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Como começar um texto?

sábado, 18 de junho de 2022

 Como começar um texto? Às vezes é muito simples, outras, nem tanto. Depende do pensamento que te inspira a compilar esse emaranhado de ideias em algumas palavras. Hoje fiquei refletindo sobre a linguagem, os idiomas diferentes e sua possível interferência no modo de sentir das pessoas.

 Como começar um texto? Às vezes é muito simples, outras, nem tanto. Depende do pensamento que te inspira a compilar esse emaranhado de ideias em algumas palavras. Hoje fiquei refletindo sobre a linguagem, os idiomas diferentes e sua possível interferência no modo de sentir das pessoas.

Sabemos que a palavra saudade nos é própria. Coisa nossa. Mas também parece certo que o sentimento correspondente à saudade é universal. Quase não consigo assimilar um ser humano que não se conecte com esse sentimento. Volta e meia de alguma maneira, me conecto com pessoas cuja linguagem, por ser tão diferente e não familiar, aparenta ser mais fria, menos emocional. Por aqui, convivemos com pessoas que muitas vezes não têm noção sobre as regras de linguagem idiomática, mas que dominam a linguagem corporal e se fazem entender muito bem. Sentindo.

Para muito além do palavreado, a expressão corporal no Brasil diz muito sobre nosso povo. Temos, de maneira geral, uma queda por contato físico. Abraço para nós é algo rotineiro, próximo. As pessoas que às vezes acabam de se conhecer, cumprimentam-se com beijos no rosto – algo deveras íntimo. Nós somos de encostar, de andar de mãos dadas, de tocar no outro enquanto conversamos. Terminamos uma prosa com um “eu te amo”, mandamos beijos pelo telefone, choramos com as estórias dos outros, sorrimos para desconhecidos, partilhamos de emoções de forma única.

Um teste interessante tem a ver com a capacidade que temos de fazer amigos, com a facilidade de interagir em ambientes sociais, com a ausência de barreiras para trocar ideias, fazer perguntas. Obviamente não estou generalizando. Mas se pararmos para pensar, se convivermos com pessoas de culturas muito diferentes, se tivermos a oportunidade de viajar e observar pessoas dos mais diversos lugares, talvez nos aproximemos dessa conclusão.

O contexto pandêmico relativizou muito disso. O afastamento social forçado, a reclusão vivida por muitas pessoas, as máscaras estancando os sorrisos, o medo de transmissão do vírus impedindo o aperto de mãos e, principalmente, por questão de segurança, precaução e responsabilidade, os abraços cederam espaços a olhares, acenos, mensagens no celular. Sem toques. Sem abraços. Sem beijos. Tudo menos, bem menos que antes. Com uma certa desconfiança. Com risco.

E sei lá. Tenho a sensação de que as coisas não voltaram a ser como eram. E nem teria como. Não somos os mesmos. E a pandemia ainda não acabou. Mas a saudade segue, e ao que parece, maior, mais inflada. Da mesma forma o amor.

Amor é sentimento universal, mas creio que as formas de amar, as demonstrações desse amor, sofrem interferência direta com o lugar em que vivemos, a forma como somos criados e educados e até mesmo da linguagem. Assim, imagino que seja a tristeza, a frustração, a melancolia, a alegria, a satisfação e muitos outros sentimentos. Mas há algo que eu acho que realmente seja universal, que não podemos mudar, não podemos interferir, não podemos criar fórmulas para controlar – ninguém pode: o tempo.  Sobre ele, já diria Cazuza, não pára. Aproveitemos, pois. Isso sabemos fazer.

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Elos

sexta-feira, 10 de junho de 2022

O poder de um bom exemplo é inestimável, sobretudo quando advém de um fluxo sincero de querer bem, de fazer o bem.  Por muitas razões. Fomenta uma esperança de dias melhores. Relembra que ainda há o bem despretensioso entre nós. Que podemos nos salvar uns aos outros. Não sei se acontece com vocês, mas por vezes, quando me sinto parte dessa onda positiva, chego a me emocionar. Como se não fosse possível. Ou pela raridade que consigo perceber. Realmente está difícil estimar por dias melhores. Ver a luz entrando. Portar boas notícias para a sociedade.

