Blog de paulafarsoun_25873

Sobre dedicar-se

sexta-feira, 01 de outubro de 2021

Todo o bem que você faz, em bem retorna para você. A bem da verdade, eu acredito, a vida nos ensina que a lei de causa e efeito é real. De alguma maneira, o desenrolar da vida sob vários aspectos demonstra que plantar e colher são causa e consequência, a exemplo do que acontece com a própria Natureza, da qual fazemos parte.

Todo o bem que você faz, em bem retorna para você. A bem da verdade, eu acredito, a vida nos ensina que a lei de causa e efeito é real. De alguma maneira, o desenrolar da vida sob vários aspectos demonstra que plantar e colher são causa e consequência, a exemplo do que acontece com a própria Natureza, da qual fazemos parte.

Outras vezes já me referi por aqui sobre aquela tal “lei do esforço”. Hoje, quero substituir a palavra esforço por dedicação. Não que o sentido não seja similar. Mas me parece que dedicação flui de forma um pouco mais suave do que esforço, que me parece um pouco mais penoso. O ponto é que o ato de se dedicar a algo ou a alguém, pode ser natural, fazer parte da nossa vida e render belos resultados.

A dedicação em plantar a semente, cuidar dela, dedicar-se a ela, certamente, cedo ou tarde, gera frutos. Sobre quais frutos, a colheita dirá. Mas o fato é que a dedicação empregada para o bem gera luz, contribui para nosso mérito acumulado e resulta em coisas boas. No tempo certo, o resultado vem, talvez não exatamente conforme o esperando, mas certamente da forma como era para vir. Se não nos empenharmos, creio que resultados satisfatórios serão bem mais difíceis de serem alcançados.

Empregar energias, investir tempo, intensificar forças em prol de algum sonho, projeto ou ideal. É sobre isso que estou falando. Vale para relacionamentos, para trabalho, para autocuidado e tantas outras coisas que traçamos como prioridades em nossa vida. Sem dedicação, a coisa não anda.

Não raras vezes, pensamos que os esforços estão sendo em vão, pois os resultados esperados não acontecem muitas vezes conforme a ansiedade humana demanda. Mas a vida tem me provado, felizmente, que o empenho sincero por algo, sobretudo se a causa for verdadeira e for para o bem, de alguma maneira, retornará para nossas vidas em forma de êxito, realização, aprendizado e gratidão das pessoas.

Não vejo um atleta ser campeão sem ter empregado esforço diário da superação e do treinamento. Também não vislumbro um casamento feliz sem que o casal se dedique diariamente por essa felicidade. O candidato aprovado em um vestibular difícil e concorrido, certamente empregou bastante energia no seu projeto de estudos. E por aí vai. Não podemos generalizar, claro, pois somos seres absolutamente únicos e especiais, com histórias de vidas particulares que diferenciam, inclusive nossas condições para lutar.

Mas, de uma maneira geral, pessoas que vencem pelo caminho da honestidade e do bem, seja em que aspecto da vida for, certamente em algum momento precisaram decidir sobre o que desejavam plantar e esforçarem-se para semear. A colheita é uma consequência. E o tempo é de Deus.

Dificilmente conquistas grandiosas, relacionamentos felizes, prosperidade e satisfação pessoal caem em nosso colo sem dedicação. É da vida. É saudável. Precisamos nos empenhar em nossos projetos e escolhas. E podemos até mesmo nos dedicar a fazer isso de forma leve, equilibrada e contínua, sem que precisemos prestar justificativas para os outros. É uma história entre nós mesmos e as forças superiores. Não vai ser fácil sempre. Não vai dar certo todas as vezes. Mas acredito sinceramente que se não movimentarmos a energia, será bem mais difícil alcançarmos o sonho de felicidade que todos temos.

Por isso, é fundamental termos responsabilidade por cada grão a germinar que plantamos na vida. A semente do esforço justo e sincero, certamente resultará no cultivo de um fruto de luz. E se nos mantivermos atentos, reconheceremos esses sinais e colheremos frutos doces e belas flores na vida.

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Jardim de Rubem Alves

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

A prosa começa com o grande Rubem Alves: “Todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que as árvores e lagos tenham nascido dentro da alma. Quem não tem jardins por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles...”

Algo grandioso pode acontecer quando a empatia nasce. E cresce. Desenvolve. Engrandece. Uma energia tão imponente e que não sabe a força que tem. Transforma, reequilibra, renova. A sintonia se faz. E daí pode surgir o afeto. Os afetos.

A prosa começa com o grande Rubem Alves: “Todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que as árvores e lagos tenham nascido dentro da alma. Quem não tem jardins por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles...”

