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A visita da verdade

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Certa feita, disse o mestre que só a verdade fará livre o homem; e, talvez porque lhe não pudesse apreender, de imediato, a vastíssima extensão da afirmativa, perguntou-lhe Pedro, no culto doméstico:

— Senhor, que é a verdade?

Jesus fixou no rosto enigmática expressão e respondeu:

— A verdade total é a luz divina total; entretanto, o homem ainda está longe de suportar-lhe a sublime fulguração.

Reparando, porém, que o pescador continuava faminto de esclarecimentos novos, o amigo celeste meditou alguns minutos e falou:

Certa feita, disse o mestre que só a verdade fará livre o homem; e, talvez porque lhe não pudesse apreender, de imediato, a vastíssima extensão da afirmativa, perguntou-lhe Pedro, no culto doméstico:

— Senhor, que é a verdade?

Jesus fixou no rosto enigmática expressão e respondeu:

— A verdade total é a luz divina total; entretanto, o homem ainda está longe de suportar-lhe a sublime fulguração.

Reparando, porém, que o pescador continuava faminto de esclarecimentos novos, o amigo celeste meditou alguns minutos e falou:

— Numa caverna escura, onde a claridade nunca surgira, demorava-se certo devoto, implorando o socorro divino. Declarava-se o mais infeliz dos homens, não obstante, em sua cegueira, sentir-se o melhor de todos. Reclamava contra o ambiente fétido em que se achava. O ar empestado sufocava-o — dizia ele em gritos comoventes. Pedia uma porta libertadora que o conduzisse ao convívio do dia claro. Afirmava-se robusto, apto, aproveitável. Por que motivo era conservado ali, naquele insulamento doloroso? Chorava e bradava, não ocultando aflições e exigências. Que razões o obrigavam a viver naquela atmosfera insuportável?

Notando nosso pai que aquele filho formulava súplicas incessantes, entre a revolta e a amargura, profundamente compadecido enviou-lhe a fé.

A sublime virtude exortou-o a confiar no futuro e a persistir na oração.

O infeliz consolou-se, de algum modo, mas, a breve tempo, voltou a lamuriar.

Queria fugir ao monturo e, como se lhe aumentassem as lágrimas, o todo-poderoso mandou-lhe a esperança.

A emissária afagou-lhe a fronte suarenta e falou-lhe da eternidade da vida, buscando secar-lhe o pranto desesperado. Para isso, rogou-lhe calma, resignação, fortaleza.

O pobre pareceu melhorar, mas, decorridas algumas horas, retomou a lamentação.

Não podia respirar — clamava, em desalento.

Condoído, determinou o Senhor que a caridade o procurasse.

A nova mensageira acariciou-o e alimentou-o, endereçando-lhe palavras de carinho, qual se lhe fora abnegada mãe.

Todavia, porque o mísero prosseguisse gritando, revoltado, o pai compassivo enviou-lhe a verdade.

Quando a portadora de esclarecimento se fez sentir na forma de uma grande luz, o infortunado, então, viu-se tal qual era e apavorou-se. Seu corpo era um conjunto monstruoso de chagas pustulentas da cabeça aos pés e, agora, percebia, espantado, que ele mesmo era o autor da atmosfera intolerável em que vivia. O pobre tremeu cambaleante, e, notando que a verdade serena lhe abria a porta da libertação, horrorizou-se de si mesmo; sem coragem de cogitar da própria cura, longe de encarar a visitadora, frente a frente, para aprender a limpar-se e a purificar-se, fugiu, espavorido, em busca de outra furna onde conseguisse esconder a própria miséria que só então reconhecia.

O mestre fez longa pausa e terminou:

— Assim ocorre com a maioria dos homens, perante a realidade. Sentem-se com direito à recepção de todas as bênçãos do eterno e gritam fortemente, implorando a ajuda celestial.

 Enquanto amparados pela fé, pela esperança ou pela caridade, consolam-se e desconsolam-se, crêem e descrêem, tímidos, irritadiços e hesitantes; todavia, quando a verdade brilha diante deles, revelando-lhes a condição em que se encontram, costumam fugir, apressados, em busca de esconderijos tenebrosos, dentro dos quais possam cultivar a ilusão.

Extraído do livro “Jesus no lar”; espírito Neio Lúcio; médium Francisco Cândido Xavier

CENTRO ESPÍRITA CAMINHEIROS DO BEM – 62 ANOS
Fundado em 13/10/1957
Iluminando mentes – Consolando corações

Rua Presidente Backer, 14 – Olaria - Nova Friburgo – RJ
E-mail: caminheirosdobem@frionline.com.br
Programa Atualidade Espírita, do 8º CEU, na TV Zoom, canal 10 – sábados, 9h.

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Da criança ao mundo adulto, A VOZ DA SERRA conversa com as gerações!

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Na semana passada, por conta do apagão, acabei recebendo o jornal impresso na segunda-feira, 5, quando meu texto já havia sido encaminhado para  a redação. Por ter feito as surpresas de viagem pela internet, perdi alguns conteúdos, entre os quais, a coluna “Sociais”, que destacou o meu aniversário. Agradeço as manifestações de carinho. Outubro, mês festivo, traz a celebração do Dia das Crianças no Caderno Z. E lembramos o deputado federal Galdino do Valle Filho que, em 1924, propôs a criação da data para festejar os pequenos.

