinhos, às trapaças, ao desejo de enganar as pessoas. Pelo contrário. Quero falar das pessoas que por pureza de espírito, por intenções positivas, fazem por amor, acreditam pela crença de que as pessoas podem ser verdadeiras, dão por dar, recebem por receber, e por aí vai. Essa lógica que deveria ser mais natural entre nós, humanos.

Pessoas não são números. Pais não estão sempre certos. Professores não sabem tudo. Desempregados não são malandros. Estrangeiros não vivem melhor. Relacionamentos não são sempre perfeitos. Trabalho não é martírio. Políticos não são todos corruptos. Todos os milionários não são felizes. Percebem?

Às vezes acho que estamos vivendo de exceções. Isso me inquieta. A pirâmide às vezes me parece invertida. A base, a massa, a maioria, deve ser composta pelo lado bom da força. Se me falam algo, acredito. Por que tenho que imaginar que a pessoa está mentindo? Se me tratam com gentileza, retribuo. Por que deveria imaginar que a intenção por trás dos gestos afáveis estão enrustindo uma intenção diversa? Se me pedem e eu posso fazer, eu faço. Por que deveria me recusar a ajudar alguém?

É tão comum escutarmos conselhos do tipo: “não fique disponível”, “a regra é não”, “não caia nessa conversa fiada”, “não perca seu tempo ajudando”, “ faça o mínimo necessário”, “ não acredite nessas boas intenções”, “duvide até do espelho”, “não conte nada para ninguém”. Andamos tão armados. Tão fechados. Tão individualizados. Complexo. Talvez mais difícil fosse ser diferente disso.

Hoje em dia estamos sendo julgados, filmados, gravados, registrados. São tantos dedos apontados, tantas mentes fazendo juízo de valor sobre nossa postura. São tantas opiniões preconcebidas sendo extraídas exclusivamente das postagens das redes sociais, de uma fala isolada, de uma atitude excepcional em um dia ruim, de uma fofoca, de uma impressão negativa. Isso dificulta as relações mais naturais, mais reais, mais verdadeiras, com mais partilha e menos julgamento, com mais essência e menos forma. Será que o lado bom da força está enfraquecendo?

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Falar ou calar

sexta-feira, 03 de setembro de 2021

Em uma frase reputada a Albert Einstein, ele disse:  "Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se revela."

Em uma frase reputada a Albert Einstein, ele disse:  "Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se revela."

Em tempos em que vangloria-se tanto a necessidade e coragem em se dizer tudo o que pensa, aqueles que preferem o silêncio muitas vezes passam por involuídos. Isso mesmo. Se antes poupar a si mesmo ou ao próximo de discussões, deixar de falar tudo o que supostamente não seria bem recebido pelo interlocutor, recluir-se em silêncio eram práticas desejadas, hoje, há quem diga que nem tanto. Pelo contrário. Basta um bate-papo em uma roda de amigos e cedo ou tarde alguém acaba explicitando que a hora da verdade soou, que não faz bem para a saúde guardar sentimentos e opiniões e que o processo de libertação para por essa franqueza no trato social.

E a legião das pessoas que não desejam adoecer por guardar além das palavras engolidas sem ser ditas, as mágoas remoídas é deveras crescente. Esse caminho passa pelo autoconhecimento e algumas vezes descamba para o extremo posto: dizer tudo o que sente, sem traquejo e muitas vezes, sem sensibilidade. E então, ao invés de os sapos serem engolidos, passam a ser jogados no colo do outro sem parcimônia.

Esse assunto surge em muitas conversas. Poucas vezes alguém aponta para o caminho do meio como algo a ser considerado. E então surge a indagação: o equilíbrio é o meio mesmo? Fato é que o ponto de equilíbrio varia de pessoa para pessoa. E só especialistas podem aprofundar o assunto. 

Eu mesma, que costumo buscar a interação eficiente e ter resposta para tudo, por esses dias andei sem palavras. De verdade. Sem vontade de dizê-las, talvez. Sem motivação. Buscando uma luz que ao final só conduzia para o silêncio e uma vontade toda minha de revisitar a introspecção. Aliás, a busca pelas práticas de silêncio e o voltar-se para si conquista cada vez mais adeptos. Mas seria possível vivê-la em público, cercada de pessoas, de demandas sociais?

