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Eu também acredito na rapaziada

sexta-feira, 18 de março de 2022

Diante de um enorme desafio sem precedentes, questionou-se a um jovem se ele iria encará-lo, ao que ele respondeu de forma óbvia que sim. Ele não era de se curvar às barreiras. Havia aprendido que ser forte também é uma questão de treinamento, de aprimoramento. Habitava nele uma força interior que impulsionava a energia para a execução e a transposição de qualquer obstáculo.

Diante de um enorme desafio sem precedentes, questionou-se a um jovem se ele iria encará-lo, ao que ele respondeu de forma óbvia que sim. Ele não era de se curvar às barreiras. Havia aprendido que ser forte também é uma questão de treinamento, de aprimoramento. Habitava nele uma força interior que impulsionava a energia para a execução e a transposição de qualquer obstáculo.

Tem gente que olha para o céu e agradece quando as oportunidades surgem ainda que venham acompanhadas de dedicação extrema, de trabalho árduo. Gente que acolhe uma missão e por ela se transforma no melhor que pode ser. Gente que não se acomoda, que encara, vai à luta, mesmo diante das dificuldades e da desconfiança dos outros, das indagações constantes sobre se é ou não capaz de dar conta do que está por vir. É claro que ele é capaz. Ele acredita nisso e faz acontecer.

Dá a sensação de que pessoas com esse perfil de enfrentamento e superação trazem em seu DNA a marca da coragem, apesar de todo medo pelo novo, pela missão grandiosa que pode estar por vir. Seria bom se os jovens fossem incentivados e encorajados a darem o melhor de si para vencerem a si mesmo e aos desafios impostos pela vida.

Podem ser grandiosas oportunidades de crescimento e evolução, instrumentos úteis à formação de uma sociedade em que superar desafios pessoais em prol de um objetivo, de um projeto, de um trabalho seja valorizado. Não é questão de retorno financeiro. Não apenas. É questão também de repercussão social. De ser exemplo para outras pessoas que continuam investindo sua energia e acreditando que vencer obstáculos pode ser uma forma eloquente de crescimento pessoal e profissional. Ser jovem que ensina jovem; que acredita em jovem; que aprende com jovem; que compartilha com jovem. Ser jovem que vai encarar sim, o que der e vier, com dignidade e hombridade. É disso que estou falando.

Nas palavras de Martin Luther King, temos um bom conselho: “Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo.” Que esse jovem corajoso que vai vencer o mundo – o seu mundo, tenha força e sabedoria para investir o mais nobre de si na construção de algo melhor.

Há que se endossar cada palavra e concordar com Gonzaguinha quando pronunciou a bela canção que diz assim: “Eu acredito é na rapaziada/ que segue em frente e segura o rojão/ eu ponho fé é na fé da moçada/ que não foge da fera e enfrenta o leão. Eu vou à luta com essa juventude/Que não corre da raia a troco de nada/Eu vou no bloco dessa mocidade/Que não tá na saudade e constrói a manhã desejada.”

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Mais gentileza

sexta-feira, 11 de março de 2022

Há quem tenha uma espécie de intolerância ao uso excessivo de verbos no modo imperativo. Eu sou uma dessas pessoas. “Faça. Pegue. Diga. Vá. Venha.” Dependendo do contexto em que essas palavras são ditas, não soam bem aos ouvidos.

O imperativo quando utilizado por aquele que fala ou escreve, comumente expressa a intenção de que seu interlocutor realize uma ação, em tom de ordem. O incômodo acontece quando o modo verbal é empregado em uma frase desacompanhado das palavras básicas da gentileza.

Há quem tenha uma espécie de intolerância ao uso excessivo de verbos no modo imperativo. Eu sou uma dessas pessoas. “Faça. Pegue. Diga. Vá. Venha.” Dependendo do contexto em que essas palavras são ditas, não soam bem aos ouvidos.

O imperativo quando utilizado por aquele que fala ou escreve, comumente expressa a intenção de que seu interlocutor realize uma ação, em tom de ordem. O incômodo acontece quando o modo verbal é empregado em uma frase desacompanhado das palavras básicas da gentileza.

