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Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher

sexta-feira, 03 de dezembro de 2021

Caros leitores, me permitam hoje abordar um assunto importante de uma forma um pouco diferente da usual. Como mulher, cidadã e profissional do Direito, sinto-me no dever de abordar um assunto sério neste espaço, sobretudo ante os números de casos em nossa cidade. O intuito é informar e chamar atenção para a necessidade de evolução enquanto sociedade. O tema é violência doméstica e familiar contra a mulher.

Caros leitores, me permitam hoje abordar um assunto importante de uma forma um pouco diferente da usual. Como mulher, cidadã e profissional do Direito, sinto-me no dever de abordar um assunto sério neste espaço, sobretudo ante os números de casos em nossa cidade. O intuito é informar e chamar atenção para a necessidade de evolução enquanto sociedade. O tema é violência doméstica e familiar contra a mulher.

E para esclarecer alguns pontos chaves sobre o complexo tema, convidei a advogada criminalista e mestranda em Direito pela Uerj, dra. Amanda Estefan, para uma entrevista especial que você confere a seguir. Rendemos nossos sinceros agradecimentos à dra. Amanda Estefane e esperamos ter contribuído e alertado a todos sobre a importância de enfrentarmos o tema e combatermos este tipo de violência.

O que é violência doméstica e familiar contra a mulher?

A violência contra a mulher ocorre por questões de gênero, ou seja, agride-se por ser mulher. De acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, configura-se violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada. O nosso cenário social ainda é dominado por uma cultura patriarcal, na qual a figura do homem é alocada acima das mulheres, em vez de ao lado, o que os leva, muitas vezes, a atitudes agressivas e de dominação. Nas palavras de Rita Segato, “O patriarcado é um sistema político de tão longa duração que poderia ser chamado de ‘era’ ”.  O contexto é agravado, ainda, pela significativa desigualdade patrimonial entre homens e mulheres, que conduz à dependência financeira. Somado a esses fatores, a sociedade, em geral, tem uma inclinação a desconsiderar fatores violentos e criar enredos que justifiquem internamente determinados fatos criminosos. No Brasil, a violência de gênero ainda funciona dentro de um contexto de justificação.

Como se combate a violência contra a mulher?

Há inúmeros caminhos que podem ser seguidos. Mas, definitivamente, um passo importante para o combate à violência de gênero é a identificação do que é uma agressão. Isso porque muitas mulheres, ao longo da vida, permanecem em relacionamentos abusivos sem que percebam a condição de violência na qual estão inseridas. Identificar comportamentos agressivos é salutar para que as medidas cabíveis sejam tomadas e que a mulher possa pedir auxílio e buscar redes de apoio. No contexto político, é importante que nossos representantes busquem meios de eliminar a violência contra a mulher através de ações e estratégias relativas à temática.  Em 25 de novembro, celebra-se o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, importante ocasião para relembrarmos o compromisso que deve ser firmado por todos nós.

Qual é o amparo jurídico para essas situações?

No Brasil, há um grande marco para a luta contra a violência doméstica e familiar contra a mulher: a promulgação da lei 11.340/2006, notadamente conhecida como Lei Maria da Penha, que criou mecanismos para coibir e prevenir esta prática, como, por exemplo, a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Em seu artigo 7º, define-se, de forma exemplificativa, os seguintes tipos de violência que podem ser sofridos: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. É muito importante falarmos sobre todas as formas de violência, com especial atenção às de cunho psicológico, pois são, muitas vezes, interpretadas como fatos atípicos do cotidiano. Diante da sua subjetividade, muitas mulheres são vítimas desse tipo de violência sem que tenham a percepção dos danos sofridos. A lei traz como definição da violência psicológica ser qualquer conduta que cause dano emocional, diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher, ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir.

O que fazer quando for agredida?

Do ponto de vista jurídico, há delegacias de atendimentos à mulher (Deams), especializadas nesse tipo de crime. No local, a mulher poderá requerer a decretação de medidas protetivas de urgência (artigo 19 da Lei Maria da Penha), sem a necessidade da presença de um advogado, a fim de resguardar sua integridade. Além disso, as Defensorias Públicas também dispõem de núcleos especializados para atendimentos de mulheres vítimas de agressões, na forma do artigo 28 do mesmo diploma legal. Em alguns casos, os Juizados Especiais de Violência Doméstica contra as Mulheres contam com uma equipe de atendimento multidisciplinar, integrada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Nesses casos, buscar uma rede de apoio é fundamental para que a mulher possa seguir em frente, devidamente amparada.

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Desapegar-se

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Desapegar-se. Verbo simples. Prática difícil. Nada simples, porém muitas vezes, necessária. É preciso ter o pulso firme e o coração leve para não nos prendermos demasiadamente a tudo e todos que têm valor para nós.

