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CNBB 72 anos: evangelizar sempre

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Os 72 anos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, celebrados no ultimo dia 14 de outubro, foram marcados por uma missa, presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, dom Giambatistta Diquatro, e concelebrada pelos bispos auxiliares de Brasília, dom Ricardo Hoepers, secretário-geral da CNBB, dom Antônio Aparecido de Marcos Filho e dom Denilson Geraldo. Também concelebraram os padres assessores das Comissões da Conferência, do ordinariado militar e da nunciatura. Os frades do Santuário São Francisco de Assis animaram os cantos da celebração.

Os 72 anos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, celebrados no ultimo dia 14 de outubro, foram marcados por uma missa, presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, dom Giambatistta Diquatro, e concelebrada pelos bispos auxiliares de Brasília, dom Ricardo Hoepers, secretário-geral da CNBB, dom Antônio Aparecido de Marcos Filho e dom Denilson Geraldo. Também concelebraram os padres assessores das Comissões da Conferência, do ordinariado militar e da nunciatura. Os frades do Santuário São Francisco de Assis animaram os cantos da celebração.

Dom João Justino de Medeiros Silva, arcebispo de Goiânia e primeiro vice-presidente da CNBB, em razão de saúde não pode celebrar como estava previsto, mas trechos de sua homilia, escrita especialmente para a celebração, foram lidos pelo secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoespers. A homilia destacou inicialmente a alegria de ter o que agradecer – os 72 anos da CNBB – em torno da mesa da Eucaristia. “Tudo aqui tem a ver com a fé em nosso Senhor Jesus Cristo”, refletiu.

Apóstolos Suos

A homilia destacou um trecho do que diz a Carta Apostólica de São João Paulo II, de maio de 1998, sobre o sentido de uma conferência episcopal: “Instituição permanente, como agrupamento dos Bispos de uma nação ou determinado território, que exercem em conjunto certas funções pastorais a favor dos fieis do seu território, a fim de promoverem o maior bem que a Igreja oferece aos homens, sobretudo por formas e métodos de apostolado convenientemente ajustados às circunstâncias do tempo e do lugar, nos termos do direito”.

Dom Ricardo destacou que tal compreensão se verifica na história da CNBB. “Hoje estamos aqui na sede da CNBB para agradecer os 72 anos de história desta que é uma das mais antigas e maiores conferências de bispos do mundo. O sonho de comunhão, participação e missão tem uma longa trajetória da Igreja no Brasil. Foi antes mesmo do Concílio Vaticano II, com o empenho de dom Helder Câmara, que foi criada com sede no Rio de Janeiro, então capital federal, a CNBB em 14 de outubro de 1952”, ressaltou.

De acordo com o texto da homilia, desde então a evangelização proposta pela Igreja Católica no Brasil tornou-se cada vez mais um projeto eclesial articulado, organizado, planejado e avaliado com o zelo apostólico das centenas de bispos que serviram e servem ao povo brasileiro.

Igreja sinodal

“Evitando qualquer sombra de orgulho, não é exagero afirmar que a Igreja no Brasil antecipou nas estruturas de sua Conferência Episcopal alguns dos principais traços de uma Igreja sinodal. Os encontros, as assembleias, os estudos, as análises, as conversações, os debates… sempre estiveram presentes como passos em busca de uma palavra sólida que animassem as comunidades, seus membros e servidores”, destacou um trecho.

Na homilia também foi destacado a história de planejamento da ação evangelizadora que remonta ao Plano de Emergência, ou o primeiro Plano de Pastoral da Igreja do Brasil, elaborado no início dos anos 1960 em resposta ao pedido do Papa São João XXIII. “Desde então, os bispos brasileiros nunca deixaram de se encontrar e, entre suas atividades, de propor de tempos em tempos, novas e atualizadas diretrizes evangelizadoras”.

Em outro trecho, foi ressaltado que o mandato de evangelizar permanece sempre como a palavra de ordem da CNBB, como está descrito em seu objetivo geral. Dom Ricardo reforçou na homilia que a CNBB é um organismo composto por bispos, mas que sempre pode contar com inúmeros colaboradores: homens e mulheres, padres e religiosas, leigos e leigas, que na comunhão da mesma fé se somaram aos bispos para ver a Igreja do Brasil realizar sua missão de evangelizar.

Ao final da celebração, o Núncio Apostólico no Brasil, dom Giambatistta Diquatro, destacou o fato de dom Jaime ter assumido a presidência do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho, o Celam, o que representa a importância da Igreja no Brasil para a América Latina e também para a Igreja de Roma, com sua recente nomeação como cardeal.

“Devemos todos trabalhar juntos para que a Igreja, corpo de Cristo, se fortaleça cada vez mais também com a doação da Igreja no Brasil”, disse.

Fonte: CNBB

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A missão da Igreja nos documentos do Magistério

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Neste mês que a Igreja Católica dedica às missões, para uma reflexão, animação, planejamento e aprofundamento da espiritualidade missionária, queremos de forma sintética oferecer um roteiro para o estudo e aplicação desta importante tarefa, mandato de Cristo e exigência do seu Amor salvador e solidário.

Neste mês que a Igreja Católica dedica às missões, para uma reflexão, animação, planejamento e aprofundamento da espiritualidade missionária, queremos de forma sintética oferecer um roteiro para o estudo e aplicação desta importante tarefa, mandato de Cristo e exigência do seu Amor salvador e solidário.

Uma visão global do mundo de hoje evidencia que é urgente que se ponha toda a Igreja em estado de missão, como já anunciava o Cardeal João Batista Montini, antes de ser elevado ao pontificado como Papa Paulo VI, prefaciando o livro de um outro grande profeta, Dom Leo-Jozef Suenens, "Novos Rumos da Igreja Missionária" (1956). Da mesma forma, o Código de Direito Canônico de 1983, reafirmando o decreto Ad Gentes do Concílio Vaticano II (AG 2,5 e 6), diz que toda Igreja é, por sua natureza, missionária e, por isso, todos os fiéis cristãos (hierarquia, religiosos e leigos) devem assumir a obra missionária, sob a direção suprema do Sumo Pontífice do Colégio dos Bispos, salientando-se a solicitude especial de cada bispo (cf cânones 781 e 782, 1 e 2).