E então, como de costume, a reflexão vem. E mais uma vez, a conclusão a que não chegamos (por complexa que é) e o percurso que aponta para um sentido: não devemos julgar as pessoas. Ninguém. Cada um trava suas batalhas diárias, algumas delas inglórias. Uns vão sentir necessidade de compartilhá-las com maior número de pessoas. Outros irão se retrair. Muitos se voltarão para a natureza e sua comunhão com ela serão seu reencontro com o estado de equilíbrio. Não podemos julgar nenhuma delas.

Uma boa técnica, que na verdade é empirismo, passa justamente por lapidar um conceito básico que deveria se fazer presente em mais momentos de nossas existências: o respeito. A si próprio. Aos outros. A toda a coletividade. Dizer tudo o que pensa ferindo pessoas desnecessariamente, não me parece o melhor roteiro de vida. Da mesma forma, ser destinatário de um contingente de remorso por não conseguir expressar o que se sente, também não. A verdade é que cada um sabe de si. Mas acho que o trato com a comunicação interna, social e com o mundo, poderia ser mais bem refinado...

Palavras que somem podem se perder em um lugar desconhecido por todos. Aquilo que deveria ser dito e não foi. Aquilo que felizmente não foi dito, mas foi pensado. Há tantas formas de se comunicar. Ricas formas. E dependendo do contexto, um olhar diz mais, muito mais do que um belo texto faria.

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Como digerir tantas más notícias?

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Pois então. Começamos com esta pergunta: como lidarmos com tantas notícias ruins? São muitas, de todas as ordens, de várias frentes. Não bastassem as informações sobre a própria crise sanitária que assola o planeta há quase dois anos, temos de enfrentar uma realidade desafiadora em diversos aspectos.

Pois então. Começamos com esta pergunta: como lidarmos com tantas notícias ruins? São muitas, de todas as ordens, de várias frentes. Não bastassem as informações sobre a própria crise sanitária que assola o planeta há quase dois anos, temos de enfrentar uma realidade desafiadora em diversos aspectos.

Vejamos algumas das tristes notícias dos últimos dias... enfrentamos uma crise institucional no Brasil sem precedentes no cenário democrático; péssimas notícias no campo político; burburinhos de corrupção; inúmeras queimadas em Estados do Norte e do Centro-Oeste, animais mortos, vegetação em chamas; aumento nos números de violência doméstica no Brasil e em nossa cidade, feminicídios e outros crimes chocantes que nos tiram a paz, o fôlego e a esperança; aumento do número de pessoas desempregadas; variante delta se alastrando ; índices de inflação aumentando;  alimentos da cesta básica cada vez mais caros; gasolina quase custando R$ 7, o litro; conflitos no Afeganistão; mulheres afegãs em extremo desespero; Israel bate recorde de número de casos de Covid-19 etc, etc, etc.

Como enfrentarmos a ideia de sermos partes da História, com h maiúsculo, personagens de um tempo cujos registros futuros denunciarão uma era de múltiplas dificuldades? Bem, não tenho a resposta. Sei que se eu tentar me desconectar das manchetes ou me esquivar de informações ruins, não vai mudar a realidade dos fatos que é justamente a existência deles. O tique-taque da bomba relógio não vai pausar. As coisas continuam acontecendo, mesmo que individualmente tentemos nos desconectar delas. Isso é um fato.

É preciso refletirmos sobre isso. Somos células integrantes de um organismo universal. Somos seres componentes da sociedade. Tudo isso que está a ocorrer, de alguma maneira é problema nosso, nos diz respeito, precisa contar com nossa potência transformadora. Somos mais de sete bilhões de pessoa. Pode parecer que a inércia de apenas um de nós diante da dor e do caos não fará diferença. Mas penso que fará sim. Somos um mais um mais um mais um e assim sucessivamente. O primeiro que puxa uma fila do bem, da generosidade, da construção de algo melhor, de uma mudança positiva, pode ser simplesmente o início de uma força transformadora. E cada um que fizer algo de bom, pode contribuir muito fortemente para o bem de uma pessoa, de um grupo, de uma sociedade inteira. Acredito nisso. Se até a esperança se esvair, como vamos sair dessa? 

