Blog de paulafarsoun_25873

Perfeita ordem

quinta-feira, 05 de outubro de 2023

“De tanto pensar em tudo, não consigo pensar em nada”. “Penso tanto que não tenho tempo para pensar”. “Minha mente está cheia, porém está um tanto vazia”. “Tudo sei, mas não sei de nada”. São sensações do momento. Não só minhas. De muita gente. As coisas estão profundamente rasas. Inteiramente partidas. Constantemente voláteis. Densamente esparsas. Apertadas de tão largas. Entupidas de nada. Estamos vivendo tempos contraditórios. A começar pela mente.

“De tanto pensar em tudo, não consigo pensar em nada”. “Penso tanto que não tenho tempo para pensar”. “Minha mente está cheia, porém está um tanto vazia”. “Tudo sei, mas não sei de nada”. São sensações do momento. Não só minhas. De muita gente. As coisas estão profundamente rasas. Inteiramente partidas. Constantemente voláteis. Densamente esparsas. Apertadas de tão largas. Entupidas de nada. Estamos vivendo tempos contraditórios. A começar pela mente.

Muito pensamento desencontrado, influenciado, maculado, desnorteado, desencadeado, acumulado, precipitado, acelerado. Muita informação na mente. Muita inutilidade disputando espaço e atenção com o que verdadeiramente importa. Um cabo de guerra que está difícil de ser equilibrado pelo lado da essência da vida. Do que é útil. Do que acrescenta. Do que ensina. Do que compartilha coisas boas. Do amor.

Talvez meditar nunca tenha sido prática tão aconselhada entre pessoas que se querem bem e recomendada por profissionais das mais diversas áreas. E por leigos que tudo sabem. E por praticantes que sabem muito do assunto. E por quem não pratica mas simpatiza. E por quem não simpatiza nem pratica, mas acha legal. Que acha legal e não consegue praticar. Pelo que vive de aparência e finge que acha legal e que pratica. Pelo que tenta e não consegue. Pelo que gosta e pelo que não gosta.  Por quem tem recomendação médica. Ou terapêutica. Ou religiosa. Ou nada disso, ou tudo isso.

Por que? As pessoas estão sem tempo de pensar em nada. De viver o tempo presente. De conseguir alguns instantes da vida, ou do dia, para centrarem-se em si mesmas. Para lembrarem-se que respiram. Entra ar. Sai ar. Quase ninguém nota. Até que chegue a próxima virose, a gripe, a bronquite, a asma, a falta de ar. É verdade, precisamos respirar. Dar valor ao ar precioso que circula por nossos pulmões. Ar da vida.

E quem lembra que tem olhos até que a vista embace de tanto fixar o olhar nas telas dos computadores e dos smartphones? Olhos que são o portal do corpo que habitamos para o mundo externo. Eles mesmos. Os que podem contemplar. Apreciar. Admirar. Ver a natureza. Ver as pessoas. Ver o tempo. Ver o belo. Ver a vida. Esses mesmos, que deixamos embaçar com o excesso de tudo para o que não paramos de olhar.

Tanta gente perecendo sem se dar conta. A vida nos foi dada, o momento presente é o maior presente, um corpo humano para nossa alma habitar está aqui e agora, clamando pela devida atenção aos seus verdadeiros propósitos de existir. Estamos empregando nossa energia vital naquilo que é substancial?

O estado natural das coisas talvez seja mais simples. Está tudo tão complexo. Tão desconexo. Basta avaliarmos nossa existência pelo nosso próprio olhar, mas como se fôssemos uma terceira pessoa, que nos ama e é imparcial, avaliando o que temos feito de nossas vidas, do que temos recheado nossos pensamentos, do valor que damos ao ar que respiramos, de como utilizamos as palavras para impactar em alguma coisa útil no mundo, do que estamos fazendo com nosso tempo, de como estamos cuidando, sobretudo, dos nossos sentimentos.

Não fomos criados em uma realidade paralela. Não estamos no Planeta Terra sozinhos. Somos bilhões de seres vivos consumindo, interagindo, construindo, destruindo, plantando, colhendo, pensando, amando, odiando, movimentando energia. Saber viver de forma civilizada me parece uma realidade que já devia estar superada. Já era para termos aprendido a viver (e conviver) com respeito, civilidade, compaixão, cooperação e empatia. Mas não sabemos de nada, apesar de acharmos que sabemos de tudo. Vai ver está tudo na mais perfeita ordem. Ou não.

