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Do muro das lamentações ao hospital das desilusões

quinta-feira, 05 de junho de 2025

O prefeito de Nova Friburgo foi para as redes sociais divulgar que irá atravessar o oceano para ir até Israel — sim, Israel, o país que está vivendo sob constante tensão geopolítica e em guerra aberta — buscar soluções para a segurança pública e inovação na cidade de Nova Friburgo.

O prefeito de Nova Friburgo foi para as redes sociais divulgar que irá atravessar o oceano para ir até Israel — sim, Israel, o país que está vivendo sob constante tensão geopolítica e em guerra aberta — buscar soluções para a segurança pública e inovação na cidade de Nova Friburgo.

Enquanto isso, por aqui, a cidade vive sua própria guerra: uma guerra silenciosa, cotidiana, contra a falta de estrutura, de humanidade e de gestão. Uma guerra que mata três friburguenses por dia dentro do Hospital Municipal Raul Sertã. Só que, diferente de Israel, por aqui o inimigo não é um exército. É o descaso.

Terra prometida

A viagem do prefeito à Terra Santa seria cômica, se não fosse trágica. O prefeito aparece sorridente nas redes sociais, anunciando sua ida em missão oficial representando Nova Friburgo, como se isso fosse um excelente marco diplomático. No entanto, estamos atravessando uma das maiores crises da saúde da cidade sem atitudes imediatas.

Qual o sentido de buscar soluções para segurança pública em outro continente quando não conseguimos garantir que uma pessoa saia viva de um hospital municipal? Segurança pública começa por salvar vidas — e o prefeito está literalmente ignorando as que estão sendo perdidas debaixo do seu nariz.

Como denunciado pelo vereador Marcos Marins, em audiência pública, a conta é cruel: a taxa de mortalidade dos internados no Raul Sertã em 2024 foi de 14,18%. Um a cada sete morre durante a internação. Três por dia. Isso é três vezes a média nacional do SUS.

Terra de promessas

Para uma questão de dimensão, o número de mortes por ano dentro do Hospital Municipal Raul Sertã corresponde a números superiores a tragédias naturais que chocaram todo o país, inclusive a catástrofe climática de 2011. Nos últimos quatro anos, as denúncias foram muitas.

Em outubro de 2023, parte do forro da recepção do Centro de Tratamento de Urgência do Hospital Raul Sertã desabou durante uma forte chuva. A Defesa Civil identificou que o incidente foi causado pelo acúmulo de água no telhado, devido à capacidade insuficiente das calhas para escoar a água. O episódio evidencia a precariedade da infraestrutura do hospital.

Além disso, em março de 2023, a Polícia Federal deflagrou a Operação Baragnose, que investigou fraudes em licitações relacionadas ao fornecimento de refeições no HMRS. As investigações apontaram para a existência de um esquema criminoso envolvendo servidores públicos e empresários, que teriam forjado justificativas para dispensar licitações e favorecer determinadas empresas. O caso resultou no bloqueio de quase R$ 12 milhões de envolvidos, incluindo ex-prefeitos e ex-secretários de saúde.

Ainda, em abril de 2024, uma fiscalização realizada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro constatou diversas irregularidades no HMRS, como infiltrações nas paredes, mobiliário precário, falta de água potável, climatizadores e locais adequados para acomodar pacientes e acompanhantes.

Por fim, e não menos importante, foi identificado que o hospital não possui liberação das instalações pelo Corpo de Bombeiros e carece de uma brigada contra incêndios. O relatório também apontou a ausência de um plano diretor para reformas estruturais e melhorias nos serviços prestados.

Cidade das lamentações

Em vez de ajoelhar-se diante do Muro das Lamentações, o prefeito deveria andar pelos corredores do hospital e ouvir as verdadeiras lamentações: de mães esperando por atendimento, de idosos esquecidos em macas improvisadas, de médicos exaustos, de famílias destruídas pela falta do básico.

Israel enfrenta bombardeios, Nova Friburgo lida com um massacre invisível, diário e tão devastador quanto qualquer míssil. Só que aqui, não há sirene de alerta. Só o silêncio constrangedor de quem finge que está tudo bem.

A comparação é dura, mas necessária. Em Israel, há sistema de defesa, investimentos maciços em segurança. Em Nova Friburgo, há abandono institucional, filas para atendimento emergencial, estruturas caindo aos pedaços. Em Israel, há refúgios antiaéreos. Aqui, não temos sequer um lugar digno para tratar pneumonia.

A viagem não só é inútil — é ofensiva. É uma ofensa às famílias enlutadas. É uma ofensa aos servidores da saúde que viram mártires da negligência. É uma ofensa à inteligência do cidadão. E mais que tudo: é um símbolo do quão distantes estão as prioridades do governo em relação ao que realmente importa.

Estamos em guerra, sim. Mas é contra o colapso da saúde, da dignidade, da empatia. E o prefeito não está no front — está fazendo turismo institucional, gastando verba pública para buscar “ideias” que não servem à nossa realidade. Em vez de importar soluções de um país em conflito, por que não resolver primeiro o nosso próprio campo de batalha?

Nova Friburgo não precisa de discurso internacional. Precisa de gestão local. Precisa de quem bote a mão na massa, não nas redes sociais. O povo não quer intercâmbio político com países de guerra. Quer sobrevivência em países em paz. E o mínimo que se espera de um líder em tempos de crise é presença.

O Muro das Lamentações é um lugar sagrado. O Raul Sertã, hoje, é um lugar profano. Sagrado deveria ser o direito à vida. Mas, em Nova Friburgo, esse direito está sendo enterrado diariamente — e o responsável por enfrentá-lo prefere pedir bênçãos do outro lado do mundo, enquanto aqui só restam orações.

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Problemas na saúde: o drama que Friburgo vive

quinta-feira, 29 de maio de 2025

A cena se repete em quase toda cidade brasileira — e Nova Friburgo, infelizmente, não é exceção. Você acorda cedo, vai até o posto de saúde, pega senha, enfrenta fila. Depois de horas de espera, ouve: “o médico não veio” ou “volte outro dia”. Parece piada, mas é o cotidiano de quem depende do SUS.

A cena se repete em quase toda cidade brasileira — e Nova Friburgo, infelizmente, não é exceção. Você acorda cedo, vai até o posto de saúde, pega senha, enfrenta fila. Depois de horas de espera, ouve: “o médico não veio” ou “volte outro dia”. Parece piada, mas é o cotidiano de quem depende do SUS.

O Sistema Único de Saúde é uma conquista nacional, mas anda tropeçando nas próprias pernas. A falta de médicos, a demora em exames e a superlotação são problemas reais. Em Friburgo, moradores enfrentam filas longas até para atendimento simples. E quando conseguem vaga, ainda precisam torcer para ter remédio.