Certamente, qualquer mandamento acompanhado por expressões cordiais surtirá efeito positivo se comparado a uma ordem seca. Uma ordem pode até (e provavelmente irá) resultar na execução da ação, mas certamente não provocará o melhor sentimento da pessoa. Tudo o que é dito e solicitado com simpatia tende a importar um resultado melhor, pois a ação pretendida possivelmente será desempenhada com mais boa vontade e alegria.

Basta comparar: “Fulano, faça isso!” e “Fulano, gostaria de que você fizesse isso, por favor.” Creio que a maioria das pessoas se sentiriam muito mais motivadas a fazer se lhes fosse solicitado com gentileza, como na segunda frase.

Desconfio que o tom excessivamente imperativo causa desconforto em todo e qualquer ouvinte ou leitor. Ao contrário, comunicação baseada na simpatia estimula um convívio mais cordial entre as pessoas. O quesito bem-estar deve estar agregado aos diálogos e às relações, sejam elas quais forem.

Não estou a questionar o uso da norma culta da língua, nem tampouco o emprego dos vocábulos e o uso escorreito da gramática. Acredito apenas que o sentido, o sentimento, a entoação e a intenção do comunicador impregnam as palavras, de modo que expressões grosseiras maculam as relações, gerando muitas vezes um mal-estar desnecessário.

Aposto no efeito da cortesia no trato com as pessoas, seja em qual ambiente for, no ambiente corporativo, nas relações de trabalho, no núcleo familiar, na comunicação entre amigos ou entre estranhos.

Por gentileza... Sejamos mais cordiais e sensíveis com o uso das palavras. Treinemos a prática de utilizar expressões de cordialidade, de educação. Apoiemos uma forma de falar sem constranger, sem impor indelicadamente, sem estressar a outra pessoa. Não se trata de certo e errado. É questão de seletividade e coerência. Dizer da forma como gostaria de ouvir, escrever da forma como gostaria de ler. Mais sutil. Mais respeitosa. Mais empática.

Concordo com Shakespeare quando disse: “Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras”.

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Tardezinha

sexta-feira, 04 de março de 2022

Era um dia comum. Tardezinha. A moça, sobrevivente, pôs-se a pensar. A premissa: cada dia em que estamos vivos é mais um dia de sobrevivência.  Naquela ocasião, teve a oportunidade de tomar com calma a xícara de chá e por incrível que pareça ficou até o amanhecer sem fazer nada que não fosse pensar. Um privilégio, é verdade. A vida tem dessas coisas. Às vezes, se tem a oportunidade de parar ... e pensar.

Era um dia comum. Tardezinha. A moça, sobrevivente, pôs-se a pensar. A premissa: cada dia em que estamos vivos é mais um dia de sobrevivência.  Naquela ocasião, teve a oportunidade de tomar com calma a xícara de chá e por incrível que pareça ficou até o amanhecer sem fazer nada que não fosse pensar. Um privilégio, é verdade. A vida tem dessas coisas. Às vezes, se tem a oportunidade de parar ... e pensar.

Dois pontos de partida tomaram seu tempo e suas reflexões. Primeiro, refletiu sobre as encruzilhadas da vida. Com o dedo da mão direita, desenhou na toalha de mesa e em seu imaginário, aquele ponto central entre dois caminhos, a plaquinha indicando para a esquerda um rumo, para a direita, outro e ela bem ali, no meio. Sem saber para onde ir. Sem saber para qual direção caminhar. É uma situação poética. A vida tem dessas coisas. A encruzilhada, pelo olhar da moça naquele momento de descontração era uma metáfora. Mas na verdade, sentido na pele o desafio da escolha pelo caminho a perseguir, só conseguia perceber um nó. E a moça, naquele meio distante de um real ponto de equilíbrio, sentia que precisava tomar uma decisão. Só não sabia qual.

A vida tem dessas coisas. E nossa, como é difícil! Aquela velha frase de que cada escolha implica em renúncias é uma verdade sentida no âmago do ser. Há quem viva de olhar para trás e se arrepender de ter ido pela direita ao invés da esquerda. Há quem olhe para frente e vislumbre um horizonte único que será perseguido em qualquer caminho, desde que se continue a andar adiante.