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O valor que tudo tem

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

            Projetemos uma pirâmide na mente, em que visualizamos a base, o miolo e o topo. Se tivermos de organizar nossos valores de vida dentro dessa estrutura, quais ocuparão o mais elevado patamar? Consegue identificar? É fácil para você chegar a esta conclusão? Aparentemente, escolher os valores que me são mais caros é uma tarefa simples. O difícil do experimento não é a teoria. Somos capazes de estabelecer nossas prioridades no plano teórico sem grandes desafios.

            Projetemos uma pirâmide na mente, em que visualizamos a base, o miolo e o topo. Se tivermos de organizar nossos valores de vida dentro dessa estrutura, quais ocuparão o mais elevado patamar? Consegue identificar? É fácil para você chegar a esta conclusão? Aparentemente, escolher os valores que me são mais caros é uma tarefa simples. O difícil do experimento não é a teoria. Somos capazes de estabelecer nossas prioridades no plano teórico sem grandes desafios. A dificuldade está realmente em priorizar aquilo que deve ser priorizado, organizar a vida para que a escala de valores não fique de cabeça para baixo. E infelizmente, vemos muito isso acontecer.

            Talvez uma unanimidade entre todos os seres humanos seja identificar o quão importante é gozar de plena saúde. Então, eu acho que o valor “saúde” ocupa o vértice principal da pirâmide de toda pessoa, juntamente a outros valores. Pois bem. Se todos sabemos que o bem “saúde” é tão precioso, por qual motivo nós não priorizamos os cuidados com a saúde na rotina diária? É claro que não estou a generalizar. Mas posso dizer que até mesmo no meu exercício profissional eu observo, e sei por experiencia própria, que o volume de afazeres e a sociedade de hoje dificultam, muitas vezes, esse processo de priorizar o que deve ser priorizado.

            Às vezes, parece que não temos tempo para pensar e as questões elementares passam por nós apenas de forma tangente. Não encaramos de fato que é preciso priorizar, dedicar, investir em buscar meios de cuidar do nosso bem mais precioso, aquele que nos possibilita existirmos, estarmos vivos, realizando coisas por aí. A conversa é complexa. Teoria e prática nem sempre estão em harmonia, alinhadas e caminhando lado a lado. O “mundo do dever ser” e o “mundo do ser” estão em disparidade.

            Se isso acontece com você – como acontece comigo – talvez seja a hora de pensar sobre estilo de vida. Mais do que pensar, na verdade, mudar. Encontrar caminhos, por mais difícil que possa parecer e que realmente seja, de cuidar do que deve ser cuidado, pelos meios possíveis dentro de cada realidade, antes que seja tarde demais.

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Uma verdade que não pode ser ignorada

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Se me permitirem falar mais do mesmo, repetir aquilo que já foi dito e escrito e publicado, o farei. Preciso, novamente, propor uma reflexão crítica. Não dá para trabalhar com o trabalho e ignorar o quão sacrificante pode ser o roteiro da vida laboral para todos os envolvidos na produtividade nas mais diversas áreas. Vem à minha mente a imagem de um trabalhador. Esgotado, apático, sobrecarregado, desmotivado, cabisbaixo. Cena cotidiana, infelizmente. Não está sendo fácil a vida laboral para muita gente.

Se me permitirem falar mais do mesmo, repetir aquilo que já foi dito e escrito e publicado, o farei. Preciso, novamente, propor uma reflexão crítica. Não dá para trabalhar com o trabalho e ignorar o quão sacrificante pode ser o roteiro da vida laboral para todos os envolvidos na produtividade nas mais diversas áreas. Vem à minha mente a imagem de um trabalhador. Esgotado, apático, sobrecarregado, desmotivado, cabisbaixo. Cena cotidiana, infelizmente. Não está sendo fácil a vida laboral para muita gente. Dia após dia de comandos sem fim, cobranças, metas, promessas, tarefas, e-mails, reuniões, compartilhamento de preocupações, desgastes ... ufa. Cenário cansativo. Mesmo.

