Ser professora

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

 Escrever sobre professores, falar sobre professores ... ser professora! Tarefa difícil. É simples, porém grandioso. Doloroso, porém prazeroso. Desafiador e enriquecedor ao mesmo tempo. 

Começo, do início de tudo para, ao final, agradecer por ser quem sou. Devo isso também a todos os mestres e mestras, cujo dia celebramos neste 15 de outubro, e que passaram por minha vida, que marcaram minha trajetória. E não digo por mim, e sim por cada um de nós. Todos carregamos no delinear de nossas vidas marcas deixadas por aqueles que nos ensinaram, com quem aprendemos de tudo um pouco.  

            Há algo “humanamente humano” demais na docência. Faço questão de tratar com pleonasmo algo tão imponente que é dedicar boa parte da vida a ensinar aos outros, a trocar experiência, contar tudo o que sabe e desejar fortemente que aprendam, que apreendam e evoluam a partir dos ensinamentos. Docência é expressão do amor. Não é novidade que ser professor ou professora no Brasil é um ato de coragem. Os desafios são muitos. Não é para amadores. Sabemos das nossas dores. Sentimos na pele. E não são poucas.

            Por mais que o magistério consista em uma belíssima carreira, que deve encher os peitos de orgulho, não podemos romantizar a ponto de negarmos as barreiras que devem ser enfrentadas e ultrapassadas dia a dia. São muitas. E ainda assim, sabedores de parte das dificuldades com as quais iremos nos deparar, teimamos na escolha de sermos professores. E está aí algo que temos de lindo. Mas não mais belo que a relação entre professor e aluno, o tesouro infindável de crescimento, de partilha de conhecimento, de experiências preciosas, de afeto transbordado. 

O professor ou a professora, lá na infância, talvez seja nosso verdadeiro primeiro contato com o mundo humano (e adulto) para além da família. Na escola, é quem nos mostra o mundo através de seu olhar e nos conduz para novas etapas de aprendizagem e interação. Lembro-me de como essa figura me importou desde a primeira vez. Muito valor sendo agregado. Sentia como se tivesse naquela pessoa, alguém em quem eu poderia confiar. A quem orgulhosa eu mostrava minhas primeiras sílabas escritas e quem eu adoraria que hoje lesse meus textos. Alguém que me ensinou muito sobre as letras, a convivência e os seres humanos. E aprendi, vivendo, que uma das formas mais bonitas de ensinar é por meio do exemplo. Ensinar a ser, sendo. Sendo amor. Sendo estudiosa. Sendo educada. Sendo honesta.

Guardo até hoje nomes, sobrenomes, jeitos, trejeitos, vozes e, principalmente, ensinamentos, de muitos dos professores que tive ao longo da vida. Cravaram seus rostos em minha história de maneira indelével. E alguns desses mestres, a quem guardo no coração com apreço especial, possuíam (possuem) uma característica além da brilhante formação e do notável conhecimento do conteúdo: o amor! Nítido amor por lecionar; tão límpido quanto o amor pelos alunos. De importantes para minha formação, se tornaram, então, inesquecíveis.

Em tempos sombrios, felizmente continuo crendo que a educação é o caminho. Sou defensora fervorosa de que o estudo fomenta a construção de um patrimônio incalculável e intransferível. Acredito que a formação de profissionais alinhados com sentimentos nobres, conhecedores de seus deveres e defensores de direitos e prerrogativas de todos os seres, possa transformar o mundo. Para melhor. Cada vez mais. Sem limites. Tenho esperança.

Mas não tem sido simples. Escolher a vida docente é lidar com uma dicotomia constante, entre desejar o aprendizado dos alunos e lidar com as mazelas humanas absolutamente complexas. Vida de professora é vida sem monotonia. Novos olhares, novos desafios, novos problemas, assunto para estudar, dificuldade para lidar. Tudo isso junto e misturado. E se me perguntarem se vale à pena, mil vezes responderei, sem pestanejar: vale!

Ser professora é uma grande e difícil missão. Muito difícil. Tem que amar para exercer.  Por felicidade, cruzamos com alunos tão incríveis que a tarefa fica mais leve e prazerosa. Contribuir positivamente para o crescimento de alguém é algo sublime. Por isso, dia e noite desejo manifestar gratidão aos alunos, pois sem esse grupo tão especial de gente do bem, também não cresceríamos enquanto pessoas que somos antes de sermos profissionais. A vida me fez professora. De gente grande. De gente linda, de gente cheia de sonhos. E dificuldades. E peculiaridades muitas vezes difíceis de lidar. E força de vontade. Sinto vontade de dizer que tudo vai dar certo para eles. Sinto que vai. É o que desejo para cada um deles. É preciso manterem o caminho do bem. E serem honestos. Serem esforçados. Acreditarem em seu potencial. E trabalharem duro. Estudarem muito. Sentindo-se muito gratos pela oportunidade de evoluírem.

Os grandes exemplos de devoção à profissão que vejo em muitos professores, uniram-se à uma vontade pessoal de contribuir para fazer pessoas felizes onde quer que eu esteja. Acredito plenamente nessa fórmula. Empatia, carinho, cumplicidade são combustíveis para o crescimento coletivo e individual, para a tolerância, o respeito e a dignidade que vai muito além dos livros. Eis aqui, a minha gratidão. Ser professora faz de mim esse emaranhado complexo e repleto de amor, que no final das contas e no princípio de tudo, é o que salva!

Paula Farsoun é advogada e profesora de Direito do Trabalho. Escreve às sextas-feiras.  

 

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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