O poder de um bom exemplo é inestimável, sobretudo quando advém de um fluxo sincero de querer bem, de fazer o bem.  Por muitas razões. Fomenta uma esperança de dias melhores. Relembra que ainda há o bem despretensioso entre nós. Que podemos nos salvar uns aos outros. Não sei se acontece com vocês, mas por vezes, quando me sinto parte dessa onda positiva, chego a me emocionar. Como se não fosse possível. Ou pela raridade que consigo perceber. Realmente está difícil estimar por dias melhores. Ver a luz entrando. Portar boas notícias para a sociedade. Mas o trabalho “de formiguinha”, de contribuir com uma parte, de ser sorriso em meio ao caos, também pode ser poderoso, sobretudo se for compromisso de um número cada vez maior de pessoas.

É importante nutrirmos a chama da esperança acesa. Essa esperança que a gente tem ou teve um dia, pura e genuína, que nos inspira a acreditar em tudo outra vez. “Prima-irmã” da fé de que tudo vai dar certo. É dela que estou falando, não de uma ilusão. Infelizmente não existe o gênio da lâmpada capaz de resolver todos os pedidos desejados como em um toque de mágica. As mudanças devem partir de nós. E a onda positiva desempenha seu papel de extrema relevância.

Os noticiários convencionais nos dão conta de que vivemos uma ruína social. Não raras vezes sentimo-nos desestimulados a fazermos nossa pequena parte. Por outro lado, precisamos gerir as oportunidades que nos chegam de fazer o certo, de promover a diferença, de incentivar pessoas. Ainda que assimilemos que somos nós os reais propulsores e entusiastas das mudanças, mesmo que acreditemos que um passo por vez é que constrói o caminho, não vivemos sós. Não somos sós. Precisamos integrar um todo em constante evolução, com perspectivas reais de melhoras.

E não para por aí. Nossas demandas são tão gigantescas e profundas, que se torna muito difícil inclusive direcionar os rumos das boas práticas, como se fossem obrigações sem foco, daquelas que sobrecarregam e não surtem efeitos, levando à alguma frustração e poucos resultados. Ainda que sejam absolutamente necessárias as grandiosas ações coletivas, que se concretize algum dia a utopia de que o Poder Público em sentido amplo se apodere das suas missões constitucionais e institucionais, é inegável a força que o trabalho “de formiguinha” tem um poder inenarrável.

O bem sendo o bem, praticado naturalmente, desde as pequenas coisas. As falas que consagram um otimismo. Os estudos que incrementem o saber para o bem. Os exemplos valorosos que inspiram, ajudam, contribuem. O respeito cotidiano. O orgulho por fazer o bem, por fazer o certo, por ser certo, por conceber uma escala de valores em que agir de forma correta seja prioridade. Há esperança de que essa onda pegue. Sejamos elos dessa corrente. Não o mais fraco, que se rompe. Mas o incorruptível.

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Semente de mãe

sexta-feira, 03 de junho de 2022

Aprendi que devemos apreciar o belo sempre, em toda em qualquer circunstância e contexto. Aprendi também que o próprio conceito de belo transcende o seu significado. Não me refiro ao belo do dicionário puramente. Sempre associei a verdadeira beleza às flores. Desde muito cedo, ensinaram-me a contemplar as coisas da natureza. Aprendi com minha mãe. Ela é capaz de acompanhar o movimento de uma formiguinha, o brotar de uma flor, os passos do passarinho filhote na grama e a expectativa do seu voo. Ela sempre foi capaz de vibrar pelo seu voo.

Aprendi que devemos apreciar o belo sempre, em toda em qualquer circunstância e contexto. Aprendi também que o próprio conceito de belo transcende o seu significado. Não me refiro ao belo do dicionário puramente. Sempre associei a verdadeira beleza às flores. Desde muito cedo, ensinaram-me a contemplar as coisas da natureza. Aprendi com minha mãe. Ela é capaz de acompanhar o movimento de uma formiguinha, o brotar de uma flor, os passos do passarinho filhote na grama e a expectativa do seu voo. Ela sempre foi capaz de vibrar pelo seu voo. Ela sabe quando a mãe dele está por perto e entende como se relacionam. Conhece ao olhar o céu a cadência do tempo. Pode até prever se vai chover, de onde vem os ruídos dos trovões. E quando chove, consegue entender a maravilha que aquela água pode promover no solo seco.