Não é difícil encontrar quem esteja há meses esperando por uma ultrassonografia. Exame de sangue mais específico? Só com muita paciência — ou sorte. Tem gente que desiste e vai direto para a emergência - e quando chega na emergência, é mandado embora. E tem idoso que aguarda cirurgia há tanto tempo que até perdeu a esperança.

Estado crítico

A situação nas unidades básicas é crítica. Em vários bairros, o atendimento é intermitente ou insuficiente. Falta clínico, falta pediatra, falta especialista. Nos distritos, como Lumiar e Amparo, o problema é ainda mais grave. Quando o médico aparece, é uma vitória. Parte do problema está na dificuldade está na administração pública ser efetiva na rede pública. Os salários são atrativos, mas a infraestrutura e a fiscalização. Resultado: postos vazios, pacientes sem atendimento, exames e medicamentos em falta.

Muitas unidades não têm estrutura mínima para funcionar e basta estar nos locais para perceber isso. Faltam materiais, equipamentos, insumos básicos. Consultórios mal equipados e quase nenhuma fiscalização por parte dos órgãos. O profissional quer trabalhar, mas não tem como.

Raul Sertã

Em Friburgo, o Hospital Municipal Raul Sertã vive sempre no limite. Emergência lotada, plantões sobrecarregados, pacientes nos corredores. O hospital faz o que pode, especialmente com a força e garra dos enfermeiros, mas carrega nas costas boa parte da demanda da região. E sem reforço, o colapso é questão de tempo.

Os postos de saúde deveriam resolver 80% dos casos, mas nem sempre têm equipe completa e o atendimento esperado. E aí tudo vai parar no hospital. Quando a base falha, o topo desaba. A atenção primária precisa ser reforçada — com médicos, enfermeiros, técnicos, psicólogos, dentistas e agentes de saúde.

Enquanto isso, o friburguense espera. Espera exame, espera consulta, espera atendimento. Muitos deixam de tratar a tempo e acabam agravando doenças. Muitos são mandados embora sem a menor condição de serem mandados embora. A fila cresce e o sofrimento também. O tempo perdido pesa — e, em saúde, tempo vale vida.

Precisamos de soluções para ontem

Soluções existem, mas exigem vontade política e planejamento sério. Outra: a valorização dos profissionais da saúde, com boas condições de trabalho. Ninguém quer atuar onde falta tudo e sobra pressão. No fim das contas, a indignação dos pacientes é repassada para quem menos tem culpa: os funcionários de atendimento e enfermeiros.

A informatização dos atendimentos, embora seja aplicada em Nova Friburgo, também pode ajudar. Prontuário eletrônico, agendamento online, controle de estoque de medicamentos. A tecnologia está aí e precisa ser usada a favor da população. Hoje, muita coisa ainda funciona no papel.

Outra alternativa viável é ampliar o uso da telemedicina. Muitas especialidades poderiam atender remotamente, reduzindo a fila. Psiquiatras, neurologistas, endocrinologistas são raros na rede pública. A consulta online pode ser uma ponte, especialmente nos bairros mais afastados e profissionais de outras regiões atenderem.

Audiências públicas acontecendo

O dever da população: cobrar, fiscalizar, participar e se indignar. Da mesma forma que elogiamos quando o trabalho é bem feito, nas redes sociais, temos também que nos indignar. As audiências públicas estão abertas a todos. A pressão popular é importante para mudar prioridades. Afinal, não há motivo para tanto valor gasto em festa e saúde sendo deixada pra depois.

Friburgo é uma cidade que valoriza sua gente. E gente saudável vive melhor, produz mais, sonha mais alto. Não podemos aceitar que o acesso à saúde básica vire privilégio. Embora muitos possuam plano de saúde, o SUS é para todos — e precisa funcionar para todos.

O friburguense não quer milagre. Quer respeito, dignidade, cuidado. Quer sair do posto com um diagnóstico, não com uma desculpa. Quer atendimento humano, estrutura decente, fila justa. Quer dar entrada em uma maternidade e ter a certeza que só sairá de lá, se realmente puder sair de lá. Não é pedir demais — é pedir o mínimo.

Enquanto isso não acontece, seguimos esperando. Mas sem calar. Porque se tem algo que não pode faltar num sistema de saúde, é voz. E a nossa precisa ser ouvida, alta e clara, porque o SUS em Nova Friburgo, berra por socorro.

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Gripe aviária e comum: alerta máximo ligado

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Você talvez já tenha ouvido falar da gripe aviária, mas se perguntou o que ela tem a ver com a sua vida. Afinal, parece coisa distante, de fazendas lá do outro lado do mundo, certo? Errado. A gripe aviária voltou a preocupar o Brasil — e, sim, ela pode afetar a nossa rotina aqui em Nova Friburgo também.

Você talvez já tenha ouvido falar da gripe aviária, mas se perguntou o que ela tem a ver com a sua vida. Afinal, parece coisa distante, de fazendas lá do outro lado do mundo, certo? Errado. A gripe aviária voltou a preocupar o Brasil — e, sim, ela pode afetar a nossa rotina aqui em Nova Friburgo também.

O alarme foi soado depois que casos do vírus H5N1, um subtipo da gripe aviária, foram confirmados em aves comerciais no Rio Grande do Sul. O Brasil já tinha registrado episódios em aves silvestres, mas agora o vírus chegou às criações que alimentam famílias brasileiras e movimentam a economia. E aí, o sinal vermelho acendeu.

A gripe aviária é uma infecção causada por vírus que geralmente circulam entre aves, especialmente as aquáticas. O tipo H5N1 é um dos mais conhecidos e perigosos. Ele pode infectar aves domésticas, como galinhas e perus. Recentemente, no entanto, o H5N1 deu um passo evolutivo inquietante na direção dos seres humanos.

Em 2022, ele devastou uma população de elefantes marinhos na Argentina, matando milhares com uma taxa de mortalidade de 97%. Foi a primeira vez que se sabe que o H5N1 se instalou em uma espécie de mamífero. Até então, as pessoas e outros mamíferos que adoeciam contraíram o vírus por meio do contato com aves. Os elefantes-marinhos estavam transmitindo o vírus uns aos outros – algo preocupante.

Nos Estados Unidos, pelo menos 66 pessoas contraíram o vírus na última crise, a maioria por meio de contato direto com aves ou vacas. Em dezembro, uma criança no condado de Marin que bebeu leite cru (ou seja, não pasteurizado), teve febre e vomitou, e depois testou positivo para H5N1. 

Não se trata de um simples resfriado. Febre alta, dor no corpo, tosse e falta de ar são alguns dos sinais. E o pior: a taxa de mortalidade em humanos infectados pelo H5N1 é alta. Até hoje, o vírus não é de fácil transmissão entre pessoas, mas o temor global é que ele sofra mutações e ganhe essa capacidade.

