A vida é feita de momentos, são pedaços de tempo que vão compondo nossa história, e a memória os vai guardando, como se os depositasse em gavetas cheias de caixinhas. Depois que os vivemos, parece que são realçados quando os assentamos nas lembranças. Repentinamente, eles surgem e ressurgem, trazendo perfume e flores para o dia. Na semana passada, senti o cheiro de rosas e vou trazê-las aqui.
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Acabando de ler a biografia da Hebe Camargo, logo mergulhei na de
Leonardo da Vinci, escrita por Walter Isaacson, o mesmo biógrafo de Steve
Jobs. É enriquecedor conhecer a vidas das pessoas, saber quem foram, o que
fizeram e como mudaram a história. Leonardo deixou contribuições
significativas para diversas áreas do conhecimento, como a medicina, a
aviação, a engenharia. Foi um grande amigo da humanidade ao criar bases
científicas para o futuro e obras de arte com perfeição.
Gosto das biografias porque são originais, até hoje não li uma semelhante à outra; a experiência individual é inédita, tal qual a impressão digital. Os biógrafos penetram nos meandros do quotidiano dos seus biografados e vão desvendando quem foram, o que fizeram e por que tornaram-se significativos ao seu tempo, o que nos permite, inclusive, conhecer a história por outros vieses.
Eu já estava querendo escrever sobre este assunto faz tempo. Há vinte anos, fiz a montagem de peças de teatro como produtora e dramaturga. Na época, notei que nos cartazes e nos anúncios todos os integrantes tinham seus nomes em destaque, como o diretor, os atores, o figurinista. E o autor?, seu nome era o menos destacado, normalmente colocado sob título em tamanho da fonte reduzido. Às vezes, até no final do cartaz. Nos letreiros, raramente. Eu me perguntei várias vezes porque tamanha discriminação? Afinal de contas, se não houvesse a criação e o trabalho do autor, a peça não existiria.
Nestes tempos pandêmicos de recolhimento, tenho tido a oportunidade de
mergulhar mais profundamente na literatura, como leitora, pesquisadora e
escritora. Tem-me sido um tempo de aprimoramento. Quando a vida da cidade
começou a retomar suas atividades, fui jantar num restaurante. Até comovida
pelo retorno à vida social, fiz questão de ficar apreciando o lugar. Embora já
conhecido, parecia que era a primeira vez que estava ali, tudo me era
novidade. Eu estava debutando.
Próximo à minha mesa, havia duas ocupadas por casais. Observando
O que me alentou nestes tempos pandêmicos foram os filmes que assisti em casa, a maioria na Netiflix, que oferece séries interessantes ao telespectador. Eu acabava de ver uma e começava outra. Tendo de ficar recolhida em casa, eu me dividia entre leituras e filmes. Redescobri assuntos que tinham ficado na minha infância, até mesmo num passado recente, como a astronomia e as aventuras. Busquei filmes de aventuras, estilo que há tempos não me interessava especialmente.
Lendo crônicas de vários autores, eu me deparei com duas publicadas no Jornal do Brasil há mais de cinquenta anos, que, para mim, são verdadeiros cursos literários neste estilo. A crônica, nas mãos de um hábil escritor, tem o poder de penetrar nos meandros da vida com tamanha competência que chega a tornar surpreendente o mais simples fato quotidiano.
Estava pensando, no início desta semana, que, nesta coluna, tenho abordado apenas alguns estilos, como o conto, a crônica e a poesia, ficando limitada a uma parte do universo literário. Hoje, vou me dedicar ao entrelaçamento entre as vozes da ciência e da literatura.
Suponho que os poetas, repentinamente, sejam tomados pelos mais arrebatadores sentimentos ante os mínimos detalhes, não mais do que pormenores que compõem uma situação, não percebidos pela maioria das pessoas, como o orvalho que escorrega na folha da árvore e cai na calçada de cimento. Mas para o poeta, são de tal forma evidentes que passam a ocupar posição de destaque no ambiente, tornando-se relevantes ao mais simples olhar. Por ter tamanha sensibilidade, o compositor de versos não precisa de lentes de aumento, apenas de sentir-se vivo. Acordado.