Neste sentido insistiram os grandes apóstolos da missão, São Paulo VI e São João Paulo II, respectivamente com a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi ,1975 e a Carta Encíclica Redemptoris Missio, 1990, de forma especial trabalhando o tema da evangelização e da missão frente aos desafios do mundo contemporâneo descristianizado (EN 14,15 e capítulo V e VI), na convocação a um renovado empenho missionário, com novos métodos com a encarnação do Evangelho na cultura dos povos, diante dos imensos horizontes da missão ad gentes, nestes novos areópagos modernos, tendo o Espírito Santo como protagonista, com a comunhão e cooperação de todos os agentes e responsáveis pela atividade missionária (RMi 2; 21-30; 31-38; capítulo VI e VII).

Na mesma esteira vão os ensinamentos dos papas Bento XVI, baseando a missão na redescoberta do caminho da Fé, na comunhão com o Deus-Amor, Palavra e Eucaristia e no "testemunho da caridade"- a Nova Evangelização para a transmissão da Fé , superando os niilismos e relativismos da sociedade atual (Deus Caritas Est - 2005; Porta Fidei - 2011, dentre outros) e Francisco, no seu Magistério Petrino, especialmente com a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013), propondo uma total renovação da Igreja, na alegria de evangelizar, numa conversão pastoral, numa Igreja em saída, em estado permanente de missão, reforçando a nova evangelização e todo o conteúdo teológico missionário dos outros papas e do Concílio Vaticano II, com grande acento para a Constituição Pastoral Gaudium et Spes.

Resumindo: o Evangelho do Senhor que salga e ilumina, através da missão da Igreja, todas as realidades humanas, pessoal, familiar, social, cultural, política, econômica, artística, corporal, psicológica, educacional, espiritual, etc... no inseparável testemunho missionário da caridade evangélica que não pode deixar de resgatar a dignidade humana, promovendo e libertando a pessoa humana integralmente, mergulhando-a no mistério salvífico de Cristo (EG 14-15; 21-23; CAPÍTULO III e IV).

Este impulso com novo ardor todos os batizados devem assumir. Também os institutos de vida consagrada, os leigos devidamente instruídos e os catequistas são convocados para a grande campanha de âmbito universal e de assinalado interesse local nas Igrejas particulares (cânones 783 e 785,1 e 2). Os leigos, de forma específica são chamados ao apostolado missionário no mundo, conteúdo claro apontado no Decreto Conciliar Apostolicam Actuositatem, reafirmado e explicitado na Exortação Apostólica Christifidelis Laici (1988), de São João Paulo II.

Sobre este tema é muito rico o documento 105 da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sobre a identidade, vocação e missão dos leigos que, incorporados a Cristo pelo batismo e, participando de Seu Sacerdócio comum, exercem também o tríplice múnus de santificar, ensinar e pastorear, como sujeitos eclesiais, em continuidade com o Magistério Conciliar (cf Lumen Gentium 31), na cooperação em comunhão com o Sacerdócio ministerial dos Pastores e ministros ordenados.

Há ainda o esforço missionário ecumênico, como sinal testemunhal da própria natureza da Igreja comunhão de um só rebanho e um só Pastor, buscando a reintegração da unidade dos cristãos, na esteira do Decreto conciliar Unitatis Redintegratio, impulsionado pela carta encíclica Ut Unum Sint de São João Paulo II (1995), reafirmado pelo Magistério Pontifício posterior, não como algo facultativo, mas como essencial e inerente à identidade e missão eclesial.

Vários pontos primordiais da ação missionária são recolhidos e apresentados no Código de Direito Canônico: o diálogo dos missionários, com o reforço do testemunho da vida e da palavra, com os que não têm a fé em Cristo; o respeito à índole e cultura dos povos aos quais se leva o anúncio do Evangelho (cf cânon 787,1); a cooperação de todas as dioceses (cf cânon 791); a organização do catecumenato segundo as diretrizes da Conferência dos Bispos ( cf cânon 788,3)

Vemos em todo o ensinamento magisterial conciliar e pontifício, refletidos na normativa canônica, ou nos ecos posteriores, uma continuidade e riqueza na sensibilidade pastoral em relação a cada tempo, enfrentando os novos desafios dos âmbitos da missão, preservando o patrimônio da Fé, numa visão inculturada, dialogal, testemunhal, de anúncio da Boa Nova, através do serviço da Caridade, na condução do Espírito Santo.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo

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Papa: súplica a Nossa Senhora pela paz no mundo

terça-feira, 08 de outubro de 2024

O Papa Francisco se uniu aos fiéis do mundo inteiro a partir da Basílica de Santa Maria Maior de Roma no último domingo, 6, onde também estavam os mais de 350 membros que participam da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos em andamento no Vaticano até o próximo dia 27.

O Papa Francisco se uniu aos fiéis do mundo inteiro a partir da Basílica de Santa Maria Maior de Roma no último domingo, 6, onde também estavam os mais de 350 membros que participam da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos em andamento no Vaticano até o próximo dia 27. O momento de oração do terço em súplica a Nossa Senhora para interceder a Deus pelo dom da paz no mundo foi o primeiro de dois dias envolvidos na mesma intenção, já que nesta segunda-feira, 7, data que marcou um ano do ataque terrorista do Hamas contra Israel que desencadeou a guerra no Oriente Médio, o Pontífice convocou um Dia de Oração e Jejum.

As duas iniciativas são realizadas nesta "hora dramática de nossa história, enquanto os ventos da guerra e os fogos da violência continuam a devastar povos e nações inteiras", antecipava o Papa na missa de abertura da assembleia sinodal na última quarta-feira, 2.

Ao final da recitação do Santo Rosário na basílica vaticana para invocar a paz, o Papa Francisco fez uma oração especial a Nossa Senhora suplicando: "Acolhei o nosso grito!", pediu Francisco, além de "nos socorrer nestes tempos subjugados pela injustiça e devastados pelas guerras, enxugai as lágrimas dos rostos sofredores de quem chora a morte dos seus entes queridos, dos filhos, despertai-nos do torpor que obscureceu o nosso caminho e tirai do nosso coração as armas da violência, para que se realize sem demora a profecia de Isaías: «transformarão as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças, em foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se adestrarão mais para a guerra» (Is 2,4)".