Às vezes, até mesmo o ponto nevrálgico da dúvida e da decisão pode merecer uma desconstrução. Pode ser que o tamanho do nó, o embaçamento da visão, o peso preso aos pés e a necessidade de opinião do outro tenham muito a ver com nossas expectativas. Desconstruir barreiras também é um processo. E seguir em frente sem medo de se arrepender pelo que deveria ter sido e não foi é uma baita evolução. Essa foi a segunda reflexão.

A moça percebeu que deveria desconstruir de alguma maneira esse medo de dar errado e o temor de escolher o pior caminho e entender que o processo é assim mesmo e que quanto maior for seu autoconhecimento, maior a probabilidade de celebrar opções que tenham nexo com seus valores e sua trajetória. Percebeu que as questões da vida não vêm com gabarito. E que a encruzilhada não é um enunciado com resposta pronta. Percebeu que mesmo que depois venha a se reconhecer em outro direcionamento na trajetória da vida, aquilo tudo que um dia foi construído, de alguma maneira se permanecerá de pé.

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A dor que dói em nós

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Foi então, que mais uma vez, um verão caloroso cedeu espaço para a lama. Mais um janeiro em que o mar não foi só o mar, ganhando uma conotação marrom devastadora. Dessa vez, os corações do Brasil e dos brasileiros voltaram-se novamente para Petrópolis. Sem aviso prévio, da noite para o dia, fomos todos parar em na Cidade Imperial. Foi uma viagem chocante e triste. Um reencontro com a vulnerabilidade, a efemeridade da vida e a humanidade. Sentimentos extremos ganham força. Indignação e solidariedade. Revolta e compaixão.    

Foi então, que mais uma vez, um verão caloroso cedeu espaço para a lama. Mais um janeiro em que o mar não foi só o mar, ganhando uma conotação marrom devastadora. Dessa vez, os corações do Brasil e dos brasileiros voltaram-se novamente para Petrópolis. Sem aviso prévio, da noite para o dia, fomos todos parar em na Cidade Imperial. Foi uma viagem chocante e triste. Um reencontro com a vulnerabilidade, a efemeridade da vida e a humanidade. Sentimentos extremos ganham força. Indignação e solidariedade. Revolta e compaixão.    

Eu não sei se acontece com todos os senhores leitores, mas a imagem de um “rio de lama”, a sensação de um tsunami marrom devastador, provoca em mim sensações muito peculiares de quem já viveu o trauma da avalanche de destruição aliado ao descaso humano com a natureza drásticas consequências humanas, ambientais, sociais, econômica e de diversas outras ordens. E assim, me "teletransporto" para cada imagem, para cada lágrima que vejo escorrer das vítimas, parentes e amigos que estão vivenciando a tragédia em nossa cidade irmã. Várias ruas viraram lama mais uma vez. Pais, mães, filhos, amigos, colegas, trabalho, esperança, ar, lar. Tudo virou lama. Árvores, pássaros. Telhas, carros, casas, brinquedos, álbuns de fotografia. Tudo lama. Paisagem? Lama.

Dói muito, realmente, supor que tragédias como essa poderiam ter sido minimizadas. Ou melhor, deveriam. Em que ponto nos perdemos enquanto sociedade organizada para subestimar os riscos e adiar medidas verdadeiramente eficazes de minimização de riscos e dores. A Região Serrana é um complexo montanhoso, com características de chuvas, que já de longe agoniza as consequências das águas. E cada episódio de vidas sendo arrastadas por lama reacende importantes discussões acerca da realidade em que vivemos em nossa região.

 Quando nos perdemos como seres humanos com responsabilidade social? O que aprendemos em 2011 com a maior catástrofe de deslizamento de terras do mundo cujo epicentro foi justamente a nossa Região Serrana? Em que melhoramos? Quais foram as consequências advindas daquele episódio fatídico que geram inestimável dor a tantas pessoas até hoje? Quais as respostas as famílias receberam? O que foi feito na tentativa de recuperar a saúde ambiental da localidade? O que se sabe sobre a responsabilização daqueles que tinham o condão e dever de fazer algo e não fizeram? Ou fizeram? Quais as providências tomadas para proteger as pessoas e evitar novos acidentes/crimes/tragédias? São perguntas sem respostas que estão assombrando e dilacerando ainda mais as pessoas com esse episódio lamentável na história do Brasil.