Algo grandioso pode acontecer quando a empatia nasce. E cresce. Desenvolve. Engrandece. Uma energia tão imponente e que não sabe a força que tem. Transforma, reequilibra, renova. A sintonia se faz. E daí pode surgir o afeto. Os afetos.

É mais simples que afetos se desenvolvam em ambientes em que as pessoas, de certa forma, existem para amar umas às outras, como no seio de uma família. É igualmente menos remota a hipótese de fomentarmos afetos em meio às amizades que vão se formando. Há várias formas, várias nuances desse sentimento.

Chama a atenção o despertar de um sentimento coletivo de bem querer e então como não poderia deixar de ser, entrego-me às reflexões. De onde vem o carinho coletivo, a reciprocidade, a confiança crescente? Do sorriso, da vontade de que tudo dê certo, do empenho em construir boas relações, da sinceridade? Vem de tudo isso, eu concluo.

E então, se a fórmula vem empiricamente sendo comprovada como infalível, pois os afetos são construídos de maneira tão sensível e honesta, por que não espalhar isso de alguma forma? A dificuldade, penso, vem da origem. A essência pode estar maculada. As dificuldades cotidianas tantas vezes escondem o melhor sorriso. O cansaço passa a ser obstáculo para a energia que impregna o esforço.

Nos últimos tempos, em que pese a volumosa gama de exceções, polimos a alma de esperança quando percebemos um tentando ajudar o outro, salvar o outro. Pois é. Pasme. Acontece. Essa gente boa que se preocupa com os outros, que olha para os lados, que se move em direção do bem coletivo, existe. Volta e meia o mundo se apega a uma corrente de energia pura, torcida sincera pelo bem daquelas pessoas que dá gosto de ver e de sentir. E mais do que isso, pessoas que saem de sua zona de conforto, que se movem, vertem sua energia, seus recursos, seu tempo e seu amor para ajudar alguém. Empatia generalizada. Espécie rara e linda de viver. No peito que chama pelas afeições, cresce a esperança na Humanidade.             Rubem Alves tem razão. Todo jardim começa com um sonho de amor.

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Flor engasgada

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Sabe quando a gente engasga e não consegue dizer o que deve ser dito? De tanta coisa a ser pronunciada, refletida, expurgada de dentro da gente, parece que uma boca apenas não dá vazão? Pois então, a metáfora serve para ilustrar o que muitas de nós, mulheres, sentimos a cada crime cometido contra uma de nós, a cada covardia que nos inibe, nos mutila, nos agride moral e fisicamente. A cada vez que tentam nos calar e a cada vez que conseguem fazê-lo. A sensação é de impotência, de tristeza e de um monte de outras coisas.

Sabe quando a gente engasga e não consegue dizer o que deve ser dito? De tanta coisa a ser pronunciada, refletida, expurgada de dentro da gente, parece que uma boca apenas não dá vazão? Pois então, a metáfora serve para ilustrar o que muitas de nós, mulheres, sentimos a cada crime cometido contra uma de nós, a cada covardia que nos inibe, nos mutila, nos agride moral e fisicamente. A cada vez que tentam nos calar e a cada vez que conseguem fazê-lo. A sensação é de impotência, de tristeza e de um monte de outras coisas.

Contudo, os tempos são outros e em pleno século 21, estamos mais despertas, mais fortes e mais unidas. E essa potência pode e deve fazer toda a diferença na rede de apoio de umas com as outras. E tem tudo para ser uma força propulsora de mudança em nossa sociedade, para melhor.

Algumas vezes já escrevi por aqui sobre sororidade. E peço aos leitores, licença, mais uma vez, para abordar o tema. Porque ele deve ser repetido, relembrado, enfrentado, refletido e propagado. Mais mulheres estão sendo vítimas das pessoas em quem mais deviam confiar na vida. Aquelas pessoas que lhes prometeram "amar e respeitar, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, por todos os dias de sua vida."

Aconteceu em nossa cidade há um mês. E não podemos normalizar a barbárie. Mais um caso estarrecedor de violência contra todas as mulheres que traz à tona discussões acerca do feminicídio e nos relembra que uma parcela significativa do que entendemos por humanidade está carente justamente de humanidade. Mais covardia, maus tratos e violência de todas as ordens que nos saltam aos olhos e nos provocam mais tristeza e comoção.

Fica outra vez evidente que o agressor não necessariamente tem "cara de mau" e sangue visível nos olhos. Não está apenas nos becos escuros dos quais aprendemos a fugir desde a infância. Não transparece sua pior versão no primeiro encontro. Ele pode estar cruzando com você pelas ruas. Morar em seu condomínio. Frequentar os mesmos restaurantes. Cumprimentar no trabalho. Participar do seu seleto grupo de amigos.  Pode estar dentro do lar, dividindo a cama com você. E essa realidade aterrorizante pela qual tantas mulheres passam é absolutamente assustadora sobretudo e por razões óbvias, para as outras mulheres.