Façamos o exercício de colocarmo-nos no lugar dessas pessoas, dessa camada da população que trabalha demais, descansa de menos, é mal remunerada, por vezes desrespeitada e sente-se em um beco sem saída, sem enxergar a luz de outro caminho. Como damos conta? Por que tem sido exigido um funcionamento de máquina de nós, seres humanos? Essa é uma pergunta que pode e deve ser respondida por cada um de nós.

Máquinas novas interessantes essas. Que de novas não têm nada, mas estão sendo revisitadas, recebendo uma releitura “à la 2023”. A potência é boa, produzem bastante, apresentam resultados e até pensam. Que maravilha. Não tem a ver com inteligência artificial, é gente de verdade. Esse aparato super moderno é humano. Se adapta às mais variáveis circunstâncias, é flexível, multitarefas, inovador, apresenta ideias, as executa, faz reparos e prospecções futuras. Pensa, sente e até se emociona.

Às vezes, a máquina perece. Adoece. Sucumbe às dores mundanas, não apresenta a melhor performance, rateia e até para de funcionar. Fala mais do que deve, faz mais do que pode e até reclama. Há quem diga que é super econômica, custa muito pouco pelo tempo que trabalha. Há quem pense ser cara demais, afinal de contas, há várias peças custosas agregadas, mais conhecidas como direitos e prerrogativas.

Às vezes sinto que os indivíduos estão sendo robotizados sem nem perceberem. Não sobra tempo sequer para refletirem sobre como estão levando suas vidas. A grande verdade é que os trabalhadores desses tempos, essas máquinas da minha singela metáfora, são essenciais ao funcionamento de tudo, embora o incremento da tecnologia agregue possibilidades ao mesmo passo em que tenta substituí-las. Nesse compasso – ou descompasso, o maquinário anda oscilante. Parte dele, inclusive, nunca produziu tanto. Outra parte, está sendo descartada, por ser dispensável ou onerosa demais. O “equipamento” humano é subjugado, sobrecarregado, desvalorizado, descartado. Exige-se de gente de carne e osso o que nem máquina faz.

Fato é que deveríamos repensar as estruturas que fazem a máquina funcionar. Tudo funcionar. Não basta a reflexão e preocupação quanto espaços físicos, viabilidades econômicas e o seu bom e produtivo uso. Deve-se, principalmente, considerar sua própria formação, seus cuidados, suas necessidades. Pode parecer difícil para muitas pessoas compreenderem, mas a máquina humana, sente, pensa, necessita, respira.  Sente dor. Chora. Adoece. Padece. Sucumbe. Se dói por inteiro. E pasme: tem limite. Isso mesmo. Precisa de descanso. Precisa suprir necessidades básicas. Sinto informar, mas esse “maquinário novo”, nem máquina é. Não percamos – ainda mais! - a noção disso. Quanto a mim, sigo resistindo e tentando levar a quem posso a noção e a prática do respeito incondicional à dignidade, inclusive no âmbito laboral.

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Corda puída

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Você consegue sentir quando a corda está prestes a ruir?  Sabe aquela situação em que você percebe claramente que o ciclo está em vias de se encerrar? Pois é. A gente sente. Isso vale para todo tipo de relação. Acho que não é premonição. Talvez, intuição. Pode ser.  Mas também pode ser sinal sobre o limite que tudo tem, a proximidade com o cume da montanha. Chega um momento em que não dá mais pra subir, sabe? Aí, é escolher ficar por lá ou pegar o rumo da descida, desbravar o caminho de volta ou mesmo mirar num próximo destino.

Você consegue sentir quando a corda está prestes a ruir?  Sabe aquela situação em que você percebe claramente que o ciclo está em vias de se encerrar? Pois é. A gente sente. Isso vale para todo tipo de relação. Acho que não é premonição. Talvez, intuição. Pode ser.  Mas também pode ser sinal sobre o limite que tudo tem, a proximidade com o cume da montanha. Chega um momento em que não dá mais pra subir, sabe? Aí, é escolher ficar por lá ou pegar o rumo da descida, desbravar o caminho de volta ou mesmo mirar num próximo destino.

Uma coisa é latente, ter um bom motivo para subir ou descer, escolher ir ou ficar, acaba fazendo a diferença. Usando a metáfora da montanha, quando a gente está lá em baixo e vislumbra o topo, por qual razão tomaríamos a decisão de subir? O que nos moveria até lá, fazendo o esforço que precisa ser feito?