Riscos na economia

O vírus da gripe aviária surgiu pela primeira vez em fazendas de aves em Hong Kong em 1997, onde matou quase 100% das galinhas, causando hemorragia interna e destruindo vários órgãos de uma forma que lembra assustadoramente o Ebola em humanos. Desde então, sucessivas ondas de infecção, disseminadas por aves selvagens, têm assolado granjas de aves em todo o mundo.

Com os casos em aves de granja, o Brasil — maior exportador de carne de frango do mundo — viu vários países suspenderem temporariamente as compras. China, Argentina, África do Sul e até membros da União Europeia deram um passo atrás. E isso gera impacto direto na economia do país, afetando empregos, produção e, claro, o preço que você paga no supermercado.,

E o que Nova Friburgo tem a ver com isso?

Muito mais do que parece. Nova Friburgo tem tradição agrícola, com produção relevante de hortaliças, flores, laticínios — e também de aves. Existem granjas familiares, pequenos produtores independentes e até criadores informais que abastecem o comércio local. Esses produtores estão agora em alerta máximo.

Se o vírus chega a alguma propriedade em Friburgo, as medidas são duras: todas as aves infectadas precisam ser sacrificadas, o local precisa ser isolado, e os produtores podem perder meses — até anos — de trabalho. Além disso, existe o impacto para o comércio: granjas fechadas, fornecedores em pausa, açougues e mercados com menos oferta. A cadeia produtiva da avicultura é extensa e envolve gente de todos os cantos: desde o criador que alimenta as aves até o motorista que entrega a ração. Se uma granja para, muita gente sente o baque.

O risco para a saúde pública

Não há motivo para pânico. Mais cuidados extremos devem ser tomados. É extremamente importante deixar claro que há uma epidemia de H1NI (gripe comum) que vem com força total em todo o país. Algumas cidades de Santa Catarina e de outros estados vem apresentando altos índices de internação face aos sintomas respiratórios apresentados. O que já tem causado grande volume de pessoas nos hospitais.

No entanto, o vírus da H5N1 ainda não foi registrado entre humanos no Brasil, mas o risco existe e deve ser levado a sério. Quem trabalha em contato direto com aves deve redobrar os cuidados. Luvas, máscaras, roupas protetoras e higienização adequada são medidas importantes para evitar a contaminação. E se alguém tiver contato com aves doentes e apresentar sintomas como febre, tosse ou dor no corpo, o ideal é procurar atendimento médico imediatamente e informar o contato com aves.

Não há motivo de alarde, mas de cuidados! Não há alarde para deixar de comer frango ou ovos cozidos, o consumo continua sendo seguro. O vírus é sensível ao calor e morre quando a carne é bem cozida.

O papel da população friburguense

Aqui em Nova Friburgo, é essencial que a população ajude a prevenir a chegada do vírus. Isso começa pelo cuidado com aves domésticas. Se você cria galinhas no quintal, mantenha o local limpo, evite o contato com aves silvestres e fique atento a qualquer sinal de doença. Além disso, na prevenção da gripe comum (H1NI) é extremamente importante que a população busque realizar a vacinação. A nova cepa da gripe comum tem apresentados sintomas graves e levado pessoas ao hospital em estágios delicados. Sempre é melhor prevenir do que remediar.

O Brasil já está tomando medidas, como o monitoramento das granjas, controle de trânsito de aves e reforço na biossegurança. Em Friburgo, cabe às autoridades municipais acompanharem de perto a situação e prepararem estratégias de resposta rápida, caso o vírus apareça na região.

Enquanto isso, a gente faz a nossa parte. Informação, cuidado e responsabilidade são os melhores aliados contra essa e outras doenças. E mesmo que a gripe aviária ainda pareça distante, é importante lembrar: em um mundo cada vez mais conectado, os problemas também chegam mais rápido.

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Com licença, vou falar da minha cidade

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Nova Friburgo vai fazer aniversário, e quem vive aqui sabe: essa cidade tem um jeitinho só dela. Um pouco suíça, um pouco carioca do interior, com serra, frio e coração quente. O calendário marca o dia 16 de maio, mas todo dia parece festa por aqui – até mais do que deveria. Festa com barraquinha, cerveja, morango com chocolate e conversa boa na calçada.

Nova Friburgo vai fazer aniversário, e quem vive aqui sabe: essa cidade tem um jeitinho só dela. Um pouco suíça, um pouco carioca do interior, com serra, frio e coração quente. O calendário marca o dia 16 de maio, mas todo dia parece festa por aqui – até mais do que deveria. Festa com barraquinha, cerveja, morango com chocolate e conversa boa na calçada.

De manhã cedo, a cidade acorda com preguiça. O sol espia por entre os morros e vai iluminando devagar os telhados molhados pelo sereno. O pão chega quentinho na padaria, o jornaleiro já conhece os fregueses pelo nome, e a vida começa sem pressa. É um ritmo que combina com a alma da cidade: tranquila, mas cheia de história.

Tem o senhor da bomboniere que já viu Friburgo mudar de cara umas dez vezes, mas continua pesando doces na balança de cobre. Tem a costureira que borda sonhos enquanto ouve o rádio. Tem a criançada que corre no coreto da praça, como se cada tarde fosse uma eternidade. E tem o cheiro do fogão a lenha escapando das janelas, como convite.

Friburgo é dessas cidades que parecem tiradas de livro antigo, mas cheias de vida moderna. Tem fábrica de lingerie, faculdade que forma gente do país todo, polo de inovação e tecnologia. Mas também tem cavalo passando na rua, feira com cheiro de taioba e banca onde o ramo de cheiro-verde vira troco. Tem restaurante chique no centro e boteco com torresmo e cerveja litrão na esquina. E ninguém acha estranho — porque aqui tudo convive em paz.

É uma cidade com vocação para o acolhimento. Quem chega, fica. Quem vai, sente saudade. A serra abraça, o clima aconchega e o povo recebe com sorriso no rosto. Friburgo parece que foi feita pra gente gostar. E quanto mais a gente anda por ela, mais difícil é não se apaixonar.

Quando chove, a neblina desce como um cobertor sobre as montanhas. Parece que a cidade se recolhe, faz silêncio e convida para comer um morango e um chocolate quente. E quando faz sol, a luz se espalha pelos casarões antigos, pelas hortênsias azuis e pelos trilhos da Maria-Fumaça que só vive na memória.

Friburgo também é gente que batalha. Que enfrentou enchente, pandemia, crise econômica — e seguiu em frente. Com um passo de cada vez, mas sempre em frente. Tem orgulho de sua origem, de sua diversidade e da força que mora nas suas ruas, das mais calmas às mais movimentadas.