O impacto foi generalizado. Muitas de nós, absolutamente estarrecidas e compadecidas, concluímos que o inimigo pode mesmo morar ao lado e que não podemos nos calar. Quantas mulheres e homens são vítimas cotidianas da violência de homens? Não se trata de um sexismo às avessas. É realidade nua e crua, nítida aos olhos de qualquer um que queira enxergar. Muitas mulheres são agredidas por serem mulheres. Mortas por serem mulheres. E os ataques à integridade física e moral podem ser- e são!- degradantes.

Os atos de hostilidade e as provocações não resultam sempre no fim da vida delas. Felizmente. Mas deixam marcas e feridas abertas em sua identidade que deveriam nos envergonhar enquanto sociedade. Nossa omissão merece nos penalizar internamente por cada vez que pudemos ser úteis para ajudar alguém e não o fizemos por qualquer razão.

Precisamos falar sobre sororidade, sobre o sentimento de empatia que deveria impregnar a cada uma de nós e sobre a união entre as mulheres que podem ser a aliança de que muitas precisam para terem força e caminho para e reerguerem e se libertarem. Em proporção ainda maior do que tem sido propagada a sororidade, ela tem que ser sentida. E praticada. A união faz a força, sim. Que consigamos desengasgar nossas flores. Em paz. #nuncafoisurto

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Pingos nos is

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Acreditar no ser humano até que ele demonstre que não é digno da sua confiança. Ter boa vontade até que reste comprovado que o destinatário das suas ações não é tão digno assim de recebê-las. Ter a intenção de ajudar, sem requisitar nada em troca (nem nas entrelinhas das segundas intenções). Dar de verdade, doado, porque sim. Sem dívida moral para acertar depois. Compartilhar prosperidade, sem contabilizar os créditos que sua boa ação pode te proporcionar. Fazer sem esperar retorno. Ensinar com a intenção de que aprendam. Aprender com a intenção de aprender mesmo.

Acreditar no ser humano até que ele demonstre que não é digno da sua confiança. Ter boa vontade até que reste comprovado que o destinatário das suas ações não é tão digno assim de recebê-las. Ter a intenção de ajudar, sem requisitar nada em troca (nem nas entrelinhas das segundas intenções). Dar de verdade, doado, porque sim. Sem dívida moral para acertar depois. Compartilhar prosperidade, sem contabilizar os créditos que sua boa ação pode te proporcionar. Fazer sem esperar retorno. Ensinar com a intenção de que aprendam. Aprender com a intenção de aprender mesmo.

Nem tudo vale dinheiro, nem tudo vale crédito, nem tudo vale nota na escala de valores de uma pessoa. Aliás, as coisas mais importantes da vida, nem coisas são. Frase repetida, mas cheia de razão.

Sabe quando alguém é honesto com você e chega a te comover? Quando você recebe um presente como demonstração de gratidão, sem interesse? Quando você é tão bem tratado que fica com vontade de levar aquele bem feitor da gentileza para casa? Quando as pessoas são tão solícitas que chegam a te constranger? Quando te oferecem colo e acalento e você não consegue nem aceitar? Quando te fazem tão bem que você chega a se emocionar? Quando as intenções das pessoas são genuinamente tão boas que chegamos a desconfiar? Então. Quando o lado bom da força transborda, por vezes fica até difícil conseguir lidar. Estranha realidade.

Por que dificultar a vida das pessoas à toa? Para quê criar obstáculos desnecessários? Por que se fazer temer para receber o respeito de alguém? Estamos na era da luz. Nem todos os pingos dos “is” precisam estar milimetricamente em cima dos “is”. Cadê a flexibilidade? O jogo de cintura? O “borogodó”? Cadê a leveza? Le-ve-za.

Não estou me referindo aos jeitinhos, às trapaças, ao desejo de enganar as pessoas. Pelo contrário. Quero falar das pessoas que por pureza de espírito, por intenções positivas, fazem por amor, acreditam pela crença de que as pessoas podem ser verdadeiras, dão por dar, recebem por receber, e por aí vai. Essa lógica que deveria ser mais natural entre nós, humanos.

Pessoas não são números. Pais não estão sempre certos. Professores não sabem tudo. Desempregados não são malandros. Estrangeiros não vivem melhor. Relacionamentos não são sempre perfeitos. Trabalho não é martírio. Políticos não são todos corruptos. Todos os milionários não são felizes. Percebem?

Às vezes acho que estamos vivendo de exceções. Isso me inquieta. A pirâmide às vezes me parece invertida. A base, a massa, a maioria, deve ser composta pelo lado bom da força. Se me falam algo, acredito. Por que tenho que imaginar que a pessoa está mentindo? Se me tratam com gentileza, retribuo. Por que deveria imaginar que a intenção por trás dos gestos afáveis estão enrustindo uma intenção diversa? Se me pedem e eu posso fazer, eu faço. Por que deveria me recusar a ajudar alguém?

