Durante a oficina literária, da qual participo semanalmente, há uns vinte anos, Pablo, antigo companheiro de escrita, escreveu um conto de memória sobre lendas urbanas em que aborda o tema de modo bem-humorado. Como nunca havia escrito a respeito nesta coluna literária, resolvi me debruçar sobre o assunto que corre sorrateiramente pela cidade, principalmente em universidades, escolas e instituições. Onde moro, na Fazenda Bela Vista, há tempos, corriam de boca em boca as histórias das Três Freiras e a do João Cocó que virava lobisomem.
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Estou tocada com Mário de Andrade por vários motivos. O primeiro é que distamos cem anos da Semana de Arte Moderna e sentimos que a arte produzida na época tem atualidade. A seguir, parece que o escritor escreveu, em abril de 1917, para os tempos atuais o livro “Há uma gota de sangue em cada poema”. Em plena Primeira Guerra Mundial, ele extravasa seus sentimentos e critica os horrores vividos pela população e defende a paz. Guerra nada mais é do que uma matança generalizada daqueles que não decidiram fazê-la.
Hoje, quando acordei, a obra de Raul Seixas rondou meus pensamentos. Logo depois Macunaíma, de Mário de Andrade. E, lá fui eu adentrado as construções desses gênios, que pretendiam tocar as pessoas da sua época com suas críticas a partir da insatisfação com o estado de coisas que reinava. Haverá meigas mudanças? Ou sempre se apresentarão de modo irreverente?
Volta e meia fazemos uma descoberta, sendo a maioria inesperada. Ah, a surpresa sempre nos pega desprevenidos, não é? Algumas nos fazem bem, outras nem tanto. Não quero ser maniqueísta, limitando o entendimento das coisas como boas e ruins, mas buscando compreender a singularidade delas, as características, os valores e possibilidades que oferecem. Também seus desafios e riscos. Toda palavra um tem peso que não se dilui ao vento.
Como os dicionaristas sabem disso!
Ontem, terça-feira, dia 12 de abril de 2022, tive a alegria de falar a respeito do poema “Cisnes...” na Livraria Macondo, durante o lançamento do livro Cisnes e outros poemas de Júlio Salusse”, patrono da Academia Friburguense de Letras, por ela editado.
“Cisnes...”, no final do século XIX e início do século XX, traduzido para mais de trinta idiomas, foi um dos poemas mais recitados no mundo. Infelizmente, agora, está esquecido, guardado em estantes, quando deveria ser declamado com frequência pelos quatro cantos do planeta.
Hoje eu me dei o direito de escrever livremente, como uma gaivota que plaina
no ar, sem mistérios nem compromissos, em busca do prazer de voar com plenitude.
Tanto já se falou de palavras neste mundo cheio de cantos e aforas, e eu pouco delas
falei, entretanto muito delas usei. Sou grata às palavras porque por elas sou feita. As
palavras fazem meu texto, e eu os enfeito sinônimos e brinco com os homônimos. São
espaçosas e individualistas! Querem destaque nas frases, exigem estar separadas por
Na semana passada, no Clube de Leitura Vivência, mais uma discussão
acalorada tomou conta de quase todo o encontro. Durante a leitura do conto
contido no livro “Sem Fantasia”, de Elisa Pereira, Venas Abiertas, 2020, uma
personagem que era professora foi denominada de “tia” pela protagonista. Eu
me senti tocada pela referência, até porque, durante a minha formação no
curso de Pedagogia, esta discussão se espalhava pelos corredores e salas de
aula da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro.
Certa vez, fui ao Rio Grande do Norte à passeio. Durante as viagens de avião, ida e volta, que duraram umas três horas cada uma aproximadamente, li “Um sopro de Vida”, de Clarice Lispector. Na época, eu estava começando a aprender a escrever, engatinhava, na verdade; mal conseguia ficar de pé. Esse livro me marcou por vários motivos. Primeiro porque foi a última obra que Clarice escreveu, tendo sido publicada após a sua morte.
“Tudo muda, nada é para sempre”. Esta foi a frase que brotou no meu
pensamento quando soube que a Papelaria Arabesco irá fechar as portas em
breve. Durante anos a Arabesco, também livraria, nos ofereceu bons livros.
Inclusive os que escrevi foram por ela acolhidos e expostos cuidadosamente
em suas estantes.
Tudo se transforma neste mundo dinâmico. Quando um lugar de livros é
fechado, surgem tristeza e vazios carregados de lembranças. Certamente,
esse lugar de comércio será substituído por outro; soube que será uma
padaria, a Dona Emília.
Hoje, vou escrever sobre a mulher. Não especialmente a respeito da literatura. Se bem que todo ser vivo é pura literatura ao reunir e misturar as histórias de diversas entidades que possam constituí-lo, como a da criatura, do sujeito, da pessoa e a do indivíduo. Todo e qualquer ser é o mais completo protagonista, é contundente narrador dos fatos experimentados. O mais dramático, inusitado e cômico personagem das cenas vividas.