Ouvi dizer que o apego ofusca a luz, como se embaçasse a clareza que pudesse existir. Senti também. É verdade, o apego atrapalha, amarra, atravanca, pesa. Sentimento estranho e mal aplicado, por assim dizer.

Desapegar-se. Verbo simples. Prática difícil. Nada simples, porém muitas vezes, necessária. É preciso ter o pulso firme e o coração leve para não nos prendermos demasiadamente a tudo e todos que têm valor para nós.

Ouvi dizer que o apego ofusca a luz, como se embaçasse a clareza que pudesse existir. Senti também. É verdade, o apego atrapalha, amarra, atravanca, pesa. Sentimento estranho e mal aplicado, por assim dizer.

Apego é diferente de amor. Diferente de querer. Diferente de zelo. Apego é apego e ponto. Nós sabemos do que se trata e convivemos bastante com esse sentimento.

Há quem lute por uma vida mais livre de apegos, seja aos sentimentos, às pessoas, às coisas, à posição social, ao emprego, à matéria. Levante a mão quem se identifica com esse ato de verdadeira coragem que é buscar um caminho com mais desapego e leveza.

Sei o quão dolorida e difícil é uma existência pautada no apego arraigado à alma. Dóem os ombros só de pensar. Dói a nuca também. E a têmpora direita. Sei o quanto a leveza de desapegar-se aos poucos dos excessos que encobrem o dia a dia é libertadora. E faz bem à saúde, diga-se de passagem.

Atualmente muito tem se falado nas práticas minimalistas, em valorizar um estilo de vida com menos acúmulo, menos barulho, menos objetos e mais espaço para o ar circular. Menos coisas e mais verde, mais contato com a natureza. Tenho percebido como essa tribo está ganhando integrantes. A galera que está valorizando mais o ser do que o ter, mais o tempo do que uma conta bancária recheada às custas de dias e noites de incessante trabalho, andando em corda bamba contra o fluxo do materialismo. Dá gosto de ver. E me parece um processo de desapego também. Desapegar-se do velho mundo e buscar um novo, o seu próprio mundo, mais próximo da verdadeira essência.

Essa reviravolta no meio da vida, esse desapego de tantas coisas e muitas vezes do próprio ego é um processo dos mais bonitos que tenho presenciado. Mas ainda assim, talvez não dê tão certo se não for bem delineado, se não contar com pitadas de sabedoria e um tanto de planejamento. O desapego é bom, traz leveza, mas para muitos, é um treinamento novo, sem precedentes e difícil de lidar. Ainda assim, vale a pena sentir e conhecer melhor o verdadeiro significado do desapego.

Como bem disse a escritora Martha Medeiros: “longa vida aos que conseguem se desapegar do ego e ver a graça da coisa.”

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Quatro anos com a palavra

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

A data de aniversário passou, mas faço questão de registrar. Quatro anos. Sem pausas. Este é o tempo em que tenho a honra de assinar semanalmente esta coluna “Com a palavra”, publicada todas as sextas-feiras aqui em A VOZ DA SERRA. E o faço com muito orgulho.

A data de aniversário passou, mas faço questão de registrar. Quatro anos. Sem pausas. Este é o tempo em que tenho a honra de assinar semanalmente esta coluna “Com a palavra”, publicada todas as sextas-feiras aqui em A VOZ DA SERRA. E o faço com muito orgulho.

Mas a minha história com o jornal começou muito antes. Eu diria até que o início desta relação se deu literalmente no dia do meu nascimento. Mas esta parte da prosa vou deixar para um outro dia. Sou leitora assídua do jornal antes de qualquer coisa. Sempre li o jornal impresso e depois que passamos a receber as edições também virtualmente, conseguia ler todas elas. Eu gosto. A VOZ DA SERRA me remete à minha cidade, me conecta a Nova Friburgo, ao nosso universo, às nossas notícias.

Por várias vezes estive nessas páginas e sempre me orgulhei. Poucos sabem, mas ainda na adolescência, o amigo Gabriel me apresentou ao seu saudoso avô, o senhor Laercio Ventura e também à editora do jornal, à época. A ideia que ele teve foi a de levar uma jovem de 12 ou 13 anos para publicar alguns de seus textos, já que escrever sempre foi uma paixão. Lembro-me que eles leram um texto e acho que duvidaram um pouco que eu é quem tinha escrito, mas gostaram. E publicaram. Jamais esquecerei o quanto fiquei feliz. Também não esquecerei o tema daquele texto: amizade! Fez e faz todo sentido. Depois, escrevi mais um e outro e alguns textos, até hoje guardados, estamparam as páginas do jornal.

Tempos depois, infelizmente vivenciamos a catástrofe climática de 2011 e as páginas e portas de A VOZ DA SERRA se abriram mais uma vez para que eu pudesse publicar meus escritos, também até hoje guardados, sobre dor, solidariedade e esperança.