A motivação é mesmo um ingrediente especial da vida e ela vem de diversas formas, como combustível para realização de diversos objetivos, dos mais simples e rotineiros, aos grandes sonhos. É verdade também que motivação não cresce em árvores, não se vende, não é produzida em larga escapa e nem se retroalimenta. Esse é o problema. E o que isso tem a ver com a pergunta inicial sobre a corda puída? Tudo.

Muitas vezes, pouco antes de percebemos que aquele elo está ruindo, prestes a arrebentar, nos damos conta de que os sinais já estavam claros antes, manifestados pela falta de motivação justamente em dar prosseguimento. Essa lógica vale para relações de trabalho, afetivas, de parcerias e todas as outras mais.

A sensação de estarmos motivados para algo, se junta ao plano de vários sentimentos bons, como a esperança em realizar, fazerem as coisas darem certo e até mesmo buscarmos produtividade. Transforma, faz os olhos brilharem, resgata sonhos, motiva. E então, por que não refletirmos quando esse sentimento foi perdido, se é que o foi. No íntimo de cada um, não é difícil perceber quando o desânimo, a frustração, a acomodação e o pessimismo tomaram o espaço ao desejo de que algo se torne realidade. Dá pra saber quando a hora, na verdade, já passou.

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Luxo de verdade

sábado, 09 de setembro de 2023

Em meio a tantas pessoas que divulgam tudo o que fazem o tempo todo, é simplesmente libertador não ter necessidade de fazê-lo. Aliás, uma das nuances da liberdade está justamente em não precisar demonstrar o que se vive. A tal privacidade. Preciosa privacidade. Vida íntima, particular.

Em meio a tantas pessoas que divulgam tudo o que fazem o tempo todo, é simplesmente libertador não ter necessidade de fazê-lo. Aliás, uma das nuances da liberdade está justamente em não precisar demonstrar o que se vive. A tal privacidade. Preciosa privacidade. Vida íntima, particular.

 Sigo apreciando o senso de preservação, a vida sem vigília. Penso que sorrir e chorar sem ser observada é uma ostentação. Um luxo. Indispensável para o fomento da sanidade. Hoje estamos nos afastando cada vez mais dos momentos vividos integralmente, com foco total no presente, com presença. Quase ninguém consegue interagir ao vivo por completo. As atenções vertem para os aparelhos celulares, para a internet, para as redes sociais. Isso é um perigo. Vivemos sob a sombra do julgamento alheio, com holofotes sobre os afazeres dos outros. As pessoas estão fazendo questão de divulgarem muito mais do que verdadeiramente vivem ou viveriam se não sentissem essa estranha dependência por divulgarem tudo o que fazem. Às vezes, só fazem para postar. Propaganda enganosa. Quantas tristezas de hoje em dia deixam de molhar os travesseiros e o ombro amigo, para transparecer um sorriso oco em uma página virtual? Seres que deixam de ser para parecerem que são. E outros seres valorizando essas aparências.

Muito reflito, escrevo e converso com pessoas próximas sobre isso, sob pena de ser assunto enfadonho, além de repetitivo. Mas, de fato, ando assustada. E insisto. Não é preciso conhecer de psicologia para que se perceba o quanto a solidão está presente na vida de muitas pessoas. Vivemos em meio de muita gente cercada de gente, pessoas acompanhadas de pseudocompanhias, pois se abraçam em fotos e sentem-se sós para partilhas reais de vida. Ainda assim, em poucos cliques poderão pertencer a um grupo de conhecidos sobre quem saberá mais do que se sabe de amigos de verdade, visto que lá expõem seus afazeres mais básicos bem como suas conquistas.

Alguém que trabalhe duro, concilie a rotina de estudos, tarefas domésticas, cuidados com os filhos, cachorros, vizinhos, que mergulhe em números e contas e seja um malabarista de fazer as finanças fluírem, certamente desconfiará da abundância que a vida virtual transparece. Alguém que viva desilusões cotidianas, que enfrente os desafios dos relacionamentos, que se programe o ano inteiro pelo esperado passeio, se surpreenderá com as aparentes facilidades expostas nas páginas das redes sociais. Será que é tudo isso mesmo? Será que estamos – estão valorizando o essencial e enxergando o mundo para além das redes sociais? Será mesmo que a maior forma de interação contemporânea é condizente com a realidade das pessoas que habitam esse planeta em pleno século 21?