Na semana passada, por conta do apagão, acabei recebendo o jornal impresso na segunda-feira, 5, quando meu texto já havia sido encaminhado para  a redação. Por ter feito as surpresas de viagem pela internet, perdi alguns conteúdos, entre os quais, a coluna “Sociais”, que destacou o meu aniversário. Agradeço as manifestações de carinho. Outubro, mês festivo, traz a celebração do Dia das Crianças no Caderno Z. E lembramos o deputado federal Galdino do Valle Filho que, em 1924, propôs a criação da data para festejar os pequenos. Por sorte, por ser também o dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, em 1980, foi decretado feriado nacional em 12 de outubro.

As crianças mereciam o feriado  e, mais do nunca, a data este ano é um dia para reflexões adultas. A pandemia do coronavírus afetou a vida das crianças e não poderia ser diferente. Sem frequentar escolas, é preciso observar o comportamento das crianças para que não haja um conflito interno propenso a quadros de depressão. Por outro lado, a dependência virtual parece que já está entranhada no dia a dia infantil. Na atualidade, os bebês já observam o comportamento dos pais, dependentes das tecnologias.

As crianças de hoje não são com as do meu tempo, que não podiam nem ligar a televisão fora de hora. Nós não mexíamos em vitrolas; máquinas fotográficas nem pensar. Nós jamais ousaríamos ligar uma tomada, porque dava choque. O choque hoje se dá em como ligar a tomada de consciência para disciplinar algo que domina o mundo atual: a tecnologia, cada vez mais avançada. Como eu digo, a geração Nutella já nasce sabendo muita coisa. Contudo, ainda é possível brincar fora da caixinha tecnológica. Brincar de tudo e até de ajudar a arrumar a casa. Vale a nossa criatividade. A psicóloga Lívia Moura de Andrade ressalta que “estamos vivendo algo atípico e, por isso, não teremos solução para todas as questões”. Em compensação, “o processo é rico de aprendizado...”.

Outubro é também o mês de aniversário da reintegração de Amparo ao município de Nova Friburgo. Agora são 109 anos do retorno, pois até 1911 o distrito integrava a vizinha Bom Jardim. Este ano, por conta da pandemia, os festejos foram suspensos, mas até o dia 17 será realizado um concurso virtual de fotografia para escolher a melhor foto de Amparo. De qualquer forma, toda foto de Amparo é sempre um cartão postal!

Uma boa ideia que vai agradar em cheio é integrar as marcas do polo gastronômico, cervejeiro e industrial de nossa cidade ao ramo de hotelaria. O turista poderá conhecer e adquirir esses produtos no próprio local onde estiver hospedado. O hotel Habitare “dá o pontapé” na ação e se dispõe a ser “a ponte entre as marcas friburguenses e o turista”. Todos sairão ganhando: hotéis, turistas e produtores. Boa sorte!

A Caminhada Rosa promovida pela Amma este ano será substituída por uma carreata no final do mês. Entretanto, a instituição está promovendo uma série de atividades virtuais em sua página no Facebook. Mas, a grande novidade é a confecção e venda de máscaras de barreira na cor rosa, com a logo da Amma. Vendas na sede, na Rua Mato Grosso e no Bazar da Amma, na Travessa Eugênio Thurler, no Centro.

“É o fim! Carne, óleo, feijão e café têm disparada de preços”. Esse é o fim que não tem fim, pois a manchete está em “Há 50 anos” e servindo para os tempos atuais. Na mesma coluna, a indústria Pedrinco inaugurava suas modernas instalações – “um investimento vultuoso. Uma resposta ao desafio de desenvolvimento de Nova Friburgo”. Que beleza!

A pandemia do coronavírus não acabou. Apenas está saindo das manchetes dos noticiários. Em nossa cidade eram 3.434 infectados e 142 mortes até a última sexta-feira, 9. Bandeira amarela e tudo funcionando. Muita gente nas ruas, aglomerações etc. É vida que segue! E agora que já conhecemos os bens declarados pelos “postulantes à chefia do Executivo friburguense” e sabemos também quanto o prefeito, o vice e os vereadores custam aos cofres públicos, é hora de o eleitor colocar tudo na ponta do lápis. Se for preciso, é bom meditar, porque o nosso voto é o bem mais precioso que os candidatos podem cobiçar!

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Vivas para Elizabeth

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Com pequeno atraso, mas com grande satisfação, enviamos nossas congratulações à querida Elizabeth Bôscolo Muylaert (foto), empresária do segmento de Correios e rotariana das mais conceituadas em Nova Friburgo, que aniversariou na última sexta-feira, 9. A ela, os nossos parabéns com votos de saúde e felicidades.

Feira inflacionada

A feira livre de Olaria está sofrendo uma superinflação, não propriamente nos preços dos produtos oferecidos e sim, quanto a presença de novos “clientes”.

Com pequeno atraso, mas com grande satisfação, enviamos nossas congratulações à querida Elizabeth Bôscolo Muylaert (foto), empresária do segmento de Correios e rotariana das mais conceituadas em Nova Friburgo, que aniversariou na última sexta-feira, 9. A ela, os nossos parabéns com votos de saúde e felicidades.

Feira inflacionada

A feira livre de Olaria está sofrendo uma superinflação, não propriamente nos preços dos produtos oferecidos e sim, quanto a presença de novos “clientes”.

Por certo, dos cerca de 500 candidatos a vereador, fora a boa quantidade de postulantes à prefeitura, mais da metade deles têm marcado presença pelo local para tentar conquistar a simpatia e, claro, os votos dos eleitores friburguenses.

Bonan aniversariou

Outro aniversário que registramos com imenso carinho, apesar da data passada, é o do prezado amigo de imprensa e grande locutor esportivo Fernando Bonan, que estreou idade nova no último dia 7.

