Blog de paulafarsoun_25873

Retorno diferente

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Volta às aulas: tudo novo. De novo. É chegado o momento do retorno, do semestre novo na faculdade, do fim das férias escolares, do início do ciclo do meio do ano (aquele que parece passar super rápido culminando com as festas de final de ano). Várias pessoas mudam os cortes de cabelos. Sorrisos revigorados. Encontros não programados. Alunos desfilam uma ou outra roupa nova. Cadernos recém-saídos das estantes das papelarias ganham espaço. Pastas organizadas nos computadores. Energia renovada. Não é assim? Ou era...

Volta às aulas: tudo novo. De novo. É chegado o momento do retorno, do semestre novo na faculdade, do fim das férias escolares, do início do ciclo do meio do ano (aquele que parece passar super rápido culminando com as festas de final de ano). Várias pessoas mudam os cortes de cabelos. Sorrisos revigorados. Encontros não programados. Alunos desfilam uma ou outra roupa nova. Cadernos recém-saídos das estantes das papelarias ganham espaço. Pastas organizadas nos computadores. Energia renovada. Não é assim? Ou era...

Bom, para alguns eu acho que sim. O retorno esconde uma certa magia e disposição, apesar de um estoque inegável cansaço, pois não necessariamente as férias de meio de ano significam tempo à disposição e descanso. Mas ainda assim é uma pausa e o reinício é um tanto interessante. E retornar agora, depois de tudo? Encarar a vida de um “pós pandemia que não acabou”? Essa dinâmica ganha uma nova roupagem quando falamos em um retorno diferente. Não somos mais os mesmos. Fomos inebriados por um longo hiato ... vivemos, nesse meio tempo, sentimentos, experiências inimagináveis. E muitos de nós, não parou, não descansou, não assimilou. Voltamos sem ter ido, num pós-caos - e ainda durante o caos. Voltamos sobreviventes. E exaustos. É esquisito, não é? Não vou mentir: percebo olhares ao longe, suspiros de cansaço, abraços mais distantes, uma insegurança no ar que transcende a emoção de “estar de volta”. Para além das máscaras, de maneira geral, confesso estar vendo olhares mais abatidos. Talvez seja o meu olhar que tenha mudado.

 Quais são as novidades? Quem vamos conhecer? Quem vamos reencontrar? Quais as metas a perseguir, os desafios a percorrer? O que vamos aprender juntos? Dá até um frio na barriga. Recomeços são muito interessantes e podem ser presságios de ricas experiências. A vida é repleta de momentos como a volta às aulas. São sequências de ciclos a serem orquestradas muitas vezes com maestria, outras nem tanto.

Esse grande barato dos reencontros com o ambiente que nos acolhe por longas jornadas e com as pessoas que dão vida a ele não pode ser ofuscado pela correria incessante que os tempos de hoje não raras vezes nos impõem. Tenho a sensação de que a vibração com que começamos etapas novas ditam o ritmo e a cadência do período vindouro. O que esperar das misteriosas semanas que estão por vir? Não podemos prever as adversidades, nem as mudanças, muito menos as próximas surpresas. Mas uma coisa não podemos negar: querendo ou não todas elas acontecem. Invariavelmente. De uma maneira ou de outra. Como tiverem de ser.

Então, que estejamos prontos para acolher o que está por vir começando pelo dia de hoje repleto das sementes que pretendemos colher. É leveza que eu quero? Então que eu seja leve. É emoção que espero? Então deixo o sentimento fluir. São sorrisos sinceros? Então que eu sorria - com a alma!  Se a “volta às aulas” da vida contar com nossa parcela de contribuição positiva para equilibrar esse “velho mundo” com o “tudo novo”, estou certa de que essa longa jornada contará com um sabor especial. 

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Sopro do tempo

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade.

Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade. Elas chegam e nossas escolhas passarão por estarmos dentro ou fora do mar, condicionarmos nosso fôlego, aprendermos a nadar, aguçarmos nossa sensibilidade para identificarmos eventual perigo, domarmos o espírito aventureiro, ou controlarmos o medo.