Não há como mandar a conta dessa tragédia mais uma vez para o acaso da mãe natureza. O que está fora de ordem, fora de lugar foi o homem quem criou. Que a compaixão e a solidariedade unam-se à inquestionável força de superação do brasileiro, que o amor se multiplique e se espalhe ao ponto de acalentar tantos corações dilacerados e enterrados no mar de lama.

Toda a nossa solidariedade aos nossos vizinhos petropolitanos que hoje vivem uma dor que por aqui, infelizmente, também conhecemos bem.

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Retorno diferente

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Volta às aulas: tudo novo. De novo. É chegado o momento do retorno, do semestre novo na faculdade, do fim das férias escolares, do início do ciclo do meio do ano (aquele que parece passar super rápido culminando com as festas de final de ano). Várias pessoas mudam os cortes de cabelos. Sorrisos revigorados. Encontros não programados. Alunos desfilam uma ou outra roupa nova. Cadernos recém-saídos das estantes das papelarias ganham espaço. Pastas organizadas nos computadores. Energia renovada. Não é assim? Ou era...

Volta às aulas: tudo novo. De novo. É chegado o momento do retorno, do semestre novo na faculdade, do fim das férias escolares, do início do ciclo do meio do ano (aquele que parece passar super rápido culminando com as festas de final de ano). Várias pessoas mudam os cortes de cabelos. Sorrisos revigorados. Encontros não programados. Alunos desfilam uma ou outra roupa nova. Cadernos recém-saídos das estantes das papelarias ganham espaço. Pastas organizadas nos computadores. Energia renovada. Não é assim? Ou era...

Bom, para alguns eu acho que sim. O retorno esconde uma certa magia e disposição, apesar de um estoque inegável cansaço, pois não necessariamente as férias de meio de ano significam tempo à disposição e descanso. Mas ainda assim é uma pausa e o reinício é um tanto interessante. E retornar agora, depois de tudo? Encarar a vida de um “pós pandemia que não acabou”? Essa dinâmica ganha uma nova roupagem quando falamos em um retorno diferente. Não somos mais os mesmos. Fomos inebriados por um longo hiato ... vivemos, nesse meio tempo, sentimentos, experiências inimagináveis. E muitos de nós, não parou, não descansou, não assimilou. Voltamos sem ter ido, num pós-caos - e ainda durante o caos. Voltamos sobreviventes. E exaustos. É esquisito, não é? Não vou mentir: percebo olhares ao longe, suspiros de cansaço, abraços mais distantes, uma insegurança no ar que transcende a emoção de “estar de volta”. Para além das máscaras, de maneira geral, confesso estar vendo olhares mais abatidos. Talvez seja o meu olhar que tenha mudado.

 Quais são as novidades? Quem vamos conhecer? Quem vamos reencontrar? Quais as metas a perseguir, os desafios a percorrer? O que vamos aprender juntos? Dá até um frio na barriga. Recomeços são muito interessantes e podem ser presságios de ricas experiências. A vida é repleta de momentos como a volta às aulas. São sequências de ciclos a serem orquestradas muitas vezes com maestria, outras nem tanto.

Esse grande barato dos reencontros com o ambiente que nos acolhe por longas jornadas e com as pessoas que dão vida a ele não pode ser ofuscado pela correria incessante que os tempos de hoje não raras vezes nos impõem. Tenho a sensação de que a vibração com que começamos etapas novas ditam o ritmo e a cadência do período vindouro. O que esperar das misteriosas semanas que estão por vir? Não podemos prever as adversidades, nem as mudanças, muito menos as próximas surpresas. Mas uma coisa não podemos negar: querendo ou não todas elas acontecem. Invariavelmente. De uma maneira ou de outra. Como tiverem de ser.

Então, que estejamos prontos para acolher o que está por vir começando pelo dia de hoje repleto das sementes que pretendemos colher. É leveza que eu quero? Então que eu seja leve. É emoção que espero? Então deixo o sentimento fluir. São sorrisos sinceros? Então que eu sorria - com a alma!  Se a “volta às aulas” da vida contar com nossa parcela de contribuição positiva para equilibrar esse “velho mundo” com o “tudo novo”, estou certa de que essa longa jornada contará com um sabor especial. 

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Sopro do tempo

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade.

Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade. Elas chegam e nossas escolhas passarão por estarmos dentro ou fora do mar, condicionarmos nosso fôlego, aprendermos a nadar, aguçarmos nossa sensibilidade para identificarmos eventual perigo, domarmos o espírito aventureiro, ou controlarmos o medo.

 A onda pode ser uma marola ou chegar com a força de um tsunami, sei lá, quem vai saber? Seja o que for, precisamos estar preparados para as mudanças que podem acontecer no minuto seguinte da vida. E que podem ser ótimas, mesmo se fáceis não forem.

Gosto de comparar a vida com a natureza, pois ao observarmos carinhosamente essa engrenagem divina maravilhosa, nos damos conta de que somos parte de tudo isso e não seus senhores soberanos.

Encarar desafios pode ser um treinamento grandioso de superação. Há um enorme prazer embutido nesse exercício contínuo superarmos a nós mesmos. Quão sem graça seria a existência se a vida fosse um marasmo contínuo do início ao fim. Bom, tenho que isso sequer seria uma opção já que querendo ou não, o dia a dia é repleto de novos desafios.

Por que não acolher cada um deles como uma nova chance, uma oportunidade premiada, um grande negócio a ser feito? Transformar o medo pelo novo por motivação para seu encontro pode ser transformador. Ao invés de vislumbrarmos a muralha amedrontadora que pode estar por vir, podemos escolher avistar o belo oceano na condição mais linda que o Universo pode ofertar.

Fácil não é. Mas nossa postura diante de um desafio vai gerar uma energia que pode ser positiva ou negativa, a depender de como estamos acolhendo esse movimento da vida. Abdicações, renúncias, esforço .... preparação. Preparar-se para a execução da nova etapa. E durante todo o processo é aconselhável o treinamento do sentimento de gratidão, pois certamente se estamos diante de desafios, é sinal de que estamos vivos e em atividade, o que já merece nosso mais profundo agradecimento.

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O relógio só anda para frente

sexta-feira, 04 de fevereiro de 2022

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas… percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.  Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (...)”

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas… percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.  Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (...)”

Assim começa o texto “O tempo e as jabuticabas”, de Rubem Alves, que tanto admiro. É impressionante como os textos dele falam por mim. Não que eu imagine que já vivi metade da vida, porque minha mente tem por subterfúgio imaginar a vida eterna e se esquivar de pensar na efemeridade da existência. Contudo, também já não tolero gabolices e sinto que em meu tempo já não cabem desperdícios vaidosos e vãos.

Evito me colocar em uma contagem regressiva, mas a verdade é que o tempo não volta e o relógio só anda para frente. O que fazer diante dessa realidade senão aproveitar todo tempo do mundo que nos resta?  Uma fórmula infalível ao priorizarmos o que fazer diante da infindável lista de tarefas é pensar se nossa próxima ação vai ser positivamente útil para alguém ou para a humanidade ou se ela traz felicidade. Usar esse critério pode auxiliar em algum direcionamento, embora não resolva nossas questões desde as mais simples às mais profundas.

O tempo está passando e queremos tudo da vida. Desejamos a boa sorte, o sucesso em todos os aspectos, o amor profundo, a Prosperidade com p maiúsculo, a saúde plena, a realização profissional, o casamento feliz, a família perfeita, a viagem ao redor do mundo, a fonte da juventude. Conforme a vida vai passando vamos constatando que não dá tempo de ser tudo o que sonhamos (muito não por nossa escolha), que os dias terminam sem que executemos todos os nossos afazeres, que a lista de pendências é uma espiral crescente infinita. Alguns de nós, sabiamente, se dão conta de que querendo ou não, escolhas sobre prioridades são feitas todos os dias, só que elas podem ser conscientes.

E assim, é possível bancar a opção de saber dizer “não” para muitas situações e “sim” para outras tantas, de sustentar um modo de vida em que o tempo seja prioridade e que tê-lo livre ou destinado para o que nos seja crucial é um luxo merecido que todos podemos ter. Viver a vida é fundamental, viver mesmo, não apenas existir. Na minha concepção, há uma correlação entre o viver de verdade e o ser de verdade, na essência de tudo.

E “o tempo e as jabuticabas” conclui por mim:  “(...) Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: ‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.  Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa… Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente  humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos , não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.  Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena.”

