Blog de paulafarsoun_25873

Um amigo...

sexta-feira, 29 de março de 2024

Aquela pessoa.  A-M-I-G-O. Todo mundo deveria ter. Pelo menos um para fazer valer a pena. Seria desperdício muito grande existir sem ter ao menos um grande amigo na vida. Daquele para quem basta um olhar para dizer que está tudo bem. Aliás, aquele para quem não precisa dizer nada. Não há necessidade de desculpas sobre a razão do sumiço. Não há cobrança sobre o motivo de não ter ligado nos últimos dias. Nos últimos anos. Simplesmente ele existe e isso muitas vezes, basta.

Aquela pessoa.  A-M-I-G-O. Todo mundo deveria ter. Pelo menos um para fazer valer a pena. Seria desperdício muito grande existir sem ter ao menos um grande amigo na vida. Daquele para quem basta um olhar para dizer que está tudo bem. Aliás, aquele para quem não precisa dizer nada. Não há necessidade de desculpas sobre a razão do sumiço. Não há cobrança sobre o motivo de não ter ligado nos últimos dias. Nos últimos anos. Simplesmente ele existe e isso muitas vezes, basta.

Aquele amigo que guarda teus segredos pueris, que conhece sua essência, que brincou, brigou, sorriu e chorou ao seu lado. Que sabe quem você é. E continua te amando. Que te vê diferente, mas tem a certeza de que nada mudou. Ah! Um velho amigo jovem, pouco importa a idade. Refiro-me àquela pessoa, com “p” maiúsculo, que enche seu rosto com um sorriso genuíno quando aparece, que decifra seu estado de espírito com o olhar, que acha graça das suas piadas sem graça. Que não se importa com o que você tem e sim com quem você é. Que se importa com sua felicidade. Que ama sua família. Que torce por você. Que comemora à distância pelas suas conquistas ou que está ao seu lado para o melhor abraço. Vibra ao falar com você, sobre você. Sabe do que estou falando?

Amigo parente, amigo da escola, do trabalho, da vida. Chega em nossa vida de alguma forma e fica, constrói laços e se torna alguém especial, sua referência, seu porto seguro, com elos inquebrantáveis. É uma raridade. Cultivar uma amizade demanda entrega, investimento de tempo, energia, afeto e dá trabalho. Mas vale a pena. É incrível ter alguém com quem partilhar a vida genuinamente, polir o ouvir sincero, compartilhar os segredos, trocar abraços carinhosos, olhar nos olhos e identificar ali uma morada segura. Escolha alguém e dedique-se a essa pessoa porque amor de amigo é multiplicação.

Se você tem alguém assim na vida, amigo, que sorte a sua. A construção dessa relação leva tempo. Ela passa por fases, amadurece, se reinventa, afrouxa, aperta, some, aparece, mas continua intacta. Basta levantar a mão por socorro na multidão das outras companhias para você ver a presença de quem que irá fazer toda a diferença. O alento de ver o rosto conhecido quando estamos perdidos, de sentir a presença quando estamos sós. É ele. Esse amigo que pode ser qualquer pessoa no mundo, com ou sem laços sanguíneos, mas que foi escolhido por você para ser aquela pessoa: a-que-la pes-so-a ! Jamais uma qualquer.

Porque amizade é amor. Amor para poucos. Porque amar na alegria, na prosperidade, na diversão e na saúde, é moleza. Amor de fotografia é lindo, basta um abraço e um sorriso e pronto: fez-se o melhor amigo superficial. Difícil é amar na dureza, na doença, na escassez, no sofrimento. Nessa hora, infelizmente comumente vão-se os dedos e os anéis. Sobra pouco perto de nós. Poucos. E normalmente, quem ali permanecerá será o amor incondicional. O verdadeiro. O diamante em meio ao cascalho. O tesouro imaterial que faz a vida valer a pena.

Feliz de quem possui um velho amigo. Um! Seu referencial e a certeza de que os momentos partilhados fincaram bases sólidas e inquebrantáveis pelo tempo, pelas circunstâncias, pelas novas ou velhas outras presenças. Amor que soma. Amizade que multiplica. Que edifica. Feliz de quem sabe do que estou falando, o que estou sentindo.