 A onda pode ser uma marola ou chegar com a força de um tsunami, sei lá, quem vai saber? Seja o que for, precisamos estar preparados para as mudanças que podem acontecer no minuto seguinte da vida. E que podem ser ótimas, mesmo se fáceis não forem.

Gosto de comparar a vida com a natureza, pois ao observarmos carinhosamente essa engrenagem divina maravilhosa, nos damos conta de que somos parte de tudo isso e não seus senhores soberanos.

Encarar desafios pode ser um treinamento grandioso de superação. Há um enorme prazer embutido nesse exercício contínuo superarmos a nós mesmos. Quão sem graça seria a existência se a vida fosse um marasmo contínuo do início ao fim. Bom, tenho que isso sequer seria uma opção já que querendo ou não, o dia a dia é repleto de novos desafios.

Por que não acolher cada um deles como uma nova chance, uma oportunidade premiada, um grande negócio a ser feito? Transformar o medo pelo novo por motivação para seu encontro pode ser transformador. Ao invés de vislumbrarmos a muralha amedrontadora que pode estar por vir, podemos escolher avistar o belo oceano na condição mais linda que o Universo pode ofertar.

Fácil não é. Mas nossa postura diante de um desafio vai gerar uma energia que pode ser positiva ou negativa, a depender de como estamos acolhendo esse movimento da vida. Abdicações, renúncias, esforço .... preparação. Preparar-se para a execução da nova etapa. E durante todo o processo é aconselhável o treinamento do sentimento de gratidão, pois certamente se estamos diante de desafios, é sinal de que estamos vivos e em atividade, o que já merece nosso mais profundo agradecimento.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O relógio só anda para frente

sexta-feira, 04 de fevereiro de 2022

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas… percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.  Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (...)”

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas… percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.  Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (...)”

Assim começa o texto “O tempo e as jabuticabas”, de Rubem Alves, que tanto admiro. É impressionante como os textos dele falam por mim. Não que eu imagine que já vivi metade da vida, porque minha mente tem por subterfúgio imaginar a vida eterna e se esquivar de pensar na efemeridade da existência. Contudo, também já não tolero gabolices e sinto que em meu tempo já não cabem desperdícios vaidosos e vãos.

Evito me colocar em uma contagem regressiva, mas a verdade é que o tempo não volta e o relógio só anda para frente. O que fazer diante dessa realidade senão aproveitar todo tempo do mundo que nos resta?  Uma fórmula infalível ao priorizarmos o que fazer diante da infindável lista de tarefas é pensar se nossa próxima ação vai ser positivamente útil para alguém ou para a humanidade ou se ela traz felicidade. Usar esse critério pode auxiliar em algum direcionamento, embora não resolva nossas questões desde as mais simples às mais profundas.

O tempo está passando e queremos tudo da vida. Desejamos a boa sorte, o sucesso em todos os aspectos, o amor profundo, a Prosperidade com p maiúsculo, a saúde plena, a realização profissional, o casamento feliz, a família perfeita, a viagem ao redor do mundo, a fonte da juventude. Conforme a vida vai passando vamos constatando que não dá tempo de ser tudo o que sonhamos (muito não por nossa escolha), que os dias terminam sem que executemos todos os nossos afazeres, que a lista de pendências é uma espiral crescente infinita. Alguns de nós, sabiamente, se dão conta de que querendo ou não, escolhas sobre prioridades são feitas todos os dias, só que elas podem ser conscientes.

E assim, é possível bancar a opção de saber dizer “não” para muitas situações e “sim” para outras tantas, de sustentar um modo de vida em que o tempo seja prioridade e que tê-lo livre ou destinado para o que nos seja crucial é um luxo merecido que todos podemos ter. Viver a vida é fundamental, viver mesmo, não apenas existir. Na minha concepção, há uma correlação entre o viver de verdade e o ser de verdade, na essência de tudo.