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Sem barulho

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Nem todo mundo quer o barulho a todo instante. Nem toda hora é hora para expressar uma opinião. Aliás, não necessariamente temos opinião formada sobre todas as coisas o tempo todo. Tem gente que gosta de ficar quietinho. Que precisa maturar suas ideias. Que prefere retrair para depois avançar. Há silêncios necessários. Pausas estratégicas. Pensamentos que precedem as falas. Um passinho de cada vez.

Nem todo mundo quer o barulho a todo instante. Nem toda hora é hora para expressar uma opinião. Aliás, não necessariamente temos opinião formada sobre todas as coisas o tempo todo. Tem gente que gosta de ficar quietinho. Que precisa maturar suas ideias. Que prefere retrair para depois avançar. Há silêncios necessários. Pausas estratégicas. Pensamentos que precedem as falas. Um passinho de cada vez.

A coisa está tão confusa que não raras vezes o julgamento social recai justamente sobre quem opta por não estabelecer o conflito, aliás, mais um conflito dentre os tantos existentes. Há que se entender que tem gente que opta pela paz e que de uma maneira mais singela expõe para o mundo a que veio. De passagem, claro, mas não indiferente.

Conceitos preestabelecidos. Comportamentos repetitivos. Ecos inconscientes levando a lugar nenhum. Outras tantas manifestações alcançando os fins pretendidos. E além. De um lado, pensamentos e sentimentos sem voz. De outro, o grito. E a coexistência entre eles faz da sociedade um ambiente plúrimo, consistente e complexo. E que bom que seja assim. Liberdades liberadas. Expressões expressadas. Silêncios, silenciados.

Tem gente que acha que tem monstro esperando o apagar da luz. Tem gente que quer ser o monstro, ou o amigo do monstro. Tem ainda aqueles que não acreditam em monstros. E outros que acendem a luz. Todos existindo e coexistindo, enriquecendo a diversidade, construindo pontes, tecendo diálogos, abrindo mentes, restaurando coisas, salvando gente, defendendo ideologias, batalhando por si, por todos. Qual valor tem essa liberdade? Incalculável.

E se pudesse sucumbir ao silêncio, talvez fosse para dizer sobre ética e liberdade, para levantar essas bandeiras e gritar que a censura não passará, a mitigação das liberdades individuais não passará, que estado de exceção não passará. Que evoluir democraticamente é muito para não continuar.

Que o silêncio pode fazer todo sentido para um e ou outro nesse momento e enquanto ele for, apenas, opcional.

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O que cabe em 30 dias?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Cabe uma vida? Cabe a mudança de vida? Cabe a efemeridade da vida? Cabe! Proponho uma reflexão a cada um dos leitores: há 30 dias, estávamos em dezembro, há poucos dias do Natal.

Cabe uma vida? Cabe a mudança de vida? Cabe a efemeridade da vida? Cabe! Proponho uma reflexão a cada um dos leitores: há 30 dias, estávamos em dezembro, há poucos dias do Natal.

De lá pra cá, quantas coisas aconteceram? Provavelmente, muitas. Quantos reencontros? Quantas despedidas? Quantos abraços? Como foi sentir esperança? Brindar com alguém querido? Fazer planos de ano novo ?  E aí, tomou sua dose da vacina? Buscou alguém no aeroporto ou na rodoviária? Viajou? Montou sua árvore de Natal? Fez alguma sobremesa para a ceia? Comeu rabanada? Vestiu branco no réveillon? Contraiu Covid? Influenza? Se afligiu? Está preocupado por alguém? E a rinite, voltou? Como  foram os dez dias de chuva constante? Sentiu medo? Se emocionou? Se despediu de alguém? Prometeu cuidar da saúde? Refez votos com seu amor? Está procurando um amor? Pretende estudar mais? Quer mais equilíbrio para sua vida? Quanta vida cabe em nossos dias! E como as coisas mudam rápido. Este é um fato com o qual precisamos lidar.

A vida se mostra efêmera todos os dias, não é? Por isso, nunca me pareceu tão sábio o básico conselho de aproveitarmos cada segundo e vivermos o dia de hoje com a plenitude que ele merece. Devemos gozar das boas companhias, desempenhar nossas funções com presença e realmente desfrutar do dia de hoje.