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Alerta de Gatilho

quinta-feira, 21 de março de 2024

         Esta semana estamos recebendo inúmeros avisos, mensagens, compartilhamento de reportagens, a respeito do alerta de chuvas fortes no Estado do Rio de Janeiro nos próximos dias. Nós, que temos cravada em nossa história a tragédia de 2011, sentimos este alerta como uma ameaça à nossa segurança, nossa cidade, nossas famílias e tudo mais. É como um gatilho que nos faz rememorar as dores vividas em nosso passado próximo.

         Esta semana estamos recebendo inúmeros avisos, mensagens, compartilhamento de reportagens, a respeito do alerta de chuvas fortes no Estado do Rio de Janeiro nos próximos dias. Nós, que temos cravada em nossa história a tragédia de 2011, sentimos este alerta como uma ameaça à nossa segurança, nossa cidade, nossas famílias e tudo mais. É como um gatilho que nos faz rememorar as dores vividas em nosso passado próximo.

         Os avisos meteorológicos estão percorrendo os lares e felizmente, a população parece estar em alerta. O Jornal A Voz da Serra, na última quarta-feira, 20 de março, publicou uma reportagem noticiando a possibilidade de chuva extrema em nosso Estado, incluindo a Região Serrana. O jornal O Globo noticiou que o diretor do Cemaden – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais descreveu que o cenário é de situação similar com a de janeiro de 2011.

         Fato é que há previsão de chuvas extremas em nossa região a partir de hoje, sexta-feira. A torcida é grande para que o cenário mude e que não haja transtornos de nenhuma ordem à população. Mas o sobreaviso é importante, para que façamos as melhores escolhas possíveis de modo a evitarmos nos colocarmos em riscos desnecessários.

         Inclusive, lembro-me bem que em 2011, quando nossa montanha chorou e tantas vidas foram perdidas, desejávamos ter sido informados sobre o que estava por vir, de modo a tentarmos buscar uma proteção. O tsunami caiu sobre nós e fomos pegos desprevenidos. Será que as consequências catastróficas que presenciamos teriam sido amenizadas pela prevenção ou mesmo o acesso à informação para que a população não se surpreendesse com tamanho caos? Provavelmente, sim.

         E é por acreditar que podemos minimizar consequências de tragédias por meio de informação, embora infelizmente, nós, população, de maneira geral não possamos evitá-las, dedico esse espaço, substituindo o texto preparado para hoje, para também alertar sobre a iminente chuva forte que deve se aproximar nesse final de semana.

         Certamente o pânico não contribui e nem a propagação de informações falsas ou especulações. Mas é necessário que atribuamos credibilidade às fontes oficiais e autoridades para que possamos, tanto quanto possível, nos resguardar.

         Por aqui, um alerta de tempestade como esse é um baita gatilho de dor e medo. Contudo, um fato sobre a vida é que os episódios difíceis que enfrentamos podem engrenar uma experiência de vida capaz de nos ajudar a enfrentar desafios futuros. Estejamos, pois, alertas.

         E vamos torcer para que toda essa instabilidade que notamos no clima ultimamente, também confronte as piores previsões e nos surpreenda com chuvas mais brandas, população protegida e ausência de prejuízos. Quem sabe conseguimos observar um arco-íris no céu. Todos sãos e salvos. Cuidem-se!

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Estudemos

quinta-feira, 14 de março de 2024

Um conselho recorrente que costumo dar ao longo da vida é muito simples e verdadeiro ao mesmo tempo: estude. Naturalmente, vivemos em um país absolutamente desigual, sem oportunidades para todos. Isso faz com que o acesso à educação de qualidade, infelizmente, não seja privilégio de todos. Mas meu ponto é outro e ele parte do esforço pessoal, do espírito de busca, da vontade de aprender e do objetivo de construção de algo melhor para si próprio, para os outros, para o planeta.