Milhões de pessoas miseráveis, vivendo abaixo das linhas de pobreza, muitas sem condições básicas e mínimas de sustento; centenas de tipos de agrotóxicos sendo liberados para utilização da agricultura e consequentemente, envenenamento da população; índices altíssimos de suicídios, homicídios, feminicídios; crianças morrendo nas fronteiras, crise dos refugiados; guerras de várias ordens; saúde pública de mal a pior; corrupção, violência, poluição, desmatamento, aquecimento global, meio ambiente sendo degradado dia após dia. Assim está o mundo. E em meio a tudo isso, precisamos existir, resistir, sobreviver e participar ativamente da melhora de todo esse caos, da cura dos seres humanos doentes e descrentes.  Preferencialmente, felizes. Porque não basta existir, é preciso encontrar a felicidade, não é mesmo? Mas felicidade verdadeira, de dentro para fora. Gente de verdade sendo exemplo de luta de verdade e da autêntica felicidade. Felicidade de vida real, não de rede social.

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Sem pestanejar

sexta-feira, 01 de setembro de 2023

Precisamos de reiterar as premissas básicas do ser honesto. De ser honesto. E reconhecer aquele que consegue sê-lo, apesar dessa conspiração estranha que parece atrair para o lado oposto. Desde as pequenas práticas às grandiosas, o indivíduo honesto sente-se incomodado em se deixar escapar, ainda que por milímetros, o lado bom da força. Inadmite deixar evadir a blindagem da honra que o cerca e por vezes, o toma por completo. Ele vive e convive com a necessidade de empregar grande esforço para manter-se na posição esguia e admirável da honradez. E da sensatez. Orgulha-se de ser correto.

Precisamos de reiterar as premissas básicas do ser honesto. De ser honesto. E reconhecer aquele que consegue sê-lo, apesar dessa conspiração estranha que parece atrair para o lado oposto. Desde as pequenas práticas às grandiosas, o indivíduo honesto sente-se incomodado em se deixar escapar, ainda que por milímetros, o lado bom da força. Inadmite deixar evadir a blindagem da honra que o cerca e por vezes, o toma por completo. Ele vive e convive com a necessidade de empregar grande esforço para manter-se na posição esguia e admirável da honradez. E da sensatez. Orgulha-se de ser correto. Direciona energia para agir como deve ser, sem pisotear nas premissas básicas da boa convivência nem tampouco fingir que esqueceu que ser honesto é qualidade que demanda vigilância constante.

Refiro-me aqui, neste texto, aos detalhes, ao cotidiano. Não se pode pestanejar. Não dá para esmorecer. Fingir que o troco a mais veio certo no caixa do supermercado? Nem pensar. “Colar” em uma prova para galgar a meta e atingir notas mais elevadas? Também não dá. Extraviar pertences alheios? Enganar pessoas? Falsificar documentos? Inventar mentiras sobre terceiros procurando beneficiar-se disso? Apropriar-se de dinheiro alheio? Não. Não dá para negociar com o que é errado.

Qual é o preço da confiança? Não tem. Seu valor é inestimável e a vida parece se encarregar de demonstrar isso sempre que possível. O chamado às vezes é demorado. Como não sentir incômodo ao presenciar tantas pessoas aparentemente “se dando bem” fazendo coisas socialmente tidas por erradas pelo critério da hombridade?  Esse é o exercício. Não sucumbir. Ser resistência. Dormir em paz, com a consciência leve como uma pluma. Andar de cabeça erguida. Contribuir com bons exemplos. Esperar a retribuição da lei do retorno, das forças do Universo, que hão de ser justas. Que são justas. Acreditemos.

E quem já se atrapalhou tantas vezes na vida? Acho que todos, de alguma forma, em algum momento da vida, já pestanejamos, esmorecemos, andamos pelas bandas de lá? Se assim, mudemos, pois. Sempre é hora. A vida é esse emaranhado de escolhas contínuas. Que enxerguemos no que é certo um caminho a seguir. Uma boa opção. A única. Ainda que saibamos que até o conceito de certo e errado é relativo. De fato, tudo é tão relativo e questionável que poderíamos andar cambaleando sem saber qual rumo seguir.