Renovadas congratulações ao querido Fernando Bonan, na foto junto do maior amor de sua vida, o filhão, Lucas.

Premiação nacional de design

Até o próximo dia 25 permanece aberta a votação popular do "Brasil Design Award 2020", no site da premiação que é promovida há dez anos pela Abedesign - Associação Brasileira das Empresas de Design.

 Pela primeira vez, uma jovem friburguense foi classificada, que é a Ilana Santos Guilland, recém graduada e que concorre com o "Bonde da Gambiarra", seu projeto de conclusão do curso na PUC-Rio, que propõe inovação na educação para o século 21, com uso da tecnologia no segmento do ensino fundamental, a partir da visão da favela, onde as práticas da "gambiologia" e da "sevirologia" fazem parte da cultura de seus moradores.

 O projeto da friburguense Ilana concorre na subcategoria Estudante e na categoria Design de Impacto Positivo com outros projetos de mais de 150 profissionais das maiores empresas brasileiras.

Dos mais de 40 projetos inscritos pela própria Pontifícia Universidade Católica no BDA, o "Bonde da Gambiarra" foi um dos três selecionados daquela universidade.

Para votar e dar uma força à nossa Ilana Guilland, basta acessar o link e cadastrar um e-mail por voto: https://inscricoes.brasildesignaward.com.br/voto-popular/design-de-impacto-positivo/806

Bernardo, ano 1

No próximo domingo, 18, esta gracinha da foto, Bernardo Gomes Sarno Mangia vai completar seu 1° aninho de vida, para alegria especial dos pais Danielle e Rodrigo, assim como dos avós maternos Nélia e Getúlio e avó materna Sandra, incluindo também os demais familiares.

Desde já parabéns com os votos de um mundo de felicidades ao Bernardo.

Salve os mestres!

Em razão do seu dia comemorativo nesta quinta-feira, 15, abraços e saudações carinhosas aos professores de Nova Friburgo, figuras imprescindíveis para a vida de todos nós. Uma viva aos mestres, com carinho!

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    Vivas para Elizabeth

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    Bonan aniversariou (Fernando Bonan e o filhão, Lucas)

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    Bernardo, ano 1

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Viver é melhor que postar!

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Com o advento tecnológico surgiram muitas mudanças no cotidiano social. Não restam dúvidas que o crescimento vertiginoso da internet tem mudado o conceito de comunicação e de socialização. O desenvolvimento do ambiente digital tem oferecido muitas oportunidades únicas para os indivíduos, principalmente no que diz respeito a sua formação pessoal. A agilidade na dinâmica comunicativa e informativa favorece um maior intercâmbio de experiências, bem como o desenvolvimento econômico abrindo novas oportunidades em muitas áreas, incluindo a saúde e a educação.

Com o advento tecnológico surgiram muitas mudanças no cotidiano social. Não restam dúvidas que o crescimento vertiginoso da internet tem mudado o conceito de comunicação e de socialização. O desenvolvimento do ambiente digital tem oferecido muitas oportunidades únicas para os indivíduos, principalmente no que diz respeito a sua formação pessoal. A agilidade na dinâmica comunicativa e informativa favorece um maior intercâmbio de experiências, bem como o desenvolvimento econômico abrindo novas oportunidades em muitas áreas, incluindo a saúde e a educação.

Podemos comprovar este fato com as inúmeras situações enfrentadas neste tempo de pandemia. O santo padre ressalta que “as tecnologias abrem novos horizontes, especialmente para os menores que vivem em situações de dificuldade ou longe dos centros urbanos dos países mais industrializados” (14 de novembro de 2019).

Entretanto, diante do fascínio de tantos aspectos positivos, não se pode deixar de notar e denunciar as consequências negativas que, infelizmente, já estão enormemente difundidas e, muitas vezes, tão difíceis de remediar. Poderíamos elencar inúmeras situações, mas sem dúvida a pior delas é o aliciamento de toda a sociedade, que cada vez mais está dividida e se deixando conduzir por ideologias que visam apenas o interesse partidário.

Como uma voz profética o papa Francisco alerta: “É necessário aumentar a sensibilização para os riscos inerentes ao desenvolvimento tecnológico descontrolado em todos os setores da sociedade. Ainda não compreendemos — e muitas vezes não queremos compreender — a gravidade da questão no seu conjunto e as suas consequências futuras!” (Idem).

Na luta pelo poder e pelo dinheiro das grandes empresas tecnológicas, nos tornamos meros produtos que são manipulados ao consumo e à cultura individualista do descarte. Lançado recentemente, o documentário intitulado “O dilema das redes” chama atenção para este grande risco oferecido pela atual rendição às facilidades e distrações oferecidas pelas grandes redes sociais de comunicação. A impactante frase “Se você não paga pelo produto, o produto é você”, nos coloca diante de uma realidade alarmante.

Tristan Harris, um ex-designer do Google, explica durante o longa-metragem que há três objetivos principais na maior parte dos algoritmos criados pelos gigantes de tecnologia. “O de engajamento, para aumentar o seu uso, e te manter navegando. O de crescimento, para que você sempre convide amigos e os faça convidar outros amigos. E o objetivo de publicidade, para garantir que enquanto tudo acontece, estamos lucrando o máximo possível com anúncios”.

É indiscutível o enorme potencial dos instrumentos digitais, mas, ao mesmo tempo, as possíveis consequências devem ser combatidas. Apesar de toda evolução dos algoritmos utilizados no mundo da comunicação e informação, ainda persistem as feridas da sociedade. O tráfico de seres humanos, a organização do terrorismo, a propagação do ódio e do extremismo, a manipulação da informação e, lamentavelmente, o abuso de menores ainda encontram no mundo digital um campo aberto e fértil.

