Blog de paulafarsoun_25873

Esgotamento

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Quando alguém diz que está estafado, parece que conseguimos captar o cansaço que ele sente pela palavra. Estafa: já inventaram vocábulo mais pertinente para denotar o estado de esgotamento? Talvez a própria palavra “ esgotamento”. Cansaço extremo. Sinal eloquente de quem precisa descansar, pausar, respirar livremente e recompor a energia vital. E então, prosseguir.

Quando alguém diz que está estafado, parece que conseguimos captar o cansaço que ele sente pela palavra. Estafa: já inventaram vocábulo mais pertinente para denotar o estado de esgotamento? Talvez a própria palavra “ esgotamento”. Cansaço extremo. Sinal eloquente de quem precisa descansar, pausar, respirar livremente e recompor a energia vital. E então, prosseguir.

Naturalmente, o cansaço extremo sentido por uma pessoa é sensação dela, de dentro para fora. Ela que sabe. Seu estoque de energia lhe pertence em um nível próprio. Só ela consegue suprir, repor, suplantar. Só ela sabe o limite. A quilometragem que ainda consegue percorrer quando o tanque esvazia e a luz vermelha sobressai em si. Mas muitas vezes, podemos captar pelo mero olhar de seu semblante. Não raras vezes, a estafa parece ser coletiva. Para onde olhamos, podemos ver o cansaço, perceber os sinais mais claros e os mais escondidos do esgotamento.

Há momento em que esse estado de espírito é confundido com impaciência, incompetência, preguiça, fraqueza, antipatia, incapacidade. Os sensores sociais são cruéis nessa hora. A sobrecarga, o limite, a saúde debilitada, a pressão do dia a dia, por vezes, são sabidos porém ignorados quando os dedos apontados precedem os cruéis julgamentos. Gente julgando gente o tempo todo. Seres humanos esquecendo-se, por vezes, que são, além de tudo e antes de tudo, humanos.

E dessa sensação de impotência somada à incapacidade humana de suplantar a estafa física e mental, nasce o ideal da força, o buscar “ser forte”, o obrigar-se a parecer forte o tempo todo. Mas como bem disse Clarice Lispector, “ nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respirar nossas fraquezas.” Respirar. Nossas. Fraquezas. É isso.

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Dicotomia

sábado, 04 de novembro de 2023

Nesta semana a minha coluna semanal em A VOZ DA SERRA, que escrevo com tanto orgulho, completa seis anos. Lembro-me como se fosse ontem como tudo começou e como me senti feliz com a oportunidade de ter esse espaço para fazer algo que sempre amei: escrever. No início, pensei sobre o que escreveria... qual seria a abordagem, como me expressaria aqui para vocês. E optei que traria sempre reflexões sobre o cotidiano, sociedade, sentimentos, por meio de uma escrita sincera e com intenção de gerar algo de bom a cada um dos leitores.

Nesta semana a minha coluna semanal em A VOZ DA SERRA, que escrevo com tanto orgulho, completa seis anos. Lembro-me como se fosse ontem como tudo começou e como me senti feliz com a oportunidade de ter esse espaço para fazer algo que sempre amei: escrever. No início, pensei sobre o que escreveria... qual seria a abordagem, como me expressaria aqui para vocês. E optei que traria sempre reflexões sobre o cotidiano, sociedade, sentimentos, por meio de uma escrita sincera e com intenção de gerar algo de bom a cada um dos leitores.

Nessa caminhada, venho me perguntando se tenho conseguido, ainda que um pouco, somar algum tijolinho positivo para as pessoas por meio das palavras em meio a tantas atribulações, problemas, informações, sofrimento e barulho que nos assolam todos os dias. Sei que repito os temas, que falo mais do mesmo, que muitas vezes os textos passam como algo que não têm tanto a acrescentar. Sou muito crítica comigo mesma e posso fazer essa autoanálise. Mas mesmo assim, eu sigo propondo a mesma linha. Insisto no que há de mais humano. Sempre.

