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O primor de ser amigo
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Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
“De um amigo ninguém se livra fácil. A amizade, além de contagiosa, é totalmente incurável.”
Vinícius de Moraes
Na semana passada fui ao aniversário de 80 anos de uma amiga, aquela pessoa de quem gosto escutar dizer meu nome e que tem um modo de ser unicamente especial que tanto me sensibiliza. Lá me encontrei com outras duas antigas amigas. Conversamos, rimos e tiramos fotos. Numa das fotografias nós quatro estávamos abraçadas, expressando o prazer de nos ter guardado vida afora. De repente, uma delas me disse: “não cobramos nada uma das outras, nós nos aceitamos do jeito que somos.” Eu concordei, quase num momento de Aleph, revendo tudo o que vivemos.
Trouxe esse encontro para minha coluna literária porque escrevo sobre aquele momento divino com alma, fazendo da literatura um louvor à amizade. Guardar um amigo é ter simplicidade e delicadeza com que cuidamos dele e de nós. Sim, de nós. Será que quem pouco ou não se ama consegue cultivar amigos? Aquele que os cultua sabe farejar estados de espírito e perceber o outro com plenitude num piscar de olhos. Nada é mais primoroso do que torná-lo importante em nossa vida. Da mesma forma fazê-lo nos gostar como uma pessoa amiga.
Quando escrevi o livro infantil “Um Cão Cheio de Ideias” contei a história da amizade entre um cachorro com poucos meses de vida, Labareda, e Chama, um coelho-do-mato, que desafiava o filhote e o fazia de bobo todos os dias com sua agilidade e velocidade. Mas houve um incêndio na mata e Labareda o salvou. O coelho-do-mato ficou com a pata ferida e não pode mais correr. Os dois, então, reconstruíram a relação quando o cachorro, solidário, passou a fazer companhia ao coelho, e eles foram buscando outras formas de brincar. Ao escrever a história, fui percebendo os valores contidos no primor, enquanto cuidado, delicadeza e entendimento das limitações do outro. Labareda não quis brincar com outro coelho, foi descobrindo, dia a dia, o prazer em estar ao lado de Chama debaixo das árvores, sentindo o cheiro da natureza e curtindo a presença do amigo.
Agora, mais uma vez, vejo que a amizade é alimentada pelas atitudes primorosas. Vinícius de Moraes, o eterno mestre do amor, soube construir uma ideia criativa e sutil para defini-la. Depois de mergulhar nas palavras dele, concluo que a amizade é uma afeição que pode ser considerada uma eficiente vitamina existencial; o amigo é um bom ouvinte, médico e parceiro, que não precisa estar diariamente ao nosso lado, basta sabermos que ele está vivendo no mesmo tempo que nós e que, a qualquer momento, podemos lhe dar um alô para saber como está e dizer como estamos. É um trunfo do destino ao nos oferecer uma pessoa de quem espontaneamente gostamos e nos acolhe com o calor do afeto, principalmente quando as lágrimas caem sobre nossos pés. Uma amizade, quando nasce, pulsa em nós como um coração.
No aniversário da dessa minha amiga Glória, tive a sensação da reciprocidade. Um sentimento que anda rareando por aí. Não sei se posso afirmar isso com veemência, mas os sentimentos estão sendo tocados pelo imediatismo e sobrevoam nossos dias com a velocidade dos supersônicos.
Para terminar, deixo uma afirmação simples e verdadeira de Mário Quintana: “A amizade é um amor que nunca morre.”
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Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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