Acho que esse hábito de olhar para mato, de gostar de ouvir cigarra cantando, de ficar quietinha observando o pica pau na árvore “sem dar um pio” para ele não se assustar, de descer o morro com os pés virados para não escorregar, andar com uma varinha na mão, de admirar árvore, de conseguir passar horas olhando para o mar, de cuidar de pedra, secar folhinha no caderno, de vigiar casulo de lagarta se transformando em borboleta, de colher moranguinho, abrir a janela do carro para respirar o ar puro da serra, brincar de cestinha de flores, ouvir macacos gritando no alto da floresta, beber água de nascente, esperar as estrelas caírem dos galhos, de respeitar as coisas da natureza, foi semente que ela plantou em mim.

Aprendi, depois, por meio dos ensinamentos de um grande Mestre, que além de contemplar, eu deveria praticar o belo, trazer para o dia a dia a apreciação da arte, as flores para os ambientes. E cuidar do meu interior, para que me aproximasse o máximo possível de uma existência bela. Pragmatizar a beleza de dentro para fora. A beleza das ações. O preenchimento de sentido. A gentileza. O servir ao próximo.

Praticando esse olhar mais apurado no cotidiano, sinto que aos poucos vou polindo essas percepções. E percebi que quanto mais aprimoramos, mais percebemos nossa distância do ápice desse belo, pois a grande descoberta consiste na crença de que há beleza infinita. E essa beleza não está apenas no que podemos ver, apreciar, experienciar. O belo deve estar também na forma com que nos portamos, nas nossas palavras, no respeito com que tratamos os outros, na ética no ambiente de trabalho (e na vida!), na educação, no trato com as pessoas, no seio das famílias.

Entendi que o belo não é uma capa superficial bonita. O belo é em si a essência, a harmonia entre um coração capaz de amar, a intenção e a prática do bem e o cuidado com a verdadeira beleza no sentir, pensar e agir.  Ensinaram-me muito sobre o belo. Todo o resto, não puderam me ensinar, pois eu tinha de vivê-lo.

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Gente como a gente

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Adoro gente de verdade. Gente cujo conteúdo é real, cujo comportamento é compatível com a fala. Você olha e vê, tem um quê de transparência. Gente que ri, que chora, acerta e erra, que reconhece o tropeço e que perdoa. Que trabalha duro, preconiza  a dignidade, diz a verdade. Que sofre e sente, que vibra e comemora, abraça, acolhe. Esse tipo de gente. Gente que entende quando você diz que está cansado. Que se coloca no lugar do outro. Que sabe a hora de falar e a hora de calar. Que sabe ouvir.

Adoro gente de verdade. Gente cujo conteúdo é real, cujo comportamento é compatível com a fala. Você olha e vê, tem um quê de transparência. Gente que ri, que chora, acerta e erra, que reconhece o tropeço e que perdoa. Que trabalha duro, preconiza  a dignidade, diz a verdade. Que sofre e sente, que vibra e comemora, abraça, acolhe. Esse tipo de gente. Gente que entende quando você diz que está cansado. Que se coloca no lugar do outro. Que sabe a hora de falar e a hora de calar. Que sabe ouvir. Gente que compreende um “não”, que reconhece o poder do sonho, que decodifica o sorriso de lado, que percebe a lágrima de canto de olho, que ensina e que aprende com as lições.

Gosto de gente com problemas, com angústias a serem trabalhadas, com dúvidas existenciais. Gente com espírito de busca, que busca crescer, que valoriza viver. Gente que respeita a religião dos outros, a opinião dos outros,  as escolhas de todos, que respeita as leis. Gente que respeita pessoas, meio ambiente, sociedade, diferenças, individualidades. Gente que respeita e ponto.