E “o tempo e as jabuticabas” conclui por mim:  “(...) Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: ‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.  Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa… Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente  humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos , não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.  Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena.”

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Sem barulho

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Nem todo mundo quer o barulho a todo instante. Nem toda hora é hora para expressar uma opinião. Aliás, não necessariamente temos opinião formada sobre todas as coisas o tempo todo. Tem gente que gosta de ficar quietinho. Que precisa maturar suas ideias. Que prefere retrair para depois avançar. Há silêncios necessários. Pausas estratégicas. Pensamentos que precedem as falas. Um passinho de cada vez.

Nem todo mundo quer o barulho a todo instante. Nem toda hora é hora para expressar uma opinião. Aliás, não necessariamente temos opinião formada sobre todas as coisas o tempo todo. Tem gente que gosta de ficar quietinho. Que precisa maturar suas ideias. Que prefere retrair para depois avançar. Há silêncios necessários. Pausas estratégicas. Pensamentos que precedem as falas. Um passinho de cada vez.

A coisa está tão confusa que não raras vezes o julgamento social recai justamente sobre quem opta por não estabelecer o conflito, aliás, mais um conflito dentre os tantos existentes. Há que se entender que tem gente que opta pela paz e que de uma maneira mais singela expõe para o mundo a que veio. De passagem, claro, mas não indiferente.

Conceitos preestabelecidos. Comportamentos repetitivos. Ecos inconscientes levando a lugar nenhum. Outras tantas manifestações alcançando os fins pretendidos. E além. De um lado, pensamentos e sentimentos sem voz. De outro, o grito. E a coexistência entre eles faz da sociedade um ambiente plúrimo, consistente e complexo. E que bom que seja assim. Liberdades liberadas. Expressões expressadas. Silêncios, silenciados.

Tem gente que acha que tem monstro esperando o apagar da luz. Tem gente que quer ser o monstro, ou o amigo do monstro. Tem ainda aqueles que não acreditam em monstros. E outros que acendem a luz. Todos existindo e coexistindo, enriquecendo a diversidade, construindo pontes, tecendo diálogos, abrindo mentes, restaurando coisas, salvando gente, defendendo ideologias, batalhando por si, por todos. Qual valor tem essa liberdade? Incalculável.

E se pudesse sucumbir ao silêncio, talvez fosse para dizer sobre ética e liberdade, para levantar essas bandeiras e gritar que a censura não passará, a mitigação das liberdades individuais não passará, que estado de exceção não passará. Que evoluir democraticamente é muito para não continuar.

Que o silêncio pode fazer todo sentido para um e ou outro nesse momento e enquanto ele for, apenas, opcional.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O que cabe em 30 dias?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Cabe uma vida? Cabe a mudança de vida? Cabe a efemeridade da vida? Cabe! Proponho uma reflexão a cada um dos leitores: há 30 dias, estávamos em dezembro, há poucos dias do Natal.

Cabe uma vida? Cabe a mudança de vida? Cabe a efemeridade da vida? Cabe! Proponho uma reflexão a cada um dos leitores: há 30 dias, estávamos em dezembro, há poucos dias do Natal.

De lá pra cá, quantas coisas aconteceram? Provavelmente, muitas. Quantos reencontros? Quantas despedidas? Quantos abraços? Como foi sentir esperança? Brindar com alguém querido? Fazer planos de ano novo ?  E aí, tomou sua dose da vacina? Buscou alguém no aeroporto ou na rodoviária? Viajou? Montou sua árvore de Natal? Fez alguma sobremesa para a ceia? Comeu rabanada? Vestiu branco no réveillon? Contraiu Covid? Influenza? Se afligiu? Está preocupado por alguém? E a rinite, voltou? Como  foram os dez dias de chuva constante? Sentiu medo? Se emocionou? Se despediu de alguém? Prometeu cuidar da saúde? Refez votos com seu amor? Está procurando um amor? Pretende estudar mais? Quer mais equilíbrio para sua vida? Quanta vida cabe em nossos dias! E como as coisas mudam rápido. Este é um fato com o qual precisamos lidar.

