A literatura faz a ciência voar

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

A ciência e a literatura são áreas antagônicas que se encontram desde a Antiguidade. A literatura, enquanto cuidadora do emprego das palavras e versátil no uso da linguagem, foi usada pelos três grandes campos do conhecimento científico, os das ciências humanas, biológicas e exatas, como comunicação das descobertas, teorias, princípios e relações observados e constatados. Nesta relação, coube à literatura cuidar da preservação da neutralidade, da isenção de opiniões e posicionamentos ideológicos. A ela, caberia apenas, a função de revelar, através da narração e descrição objetiva dos fatos.

Deste modo, o conhecimento científico, sendo resultante da percepção e reflexão objetiva dos fatos, das suposições e constatações fundamentadas pela pesquisa, necessita da expressão literária, composta pela informalidade, pelo pensamento livre e criativo. Apesar de serem dois trabalhos intelectuais distintos, por conseguinte contraditórios, tiveram que se adequar através da dialética ao longo do tempo, ou seja, as demandas criadas pelas ciências acabaram por determinar as possibilidades literárias. 

A ciência possui um corpo de saber produzido por homens livres, que, por opção própria e de acordo com os centros de interesse individuais, debruçaram-se sobre o exercício da investigação e descoberta dos fatos da natureza física, biológica e humana. O resultado do trabalho científico tem natureza comunicável, capaz de beneficiar a todos os seres deste planeta. É, portanto, extensiva, capaz de aprimorar a história e a cultura da civilização humana.

Ante a ciência, a literatura renuncia aos diversos gêneros, como o romance, a poesia ou a crônica, para, através da prosa objetiva, falar de seus estudos. O cientista não tem comprometimento estético, não se sensibiliza com a beleza no emprego das palavras. É objetivo. Já o literato, motivado pela imaginação, vai além da realidade concreta. É subjetivo e sustentado pela sensibilidade.

Geralmente o cientista é o escritor dos seus trabalhos. Naturalmente, ele lida com a complementariedade que interliga a ciência à literatura. Enquanto cientista, é inquieto, está pronto para ir além na construção do saber. Enquanto literato, ele pode reconhecer as possibilidades e limites do texto.

As disciplinas científicas são cativantes e belas. Como Darwin, Lavoisier, Freud, Dürkheim, Piaget, Einstein e milhares de outros cientistas fizeram seus trabalhos alçarem voo através da literatura. Usando palavras, transformaram o mundo.

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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