Gente gentil, que sabe sorrir com os olhos e gargalhar tanto até a barriga doer. Gente que se dói com a dor do outro, que luta pela igualdade, que ama sem limites. Gente que manda a mensagem errada na hora errada, que encaixa as palavras certas na hora certa, que tropeça mas não cai, que planeja a vida inteira ao mesmo tempo em que é instado a desenvolver o dom do improviso. Que curte o melhor restaurante, mas que sabe viver bem com a sobra do almoço que tem em casa. Gente que divide o que tem. Que olha para o outro. Que pensa na coletividade. Que se doa, que compartilha, que evolui e faz evoluir. Que preza pela honestidade, que planeja viagem, que quebra a cara. Gente resiliente, que apesar de todos os pesares, enfrenta as adversidades e ainda consegue confraternizar com o amigo no final do dia. Gente paciente que entende que as coisas têm um tempo certo e que ninguém é igual a ninguém. E que tudo tem um lado bom.

Gosto dessa gente que insiste em ser otimista, que valoriza o solo que pisa, que honra o trabalho. Gente amiga, gente família. Gente imperfeita. Gosto de gente acolhedora, gente de verdade, gente como a gente.

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Quebra-cabeças

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Muito já ouvi falar que para a construção de uma obra nova, devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal e promover as adaptações que se fizerem necessárias. Na verdade, essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.

Muito já ouvi falar que para a construção de uma obra nova, devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal e promover as adaptações que se fizerem necessárias. Na verdade, essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.

Passamos muito tempo de nossas vidas construindo ideias sobre os outros. E o tanto que nos enganamos é algo grandioso. Creio que não somos tão bem-sucedidos nessas obras. Inevitavelmente, nos equivocamos. Erramos o cálculo. Confundimos a perspectiva. Mudamos o projeto.

Seres humanos não são esse tipo de projeto que elaboramos com técnica. Somos, na verdade, uma obra sempre inacabada e complexa. Imperfeita por natureza. Em evolução (ou involução). O projeto é de vida e não há nada mais pessoal do que isso. O outro, por mais perito no assunto que seja, não pode precisar com exatidão o que acontece no interior da obra, nem apresentar soluções lapidares.

Esse terreno – que somos nós – não está descoberto a ponto de desvendarmos seus desníveis pelo olhar. Tem até areia movediça por baixo do mato verde. Tem de tudo, como se diz.

Investimos preciosos minutos de vida construindo uma imagem do outro. Supondo coisas. Julgando e prejulgando pelo pouco que conhecemos a seu respeito. Por isso o culto reverenciado pela imagem. Nem sempre a real. Quase sempre a projetada. A que pode ser vista. Isso é uma grande tolice, pois ao construirmos pessoas fictícias em nosso imaginário, empenharemos o dobro de energia para desconstrui-las, pois comumente erramos as análises. Os outros não são o que pensamos deles. Os outros são o que são.

Seria interessante se aceitássemos que o jogo começa com as peças do quebra-cabeças desmontadas, para então, com o tempo pudéssemos aprofundar e conhecer a imagem real que será formada. Daria menos trabalho e as surpresas talvez fossem mais prazerosas. Ou mais reais.

Mania estranha essa de querermos jogar um jogo ganho. Imagens preestabelecidas. Vencedores determinados. E no final das contas, a frustração da decepção. O girassol que eu estava montando no meu quebra-cabeças não passa de uma forma geométrica e sem sentido. Uma bola amarela. E vice e versa. Quantos girassóis deixamos de descobrir no meio do jogo justamente por superficialmente só enxergarmos a bola amarela. Sem essência. Forma e não flor.

Desconstruir é preciso. E se tivermos ânimo, reconstruir. Não sei se me fiz entender. Mas também não é preciso. Referenciando mais uma vez Clarice Lispector: “ não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”. Não me preocupo, pois.

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Comprometimento

sexta-feira, 13 de maio de 2022

“E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que se conseguir fazer.” Lya Luft.

Sim. Que o melhor seja feito dentro das possibilidades existentes. E que novos horizontes ampliem as possibilidades para que mais bem feito ainda possa ser feito adiante.

“E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que se conseguir fazer.” Lya Luft.

Sim. Que o melhor seja feito dentro das possibilidades existentes. E que novos horizontes ampliem as possibilidades para que mais bem feito ainda possa ser feito adiante.