Cada bairro de Friburgo tem seu jeito, seu sotaque e sua graça. O Cascatinha acorda com canto de passarinho, o Centro ferve com o vai e vem das lojas, e o Cônego tem cheiro de padaria e fim de tarde preguiçoso. Em Olaria, tudo parece mais apressado, mas o abraço é o mesmo. Já em Lumiar, a vida é poesia em estrada de chão e banho de rio.

No Centro, a vida pulsa entre o calçadão e os prédios antigos, onde o passado e o presente dividem a mesma calçada. Tem loja, tem banco, tem encontro marcado na Praça do Viagra. O relógio da matriz marca o tempo da cidade — e quem vive aqui sabe que para uns ele corre, para outros caminha. É o coração que bate no ritmo de Friburgo.

Conselheiro Paulino é cidade dentro da cidade. Tem comércio forte, gente trabalhadora e uma energia que não se cansa. Ali, Friburgo mostra sua cara popular, seu calor humano, seu corre do dia a dia. No Caledônia, a vista da serra parece um quadro pendurado no céu. E em São Pedro, o sossego reina entre varandas e quintais.

Em Amparo, a tradição se senta à mesa com a comida boa do interior e as histórias contadas no portão. Campo do Coelho tem brisa gelada, estrada de curvas e morador que conhece cada nuvem do céu. Em Riograndina, a cidade se faz mais simples, mas não menos viva.

É impossível falar da cidade sem lembrar das culturas que se misturam. Do alemão ao italiano, do português ao indígena, do suíço aos povos africanos, cada canto tem uma história. Cada bairro tem uma alma. E cada morador carrega um pedacinho dessa Nova Friburgo no coração — às vezes sem nem perceber.

No aniversário da cidade, a gente não precisa de fogos nem banda. Basta olhar ao redor: o friozinho gostoso da manhã, os conhecidos pela rua, o som do sino da igreja, a beleza da serra. Tudo isso já é celebração – menos o trânsito de Conselheiro, é claro. E é por isso que Friburgo é especial: porque o seu encanto e bom humor está nas coisas simples.

Então, parabéns, Nova Friburgo. Que você siga sendo essa cidade que acolhe, encanta e inspira. Que continue com seu cheiro de mato, sua alma de interior e seu coração do tamanho do mundo. E que a gente nunca se esqueça da sorte que é poder te chamar de lar. Um até logo, para cidade que tanto amo. 

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Estacionamento rotativo sob suspeita: TCE-RJ suspende licitação

quinta-feira, 08 de maio de 2025

Você já pagou para estacionar na rua e se perguntou para onde vai esse dinheiro? Em Nova Friburgo, o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) se fez essa pergunta — e foi além: investigou, analisou documentos e apontou indícios de irregularidades na licitação entre a prefeitura e as empresas candidatas pelo estacionamento rotativo da cidade.

Você já pagou para estacionar na rua e se perguntou para onde vai esse dinheiro? Em Nova Friburgo, o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) se fez essa pergunta — e foi além: investigou, analisou documentos e apontou indícios de irregularidades na licitação entre a prefeitura e as empresas candidatas pelo estacionamento rotativo da cidade.

Em denúncia realizada pelo vereador Maicon Gonçalves (Mobiliza), através de decisão monocrática nos autos do processo de 214.876-9/2025, o TCE-RJ suspendeu os efeitos do certame e apontou indícios de irregularidades no processo licitatório apontados pelo vereador em sua petição inicial.

Denúncia

A denúncia apresentada ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) levanta sérias suspeitas sobre o processo que visa implantar novo sistema de estacionamento rotativo em Nova Friburgo. Uma das críticas é que a população não foi devidamente informada nem convidada a participar das audiências públicas, o que fere a Constituição e a lei que garante os direitos dos usuários de serviços públicos.

Outro ponto grave é que, segundo a denúncia, a Prefeitura não apresentou nenhum estudo técnico para justificar a escolha do modelo adotado, que loca equipamentos por valores altos. Não houve comparação entre alugar ou comprar os equipamentos, nem análise de alternativas mais vantajosas, como uma concessão que dividisse a arrecadação com o município, o que vai contra o princípio da boa gestão do dinheiro público.

A acusação também destaca que o projeto não está alinhado com o Plano de Mobilidade Urbana, exigido por lei federal. Isso significa que o estacionamento rotativo poderia vir a ser implantado sem considerar o impacto no trânsito e no transporte da cidade, comprometendo sua utilidade e legalidade.

Além disso, a denúncia afirma que a forma como o dinheiro arrecadado será usado não está clara. Pela Lei Orgânica do Município, esse recurso deveria ir para o Fundo Municipal de Mobilidade Urbana, mas isso não aparece no edital da licitação — o que pode abrir brechas para uso indevido da verba.

Faltou também, de acordo com a denúncia, uma avaliação sobre os efeitos sociais e econômicos do projeto. Não se sabe, por exemplo, como o sistema afeta os moradores sem garagem, o comércio local ou as pessoas em situação de vulnerabilidade. Sem esses dados, é impossível saber se a medida realmente atende ao interesse público.

A denúncia aponta ainda a ausência de regras sobre gratuidade ou reserva de vagas para idosos, pessoas com deficiência e veículos de saúde. Isso fere diretamente leis que garantem esses direitos, como o Código de Trânsito, o Estatuto do Idoso e a Lei Brasileira de Inclusão.

Por fim, o texto alerta que o modelo adotado permite que empresas privadas apliquem multas e autuações, o que é uma função exclusiva do poder público. Se confirmado, isso representa uma grave irregularidade, pois o Estado não pode transferir esse tipo de autoridade para particulares.

Licitação impedida

Com a decisão, a Prefeitura de Nova Friburgo fica provisoriamente impedida de dar continuidade a licitação atual e deverá refazer os estudos técnicos necessários. O TCE determinou, ainda, que o município apresente esclarecimentos e adote providências para corrigir as falhas apontadas.

Para os cidadãos, a decisão pode parecer apenas mais uma briga burocrática. Mas os efeitos são diretos. A falta de controle e fiscalização sobre a cobrança de vagas significaria um eventual risco de desvio de recursos, gastos superfaturados de dinheiro público, aumento indevido de tarifas, impostos e multas num serviço caro e ineficiente.

Outro efeito relevante da decisão é o impacto na política urbana da cidade. O estacionamento rotativo não serve apenas para arrecadar: ele deve garantir o uso racional do espaço público, rotatividade nas vagas e incentivo ao transporte coletivo. Quando o contrato é feito sem planejamento e nas pressas, todos esses objetivos se perdem — e quem paga a conta é o cidadão.