É tão comum escutarmos conselhos do tipo: “não fique disponível”, “a regra é não”, “não caia nessa conversa fiada”, “não perca seu tempo ajudando”, “ faça o mínimo necessário”, “ não acredite nessas boas intenções”, “duvide até do espelho”, “não conte nada para ninguém”. Andamos tão armados. Tão fechados. Tão individualizados. Complexo. Talvez mais difícil fosse ser diferente disso.

Hoje em dia estamos sendo julgados, filmados, gravados, registrados. São tantos dedos apontados, tantas mentes fazendo juízo de valor sobre nossa postura. São tantas opiniões preconcebidas sendo extraídas exclusivamente das postagens das redes sociais, de uma fala isolada, de uma atitude excepcional em um dia ruim, de uma fofoca, de uma impressão negativa. Isso dificulta as relações mais naturais, mais reais, mais verdadeiras, com mais partilha e menos julgamento, com mais essência e menos forma. Será que o lado bom da força está enfraquecendo?

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Falar ou calar

sexta-feira, 03 de setembro de 2021

Em uma frase reputada a Albert Einstein, ele disse:  "Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se revela."

Em uma frase reputada a Albert Einstein, ele disse:  "Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se revela."

Em tempos em que vangloria-se tanto a necessidade e coragem em se dizer tudo o que pensa, aqueles que preferem o silêncio muitas vezes passam por involuídos. Isso mesmo. Se antes poupar a si mesmo ou ao próximo de discussões, deixar de falar tudo o que supostamente não seria bem recebido pelo interlocutor, recluir-se em silêncio eram práticas desejadas, hoje, há quem diga que nem tanto. Pelo contrário. Basta um bate-papo em uma roda de amigos e cedo ou tarde alguém acaba explicitando que a hora da verdade soou, que não faz bem para a saúde guardar sentimentos e opiniões e que o processo de libertação para por essa franqueza no trato social.

E a legião das pessoas que não desejam adoecer por guardar além das palavras engolidas sem ser ditas, as mágoas remoídas é deveras crescente. Esse caminho passa pelo autoconhecimento e algumas vezes descamba para o extremo posto: dizer tudo o que sente, sem traquejo e muitas vezes, sem sensibilidade. E então, ao invés de os sapos serem engolidos, passam a ser jogados no colo do outro sem parcimônia.

Esse assunto surge em muitas conversas. Poucas vezes alguém aponta para o caminho do meio como algo a ser considerado. E então surge a indagação: o equilíbrio é o meio mesmo? Fato é que o ponto de equilíbrio varia de pessoa para pessoa. E só especialistas podem aprofundar o assunto. 

Eu mesma, que costumo buscar a interação eficiente e ter resposta para tudo, por esses dias andei sem palavras. De verdade. Sem vontade de dizê-las, talvez. Sem motivação. Buscando uma luz que ao final só conduzia para o silêncio e uma vontade toda minha de revisitar a introspecção. Aliás, a busca pelas práticas de silêncio e o voltar-se para si conquista cada vez mais adeptos. Mas seria possível vivê-la em público, cercada de pessoas, de demandas sociais?

E então, como de costume, a reflexão vem. E mais uma vez, a conclusão a que não chegamos (por complexa que é) e o percurso que aponta para um sentido: não devemos julgar as pessoas. Ninguém. Cada um trava suas batalhas diárias, algumas delas inglórias. Uns vão sentir necessidade de compartilhá-las com maior número de pessoas. Outros irão se retrair. Muitos se voltarão para a natureza e sua comunhão com ela serão seu reencontro com o estado de equilíbrio. Não podemos julgar nenhuma delas.

Uma boa técnica, que na verdade é empirismo, passa justamente por lapidar um conceito básico que deveria se fazer presente em mais momentos de nossas existências: o respeito. A si próprio. Aos outros. A toda a coletividade. Dizer tudo o que pensa ferindo pessoas desnecessariamente, não me parece o melhor roteiro de vida. Da mesma forma, ser destinatário de um contingente de remorso por não conseguir expressar o que se sente, também não. A verdade é que cada um sabe de si. Mas acho que o trato com a comunicação interna, social e com o mundo, poderia ser mais bem refinado...

Palavras que somem podem se perder em um lugar desconhecido por todos. Aquilo que deveria ser dito e não foi. Aquilo que felizmente não foi dito, mas foi pensado. Há tantas formas de se comunicar. Ricas formas. E dependendo do contexto, um olhar diz mais, muito mais do que um belo texto faria.

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Como digerir tantas más notícias?