Uma conhecida me relatou esses dias tudo o que aconteceu na vida dela de dezembro para cá. A dinâmica foi intensa realmente. A família dela teve a alegria de um nascimento e a tristeza de uma despedida. Ela foi demitida em dezembro e contratada por outra empresa em janeiro. Quase todos os seus familiares contraíram Covid na noite de Natal, após um reencontro emocionado entre os parentes. De lá pra cá, uma sobrinha dela bateu com o carro e sofreu danos da enchente em Minas Gerais. Ela, que havia escapado do vírus em dezembro, disse que está há duas semanas sofrendo agora com a Influenza. Lembra do emprego novo que ela conseguiu agora, no início do mês? Já foi dispensada antes mesmo de começar, pois não pôde iniciar suas funções laborais no dia combinado em razão dos sintomas gripais.

Todas essas estórias me foram contadas em um rápido encontro virtual e me fizeram refletir bastante ao desligar a chamada. E ela autorizou que estivessem nesta coluna uma mensagem clara sobre a importância de valorizarmos cada dia, cada momento, pois as circunstâncias mudam a todo instante.

E esta é uma mensagem de ano novo que gostaria de registrar para vocês. Mesmo já imbuídos pela rotina e preocupações, pela maré de anseios e informações por todos os lados, pela vida multitarefas, é importante refletirmos sobre estarmos efetivamente presentes em tudo o que fazemos, em tudo o que vivermos. Presença. Que sejamos e estejamos presentes.

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Transformação

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Há bons anos, parafraseei alguns textos de um dos meus escritores preferidos, Rubem Alves. Li, reli, refleti sobre vários deles. E naquela época, pensando sobre adversidades que a vida nos impõe a todo instante, lembrei-me de um texto chamado “A Pipoca” de que eu particularmente gosto muito.  A metáfora principal compara nossa vida com um milho de pipoca antes de estourar e nossa evolução com a transformação dele propriamente em pipoca. Estreei esta coluna com esta reflexão. E ainda hoje, faz todo sentido.

Há bons anos, parafraseei alguns textos de um dos meus escritores preferidos, Rubem Alves. Li, reli, refleti sobre vários deles. E naquela época, pensando sobre adversidades que a vida nos impõe a todo instante, lembrei-me de um texto chamado “A Pipoca” de que eu particularmente gosto muito.  A metáfora principal compara nossa vida com um milho de pipoca antes de estourar e nossa evolução com a transformação dele propriamente em pipoca. Estreei esta coluna com esta reflexão. E ainda hoje, faz todo sentido.

Em um trecho do texto Pipoca, Rubem Alves escreveu:  “(...) é que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.”

Adoro esse período final transcrito que diz que a transformação só acontece pelo poder do fogo. E sempre reflito sobre o que é o fogo em minha existência e qual poder dou a ele. Como é importante esse processo de reflexão e autoconhecimento - e aí nos diferencio dos milhos da metáfora.

Pois bem. Diferentemente do fogo sinônimo de “fenômeno que consiste no desprendimento de calor e luz produzidos pela combustão de um corpo” definido pelo dicionário, que faz grão de milho duro estourar e virar pipoca, o fogo na vida de um ser humano tem múltiplos significados. Infinitos, talvez. Tentarei resumir (talvez ou muito provavelmente em vão) em uma palavra: adversidade.

Se tivéssemos consciência de que toda adversidade é presságio de, no mínimo, aprendizado, deixaria de ser algo doloroso para tanta gente. Se tivéssemos como acolher e abraçar com gratidão cada adversidade como um presente da vida, tudo seria mais simples e fácil. Mas possivelmente, menos desafiador – e o ser humano de uma maneira geral gosta de ser desafiado, não é verdade?

Pressupondo que a adversidade/o fogo prenuncia crescimento e transformação em nossas vidas, faz sentido observarmos que “milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.”

“Heureca”! Ora, dependendo do meu enfoque e da minha escolha sobre a forma do meu olhar, se determinada adversidade acontece para o meu bem e minha evolução, então ela deixa de ser adversidade. E mais, não nasci com vocação para ser milho duro sem finalidade. Que venha o fogo. Quero mais é ser pipoca, da boa. Quem mais ?

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