Os perfeccionistas de plantão sabem que não dar conta de fazer o que se quer, da forma como se deseja, dói. E as vezes não é pouco. Uma sensação de impotência pode brotar de forma mais simples do que um pé de feijão que nasce do caroço deixado no copo com algodão úmido. (Aliás, aqui vale uma digressão...saudosos tempos em que fazíamos experiências como essa e víamos o milagre acontecer sob nossos olhos.)

São muitos os relatos de pessoas que se sentem constantemente exaustas e sobrecarregadas e muitas vezes a razão disso reside justamente no acúmulo de tarefas que pretendem desempenhar de forma impecável. É seguro afirmar que pessoas com esse perfil podem aliar a satisfação pelo desempenho escorreito de suas funções na vida com uma bagagem pesada de cansaço.

E o bonito dessa história é perceber que ainda assim, continuam se esforçando para honrar os compromissos assumidos da melhor maneira com que podem fazer. Dando o melhor de si, não param de descobrir caminhos de expansão interna. Vem o prazer da satisfação, do mérito plantado pelo esforço. O movimento é de dentro para fora e não o contrário. Quanta gratidão das pessoas é colhida pela doação do melhor que se pode oferecer e fazer pelo outro? A felicidade que dessa experiência advém é algo que não tem como valorar.

Mas o ponto curioso, a meu ver, é que ser “certinho”, além de rótulo esquisito, virou tratamento pejorativo, quando não adjetivo empregado com intuito de desmerecer alguém. Chegar na hora do compromisso passou a ser estranho. Cumprir prazos. Dedicar-se para alcançar os objetivos estabelecidos. Olhar para o outro. Ajudar as pessoas, então! Virou coisa de gente chata e fora do padrão.

Em um momento de tanta fluidez, tempo corrido, agendas lotadas, demanda social, interação, inchaço nas relações, ser pessoa cumpridora das regras que ainda assim se esforçam para priorizar o comprometimento, não deveria ser elogio?

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A começar por agora

sexta-feira, 06 de maio de 2022

Caminhamos anos à fio tecendo emendas de sabedoria. Ou melhor, buscando. Dizem que o avançar da idade tem isso de bom, a experiência um tanto convolada em saber. Mas devemos convir que algumas situações têm o condão de ensinar de forma intensa. O sofrimento, a despedida, a demissão, a separação, a perda etc, etc, etc. Creio que momentos que demandam alto grau de superação assemelham-se aos cursos intensivos, daqueles cujo principal desafio é aprender muitas coisas em pouco tempo. Funciona. Não sei quanto aos cursos, mas quanto à vida, invariavelmente há de surtir efeitos.

Caminhamos anos à fio tecendo emendas de sabedoria. Ou melhor, buscando. Dizem que o avançar da idade tem isso de bom, a experiência um tanto convolada em saber. Mas devemos convir que algumas situações têm o condão de ensinar de forma intensa. O sofrimento, a despedida, a demissão, a separação, a perda etc, etc, etc. Creio que momentos que demandam alto grau de superação assemelham-se aos cursos intensivos, daqueles cujo principal desafio é aprender muitas coisas em pouco tempo. Funciona. Não sei quanto aos cursos, mas quanto à vida, invariavelmente há de surtir efeitos.

 O existir por si só requer além de uma coragem intrínseca, algum nível de sabedoria. Quando só existe dificuldade, parece que a vida trabalha para preparar um novo momento. E ele chega. Ora, se tratarmos essa realidade como uma verdade, cientes de que coisas boas sempre estão por vir, de uma forma ou de outra, por que não sermos gratos desde então? Sem esperar o dia de amanhã. Pode ser tarde demais.

A gratidão é um sentimento que nos liga à força divina, ao supremo, ao universo, àquilo que transcende à visão humana e, para aqueles que creem nessa força resguardo a titulação respectiva. Penso que exalar esse sentimento nos resguarda de um monte de maus acontecimentos. Como se o imponderável carecesse desse voto de confiança. Como se o presságio das boas novas estivesse umbilicalmente ligado ao ato de sermos gratos a tudo e a todos, em qualquer circunstância.