Em sua última encíclica, o Papa Francisco ao falar sobre a fraternidade e amizade social aponta ainda para outros perigos da sedução da evolução tecnológica como o isolamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta. “Fazem falta gestos físicos, expressões do rosto, silêncios, linguagem corpórea e até o perfume, o tremor das mãos, o rubor, a transpiração, porque tudo isso fala e faz parte da comunicação humana” (Fratelli tutti, 43).

Cuidemos, pois, de viver a realidade concreta de nossas vidas construindo relações capazes de construir um mundo mais justo e fraterno.

 

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Perfumes do tempo

terça-feira, 13 de outubro de 2020

A vida é feita de momentos, são pedaços de tempo que vão compondo nossa história, e a memória os vai guardando, como se os depositasse em gavetas cheias de caixinhas. Depois que os vivemos, parece que são realçados quando os assentamos nas lembranças. Repentinamente, eles surgem e ressurgem, trazendo perfume e flores para o dia. Na semana passada, senti o cheiro de rosas e vou trazê-las aqui. 

A vida é feita de momentos, são pedaços de tempo que vão compondo nossa história, e a memória os vai guardando, como se os depositasse em gavetas cheias de caixinhas. Depois que os vivemos, parece que são realçados quando os assentamos nas lembranças. Repentinamente, eles surgem e ressurgem, trazendo perfume e flores para o dia. Na semana passada, senti o cheiro de rosas e vou trazê-las aqui. 

A literatura une as pessoas, untando momentos e recordações, fazendo-os deslizar com suavidade pelos pensamentos e relacionamentos. Cria identidades e laços afetivos porque a criatividade encanta, as histórias envolvem e a realidade abordada pela literatura atrai.   

Tenho uma amiga, Glória, que me ligou há uns vinte anos, dizendo que haveria um concurso de histórias infantis e que eu deveria participar. Sempre gostei de escrever, e ela sabia disso. Fiz a inscrição no concurso, comecei a escrever três contos e enviei. Meus textos não foram selecionados, mas descobri o prazer de imaginar aventuras e transformá-las em histórias. E, desde então, não parei mais. Dois destes contos já foram publicados: Um Cão Cheio de Ideias e Aventureiros da Serra. 

Glória sempre esteve presente na minha empreitada literária, participando dos eventos e conversando a respeito do meu aprendizado e experiência como escritora, o que embelezou mais ainda nossa amizade.

Depois que o mundo foi invadido pelo Corona Vírus, ela de novo me informou a respeito de um concurso, Tempo Partido, que consistia na elaboração de uma carta em que o participante relatasse a qualquer pessoa como estaria vivenciando esta época pandêmica. Os textos selecionados comporiam uma coletânea, que seria publicada. Não produzi um texto. Entretanto, ela participou e foi selecionada. Tão logo soube do resultado, enviou-me uma mensagem, contando a novidade com a carta anexada, que fora dedicada a um sobrinho, escrita com suavidade e objetividade. 

Sua mensagem abriu minha gaveta de lembranças, o que me fez viajar pelo tempo passado, desde a primeira vez que havia me ligado para falar de um concurso. Como num filme, revi como fui me fazendo escritora. Há dias que sou expectadora de mim, o que me está me dando ideias para passos futuros.

Aí, senti com clareza como a amizade desvela possibilidades e fertiliza canteiros. Bem como tive a certeza de que a magia da literatura existe.

 

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É o fim! Carne, óleo, feijão e café têm disparada de preços

sábado, 10 de outubro de 2020

Edição de 10 e 11 de outubro de 1970
Pesquisado por Fernando Moreira

Manchetes:

Edição de 10 e 11 de outubro de 1970
Pesquisado por Fernando Moreira

Manchetes:

  • Disparada dos preços dos alimentos - Uma verdadeira disparada nos preços dos gêneros e das utilidades. A carne verde desapareceu dos açougues, óleos comestíveis subiram 200 cruzeiros velhos em lata; o quilo do feijão preto ultrapassou a barreira dos dois mil cruzeiros velhos; a carne seca bateu o recorde de todos os tempos: oito cruzeiros velhos. E o pior, Heron Domingues, da TV Tupy, anuncia que o café custará seis cruzeiros e cinquenta centavos por quilo, dentro de pouco tempo. É o fim.
  • A nova Pedrinco – no rumo do futuro - Indústria inaugura modernas instalações – um investimento vultoso. Uma resposta ao desafio de desenvolvimento de Nova Friburgo
  • A velha Pedrinco - Quem passar por Olaria, tomando o caminho do Cônego, se depara com uma pedreira abandonada, onde os friburguenses se acostumaram a ver homens em incessante trabalho, máquinário em funcionamento, o barulho dos britadores, caminhões basculantes, recebendo e transportando as pedras que muito ajudaram a construir o progresso de Nova Friburgo. Ali funcionava a Pedrinco – “pedreira do Dr. Cézar Guinle”, que  com o cessar das atividades mais parece um desses tranquilos cenários cinematográficos de filmes do faroeste americano.
  • A Nova Pedrinco - Mas foi preciso que assim tivesse acontecido para que a Pedrinco S.A. se transformasse numa numa empresa poderosa e pujante, perfeitamente estruturada dentro da concepção moderna e equipada com o que de melhor pode fornecer hoje a tecnologiamo de sua atividade.
  • General elogia apoio do governo - O governador Geremias Fontes recebeu telegrama do inspetor gerai das Policias Militares, general José Pereira, congratulando-se com o Governo fluminense pela excelente condição de sua Policia Militar. O documento diz: “Ao retornar de viagem de inspeção ao seu Estado, apresento a V. Excia. meus cumprimentos, em razão das excelentes condições da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro, quer quanto a sua apresentação, aquartelamentos e meios materiais, como quanto ao entusiasmo profissional constatado na ocasião da referida visita, tudo isso fruto do apoio que vem recebendo do Governo estadual.” 
  • Governador Geremias inaugura novos postos de saúde - O governador Geremias Fontes presidiu as solenidades de inauguração dos novos postos de saúde de Rio Claro e Angra dos Reis, construídos pelo governo fluminense. 
  • Amaral Peixoto e Afonso Celso - Os dois candidatos ao Senado pelo MDB fluminense visitaram Friburgo em campanha e foram recebidos pelo diretório emedebista e ocuparam a rádio local no programa partidário que foi ao ar às 14h. 