A vida se mostra efêmera todos os dias, não é? Por isso, nunca me pareceu tão sábio o básico conselho de aproveitarmos cada segundo e vivermos o dia de hoje com a plenitude que ele merece. Devemos gozar das boas companhias, desempenhar nossas funções com presença e realmente desfrutar do dia de hoje.

Uma conhecida me relatou esses dias tudo o que aconteceu na vida dela de dezembro para cá. A dinâmica foi intensa realmente. A família dela teve a alegria de um nascimento e a tristeza de uma despedida. Ela foi demitida em dezembro e contratada por outra empresa em janeiro. Quase todos os seus familiares contraíram Covid na noite de Natal, após um reencontro emocionado entre os parentes. De lá pra cá, uma sobrinha dela bateu com o carro e sofreu danos da enchente em Minas Gerais. Ela, que havia escapado do vírus em dezembro, disse que está há duas semanas sofrendo agora com a Influenza. Lembra do emprego novo que ela conseguiu agora, no início do mês? Já foi dispensada antes mesmo de começar, pois não pôde iniciar suas funções laborais no dia combinado em razão dos sintomas gripais.

Todas essas estórias me foram contadas em um rápido encontro virtual e me fizeram refletir bastante ao desligar a chamada. E ela autorizou que estivessem nesta coluna uma mensagem clara sobre a importância de valorizarmos cada dia, cada momento, pois as circunstâncias mudam a todo instante.

E esta é uma mensagem de ano novo que gostaria de registrar para vocês. Mesmo já imbuídos pela rotina e preocupações, pela maré de anseios e informações por todos os lados, pela vida multitarefas, é importante refletirmos sobre estarmos efetivamente presentes em tudo o que fazemos, em tudo o que vivermos. Presença. Que sejamos e estejamos presentes.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Transformação

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Há bons anos, parafraseei alguns textos de um dos meus escritores preferidos, Rubem Alves. Li, reli, refleti sobre vários deles. E naquela época, pensando sobre adversidades que a vida nos impõe a todo instante, lembrei-me de um texto chamado “A Pipoca” de que eu particularmente gosto muito.  A metáfora principal compara nossa vida com um milho de pipoca antes de estourar e nossa evolução com a transformação dele propriamente em pipoca. Estreei esta coluna com esta reflexão. E ainda hoje, faz todo sentido.

Há bons anos, parafraseei alguns textos de um dos meus escritores preferidos, Rubem Alves. Li, reli, refleti sobre vários deles. E naquela época, pensando sobre adversidades que a vida nos impõe a todo instante, lembrei-me de um texto chamado “A Pipoca” de que eu particularmente gosto muito.  A metáfora principal compara nossa vida com um milho de pipoca antes de estourar e nossa evolução com a transformação dele propriamente em pipoca. Estreei esta coluna com esta reflexão. E ainda hoje, faz todo sentido.

Em um trecho do texto Pipoca, Rubem Alves escreveu:  “(...) é que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.”

Adoro esse período final transcrito que diz que a transformação só acontece pelo poder do fogo. E sempre reflito sobre o que é o fogo em minha existência e qual poder dou a ele. Como é importante esse processo de reflexão e autoconhecimento - e aí nos diferencio dos milhos da metáfora.

Pois bem. Diferentemente do fogo sinônimo de “fenômeno que consiste no desprendimento de calor e luz produzidos pela combustão de um corpo” definido pelo dicionário, que faz grão de milho duro estourar e virar pipoca, o fogo na vida de um ser humano tem múltiplos significados. Infinitos, talvez. Tentarei resumir (talvez ou muito provavelmente em vão) em uma palavra: adversidade.