É importante lembrar que a decisão é preventiva e cautelar. Ou seja, ela visa interromper um processo que poderia causar danos maiores, até que os fatos sejam totalmente apurados. O conselheiro do TCE-RJ agiu com base em indícios consistentes, mas os envolvidos ainda têm o direito de apresentar defesa e esclarecer os pontos levantados.

O TCE-RJ também enviou o caso ao Ministério Público e à Secretaria-Geral de Controle Externo. Tal medida pode permitir o controle maior da licitação, gerar investigações e até uma suspensão definitiva da licitação dos estacionamentos rotativos na cidade de Nova Friburgo.

Enquanto isso, a população deve acompanhar o desdobramento do caso com atenção. O estacionamento rotativo é um serviço público, e não uma concessão privada irrestrita. Todo valor pago pelo cidadão precisa ser justificado com retorno à coletividade: ruas mais organizadas, acesso ao comércio, segurança e manutenção de vias.

A decisão do TCE-RJ em relação a Nova Friburgo serve de alerta para outras cidades. Contratos públicos devem seguir princípios de legalidade, eficiência e transparência. E quando isso não acontece, é papel dos órgãos de controle agir com firmeza para proteger o interesse coletivo e garantir o uso correto do dinheiro público.

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Precisamos falar sobre o silêncio: o suicídio em Nova Friburgo

quinta-feira, 01 de maio de 2025

Falar sobre suicídio ainda causa desconforto e é um tabu muito grande na sociedade. Em muitas famílias, esse é um tema que permanece escondido, como se o silêncio fosse uma forma de proteção. Mas o silêncio, em vez de acolher, afasta. E o que não se fala, infelizmente não se trata.

Falar sobre suicídio ainda causa desconforto e é um tabu muito grande na sociedade. Em muitas famílias, esse é um tema que permanece escondido, como se o silêncio fosse uma forma de proteção. Mas o silêncio, em vez de acolher, afasta. E o que não se fala, infelizmente não se trata.

Em Nova Friburgo, o número de suicídios tem aumentado, especialmente entre jovens e idosos. Cada caso representa uma vida interrompida, uma dor que talvez pudesse ter sido evitada, sem que ninguém tenha culpa sobre o resultado. O mais alarmante é que na maior parte das vezes, muitos desses sofrimentos passam despercebidos, acontecendo no silêncio de quem está ao nosso lado.

Jovens, adultos e idosos

A solidão é um ponto em comum entre esses extremos da vida. Jovens enfrentam pressões constantes — sobre futuro, aparência, desempenho. Já os idosos, muitas vezes, sentem-se esquecidos, como se tivessem sido deixados à margem. Ambos podem se sentir invisíveis em cenários repletos de pessoas.

A pandemia da Covid-19 agravou esse cenário também aos adultos. O isolamento social, as perdas familiares, a instabilidade econômica e o medo do futuro deixaram marcas emocionais profundas. Mesmo com a volta à “normalidade”, muitos seguem lutando em silêncio. O trauma não desaparece com decretos.

Trata-se de uma questão de saúde pública. Ignorar isso é manter o problema onde ele já está: escondido. Precisamos de campanhas permanentes, e não apenas ações pontuais em setembro. A prevenção começa com informação, escuta e acesso ao cuidado psicológico contínuo.

Nem fraqueza e nem falta de fé: saúde

É importante entender que o suicídio não é um ato de fraqueza, nem de falta de fé. Trata-se, quase sempre, de um sofrimento emocional intenso, que precisa ser acolhido com empatia. Reduzir esse sofrimento a “drama” ou “frescura” é não enxergar o problema real.

Nova Friburgo conta com o trabalho importante do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e de profissionais da rede pública que atuam com dedicação. Mas o número de atendimentos ainda não dá conta da demanda. Muito não tem o acesso como gostariam por uma consulta. Outros desistem no meio do caminho. Isso precisa mudar.

Também há iniciativas nas escolas que buscam conversar sobre saúde mental com os alunos. Esse tipo de educação emocional é essencial desde cedo. Ensinar a reconhecer e lidar com os próprios sentimentos pode salvar vidas. E ajuda a formar adultos mais saudáveis, é o que explica a psicóloga Julia Gonzaga Silva, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e em Neurociência e Educação:

“Muita gente chega ao limite acreditando que precisa aguentar sozinho, quando, na verdade, poderia ter sido acolhida muito antes. E isso vale para adultos e também para os pequenos. Crianças sentem tristeza profunda, medo intenso e angústias difíceis de nomear. A psicoterapia é um espaço onde tanto adultos quanto crianças podem elaborar dores, entender emoções e encontrar novos caminhos. Falar, ser ouvido e se sentir compreendido pode transformar o percurso da vida, e quanto antes esse cuidado começa, maiores as chances de prevenir o agravamento do sofrimento”, explica Júlia.

Por fim, não se pode deixar de discutir a prevenção da depressão a partir de um ponto de vista clínico. Muitas pessoas não realizam exames de rotina e desconhecem seus níveis de vitaminas essenciais. Deficiências de nutrientes como B12, D3, B6 — entre outros ligados diretamente à saúde mental — podem contribuir para o desenvolvimento ou agravamento do quadro depressivo.

Busque sempre ajuda

Quem enfrenta esse tipo de dor, muitas vezes não quer morrer — quer parar de sofrer. Mostrar que existe ajuda, que existe tratamento e que existe esperança pode ser um divisor de águas. Nenhum sofrimento dura para sempre, mesmo que pareça. Há saída, há vida depois da dor.

O Centro de Valorização da Vida (CVV), por exemplo, oferece apoio emocional 24 horas por dia, no telefone 188. O atendimento é sigiloso, gratuito e feito por voluntários treinados. Pode parecer pouco, mas uma conversa pode interromper o ciclo do desespero. Às vezes, salva uma vida.

Se você está passando por um momento difícil, saiba que você não está sozinho. Buscar ajuda não é sinal de fraqueza. É ato de coragem. Falar é um começo. E um começo pode ser tudo o que você precisa agora. Sua vida importa. Sempre vai importar, por mais que pense ao contrário.

Falar sobre suicídio não incentiva ninguém a cometê-lo. Falar salva. Porque quando abrimos espaço para escuta e acolhimento, diminuímos a dor de quem pensa em desistir. E se existe algo mais forte do que a dor, é a certeza de que alguém se importa. Vamos juntos romper o silêncio.

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O legado de um Papa que dialogava com o mundo: o impacto de Francisco em Nova Friburgo

sexta-feira, 25 de abril de 2025

A recente morte do Papa Francisco marca o fim de um pontificado que ficará registrado na história como um dos mais ousados, autênticos e transformadores da Igreja Católica. Desde sua eleição em 2013, Jorge Mario Bergoglio se destacou por romper protocolos, aproximar-se dos mais pobres e por abordar temas considerados tabus com uma abertura rara entre os líderes da Igreja.