Pílulas:

  • Café moído ao preço de 6.500 cruzeiros velhos por quilograma é a última que está sendo levada ao ar, por conhecidos arautos das grandes marmeladas. Não estava faltando mais nada, neste fim de semana, como notícia de sensação. Imagine, no Brasil dos imensos cafezais, da queima do ouro verde da erradicação dos cafezais velhos, um artigo nosso, verde-amarelo, em superprodução, custar quase seis notas de um mil cruzeiros antigos, um cruzeiro atual, por mil gramas, o que significa dizer que uma chicarazinha da rubiacea em qualquer botequim custará mais ou menos, pela casa de 800 cruzeiros antigos.
  • E viva a cantoria, em verso e prosa, das maravilhas que estão acontecendo, pela voz de certos candidatos, arenistas, pregoeiros das infindáveis benesses para o operariado. Nesta semana, a corrida aumentista tomou proporções alarmantes por aqui: carne verde comum, cinco mil cruzeiros antigos por quilograma (sem falar em alcatra, filé, filé mignon etc.— Feijão, ultrapassou bastante a casa dos dois cruzeiros modernos. Arroz, com majoração de 100,10 cruzeiros em quilo. Óleos, mais 300 cruzeiros modernos em lata. Carne seca, de 5 para Cr$ 7,40 também por quilograma. Toda a nossa triste história estaria resolvida se os salários estivessem acompanhando a ascensão dos preços dos principais gêneros alimentícios.

Sociais:

  • A VOZ DA SERRA registra os aniversários de: Ângelo Ruiz, Nilo Ferreira Torres e Ruy Corrêa da Rocha (10); Leila Marques (11); Ary Ventura, Maria Nazareth Amélio e Luiz Gustavo Macário (13); Marilse Rangel e Nydia Rangel da Silveira (14); Dilva de Moraes (15); Benício Valladares Júnior (16); Carmen Bravo Costa, Juvenal Namen, Mônica de Mello e Dayse Cristina Heredia (17). 

 

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Sobre olhar para nós

sexta-feira, 09 de outubro de 2020

O olhar sobre a vida do outro em muitos momentos parece aduzir uma percepção ilusória da realidade. A grama do vizinho é realmente mais verde que a nossa? Por que tanta gente acha que os sonhos realizados pelo outro são mais fáceis de serem alcançados? Que na casa dos outros não tem bagunça, que o casal lindo que vemos pelas fotos das redes sociais não tem contas a pagar? Que a doença do outro cura mais facilmente, que o trabalho dele rende mais ou mesmo que é fácil ser ele? Difícil mesmo é ser você, não é mesmo?  De onde o ser humano tira a ideia de que o melhor está lá e não aqui ?

O olhar sobre a vida do outro em muitos momentos parece aduzir uma percepção ilusória da realidade. A grama do vizinho é realmente mais verde que a nossa? Por que tanta gente acha que os sonhos realizados pelo outro são mais fáceis de serem alcançados? Que na casa dos outros não tem bagunça, que o casal lindo que vemos pelas fotos das redes sociais não tem contas a pagar? Que a doença do outro cura mais facilmente, que o trabalho dele rende mais ou mesmo que é fácil ser ele? Difícil mesmo é ser você, não é mesmo?  De onde o ser humano tira a ideia de que o melhor está lá e não aqui ?

Acho que falta gratidão no mundo. Percebo uma zona cinzenta em que um contingente incontável de seres habitam. O dia de hoje está aquém do que deveria estar, e ao mesmo tempo, quando a coisa piora, se percebe que aquele dia estava na verdade muito bom.

Uma comparação constante e massiva com o colega do lado. Uma observação para o que acontece do lado de fora que cega as pessoas para o lado de dentro de seus lares e seus corações. Dá medo. Eu não quero sentir isso e desejo fortemente que não sintam isso em relação a mim.

Muita gente já não se contenta mais em ter saúde e paz. Faltam as fotos maravilhosas de viagens, o príncipe encantado, o melhor emprego, a casa mais frondosa. A vitrine das redes sociais, a meu ver, tem sido um portal para essa ilusão de que a vida do outro é mais feliz que a nossa. Prosperar é lindo. Amar e ser amado é uma dádiva. A realização profissional é uma alegria. Viajar é uma maravilha. O esquisito é o grau de comparação muitas vezes doentio que mingua algumas pessoas. 

Falta gratidão. Só pode ser. A partir do momento em que uma pessoa agradece por tudo o que é, pelo que faz e pelo que possui, a coisa muda de figura. Na verdade, a grama do outro passa a não ter tanta importância. Quando somos gratos pelas oportunidades que temos, pela vida que nos é dada, pela proteção diária, pelas pessoas que nos cercam, conseguimos olhar para o outro com admiração e alegria por suas conquistas. Não com inveja. Não com cobiça.