Se tivéssemos consciência de que toda adversidade é presságio de, no mínimo, aprendizado, deixaria de ser algo doloroso para tanta gente. Se tivéssemos como acolher e abraçar com gratidão cada adversidade como um presente da vida, tudo seria mais simples e fácil. Mas possivelmente, menos desafiador – e o ser humano de uma maneira geral gosta de ser desafiado, não é verdade?

Pressupondo que a adversidade/o fogo prenuncia crescimento e transformação em nossas vidas, faz sentido observarmos que “milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.”

“Heureca”! Ora, dependendo do meu enfoque e da minha escolha sobre a forma do meu olhar, se determinada adversidade acontece para o meu bem e minha evolução, então ela deixa de ser adversidade. E mais, não nasci com vocação para ser milho duro sem finalidade. Que venha o fogo. Quero mais é ser pipoca, da boa. Quem mais ?

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher

sexta-feira, 03 de dezembro de 2021

Caros leitores, me permitam hoje abordar um assunto importante de uma forma um pouco diferente da usual. Como mulher, cidadã e profissional do Direito, sinto-me no dever de abordar um assunto sério neste espaço, sobretudo ante os números de casos em nossa cidade. O intuito é informar e chamar atenção para a necessidade de evolução enquanto sociedade. O tema é violência doméstica e familiar contra a mulher.

Caros leitores, me permitam hoje abordar um assunto importante de uma forma um pouco diferente da usual. Como mulher, cidadã e profissional do Direito, sinto-me no dever de abordar um assunto sério neste espaço, sobretudo ante os números de casos em nossa cidade. O intuito é informar e chamar atenção para a necessidade de evolução enquanto sociedade. O tema é violência doméstica e familiar contra a mulher.

E para esclarecer alguns pontos chaves sobre o complexo tema, convidei a advogada criminalista e mestranda em Direito pela Uerj, dra. Amanda Estefan, para uma entrevista especial que você confere a seguir. Rendemos nossos sinceros agradecimentos à dra. Amanda Estefane e esperamos ter contribuído e alertado a todos sobre a importância de enfrentarmos o tema e combatermos este tipo de violência.

O que é violência doméstica e familiar contra a mulher?

A violência contra a mulher ocorre por questões de gênero, ou seja, agride-se por ser mulher. De acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, configura-se violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada. O nosso cenário social ainda é dominado por uma cultura patriarcal, na qual a figura do homem é alocada acima das mulheres, em vez de ao lado, o que os leva, muitas vezes, a atitudes agressivas e de dominação. Nas palavras de Rita Segato, “O patriarcado é um sistema político de tão longa duração que poderia ser chamado de ‘era’ ”.  O contexto é agravado, ainda, pela significativa desigualdade patrimonial entre homens e mulheres, que conduz à dependência financeira. Somado a esses fatores, a sociedade, em geral, tem uma inclinação a desconsiderar fatores violentos e criar enredos que justifiquem internamente determinados fatos criminosos. No Brasil, a violência de gênero ainda funciona dentro de um contexto de justificação.

Como se combate a violência contra a mulher?

Há inúmeros caminhos que podem ser seguidos. Mas, definitivamente, um passo importante para o combate à violência de gênero é a identificação do que é uma agressão. Isso porque muitas mulheres, ao longo da vida, permanecem em relacionamentos abusivos sem que percebam a condição de violência na qual estão inseridas. Identificar comportamentos agressivos é salutar para que as medidas cabíveis sejam tomadas e que a mulher possa pedir auxílio e buscar redes de apoio. No contexto político, é importante que nossos representantes busquem meios de eliminar a violência contra a mulher através de ações e estratégias relativas à temática.  Em 25 de novembro, celebra-se o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, importante ocasião para relembrarmos o compromisso que deve ser firmado por todos nós.

Qual é o amparo jurídico para essas situações?