Por aqui, encontramos sentimento e esse se repete dentro da gente mesmo, oscila, passa por fases. Mas tá ali, o tempo todo. A gente encontra verdade, que por mais cansativa que às vezes possa parecer, é o caminho que escolho traçar. É o que é. Sem mirabolância. A gente encontra empatia, e por mais piegas e banalizado que esse termo possa parecer, o sentimento que o envolve é nobre e raro e merece ser homenageado e relembrado. Quem leu um texto há dois anos pode não ser o mesmo leitor que vai ler hoje. E eu tenho como proposta atingir o maior número de pessoas a cada vez que eu trouxer as mazelas e as delícias dos sentimentos humanos.

São seis anos de “Com a Palavra”. Agradeço de coração a todos que guardam esses cinco minutinhos para ler cada coluna. Na minha vida, é um momento feliz e que merece ser registrado. Sou grata por alcançar esse marco que para mim é motivo de superação pessoal. Não sou uma comunicadora, nem jornalista, não tenho pretensões e nem interesse. Sou pessoa que ama escrever e que ama gente e que de alguma maneira precisa se expressar por meio das palavras. E aqui estou, lisonjeada pela oportunidade de ser colunista de A VOZ DA SERRA, veículo de comunicação tão importante para a nossa cidade, o qual eu literalmente cresci lendo e agora posso participar, escrevendo.

Confesso que estou dificuldade de comemorar. É estranho porque as mazelas do mundo nos lembram a todo instante de que precisamos celebrar cada segundo de vida, porque ela é preciosa e efêmera. Mas ao mesmo tempo, as mesmas mazelas nos impedem de viver a plenitude sabendo que elas existem. Vivendo a sua existência. Embora eu esteja bem, não posso estar plenamente feliz sendo parte de um planeta em que seres humanos estão sendo explodidos. Em que as pessoas estão dilaceradas, morrendo. Sou parte de um todo que está sucumbindo naquilo de mais humano que possa existir.

Sinto-me angustiada, dolorida, preocupada e profundamente triste pela guerra. Dói em mim de uma forma que não conseguiria explicar. Mas eu sei exatamente por que dói. Sinto meu coração em frangalhos. Posso tentar não assistir, não me conectar, procurar não saber. Não importa, dói em mim e não poderia não doer, inclusive porque se assim fosse, nada do que trouxe a vocês aqui semanalmente durante esses seis anos faria sentido. É o tipo de dor que não dá para fingir que não existe. E nem para não sentir.

Por aqui, felizmente está tudo bem. Mas no fundo – não tão fundo - a dicotomia também está latente em mim. A tristeza pelo que está acontecendo fez morada. Estou com dificuldade de seguir normalmente a vida cotidiana sabendo da dor do mundo. É ruim pensar no que fazer para o almoço, na petição que tenho que preparar, no conteúdo da próxima aula, na dor de cabeça que senti mais cedo, em como darei conta do dia de hoje ou o que farei no fim de semana enquanto há milhões de pessoas vivenciando a extrema dor. Não dá. É difícil seguir a vida como se tudo estivesse normal, porque não está. E o motivo está a milhares de quilômetros daqui.

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Derramar de si

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Muito tenho ouvido falar e lido sobre a importância de extravasar. Com “e” maiúsculo, Extravasar. Pôr para fora. Derramar de si. Expressar. Transbordar. Deixar sair. Na intenção de liberar energias, eliminar excessos, muitas pessoas recorrem às preciosas atividades físicas. Outras tantas, à arte. Uns buscam a “ terapia do riso” e até mesmo a “terapia do sono”. Há quem recomponha a famigerada necessidade de extravasar por meio do descanso, boa noite de sono. Tudo muito bem-vindo. Afinal, reza a lenda que os acúmulos fazem mal à saúde.

Muito tenho ouvido falar e lido sobre a importância de extravasar. Com “e” maiúsculo, Extravasar. Pôr para fora. Derramar de si. Expressar. Transbordar. Deixar sair. Na intenção de liberar energias, eliminar excessos, muitas pessoas recorrem às preciosas atividades físicas. Outras tantas, à arte. Uns buscam a “ terapia do riso” e até mesmo a “terapia do sono”. Há quem recomponha a famigerada necessidade de extravasar por meio do descanso, boa noite de sono. Tudo muito bem-vindo. Afinal, reza a lenda que os acúmulos fazem mal à saúde.