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Grita, menina, de novo

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Queridos leitores, hoje inicio a coluna com um pedido de licença a todos vocês. Esta semana recebi mensagem de uma leitora de A VOZ DA SERRA por uma rede social, em que mencionava a coluna “Grita, menina!”, que publicamos tempos atrás. Narrou-me que aquele texto sacudiu suas estruturas de alguma maneira e movimentou sua vida para um lado bom: a encorajou. Ao reler essas palavras, entendi o porquê. E se me permitem, a coluna de hoje será uma releitura daquela. Que as palavras cheguem às destinatárias certas.

Grita, menina!

Queridos leitores, hoje inicio a coluna com um pedido de licença a todos vocês. Esta semana recebi mensagem de uma leitora de A VOZ DA SERRA por uma rede social, em que mencionava a coluna “Grita, menina!”, que publicamos tempos atrás. Narrou-me que aquele texto sacudiu suas estruturas de alguma maneira e movimentou sua vida para um lado bom: a encorajou. Ao reler essas palavras, entendi o porquê. E se me permitem, a coluna de hoje será uma releitura daquela. Que as palavras cheguem às destinatárias certas.

Grita, menina!

Grita. Não aceite isso não. Exponha ainda que silenciosamente a parte que não mais te cabe desse latifúndio histórico de opressão. Abra mão dessa “terra” besta. Reconheça teu valor e não temas pelo leite que jaz derramado. Até as vacas hão de doar mais leite para recompor sua liteira avariada.

Grita, menina. Não sente nesse colo opressor. Não lave mais essa louça de um tostão, nem queime as pontas dos dedos nesse fogo mais quente que o queimador do fogão. Saia por essa porta de cabeça erguida, peito inflado do orgulho acumulado que teimaram em limitar. Grita com essa voz grossa ou fina, rouca, esganiçada. Voz de doida que é muito sã. Essa voz que sai de ti e que é a mais linda que se pode ouvir. Não creia que sua potência é louca e que sua voz é pouca.

Grita, moça. Até que os surdos possam ouvir. Grita com tua alma brilhante cuja luz tentam apagar. Se lança por aí com esse andar desengonçado, aquele lerdo que sempre fica para trás, com esses passos desencontrados, arrastados pelo caminho cujas armadilhas teimam em colocar. Corre por aí com esse preparo físico inato e vigoroso que tentam suprimir.

Grita até doer essa garganta que de frágil não tem nada, até arrepiar os fios desse cabelo que de feio não tem nada, até sacodir sua carne. Vai, menina, use seu corpo, sua força interior. Pode ir. Seja a lúdica sonhadora que sempre foi, mas sonhe por aí. Seja a emotiva chorona, mas chore em outro lugar. Seja a mãe babona, a mulher brigona, mas seja. Seja o que quiser. Cante esse canto embargado, fora do tom, sem ritmo, mas cante fora daí.

Seja, menina. Tudo ou nada, a desequilibrada, mas seja. Conduza seu oito ou oitenta nesse caminho vão. Ou vil. Corra com sua “TPM insuportável”, com seu “temperamento indomável”. Fuja desse lugar de oprimida. Busque sua lucidez, resgate sua coragem.

Vá com a roupa feia, com a unha sem estar feita, com o peso sem medida. Não liga, menina. Grite que está cansada desse esteriótipo fictício, dessa capa de revista de mentira, dessa pressão descabida, dessa forma que não consegue ser. Fuja desse estigma de louca. De mal amada. De pouco cuidada.