No Brasil, há um grande marco para a luta contra a violência doméstica e familiar contra a mulher: a promulgação da lei 11.340/2006, notadamente conhecida como Lei Maria da Penha, que criou mecanismos para coibir e prevenir esta prática, como, por exemplo, a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Em seu artigo 7º, define-se, de forma exemplificativa, os seguintes tipos de violência que podem ser sofridos: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. É muito importante falarmos sobre todas as formas de violência, com especial atenção às de cunho psicológico, pois são, muitas vezes, interpretadas como fatos atípicos do cotidiano. Diante da sua subjetividade, muitas mulheres são vítimas desse tipo de violência sem que tenham a percepção dos danos sofridos. A lei traz como definição da violência psicológica ser qualquer conduta que cause dano emocional, diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher, ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir.

O que fazer quando for agredida?

Do ponto de vista jurídico, há delegacias de atendimentos à mulher (Deams), especializadas nesse tipo de crime. No local, a mulher poderá requerer a decretação de medidas protetivas de urgência (artigo 19 da Lei Maria da Penha), sem a necessidade da presença de um advogado, a fim de resguardar sua integridade. Além disso, as Defensorias Públicas também dispõem de núcleos especializados para atendimentos de mulheres vítimas de agressões, na forma do artigo 28 do mesmo diploma legal. Em alguns casos, os Juizados Especiais de Violência Doméstica contra as Mulheres contam com uma equipe de atendimento multidisciplinar, integrada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Nesses casos, buscar uma rede de apoio é fundamental para que a mulher possa seguir em frente, devidamente amparada.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Desapegar-se

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Desapegar-se. Verbo simples. Prática difícil. Nada simples, porém muitas vezes, necessária. É preciso ter o pulso firme e o coração leve para não nos prendermos demasiadamente a tudo e todos que têm valor para nós.

Ouvi dizer que o apego ofusca a luz, como se embaçasse a clareza que pudesse existir. Senti também. É verdade, o apego atrapalha, amarra, atravanca, pesa. Sentimento estranho e mal aplicado, por assim dizer.

Desapegar-se. Verbo simples. Prática difícil. Nada simples, porém muitas vezes, necessária. É preciso ter o pulso firme e o coração leve para não nos prendermos demasiadamente a tudo e todos que têm valor para nós.

Ouvi dizer que o apego ofusca a luz, como se embaçasse a clareza que pudesse existir. Senti também. É verdade, o apego atrapalha, amarra, atravanca, pesa. Sentimento estranho e mal aplicado, por assim dizer.

Apego é diferente de amor. Diferente de querer. Diferente de zelo. Apego é apego e ponto. Nós sabemos do que se trata e convivemos bastante com esse sentimento.

Há quem lute por uma vida mais livre de apegos, seja aos sentimentos, às pessoas, às coisas, à posição social, ao emprego, à matéria. Levante a mão quem se identifica com esse ato de verdadeira coragem que é buscar um caminho com mais desapego e leveza.

Sei o quão dolorida e difícil é uma existência pautada no apego arraigado à alma. Dóem os ombros só de pensar. Dói a nuca também. E a têmpora direita. Sei o quanto a leveza de desapegar-se aos poucos dos excessos que encobrem o dia a dia é libertadora. E faz bem à saúde, diga-se de passagem.

Atualmente muito tem se falado nas práticas minimalistas, em valorizar um estilo de vida com menos acúmulo, menos barulho, menos objetos e mais espaço para o ar circular. Menos coisas e mais verde, mais contato com a natureza. Tenho percebido como essa tribo está ganhando integrantes. A galera que está valorizando mais o ser do que o ter, mais o tempo do que uma conta bancária recheada às custas de dias e noites de incessante trabalho, andando em corda bamba contra o fluxo do materialismo. Dá gosto de ver. E me parece um processo de desapego também. Desapegar-se do velho mundo e buscar um novo, o seu próprio mundo, mais próximo da verdadeira essência.