A recente morte do Papa Francisco marca o fim de um pontificado que ficará registrado na história como um dos mais ousados, autênticos e transformadores da Igreja Católica. Desde sua eleição em 2013, Jorge Mario Bergoglio se destacou por romper protocolos, aproximar-se dos mais pobres e por abordar temas considerados tabus com uma abertura rara entre os líderes da Igreja.

Seu papado foi marcado pela empatia, pela coragem de enfrentar questões polêmicas e pela defesa intransigente da dignidade humana. Francisco falou de forma clara sobre temas como meio ambiente, desigualdade, migrantes, violência, abuso sexual dentro da Igreja, inclusão de pessoas LGBTQIA+ e o papel das mulheres.

Mesmo dentro de uma instituição tradicional, seu discurso foi permeado por uma linguagem de acolhimento, de escuta e de respeito. O Papa argentino foi, acima de tudo, um pontífice do diálogo: entre religiões, entre nações, entre diferentes visões de mundo. Um Papa do encontro.

Seu impacto transcendeu a esfera religiosa, atingindo positivamente inclusive pessoas de religiões distintas e até mesmo as sem religião. Em um mundo crescentemente polarizado pela política, Francisco tornou-se uma voz que clamava por moderação, solidariedade e paz.

Brasil: A Jornada Mundial da Juventude

Um dos momentos mais marcantes do início de seu pontificado foi sua visita ao Brasil em julho de 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude, realizada no Rio de Janeiro. Foi a primeira viagem internacional de Francisco como Papa, e nela já se evidenciava o tom pastoral e humano que marcaria seu papado.

A viagem antecipou temas de seu pontificado, como a postura pastoral de acolher as minorias historicamente excluídas pelo catolicismo. No voo de volta ao Vaticano, concedeu uma então incomum entrevista coletiva espontânea a bordo do avião — prática que depois seria recorrente.

Respondendo a um jornalista, disse que ser homossexual não deve ser entendido como pecador, mas os atos sim. "Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la?", disse Francisco, em uma frase que virou um dos marcos de seu papado. Frente a uma instituição historicamente ligada à Inquisição, ele foi o primeiro pontífice a falar publicamente sobre acolhimento e inclusão.

Ao trocar o papamóvel fechado e blindado por um carro comum, um Fiat Idea, e se misturar à multidão, ele demonstrava seu desejo de proximidade com o povo. Durante o evento, que reuniu mais de três milhões de jovens na praia de Copacabana, Francisco falou sobre a importância da juventude na renovação da Igreja e na transformação do mundo.

Incentivou os jovens a “fazer bagunça” — no sentido de questionar estruturas injustas, provocar mudanças e se engajar na sociedade com coragem e fé. A mensagem teve grande repercussão no Brasil, especialmente entre jovens católicos e educadores, influenciando muito a maneira como a Igreja vem se comunicando com as novas gerações.

Esse encontro também reforçou a ideia de que a fé pode e deve dialogar com os desafios contemporâneos, aproximando a religião da vida concreta das pessoas. Sua presença no Brasil reanimou comunidades católicas, fortaleceu pastorais da juventude e influenciou diretamente o modo como muitas instituições educacionais passaram a tratar temas sociais, políticos e ambientais com mais abertura e protagonismo juvenil.

Mas nem só de seriedade foi construída a relação próxima entre Francisco e o Brasil. Nas costumeiras interações com os fiéis durante os eventos realizados no Vaticano, os brasileiros ganharam a atenção especial de Francisco, com um tom leve e descontraído. Em 2021, um padre paraibano lhe pediu que rezasse pelos conterrâneos. "Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração", brincou o argentino.

Influência em Nova Friburgo

Em Nova Friburgo, cidade com tradição católica expressiva, seu legado pode ser percebido em diversas camadas. Culturalmente, a cidade abriga festas religiosas tradicionais, igrejas centenárias e uma população em que a espiritualidade tem papel importante.

O discurso mais humano e acessível de Francisco ressoou em diversos lugares, abrindo espaços para diálogos que antes pareciam impensáveis dentro da Igreja. Isso facilitou uma maior comunicação entre família, escola e as paróquias locais. Mas foi nas instituições de ensino católicas que sua influência se concretizou de maneira mais evidente.

Os tradicionais colégios religiosos de Nova Friburgo, que têm papel destacado na formação de crianças e adolescentes, adaptaram seus projetos pedagógicos para refletir os valores propagados por Francisco à juventude, tais como a solidariedade, cuidado com o outro, escuta, sustentabilidade e respeito à diversidade.

A escolha de um novo Papa levanta, agora, questionamentos sobre os rumos da Igreja e sobre a continuidade ou não dessas diretrizes nas escolas e como um intermediador entre os mais velhos e os mais jovens. Para Nova Friburgo, fica o desafio e a esperança de que esse legado de acolhimento, diálogo e humanismo permaneça vivo.

Mais do que um líder religioso, Francisco foi um exemplo de escuta ativa e de liderança comprometida com os que mais precisam. Assim fica o legado, do mais brasileiro dos papas.

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80 anos de A VOZ DA SERRA - O jornal que narra as nossas histórias

quinta-feira, 17 de abril de 2025

(Coluna publicada no dia 10 de abril de 2025)

E lá vem ele de novo. O jornal que já acorda com a cidade e que, ao longo de oito décadas, tem visto Nova Friburgo, a Região Serrana e o Rio de Janeiro se transformarem tantas vezes que poderia, tranquilamente, escrever uma novela. E que o faria bem, porque ele é bom nisso: contar histórias.

(Coluna publicada no dia 10 de abril de 2025)

E lá vem ele de novo. O jornal que já acorda com a cidade e que, ao longo de oito décadas, tem visto Nova Friburgo, a Região Serrana e o Rio de Janeiro se transformarem tantas vezes que poderia, tranquilamente, escrever uma novela. E que o faria bem, porque ele é bom nisso: contar histórias.

Mas não qualquer história, não. Ele narra as nossas. As de quem atravessa uma rua com o olhar atento ao dia que nasce e também ao que o sol não pode tocar. A história não apenas dos nascidos, vividos ou falecidos em Nova Friburgo, mas também, as dos apaixonados por essa cidade.

A Voz da Serra não é um jornal qualquer. Se fosse, não teria chegado até aqui, com 80 anos nas costas e uma história que mistura chuva e sol, tragédia e vitória, silêncio e grito. Porque, para o bom jornalismo, não há hora de descanso. Ele está sempre ali, à espreita, com a caneta em punho, ou quem sabe o computador, pronto para registrar o que nos une e o que nos separa. O que faz o peito apertar e o sorriso se abrir.