Espalhe essa energia reprimida, de tempos em tempos suprimida. Dê o primeiro passo e perceba que não desaprendeu a andar. Nem a lavar e passar. Não lave mais nada não. Enquanto não aprenderem a lavarem suas bocas, a secarem seus ranços, a perceberem o quão tolos são seus comandos. Ria de tudo isso. Use seu riso para gargalhar contra quem te reprime e desentale esse rojão de vida agarrado sob o nó da sua garganta.

Sopre a vida. Mude de postura. Aprenda a não silenciar. Salvo se quiser. Berre esse canto entalado, enlutado de quem quase morreu e sabe que só se vive uma vez. Vá, menina. Viva. V-i-v-a! Saia daí.  Seu lugar não é a cozinha, salvo se quiser. Nem atrás do homem. É em todo lugar.

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Quem sabe

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Quem há de saber o que virá? Só podemos garantir o aqui e agora, este momento, este exato instante em que escrevo essas palavras e que você, leitor ou leitora, as leem. Quem sabe o resultado disso tudo? E se o amanhã não for o que esperamos dele. E se o mundo mudar da noite para o dia. E se a nota não corresponder ao tanto que for estudado. E se o amor não for correspondido na mesma medida do que foi emanado. E se não chover. Se não passar. Se não melhorar. E se os males vierem para o bem. Se encontrar pessoas certas na hora certa. E se o sonho não se concretizar.

Quem há de saber o que virá? Só podemos garantir o aqui e agora, este momento, este exato instante em que escrevo essas palavras e que você, leitor ou leitora, as leem. Quem sabe o resultado disso tudo? E se o amanhã não for o que esperamos dele. E se o mundo mudar da noite para o dia. E se a nota não corresponder ao tanto que for estudado. E se o amor não for correspondido na mesma medida do que foi emanado. E se não chover. Se não passar. Se não melhorar. E se os males vierem para o bem. Se encontrar pessoas certas na hora certa. E se o sonho não se concretizar. E se o emprego não der certo. E se as projeções forem frustradas. E se eu não estiver viva amanhã...

Tantas coisas podem dar certo. Ou não. O depende é uma constância, da mesma forma em que essa circunstância condicional pode significar o grande barato da vida. A verdade é que não sabemos o que será, nem o que teria sido caso as escolhas tivessem sido outras. Por vezes, a opção é justamente escolher, tomar decisão, direcionar, agir em determinado sentido. Talvez, quem consegue se lançar nos desafios sem um retrovisor se questione menos sobre o que poderia ter sido e não foi.

Nesses tempos de pandemia e caos, muitos se viram obrigados a enfrentar de uma hora para outra, uma conversa dificílima que estava sendo adiada há anos, quiçá a vida inteira: o diálogo interno, aquele bate-papo em que o significado maior pode estar justamente em ouvir-se, entender-se. E então o questionamento que pode surgir é: como compreender os desígnios, anseios, desejos, medos de um ser tão assoberbado pela avalanche de medos, preocupações, mudanças e incertezas. E se nada disso estivesse acontecendo? Haveria tempo para essa conversa séria?

E se ... ah! Se já era desafiador existir com a sobra de condicionantes, imaginemos agora em que o “se” passou a habitar um canto especial da vida da maioria de nós. Para cada “e se...”, tenho respondido com um “tomara” mental. Funciona assim: cada condição abre brecha para uma possibilidade melhor que a outra. É inevitável percebermos que para cada incógnita da existência, mais de um resultado se faz possível. Tenho procurado me agarrar ao melhor deles possível de ser vislumbrado. E então, suspiro um “tomara”. E sigo em frente, tentando fazer acontecer. Quem sabe...

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Frio

sexta-feira, 06 de agosto de 2021

is que o céu cinza se viu azul de novo. A serração sumiu, a neblina dissipou, o frio encolheu e o astro rei foi tomando seu lugar. Retomando, na verdade. O sol às vezes se esconde, em que pese a paisagem exuberante de inverno. E quanto frio tem feito.