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Pois então. Começamos com esta pergunta: como lidarmos com tantas notícias ruins? São muitas, de todas as ordens, de várias frentes. Não bastassem as informações sobre a própria crise sanitária que assola o planeta há quase dois anos, temos de enfrentar uma realidade desafiadora em diversos aspectos.

Pois então. Começamos com esta pergunta: como lidarmos com tantas notícias ruins? São muitas, de todas as ordens, de várias frentes. Não bastassem as informações sobre a própria crise sanitária que assola o planeta há quase dois anos, temos de enfrentar uma realidade desafiadora em diversos aspectos.

Vejamos algumas das tristes notícias dos últimos dias... enfrentamos uma crise institucional no Brasil sem precedentes no cenário democrático; péssimas notícias no campo político; burburinhos de corrupção; inúmeras queimadas em Estados do Norte e do Centro-Oeste, animais mortos, vegetação em chamas; aumento nos números de violência doméstica no Brasil e em nossa cidade, feminicídios e outros crimes chocantes que nos tiram a paz, o fôlego e a esperança; aumento do número de pessoas desempregadas; variante delta se alastrando ; índices de inflação aumentando;  alimentos da cesta básica cada vez mais caros; gasolina quase custando R$ 7, o litro; conflitos no Afeganistão; mulheres afegãs em extremo desespero; Israel bate recorde de número de casos de Covid-19 etc, etc, etc.

Como enfrentarmos a ideia de sermos partes da História, com h maiúsculo, personagens de um tempo cujos registros futuros denunciarão uma era de múltiplas dificuldades? Bem, não tenho a resposta. Sei que se eu tentar me desconectar das manchetes ou me esquivar de informações ruins, não vai mudar a realidade dos fatos que é justamente a existência deles. O tique-taque da bomba relógio não vai pausar. As coisas continuam acontecendo, mesmo que individualmente tentemos nos desconectar delas. Isso é um fato.

É preciso refletirmos sobre isso. Somos células integrantes de um organismo universal. Somos seres componentes da sociedade. Tudo isso que está a ocorrer, de alguma maneira é problema nosso, nos diz respeito, precisa contar com nossa potência transformadora. Somos mais de sete bilhões de pessoa. Pode parecer que a inércia de apenas um de nós diante da dor e do caos não fará diferença. Mas penso que fará sim. Somos um mais um mais um mais um e assim sucessivamente. O primeiro que puxa uma fila do bem, da generosidade, da construção de algo melhor, de uma mudança positiva, pode ser simplesmente o início de uma força transformadora. E cada um que fizer algo de bom, pode contribuir muito fortemente para o bem de uma pessoa, de um grupo, de uma sociedade inteira. Acredito nisso. Se até a esperança se esvair, como vamos sair dessa? 

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Grita, menina, de novo

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Queridos leitores, hoje inicio a coluna com um pedido de licença a todos vocês. Esta semana recebi mensagem de uma leitora de A VOZ DA SERRA por uma rede social, em que mencionava a coluna “Grita, menina!”, que publicamos tempos atrás. Narrou-me que aquele texto sacudiu suas estruturas de alguma maneira e movimentou sua vida para um lado bom: a encorajou. Ao reler essas palavras, entendi o porquê. E se me permitem, a coluna de hoje será uma releitura daquela. Que as palavras cheguem às destinatárias certas.

Grita, menina!

Queridos leitores, hoje inicio a coluna com um pedido de licença a todos vocês. Esta semana recebi mensagem de uma leitora de A VOZ DA SERRA por uma rede social, em que mencionava a coluna “Grita, menina!”, que publicamos tempos atrás. Narrou-me que aquele texto sacudiu suas estruturas de alguma maneira e movimentou sua vida para um lado bom: a encorajou. Ao reler essas palavras, entendi o porquê. E se me permitem, a coluna de hoje será uma releitura daquela. Que as palavras cheguem às destinatárias certas.

Grita, menina!

Grita. Não aceite isso não. Exponha ainda que silenciosamente a parte que não mais te cabe desse latifúndio histórico de opressão. Abra mão dessa “terra” besta. Reconheça teu valor e não temas pelo leite que jaz derramado. Até as vacas hão de doar mais leite para recompor sua liteira avariada.

Grita, menina. Não sente nesse colo opressor. Não lave mais essa louça de um tostão, nem queime as pontas dos dedos nesse fogo mais quente que o queimador do fogão. Saia por essa porta de cabeça erguida, peito inflado do orgulho acumulado que teimaram em limitar. Grita com essa voz grossa ou fina, rouca, esganiçada. Voz de doida que é muito sã. Essa voz que sai de ti e que é a mais linda que se pode ouvir. Não creia que sua potência é louca e que sua voz é pouca.