Ao recordar todos os povos que sofrem com a dramática situação de guerras, o Pontífice também pediu a intercessão de Maria para voltar o seu "olhar maternal para a família humana, que perdeu a alegria da paz e o sentido da fraternidade. Intercedei pelo nosso mundo em perigo, para que preserve a vida e rejeite a guerra, cuide dos que sofrem, dos pobres, dos indefesos, dos doentes e dos aflitos, e proteja a nossa Casa Comum".

 

“Ó Rainha da Paz, de Vós imploramos, Mãe, a misericórdia de Deus. Convertei os que alimentam o ódio, silenciai o ruído das armas que geram a morte, extingui a violência que grassa no coração humano e inspirai projetos de paz nas mãos de quem governa as Nações. E agora Vos suplicamos: acolhei o nosso grito!"

 

Agora, propomos na íntegra a oração do Papa Francisco em súplica a Nossa Senhora pelo dom da paz no mundo:

 

"Ó Maria, nossa Mãe, eis-nos aqui de novo na vossa presença. Vós conheceis as dores e os cansaços que nesta hora pesam sobre os nossos corações. Para Vós, erguemos os nossos olhos; sob o vosso olhar encontramos refúgio; e ao vosso coração nos confiamos.

Também para Vós, ó Mãe, a vida reservou provações difíceis e receios humanos, mas fostes corajosa e audaz: tudo confiastes a Deus, respondendo-Lhe com amor e oferecendo-Vos a Vós mesma sem reservas. Como intrépida Mulher da Caridade, apressastes-Vos a socorrer Isabel; com prontidão, acolhestes a necessidade dos esposos nas bodas de Caná; e com fortaleza de espírito, iluminastes no Calvário a noite da dor com a esperança pascal.

Por fim, com ternura de Mãe, infundistes coragem aos discípulos atemorizados no Cenáculo e, com eles, acolhestes o dom do Espírito.

E agora Vos suplicamos: acolhei o nosso grito! Precisamos do vosso olhar, do vosso olhar de amor que nos convida a confiar no vosso Filho Jesus.

Vós que estais disposta a acolher as nossas mágoas, vinde socorrer-nos nestes tempos subjugados pela injustiça e devastados pelas guerras, enxugai as lágrimas dos rostos sofredores de quem chora a morte dos seus entes queridos, dos filhos, despertai-nos do torpor que obscureceu o nosso caminho e tirai do nosso coração as armas da violência, para que se realize sem demora a profecia de Isaías: «transformarão as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças, em foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se adestrarão mais para a guerra» (Is 2, 4).

Mãe, voltai o vosso olhar maternal para a família humana, que perdeu a alegria da paz e o sentido da fraternidade. Mãe, intercedei pelo nosso mundo em perigo, para que preserve a vida e rejeite a guerra, cuide dos que sofrem, dos pobres, dos indefesos, dos doentes e dos aflitos, e proteja a nossa Casa Comum.

Ó Rainha da Paz, de Vós imploramos, Mãe, a misericórdia de Deus. Convertei os que alimentam o ódio, silenciai o ruído das armas que geram a morte, extingui a violência que grassa no coração humano e inspirai projetos de paz nas mãos de quem governa as Nações.

Maria, Rainha do Santo Rosário, desatai os nós do egoísmo e dissipai as nuvens sombrias do mal. Enchei-nos com a vossa ternura, levantai-nos com a vossa mão carinhosa e dai a estes filhos, a vossa carícia de Mãe, que nos faz esperar o advento de uma nova humanidade onde «o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma floresta. Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. A paz será obra da justiça» (Is 32, 15-17).

Ó Mãe, Salus Populi Romani, rogai por nós!"

 

Fonte Vatican News

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Papa: luta contra a economia criminosa – Parte 2

terça-feira, 01 de outubro de 2024

Continuamos hoje com as considerações do Papa Francisco no evento “Plantar uma barreira diante da desumanização”, ocorrido no último dia 20 de setembro, em Roma, em meio as celebrações do 10º aniversário do 1º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (EMMP).    

O grito dos excluídos 

Continuamos hoje com as considerações do Papa Francisco no evento “Plantar uma barreira diante da desumanização”, ocorrido no último dia 20 de setembro, em Roma, em meio as celebrações do 10º aniversário do 1º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (EMMP).    

O grito dos excluídos 

Competir cegamente “para ter cada vez mais dinheiro não é uma força criativa, mas uma atitude pouco saudável, um caminho para a perdição”, diz o papa, que considera este comportamento “irresponsável, imoral e irracional”, porque “destrói a criação e divide as pessoas" e isso não deve se deixar de denunciar, pois "o grito dos excluídos pode também despertar as consciências adormecidas de muitos líderes políticos", a quem cabe "fazer valer os direitos econômicos, sociais e culturais", que são "reconhecidos por quase todos os países, pelas Nações Unidas, pela doutrina social de todas as religiões, mas que muitas vezes não se manifestam na realidade socioeconômica”.

Compaixão

A justiça social deve ser acompanhada pela compaixão, que “significa sofrer com o outro, partilhar os sentimentos dos outros” e “não consiste em dar esmolas” aos necessitados, “olhando para eles de cima para baixo, olhando para eles a partir das próprias seguranças e dos próprios privilégio", "compaixão significa aproximar-se uns dos outros", a compaixão é carnal, fraterna, profunda. Que compartilhemos o mesmo sofrimento ou sejamos movidos pelo sofrimento dos outros. A verdadeira compaixão constrói a unidade das pessoas e a beleza do mundo.

Ninguém deve ser desprezado 

O Papa denuncia também “a ‘cultura do vencedor’ que é um aspecto da ‘cultura do descarte”, aquela prática, por parte de quem, forte por “certos sucessos mundanos” - muitas vezes “fruto da exploração das pessoas e da pilhagem da natureza" ou produtos "da especulação financeira ou da evasão fiscal", ou da "corrupção ou do crime organizado" - sente "o direito de desprezar arrogantemente os 'perdedores'".

Mas “esta atitude arrogante”, “o exultar da própria supremacia sobre os que estão em pior situação” -  que “é o oposto da compaixão” - “não acontece apenas com os mais ricos, muitas pessoas caem nesta tentação”, alerta Francisco. Este “olhar de longe, de cima, com indiferença, com desprezo, com ódio”, gera violência, gera “silêncio indiferente”. E “o silêncio diante da injustiça abre caminho à divisão social, a divisão social abre caminho à violência verbal, a violência verbal abre caminho à violência física, a violência física à guerra de todos contra todos” sublinha Francisco, acrescentando que somente quando se tem que ajudar uma pessoa a se levantar, se pode olhar para ela de cima para baixo.