É engraçado pensar que, há 80 anos, o jornal começou com o simples desejo de conversar com a cidade. Era um tempo de papéis e máquinas de escrever, onde a tinta ainda tinha cheiro e os jornalistas eram heróis de uma rotina quase mítica. A Voz da Serra então veio, com sua promessa de contar o que ninguém mais via ou queria contar.

E foi assim, com suas páginas convidativas e com cheiro de café da manhã, que o jornal se enraizou na cidade. Tornando-se mais do que um veículo de comunicação: a janela que os friburguenses olharam por anos, enquanto o mundo passava à nossa porta. O mundo... como ele muda, né?

De vez em quando, o jornal olhava para o céu e via as estrelas, mas também via as nuvens pesadas, e era preciso levantar-se, se erguer, ir atrás de uma resposta. Talvez tenha sido esse o seu maior feito: o de se manter de pé mesmo quando as enchentes arrastavam tudo e as ruas estavam alagadas, quando a política parecia distante e o futuro parecia um eterno ponto de interrogação.

E o jornal, teimoso, se manteve firme. Porque ele sabia que a vida não é só feita de pedras e poeira, mas também de flores e risos. Por mais que o cenário às vezes se tornasse sombrio, ele não podia, em hipótese alguma, virar as costas para a cidade que o nutria, que o alimentava com seus fatos, suas histórias, seus amores e desamores.

Claro, não foi sempre fácil. Em tempos de censura, quando a palavra “liberdade” parecia uma estranha em um dicionário de palavras proibidas, A Voz da Serra deu seu jeito. Como quem fala baixo, mas com firmeza. Como quem olha nos olhos, sem medo de ser quem é. Aquele que opera com “resiliência e coragem” assim como um trabalhador com a dose forte de café matinal.

E o tempo foi passando, como o rio que atravessa a cidade, tomando seu caminho, mas deixando algo de bom para trás. Entrou na era digital, como todo mundo, mas sem perder seu jeitinho de ser. De falar com o povo, de contar as histórias de quem, apesar de tudo, ainda caminha pela rua, olha o céu e se preocupa com o amanhã.

Virou não apenas uma página virtual, mas um meio de manter a chama acesa. Porque, sejamos francos, o jornalismo é, em última instância, uma chama. Às vezes, fraca, quase apagando. Mas, se bem alimentada, nunca se apaga totalmente, dando transparência e luz em meio a tempos sombrios.

Hoje, ao olhar para trás, o que podemos ver? Um rio de história, de luta, de alegrias e perdas. De gente que viveu e se foi, de histórias que passaram, mas que o jornal teve o privilégio de contar. São 80 anos, não 80 minutos. Foram várias páginas quase que diárias durante 80 anos. Não é pouca coisa.

O jornal viu a cidade mudar, viu o Rio de Janeiro crescer e, de certa forma, ele também cresceu com elas. Porque é isso que ele faz, ele se adapta, se molda, se reinventa. E quando a era digital chegou, ele se abriu para ela como quem recebe uma visita antiga: de braços abertos, mas com aquele olhar desconfiado, que só quem tem anos de estrada, em ser um dos jornais impressos mais antigos do estado, consegue manter.

Mas, ao fim e ao cabo, o que importa é que o jornal, com toda sua rotina, com todas as suas notícias que tanto nos emocionam, vai continuar sendo aquilo que sempre foi: a voz de quem sente e vive a cidade, mas também a voz de quem escuta, sem pressa, as histórias que ela tem a contar.

E se há algo que este jornal aprendeu ao longo de suas décadas, é que o mundo não precisa de mais barulho. Ele precisa é de alguém que saiba escutá-lo, e depois contar a história. Com carinho. Com atenção. E, por que não, com um pouco de poesia, assim como o fez com grandes nomes nas edições do Caderno Z.

Por isso, aos 80 anos, A Voz da Serra não é só um jornal. É uma memória. E é também um convite. Um convite para olharmos à nossa volta e não esquecer o que está à nossa porta. E, como sempre fez, vai continuar a contar, sem pressa, as histórias que realmente importam. Continuando a ser nosso amigo fiel que está ali, na esquina, pronto para contar a nossa história, sempre com um sorriso e, claro, com a voz que nunca se cala.

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Estacionamento pago: quem ganha com isso?

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Nova Friburgo está prestes a entregar um serviço público “gratuito” para a iniciativa privada: o estacionamento rotativo nas ruas da cidade. E essa nova licitação vem cercada de polêmicas, dúvidas e, acima de tudo, insatisfação da população. O valor da licitação é de quase R$ 40 milhões com duração de cinco anos.

Nova Friburgo está prestes a entregar um serviço público “gratuito” para a iniciativa privada: o estacionamento rotativo nas ruas da cidade. E essa nova licitação vem cercada de polêmicas, dúvidas e, acima de tudo, insatisfação da população. O valor da licitação é de quase R$ 40 milhões com duração de cinco anos.

Quem conhece o dia a dia de Friburgo sabe que o trânsito já é complicado, principalmente nas áreas centrais. Vagas são poucas, a rotatividade é baixa e há uma clara falta de planejamento urbano. A solução, segundo a prefeitura, seria cobrar ainda mais da população – mas será que é por aí?

 

Números que assustam

Para começar, vamos falar de números. Só para divulgar a ação quando implementada, a prefeitura destinou R$ 120 mil para uma campanha de marketing. Sim, você não leu errado. R$ 120 mil para panfletagem, sendo que apenas cinco pessoas participarão da ação durante apenas 30 dias.

Enquanto isso, o município conta com uma equipe de comunicação própria, já remunerada com recursos públicos que nós pagamos. Então por que gastar tanto dinheiro com algo que poderia ser feito internamente, com mais eficiência e muito menos custo?

Um outro número chama atenção: a previsão de 7.551 multas por mês, ou seja, uma média de 250 pessoas multadas por dia. Isso mesmo. Está no papel da licitação: a empresa que vencer terá estimativa do quanto arrecadar. E a pergunta é inevitável: isso é planejamento de mobilidade ou uma máquina de arrecadação de dinheiro?

Além dos quase R$ 40 milhões a serem pagos pelos nossos bolsos para implementar um serviço que não trará qualquer benefício ao friburguense – nem mesmo a geração de empregos, uma vez que será realizado por aplicativo – qual é o verdadeiro benefício para a Prefeitura de Nova Friburgo?

A pergunta que não quer calar é: caso seja extremamente necessário implementar, e arrecadar dinheiro para os cofres da prefeitura, por que insistir em terceirizar algo que poderia ser gerido pelo próprio município? Caso a finalidade seja a arrecadação, é no mínimo, o mais coerente a ser feito. No entanto, pagaremos duas vezes: o estacionamento e uma empresa para nos cobrar.