Na ânsia de transbordar, não vale descontar nos outros, gritar, agredir, desrespeitar as pessoas. Expurgar frustrações, sobrecargas e pressões cotidianas, por maiores que realmente sejam, não confere licença poética nem direito de atacar os conviventes. Nessas horas, se o transbordamento não for de risada, talvez valha à pena pensar em se conter para não machucar as pessoas. Transbordar a ira na família, na sociedade e no mundo não contribui em nada para a transmutação da harmonia que tanto conclamamos diariamente enquanto corpo social. Muito pelo contrário.

Falando de coisas boas, certa vez recebi o seguinte conselho: “Você precisa gargalhar”. Gargalhar. “Mais do que rir” – foi a recomendação. De qualquer coisa. De fatos do dia a dia, de filmes sem enredo, de piadas bobas, das mancadas das amigas, dos passarinhos se encarando no galho da árvore, dos tropeços da vida, de mim mesma. Rir mais. Só que não mobilizando as expressões faciais apenas; gastando o diafragma, aquecendo a respiração. Gargalhada. Bem visceral. Que conselho bom. Parece simples, mas é um exercício e tanto. E quando funciona é um agradável método de reequilíbrio de energia. Vamos nessa linha. Se for para extravasar, que seja de alegria.

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Nada simples

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

            Não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem com você. É tão simples assim como parece? Deveria ser. Comumente vivemos situações embaraçosas, desconfortáveis, angustiantes e sentimo-nos tristes e sobrecarregados. Situações essas que não raras vezes poderiam ter sido evitadas se nossos interlocutores da vida pensassem em evitar fazer às pessoas aquilo que abominariam que impusessem a elas. Seria bem mais fácil.

            Não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem com você. É tão simples assim como parece? Deveria ser. Comumente vivemos situações embaraçosas, desconfortáveis, angustiantes e sentimo-nos tristes e sobrecarregados. Situações essas que não raras vezes poderiam ter sido evitadas se nossos interlocutores da vida pensassem em evitar fazer às pessoas aquilo que abominariam que impusessem a elas. Seria bem mais fácil.

            Mas, se coabitamos o mesmo planeta, talvez todos já tenhamos entendido ou estejamos próximos de compreender, que essa interação de mentes, de gente, de egos e valores, não é tão simples assim. Não é premissa básica uníssona que evitar impor aos outros, coisas que detestaria que nos impusessem pode minimizar o sofrimento e o estresse do próximo. É importante até mesmo considerar que múltiplos que somos, não necessariamente partilhamos de dores semelhantes, de modo que às vezes o agir inconsciente atropela qualquer raciocínio sobre o estado de espírito dos receptores de nossas condutas por eles recepcionadas como negativas. E por aí vai.

            Carecemos de uma percepção mais inteligente. Emocionalmente mais inteligente, que considere também os outros, a sociedade como um todo e mesmo o planeta. Talvez devêssemos perceber que há questões que de maneira geral ferem, causam transtorno, prejudicam e geram sofrimento. Não é tão difícil supor que determinadas ações magoam, desestabilizam, deixam as pessoas em apuros de várias ordens.

            Gostaria muito que fosse tão simples quanto parece. Que escolher ser pessoa leve fosse tudo de que precisássemos para efetivamente estarmos envoltos pela leveza todo o tempo. Às vezes, o é. Mas como não vivemos em uma bolha e nossas energias se entrelaçam com as dos outros o tempo todo, passa a ser uma arte e uma habilidade diferenciada sabermos nos defender da negatividade, da injustiça, da grosseria, da sobrecarga que nos impõem e ainda assim, seguirmos gratos e sem disseminar o mesmo nível de pensamentos, sentimentos e condutas por aí.

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Perfeita ordem

quinta-feira, 05 de outubro de 2023

“De tanto pensar em tudo, não consigo pensar em nada”. “Penso tanto que não tenho tempo para pensar”. “Minha mente está cheia, porém está um tanto vazia”. “Tudo sei, mas não sei de nada”. São sensações do momento. Não só minhas. De muita gente. As coisas estão profundamente rasas. Inteiramente partidas. Constantemente voláteis. Densamente esparsas. Apertadas de tão largas. Entupidas de nada. Estamos vivendo tempos contraditórios. A começar pela mente.