Se é para olharmos para o outro lado do muro, que seja então para observarmos o tanto de esforço que aquele "vizinho" emprega em prol de suas conquistas. E então, nos esforçarmos também. Empenho precede o resultado. Grandes conquistas decorrem de emprego de energia, preparação, renúncias, investimento de tempo etc etc etc. Salvo se a grama do vizinho for sintética, ela requer plantio e cuidados. E ainda que seja sintética, requer possibilidade de compra, que demanda trabalho, dinheiro, prioridade e por aí vai. Não é de graça. Não é à toa. Não somos um amontoado de seres aleatórios em que coisas boas acontecem arbitrariamente para os outros e as ruins, para mim.   

Somos resultado do que fazemos para mudar, para melhorar, para aprimorar. São mesmo dias de luta e dias de glórias. É a vida. Se o vizinho tem um relacionamento saudável e feliz, o que ele fez por merecer? Felicidade no amor não é para qualquer um. Tem que merecer, deve se dedicar, jogar energia boa para o universo, respeitar as pessoas, ser sincero, acolher o lado bom das pessoas. Não dá para ser um caçador de defeitos, andar com uma lupa para o negativo e encontrar pessoas maravilhosas com quem conviver. Somos todos imperfeitos. Todos. A grama alheia também pode ser. Não se pode julgar pela aparência.

Em tempos de terreno ermo, barreado, cheio de lama, a gente desanima. Mas aí é que temos que buscar aquela força que todos temos e poucos sabemos. A força de dentro. A mola da possibilidade de superação e realização.

Falar é fácil, exercer essa ideia é mais difícil. Eu sei. Mas não subestimo nossa capacidade de decidir e perseguir o objetivo. O que eu quero? Ser grata em qualquer circunstância. Amar meu próprio jardim, mesmo quando as ervas daninhas insistirem em castigá-lo. E desejar que o jardim do outro tão garboso quanto eu quero que seja o meu.

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Inflação e deflação: conhece estes conceitos?

sexta-feira, 09 de outubro de 2020

O estudo econômico traz muitos termos específicos e alguns podem até ter maior grau de complexidade. Contudo, é fundamental ter o conhecimento de conceitos cotidianos para fazer parte dos sistemas financeiro e econômico de forma integrada e consciente através do estudo da educação financeira. Vamos às definições:

Inflação é o aumento dos preços de bens e serviços. Basicamente o impacto direto nas suas finanças é a redução do poder de compra do seu dinheiro com o passar do tempo: R$ 100 hoje valem menos que R$ 100 há cinco anos, por exemplo.

O estudo econômico traz muitos termos específicos e alguns podem até ter maior grau de complexidade. Contudo, é fundamental ter o conhecimento de conceitos cotidianos para fazer parte dos sistemas financeiro e econômico de forma integrada e consciente através do estudo da educação financeira. Vamos às definições:

Inflação é o aumento dos preços de bens e serviços. Basicamente o impacto direto nas suas finanças é a redução do poder de compra do seu dinheiro com o passar do tempo: R$ 100 hoje valem menos que R$ 100 há cinco anos, por exemplo.

Deflação, por outro lado, é a diminuição dos preços de bens e serviços. Por não fazer parte do cotidiano de uma economia emergente como a nossa, a deflação é pouco considerada – apesar de ser comum identificá-la em algumas situações atípicas, como os meses de abril e maio de 2020 quando o IPCA bateu a marca de - 0,31% e - 0,38%, respectivamente. Dessa vez, o impacto direto nas suas finanças é o aumento do poder de compra do seu dinheiro com o passar do tempo: R$ 100 no final de maio valiam mais que no final de março.

Pois bem, falamos sobre IPCA (e já escrevi muito sobre este índice nesta coluna; faz parte do dia a dia financeiro), mas o que é este indicador? No estudo da economia, não há um cálculo que defina com exatidão a inflação, mas indicadores como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (índice oficial do governo, calculado pelo IBGE) ou o Índice Geral de Preços de Mercado (IGPM) fazem seu papel ao evidenciar os parâmetros de inflação.

Contudo, vale ressaltar, inflação é um objetivo econômico e por isso existe a tão comentada taxa Selic (na verdade, quando falamos em COPOM e Selic, estamos falando sobre a Meta Selic: basicamente, um objetivo de inflação). De acordo com a ideia macroeconômica – considerada uma visão ultrapassada do ponto de vista de alguns especialistas –, a inflação é essencial para manter o consumo e, com isso, a estabilidade econômica de uma nação.

Pronto, definimos os termos (inflação e deflação) e vimos alguns conceitos essenciais antes de entendermos as causas destes acontecimentos. Vamos ao próximo passo. São muitas as causas de inflação e desinflação, mas vamos nos restringir ao caso clássico de oferta e demanda: qualquer descontrole do equilíbrio de preços pode ser causado pela lei de oferta e demanda.

Conforme a demanda por um produto aumenta, a sua oferta precisa, necessariamente, aumentar para manter o preço de equilíbrio; caso contrário, este será reajustado e o preço do produto tende a aumentar. Por outro lado, quando a oferta aumenta e a demanda diminui, os preços tendem a cair até uma região de equilíbrio. Isso causa inflação e deflação!