E foi assim que quase 20 anos depois da minha primeira publicação no jornal eu voltei para ficar. Era para ser mais um texto, uma publicação. Eu queria levar algumas palavras para o jornal. E então recebi o convite da Adriana Ventura, diretora do jornal, mãe do Gabriel, filha do sr. Laercio, para escrever uma coluna semanal. Que presente! Senti-me em casa. Fiquei radiante com a possibilidade. Lembro que levantei da cadeira, abracei a Adriana e perguntei: “Eu, escrever uma coluna? Coluna, coluna mesmo, toda semana?” Fiquei em êxtase. Quem me conhece desde os tempos antigos sabe que escrever sempre foi uma paixão. E não seria difícil, imaginei, alinhar essa vocação com a vontade de levar boas mensagens aos leitores. Era sobre isso que eu queria escrever, por mais sem emoção que pudesse parecer. Era sobre cotidiano, gente, sentimento. E conseguimos. Há quatro anos fazemos destes textos semanais uma mensagem que pode chegar na hora certa ao coração de alguém, como diversas vezes já chegou.

Sobre achar que não seria difícil: ledo engano. Não é nem um pouco fácil. Mas vale a pena. E muito! Registrar os quatro anos de “Com a Palavra” aqui é gratificante. Preciso manifestar a gratidão por esta incrível oportunidade e também agradecer aos leitores, sobretudo os assíduos, amantes do bom jornal impresso, que sempre carinhosamente manifestam coisas boas por esta coluna. Sigamos!

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Novo tempo?

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

”Quem me dera ao menos uma vez, acreditar por um instante em tudo que existe. E acreditar que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes.” Quem me dera! Faço minhas as palavras do grande Renato Russo.

Quem diria que chegaríamos no século 21 e tanta coisa permaneceria desalinhada e socialmente mal resolvida. Posso recordar que havia na década de 1990 uma esperança turbinada por ocasião da virada do século. Um misto de medo, de desconfiança, de graça, de ilusão e bastante esperança. Quem se lembra?

”Quem me dera ao menos uma vez, acreditar por um instante em tudo que existe. E acreditar que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes.” Quem me dera! Faço minhas as palavras do grande Renato Russo.

Quem diria que chegaríamos no século 21 e tanta coisa permaneceria desalinhada e socialmente mal resolvida. Posso recordar que havia na década de 1990 uma esperança turbinada por ocasião da virada do século. Um misto de medo, de desconfiança, de graça, de ilusão e bastante esperança. Quem se lembra?

Havia uma profecia de Nostradamus dando conta de que o mundo acabaria no dia 11 de agosto de 1999. Teve gente que acreditou. Mas o planeta não desintegrou e cá estamos nós enquanto Planeta Terra e humanidade. Havia uma curiosidade se tudo continuaria igual com a virada do século. Havia uma postergação de compromissos para o ciclo seguinte, coisas importantes, projetos vindouros, investimentos, decisões que só seriam tomadas no século 21.

Pois já estamos em 2021. O futuro que chegou e cá estamos nós. Lutamos contra a desigualdade social, contra o racismo, contra a fome, contra fake news, contra o vírus, contra a violência etc. Não andamos em carros que voam, não vivemos em cidades sustentáveis nem descobrimos a cura do câncer. E agora, José? Algo novo por vir?  Aguentamos ainda mais?

Em plena nova era, temos homenagens à ditadura, milhares de doutores brasileiros sem emprego, a ciência, ontem desprestigiada, sendo clamada para apresentar soluções à maior crise sanitária do planeta, calçadas mais cheias de pessoas sem lares, corrida das vacinas, a violência doméstica se propalando, professores sendo agredidos por alunos e ameaçados pelos pais dos alunos, a precarização das relações de trabalho, o Brasil liderando o ranking da involução com a legalização e o incentivo à utilização de agrotóxicos nos alimentos. Justamente quando o fomento à agricultura natural e orgânica está verdadeiramente se alastrando na mesma medida em que a consciência verde está a todo vapor.

 O que deu errado? Era para ter zerado o jogo, começado de novo, em outro patamar, um nível acima. Quantas gerações imaginaram tempos atrás sobre como estaríamos vivendo o agora. Estaríamos convivendo com robôs? Teríamos alcançado a almejada paz no Oriente Médio? Conseguiríamos eliminar a fome no mundo? Teríamos inventado a máquina do tempo ao invés de perdemos tanto tempo com tanta coisa inútil? Já pararam para refletir se os nossos antepassados estariam orgulhosos de nós, do que estamos fazendo com o planeta? De como estamos lidando com os demais seres? De como cuidamos do meio ambiente? Estamos sendo bons exemplos para as futuras gerações? Deixando um legado primoroso para nossos filhos e netos?