Querendo ou não, há de se ter em mente que os dias cinzas virão. E passarão. Os dias frios estão. E passarão. E podem não ter correlação com o tempo lá fora. O mundo não para se estamos tristes. Dia e noite continuam se revezando no espetáculo da vida. Somos nós que temos e perdemos a capacidade de apreciarmos o show.

is que o céu cinza se viu azul de novo. A serração sumiu, a neblina dissipou, o frio encolheu e o astro rei foi tomando seu lugar. Retomando, na verdade. O sol às vezes se esconde, em que pese a paisagem exuberante de inverno. E quanto frio tem feito.

Querendo ou não, há de se ter em mente que os dias cinzas virão. E passarão. Os dias frios estão. E passarão. E podem não ter correlação com o tempo lá fora. O mundo não para se estamos tristes. Dia e noite continuam se revezando no espetáculo da vida. Somos nós que temos e perdemos a capacidade de apreciarmos o show.

Realmente todas as fases da vida em alguma medida fazem jus à essa roupagem de ciclos de que se vestem. Não há como negar. Algumas fases mais parecem lições, há diálogos que parecem aulas, trocas regadas de aprendizados. Conversas em dias cinzas têm seu poder, é verdade. Dia desses falávamos sobre o tempo, sobre cronologia e necessidade de percebermos que as fases, boas ou ruins, passam, e que a maturidade aos poucos nos acalma à medida em que acalenta a afobação de termos nossos problemas resolvidos “para ontem”, como num passe de mágica que não existe.

Na verdade, seria um tanto interessante assimilarmos que até mesmo a paisagem lá fora é relativa ao nosso sentir, tem a ver com a nossa forma de enxergar o dia, ainda que o tempo esteja chuvoso ou ensolarado para todos e os relógios avancem na mesma cadência para todo mundo. Aliás, essa relação com essas duas concepções de tempo me fascina.

Se estamos bem, junto de quem amamos, com saúde plena, lazer em dia, estado de espírito de alegria, é mais comum desejarmos que o tempo passe devagar, quando não sonhamos que ele pare de vez naquele momento. Almejamos que coisas boas tenham duração maior e que a felicidade se perpetue no tempo. Ao contrário, nos momentos de tristeza, doença, agonia, solidão, o correr do relógio é que passa a ser a utopia almejada. De alguma maneira, nessas horas, ao torcermos para que o tempo passe rápido, demonstramos ser sabedores de que os ciclos existem e que as dores também são passageiras.

Por mais que queiramos acelerar e desacelerar, a verdade é que o tempo não muda e sim a nossa percepção sobre ele. Sobre tudo. Sobretudo. O céu cinza lá está, mas dependendo do nosso olhar, saberemos apreciar, gostaremos do bucolismo e até sentiremos saudade. Enxergar a vida com cor é, na verdade, uma questão sobre o olhar, de dentro para fora, de percepção e reflexo do próprio estado de espírito. Pode estar frio lá fora e aqui dentro, o coração quentinho.

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Mundo novo

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Reflexões sobre o mundo virtual. Penso que sejam necessárias. Realmente necessárias. Pelo menos ando pensando bastante sobre o assunto. Sinto que as vidas, os desejos, os passos, os afazeres, os familiares das pessoas nunca antes haviam sido tão expostos como nos últimos tempos. Por vezes, as postagens nas redes sociais nutrem um ideal de aparência que sequer condiz com a realidade. Muitas pessoas mais preocupadas em parecerem ser do que o que verdadeiramente são.

Reflexões sobre o mundo virtual. Penso que sejam necessárias. Realmente necessárias. Pelo menos ando pensando bastante sobre o assunto. Sinto que as vidas, os desejos, os passos, os afazeres, os familiares das pessoas nunca antes haviam sido tão expostos como nos últimos tempos. Por vezes, as postagens nas redes sociais nutrem um ideal de aparência que sequer condiz com a realidade. Muitas pessoas mais preocupadas em parecerem ser do que o que verdadeiramente são.