Um conselho recorrente que costumo dar ao longo da vida é muito simples e verdadeiro ao mesmo tempo: estude. Naturalmente, vivemos em um país absolutamente desigual, sem oportunidades para todos. Isso faz com que o acesso à educação de qualidade, infelizmente, não seja privilégio de todos. Mas meu ponto é outro e ele parte do esforço pessoal, do espírito de busca, da vontade de aprender e do objetivo de construção de algo melhor para si próprio, para os outros, para o planeta.

Como professora, por exemplo, aconselhar aos alunos a estudarem é prática rotineira, quase lugar comum. Mas vai além disso. Aconselho por amor, pois acredito verdadeiramente que por meio dos estudos damos passos mais largos em rumo a algo que tende a ser melhor. É justamente renunciando tempo e energia dispendido com algumas outras atividades para focar em nossa qualificação e aprendizado, que organizamos de forma correta cada tijolinho de nossa pirâmide de conhecimento.

Conhecimento sólido não se conquista da noite para o dia. Demanda tempo, dia após dia, leitura, diálogo, métodos de estudos. Requer paciência, motivação, empenho, organização e principalmente, vontade. Não me refiro, neste ponto, ao dia a dia de salas de aulas em escolas, cursos e universidades. Quero falar sobre o esforço pessoal em estudar onde estiver em qual circunstância for, como prioridade para o crescimento pessoal e profissional. Refiro-me à leitura, à conscientização responsável, à busca por boas fontes, à construção da capacidade de debate civilizado, às críticas construtivas.

A verdade é que o conhecimento de alguma maneira segue o fluxo de dentro para fora e não o inverso. Nós é que precisamos verificar dentro da realidade única que cada um temos, qual será nosso investimento em algo que apesar de abstrato, é absolutamente valioso, intransponível e irrenunciável: o conhecimento adquirido por meio do estudo ao longo dos anos.

Ao nos depararmos com uma sociedade desigual, com dificuldade de diálogo e apontamentos de soluções e alternativas, com informações desencontradas e transmitidas em meio a um fluxo intenso, creio que seja um sinal claro para que continuemos estudando e incentivando pessoas a fazê-lo não só em benefício próprio e de suas conquistas que certamente advirão por meio dos estudos, mas também por nossa sociedade, pelo presente e futuro da humanidade.

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Haja intuição

quinta-feira, 07 de março de 2024

Você sabe qual a hora certa para tomar decisões? Possui esse superpoder? Sim, para mim, conseguir captar o momento exato da tomada de decisão coloca qualquer pessoa em um patamar diferenciado. Sim, porque a gente tem dúvida. Porque não é fácil. O futuro é incerto. E sim, cada um carrega dentro de si um passado recheado de experiências, inseguranças, medos, sonhos e valores de vida.

Você sabe qual a hora certa para tomar decisões? Possui esse superpoder? Sim, para mim, conseguir captar o momento exato da tomada de decisão coloca qualquer pessoa em um patamar diferenciado. Sim, porque a gente tem dúvida. Porque não é fácil. O futuro é incerto. E sim, cada um carrega dentro de si um passado recheado de experiências, inseguranças, medos, sonhos e valores de vida.

Não me refiro aqui às decisões cotidianas sobre o que vestir, para onde ir, o que fazer dentro da rotina do dia ou com quem interagir. Falo das decisões difíceis, cruciais, que podem mudar nossas vidas, impactar pessoas, ter consequências imponentes e algumas vezes, definitivas. Falo sobre decisões na carreira, mudança de cidade, escolher a pessoa certa com quem se relacionar, estilo de vida, finanças, família, saúde e a infinitude de coisas extremamente importantes sobre as quais precisamos pensar e decidir. E isso faz parte da vida, não dá para fugir.

Eu acho desafiadoras não apenas as tomadas de decisões, mas também a identificação do tempo certo para as coisas. E digo mais. Nós, mulheres, que muitas vezes carregamos toda a reserva mental sobre as decisões corriqueiras, igualmente, desde que nos entendemos por gente, somos também obrigadas a decidir sobre coisas muito sérias. E decidimos o tempo todo, inclusive quando não decidimos nada. Isso porque, a inércia, o deixar como está, para nós, também reflete um posicionamento. E também pode trazer consequências imponentes sobre nós mesmas.