Vamos pensar sobre isso. Talvez dê tempo de pularmos de fase nesse jogo, conquistarmos territórios importantes, vencermos o mal no final de etapa para zerarmos essas batalhas há anos, décadas, séculos travadas. Estamos com o controle nas mãos ou somos os personagens do jogo? O que podemos fazer para vencer?

Quero, sinceramente, ao chegarmos no século que vem, ser poupada de fazer parte de uma geração destrutiva. Dá tempo. Vamos nos unir para fazer diferente o que poderia ser melhor. E será. A esperança continua viva, em pleno século 21. Pasme.

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Borboletar

sexta-feira, 05 de novembro de 2021

O tema, metamorfose. A metáfora, as borboletas. O sentimento, transformação. Sobre as borboletas ... que seres especiais - e lindos! Jamais ví uma borboleta sem beleza. Não me recordo de alguma vez ter olhado para uma delas sem admirá-la. Desde o seu nascimento, as borboletas estão fadadas a sofrerem uma completa metamorfose para se transformarem no que são. A vida delas começa com o ovo, passando pela etapa da larva (lagarta), até a formação da crisálida e finalmente a saída da borboleta de seu interior. Não é à toa que a borboleta é tida por muitos como símbolo da transformação.

O tema, metamorfose. A metáfora, as borboletas. O sentimento, transformação. Sobre as borboletas ... que seres especiais - e lindos! Jamais ví uma borboleta sem beleza. Não me recordo de alguma vez ter olhado para uma delas sem admirá-la. Desde o seu nascimento, as borboletas estão fadadas a sofrerem uma completa metamorfose para se transformarem no que são. A vida delas começa com o ovo, passando pela etapa da larva (lagarta), até a formação da crisálida e finalmente a saída da borboleta de seu interior. Não é à toa que a borboleta é tida por muitos como símbolo da transformação.

E aí eu pergunto: será que existe alguém que não está passando por alguma transformação em seu interior? Em sua vida? Gosto de observar a natureza e nela buscar respostas dentro de mim. Esse processo por que passam as borboletas pode ser um bom exemplo a ser apreciado. Metamorfoses, de certa forma, parecem ser típicas também dos seres humanos, sejam de que forma forem. Se “borboletar” fosse um verbo, eu pediria licença poética para conjugá-lo em primeira pessoa e no gerúndio, do tipo: “eu estou borboletando”. E muito! Quem não está?

Na verdade, acho que não é questão de opção. Quando pensamos ter alcançado o patamar de cima, o passo à frente, vem a vida e nos mostra que a próxima fase já está por vir, que não dá para parar de subir, que a escada é longa e que não temos ideia do nível em que estamos. Só sabemos que temos que ser fortes, resistentes, resilientes e prosseguir. Depois de certa etapa, adquirimos também a consciência de que se não houver transformação de conceitos, de visão, de adaptação, de sentimentos, de preparação, não chegaremos lá. E não adianta ficarmos parados fingindo que não estamos entendendo a necessidade do movimento, porque a metamorfose simplesmente acontece.

Em meio a esse processo e ciente de que a ordem é de dentro para fora, nesse momento envolta por um casulo, apelo para alguma lógica da natureza, convencendo-me de que cada estágio agrega beleza e libertação, de modo que é melhor acolher com gratidão, pela borboleta que existe em mim. Como bem escreveu Rubem Alves, “não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses.”

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Simples assim

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Simplicidade hoje em dia é ostentação. Ausência de complicação. Desnecessidade de dificultar as coisas. Capacidade em atribuir valor àquilo que muitas vezes não tem preço. Apreciar um pôr do sol, por exemplo. Respirar o ar puro do campo. Conversar com pessoas que têm estórias para contar. Contemplar uma árvore, comer um bom arroz com feijão, receber um abraço de uma pessoa querida, desinteressada, que só deseja a partilha do afeto, fazer uma caminhada, dormir em paz, com a consciência tranquila e deleitar o bom sono dos justos.

Simplicidade hoje em dia é ostentação. Ausência de complicação. Desnecessidade de dificultar as coisas. Capacidade em atribuir valor àquilo que muitas vezes não tem preço. Apreciar um pôr do sol, por exemplo. Respirar o ar puro do campo. Conversar com pessoas que têm estórias para contar. Contemplar uma árvore, comer um bom arroz com feijão, receber um abraço de uma pessoa querida, desinteressada, que só deseja a partilha do afeto, fazer uma caminhada, dormir em paz, com a consciência tranquila e deleitar o bom sono dos justos.

Viver de forma simples é absolutamente compatível com uma vida próspera e bem sucedida. É a minha opinião. Aliás, há quem só se sinta no ápice de suas conquistas quando encontra tempo em suas agendas para se aproximar do que há de mais simples e sofisticado que pode haver: a natureza. Natureza das coisas e natureza das pessoas. Essência dos seres.