“De tanto pensar em tudo, não consigo pensar em nada”. “Penso tanto que não tenho tempo para pensar”. “Minha mente está cheia, porém está um tanto vazia”. “Tudo sei, mas não sei de nada”. São sensações do momento. Não só minhas. De muita gente. As coisas estão profundamente rasas. Inteiramente partidas. Constantemente voláteis. Densamente esparsas. Apertadas de tão largas. Entupidas de nada. Estamos vivendo tempos contraditórios. A começar pela mente.

Muito pensamento desencontrado, influenciado, maculado, desnorteado, desencadeado, acumulado, precipitado, acelerado. Muita informação na mente. Muita inutilidade disputando espaço e atenção com o que verdadeiramente importa. Um cabo de guerra que está difícil de ser equilibrado pelo lado da essência da vida. Do que é útil. Do que acrescenta. Do que ensina. Do que compartilha coisas boas. Do amor.

Talvez meditar nunca tenha sido prática tão aconselhada entre pessoas que se querem bem e recomendada por profissionais das mais diversas áreas. E por leigos que tudo sabem. E por praticantes que sabem muito do assunto. E por quem não pratica mas simpatiza. E por quem não simpatiza nem pratica, mas acha legal. Que acha legal e não consegue praticar. Pelo que vive de aparência e finge que acha legal e que pratica. Pelo que tenta e não consegue. Pelo que gosta e pelo que não gosta.  Por quem tem recomendação médica. Ou terapêutica. Ou religiosa. Ou nada disso, ou tudo isso.

Por que? As pessoas estão sem tempo de pensar em nada. De viver o tempo presente. De conseguir alguns instantes da vida, ou do dia, para centrarem-se em si mesmas. Para lembrarem-se que respiram. Entra ar. Sai ar. Quase ninguém nota. Até que chegue a próxima virose, a gripe, a bronquite, a asma, a falta de ar. É verdade, precisamos respirar. Dar valor ao ar precioso que circula por nossos pulmões. Ar da vida.

E quem lembra que tem olhos até que a vista embace de tanto fixar o olhar nas telas dos computadores e dos smartphones? Olhos que são o portal do corpo que habitamos para o mundo externo. Eles mesmos. Os que podem contemplar. Apreciar. Admirar. Ver a natureza. Ver as pessoas. Ver o tempo. Ver o belo. Ver a vida. Esses mesmos, que deixamos embaçar com o excesso de tudo para o que não paramos de olhar.

Tanta gente perecendo sem se dar conta. A vida nos foi dada, o momento presente é o maior presente, um corpo humano para nossa alma habitar está aqui e agora, clamando pela devida atenção aos seus verdadeiros propósitos de existir. Estamos empregando nossa energia vital naquilo que é substancial?

O estado natural das coisas talvez seja mais simples. Está tudo tão complexo. Tão desconexo. Basta avaliarmos nossa existência pelo nosso próprio olhar, mas como se fôssemos uma terceira pessoa, que nos ama e é imparcial, avaliando o que temos feito de nossas vidas, do que temos recheado nossos pensamentos, do valor que damos ao ar que respiramos, de como utilizamos as palavras para impactar em alguma coisa útil no mundo, do que estamos fazendo com nosso tempo, de como estamos cuidando, sobretudo, dos nossos sentimentos.

Não fomos criados em uma realidade paralela. Não estamos no Planeta Terra sozinhos. Somos bilhões de seres vivos consumindo, interagindo, construindo, destruindo, plantando, colhendo, pensando, amando, odiando, movimentando energia. Saber viver de forma civilizada me parece uma realidade que já devia estar superada. Já era para termos aprendido a viver (e conviver) com respeito, civilidade, compaixão, cooperação e empatia. Mas não sabemos de nada, apesar de acharmos que sabemos de tudo. Vai ver está tudo na mais perfeita ordem. Ou não.

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O valor que tudo tem

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

            Projetemos uma pirâmide na mente, em que visualizamos a base, o miolo e o topo. Se tivermos de organizar nossos valores de vida dentro dessa estrutura, quais ocuparão o mais elevado patamar? Consegue identificar? É fácil para você chegar a esta conclusão? Aparentemente, escolher os valores que me são mais caros é uma tarefa simples. O difícil do experimento não é a teoria. Somos capazes de estabelecer nossas prioridades no plano teórico sem grandes desafios.