Temos pratinhos a equilibrar em nossas mãos que parecem não caber. As pressões sociais são intensas e exigem de nós que pensemos o tempo inteiro. Já repararam esse fenômeno? Não é fácil. Há um desequilíbrio. O que se exige das mulheres não cabe em um dia, não cabe em uma vida. E nem todas nós temos o superpoder de identificarmos as prioridades daquela fase de nossa existência e tomarmos as decisões corretas no tempo certo.

É emoção demais. Pensamentos demais. Interações demais. Tarefas demais. Decisões demais. A sensação de tempo correndo demais. É tudo muito, sabem como é?  E eis que pesa, dói, sobrecarrega, desafia incessantemente. Haja intuição! Mas ainda bem que nós podemos contar com ela.

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Ventos da mudança

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade.

Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade. Elas chegam e nossas escolhas passarão por estarmos dentro ou fora do mar, condicionarmos nosso fôlego, aprendermos a nadar, aguçarmos nossa sensibilidade para identificarmos eventual perigo, domarmos o espírito aventureiro, ou controlarmos o medo.

A onda pode ser uma marola ou chegar com a força de um tsunami, sei lá, quem vai saber? Seja o que for, precisamos estar preparados para as mudanças que podem acontecer no minuto seguinte da vida. E que podem ser ótimas, mesmo se fáceis não forem.

Gosto de comparar a vida com a natureza, pois ao observarmos carinhosamente essa engrenagem divina maravilhosa, nos damos conta de que somos parte de tudo isso e não seus senhores soberanos.

Encarar desafios pode ser um treinamento grandioso de superação. Há um enorme prazer embutido nesse exercício contínuo superarmos a nós mesmos. Quão sem graça seria a existência se a vida fosse um marasmo contínuo do início ao fim. Bom, temo que isso sequer seria uma opção já que querendo ou não, o dia a dia é repleto de novos desafios.

Por que não acolher cada um deles como uma nova chance, uma oportunidade premiada, um grande negócio a ser feito? Transformar o medo pelo novo por motivação para seu encontro pode ser transformador. Ao invés de vislumbrarmos a muralha amedrontadora que pode estar por vir, podemos escolher avistar o belo oceano na condição mais linda que o Universo pode ofertar.

Fácil não é. Mas nossa postura diante de um desafio vai gerar uma energia que pode ser positiva ou negativa, a depender de como estamos acolhendo esse movimento da vida. Abdicações, renúncias, esforço,  preparação. Preparar-se para a execução da nova etapa. E durante todo o processo é aconselhável o treinamento do sentimento de gratidão, pois certamente se estamos diante de desafios, é sinal de que estamos vivos e em atividade, o que já merece nosso mais profundo agradecimento.

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Formas de comunicar

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

       Em tempos em que vangloria-se tanto a necessidade e coragem em se dizer tudo o que pensa, aqueles que preferem o silêncio muitas vezes passam por involuídos. Isso mesmo. Se antes poupar a si mesmo ou ao próximo de discussões, deixar de falar tudo o que supostamente não seria bem recebido pelo interlocutor, recluir-se em silêncio eram práticas desejadas, hoje, há quem diga que nem tanto. Pelo contrário.

       Em tempos em que vangloria-se tanto a necessidade e coragem em se dizer tudo o que pensa, aqueles que preferem o silêncio muitas vezes passam por involuídos. Isso mesmo. Se antes poupar a si mesmo ou ao próximo de discussões, deixar de falar tudo o que supostamente não seria bem recebido pelo interlocutor, recluir-se em silêncio eram práticas desejadas, hoje, há quem diga que nem tanto. Pelo contrário. Basta um bate-papo em uma roda de amigos e cedo ou tarde alguém acaba explicitando que a hora da verdade soou, que não faz bem para a saúde guardar sentimentos e opiniões e que o processo de libertação para por essa franqueza no trato social.