Certa vez um senhor que atravessava sérios problemas com, em uma daquelas conversas em que muito ouvimos e pouco falamos, contando suas experiências de vida (e de fé) explicou-me a sua fórmula da longevidade com qualidade de vida. E desde então esforço-me para seguir treinando o seu exemplo. O primeiro “obrigado” é proferido pela manhã, ao acordar. Estar vivo já é uma dádiva que merece ser contemplada durante todo o dia. Ao abrir os olhos e perceber a possibilidade de enxergar a luz do Sol, o segundo “obrigado” do dia. Ao pisar, perceber que pode se locomover, que seus órgãos funcionam, mais muitos gestos de gratidão são proferidos. E por assim dizer – e viver – sua história simples pôde conquistar o patamar de exemplo. Pelo menos para mim.

Ser resiliente e grato é perceber que os pés doem, mas que podemos andar. Que a coluna não está lá “ grande coisa”, mas que sustenta com maestria esse corpo que nos reveste. Que o dia de hoje pode não ser perfeito, mas que é o presente concebido e não pode ser desperdiçado. Que os sonhos não foram realizados da forma como queríamos, mas que temos força para batalhar. E por aí vai.

Sentir gratidão nesse nível é uma questão também de treinamento. Gratidão gera gratidão. A corrente ganha força e a energia do contentamento, da aceitação, da felicidade se expandem. Coisa chata é essa atmosfera de reclamações por todos os cantos, o dia inteiro. Se chove, está ruim. Se faz calor, piora. Se tem emprego, reclama. Se o perde, piora. Coisas assim. Como mensurar a dimensão da força que pode alcançar essa energia massiva de milhares de pessoas reclamando de tudo o tempo todo? Que bom seria se o mesmo empenho em lamuriar fosse empregado em agradecer em qualquer conjuntura. Não quero caminhar com esforço ao longo de uma vida inteira e lá na frente perceber que o passado foi o melhor presente que me fora dado, aquele clássico sentimento de que “ era feliz e não sabia”. Não quero perder minha vida para a ingratidão. Ser grato é questão de escolha. Uma ótima escolha. A começar por agora.

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Pétalas

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Ofereça flores. Em uma pétala, pode haver o mundo inteiro. O mundo de alguém. Existindo por aí, interagindo com as pessoas, olhando as multidões, percebendo o cotidiano, não podemos alcançar com nossos olhos o que está por trás dos olhos daquelas pessoas. O mundo delas. Seus problemas, seus sonhos, seus amores, suas dificuldades. É uma imensidão inalcançável.

Ofereça flores. Em uma pétala, pode haver o mundo inteiro. O mundo de alguém. Existindo por aí, interagindo com as pessoas, olhando as multidões, percebendo o cotidiano, não podemos alcançar com nossos olhos o que está por trás dos olhos daquelas pessoas. O mundo delas. Seus problemas, seus sonhos, seus amores, suas dificuldades. É uma imensidão inalcançável.

Mas se tem algo que venho aprendendo, é que de uma maneira geral, as histórias por trás das faces não costumam ser fáceis. Tantas vezes vi belos sorrisos e com alguma conversa e um pouco de sensibilidade percebi o tamanho da dor que as pessoas escondiam por trás daquele generoso e gentil esforço em sorrir. Quantas vezes eu disfarcei momentos difíceis utilizando o subterfúgio mais prático do qual podemos lançar mão quando não desejamos despertar a preocupação do outro – o sorriso?

Felizmente a vida sempre me deu muito mais razões para sorrir do que para chorar. E pela abundância de oportunidades que recebi e recebo diariamente, tento optar por oferecer a melhor versão desse recurso maravilhoso que Deus nos deu no meio do rosto. E assim escolho disfarçar um dia difícil, o cansaço extremo, uma notícia inesperada. Não por não ser transparente, mas por acreditar que o esforço gera luz. Inclusive esse estímulo em tentar sorrir para a vida em qualquer circunstância.

É como um ciclo, o primeiro sorriso atrai o próximo, que puxa o seguinte, que recompensa com a retribuição de alguém, que muda a vibração de tudo e que, quando percebemos, já nos tomamos pela energia do sorriso, de quem é grato pela vida e deseja apresentar para o mundo a melhor versão de seu estado de espírito.

