A preguiça do escritor

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 05 de julho de 2021

Posso dizer? O escritor tem direito a um dia de preguiça. Sim, senhor! Não é
certo sentir-se culpado por não se sentar à frente de uma folha de papel diariamente e
escrever suas ideias, histórias ou até mesmo devaneios. Mas tem um momento, posso
confessar, que é de todo o seu direito, terminar o dia sem nada escrever. Nenhuma
palavra, sequer rabiscos. É natural que por algumas horas fique cansado de suas frases
e queira perambular que nem as nuvens brancas no céu. Rubem Braga, cronista
capixaba, um dos melhores cronistas brasileiros, admirava, entre uma crônica e outra,
o vagabundear das nuvens do céu de Ipanema. Ah, como são deliciosos esses
momentos.

É até possível que esses tempos, em que nos lambuzamos do nada, possam nos
trazer criatividade. Seja na leitura e na escrita, seja em conversas e observações, nós,
que fazemos do uso das palavras nossa atividade de maior importância, estamos
sempre em processo de criação literária e de estudos históricos, filosóficos e artísticos,
dentre tantas outras áreas do conhecimento e da atividade humana. E não é que,
noutro dia, dei para saber de astronomia? Não paramos, nem dormindo, uma vez que
o cérebro trabalha initerruptamente. Este, sim, é o operário modelo! Talvez, por isso,
eu me conceda o direito ao repouso.
Mas, hoje, quero flanar. Ver navios e gaivotas. Meu pensamento está com sono e
minhas ideias estão adormecendo. Não quero acordá-las, nem jogar sobre elas um
balde de água morna. Fria?! Seria uma impostura.
Por isso, vou deixar aqui apenas esta sensação. Que não é de birra, nem de
desmaio. É de relaxamento. Ao invés de escrever, vou dançar ao som do violino ou
escutar o som misturado das vozes dos deuses do Olimpo, que ficam confabulando
sobre lendas e vidas. Tenho certeza de que os deuses também têm seus dias de
preguiça e queiram se relaxar ao sol e aproveitar a sensação de eternidade.
Como o amanhã será vindouro, tão firme e tão forte, vou estar disposta a
continuar a labuta literária. O escritor é como o músico, dançarino ou o trapezista, ele

precisa, além de elaborar textos, de exercitar-se para aperfeiçoar-se, já que é um
imperfeito construtor.

Estou escrevendo esta coluna com a suavidade das borboletas e a rapidez das
lebres, uma vez que não estou me pondo a pesquisar. Aliás, poderia até fazê-lo para
abordar este momento de preguiça com esmero. Se bem que vou confiar nas minhas
sensações, no que estão me dizendo e até mesmo conceituando a vontade de voar
sobre todas as palavras do mundo. E de conquistar, como os rebeldes, o sono da paz.
Até a próxima semana!

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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