Essa reviravolta no meio da vida, esse desapego de tantas coisas e muitas vezes do próprio ego é um processo dos mais bonitos que tenho presenciado. Mas ainda assim, talvez não dê tão certo se não for bem delineado, se não contar com pitadas de sabedoria e um tanto de planejamento. O desapego é bom, traz leveza, mas para muitos, é um treinamento novo, sem precedentes e difícil de lidar. Ainda assim, vale a pena sentir e conhecer melhor o verdadeiro significado do desapego.

Como bem disse a escritora Martha Medeiros: “longa vida aos que conseguem se desapegar do ego e ver a graça da coisa.”

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Quatro anos com a palavra

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

A data de aniversário passou, mas faço questão de registrar. Quatro anos. Sem pausas. Este é o tempo em que tenho a honra de assinar semanalmente esta coluna “Com a palavra”, publicada todas as sextas-feiras aqui em A VOZ DA SERRA. E o faço com muito orgulho.

A data de aniversário passou, mas faço questão de registrar. Quatro anos. Sem pausas. Este é o tempo em que tenho a honra de assinar semanalmente esta coluna “Com a palavra”, publicada todas as sextas-feiras aqui em A VOZ DA SERRA. E o faço com muito orgulho.

Mas a minha história com o jornal começou muito antes. Eu diria até que o início desta relação se deu literalmente no dia do meu nascimento. Mas esta parte da prosa vou deixar para um outro dia. Sou leitora assídua do jornal antes de qualquer coisa. Sempre li o jornal impresso e depois que passamos a receber as edições também virtualmente, conseguia ler todas elas. Eu gosto. A VOZ DA SERRA me remete à minha cidade, me conecta a Nova Friburgo, ao nosso universo, às nossas notícias.

Por várias vezes estive nessas páginas e sempre me orgulhei. Poucos sabem, mas ainda na adolescência, o amigo Gabriel me apresentou ao seu saudoso avô, o senhor Laercio Ventura e também à editora do jornal, à época. A ideia que ele teve foi a de levar uma jovem de 12 ou 13 anos para publicar alguns de seus textos, já que escrever sempre foi uma paixão. Lembro-me que eles leram um texto e acho que duvidaram um pouco que eu é quem tinha escrito, mas gostaram. E publicaram. Jamais esquecerei o quanto fiquei feliz. Também não esquecerei o tema daquele texto: amizade! Fez e faz todo sentido. Depois, escrevi mais um e outro e alguns textos, até hoje guardados, estamparam as páginas do jornal.

Tempos depois, infelizmente vivenciamos a catástrofe climática de 2011 e as páginas e portas de A VOZ DA SERRA se abriram mais uma vez para que eu pudesse publicar meus escritos, também até hoje guardados, sobre dor, solidariedade e esperança.

E foi assim que quase 20 anos depois da minha primeira publicação no jornal eu voltei para ficar. Era para ser mais um texto, uma publicação. Eu queria levar algumas palavras para o jornal. E então recebi o convite da Adriana Ventura, diretora do jornal, mãe do Gabriel, filha do sr. Laercio, para escrever uma coluna semanal. Que presente! Senti-me em casa. Fiquei radiante com a possibilidade. Lembro que levantei da cadeira, abracei a Adriana e perguntei: “Eu, escrever uma coluna? Coluna, coluna mesmo, toda semana?” Fiquei em êxtase. Quem me conhece desde os tempos antigos sabe que escrever sempre foi uma paixão. E não seria difícil, imaginei, alinhar essa vocação com a vontade de levar boas mensagens aos leitores. Era sobre isso que eu queria escrever, por mais sem emoção que pudesse parecer. Era sobre cotidiano, gente, sentimento. E conseguimos. Há quatro anos fazemos destes textos semanais uma mensagem que pode chegar na hora certa ao coração de alguém, como diversas vezes já chegou.

Sobre achar que não seria difícil: ledo engano. Não é nem um pouco fácil. Mas vale a pena. E muito! Registrar os quatro anos de “Com a Palavra” aqui é gratificante. Preciso manifestar a gratidão por esta incrível oportunidade e também agradecer aos leitores, sobretudo os assíduos, amantes do bom jornal impresso, que sempre carinhosamente manifestam coisas boas por esta coluna. Sigamos!