        E a legião das pessoas que não desejam adoecer por guardar além das palavras engolidas sem ser ditas, as mágoas remoídas é deveras crescente. Esse caminho passa pelo autoconhecimento e algumas vezes descamba para o extremo posto: dizer tudo o que sente, sem traquejo e muitas vezes, sem sensibilidade. E então, ao invés de os sapos serem engolidos, passam a ser jogados no colo do outro sem parcimônia.

        Esse assunto surge em muitas conversas. Poucas vezes alguém aponta para o caminho do meio como algo a ser considerado. E então surge a indagação: o equilíbrio é o meio mesmo? Fato é que o ponto de equilíbrio varia de pessoa para pessoa. E só especialistas podem aprofundar o assunto. 

        Eu mesma, que costumo buscar a interação eficiente e ter resposta para tudo, por esses dias andei sem palavras. De verdade. Sem vontade de dizê-las, talvez. Sem motivação. Buscando uma luz que ao final só conduzia para o silêncio e uma vontade toda minha de revisitar a introspecção. Aliás, a busca pelas práticas de silêncio e o voltar-se para si conquista cada vez mais adeptos. Mas seria possível vivê-la em público, cercada de pessoas, de demandas sociais? E então, como de costume, a reflexão vem. E mais uma vez, a conclusão a que não chegamos (por complexa que é) e o percurso que aponta para um sentido: não devemos julgar as pessoas. Ninguém.

Cada pessoa trava suas batalhas diárias, algumas delas inglórias. Uns vão sentir necessidade de compartilhá-las com maior número de pessoas. Outros irão se retrair. Muitos se voltarão para a natureza e sua comunhão com ela serão seu reencontro com o estado de equilíbrio. Não podemos julgar nenhuma delas.

          Uma boa técnica, que na verdade é empirismo, passa justamente por lapidar um conceito básico que deveria se fazer presente em mais momentos de nossas existências: o respeito. A si próprio. Aos outros. A toda a coletividade. Dizer tudo o que pensa ferindo pessoas desnecessariamente, não me parece o melhor roteiro de vida. Da mesma forma, ser destinatário de um contingente de remorso por não conseguir expressar o que se sente, também não. A verdade é que cada um sabe de si. Mas acho que o trato com a comunicação interna, social e com o mundo, poderia ser mais bem refinado...

        Palavras que somem podem se perder em um lugar desconhecido por todos. Aquilo que deveria ser dito e não foi. Aquilo que felizmente não foi dito, mas foi pensado. Há tantas formas de se comunicar. Ricas formas. E dependendo do contexto, um bamboleio de pálpebra diz realmente mais que mil palavras. Ah, se diz ...

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Sem jogo

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Maria circulava por aí. Todo santo dia, mil tarefas por fazer, atividades de não dar conta, alguma energia vital, e a vontade de fazer dar certo. Seu simples viver dentro da normalidade, a intrigava por uma razão: ela não conseguia compreender a razão de alguém sempre exigir-lhe recompensas por alguma coisa ou indagar-lhe sobre seus interesses pelos feitos. Ela sequer conseguia explicar, mas relatara o que lembrava.

Maria circulava por aí. Todo santo dia, mil tarefas por fazer, atividades de não dar conta, alguma energia vital, e a vontade de fazer dar certo. Seu simples viver dentro da normalidade, a intrigava por uma razão: ela não conseguia compreender a razão de alguém sempre exigir-lhe recompensas por alguma coisa ou indagar-lhe sobre seus interesses pelos feitos. Ela sequer conseguia explicar, mas relatara o que lembrava.

Certo dia, em seu trabalho, no executar normal de sua função, precisou se debruçar um pouco mais sobre algumas questões para entregar um resultado melhor a um cliente, cujo caso era menos rotineiro e mais complexo. O fez por dever de ofício, responsabilidade e intenção de solucionar a demanda. Ao terminar o serviço, aliviada e com sorriso no rosto, informou que tudo estava dentro da conformidade e finalizou a demanda. Eis que um colega, em sequência, indagou-lhe se aquele cliente era alguém importante a merecer tamanho empenho e exclamou que agora ele lhe devia um bom favor. Ela, que sequer havia pensado nisso, manteve-se calada e pôs-se a refletir.