Há filhos de estranhos cujo crescimento podemos acompanhar com sensação de proximidade ainda maior do que os próprios parentes que se encontram em almoços de domingo, Dia das Mães ou Natal. Sem nunca sequer os termos conhecido. Porque seus rostos nos são apresentados às vezes por foto de exames de ultrassonografia. Porque não há mais necessidade de ir à maternidade para sanar a ansiedade e a curiosidade de conhecer “a carinha do bebê”. Basta esperar algumas horas (às vezes, minutos) e alguém se encarregará de apresenta-lo ao mundo virtual, aos amigos reais, aos amigos de amigos, conhecidos e estranhos que estranhamente (e aqui cabe o pleonasmo) estão aguardando para conhecer a face da nova vida que chegou ao mundo. Muitas vezes, sequer os pais são conhecidos. Nunca os abraçamos. Não trocamos palavras, não compartilhamos momentos.

Tenho a sensação de que muitas pessoas fazem coisas apenas para dizer que fizeram. Para que terceiros saibam que foram feitas. Vivem no piloto automático, na ânsia de cumprir o roteiro e mostrar para os demais que o cronograma está sendo cumprido. Não sei se vivem tão bem cada momento, quando cada imagem por vezes denota personagens afoitos por provarem que fazem cada vez mais coisas legais. Viagens inteiras são postadas. Claro, não há um radar das 24 horas vividas por alguém.

Mas, mesmo que o seu acesso às redes sociais seja muito limitado, asseguro que você, caro leitor, tem conhecimento sobre o paradeiro de muitos conhecidos, de pessoas com as quais pouco trocou palavras na vida. Sabe o que comeram no almoço, a marca do vinho que bebem, as roupas preferidas, os lugares por onde passaram, as principais paisagens avistadas. Se bobear, aproximando alguma imagem, se informa até sobre número de voo e as poltronas em que sentaram-se no avião. Tudo isso, sem esforço, em uma mera passagem de dedos pela tela do celular enquanto a vida multitarefas demanda de você o pensamento acelerado e distribuído nas muitas distrações mentais que demandam nosso pensar contínuo. Com pouco relaxamento.

Às vezes eu me indago: por que determinada pessoa está um local tão lindo e não aproveita para se desconectar para esvaziar a mente, para ser presente e aproveitar a oportunidade que tem sem prestar contas aos outros nas redes sociais? Será que sabe o quanto é bom não prestar contas à ninguém, não dar satisfações sobre seu destino, sobre o inenarrável prazer da liberdade de não precisar provar nada para ninguém, de não necessitar de aprovação, de não precisar demonstrar o tempo todo tudo o que se faz e o que se tem? Será que sabe quem é independente do que os outros pensam e julgam?

E eu mesma busco respostas na tentativa de autoconvencimento: porque determinada pessoa pode simplesmente gostar de compartilhar coisas incríveis de sua vida com seus muitos amigos virtuais, afinal, o mundo já está tão sobrecarregado que inundar de alegria o ambiente da internet com referidas imagens pode ser uma grande ideia. Porque a sociedade já está farta de acessar informações tristes e desesperançosas. Porque o convívio ainda que virtual é prazeroso, une, aproxima e dá voz às pessoas.

Reflito sobre a ideia de partilha, o sonho de habitarmos em um mundo em que as pessoas torcem umas pelas outras, que ficam realmente felizes por suas conquistas, que se inspiram verdadeiramente e sinceramente nas imagens de amor compartilhadas. Temo que seja apenas um ideal distante – não sou tola, a exposição desmedida atrai holofotes por vezes perigosos, outras vezes, bem vindos, planejados, comemorados até.

Temos muito o que refletir sobre tudo isso. Às vezes sinto-me constrangida por invadir a intimidade alheia ao abrir meu celular nas redes de interação. Outras vezes, sinto-me privilegiada em acessar recursos tecnológicos que permitem com que eu me sinta tão próxima fisicamente - mesmo sem estar - dos meus familiares que moram em outros países. Tudo isso é realmente incrível. A pandemia veio e essa vida virtual ganhou espaço ainda maior, necessariamente maior. Cedemos todos. Utilizamos as redes para trabalhar, para sonhar, para interagir. E o depois disso tudo? Seremos cada vez mais imersos no mundo da conexão.