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Novo tempo?

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

”Quem me dera ao menos uma vez, acreditar por um instante em tudo que existe. E acreditar que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes.” Quem me dera! Faço minhas as palavras do grande Renato Russo.

Quem diria que chegaríamos no século 21 e tanta coisa permaneceria desalinhada e socialmente mal resolvida. Posso recordar que havia na década de 1990 uma esperança turbinada por ocasião da virada do século. Um misto de medo, de desconfiança, de graça, de ilusão e bastante esperança. Quem se lembra?

”Quem me dera ao menos uma vez, acreditar por um instante em tudo que existe. E acreditar que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes.” Quem me dera! Faço minhas as palavras do grande Renato Russo.

Quem diria que chegaríamos no século 21 e tanta coisa permaneceria desalinhada e socialmente mal resolvida. Posso recordar que havia na década de 1990 uma esperança turbinada por ocasião da virada do século. Um misto de medo, de desconfiança, de graça, de ilusão e bastante esperança. Quem se lembra?

Havia uma profecia de Nostradamus dando conta de que o mundo acabaria no dia 11 de agosto de 1999. Teve gente que acreditou. Mas o planeta não desintegrou e cá estamos nós enquanto Planeta Terra e humanidade. Havia uma curiosidade se tudo continuaria igual com a virada do século. Havia uma postergação de compromissos para o ciclo seguinte, coisas importantes, projetos vindouros, investimentos, decisões que só seriam tomadas no século 21.

Pois já estamos em 2021. O futuro que chegou e cá estamos nós. Lutamos contra a desigualdade social, contra o racismo, contra a fome, contra fake news, contra o vírus, contra a violência etc. Não andamos em carros que voam, não vivemos em cidades sustentáveis nem descobrimos a cura do câncer. E agora, José? Algo novo por vir?  Aguentamos ainda mais?

Em plena nova era, temos homenagens à ditadura, milhares de doutores brasileiros sem emprego, a ciência, ontem desprestigiada, sendo clamada para apresentar soluções à maior crise sanitária do planeta, calçadas mais cheias de pessoas sem lares, corrida das vacinas, a violência doméstica se propalando, professores sendo agredidos por alunos e ameaçados pelos pais dos alunos, a precarização das relações de trabalho, o Brasil liderando o ranking da involução com a legalização e o incentivo à utilização de agrotóxicos nos alimentos. Justamente quando o fomento à agricultura natural e orgânica está verdadeiramente se alastrando na mesma medida em que a consciência verde está a todo vapor.

 O que deu errado? Era para ter zerado o jogo, começado de novo, em outro patamar, um nível acima. Quantas gerações imaginaram tempos atrás sobre como estaríamos vivendo o agora. Estaríamos convivendo com robôs? Teríamos alcançado a almejada paz no Oriente Médio? Conseguiríamos eliminar a fome no mundo? Teríamos inventado a máquina do tempo ao invés de perdemos tanto tempo com tanta coisa inútil? Já pararam para refletir se os nossos antepassados estariam orgulhosos de nós, do que estamos fazendo com o planeta? De como estamos lidando com os demais seres? De como cuidamos do meio ambiente? Estamos sendo bons exemplos para as futuras gerações? Deixando um legado primoroso para nossos filhos e netos?

Vamos pensar sobre isso. Talvez dê tempo de pularmos de fase nesse jogo, conquistarmos territórios importantes, vencermos o mal no final de etapa para zerarmos essas batalhas há anos, décadas, séculos travadas. Estamos com o controle nas mãos ou somos os personagens do jogo? O que podemos fazer para vencer?

Quero, sinceramente, ao chegarmos no século que vem, ser poupada de fazer parte de uma geração destrutiva. Dá tempo. Vamos nos unir para fazer diferente o que poderia ser melhor. E será. A esperança continua viva, em pleno século 21. Pasme.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.