            Projetemos uma pirâmide na mente, em que visualizamos a base, o miolo e o topo. Se tivermos de organizar nossos valores de vida dentro dessa estrutura, quais ocuparão o mais elevado patamar? Consegue identificar? É fácil para você chegar a esta conclusão? Aparentemente, escolher os valores que me são mais caros é uma tarefa simples. O difícil do experimento não é a teoria. Somos capazes de estabelecer nossas prioridades no plano teórico sem grandes desafios. A dificuldade está realmente em priorizar aquilo que deve ser priorizado, organizar a vida para que a escala de valores não fique de cabeça para baixo. E infelizmente, vemos muito isso acontecer.

            Talvez uma unanimidade entre todos os seres humanos seja identificar o quão importante é gozar de plena saúde. Então, eu acho que o valor “saúde” ocupa o vértice principal da pirâmide de toda pessoa, juntamente a outros valores. Pois bem. Se todos sabemos que o bem “saúde” é tão precioso, por qual motivo nós não priorizamos os cuidados com a saúde na rotina diária? É claro que não estou a generalizar. Mas posso dizer que até mesmo no meu exercício profissional eu observo, e sei por experiencia própria, que o volume de afazeres e a sociedade de hoje dificultam, muitas vezes, esse processo de priorizar o que deve ser priorizado.

            Às vezes, parece que não temos tempo para pensar e as questões elementares passam por nós apenas de forma tangente. Não encaramos de fato que é preciso priorizar, dedicar, investir em buscar meios de cuidar do nosso bem mais precioso, aquele que nos possibilita existirmos, estarmos vivos, realizando coisas por aí. A conversa é complexa. Teoria e prática nem sempre estão em harmonia, alinhadas e caminhando lado a lado. O “mundo do dever ser” e o “mundo do ser” estão em disparidade.

            Se isso acontece com você – como acontece comigo – talvez seja a hora de pensar sobre estilo de vida. Mais do que pensar, na verdade, mudar. Encontrar caminhos, por mais difícil que possa parecer e que realmente seja, de cuidar do que deve ser cuidado, pelos meios possíveis dentro de cada realidade, antes que seja tarde demais.

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Uma verdade que não pode ser ignorada

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Se me permitirem falar mais do mesmo, repetir aquilo que já foi dito e escrito e publicado, o farei. Preciso, novamente, propor uma reflexão crítica. Não dá para trabalhar com o trabalho e ignorar o quão sacrificante pode ser o roteiro da vida laboral para todos os envolvidos na produtividade nas mais diversas áreas. Vem à minha mente a imagem de um trabalhador. Esgotado, apático, sobrecarregado, desmotivado, cabisbaixo. Cena cotidiana, infelizmente. Não está sendo fácil a vida laboral para muita gente.

Se me permitirem falar mais do mesmo, repetir aquilo que já foi dito e escrito e publicado, o farei. Preciso, novamente, propor uma reflexão crítica. Não dá para trabalhar com o trabalho e ignorar o quão sacrificante pode ser o roteiro da vida laboral para todos os envolvidos na produtividade nas mais diversas áreas. Vem à minha mente a imagem de um trabalhador. Esgotado, apático, sobrecarregado, desmotivado, cabisbaixo. Cena cotidiana, infelizmente. Não está sendo fácil a vida laboral para muita gente. Dia após dia de comandos sem fim, cobranças, metas, promessas, tarefas, e-mails, reuniões, compartilhamento de preocupações, desgastes ... ufa. Cenário cansativo. Mesmo.

Façamos o exercício de colocarmo-nos no lugar dessas pessoas, dessa camada da população que trabalha demais, descansa de menos, é mal remunerada, por vezes desrespeitada e sente-se em um beco sem saída, sem enxergar a luz de outro caminho. Como damos conta? Por que tem sido exigido um funcionamento de máquina de nós, seres humanos? Essa é uma pergunta que pode e deve ser respondida por cada um de nós.

Máquinas novas interessantes essas. Que de novas não têm nada, mas estão sendo revisitadas, recebendo uma releitura “à la 2023”. A potência é boa, produzem bastante, apresentam resultados e até pensam. Que maravilha. Não tem a ver com inteligência artificial, é gente de verdade. Esse aparato super moderno é humano. Se adapta às mais variáveis circunstâncias, é flexível, multitarefas, inovador, apresenta ideias, as executa, faz reparos e prospecções futuras. Pensa, sente e até se emociona.