Essa coisa de escolher um lado é tão pueril e superficial. Mas ... para quem pressupõe a existência dessa enorme corda invisível que separa o moral do imoral, o ético do antiético, o probo do improbo, o que semeia a paz do que fomenta o conflito, o que preconiza boas práticas do que as repudia, o honesto do desonesto, penso que seja mais eficiente escolher para qual lado destinar e empregar a força que te move. A hora é agora.

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Projeto

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Para que a construção de uma obra nova dê certo, devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal, promover as adaptações que se fizerem necessárias. Essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.

Passamos muito tempo de nossas vidas construindo ideias sobre os outros. E o tanto que nos enganamos é algo grandioso. Creio que não somos tão bem-sucedidos nessas obras. Inevitavelmente, nos equivocamos. Erramos o cálculo. Confundimos a perspectiva. Mudamos o projeto.

Para que a construção de uma obra nova dê certo, devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal, promover as adaptações que se fizerem necessárias. Essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.

Passamos muito tempo de nossas vidas construindo ideias sobre os outros. E o tanto que nos enganamos é algo grandioso. Creio que não somos tão bem-sucedidos nessas obras. Inevitavelmente, nos equivocamos. Erramos o cálculo. Confundimos a perspectiva. Mudamos o projeto.

Seres humanos não são esse tipo de projeto que elaboramos com técnica. Somos, na verdade, uma obra sempre inacabada e complexa. Imperfeita por natureza. Em evolução (ou involução). O projeto é de vida e não há nada mais pessoal do que isso. O outro, por mais perito no assunto que seja, não pode precisar com exatidão o que acontece no interior da obra, nem apresentar soluções lapidares.

Esse terreno – que somos nós – não está descoberto a ponto de desvendarmos seus desníveis pelo olhar. Tem até areia movediça por baixo do mato verde. Tem de tudo, como se diz.

Investimos preciosos minutos de vida construindo uma imagem do outro. Supondo coisas. Julgando e prejulgando pelo pouco que conhecemos a seu respeito. Por isso o culto reverenciado pela imagem. Nem sempre a real. Quase sempre a projetada. A que pode ser vista. Isso é uma grande tolice, pois ao construirmos pessoas fictícias em nosso imaginário, empenharemos o dobro de energia para desconstrui-las, pois comumente erramos as análises. Os outros não são o que pensamos deles. Os outros são o que são.

Seria interessante se aceitássemos que o jogo começa com as peças do quebra-cabeças desmontadas, para então, com o tempo pudéssemos aprofundar e conhecer a imagem real que será formada. Daria menos trabalho e as surpresas talvez fossem mais prazerosas. Ou mais reais.

Mania estranha essa de querermos jogar um jogo ganho. Imagens preestabelecidas. Vencedores determinados. E no final das contas, a frustração da decepção. O girassol que eu estava montando no meu quebra-cabeças não passa de uma forma geométrica e sem sentido. Uma bola amarela. E vice e versa. Quantos girassóis deixamos de descobrir no meio do jogo justamente por superficialmente só enxergarmos a bola amarela. Sem essência. Forma e não flor.

Desconstruir é preciso. E se tivermos ânimo, reconstruir. Não sei se me fiz entender. Mas também não é preciso. Referenciando mais uma vez Clarice Lispector: “ não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”. Não me preocupo, pois.

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Gênio da lâmpada

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Quem não fantasiou, quando criança, com a possibilidade de encontrar o “gênio da lâmpada mágica” a quem seria possível fazer quaisquer pedidos do mundo? O que você, lá atrás pediria? Três pedidos. Perguntei a crianças próximas e as respostas foram essas: “todo chocolate do mundo”; “férias o ano inteiro”; “ não precisar tomar banho”; “ganhar um animal de estimação”, “morar perto dos meus amigos” e “que Papai Noel existisse de verdade”.

Quem não fantasiou, quando criança, com a possibilidade de encontrar o “gênio da lâmpada mágica” a quem seria possível fazer quaisquer pedidos do mundo? O que você, lá atrás pediria? Três pedidos. Perguntei a crianças próximas e as respostas foram essas: “todo chocolate do mundo”; “férias o ano inteiro”; “ não precisar tomar banho”; “ganhar um animal de estimação”, “morar perto dos meus amigos” e “que Papai Noel existisse de verdade”.