É necessário o amor 

É preciso amor. É em síntese a reflexão de Francisco. Este amor é aquele visto pelo pontífice em Díli, na escola “Irmãs Alma” que acolhe crianças com deficiência ou com malformações. “Sem amor isto não se compreende”, confidencia o papa ter pensado ao visitar a estrutura. “Se o amor é eliminado como categoria teológica, ética, econômica e política, perde-se o rumo”, por isso “a justiça social, e também a ecologia integral, só podem ser compreendidas por meio do amor”, porque “sem amor não somos nada”, repete.

Darwinismo social 

Na ganância matemática da conveniência e do individualismo, prepondera alguma forma de “darwinismo social”, a "lei do mais forte" que justifica primeiro a indiferença, depois a crueldade e, finalmente, o “extermínio”. Tudo isto “vem do Maligno”. Mais uma vez, o papa exorta a perder a memória histórica e recorda a imagem que lhe é cara do “poliedro”, da família humana e da casa comum, tornada resplandecente pelos valores universais desenvolvidos a partir das raízes de cada povo. “Lembremo-nos disso: global, mas não universal”, diz ele. Hoje, quando busca-se “padronizar e subjugar tudo”, é preciso ter cuidado. Cuidado com os “crocodilos” que se camuflam, “pulando como cangurus” e depois mordem.

O drama do crime organizado 

Por fim, o papa centra-se em um tema que o preocupa muito: as muitas formas de criminalidade organizada que “crescem nas terras aradas pela pobreza e pela exclusão”: “Tráfico de drogas, prostituição infantil, tráfico de seres humanos, violência brutal”. Este drama deve ser enfrentado: "Sei que vocês não são polícias, sei que não podem enfrentar diretamente os grupos criminosos", diz aos Movimentos Populares, mas "continuem a combater a economia criminosa com a economia popular. Não desistam... Nenhuma pessoa, especialmente nenhuma criança, pode ser uma mercadoria nas mãos dos traficantes de morte, os mesmos que depois lavam o dinheiro sangrento e jantam como respeitáveis cavalheiros nos melhores restaurantes."

Apostas online e crimes virtuais 

Neste contexto trágico, o papa não esquece o flagelo das apostas online: “É uma dependência... Significa colocar as mãos nos bolsos das pessoas, sobretudo dos trabalhadores e dos pobres. Isso destrói famílias inteiras." Na verdade, existem doenças mentais, desespero e suicídios causados por “ter um cassino em cada casa pelo celular”.

O pontífice faz um apelo aos empresários de informática e inteligência artificial: “Parem com a arrogância de acreditar que estão acima da lei. Previnam a disseminação do ódio, da violência, das fakenews, do racismo e impeçam que as redes sejam utilizadas para difundir pornografia infantil ou outros crimes."

Salário básico universal 

Francisco relançou a proposta de um salário básico universal para que “ninguém fique excluído dos bens primários necessários à subsistência”. Depois, expressou um desejo pessoal: "Gostaria que as novas gerações encontrassem um mundo muito melhor do que aquele que recebemos!". Isto é, um mundo que não seja ensanguentado pelas guerras e pela violência, ferido pelas desigualdades, devastado pela pilhagem da natureza, pelos modos de comunicação desumanizados, com poucas utopias e enormes ameaças. A realidade diz o contrário, mas devemos sempre ter esperança. “A esperança – garante Francisco – é a virtude mais débil, mas não desilude”. Nunca!

Fonte: Vatican News

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Papa: luta contra a economia criminosa

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Francisco chega discretamente ao Palazzo San Calisto, no coração do bairro Trastevere, onde está sediado o Dicastério  do Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que no dia 20 de setembro, acolheu o evento “Plantar uma bandeira diante da desumanização”, no décimo aniversário do primeiro Encontro Mundial dos Movimentos Populares (EMMP) com o Papa Francisco realizado em Roma.

Francisco chega discretamente ao Palazzo San Calisto, no coração do bairro Trastevere, onde está sediado o Dicastério  do Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que no dia 20 de setembro, acolheu o evento “Plantar uma bandeira diante da desumanização”, no décimo aniversário do primeiro Encontro Mundial dos Movimentos Populares (EMMP) com o Papa Francisco realizado em Roma.

O “Encontro”, espaço de fraternidade entre organizações de base dos cinco continentes que conta com uma plataforma que visa promover a cultura do encontro em favor dos 3Ts (techo, tierra y trabajo, ou teto, terra e trabalho), por meio desta iniciativa se propõe a dialogar e refletir sobre o caminho percorrido desde 2014 para enfrentar os desafios atuais em favor da justiça social e da paz na nossa casa comum.

E o Papa, ao chegar à mesa dos participantes, escuta o diálogo entre aqueles que nos últimos anos se comprometeram a garantir que nenhuma família fique sem casa, “nenhum agricultor sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que deriva do trabalho”, como afirma o lema do EMMP.

Promover a fraternidade

O discurso do Papa é longo, proferido em espanhol e intercalado com vários adendos de improviso, e aborda os temas da justiça social, que convida a cuidar dos mais desfavorecidos, dos idosos e das crianças, a ter " compaixão", isto é, “sofrer com”, estar ao lado dos outros, ser voz daqueles que não têm voz, porque estão à margem da sociedade ou são ignorados. Mas Francisco também convida as pessoas mais avantajadas a colocarem à disposição os seus bens, porque “as riquezas são feitas para serem partilhadas, para criar, para promover a fraternidade”, e recorda que “sem o amor não somos nada” e que é preciso agir de forma que este amor seja eficaz em todas as relações, porque tudo deve ser feito com amor e que é preciso insistir para que exista justiça, tal como fez a viúva do Evangelho, sem violência.

A ganância dos ricos 

O Pontífice recorda, antes de tudo, o que foi escrito no início do seu pontificado na Evangelii gaudium, reiterando que até que “os problemas dos pobres sejam radicalmente resolvidos, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade, não se resolverá nenhum problema  do mundo, em última análise, nenhum problema." Porque “dependemos todos dos pobres, todos, também os ricos”.