Grita, moça. Até que os surdos possam ouvir. Grita com tua alma brilhante cuja luz tentam apagar. Se lança por aí com esse andar desengonçado, aquele lerdo que sempre fica para trás, com esses passos desencontrados, arrastados pelo caminho cujas armadilhas teimam em colocar. Corre por aí com esse preparo físico inato e vigoroso que tentam suprimir.

Grita até doer essa garganta que de frágil não tem nada, até arrepiar os fios desse cabelo que de feio não tem nada, até sacodir sua carne. Vai, menina, use seu corpo, sua força interior. Pode ir. Seja a lúdica sonhadora que sempre foi, mas sonhe por aí. Seja a emotiva chorona, mas chore em outro lugar. Seja a mãe babona, a mulher brigona, mas seja. Seja o que quiser. Cante esse canto embargado, fora do tom, sem ritmo, mas cante fora daí.

Seja, menina. Tudo ou nada, a desequilibrada, mas seja. Conduza seu oito ou oitenta nesse caminho vão. Ou vil. Corra com sua “TPM insuportável”, com seu “temperamento indomável”. Fuja desse lugar de oprimida. Busque sua lucidez, resgate sua coragem.

Vá com a roupa feia, com a unha sem estar feita, com o peso sem medida. Não liga, menina. Grite que está cansada desse esteriótipo fictício, dessa capa de revista de mentira, dessa pressão descabida, dessa forma que não consegue ser. Fuja desse estigma de louca. De mal amada. De pouco cuidada.

Espalhe essa energia reprimida, de tempos em tempos suprimida. Dê o primeiro passo e perceba que não desaprendeu a andar. Nem a lavar e passar. Não lave mais nada não. Enquanto não aprenderem a lavarem suas bocas, a secarem seus ranços, a perceberem o quão tolos são seus comandos. Ria de tudo isso. Use seu riso para gargalhar contra quem te reprime e desentale esse rojão de vida agarrado sob o nó da sua garganta.

Sopre a vida. Mude de postura. Aprenda a não silenciar. Salvo se quiser. Berre esse canto entalado, enlutado de quem quase morreu e sabe que só se vive uma vez. Vá, menina. Viva. V-i-v-a! Saia daí.  Seu lugar não é a cozinha, salvo se quiser. Nem atrás do homem. É em todo lugar.

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Quem sabe

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Quem há de saber o que virá? Só podemos garantir o aqui e agora, este momento, este exato instante em que escrevo essas palavras e que você, leitor ou leitora, as leem. Quem sabe o resultado disso tudo? E se o amanhã não for o que esperamos dele. E se o mundo mudar da noite para o dia. E se a nota não corresponder ao tanto que for estudado. E se o amor não for correspondido na mesma medida do que foi emanado. E se não chover. Se não passar. Se não melhorar. E se os males vierem para o bem. Se encontrar pessoas certas na hora certa. E se o sonho não se concretizar.

Quem há de saber o que virá? Só podemos garantir o aqui e agora, este momento, este exato instante em que escrevo essas palavras e que você, leitor ou leitora, as leem. Quem sabe o resultado disso tudo? E se o amanhã não for o que esperamos dele. E se o mundo mudar da noite para o dia. E se a nota não corresponder ao tanto que for estudado. E se o amor não for correspondido na mesma medida do que foi emanado. E se não chover. Se não passar. Se não melhorar. E se os males vierem para o bem. Se encontrar pessoas certas na hora certa. E se o sonho não se concretizar. E se o emprego não der certo. E se as projeções forem frustradas. E se eu não estiver viva amanhã...

Tantas coisas podem dar certo. Ou não. O depende é uma constância, da mesma forma em que essa circunstância condicional pode significar o grande barato da vida. A verdade é que não sabemos o que será, nem o que teria sido caso as escolhas tivessem sido outras. Por vezes, a opção é justamente escolher, tomar decisão, direcionar, agir em determinado sentido. Talvez, quem consegue se lançar nos desafios sem um retrovisor se questione menos sobre o que poderia ter sido e não foi.

Nesses tempos de pandemia e caos, muitos se viram obrigados a enfrentar de uma hora para outra, uma conversa dificílima que estava sendo adiada há anos, quiçá a vida inteira: o diálogo interno, aquele bate-papo em que o significado maior pode estar justamente em ouvir-se, entender-se. E então o questionamento que pode surgir é: como compreender os desígnios, anseios, desejos, medos de um ser tão assoberbado pela avalanche de medos, preocupações, mudanças e incertezas. E se nada disso estivesse acontecendo? Haveria tempo para essa conversa séria?