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Procura-se escravo fugitivo

quinta-feira, 08 de outubro de 2020

Nas últimas semanas, fazendo uma pesquisa sobre determinado assunto na imprensa régia “Gazeta do Rio de Janeiro”, me chamou a atenção os avisos de escravos fugitivos. O que notadamente me impressionou foram as descrições de mutilações nos corpos desses cativos, uma forma de facilitar a identificação aos interessados na recompensa pela captura.

Nas últimas semanas, fazendo uma pesquisa sobre determinado assunto na imprensa régia “Gazeta do Rio de Janeiro”, me chamou a atenção os avisos de escravos fugitivos. O que notadamente me impressionou foram as descrições de mutilações nos corpos desses cativos, uma forma de facilitar a identificação aos interessados na recompensa pela captura. Nas descrições os escravos eram cambados dos pés, desdentados, com grande “costura” nas costas, pernas com marcas de feridas “por estar sempre nos ferros”, nádegas cicatrizadas de relho, marcas de relho nas costas, um dedo cotó, picado de bexigas, boubas nos calcanhares, manetas, aleijados etc.

Recorri então a releitura do livro de Gilberto Freyre, “O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX”. Freyre pesquisou no Jornal do Commercio, no Diário de Pernambuco, entre outras gazetas, inúmeros avisos de escravos fugitivos. Segundo esse autor, normalmente as deformações decorriam dos castigos, excesso e acidente de trabalho, por doença, condições anti-higiênicas e tipo de alimentação.

No tocante aos castigos os instrumentos mais utilizados eram o azorrague, a gargalheira, a pega, o tronco, o vira-mundo, a corda de sedenho, os anjinhos e o colete de couro. Era comum os escravos serem descritos com cicatrizes de açoite e de ferro quente, o dedo picado de agulhas de debruar tamancos, pés deformados cheios de bichos, os dedos dos pés torados por serem amassadores de cal e o cal lhes ter aberto feridas e comido os dedos, com pernas e braços exageramente finos, tortos, cambados, tronchos, zambos ou arqueados, que são sequelas de raquitismo.

Na identificação dos escravos fugitivos, além das deformações decorrentes dos castigos, do tipo de trabalho e do modo de vida havia um tipo de indicação nos anúncios que Freyre denomina de “característicos constitucionais”. O que seria este último? Os senhores descreviam o fugitivo pelo tipo de comportamento, ou seja, introvertidos ou calados, extrovertidos de aspecto alegre, brejeiros, muito político no falar, muito capadócio, bem falante, retórico, muito poeta no falar, contador de histórias, muito pachola, gostava de súcias, gostava de andar pelos batuques, muito dançador, cantador de chulas, tocador de viola para ficar em apenas alguns exemplos.

Em Nova Friburgo, possuímos um anúncio publicado em O Friburguense em 17 de abril de 1881, que ilustra bem o que Freyre denomina de “característicos constitucionais”. O capitão Luciano José Coelho de Magalhães, lavrador de Cantagalo, ofereceu a quantia de um conto de réis a quem capturasse, ou metade a quem desse notícias certas de seu escravo José, pardo, idade entre 28 a 33 anos, marinheiro, cozinheiro, falquejador e serrador. José pertencera a um português que o castigou nas nádegas e nas costas pela “irregularidade de seu proceder” e tinha o hábito de encobrir as cicatrizes dizendo que as feridas das costas eram devidas ao “incômodo”[doença] que dava o nome de “fogo selvagem”.

José era muito falante e cortês, destacava o anúncio. Tinha a voz fina e quando cumprimentava as pessoas dizia sempre a seguinte frase: “Deus lhe dê bons dias” ou “Deus lhe dê boas tardes”. As atividades laborais exercidas pelos escravos é outro fator a destacar. Localizei na Gazeta do Rio de Janeiro escravos no ofício de bolieiro, corrieiro e currador. Freyre nos informa que eram comuns entre os escravos do sexo masculino as profissões de catraeiro, lenhador, talhador de carne, carreiro, sapateiro, pescador, sangrador, cozinheiro, cambiteiro, alfaite, caiador, carpina, marceneiro, pajem, malungo etc.

Já entre as mulheres escravas engomadeira, lavadeira, costureira, doceira, ama-de-leite, marisqueira, enfermeira e mucama. Ainda em relação a Gazeta do Rio de Janeiro me chamou a atenção o caso de João Lopes de Sá, morador na vila de São Pedro de Cantagalo. Conforme esse periódico de 29 de março de 1820, na página 4, consta que “Em fins de dezembro de 1818, [João Lopes de Sá] comprou dez escravos novos, e porque tem aparecido senhores da maior parte [reclamando a propriedade] dos ditos escravos, e só lhe restam três por nomes Maria, João e Joaquim, faz saber a quem forem seus senhores que, dando os sinais certos, se lhe entregarão”. Trata-se de um caso curioso em que se adquire escravos fugitivos de terceiros, o que chamaríamos hoje de receptação culposa.

Possivelmente havia indivíduos especializados na captura de escravos fugitivos para vendê-los, pois não deveriam ser muito atrativas as alvíssaras, ou seja, a recompensa oferecida por seus proprietários. O colono suíço Joseph Hecht nos legou o seguinte depoimento: “... repugnava-nos como algo totalmente inaceitável, o drama dos escravos fugidos e dos recém comprados. Com frequência, víamos passar por nossa cidade de Nova Friburgo negros fugidos que tinham sido capturados pelos caçadores contratados e que estavam sendo devolvidos aos donos. Quem capturasse um negro fugido e o devolvesse, recebia 40 florins, de acordo com a lei.