Outro dia, ao se deslocar de carro, percebeu que o pneu estava furado. Encostou o veículo e em seguida, foi ajudada por uma pessoa do bairro que vinha logo atrás. Com o auxílio, sentiu-se aliviada e grata. Simpatizou-se com aquele que havia trocado seu pneu, e antes mesmo de perguntar como poderia retribuir a gentileza, ele afirmara em tom de brincadeira: “- Você me deve essa, vou aparecer para cobrar.” Rindo, ela respondeu que sim. E seguiu.

Coisas assim, aconteciam todos os dias, desde gestos brandos a propostas absurdas. Existir fazendo a coisa imputada como certa já lhe colocaria em posição de credora e também de desconfiança, afinal, qual a necessidade de dedicar-se tanto sem querer nada em troca? Começou a reparar, então, como parte da sociedade se coloca, talvez de forma inconsciente, sobre um tabuleiro de jogo, em que ganhar vantagens, dever favores, passar a frente, eliminar adversários, somar pontos passa a incorporar o cotidiano. Esse jogo, Maria, simplesmente, não queria jogar. Mas estava ali, exposta feito uma peça sem opção de não participar.

Ela queria que sentir gratidão bastasse, que dever comprometimento fosse o necessário e conviver com cooperação, harmonia, sensibilidade e responsabilidade fosse regra e não exceção. Sentiu-se a “estranha no ninho”, o “peixe fora d´água”, o “patinho feio”. E conformou-se. E resistiu. Segue circulando por aí e esforçando-se em suas mil atividades, sem interesses escusos. Prefere um olhar grato. E lhe basta.

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Como começar um texto

quinta-feira, 08 de fevereiro de 2024

            Como começar um texto? Às vezes é muito simples, outras, nem tanto. Depende do pensamento que te inspira a compilar esse emaranhado de ideias em algumas palavras. Hoje fiquei refletindo sobre a linguagem, os idiomas diferentes e sua possível interferência no modo de sentir das pessoas.

            Como começar um texto? Às vezes é muito simples, outras, nem tanto. Depende do pensamento que te inspira a compilar esse emaranhado de ideias em algumas palavras. Hoje fiquei refletindo sobre a linguagem, os idiomas diferentes e sua possível interferência no modo de sentir das pessoas.

            Sabemos que a palavra saudade nos é própria. Coisa nossa. Mas também parece certo que o sentimento correspondente à saudade é universal. Quase não consigo assimilar um ser humano que não se conecte com esse sentimento. Volta e meia de alguma maneira, me conecto com pessoas cuja linguagem, por ser tão diferente e não familiar, aparenta ser mais fria, menos emocional. Por aqui, convivemos com pessoas que muitas vezes não têm noção sobre as regras de linguagem idiomática, mas que dominam a linguagem corporal e se fazem entender muito bem. Sentindo.

            Para muito além do palavreado, a expressão corporal no Brasil diz muito sobre nosso povo. Temos, de maneira geral, uma queda por contato físico. Abraço para nós é algo rotineiro, próximo. As pessoas que às vezes acabam de se conhecer, cumprimentam-se com beijos no rosto – algo deveras íntimo. Nós somos de encostar, de andar de mãos dadas, de tocar no outro enquanto conversamos. Terminamos uma prosa com um “eu te amo”, mandamos beijos pelo telefone, choramos com as estórias dos outros, sorrimos para desconhecidos, partilhamos de emoções de forma única.

            Um teste interessante tem a ver com a capacidade que temos de fazer amigos, com a facilidade de interagir em ambientes sociais, com a ausência de barreiras para trocar ideias, fazer perguntas. Obviamente não estou generalizando. Mas se pararmos para pensar, se convivermos com pessoas de culturas muito diferentes, se tivermos a oportunidade de viajar e observar pessoas dos mais diversos lugares, talvez nos aproximemos dessa conclusão.