E as flores? Então..., convido o leitor para uma experiência nada científica, porém que dá muito certo na prática. Já fiz o teste e é hors concours. É assim: quando alguém estiver triste, enfrentando uma doença, encarando uma fase de luto, passando por muitos problemas, vivenciando preocupações, sentindo-se carente, precisando de afeto e carinho (ou seja, quase todas as pessoas que conhecemos), ofereça uma flor para ela. Pode ser uma única flor. Não precisa ser o jardim inteiro: mas, empregue nela o sentimento do jardim inteiro, do jardim de amor, perdão, compaixão, beleza, união, superação, fraternidade e principalmente, de gratidão. Coloque ali o desejo de que a vida seja tão bela quanto a flor. A alquimia é perfeita. A flor, obra-prima da arte divina, e o seu sentimento, sua intenção de levar felicidade a alguém.

O resultado dessa magia é uma flor de luz que pode transformar a vida de alguém, a começar pela sua, assim como muitas vezes transforma a minha. Por isso digo e repito, na dúvida, ofereça uma flor com o melhor dos sentimentos. Ela harmoniza lares, aquieta mentes, embeleza vidas, enriquece relações, alegra as pessoas. Tem um poder grandioso.

A importância desse gesto pode ter um valor inestimável na vida de alguém, e render belos sorrisos. De dentro para fora. Da alma.

Assim, garanto, uma flor de luz pode mudar o mundo de alguém. Nem que seja por alguns instantes...

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A tal da empatia

sábado, 23 de abril de 2022

Empatia: no dicionário é definida como a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria; compreensão. Você tem a habilidade da compreensão? O lugar do outro te parece confortável?

Empatia: no dicionário é definida como a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria; compreensão. Você tem a habilidade da compreensão? O lugar do outro te parece confortável?

Apenas com o recorte daquilo que se vê, muito pouco ou quase nada de alguém, é possível exercitar ocupar, ainda que em pensamentos, esse lugar? Com dores, amores e dissabores. Parece fácil ir a um lugar que não é seu avistar paisagem bonita, jardim frondoso, experiência próspera, ao passo de que se faz muito difícil ir até lá se o terreno lhe parece arenoso, encoberto de tristeza e dor. E diante disto que é uma certeza, é possível fingir que nada acontece e viver em uma simbólica ilusão de que tudo está bem quando na verdade o caos habita se não nos nossos lares, nos dos vizinhos, nos vizinhos dos nossos vizinhos e por aí vai.

Você conseguiria ainda exercitar a empatia imaginando a dor de quem não ama? Me parece mais simples compreendermos pelo amor, entendermos melhor quem gostamos, nos colocar nos lugares das pessoas queridas. E dos demais? E quanto aos estranhos, aqueles sobre os quais nada sabemos, com quem nunca trocamos, que nada têm a nos oferecer? Conseguimos nos colocar em seus lugares? Alcançamos a dor de um filho que perde um pai? De um colega que perde o emprego? De uma pessoa enferma no leito de um hospital? De alguém que se separa? Que sofre de uma doença psíquica? Que se sente só? Destilamos atos de compreensão por todos ou seguimos com uma bondade seletiva que pouco ou nada vê além de nós mesmos?

Não faça aos outros, aquilo que não gostaria que fizessem com você. É tão simples assim como parece? Deveria ser. Comumente vivemos situações embaraçosas, desconfortáveis, angustiantes e sentimo-nos tristes e sobrecarregados. Situações essas que não raras vezes poderiam ter sido evitadas se nossos interlocutores da vida pensassem em evitar fazer às pessoas aquilo que abominariam que impusessem a elas. Seria bem mais fácil.

Mas, se coabitamos o mesmo planeta, talvez todos já tenhamos entendido ou estejamos próximos de compreender, que essa interação de mentes, de gente, de egos e valores, não é tão simples assim. Não é premissa básica uníssona que evitar impor aos outros, coisas que detestaria que nos impusessem, pode minimizar o sofrimento e o estresse do próximo. É importante até mesmo considerar que sendo múltiplos, não necessariamente partilhamos de dores semelhantes, de modo que às vezes o agir inconsciente atropela qualquer raciocínio sobre o estado de espírito dos receptores de nossas condutas por eles recepcionadas como negativas.  E por aí vai.