De certa forma, penso que estamos todos nos adaptando e aprendendo conciliar a vida real com essa magnífica e potente ferramenta de comunicação que pode trazer incontáveis benefícios de muitas ordens. São as dores e as delícias desse novo universo virtual. Por ora, fico com as delícias dessa interação fantástica que as redes sociais nos proporcionam e sigo refletindo sobre as consequências da exposição de nossas vidas para um sem limite de indivíduos. Não nego, para mim, muitas vezes danosas. Prefiro a liberdade de viver a vida real sem realmente precisar postar nada para ninguém.

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Saco vazio

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Há dias em que a força nos foge. Sentimo-nos, como diz o dito, “Saco vazio que não para em pé”, mesmo tendo nos alimentado. É incrível como nos dias de exaustão os pensamentos escondidos aparecem. Lembramo-nos de cuidar da saúde, valorizamos mais do que nunca uma boa noite de sono, repensamos a qualidade de nossas atividades e pensamos em como damos conta.

Há dias em que a força nos foge. Sentimo-nos, como diz o dito, “Saco vazio que não para em pé”, mesmo tendo nos alimentado. É incrível como nos dias de exaustão os pensamentos escondidos aparecem. Lembramo-nos de cuidar da saúde, valorizamos mais do que nunca uma boa noite de sono, repensamos a qualidade de nossas atividades e pensamos em como damos conta.

 A ausência de pausas, os excessos de compromissos, de afazeres, as demandas incessantes nos tomam dias inteiros e às vezes noites. Há quem encontre plena alegria em viver nessa intensidade de multitarefas, muitas relações interpessoais, muitas funções na sociedade. E, de fato, é deveras um privilégio. Desafio interessante é conciliar tudo isso com os ciclos de descanso e o verdadeiro cuidado com o repositório de energia. Da melhor energia.

No final das contas, como diz um outro dito popular, “Não existe almoço grátis”, o que significa que essa conta uma hora vai chegar. Dia desses estava lendo um depoimento de um notívago e sua produtividade noturna. Além de brincar que a energia da lua era aliada de sua criatividade, desenhou sua rotina da madrugada como sendo altamente revigorante para justificar seu relógio biológico às avessas. Ele é escritor. E o silêncio da madrugada o conecta com seus mais profundos pensamentos.

Dificilmente eu conseguiria. Aliás, quem conseguiria? Realmente é para poucos. Nossa rotina acorda e deita com nossas necessidades básicas de descanso. Não tem muita escapatória. O meu relógio biológico certamente não obedeceria aos comandos todos os dias. Eu, pelo menos, quando não tenho uma noite de sono ideal, luto ao longo do dia para ser a melhor que posso, apesar disso. Apesar de. Não dormir, para mim, é como cobrar a conta durante vinte e quatro horas desse “almoço caro”, é sentir a ausência de forças latente. É lembrar que o bocejo coletivo do dia, começará por mim. Provavelmente puxarei a fila e não conseguirei disfarçar. Até a próxima noite de sono chegar.

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Sopro do tempo

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade.

Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade. Elas chegam e nossas escolhas passarão por estarmos dentro ou fora do mar, condicionarmos nosso fôlego, aprendermos a nadar, aguçarmos nossa sensibilidade para identificarmos eventual perigo, domarmos o espírito aventureiro ou controlarmos o medo.

A onda pode ser uma marola ou chegar com a força de um tsunami, sei lá, quem vai saber? Seja o que for, precisamos estar preparados para as mudanças que podem acontecer no minuto seguinte da vida. E que podem ser ótimas, mesmo se fáceis não forem.

Gosto de comparar a vida com a natureza, pois ao observarmos carinhosamente essa engrenagem divina maravilhosa, nos damos conta de que somos parte de tudo isso e não seus senhores soberanos.

Encarar desafios pode ser um treinamento grandioso de superação. Há um enorme prazer embutido nesse exercício contínuo superarmos a nós mesmos. Quão sem graça seria a existência se a vida fosse um marasmo contínuo do início ao fim. Bom, acredito que isso sequer seria uma opção já que querendo ou não, o dia a dia é repleto de novos desafios.