As crianças um dia crescem e os milagres pretendidos por nós, adultos, ganham outra dimensão. Aproveitei a deixa e fiz uma singela “pesquisa de campo” com alguns adultos também:  “ -quais seriam seus três pedidos?”. Agreguei uma dificuldade à pergunta: “ – responda sem pensar”. E ouvi, curiosa e atenta, as suas respostas. E foram justamente elas que me levaram à novas reflexões.

Percebi dentro daquele contexto em que estávamos, que ninguém demandaria do gênio a paz mundial, alimentos orgânicos para todos, fim da fome, da corrupção, da violência de gênero, do preconceito, a preservação do meio ambiente ou liberdade. Que desperdício. Alguém precisaria pugnar por esses milagres, não? Felizmente, o amor entrou no rol de pedidos. Ninguém falou sobre amor pela humanidade ou por amar a todos os seres. As respostas foram assim:  “ encontrar o amor esse ano”; “ ser feliz no amor”; “não sofrer por amor”; “ finalmente ter sorte no amor”. Percebi que relacionamento importa e muito, a ponto de valer pelo primeiro dos três quaisquer pedidos no mundo.

O que também não me surpreendeu foram os pedidos ligados à parte material e financeira; “ ganhar na mega sena”; “ quitar minhas dívidas”; “comprar meu apartamento”; “ficar rico sem trabalhar”. As respostas foram mais ou menos essas. De fato, é uma preocupação de muitas pessoas.

Diante da realização no amor e o dinheiro no bolso com as contas pagas, fiquei ansiosa pelos próximos últimos pedidos. Bem, devo dizer alguns deles optaram por viagens, uma delas desejou aumentar a família, um quis a tão sonhada felicidade e outros desejaram amenidades.

A brincadeira passou, mas a reflexão permaneceu, afinal de contas, quem não deseja que coisas boas possam lhes acontecer repentinamente? Considerando que o milagre dos três pedidos não passa de uma ficção e não acontecerá com ninguém, o que cada um deles está efetivamente fazendo para alcançar os objetivos não tão milagrosos assim? O que fazem e melhoram em si como pessoas para atraírem o amor verdadeiro? O quanto se esforçam e trabalham para realizarem conquistas financeiras? É bom pensarmos nisso e também sobre a razão de sermos egoístas a ponto de gastarmos nossos desejos emanados para o Universo com propósitos tão-somente individuais e não coletivos também.

E você, quais os três desejos que transformariam sua vida seriam feitos ao gênio da lâmpada mágica? Sejam vocês, ou melhor, sejamos nós os nossos próprios realizadores de sonhos.

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Animador ou desanimador?

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

"Quem foi rei nunca perde a majestade ", diz o provérbio. Pensemos, pois, na ideia que se extrai não da frase, mas do sentimento de pertencimento a essa posição superior versus o treinamento de humildade muitas vezes imposto pela vida o qual parece encomendado para aprimorar aqueles que detém dessa soberba ou vaidade.

"Quem foi rei nunca perde a majestade ", diz o provérbio. Pensemos, pois, na ideia que se extrai não da frase, mas do sentimento de pertencimento a essa posição superior versus o treinamento de humildade muitas vezes imposto pela vida o qual parece encomendado para aprimorar aqueles que detém dessa soberba ou vaidade.

Muitos dizem que quanto mais alto se voa, maior costuma ser o tombo. Animador ou desanimador ? Acho que depende do solo que se semeia enquanto a subida é preparada. Não temos que temer. Quem tem a terra protegida, pode ser que eventual queda nem machuque. Quem planeja um voo responsável minimiza a chance de queda. Quem encontra proteção Superior, provavelmente sequer vislumbrará o risco. Quem plantou gratidão das pessoas nessa caminhada, certamente encontrará cuidados e acolhimento. Ou seja, tem mais a ver com a maneira de voar do que com a altura atingida. 