Confia que há quem lhe disse de falar muito dos pobres e pouco da classe média e pede desculpas por isso, mas ressalta que a centralidade dos pobres no Evangelho não pode ser negada e que, portanto, não é o Papa que os coloca no centro das atenções, mas Jesus, por isso “é uma questão da nossa fé e não pode ser negociada”.

Se não houver “boas políticas, políticas racionais e justas que fortaleçam a justiça social para que todos tenham terra, teto, trabalho, para que todos tenham um salário justo e direitos sociais adequados – diz ele – a lógica do descarte material e do descarte humano irá se difundir, deixando espaço para a violência e a desolação":

Infelizmente, muitas vezes são precisamente os mais ricos que se opõem à realização da justiça social ou da ecologia integral por pura ganância. Mascaram, sim, esta ganância com a ideologia, mas é a velha e conhecida ganância. Fazem pressão sobre os governos para que apoiem más políticas que os favoreçam economicamente.

Partilhar os bens

O desejo do Papa é que “as pessoas economicamente poderosas saiam do isolamento, rejeitem a falsa segurança do dinheiro e se abram à partilha de bens, que têm um destino universal porque derivam todos da Criação”.

As riquezas devem ser partilhadas, insiste o Pontífice, “não como esmola”, mas “fraternalmente”. E para que os pobres sejam ajudados, o seu convite aos movimentos populares é o de pedir, gritar, lutar, solicitar as consciências, porque “avança uma forma perversa de ver a realidade”, que “exalta a acumulação de riquezas como se fosse uma virtude”", e ao invés disso é um vício:

Acumular não é virtuoso, não é virtuoso, distribuir é. Jesus não acumulava, multiplicava, mas multiplicava e seus discípulos distribuíam. Recordem-se que Jesus nos disse: “Não ajunteis para vós tesou­ros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração."

Continua na próxima semana

Fonte: Vatican News

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A mãe e o filho amado a caminho do Calvário

terça-feira, 17 de setembro de 2024

O dia 15 de setembro é dedicado à Nossa querida Mãe Maria, sob o título de Nossa Senhora das Dores. Maria é aquela que diz sim ao Plano de Deus e aceita a cruz da missão de gerar o Filho de Deus feito homem e doar a vida por Ele. Nesta missão, a Mãe do Redentor experimenta as dores por amor ao seu amado Filho: a fuga para o Egito, a perda do menino, a Paixão, a crucificação, a morte e sepultura de Jesus.

 

O dia 15 de setembro é dedicado à Nossa querida Mãe Maria, sob o título de Nossa Senhora das Dores. Maria é aquela que diz sim ao Plano de Deus e aceita a cruz da missão de gerar o Filho de Deus feito homem e doar a vida por Ele. Nesta missão, a Mãe do Redentor experimenta as dores por amor ao seu amado Filho: a fuga para o Egito, a perda do menino, a Paixão, a crucificação, a morte e sepultura de Jesus.

 

PELOS OLHOS DE MARIA, as janelas de todo o cosmo e de toda a humanidade, perplexos, estupefatos, atordoados com tanta dor, aprendemos a silenciar o mistério, mesmo entre lágrimas, confiantes na vitória e Palavra divina. Quanta intensidade neste mergulho entre os olhares da Mãe dolorosa e do filho desfigurado, quantas mensagens infinitas de amor trocadas, caladas profundamente no silêncio do testemunho da vítima pascal e da única carne com Ele da Nova Eva que caminhava para ser crucificada também com Ele, como dizia São Guilherme, junto ao Novo Adão. Ali se uniam os três "faça-se": o do Gênesis, o de Nazaré e o do Getsêmani, para gerar uma nova criação, numa nova Aliança pela obediência e pelo "sim" de servos do Amor do Pai, uma nova humanidade na ordem da Graça. Também nós, pelos olhos de Maria, devemos contemplar Jesus no silêncio de amor, dizendo o nosso "sim", entregando-nos a Ele, como cooperadores de sua Paixão redentora, para estendermos sua salvação a todos os irmãos.

 

PELOS PÉS DE MARIA, apressados, sofridos, feridos, ao correr para o filho, ao se esforçar para firmar-se em frente e próximo ao fruto de seu ventre, injustiçado e chagado, enquanto era repelida e afastada pelos cruéis algozes e opositores, entre insultos e humilhações, aprendemos que devemos ser resilientes e manter a direção certa rumo a Jesus, sendo ridicularizados com Ele, nos identificando com o seu sacrifício, caminhando com Ele, nos aproximando sempre mais da sua cruz e do seu rosto, carregando com paciência a nossa cruz, sendo também Cirineus do Senhor nos irmãos, mesmo que o mundo cruel nos queira separar do seu amor redentor.

 

PELAS MÃOS DE MARIA, que acariciaram o rosto de Jesus, que, por segundos, tocaram a eternidade, entre suor, sangue e lágrimas e relembraram todo o carinho da Mãe amorosa ao seu filho no ventre, ao seu menino no colo, tocando e beijando várias vezes a sua face, protegendo-o das quedas nos primeiros passos e dos perigos da infância e da adolescência, com zelo e aconchego, que o acompanharam no abraço firme e sereno, confirmando-o na sua disposição jovem e adulta a cumprir a vontade do Pai com total obediência, a qual nem ela mesma conhecia completamente, aprendemos a tocar o rosto de Jesus, num encontro pessoal de amor, tocando também o rosto ensanguentado de nossos irmãos, marcados pela dor, sofrimentos, desfigurações do pecado e a não nos esquivamos deles. Vendo neles os meninos e meninas que devem também ser protegidos das quedas e curados dos ferimentos e machucados, acariciados pela misericórdia divina, os filhos que envolvidos pelos braços da Mãe Igreja, a exemplo da Mãe das Dores, passam da morte para a vida, pelo poder de Deus.

 

PELO CORAÇÃO TRANSPASSADO DE MARIA, cumprindo a dura profecia de Simeão, ferido pela espada da Palavra que se descortinava em Paixão, açoitado e desnudado pela ingratidão e ódio dos homens, coroado de espinhos pela humilhação e injustiça, dos golpes desferidos contra seu filho querido e amado, ultimados na lança fatal que também transpassará sua alma, aprendemos que também nossos corações missionários devem se associar a esse martírio-discipulado de deixar-se atravessar pela Verdade-Cristo, assumindo o ônus e a kénosis da missão de dar toda a vida pelo Evangelho do Amor-salvação. O grande exemplo: o coração imaculado e também transpassado de Nossa querida Mãe da Graça, a primeira discípula-missionária de seu filho, Jesus.