            Amor é sentimento universal, mas creio que as formas de amar, as demonstrações desse amor, sofrem interferência direta com o lugar em que vivemos, a forma como somos criados e educados e até mesmo da linguagem. Assim, imagino que seja a tristeza, a frustração, a melancolia, a alegria, a satisfação e muitos outros sentimentos. Mas há algo que eu acho que realmente seja universal, que não podemos mudar, não podemos interferir, não podemos criar fórmulas para controlar – ninguém pode: o tempo. Sobre ele, já diria Cazuza, não para. Aproveitemos, pois. Isso sabemos fazer.

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Limites

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Ela se doía ao ter que dizer um “não”. Sofria a ponto de não conseguir fazê-lo. Era muito para ela. Atravessar essa barreira quase intransponível entre ceder e selecionar era uma grandiosa missão. Para o mundo, “sim”. Para os outros, “sim”. Para ela, só o que sobrava dela mesma. Quase nada.

Ela se doía ao ter que dizer um “não”. Sofria a ponto de não conseguir fazê-lo. Era muito para ela. Atravessar essa barreira quase intransponível entre ceder e selecionar era uma grandiosa missão. Para o mundo, “sim”. Para os outros, “sim”. Para ela, só o que sobrava dela mesma. Quase nada.

Não tinha tempo. Não tinha energia. Não se satisfazia com suas escolhas. Para cada tarefa nova assumida, era um sonoro “não” que intimamente ouvia e que apenas ela sabia. E então se perguntava se seria uma patologia não conseguir negar um pedido de alguém. Sentia-se incapaz de recusar alguma situação, de esquivar-se de fazer algo quando ia além de seu propósito, de sua capacidade e de sua energia. Não sabia andar até o limite do alcance de suas próprias pernas.

Quem sofre de não saber dizer “não”, sabe o peso gerado pelo acúmulo de afazeres assumidos. Ela era assim. E já esclareço aos leitores que ainda que eu me identifique em parte com ela, não sou o eu lírico desse texto. Essa lição eu já aprendi. Nessa moça, na verdade represento todos aqueles que estão sobrecarregados justamente por não conseguirem respeitar seus limites e assumirem menos do que o mundo exterior demanda deles. Desde as pequenas coisas às grandiosas. Desde futilidades às funções elementares.

Um dia, a vida – a mais sábia dos sábios, cuidou de ensinar à menina que para cada “não” sentenciado, ela abria a porta para inúmeros “sim”. E descobriu que sim, a vida é feita de escolhas sob muitos aspectos, e que ela deveria aprender a escolher, a aprender a impor limites, a respeitar sua própria capacidade ( inclusive de discernir o que deve e o que não deve, o que pode e o que não pode, o que quer e o que não quer).

Resolveu investir no seu autoconhecimento e refletir sobre o que deveria fazer por obrigação de trabalho. O que deveria fazer por amor. O que deveria fazer por missão de civilidade. O que fazer por prazer. Ou por necessidade. Ou pelo querer. E o que era excesso. Separou o joio do trigo. Concluiu que muito do que fazia era excessivamente oneroso para sua vida e sua própria saúde.

Desde a concepção de que dizer não para alguém ou para alguma situação não faria com que fosse menos amada ou querida, foi assimilando que seria capaz de assumir o que fosse suficiente e não o que não conseguisse escapar por dizer “sim” para tudo. Saber se impor dentro dos seus critérios de ética e utilidade foi um processo de superação de valor inestimável.

Só quem tem esse perfil de querer dizer “sim” para tudo e todos talvez entenda o sofrimento que pode existir por trás dessa característica. A sobrecarga, o peso, o arrependimento, a culpa pela imperfeição, o acúmulo de tarefas, a falta de tempo são consequências dessa incapacidade de delimitar limites, e aqui me permito a redundância das palavras.