Para quem se dedicava a essa maldita atividade, essa paga era suficiente. O negro que fugia pela primeira vez era espancado de forma horrível. Se fugisse uma segunda vez, era novamente espancado brutalmente, mas isso não era tudo: uma corrente era presa ao seu corpo, com uma parte pendendo para baixo, por meio da qual as pernas eram presas a uma argola. A corrente lateral era soldada a outra argola. Nessa miserável condição, com o corpo todo apertado, ele tinha de trabalhar e dormir. Quando dois escravos fugiam juntos, eram depois acorrentados juntos a uma argola e assim forçados a trabalhar. Se o escravo fugisse pela terceira vez e fosse preso, era então transportado para o matadouro da cidade do Rio de Janeiro, onde todos os dias recebia 100 chibatadas. Outros eram amarrados a um poste numa praça pública, inteiramente nus e cruelmente surrados.” Através desse depoimento, podemos perceber que Nova Friburgo não ficou à margem da sociedade escravocrata da época.

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    Aviso de fuga de escravo oferecendo recompensa (Fotos: Acervo Biblioteca Nacional)

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    Típica gravura que ilustrava avisos de escravos fugitivos

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    Capitão do mato trazendo escravo com colar de punição, 1835. Johann Moritz Rugendas.

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Seja verdadeiro consigo mesmo

quinta-feira, 08 de outubro de 2020

Será que você tem mentido para si mesmo? Você é honesto, honesta com você? Será que ocorre com você em alguns momentos da vida nos quais percebe que não foi honesto quanto aos seus sentimentos para consigo mesmo e para com outras pessoas? Será importante para sua saúde mental e social ser verdadeiro com você mesmo?

Será que você tem mentido para si mesmo? Você é honesto, honesta com você? Será que ocorre com você em alguns momentos da vida nos quais percebe que não foi honesto quanto aos seus sentimentos para consigo mesmo e para com outras pessoas? Será importante para sua saúde mental e social ser verdadeiro com você mesmo?

Os membros dos grupos de ajuda mútua Alcoólicos Anônimos (AA) que levam a sério este programa de recuperação do alcoolismo muito eficaz, precisam enfrentar a si mesmos diante do espelho e diante do mundo. Nas reuniões de AA para viver a recuperação a pessoa deve ser plenamente honesta. Não há recuperação sem honestidade, seja para problemas com álcool ou outra situação que necessita melhoria, cura, controle saudável, sobriedade e serenidade na vida. A honestidade é um dos quatro absolutos de AA - os outros são pureza, altruísmo e amor. Esses absolutos navegam no processo de recuperação. Eles são a luz guia e ajudam o membro de AA a não se desviar de seu objetivo.

Shakespeare expressou suas opiniões sobre a honestidade por meio de Polônio em Hamlet. “Sê verdadeiro consigo mesmo. E deve seguir-se, como a noite ao dia, então não podes ser falso com ninguém”, escreveu ele. Séculos depois, ainda reconhecemos essas linhas como exemplos de vida. 

É essencial ser honesto para restaurar sua vida, seja por abuso ou dependência de substância ou por outro problema. Por meio da honestidade, você aprende a aceitar. E a aceitação é o primeiro passo para assumir o controle do que você perdeu por ser impotente diante da situação, da droga, da obsessão, da compulsão. No caso do alcoolismo, ser verdadeiro consigo mesmo é a única maneira de obter o controle do problema com o álcool.

Isto é verdade porque geralmente o alcoólico que ainda não entrou em recuperação permanece na negação. Negação é um mecanismo de defesa mental na qual o indivíduo mente para si mesmo na tentativa de fugir do problema. Um alcoólico ou alcoólatra que ainda não encontrou a sobriedade pode dizer: “Bebo só fim de semana!”, quando, na realidade, ele bebe em dias da semana também. Ou pode argumentar: “Bebo demais quando estou triste.”, quando a verdade é que ele bebe demais estando triste ou alegre.

Viver na negação é viver mentindo para si mesmo, o que retarda ou impede entrar em recuperação do alcoolismo, outra droga ou de qualquer comportamento disfuncional. É muito difícil ser autêntico ou verdadeiro o tempo todo. Ser verdadeiro consigo mesmo o ajuda a se sentir puro consigo mesmo. Isso o encoraja a ajudar os outros. Viver autenticamente permite que você seja altruísta e faça coisas para outras pessoas. Mas, para isso, você também deve trazer consistência em todas as suas ações.

Como Shakespeare explica, ser honesto tem que ser um esforço contínuo. Assim como a noite segue o dia, você deve manter o ciclo em andamento. Lembre-se de que ser honesto não significa apenas ser responsável por suas ações, mas também seguir bons princípios. O vício, seja em álcool, outra droga é caracterizado pelo uso compulsivo de uma substância, apesar de conhecer as consequências. A pessoa faz isso porque se sente melhor e aproveita a "sensação" momentânea. Mas ser honesto realmente deixa você feliz num longo prazo. Não faz você se sentir melhor apenas temporariamente, é uma excelente maneira de passar pela vida. Praticar a honestidade pode ajudá-lo a aliviar o estresse, porque você gasta menos tempo procurando cobrir seus erros, falhas, desonestidades, focando em seu bem-estar. Não precisa se preocupar com a operação “lava a jato” para descobrir suas corrupções. O mal destrói o mal. E a verdade vai acabando com nossas mentiras e nos fazendo melhores pessoas que ajudarão outras numa motivação compassiva. Ah! Se a maioria da classe política entendesse e vivesse isso ... como a sociedade funcionaria bem, como diminuiria o sofrimento de tanta gente! (Fonte: https://www.passitonrecoveryshop.com/to-thine-own-self-be-true.html)

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