Talvez estejamos complicando demais. A realidade já anda difícil por si só. Por mais que busquemos a paz interior e um estilo de vida compatível com as mais valiosas virtudes, somos partes de um todo que está desintegrado, problemático, adoentado. Não há como negar. Somos linhas que compõem esse emaranhado complexo, razão pela qual a busca pelo eixo da simplicidade nos reconecta de alguma maneira com aquilo que traz a verdadeira felicidade.

Muitos confundem uma vida simples com uma vida desprovida de condições básicas de existência, o que não é uma verdade absoluta. E é justamente esse ponto que me encanta. Batalhar, crescer, viver em harmonia com o ambiente, prosperar honestamente e ainda assim não precisar complicar tudo para sentir o preenchimento de coisas que não são úteis, não são necessárias, não trazem conforto e nem felicidade. E ainda assim sentir extrema felicidade em poder acompanhar um caminho de formigas no chão. Em ter tempo para preparar bolinhos de chuva no entardecer. Em ouvir cigarras cantando. Em ler um livro.

Sinto um imenso prazer quando troco sorriso sincero com alguém, quando percebo que as pessoas com quem interajo saem melhores do ambiente quando nos encontramos. Maior satisfação sinto ainda quando é a minha tristeza que se esvai pela presença do outro. Mas nada supera a alegria de ver quem amamos sorrindo de verdade. Quando eu observo de verdade, no meu ciclo de convívio, percebo nitidamente que os momentos mais felizes são puramente simples, que as pessoas que ostentam um sorriso real no rosto têm uma maneira de encarar a vida de forma descomplicada. Normalmente, gente que dá valor à essência da vida. Acho deveras maravilhoso. Definitivamente, para mim, com tantos excessos, materialismo e egoísmo, viver de forma genuinamente simples é um baita luxo.

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Ser cortês

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Há quem tenha uma espécie de intolerância ao uso excessivo de verbos no modo imperativo. Eu sou uma dessas pessoas. “Faça. Pegue. Diga. Vá. Venha.” Dependendo do contexto em que essas palavras são ditas, não soam bem aos ouvidos.

O imperativo quando utilizado por aquele que fala ou escreve, comumente expressa a intenção de que seu interlocutor realize uma ação, em tom de ordem. O incômodo acontece quando o modo verbal é empregado em uma frase desacompanhado das palavras básicas da gentileza.

Há quem tenha uma espécie de intolerância ao uso excessivo de verbos no modo imperativo. Eu sou uma dessas pessoas. “Faça. Pegue. Diga. Vá. Venha.” Dependendo do contexto em que essas palavras são ditas, não soam bem aos ouvidos.

O imperativo quando utilizado por aquele que fala ou escreve, comumente expressa a intenção de que seu interlocutor realize uma ação, em tom de ordem. O incômodo acontece quando o modo verbal é empregado em uma frase desacompanhado das palavras básicas da gentileza.

Certamente, qualquer mandamento acompanhado por expressões cordiais surtirá efeito positivo se comparado a uma ordem seca. Uma ordem pode até (e provavelmente irá) resultar na execução da ação, mas certamente não provocará o melhor sentimento da pessoa. Tudo o que é dito e solicitado com simpatia tende a importar um resultado melhor, pois a ação pretendida possivelmente será desempenhada com mais boa vontade e alegria.

Basta comparar: “Fulano, faça isso!” e “Fulano, gostaria de que você fizesse isso, por favor.” Creio que a maioria das pessoas se sentiriam muito mais motivadas a fazer se lhes fosse solicitado com gentileza, como na segunda frase.

Desconfio que o tom excessivamente imperativo causa desconforto em todo e qualquer ouvinte ou leitor. Ao contrário, comunicação baseada na simpatia estimula um convívio mais cordial entre as pessoas. O quesito bem-estar deve estar agregado aos diálogos e às relações, sejam elas quais forem.

Não estou a questionar o uso da norma culta da língua, nem tampouco o emprego dos vocábulos e o uso escorreito da gramática. Acredito apenas que o sentido, o sentimento, a entoação e a intenção do comunicador impregnam as palavras, de modo que expressões grosseiras maculam as relações, gerando muitas vezes um mal-estar desnecessário.

Aposto no efeito da cortesia no trato com as pessoas, seja em qual ambiente for, no ambiente corporativo, nas relações de trabalho, no núcleo familiar, na comunicação entre amigos ou entre estranhos.

Por gentileza... Sejamos mais cordiais e sensíveis com o uso das palavras. Treinemos a prática de utilizar expressões de cordialidade, de educação. Apoiemos uma forma de falar sem constranger, sem impor indelicadamente, sem estressar a outra pessoa. Não se trata de certo e errado. É questão de seletividade e coerência. Dizer da forma como gostaria de ouvir, escrever da forma como gostaria de ler. Mais sutil. Mais respeitosa. Mais empática.

Concordo com Shakespeare quando disse: “Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras”.