Ao aprender, finalmente, a dizer necessários “nãos” para certas coisas, ela conseguiu se cuidar mais, amar mais seu ofício, destinar mais tempo à sua família, fazer suas tarefas com mais paz e a viver com maior qualidade de vida. Ela entendeu que dizendo “não” aos excessos de tudo e às demandas externas infinitas, estaria na verdade escolhendo dizer “sim” para si mesma.

Gabriel Garcia Márquez escreveu: “O mais importante que aprendi a fazer depois dos 40 anos foi a dizer não quando é não.” Faz sentido pra você também?

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Desconecta

quinta-feira, 07 de dezembro de 2023

Seria um dia como qualquer outro, mas não era. Não, porque em todos os demais dias, o despertador toca às seis da manhã, os segundos que passam pela catraca são computados, a agenda está sempre lotada e o cansaço que lhe é praticamente inerente sinaliza o dia cheio de trabalho, compromissos e tarefas. De nada reclama, afinal, ele é brasileiro, emprego está difícil, ele tende a ser feliz e não costuma desistir da labuta por conta de dias cheios.

Seria um dia como qualquer outro, mas não era. Não, porque em todos os demais dias, o despertador toca às seis da manhã, os segundos que passam pela catraca são computados, a agenda está sempre lotada e o cansaço que lhe é praticamente inerente sinaliza o dia cheio de trabalho, compromissos e tarefas. De nada reclama, afinal, ele é brasileiro, emprego está difícil, ele tende a ser feliz e não costuma desistir da labuta por conta de dias cheios.

Aquele dia era especial pois ele estava de férias. Havia planejado desligar-se dos problemas do mundo e aproveitar para descansar. Ele nada fez. Não teve nenhum compromisso, página da agenda vazia, sequer de problema se lembrava. Pronto, era o tão almejado “dia de fazer nada” que ele sonhou pelos últimos 12 meses. Sem despertador, inclusive.

Mas algo deu errado no plano. Não teve o som do alarme tocando cedo como de costume, mas logo ao despertar, as luzes da tela do celular ofuscaram sua visão ainda embaçada pelo sono. Sua mente que deveria encher-se de nada (vale a antítese), ocupou-se da vida dos outros. Ao aparecer “online” para o mundo, atraiu para si demandas que não pretendia ter. Mas visualizou, não teve jeito. Foi tragado pela tela. O canto dos passarinhos que pretendia ouvir, fora sumariamente esquecido e substituído por vozes, músicas, ruídos. Aquele barulho que a gente sabe. E ao final daquele dia de “descanso”, sentiu-se exausto.

Cansado sem compreender a razão, sentia dores no pescoço e os ombros pareciam rígidos. Foi premiado por uma dor de cabeça ao entardecer além de minado pela sensação de dia perdido. Ele estava certo. Perdeu sua energia para as telas, por sua própria responsabilidade e escolha. Deixou o tempo passar sem que percebesse o desperdício. Não fez o que queria ter feito – ou que não queria, pois nada fazer além de uma escolha, dependendo da conjuntura, é um privilégio. É a vida moderna. E “ele” representa cada um de nós. Será que também se indaga se fomos feitos para confrontar nossos sentidos com tantas informações e experiências visuais, auditivas, sensoriais? Artificiais.

Decidiu desligar. Não a si próprio, mas o aparelho celular em primeiro lugar. Despiu-se da necessidade de se manter conectado com tudo e todos ao mesmo tempo. Optou por se conectar consigo. No primeiro momento, foi difícil romper com o vínculo viciante que o interconecta com suas telas de estimação. Mas estava decidido. Resolveu ser grato pelo “salvador da pátria”, “amigo aguerrido”, “meio de trabalho”, “curador de feridas e matador de saudade” do dia a dia e desligá-lo de si por algumas horas. Optou por desintoxicar-se da adorável tela viciante. Sofreu uma espécie de abstinência no início, mas perseverante que era, se venceu. E ao se superar, finalmente, conseguiu descansar. Reparou nas folhagens. Preparou seus alimentos com calma. O tempo rendeu. Viveu os momentos presentes. Presente. Respirou em paz.  Enfim, libertou-se.

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