Reflexões sobre o mundo virtual. Penso que sejam necessárias. Realmente necessárias. Pelo menos ando pensando bastante sobre o assunto. Sinto que as vidas, os desejos, os passos, os afazeres, os familiares das pessoas nunca antes haviam sido tão expostos como nos últimos tempos. Por vezes, as postagens nas redes sociais nutrem um ideal de aparência que sequer condiz com a realidade. Muitas pessoas mais preocupadas em parecerem ser do que o que verdadeiramente são.
Reflexões sobre o mundo virtual. Penso que sejam necessárias. Realmente necessárias. Pelo menos ando pensando bastante sobre o assunto. Sinto que as vidas, os desejos, os passos, os afazeres, os familiares das pessoas nunca antes haviam sido tão expostos como nos últimos tempos. Por vezes, as postagens nas redes sociais nutrem um ideal de aparência que sequer condiz com a realidade. Muitas pessoas mais preocupadas em parecerem ser do que o que verdadeiramente são.
Há filhos de estranhos cujo crescimento podemos acompanhar com sensação de proximidade ainda maior do que os próprios parentes que se encontram em almoços de domingo, Dia das Mães ou Natal. Sem nunca sequer os termos conhecido. Porque seus rostos nos são apresentados às vezes por foto de exames de ultrassonografia. Porque não há mais necessidade de ir à maternidade para sanar a ansiedade e a curiosidade de conhecer “a carinha do bebê”. Basta esperar algumas horas (às vezes, minutos) e alguém se encarregará de apresenta-lo ao mundo virtual, aos amigos reais, aos amigos de amigos, conhecidos e estranhos que estranhamente (e aqui cabe o pleonasmo) estão aguardando para conhecer a face da nova vida que chegou ao mundo. Muitas vezes, sequer os pais são conhecidos. Nunca os abraçamos. Não trocamos palavras, não compartilhamos momentos.
Tenho a sensação de que muitas pessoas fazem coisas apenas para dizer que fizeram. Para que terceiros saibam que foram feitas. Vivem no piloto automático, na ânsia de cumprir o roteiro e mostrar para os demais que o cronograma está sendo cumprido. Não sei se vivem tão bem cada momento, quando cada imagem por vezes denota personagens afoitos por provarem que fazem cada vez mais coisas legais. Viagens inteiras são postadas. Claro, não há um radar das 24 horas vividas por alguém.
Mas, mesmo que o seu acesso às redes sociais seja muito limitado, asseguro que você, caro leitor, tem conhecimento sobre o paradeiro de muitos conhecidos, de pessoas com as quais pouco trocou palavras na vida. Sabe o que comeram no almoço, a marca do vinho que bebem, as roupas preferidas, os lugares por onde passaram, as principais paisagens avistadas. Se bobear, aproximando alguma imagem, se informa até sobre número de voo e as poltronas em que sentaram-se no avião. Tudo isso, sem esforço, em uma mera passagem de dedos pela tela do celular enquanto a vida multitarefas demanda de você o pensamento acelerado e distribuído nas muitas distrações mentais que demandam nosso pensar contínuo. Com pouco relaxamento.
Às vezes eu me indago: por que determinada pessoa está um local tão lindo e não aproveita para se desconectar para esvaziar a mente, para ser presente e aproveitar a oportunidade que tem sem prestar contas aos outros nas redes sociais? Será que sabe o quanto é bom não prestar contas à ninguém, não dar satisfações sobre seu destino, sobre o inenarrável prazer da liberdade de não precisar provar nada para ninguém, de não necessitar de aprovação, de não precisar demonstrar o tempo todo tudo o que se faz e o que se tem? Será que sabe quem é independente do que os outros pensam e julgam?
E eu mesma busco respostas na tentativa de autoconvencimento: porque determinada pessoa pode simplesmente gostar de compartilhar coisas incríveis de sua vida com seus muitos amigos virtuais, afinal, o mundo já está tão sobrecarregado que inundar de alegria o ambiente da internet com referidas imagens pode ser uma grande ideia. Porque a sociedade já está farta de acessar informações tristes e desesperançosas. Porque o convívio ainda que virtual é prazeroso, une, aproxima e dá voz às pessoas.
Reflito sobre a ideia de partilha, o sonho de habitarmos em um mundo em que as pessoas torcem umas pelas outras, que ficam realmente felizes por suas conquistas, que se inspiram verdadeiramente e sinceramente nas imagens de amor compartilhadas. Temo que seja apenas um ideal distante – não sou tola, a exposição desmedida atrai holofotes por vezes perigosos, outras vezes, bem vindos, planejados, comemorados até.
Temos muito o que refletir sobre tudo isso. Às vezes sinto-me constrangida por invadir a intimidade alheia ao abrir meu celular nas redes de interação. Outras vezes, sinto-me privilegiada em acessar recursos tecnológicos que permitem com que eu me sinta tão próxima fisicamente - mesmo sem estar - dos meus familiares que moram em outros países. Tudo isso é realmente incrível. A pandemia veio e essa vida virtual ganhou espaço ainda maior, necessariamente maior. Cedemos todos. Utilizamos as redes para trabalhar, para sonhar, para interagir. E o depois disso tudo? Seremos cada vez mais imersos no mundo da conexão.
De certa forma, penso que estamos todos nos adaptando e aprendendo conciliar a vida real com essa magnífica e potente ferramenta de comunicação que pode trazer incontáveis benefícios de muitas ordens. São as dores e as delícias desse novo universo virtual. Por ora, fico com as delícias dessa interação fantástica que as redes sociais nos proporcionam e sigo refletindo sobre as consequências da exposição de nossas vidas para um sem limite de indivíduos. Não nego, para mim, muitas vezes danosas. Prefiro a liberdade de viver a vida real sem realmente precisar postar nada para ninguém.
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