 

Paula Farsoun é advogada e professora de Direito do Trabalho. Escreve às sextas-feiras.

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Ser professora

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

 Escrever sobre professores, falar sobre professores ... ser professora! Tarefa difícil. É simples, porém grandioso. Doloroso, porém prazeroso. Desafiador e enriquecedor ao mesmo tempo. 

Começo, do início de tudo para, ao final, agradecer por ser quem sou. Devo isso também a todos os mestres e mestras, cujo dia celebramos neste 15 de outubro, e que passaram por minha vida, que marcaram minha trajetória. E não digo por mim, e sim por cada um de nós. Todos carregamos no delinear de nossas vidas marcas deixadas por aqueles que nos ensinaram, com quem aprendemos de tudo um pouco.  

 Escrever sobre professores, falar sobre professores ... ser professora! Tarefa difícil. É simples, porém grandioso. Doloroso, porém prazeroso. Desafiador e enriquecedor ao mesmo tempo. 

Começo, do início de tudo para, ao final, agradecer por ser quem sou. Devo isso também a todos os mestres e mestras, cujo dia celebramos neste 15 de outubro, e que passaram por minha vida, que marcaram minha trajetória. E não digo por mim, e sim por cada um de nós. Todos carregamos no delinear de nossas vidas marcas deixadas por aqueles que nos ensinaram, com quem aprendemos de tudo um pouco.  

            Há algo “humanamente humano” demais na docência. Faço questão de tratar com pleonasmo algo tão imponente que é dedicar boa parte da vida a ensinar aos outros, a trocar experiência, contar tudo o que sabe e desejar fortemente que aprendam, que apreendam e evoluam a partir dos ensinamentos. Docência é expressão do amor. Não é novidade que ser professor ou professora no Brasil é um ato de coragem. Os desafios são muitos. Não é para amadores. Sabemos das nossas dores. Sentimos na pele. E não são poucas.

            Por mais que o magistério consista em uma belíssima carreira, que deve encher os peitos de orgulho, não podemos romantizar a ponto de negarmos as barreiras que devem ser enfrentadas e ultrapassadas dia a dia. São muitas. E ainda assim, sabedores de parte das dificuldades com as quais iremos nos deparar, teimamos na escolha de sermos professores. E está aí algo que temos de lindo. Mas não mais belo que a relação entre professor e aluno, o tesouro infindável de crescimento, de partilha de conhecimento, de experiências preciosas, de afeto transbordado. 

O professor ou a professora, lá na infância, talvez seja nosso verdadeiro primeiro contato com o mundo humano (e adulto) para além da família. Na escola, é quem nos mostra o mundo através de seu olhar e nos conduz para novas etapas de aprendizagem e interação. Lembro-me de como essa figura me importou desde a primeira vez. Muito valor sendo agregado. Sentia como se tivesse naquela pessoa, alguém em quem eu poderia confiar. A quem orgulhosa eu mostrava minhas primeiras sílabas escritas e quem eu adoraria que hoje lesse meus textos. Alguém que me ensinou muito sobre as letras, a convivência e os seres humanos. E aprendi, vivendo, que uma das formas mais bonitas de ensinar é por meio do exemplo. Ensinar a ser, sendo. Sendo amor. Sendo estudiosa. Sendo educada. Sendo honesta.

Guardo até hoje nomes, sobrenomes, jeitos, trejeitos, vozes e, principalmente, ensinamentos, de muitos dos professores que tive ao longo da vida. Cravaram seus rostos em minha história de maneira indelével. E alguns desses mestres, a quem guardo no coração com apreço especial, possuíam (possuem) uma característica além da brilhante formação e do notável conhecimento do conteúdo: o amor! Nítido amor por lecionar; tão límpido quanto o amor pelos alunos. De importantes para minha formação, se tornaram, então, inesquecíveis.

Em tempos sombrios, felizmente continuo crendo que a educação é o caminho. Sou defensora fervorosa de que o estudo fomenta a construção de um patrimônio incalculável e intransferível. Acredito que a formação de profissionais alinhados com sentimentos nobres, conhecedores de seus deveres e defensores de direitos e prerrogativas de todos os seres, possa transformar o mundo. Para melhor. Cada vez mais. Sem limites. Tenho esperança.

Mas não tem sido simples. Escolher a vida docente é lidar com uma dicotomia constante, entre desejar o aprendizado dos alunos e lidar com as mazelas humanas absolutamente complexas. Vida de professora é vida sem monotonia. Novos olhares, novos desafios, novos problemas, assunto para estudar, dificuldade para lidar. Tudo isso junto e misturado. E se me perguntarem se vale à pena, mil vezes responderei, sem pestanejar: vale!