E se ... ah! Se já era desafiador existir com a sobra de condicionantes, imaginemos agora em que o “se” passou a habitar um canto especial da vida da maioria de nós. Para cada “e se...”, tenho respondido com um “tomara” mental. Funciona assim: cada condição abre brecha para uma possibilidade melhor que a outra. É inevitável percebermos que para cada incógnita da existência, mais de um resultado se faz possível. Tenho procurado me agarrar ao melhor deles possível de ser vislumbrado. E então, suspiro um “tomara”. E sigo em frente, tentando fazer acontecer. Quem sabe...

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Frio

sexta-feira, 06 de agosto de 2021

is que o céu cinza se viu azul de novo. A serração sumiu, a neblina dissipou, o frio encolheu e o astro rei foi tomando seu lugar. Retomando, na verdade. O sol às vezes se esconde, em que pese a paisagem exuberante de inverno. E quanto frio tem feito.

Querendo ou não, há de se ter em mente que os dias cinzas virão. E passarão. Os dias frios estão. E passarão. E podem não ter correlação com o tempo lá fora. O mundo não para se estamos tristes. Dia e noite continuam se revezando no espetáculo da vida. Somos nós que temos e perdemos a capacidade de apreciarmos o show.

is que o céu cinza se viu azul de novo. A serração sumiu, a neblina dissipou, o frio encolheu e o astro rei foi tomando seu lugar. Retomando, na verdade. O sol às vezes se esconde, em que pese a paisagem exuberante de inverno. E quanto frio tem feito.

Querendo ou não, há de se ter em mente que os dias cinzas virão. E passarão. Os dias frios estão. E passarão. E podem não ter correlação com o tempo lá fora. O mundo não para se estamos tristes. Dia e noite continuam se revezando no espetáculo da vida. Somos nós que temos e perdemos a capacidade de apreciarmos o show.

Realmente todas as fases da vida em alguma medida fazem jus à essa roupagem de ciclos de que se vestem. Não há como negar. Algumas fases mais parecem lições, há diálogos que parecem aulas, trocas regadas de aprendizados. Conversas em dias cinzas têm seu poder, é verdade. Dia desses falávamos sobre o tempo, sobre cronologia e necessidade de percebermos que as fases, boas ou ruins, passam, e que a maturidade aos poucos nos acalma à medida em que acalenta a afobação de termos nossos problemas resolvidos “para ontem”, como num passe de mágica que não existe.

Na verdade, seria um tanto interessante assimilarmos que até mesmo a paisagem lá fora é relativa ao nosso sentir, tem a ver com a nossa forma de enxergar o dia, ainda que o tempo esteja chuvoso ou ensolarado para todos e os relógios avancem na mesma cadência para todo mundo. Aliás, essa relação com essas duas concepções de tempo me fascina.

Se estamos bem, junto de quem amamos, com saúde plena, lazer em dia, estado de espírito de alegria, é mais comum desejarmos que o tempo passe devagar, quando não sonhamos que ele pare de vez naquele momento. Almejamos que coisas boas tenham duração maior e que a felicidade se perpetue no tempo. Ao contrário, nos momentos de tristeza, doença, agonia, solidão, o correr do relógio é que passa a ser a utopia almejada. De alguma maneira, nessas horas, ao torcermos para que o tempo passe rápido, demonstramos ser sabedores de que os ciclos existem e que as dores também são passageiras.

Por mais que queiramos acelerar e desacelerar, a verdade é que o tempo não muda e sim a nossa percepção sobre ele. Sobre tudo. Sobretudo. O céu cinza lá está, mas dependendo do nosso olhar, saberemos apreciar, gostaremos do bucolismo e até sentiremos saudade. Enxergar a vida com cor é, na verdade, uma questão sobre o olhar, de dentro para fora, de percepção e reflexo do próprio estado de espírito. Pode estar frio lá fora e aqui dentro, o coração quentinho.

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Mundo novo

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Reflexões sobre o mundo virtual. Penso que sejam necessárias. Realmente necessárias. Pelo menos ando pensando bastante sobre o assunto. Sinto que as vidas, os desejos, os passos, os afazeres, os familiares das pessoas nunca antes haviam sido tão expostos como nos últimos tempos. Por vezes, as postagens nas redes sociais nutrem um ideal de aparência que sequer condiz com a realidade. Muitas pessoas mais preocupadas em parecerem ser do que o que verdadeiramente são.

Reflexões sobre o mundo virtual. Penso que sejam necessárias. Realmente necessárias. Pelo menos ando pensando bastante sobre o assunto. Sinto que as vidas, os desejos, os passos, os afazeres, os familiares das pessoas nunca antes haviam sido tão expostos como nos últimos tempos. Por vezes, as postagens nas redes sociais nutrem um ideal de aparência que sequer condiz com a realidade. Muitas pessoas mais preocupadas em parecerem ser do que o que verdadeiramente são.