É muito estranho imaginar uma existência sem prospecção de melhora em alguns aspectos da vida, sem sonhos que fomentem os movimentos, sem base para apoiar os pés para subir mais degraus da escada. É tão bonito observar o voo dos pássaros, tão bonito perceber o voo de gente. Ainda mais essa gente que aprendeu a voar, sem esquecer do quão firme e instável é o solo onde nasceu, sem esquecer do ninho de onde veio.

Tom Jobim propriamente disse que “o Brasil não é para principiantes”. O mundo todo talvez não seja. É preciso aprender, resistir, empregar esforço e sobreviver. Constantemente. Preferencialmente e prioritariamente, de forma digna. Quantos entre nós vive sentindo-se rei da vida do outro? Quantos entre nós esquecem diariamente de exercer a humildade?  E a humanidade ? Quantos tentam voar sem asas, com asas quebradas, com asas roubadas, com asas falsa? Que voam sem terem para onde irem ou para onde voltarem? Sem rumo na vida? Quantos sequer sabem que podem voar e não enxergam para além da folha seca do ninho? 

Somos toda essa gente múltipla, diversa, complexa por natureza. Seríamos melhores se nos apoiássemos a voar, se nos ensinássemos, nos apoiássemos, se subíssemos os degraus da escada e de cima, puxássemos os próximos para um patamar melhor, um nível mais alto da escala de valores. A desigualdade social é estrondosa. Há muitos que se pensam majestades e olham para os demais como súditos. E vice e versa. Gente que não voa e não deixa os demais voarem. Essa gente que não quero ser nem ter perto de mim.

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Novo Semestre

quinta-feira, 03 de agosto de 2023

Tudo novo. De novo. É chegado o momento do retorno, do semestre novo na faculdade, do fim das férias escolares, do início do ciclo do meio do ano (aquele que parece passar super rápido, culminando com as festas de final de ano).

Várias pessoas mudam os cortes de cabelos. Sorrisos revigorados. Encontros não programados. Alunos desfilam uma ou outra roupa nova. Cadernos recém-saídos das estantes das papelarias ganham espaço. Pastas organizadas nos computadores. Energia renovada. Não é assim?

Tudo novo. De novo. É chegado o momento do retorno, do semestre novo na faculdade, do fim das férias escolares, do início do ciclo do meio do ano (aquele que parece passar super rápido, culminando com as festas de final de ano).

Várias pessoas mudam os cortes de cabelos. Sorrisos revigorados. Encontros não programados. Alunos desfilam uma ou outra roupa nova. Cadernos recém-saídos das estantes das papelarias ganham espaço. Pastas organizadas nos computadores. Energia renovada. Não é assim?

Bom, para alguns, eu acho que sim. O retorno esconde certa magia e disposição, apesar do estoque de inegável cansaço, pois não necessariamente as férias de meio de ano significam tempo à disposição e descanso. Mas ainda assim é uma pausa e o reinício é um tanto interessante.

Quais são as novidades? Quem vamos conhecer? Quem vamos reencontrar? Quais as metas a perseguir, os desafios a percorrer? Dá até um frio na barriga. Recomeços são muito interessantes e podem ser presságios de ricas experiências. A vida é repleta de momentos como a volta às aulas. São sequências de ciclos a serem orquestradas muitas vezes com maestria, outras, nem tanto.

Esse grande barato dos reencontros com o ambiente que nos acolhe por longas jornadas e com as pessoas que dão vida a ele não pode ser ofuscado pela correria incessante que os tempos de hoje não raras vezes nos impõem. Tenho a sensação de que a vibração com que começamos etapas novas ditam o ritmo e a cadência do período vindouro. O que esperar das misteriosas semanas que estão por vir? Não podemos prever as adversidades, nem as mudanças, muito menos as próximas surpresas. Mas, uma coisa não podemos negar: querendo ou não todas elas acontecem. Invariavelmente. De uma maneira ou de outra. Como tiverem de ser.

Então, que estejamos prontos para acolher o que está por vir começando pelo dia de hoje repleto das sementes que pretendemos colher. É leveza que eu quero? Então que eu seja leve. É emoção que espero? Então deixo o sentimento fluir. São sorrisos sinceros? Então que eu sorria - com a alma! 

Se a “volta às aulas” da vida contar com nossa parcela de contribuição positiva para equilibrar esse “velho mundo” com o “tudo novo”, estou certa de que essa longa jornada contará com um sabor especial. E por que não com gostinho de felicidade?

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