Carecemos de uma percepção mais inteligente. Emocionalmente mais inteligente, que considere também os outros, a sociedade como um todo e mesmo o planeta. Talvez devêssemos perceber que há questões que de maneira geral ferem, causam transtorno, prejudicam e geram sofrimento. Não é tão difícil supor que determinadas ações magoam, desestabilizam, deixam as pessoas em apuros de várias ordens.

Gostaria muito que fosse tão simples quanto parece. Que escolher ser pessoa leve fosse tudo de que precisássemos para efetivamente estarmos envoltos pela leveza todo o tempo. Às vezes, o é. Mas como não vivemos em uma bolha e nossas energias se entrelaçam com as dos outros o tempo todo, passa a ser uma arte e uma habilidade diferenciada sabermos nos defender da negatividade, da injustiça, da grosseria, da sobrecarga que nos impõem e ainda assim, seguirmos gratos e sem disseminar o mesmo nível de pensamentos, sentimentos e condutas por aí.

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Um bom favor

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Maria circulava por aí. Todo santo dia, mil tarefas por fazer, atividades de não dar conta, alguma energia vital, e a vontade de fazer dar certo. Seu simples viver dentro da normalidade a intrigava por uma razão: ela não conseguia compreender a razão de alguém sempre exigir-lhe recompensas por alguma coisa ou indagar-lhe sobre seus interesses pelos feitos. Ela sequer conseguia explicar, mas relatava o que lembrava.

Maria circulava por aí. Todo santo dia, mil tarefas por fazer, atividades de não dar conta, alguma energia vital, e a vontade de fazer dar certo. Seu simples viver dentro da normalidade a intrigava por uma razão: ela não conseguia compreender a razão de alguém sempre exigir-lhe recompensas por alguma coisa ou indagar-lhe sobre seus interesses pelos feitos. Ela sequer conseguia explicar, mas relatava o que lembrava.

Certo dia, em seu trabalho, no executar normal de sua função, precisou se debruçar um pouco mais sobre algumas questões para entregar um resultado melhor a um cliente, cujo caso era menos rotineiro e mais complexo. O fez por dever de ofício, responsabilidade e intenção de solucionar a demanda. Ao terminar o serviço, aliviada e com sorriso no rosto, informou que tudo estava dentro da conformidade e finalizou a demanda. Eis que um colega, em sequência, indagou-lhe se aquele cliente era alguém importante a merecer tamanho empenho e exclamou que agora ele lhe devia um bom favor. Ela, que sequer havia pensado nisso, manteve-se calada e pôs-se a refletir.

Outro dia, ao se deslocar de carro, percebeu que o pneu estava furado. Encostou o veículo e em seguida, foi ajudada por uma pessoa do bairro que vinha logo atrás. Com o auxílio, sentiu-se aliviada e grata. Simpatizou-se com aquele que havia trocado seu pneu, e antes mesmo de perguntar como poderia retribuir a gentileza, ele afirmara em tom de brincadeira: “- você me deve essa, vou aparecer para cobrar.” Rindo, ela respondeu que sim. E seguiu.

Coisas assim aconteciam todos os dias, desde gestos brandos a propostas absurdas. Existir fazendo a coisa imputada como certa já lhe colocaria em posição de credora e também de desconfiança, afinal, qual a necessidade de dedicar-se tanto sem querer nada em troca? Começou a reparar, então, como parte da sociedade se coloca, talvez de forma inconsciente, sobre um tabuleiro de jogo, em que ganhar vantagens, dever favores, passar a frente, eliminar adversários, somar pontos passa a incorporar o cotidiano. Esse jogo, Maria, simplesmente, não queria jogar.

Ela queria que sentir gratidão bastasse, que dever comprometimento fosse o necessário e conviver com cooperação, harmonia, sensibilidade e responsabilidade fosse regra e não exceção. Sentiu-se a “estranha no ninho”, o “peixe fora d´água”, o “patinho feio”. E conformou-se. E resistiu. Segue circulando por aí e esforçando-se em suas mil atividades, sem interesses escusos. Prefere um olhar grato. E lhe basta.

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