Às vezes, a máquina perece. Adoece. Sucumbe às dores mundanas, não apresenta a melhor performance, rateia e até para de funcionar. Fala mais do que deve, faz mais do que pode e até reclama. Há quem diga que é super econômica, custa muito pouco pelo tempo que trabalha. Há quem pense ser cara demais, afinal de contas, há várias peças custosas agregadas, mais conhecidas como direitos e prerrogativas.

Às vezes sinto que os indivíduos estão sendo robotizados sem nem perceberem. Não sobra tempo sequer para refletirem sobre como estão levando suas vidas. A grande verdade é que os trabalhadores desses tempos, essas máquinas da minha singela metáfora, são essenciais ao funcionamento de tudo, embora o incremento da tecnologia agregue possibilidades ao mesmo passo em que tenta substituí-las. Nesse compasso – ou descompasso, o maquinário anda oscilante. Parte dele, inclusive, nunca produziu tanto. Outra parte, está sendo descartada, por ser dispensável ou onerosa demais. O “equipamento” humano é subjugado, sobrecarregado, desvalorizado, descartado. Exige-se de gente de carne e osso o que nem máquina faz.

Fato é que deveríamos repensar as estruturas que fazem a máquina funcionar. Tudo funcionar. Não basta a reflexão e preocupação quanto espaços físicos, viabilidades econômicas e o seu bom e produtivo uso. Deve-se, principalmente, considerar sua própria formação, seus cuidados, suas necessidades. Pode parecer difícil para muitas pessoas compreenderem, mas a máquina humana, sente, pensa, necessita, respira.  Sente dor. Chora. Adoece. Padece. Sucumbe. Se dói por inteiro. E pasme: tem limite. Isso mesmo. Precisa de descanso. Precisa suprir necessidades básicas. Sinto informar, mas esse “maquinário novo”, nem máquina é. Não percamos – ainda mais! - a noção disso. Quanto a mim, sigo resistindo e tentando levar a quem posso a noção e a prática do respeito incondicional à dignidade, inclusive no âmbito laboral.

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Corda puída

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Você consegue sentir quando a corda está prestes a ruir?  Sabe aquela situação em que você percebe claramente que o ciclo está em vias de se encerrar? Pois é. A gente sente. Isso vale para todo tipo de relação. Acho que não é premonição. Talvez, intuição. Pode ser.  Mas também pode ser sinal sobre o limite que tudo tem, a proximidade com o cume da montanha. Chega um momento em que não dá mais pra subir, sabe? Aí, é escolher ficar por lá ou pegar o rumo da descida, desbravar o caminho de volta ou mesmo mirar num próximo destino.

Você consegue sentir quando a corda está prestes a ruir?  Sabe aquela situação em que você percebe claramente que o ciclo está em vias de se encerrar? Pois é. A gente sente. Isso vale para todo tipo de relação. Acho que não é premonição. Talvez, intuição. Pode ser.  Mas também pode ser sinal sobre o limite que tudo tem, a proximidade com o cume da montanha. Chega um momento em que não dá mais pra subir, sabe? Aí, é escolher ficar por lá ou pegar o rumo da descida, desbravar o caminho de volta ou mesmo mirar num próximo destino.

Uma coisa é latente, ter um bom motivo para subir ou descer, escolher ir ou ficar, acaba fazendo a diferença. Usando a metáfora da montanha, quando a gente está lá em baixo e vislumbra o topo, por qual razão tomaríamos a decisão de subir? O que nos moveria até lá, fazendo o esforço que precisa ser feito?

A motivação é mesmo um ingrediente especial da vida e ela vem de diversas formas, como combustível para realização de diversos objetivos, dos mais simples e rotineiros, aos grandes sonhos. É verdade também que motivação não cresce em árvores, não se vende, não é produzida em larga escapa e nem se retroalimenta. Esse é o problema. E o que isso tem a ver com a pergunta inicial sobre a corda puída? Tudo.