 

Ajudai-nos, Maria, nesta Sacra e difícil Via, a seguirmos por vossos olhos, por vossos pés, por vossas mãos e por vosso santíssimo coração transpassado, o Vosso amado e Santíssimo filho, Deus feito homem, Filho Redentor, cooperando nesta sempre urgente obra de salvação de todos os irmãos, na cruz-missão da Igreja! Amém.

 

Pe. Luiz Claudio Azevedo de Mendonça, membro da Academia Marial de Aparecida, Assessor Eclesiástico da Comunicação Institucional

Fonte: Revista de Aparecida

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O cristianismo, uma história de rostos

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Em Papua-Nova Guiné, Francisco, em Vanimo, realizou seu sonho de abraçar a periferia mais periférica do mundo. O cristianismo não é uma filosofia, uma ideia, um manual de regras morais. O cristianismo é um evento entrelaçado com maravilhas e rostos. Em Vanimo e depois no remoto vilarejo de Baro, em uma tarde abafada de domingo, tivemos a prova disso mais uma vez.

Em Papua-Nova Guiné, Francisco, em Vanimo, realizou seu sonho de abraçar a periferia mais periférica do mundo. O cristianismo não é uma filosofia, uma ideia, um manual de regras morais. O cristianismo é um evento entrelaçado com maravilhas e rostos. Em Vanimo e depois no remoto vilarejo de Baro, em uma tarde abafada de domingo, tivemos a prova disso mais uma vez. Havia espanto e gratidão nos rostos de Miguel De la Calle, Martín Prado e Tomás Ravaioli, os missionários argentinos do Verbo Encarnado que, com alegria, gastam suas vidas anunciando o Evangelho na periferia do mundo, nessa bela terra que tem as cores das pinturas de Paul Gauguin. 

Havia espanto e gratidão no rosto de Francisco, que, com quase 88 anos de idade, confinado a uma cadeira de rodas, embarcou em um Hércules C130 da Força Aérea Australiana repleto de pacotes de ajuda e presentes, para coroar um sonho cultivado ao longo de uma década: o de estar aqui, com eles, e abraçar com o olhar e as mãos de um velho padre jesuíta transformado em pastor universal aqueles homens felizes, vestidos de branco como ele, e acima de tudo o seu povo. Essas pessoas que aprenderam a conhecer a Mãe de Jesus pelo rosto de “Mama Luján”, a padroeira da Argentina.

Era preciso vê-lo, o Papa Francisco, sentado na pequena sala da casa de madeira coberta com mosquiteiros onde residem os missionários, tomando mate sentado ao lado deles, depois da multidão de homens, mulheres e crianças com roupas coloridas, cobertas com algumas penas ou palha, com seus corpos multicoloridos. 

Durante anos, o Sucessor de Pedro esteve em contato com seus compatriotas que testemunharam o amor incondicional do Deus de Jesus Cristo entre essas pessoas. Em particular, com um deles, o padre Martín. Ontem, o jovem missionário não tinha palavras para agradecer ao amigo que desafiou tudo e todos para estar aqui, mesmo que por algumas horas, e ver com seus próprios olhos o espetáculo de uma igreja nascente e seus mil desafios vividos com alegria.

    São muitos os problemas em Vanimo e Baro. As pessoas vivem em condições precárias, sem água encanada e eletricidade, e há poucos medicamentos. A violência, o tribalismo e a exploração da enorme riqueza mineral e madeireira pelas multinacionais são uma realidade. Os padres do Verbo Encarnado, nessa costa do Oceano Pacífico espremida entre a selva e o recife de coral, deram à luz, em 2018, a uma orquestra de cordas composta por crianças e jovens. 

Na tonelada de pacotes levados pelo Papa no avião militar, havia também violinos e violoncelos. Francisco, feliz como uma criança, pôde ouvir algumas peças. Ao ver essa cena, não se pode deixar de pensar no milagre das reduções, as aldeias indígenas do Paraguai organizadas pelos jesuítas, com suas escolas de canto, das quais ainda restam ecos nos livros de história e nas cenas do filme “Missão”. Pequenos brotos do Evangelho que brotam silenciosamente entre culturas ancestrais e reverberam ternura, proximidade, compaixão, amor incondicional pelos últimos e esquecidos. Vidas doadas por amor até a última gota. Alegria nos rostos dos idosos e das muitas crianças sorridentes. Alegria nos rostos manchados de sol e suor dos missionários que hoje vestem seus trajes brancos para receber seu amigo, o Bispo de Roma. Alegria no rosto de Francisco, que sobe de volta no veículo militar C130, mas que gostaria de ter ficado ali.

Fonte: Vatican News

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Papa: viver a fé com coerência

terça-feira, 03 de setembro de 2024

No Angelus, Francisco diz que fomos feitos para a verdadeira pureza, "aquela que Deus nos dá, se lhe permitirmos expulsar de nós toda sombra de egoísmo, de orgulho e de julgamento, para nos modelar à imagem de seu Filho Jesus, que deu a vida por nós." Viver a fé com coerência, concretizando com sentimentos, palavras e obras o que faço na igreja e digo na oração.

No Angelus, Francisco diz que fomos feitos para a verdadeira pureza, "aquela que Deus nos dá, se lhe permitirmos expulsar de nós toda sombra de egoísmo, de orgulho e de julgamento, para nos modelar à imagem de seu Filho Jesus, que deu a vida por nós." Viver a fé com coerência, concretizando com sentimentos, palavras e obras o que faço na igreja e digo na oração.

Em síntese foi o que disse o Papa Francisco ao comentar - antes de rezar o Angelus - o Evangelho de Marcos (cf. Mc 7,1-8.14-15.21-23) proposto para este 32º Domingo do Tempo Comum. E a inspirar sua reflexão, foi um tema que era muito caro aos seus contemporâneos, ou seja, "o puro e o impuro", tema que "estava principalmente ligado à observância de ritos e regras de comportamento" e se devia prestar atenção para evitar qualquer contato com coisas ou pessoas consideradas impuras:

Alguns escribas e fariseus, obcecados, rigorosos observadores destas normas, acusam Jesus de permitir aos seus discípulos comerem sem lavar as mãos. E Jesus aproveita essa repreensão dos fariseus aos seus discípulos para falar-nos do significado da "pureza". A pureza – diz Jesus – não está ligada a ritos externos, mas antes de tudo está ligada a disposições internas, disposições interiores.