Por que não acolher cada um deles como uma nova chance, uma oportunidade premiada, um grande negócio a ser feito? Transformar o medo pelo novo por motivação para seu encontro pode ser transformador. Ao invés de vislumbrarmos a muralha amedrontadora que pode estar por vir, podemos escolher avistar o belo oceano na condição mais linda que o universo pode ofertar.

Fácil não é. Mas nossa postura diante de um desafio vai gerar uma energia que pode ser positiva ou negativa, a depender de como estamos acolhendo esse movimento da vida. Abdicações, renúncias, esforço... preparação. Preparar-se para a execução da nova etapa. E durante todo o processo é aconselhável o treinamento do sentimento de gratidão, pois certamente se estamos diante de desafios, é sinal de que estamos vivos e em atividade, o que já merece nosso mais profundo agradecimento.

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O lugar do outro

sexta-feira, 09 de julho de 2021

O lugar do outro te parece confortável? Com o recorte daquilo que se vê, muito pouco ou quase nada de alguém, é possível exercitar ocupar ainda que em pensamentos esse lugar? Com dores, amores e dissabores. Parece fácil ir a um lugar que não é seu e avistar paisagem bonita, jardim frondoso, experiência próspera, ao passo de que se faz muito difícil ir até lá se o terreno lhe parece arenoso, encoberto de tristeza e dor.

O lugar do outro te parece confortável? Com o recorte daquilo que se vê, muito pouco ou quase nada de alguém, é possível exercitar ocupar ainda que em pensamentos esse lugar? Com dores, amores e dissabores. Parece fácil ir a um lugar que não é seu e avistar paisagem bonita, jardim frondoso, experiência próspera, ao passo de que se faz muito difícil ir até lá se o terreno lhe parece arenoso, encoberto de tristeza e dor. E diante disto que é uma certeza, é possível fingir que nada acontece e viver em uma simbólica ilusão de que tudo está bem quando na verdade o caos habita se não nos nossos lares, nos dos vizinhos, nos vizinhos dos nossos vizinhos e por aí vai.

Não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem com você. É tão simples assim como parece? Deveria ser. Comumente vivemos situações embaraçosas, desconfortáveis, angustiantes e sentimo-nos tristes e sobrecarregados. Situações essas que não raras vezes poderiam ter sido evitadas se nossos interlocutores da vida pensassem em evitar fazer às pessoas aquilo que abominariam que impusessem a elas. Seria bem mais fácil.

Mas, se coabitamos o mesmo planeta, talvez todos já tenhamos entendido ou estejamos próximos de compreender, que essa interação de mentes, de gente, de egos e valores, não é tão simples assim. Não é premissa básica uníssona que evitar impor aos outros coisas que detestaria que nos impusessem pode minimizar o sofrimento e o estresse do próximo. É importante até mesmo considerar que múltiplos que somos, não necessariamente partilhamos de dores semelhantes, de modo que às vezes o agir inconsciente atropela qualquer raciocínio sobre o estado de espírito dos receptores de nossas condutas por eles recepcionadas como negativas. E por aí vai.

Carecemos de uma percepção mais inteligente. Emocionalmente mais inteligente, que considere também os outros, a sociedade como um todo e mesmo o planeta. Talvez devêssemos perceber que há questões que de maneira geral ferem, causam transtorno, prejudicam e geram sofrimento. Não é tão difícil supor que determinadas ações magoam, desestabilizam, deixam as pessoas em apuros de várias ordens.

Gostaria muito que fosse tão simples quanto parece. Que escolher ser pessoa leve fosse tudo de que precisássemos para efetivamente estarmos envoltos pela leveza todo o tempo. Às vezes, o é. Mas como não vivemos em uma bolha e nossas energias se entrelaçam com as dos outros o tempo todo, passa a ser uma arte e uma habilidade diferenciada sabermos nos defender da negatividade, da injustiça, da grosseria, da sobrecarga que nos impõem e ainda assim, seguirmos gratos e sem disseminar o mesmo nível de pensamentos, sentimentos e condutas por aí.

           

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