Muitas vezes, pouco antes de percebemos que aquele elo está ruindo, prestes a arrebentar, nos damos conta de que os sinais já estavam claros antes, manifestados pela falta de motivação justamente em dar prosseguimento. Essa lógica vale para relações de trabalho, afetivas, de parcerias e todas as outras mais.

A sensação de estarmos motivados para algo, se junta ao plano de vários sentimentos bons, como a esperança em realizar, fazerem as coisas darem certo e até mesmo buscarmos produtividade. Transforma, faz os olhos brilharem, resgata sonhos, motiva. E então, por que não refletirmos quando esse sentimento foi perdido, se é que o foi. No íntimo de cada um, não é difícil perceber quando o desânimo, a frustração, a acomodação e o pessimismo tomaram o espaço ao desejo de que algo se torne realidade. Dá pra saber quando a hora, na verdade, já passou.

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Luxo de verdade

sábado, 09 de setembro de 2023

Em meio a tantas pessoas que divulgam tudo o que fazem o tempo todo, é simplesmente libertador não ter necessidade de fazê-lo. Aliás, uma das nuances da liberdade está justamente em não precisar demonstrar o que se vive. A tal privacidade. Preciosa privacidade. Vida íntima, particular.

Em meio a tantas pessoas que divulgam tudo o que fazem o tempo todo, é simplesmente libertador não ter necessidade de fazê-lo. Aliás, uma das nuances da liberdade está justamente em não precisar demonstrar o que se vive. A tal privacidade. Preciosa privacidade. Vida íntima, particular.

 Sigo apreciando o senso de preservação, a vida sem vigília. Penso que sorrir e chorar sem ser observada é uma ostentação. Um luxo. Indispensável para o fomento da sanidade. Hoje estamos nos afastando cada vez mais dos momentos vividos integralmente, com foco total no presente, com presença. Quase ninguém consegue interagir ao vivo por completo. As atenções vertem para os aparelhos celulares, para a internet, para as redes sociais. Isso é um perigo. Vivemos sob a sombra do julgamento alheio, com holofotes sobre os afazeres dos outros. As pessoas estão fazendo questão de divulgarem muito mais do que verdadeiramente vivem ou viveriam se não sentissem essa estranha dependência por divulgarem tudo o que fazem. Às vezes, só fazem para postar. Propaganda enganosa. Quantas tristezas de hoje em dia deixam de molhar os travesseiros e o ombro amigo, para transparecer um sorriso oco em uma página virtual? Seres que deixam de ser para parecerem que são. E outros seres valorizando essas aparências.

Muito reflito, escrevo e converso com pessoas próximas sobre isso, sob pena de ser assunto enfadonho, além de repetitivo. Mas, de fato, ando assustada. E insisto. Não é preciso conhecer de psicologia para que se perceba o quanto a solidão está presente na vida de muitas pessoas. Vivemos em meio de muita gente cercada de gente, pessoas acompanhadas de pseudocompanhias, pois se abraçam em fotos e sentem-se sós para partilhas reais de vida. Ainda assim, em poucos cliques poderão pertencer a um grupo de conhecidos sobre quem saberá mais do que se sabe de amigos de verdade, visto que lá expõem seus afazeres mais básicos bem como suas conquistas.

Alguém que trabalhe duro, concilie a rotina de estudos, tarefas domésticas, cuidados com os filhos, cachorros, vizinhos, que mergulhe em números e contas e seja um malabarista de fazer as finanças fluírem, certamente desconfiará da abundância que a vida virtual transparece. Alguém que viva desilusões cotidianas, que enfrente os desafios dos relacionamentos, que se programe o ano inteiro pelo esperado passeio, se surpreenderá com as aparentes facilidades expostas nas páginas das redes sociais. Será que é tudo isso mesmo? Será que estamos – estão valorizando o essencial e enxergando o mundo para além das redes sociais? Será mesmo que a maior forma de interação contemporânea é condizente com a realidade das pessoas que habitam esse planeta em pleno século 21?