Há filhos de estranhos cujo crescimento podemos acompanhar com sensação de proximidade ainda maior do que os próprios parentes que se encontram em almoços de domingo, Dia das Mães ou Natal. Sem nunca sequer os termos conhecido. Porque seus rostos nos são apresentados às vezes por foto de exames de ultrassonografia. Porque não há mais necessidade de ir à maternidade para sanar a ansiedade e a curiosidade de conhecer “a carinha do bebê”. Basta esperar algumas horas (às vezes, minutos) e alguém se encarregará de apresenta-lo ao mundo virtual, aos amigos reais, aos amigos de amigos, conhecidos e estranhos que estranhamente (e aqui cabe o pleonasmo) estão aguardando para conhecer a face da nova vida que chegou ao mundo. Muitas vezes, sequer os pais são conhecidos. Nunca os abraçamos. Não trocamos palavras, não compartilhamos momentos.

Tenho a sensação de que muitas pessoas fazem coisas apenas para dizer que fizeram. Para que terceiros saibam que foram feitas. Vivem no piloto automático, na ânsia de cumprir o roteiro e mostrar para os demais que o cronograma está sendo cumprido. Não sei se vivem tão bem cada momento, quando cada imagem por vezes denota personagens afoitos por provarem que fazem cada vez mais coisas legais. Viagens inteiras são postadas. Claro, não há um radar das 24 horas vividas por alguém.

Mas, mesmo que o seu acesso às redes sociais seja muito limitado, asseguro que você, caro leitor, tem conhecimento sobre o paradeiro de muitos conhecidos, de pessoas com as quais pouco trocou palavras na vida. Sabe o que comeram no almoço, a marca do vinho que bebem, as roupas preferidas, os lugares por onde passaram, as principais paisagens avistadas. Se bobear, aproximando alguma imagem, se informa até sobre número de voo e as poltronas em que sentaram-se no avião. Tudo isso, sem esforço, em uma mera passagem de dedos pela tela do celular enquanto a vida multitarefas demanda de você o pensamento acelerado e distribuído nas muitas distrações mentais que demandam nosso pensar contínuo. Com pouco relaxamento.

Às vezes eu me indago: por que determinada pessoa está um local tão lindo e não aproveita para se desconectar para esvaziar a mente, para ser presente e aproveitar a oportunidade que tem sem prestar contas aos outros nas redes sociais? Será que sabe o quanto é bom não prestar contas à ninguém, não dar satisfações sobre seu destino, sobre o inenarrável prazer da liberdade de não precisar provar nada para ninguém, de não necessitar de aprovação, de não precisar demonstrar o tempo todo tudo o que se faz e o que se tem? Será que sabe quem é independente do que os outros pensam e julgam?

E eu mesma busco respostas na tentativa de autoconvencimento: porque determinada pessoa pode simplesmente gostar de compartilhar coisas incríveis de sua vida com seus muitos amigos virtuais, afinal, o mundo já está tão sobrecarregado que inundar de alegria o ambiente da internet com referidas imagens pode ser uma grande ideia. Porque a sociedade já está farta de acessar informações tristes e desesperançosas. Porque o convívio ainda que virtual é prazeroso, une, aproxima e dá voz às pessoas.

Reflito sobre a ideia de partilha, o sonho de habitarmos em um mundo em que as pessoas torcem umas pelas outras, que ficam realmente felizes por suas conquistas, que se inspiram verdadeiramente e sinceramente nas imagens de amor compartilhadas. Temo que seja apenas um ideal distante – não sou tola, a exposição desmedida atrai holofotes por vezes perigosos, outras vezes, bem vindos, planejados, comemorados até.

Temos muito o que refletir sobre tudo isso. Às vezes sinto-me constrangida por invadir a intimidade alheia ao abrir meu celular nas redes de interação. Outras vezes, sinto-me privilegiada em acessar recursos tecnológicos que permitem com que eu me sinta tão próxima fisicamente - mesmo sem estar - dos meus familiares que moram em outros países. Tudo isso é realmente incrível. A pandemia veio e essa vida virtual ganhou espaço ainda maior, necessariamente maior. Cedemos todos. Utilizamos as redes para trabalhar, para sonhar, para interagir. E o depois disso tudo? Seremos cada vez mais imersos no mundo da conexão.

De certa forma, penso que estamos todos nos adaptando e aprendendo conciliar a vida real com essa magnífica e potente ferramenta de comunicação que pode trazer incontáveis benefícios de muitas ordens. São as dores e as delícias desse novo universo virtual. Por ora, fico com as delícias dessa interação fantástica que as redes sociais nos proporcionam e sigo refletindo sobre as consequências da exposição de nossas vidas para um sem limite de indivíduos. Não nego, para mim, muitas vezes danosas. Prefiro a liberdade de viver a vida real sem realmente precisar postar nada para ninguém.

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