Ser professora é uma grande e difícil missão. Muito difícil. Tem que amar para exercer.  Por felicidade, cruzamos com alunos tão incríveis que a tarefa fica mais leve e prazerosa. Contribuir positivamente para o crescimento de alguém é algo sublime. Por isso, dia e noite desejo manifestar gratidão aos alunos, pois sem esse grupo tão especial de gente do bem, também não cresceríamos enquanto pessoas que somos antes de sermos profissionais. A vida me fez professora. De gente grande. De gente linda, de gente cheia de sonhos. E dificuldades. E peculiaridades muitas vezes difíceis de lidar. E força de vontade. Sinto vontade de dizer que tudo vai dar certo para eles. Sinto que vai. É o que desejo para cada um deles. É preciso manterem o caminho do bem. E serem honestos. Serem esforçados. Acreditarem em seu potencial. E trabalharem duro. Estudarem muito. Sentindo-se muito gratos pela oportunidade de evoluírem.

Os grandes exemplos de devoção à profissão que vejo em muitos professores, uniram-se à uma vontade pessoal de contribuir para fazer pessoas felizes onde quer que eu esteja. Acredito plenamente nessa fórmula. Empatia, carinho, cumplicidade são combustíveis para o crescimento coletivo e individual, para a tolerância, o respeito e a dignidade que vai muito além dos livros. Eis aqui, a minha gratidão. Ser professora faz de mim esse emaranhado complexo e repleto de amor, que no final das contas e no princípio de tudo, é o que salva!

Paula Farsoun é advogada e profesora de Direito do Trabalho. Escreve às sextas-feiras.  

 

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Fora dessa

sexta-feira, 08 de outubro de 2021

         Melhor viver sem trapaça. Observando com o olhar de pessoa completamente leiga os eventos da natureza, consigo, ainda que mais ou menos, perceber uma lógica, o sentido da lei de causa e efeito. Embora sinta dó, assimilo que o predador e a presa tenham entre eles uma questão de sobrevivência, de subsistência, para resolverem. O consolo para além da questão do ciclo natural da vida é a certeza de que os animais agem por instinto e não por intenção de fazer um mal. O quebra-cabeça se encaixa.

         Melhor viver sem trapaça. Observando com o olhar de pessoa completamente leiga os eventos da natureza, consigo, ainda que mais ou menos, perceber uma lógica, o sentido da lei de causa e efeito. Embora sinta dó, assimilo que o predador e a presa tenham entre eles uma questão de sobrevivência, de subsistência, para resolverem. O consolo para além da questão do ciclo natural da vida é a certeza de que os animais agem por instinto e não por intenção de fazer um mal. O quebra-cabeça se encaixa.

         No entanto, quando os animais envolvidos nessa relação de caça e caçador são os humanos, não consigo assimilar. A começar, nós, humanos, somos munidos de inteligência e raciocinamos sobre nossos atos. Não precisamos nos alimentar uns dos outros. A disputa por espaços pode seguir uma linha da boa convivência. De fazer a coisa certa, ainda que essa definição não seja unânime. Nem equânime.

         Somos seres gregários que aprendemos ao longo dos séculos que regras são necessárias para que os limites individuais sejam respeitados. Com o passar do tempo, desenvolvemos a capacidade de nos organizarmos enquanto sociedade e nos estabelecemos detentores de direitos e obrigações. Há leis que nos resguardam, pois sem elas, seria bem mais difícil entendermos tais limites, prerrogativas e deveres.

         Pois bem. E o que temos feito com isso? Quando aprendemos, enquanto sociedade, a sermos trapaceiros, manipuladores, traiçoeiros? Quem ensinou aos homens e mulheres que para alcançar um objetivo, “permite-se” o jogo sujo, a clássica pisada na cabeça do outro para galgar o degrau de cima? Não era para ser assim, honestamente.

         Fazendo uma analogia com a natureza, realmente observamos, em se tratando dos animais, que são feitas emboscadas para abocanhar as presas, que alguns chegam sorrateiramente para atacar, que outros ficam à espreita aguardando a oportunidade ideal para abocanhar o alvo. Vemos a aranha preparar a armadilha para acolher o inseto em sua teia. O animal de maior porte muitas vezes utilizando de seu privilégio da força para atacar o menor. E vice-versa. A ligeireza e a sagacidade de alguns animais pequenos os levam à conquista de objetivos grandiosos. E assim a ordem natural das coisas vai acontecendo.

         E vejamos: nessa lógica que a olhos nus parece dar certo, não há ninguém raciocinando, não há a matéria, o dinheiro como objetivo, os sentimentos de ganância, poder, egoísmo, soberba, passam longe.

         Mas, e conosco, seres humanos? Temos o privilégio da inteligência, a capacidade de discernimento, somos naturalmente semelhantes, entretanto, fazemos um uso discutível da força, da capacidade intelectual, do poder de transformar o mundo para melhor. Ao mesmo tempo em que descobrimos a cura de doenças, criamos bombas atômicas, poluímos os rios, sacrificamos animais, desenvolvemos a violência, desrespeitamos o espaço do outro, desqualificamos o colega para ocupar seu espaço, mentimos, nos corrompemos, utilizamos a máquina pública para fazer o mal, para enriquecer ilicitamente, humilhamos os outros.