Milhões de pessoas miseráveis, vivendo abaixo das linhas de pobreza, muitas sem condições básicas e mínimas de sustento; centenas de tipos de agrotóxicos sendo liberados para utilização da agricultura e consequentemente, envenenamento da população; índices altíssimos de suicídios, homicídios, feminicídios; crianças morrendo nas fronteiras, crise dos refugiados; guerras de várias ordens; saúde pública de mal a pior; corrupção, violência, poluição, desmatamento, aquecimento global, meio ambiente sendo degradado dia após dia. Assim está o mundo. E em meio a tudo isso, precisamos existir, resistir, sobreviver e participar ativamente da melhora de todo esse caos, da cura dos seres humanos doentes e descrentes.  Preferencialmente, felizes. Porque não basta existir, é preciso encontrar a felicidade, não é mesmo? Mas felicidade verdadeira, de dentro para fora. Gente de verdade sendo exemplo de luta de verdade e da autêntica felicidade. Felicidade de vida real, não de rede social.

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Sem pestanejar

sexta-feira, 01 de setembro de 2023

Precisamos de reiterar as premissas básicas do ser honesto. De ser honesto. E reconhecer aquele que consegue sê-lo, apesar dessa conspiração estranha que parece atrair para o lado oposto. Desde as pequenas práticas às grandiosas, o indivíduo honesto sente-se incomodado em se deixar escapar, ainda que por milímetros, o lado bom da força. Inadmite deixar evadir a blindagem da honra que o cerca e por vezes, o toma por completo. Ele vive e convive com a necessidade de empregar grande esforço para manter-se na posição esguia e admirável da honradez. E da sensatez. Orgulha-se de ser correto.

Precisamos de reiterar as premissas básicas do ser honesto. De ser honesto. E reconhecer aquele que consegue sê-lo, apesar dessa conspiração estranha que parece atrair para o lado oposto. Desde as pequenas práticas às grandiosas, o indivíduo honesto sente-se incomodado em se deixar escapar, ainda que por milímetros, o lado bom da força. Inadmite deixar evadir a blindagem da honra que o cerca e por vezes, o toma por completo. Ele vive e convive com a necessidade de empregar grande esforço para manter-se na posição esguia e admirável da honradez. E da sensatez. Orgulha-se de ser correto. Direciona energia para agir como deve ser, sem pisotear nas premissas básicas da boa convivência nem tampouco fingir que esqueceu que ser honesto é qualidade que demanda vigilância constante.

Refiro-me aqui, neste texto, aos detalhes, ao cotidiano. Não se pode pestanejar. Não dá para esmorecer. Fingir que o troco a mais veio certo no caixa do supermercado? Nem pensar. “Colar” em uma prova para galgar a meta e atingir notas mais elevadas? Também não dá. Extraviar pertences alheios? Enganar pessoas? Falsificar documentos? Inventar mentiras sobre terceiros procurando beneficiar-se disso? Apropriar-se de dinheiro alheio? Não. Não dá para negociar com o que é errado.

Qual é o preço da confiança? Não tem. Seu valor é inestimável e a vida parece se encarregar de demonstrar isso sempre que possível. O chamado às vezes é demorado. Como não sentir incômodo ao presenciar tantas pessoas aparentemente “se dando bem” fazendo coisas socialmente tidas por erradas pelo critério da hombridade?  Esse é o exercício. Não sucumbir. Ser resistência. Dormir em paz, com a consciência leve como uma pluma. Andar de cabeça erguida. Contribuir com bons exemplos. Esperar a retribuição da lei do retorno, das forças do Universo, que hão de ser justas. Que são justas. Acreditemos.

E quem já se atrapalhou tantas vezes na vida? Acho que todos, de alguma forma, em algum momento da vida, já pestanejamos, esmorecemos, andamos pelas bandas de lá? Se assim, mudemos, pois. Sempre é hora. A vida é esse emaranhado de escolhas contínuas. Que enxerguemos no que é certo um caminho a seguir. Uma boa opção. A única. Ainda que saibamos que até o conceito de certo e errado é relativo. De fato, tudo é tão relativo e questionável que poderíamos andar cambaleando sem saber qual rumo seguir.

Essa coisa de escolher um lado é tão pueril e superficial. Mas ... para quem pressupõe a existência dessa enorme corda invisível que separa o moral do imoral, o ético do antiético, o probo do improbo, o que semeia a paz do que fomenta o conflito, o que preconiza boas práticas do que as repudia, o honesto do desonesto, penso que seja mais eficiente escolher para qual lado destinar e empregar a força que te move. A hora é agora.

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