Boas notícias?

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Não, infelizmente não trago as boas novas que almejo. Na verdade é uma pergunta. O que temos de bom para contar à nossa sociedade no dia de hoje? Bem, para os próximos anos, meses, dias, horas, minutos, segundos, desejo boas notícias. De todos os lados. Que seu telefone toque para que alguém lhe conceda uma boa nova. Que as capas de jornais e revistas ostentem novidades que agreguem, façam crescer e te arranque sorrisos. Que aquela velha expectativa por algum resultado, ceda espaço para um desfecho positivo. E sim, que venham as vacinas, os tratamentos, a cura e com eles o reencontros, os abraços, o calor humano nosso de cada dia.

Queremos chuvas de notícias boas, de estatísticas que correspondam com a realidade e que a verdade dos fatos seja cada vez melhor. Que nos deparemos com gráficos que denotem queda dos índices de violência, da fome, do desemprego. E que essas informações sejam o real reflexo das vidas das pessoas.

Desejo que não nos acostumemos com os dados sobre mortes por Covid, que jamais nos esqueçamos que os números não são números, e sim pessoas, famílias, dores. Que não banalizemos os fatos de termos tanta gente morrendo, tanta gente sem emprego, tanta gente sem perspectiva alguma. Que não percamos o discernimento, a empatia e a capacidade de lutar com ética, honestidade e união por dias melhores.

Seria ótimo precisarmos cada vez menos de algum canal para fugirmos de uma realidade que nos desconecte com o que está acontecendo, que não cheguemos aos limites do que é suportável e que cá onde estamos possamos nos deparar com a divulgação de bons e construtivos feitos. Menos bandalheira. Sem roubalheira. Mais oportunidades. Mais arte. Melhor acesso às estruturas do serviço de saúde, viagens mais tranquilas pelas estradas, mais paz e liberdade verdadeira no ir e vir.

Seria ótimo amanhecermos com notícias boas sobre a vacina, com projetos construtivos saindo do papel, com estatísticas de cura, de inclusão, de acesso ao básico do básico para que a dignidade humana seja preservada. Como deve ser. Estamos fartos de corrupção, de desemprego, de empresas sobrecarregadas sobrecarregando seus trabalhadores, esse ciclo vicioso em que todos perdem.

Cansamos das trágicas notícias de que pessoas são baleadas quando erram o caminho; que os funcionários dos hospitais não recebem salários; que pessoas morrem nas filas de espera por atendimento médico; que os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos nessa realidade de desigualdade social abissal; que as verbas para a educação não chegam ao seu destino; que as cidades não estão ainda preparadas para receber chuvas; que o número de desempregados é alarmante; que os bancos nunca lucraram tanto e as famílias estão cada vez mais endividadas; que as prerrogativas dos cidadãos estão sendo mitigadas pelos próprios legisladores.

 Adoraria que você – e eu – recebêssemos mais notícias sobre cura, inclusão, emprego, amor, tolerância religiosa, liberdade, compaixão, respeito e arte. Adoraria, aliás, que a arte estampasse mais os noticiários do que a corrupção, a violência e o desemprego. Não por ilusão ou por cerceamento da liberdade de informação. Jamais. Mas porque finalmente fomentaríamos a esperança, a elevação do espírito por meio do belo, o lazer e a fraternidade por caminhos mais prazerosos e menos tortuosos. Porque de fato, precisaríamos falar menos de dados e fatos negativos justamente porque aconteceriam em menor escala. Seria a realização de um sonho coletivo não termos notícias sobre vítimas de Covid que morreram sem assistência médica para transmitir a ninguém. Seria, sim, a libertação.

Publicidade
TAGS:

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.