         Nossas armadilhas são ofensivas. Nossas presas são os seres que deveríamos amar - e proteger, como as espécies animais fazem com os seus. Utilizamos nossa fábrica de sentimentos para fomentar a ira, o materialismo, a competitividade, a inveja, a ganância, o egoísmo. Quando começamos a errar? E até quando vamos continuar errando? Esse plural me incomoda, e só o utilizo por pertencer a essa grande “espécie” de animais humanos.

         Do jeito que as coisas estão, estou quase pedindo para me “incluírem fora dessa”.

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Sobre dedicar-se

sexta-feira, 01 de outubro de 2021

Todo o bem que você faz, em bem retorna para você. A bem da verdade, eu acredito, a vida nos ensina que a lei de causa e efeito é real. De alguma maneira, o desenrolar da vida sob vários aspectos demonstra que plantar e colher são causa e consequência, a exemplo do que acontece com a própria Natureza, da qual fazemos parte.

Todo o bem que você faz, em bem retorna para você. A bem da verdade, eu acredito, a vida nos ensina que a lei de causa e efeito é real. De alguma maneira, o desenrolar da vida sob vários aspectos demonstra que plantar e colher são causa e consequência, a exemplo do que acontece com a própria Natureza, da qual fazemos parte.

Outras vezes já me referi por aqui sobre aquela tal “lei do esforço”. Hoje, quero substituir a palavra esforço por dedicação. Não que o sentido não seja similar. Mas me parece que dedicação flui de forma um pouco mais suave do que esforço, que me parece um pouco mais penoso. O ponto é que o ato de se dedicar a algo ou a alguém, pode ser natural, fazer parte da nossa vida e render belos resultados.

A dedicação em plantar a semente, cuidar dela, dedicar-se a ela, certamente, cedo ou tarde, gera frutos. Sobre quais frutos, a colheita dirá. Mas o fato é que a dedicação empregada para o bem gera luz, contribui para nosso mérito acumulado e resulta em coisas boas. No tempo certo, o resultado vem, talvez não exatamente conforme o esperando, mas certamente da forma como era para vir. Se não nos empenharmos, creio que resultados satisfatórios serão bem mais difíceis de serem alcançados.

Empregar energias, investir tempo, intensificar forças em prol de algum sonho, projeto ou ideal. É sobre isso que estou falando. Vale para relacionamentos, para trabalho, para autocuidado e tantas outras coisas que traçamos como prioridades em nossa vida. Sem dedicação, a coisa não anda.

Não raras vezes, pensamos que os esforços estão sendo em vão, pois os resultados esperados não acontecem muitas vezes conforme a ansiedade humana demanda. Mas a vida tem me provado, felizmente, que o empenho sincero por algo, sobretudo se a causa for verdadeira e for para o bem, de alguma maneira, retornará para nossas vidas em forma de êxito, realização, aprendizado e gratidão das pessoas.

Não vejo um atleta ser campeão sem ter empregado esforço diário da superação e do treinamento. Também não vislumbro um casamento feliz sem que o casal se dedique diariamente por essa felicidade. O candidato aprovado em um vestibular difícil e concorrido, certamente empregou bastante energia no seu projeto de estudos. E por aí vai. Não podemos generalizar, claro, pois somos seres absolutamente únicos e especiais, com histórias de vidas particulares que diferenciam, inclusive nossas condições para lutar.

Mas, de uma maneira geral, pessoas que vencem pelo caminho da honestidade e do bem, seja em que aspecto da vida for, certamente em algum momento precisaram decidir sobre o que desejavam plantar e esforçarem-se para semear. A colheita é uma consequência. E o tempo é de Deus.

Dificilmente conquistas grandiosas, relacionamentos felizes, prosperidade e satisfação pessoal caem em nosso colo sem dedicação. É da vida. É saudável. Precisamos nos empenhar em nossos projetos e escolhas. E podemos até mesmo nos dedicar a fazer isso de forma leve, equilibrada e contínua, sem que precisemos prestar justificativas para os outros. É uma história entre nós mesmos e as forças superiores. Não vai ser fácil sempre. Não vai dar certo todas as vezes. Mas acredito sinceramente que se não movimentarmos a energia, será bem mais difícil alcançarmos o sonho de felicidade que todos temos.

Por isso, é fundamental termos responsabilidade por cada grão a germinar que plantamos na vida. A semente do esforço justo e sincero, certamente resultará no cultivo de um fruto de luz. E se nos mantivermos atentos, reconheceremos esses sinais e colheremos frutos doces e belas flores na vida.

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