Ou seja, para ser puros, "não há necessidade de lavar as mãos diversas vezes, se depois são alimentados dentro do coração sentimentos malvados como ganância, inveja e orgulho, ou más intenções como engano, roubos, traição e calúnia":

Jesus chama a atenção para nos guardarmos do ritualismo, que não faz crescer no bem, pelo contrário, às vezes esse ritualismo pode levar a negligenciar, ou até mesmo a justificar, em si e nos outros, escolhas e comportamentos contrários à caridade, que ferem a alma e fecham o coração.

O Papa traz essa realidade para nossos dias, destacando alguns aspectos que podem dizer respeito também a nós:

Não se pode, por exemplo, sair da Santa Missa e, já no adro da igreja, parar para fazer comentários malévolos e desprovidos de misericórdia sobre tudo e todos. Aquele falatório que arruína o coração, que arruína a alma. E não pode isso! Vais à Missa e depois, na entrada, faz essas coisas, é uma coisa feia. Ou mostrar-se piedosos na oração, mas depois em casa tratar com frieza e distância os próprios familiares, ou negligenciar os pais idosos, que precisam de ajuda e companhia.  Esta é uma vida dupla e não pode ser. E isto é o que faziam os fariseus. A pureza externa, sem as atitudes boas, atitudes misericordiosas com os outros. Ou não se pode ser aparentemente muito corretos com todos, e quem sabe mesmo fazendo um pouco de voluntariado e algum gesto filantrópico, mas depois por dentro cultivando o ódio pelos outros, desprezando os pobres e os últimos ou comportando-se desonestamente no próprio trabalho.

Ao fazermos isso - observa Francisco - "a relação com Deus fica reduzida a gestos externos, e internamente permanecemos impermeáveis à ação purificadora da sua graça, entregando-nos a pensamentos, mensagens e comportamentos desprovidos de amor. Nós fomos feitos para outra coisa, fomos feitos para a pureza de vida, para a ternura, para o amor".

E sugere que nos perguntemos: Vivo a minha fé de forma coerente, isto é, aquilo que faço na Igreja, busco com o mesmo espírito fazer fora? Com os sentimentos, com as palavras e com as obras, concretizo na proximidade e no respeito aos meus irmãos o que digo na oração? Pensemos nisso!

Que Maria, Mãe puríssima - disse ao concluir - nos ajude a fazer da nossa vida, no amor sentido e praticado, um culto agradável a Deus (cf. Rm 12, 1).

Fonte: Vatican News

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Comunicar uma igreja em permanente saída

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Uma palavra constante do nosso querido Papa Francisco é esta: devemos ser uma Igreja viva, missionária, solidária, com a alegria do Evangelho a buscar as ovelhas, as pessoas mais afastadas e perdidas nas periferias do mundo e da existência. Uma Igreja em estado permanente de saída. Ele mesmo expressou estas ideias, ainda como cardeal, na redação do riquíssimo documento de Aparecida na Conferência Episcopal Latino Americana e do Caribe. Lá é aprofundada a natureza do cristão como discípulo missionário frente aos inúmeros desafios e contradições da sociedade hodierna.

Uma palavra constante do nosso querido Papa Francisco é esta: devemos ser uma Igreja viva, missionária, solidária, com a alegria do Evangelho a buscar as ovelhas, as pessoas mais afastadas e perdidas nas periferias do mundo e da existência. Uma Igreja em estado permanente de saída. Ele mesmo expressou estas ideias, ainda como cardeal, na redação do riquíssimo documento de Aparecida na Conferência Episcopal Latino Americana e do Caribe. Lá é aprofundada a natureza do cristão como discípulo missionário frente aos inúmeros desafios e contradições da sociedade hodierna.

Na exortação apostólica Evangelii Gaudiam (A Alegria do Evangelho), ele pauta as linhas fundamentais para este anúncio da Boa Nova, do próprio Cristo, continuando a ênfase na dimensão missionária de todos os batizados. Os Bispos do Brasil (CNBB) captam e sintetizam estes elementos num renovador texto pastoral, o documento 100: "Comunidade de comunidades - uma nova paróquia", para vivência e trabalho missionário nas células comunitárias, dentro da realidade brasileira.

Resgatando para nossas paróquias o Concílio Vaticano II e toda a sua riqueza, deveríamos reler a Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a missão da Igreja no mundo e também o decreto Ad Gentes, no seu conceito geral de missão, aliando ao contexto próprio do apostolado dos leigos apresentado num outro texto magisterial - Apostolicam Actuositatem.

Veríamos que a Igreja deve salgar e iluminar todas as áreas e âmbitos da humanidade e do tecido social com os princípios e verdades do Amor de Cristo: a cultura, a economia, a política, as artes, o trabalho, o turismo, o lazer e esporte, etc... Ou seja, deve ir ao encontro, se aproximar, falar a mesma linguagem dos homens, se inculturar, ser solidária, se doar para a promoção da pessoa humana, na sua libertação-salvação integral, resgatando a sua dignidade de filha de Deus, transformando a realidade em Reino do Senhor. Isto, tendo como modelo o próprio Verbo que se encarnou, tornando-se um de nós, no envio missionário da comunhão trinitária, entrando em nossa cultura e linguagem para nos revelar os caminhos da felicidade do plano divino.

Jesus Cristo que saiu ao encontro dos mais necessitados, perdidos, pobres e marginalizados, a serviço de todos, para que compreendessem o sentido mais profundo de suas existências no verdadeiro Amor. Fundou a Igreja e enviou os apóstolos e discípulos com este mesmo despojamento e doação missionários, " sem alforje, nem ouro, nem prata", dando a vida pelos irmãos. A Igreja é essencialmente comunhão e missão na caridade fraterna e solidária de Cristo. A respeito deste tema há a rica e bela encíclica de São João Paulo II - Redemptoris Missio (A Missão do Redentor).

Lendo o documento de Aparecida, vemos que ninguém é verdadeiro missionário, sem antes ser verdadeiro discípulo de Cristo. Por isso, a missão parte de uma experiência decisiva pessoal com Jesus, de atração, vinculação, intimidade e seguimento. Deve haver uma conversão, uma formação e um engajamento na comunidade.