 

Projetos semelhantes em 2015

O projeto, apresentado pelo vereador Christiano Huguenin, foi respaldado pelos 11 vereadores que originalmente votaram a favor da lei municipal 4.362/2014 que, entre outras providências, autorizava a exploração do estacionamento rotativo por entidades privadas, conforme noticiado por A VOZ DA SERRA em 16 de setembro de 2015.

No entanto, ainda em 2015, a população foi às ruas, vereadores se posicionaram e uma ampla mobilização social conseguiu barrar um projeto semelhante. A cidade disse um sonoro “não” à entrega desse serviço para a iniciativa privada. Na época, a vitória foi considerada um marco de participação popular e bem recebida pelos friburguenses.

A vitória de 2015 do movimento “Eu não vendo minha cidade” não foi apenas sobre estacionamento — foi sobre transparência, sobre respeito à população e sobre a defesa do espaço público como patrimônio de todos, e não como moeda de troca para contratos e arrecadação fácil. O sentimento era de conquista: a cidade mostrou que sabe se posicionar quando seus direitos estão em jogo.

 

O trânsito e seus problemas

Vamos ser realistas: privatizar o estacionamento não resolve os problemas de mobilidade. Ao contrário, só encarece a vida de quem depende do carro para trabalhar, levar os filhos à escola ou cuidar da própria saúde. E quem garante que a empresa que ganhar a licitação vai pensar no bem-estar da cidade, e não apenas no lucro?

Vale lembrar que, nas últimas vezes em que tivemos esse tipo de concessão, as reclamações sobre cobranças indevidas, multas questionáveis e falta de fiscalização foram inúmeras. Novamente, nós friburguenses, que já vivemos em uma cidade sem muitas oportunidades, precisaremos mais uma vez pagar para viver na cidade?

Friburgo precisa, sim, pensar em mobilidade urbana de forma ampla: com transporte público de qualidade, ciclovias, calçadas decentes, planejamento de tráfego e educação no trânsito. Mas isso exige estudo, diálogo e compromisso com o interesse público – não decisões apressadas, cercadas de gastos duvidosos e atropelos legais.

Na prática, quem vai realmente se beneficiar dessas medidas que deverão ser implementadas na cidade? A pergunta que fica é: quem está ganhando com tudo isso? Porque, definitivamente, não é o cidadão friburguense.

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Envelhecer entre bancos de praça: o lazer esquecido dos idosos em Nova Friburgo

quinta-feira, 03 de abril de 2025

A população idosa de Nova Friburgo enfrenta um desafio crescente: a falta de opções de lazer e aprendizado. Atualmente, as praças públicas são o principal — e, muitas vezes, único — espaço de convivência e recreação. Embora ofereçam momentos de socialização e contato com a natureza, esses locais são insuficientes. A questão que se impõe é: envelhecer em Nova Friburgo significa estar restrito a bancos de praça?

Faltam políticas públicas aos idosos

A população idosa de Nova Friburgo enfrenta um desafio crescente: a falta de opções de lazer e aprendizado. Atualmente, as praças públicas são o principal — e, muitas vezes, único — espaço de convivência e recreação. Embora ofereçam momentos de socialização e contato com a natureza, esses locais são insuficientes. A questão que se impõe é: envelhecer em Nova Friburgo significa estar restrito a bancos de praça?

Faltam políticas públicas aos idosos

O lazer desempenha um papel fundamental na promoção da saúde física e mental dos idosos. Atividades recreativas ajudam a aumentar a autoestima, reduzir o isolamento social e prevenir doenças. No entanto, em Nova Friburgo, as opções de lazer específicas para essa faixa etária são praticamente inexistentes.

Sem espaços apropriados, muitos idosos acabam isolados, sem estímulos que favoreçam um envelhecimento saudável e ativo. Além da falta de atividades de lazer, a escassez de oportunidades de aprendizado contínuo também preocupa. Aprender novas habilidades não só mantém a mente ativa, mas também oferece um senso de propósito e pertencimento.

Cursos e oficinas culturais ou tecnológicas poderiam estimular os idosos e integrá-los à sociedade. Contudo, a cidade não dispõe e nem parece ter interesse em investir em programas acessíveis para esse público, limitando suas possibilidades de desenvolvimento pessoal na melhor idade.

O envelhecimento não deveria ser sinônimo de estagnação, mas a realidade imposta pela ausência de políticas públicas eficientes sugere o contrário. Enquanto crianças e jovens têm acesso a escolas, cursos e espaços de cultura e esporte, os idosos são frequentemente esquecidos no banco das praças.

A estrutura urbana também não colabora, pois faltam centros comunitários e equipamentos públicos adaptados para essa população que carecem de uma atenção especial, porque além de tudo foram e são contribuintes ao longo de toda uma vida. O descaso com o envelhecimento ativo precisa ser discutido com seriedade.

Aprendizado por toda a vida

Iniciativas que estimulam o aprendizado e o convívio social deveriam ser incentivadas e ampliadas. Infelizmente, os idosos de Nova Friburgo acabam limitados a uma rotina monótona, sem perspectivas de crescimento intelectual ou novas experiências. Essa situação reforça o sentimento de exclusão e desvalorização.

As pessoas pensam que pela elevada idade não se pode mais aprender, no entanto, é o momento mais livre que uma pessoa possui para aprender algo diferente. A ampliação do acesso a cursos gratuitos e acessíveis contribuiria para um envelhecimento mais digno e valorizado.

É essencial que o poder público, tanto na Câmara Municipal como na prefeitura, una esforços para mudar esse cenário. Criar centros de convivência voltados à terceira idade, com atividades culturais, esportivas e educacionais, seria um passo significativo. Ignorar essa demanda significa negligenciar uma parte importante da população.

Idoso quer liberdade de escolhas

O que se observa hoje em Nova Friburgo é um envelhecimento marcado pela falta de alternativas. O idoso que deseja sair de casa e interagir socialmente encontra poucas opções além das praças. É inaceitável que uma cidade com potencial turístico e cultural não ofereça o mínimo de infraestrutura adequada para essa parcela da população.

Se a sociedade deseja um futuro mais inclusivo, é preciso investir em políticas públicas que garantam aos idosos mais do que bancos de praça e caminhadas. Criar espaços e atividades que valorizem essa população não é um favor, mas uma necessidade urgente da cidade, que ano após ano, fica mais esquecida.

O envelhecimento deve ser visto como uma etapa rica em possibilidades, não como um período de abandono. Nova Friburgo precisa cuidar melhor dos seus idosos, antes que o silêncio das praças seja o único testemunho de seu descaso.

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