As estruturas da paróquia devem também ter uma conversão pastoral, deixando de lado uma pastoral da conservação, superando elementos ultrapassados e se tornando missionárias. Deve ser a Igreja uma comunhão de amor que cresce pela atração, tendo como fonte e cume a Eucaristia, sensível e aberta aos pobres, advogada da justiça, profética, a serviço do Reino da Vida, na leitura orante da Bíblia, na espiritualidade de unidade e participação, formando comunidades eclesiais missionárias, como casa da iniciação cristã, integrando os movimentos e novas expressões comunitárias, com coração aberto ao ecumenismo e diálogo inter-religioso, promovendo a globalização da solidariedade, doando-se aos "rostos sofredores que doem em nós ".

O missionário deve ter ímpeto e audácia, ousadia e confiança; fervor espiritual, imaginação e criatividade. Deve ser decidido, determinado, entusiasmado, na evangelização pessoa a pessoa, casa a casa, comunidade a comunidade. Enfim, a espiritualidade missionária é doar-se aos irmãos, esvaziando-se de tudo, anunciando, com alegria, o Evangelho da Vida! O que deve permear toda a nossa ação pastoral. Vamos ler estes documentos e, aos poucos, aprofundar a nossa reflexão e trabalho missionário! (Fonte: Vatican News

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler e assessor eclesiástico Diocesano da Pastoral Familiar

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Maria, mãe e consolo dos sacerdotes

terça-feira, 20 de agosto de 2024

            "Ela, a Mãe da Graça, suave e forte que com seu testemunho de perseverança, de resiliência nas dores, de peregrina da fé, instrui e conduz os filhos sacerdotes. Dentre os filhos queridos de Nossa Senhora estão os sacerdotes que, como a Mãe da obediência, ouviram a voz do Altíssimo e também responderam seu sim, como disse a Virgem fiel: "Eu sou a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua palavra" (Lc 1,28ss).

            "Ela, a Mãe da Graça, suave e forte que com seu testemunho de perseverança, de resiliência nas dores, de peregrina da fé, instrui e conduz os filhos sacerdotes. Dentre os filhos queridos de Nossa Senhora estão os sacerdotes que, como a Mãe da obediência, ouviram a voz do Altíssimo e também responderam seu sim, como disse a Virgem fiel: "Eu sou a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua palavra" (Lc 1,28ss).

            Maria é a Mãe do Sacerdote, como já ecoava iluminadamente o padre Mario Venturini, fundador da Congregação de Jesus Sacerdote, expandindo e fundamentando essa rica e consoladora devoção desde 1923. Foi recomendada depois por Pio XII na Exortação ao Clero "Menti nostrae: ‘Dirigi confiante os olhos e o espírito Àquela que é Mãe do Eterno Sacerdote e é, por isso, Mãe de todos os sacerdotes católicos’".

            É Maria a Mãe de Jesus Cristo, Sumo, Único e Eterno Sacerdote, que recebeu dela o corpo e o sangue para o sacrifício redentor. A Mãe do Salvador exerce fundamentalmente um "sacerdócio" todo particular, doando-nos o Sagrado, na maternidade divina, na maternidade eclesial. A Mãe do Cristo total, Cabeça e membros, como dizia Santo Agostinho.

            Ela doa ao mundo o próprio Cristo, dom do Pai pelo Espírito Santo, na epiclese geracional da Encarnação do Verbo em seu ventre imaculado, primeiro sacrário do Senhor. Mas se torna também Mãe dos sacerdotes do Filho, participantes do Seu Sacerdócio redentor, representados no apóstolo João (cf Jo 19, 26), já sendo doada como Mãe de todos os fiéis no sacerdócio batismal, como Igreja, corpo de Cristo.

            A Mãe eucarística ama nos padres o Filho Sacerdote que se configuraram a Ele pelo Sacramento da Ordem, como Cristo Cabeça, na oblação pela salvação de todos. Ama-os como os íntimos cooperadores do poder-amor da missão de Jesus, sendo os filhos queridos, consagrados como instrumentos místicos da ação do Redentor feito Eucaristia, novo nascimento para a vida eterna pelo Batismo, misericórdia no sacramento do perdão, cura e libertação na Sagrada Unção dos Enfermos e presença viva santificadora em todos os sacramentos como Palavra transformadora.

            Ama-os na sua frágil natureza humana que se esforça em corresponder à graça do seu Filho, embora envoltos em limites, pecados e angústias, inseguranças e incertezas, medos, cansaços, desgastes e confusão, o tesouro valiosíssimo do Cristo nos frágeis vasos de argila. Ama-os e os conforta, os sustenta, fortalecendo seus corações, consolando suas almas, na renovação de sua entrega iluminando suas vidas com o coração misericordioso do seu amado Filho, no fulgor e alento do Espírito Santo.

            Ela, a Mãe da Graça, suave e forte que com seu testemunho de perseverança, de resiliência nas dores, de peregrina da fé, instrui e conduz os filhos sacerdotes, cobrindo-os com o seu manto carinhoso de amor que os aquece e revigora para a missão. Maria é a Mãe e o consolo dos sacerdotes que a devem acolher como João na casa de seus corações, "devem venerá-la e amá-la com devoção e culto filial" (Presbyterorum Ordinis, 18).

 

O Papa Francisco convida os sacerdotes a procurar a Virgem Maria, também nas necessidades: ‘Deixem que Ela olhe para vocês, aprendam a ser mais humildes e também mais corajosos para seguir a Palavra de Deus’ (Audiência ao Pontifício Colégio Português de Roma, 08/05/2017).

            ‘Maria, Mãe da Igreja, ajuda-nos a entregar-nos plenamente a Jesus, a crer no seu amor, sobretudo nos momentos de tribulação e de cruz, quando nossa fé é chamada a amadurecer’ (Papa Francisco) ‘...acolhei desde o princípio os chamados, protegei o seu crescimento, acompanhai na vida e no ministério os filhos vossos, ó Mãe do Sacerdote. Amém.’ (São João Paulo I, Pastore Dabo Vobis).

Fonte: A12, Academia Marial de Aparecida

 

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é associado da Academia Marial de Aparecida e Assessor Eclesiástico Diocesano da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo 

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