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Parabéns Nova Friburgo!

terça-feira, 18 de maio de 2021

Celebramos no último domingo, 16, os 203 anos da fundação de Nova Friburgo, única cidade brasileira criada por um decreto real do então rei de Portugal, Dom João VI. A estimada cidade da serra fluminense traz em sua história inúmeras marcas de inovação e superação. Sua colonização foi planejada a fim de estreitar os laços do rei de Portugal com os povos germânicos na luta contra o Império Francês. Seu nome foi dado pelos suíços em homenagem à Fribourg, de onde partiu a maioria das 265 famílias suíças que aqui se instalaram.

Celebramos no último domingo, 16, os 203 anos da fundação de Nova Friburgo, única cidade brasileira criada por um decreto real do então rei de Portugal, Dom João VI. A estimada cidade da serra fluminense traz em sua história inúmeras marcas de inovação e superação. Sua colonização foi planejada a fim de estreitar os laços do rei de Portugal com os povos germânicos na luta contra o Império Francês. Seu nome foi dado pelos suíços em homenagem à Fribourg, de onde partiu a maioria das 265 famílias suíças que aqui se instalaram. Ainda sobre sua gênese, podemos afirmar que foi o primeiro município no Brasil colonizado por alemães.

Desde então, Nova Friburgo passou a ser um local onde pessoas dos mais diferentes lugares do mundo encontraram morada. O clima típico da cidade é um convite a conhecer e se apaixonar. À luz da história esta celebração se enche de significados importantes para as pessoas que aqui construíram suas vidas e suas famílias. Na construção do futuro é essencial olhar o passado e recordar tanto os acontecimentos felizes quanto os tristes.

Devemos celebrar não somente as vitórias, mas, principalmente, a superação de um povo que luta e confia. No exercício da fé recordar que Deus sempre se faz presente com seu amor e sua misericórdia.

Mais uma vez estamos vivenciando um momento crítico da história, não só de nosso município, mas do mundo inteiro. Poderíamos, assim, acreditar que não teríamos nenhum motivo para celebrar. Afinal, nos últimos meses, perdemos mais de 500 irmãos nossos para a Covid-19. Contudo, limitar a alegria de toda uma vida somente ao momento presente é enganar-se. A vida não se encerra no agora, ela é uma construção, uma sucessão de instantes que tecem a história pessoal e comunitária. O anseio pela alegria inscrito no coração humano, neste mundo “é contrastado com os lamentos e gritos que provêm de tantas situações dolorosas: miséria, fome, doenças, guerras, violências” (Bento XVI, Páscoa 2011).

O valor e a fortaleza dos primeiros habitantes destas terras estão marcados na identidade do povo friburguense. Estes homens e mulheres, na busca de realizar o sonho de um lar para seus filhos, enfrentaram todo o tipo de dificuldades desde o desterro de suas terras natais, nas longas viagens de navios e no desbravamento deste chão para se estabelecerem.

Neste sentido, celebrar é mais que exaltar os momentos felizes da vida, é recordar também as dores e as vitórias, na certeza de que Deus, Senhor e Mestre da História (cf. Catecismo §269; 304; 450), sempre manifesta sabiamente todos os seus prodígios, mesmo que oculto à percepção humana. A razão para celebrar, mesmo em situações conflitantes, advém da certeza de que “a história presente não permanece fechada em si mesma, mas está aberta para o reino de Deus” (Sollicitudo rei socialis, 47).

A história de Nova Friburgo, é formada por fatos marcantes que se contabilizam entre momentos difíceis e felizes, mas o que é digno de comemoração é, sem dúvida alguma, o povo que aqui reside e sua capacidade de superação.

Muito há que se fazer. O sonho de um lugar melhor para nossos filhos ainda não foi totalmente concretizado. A história é dinâmica e depende de cada um de nós, no exercício de nossas funções escrevê-la do melhor modo possível.

Parabéns à cidade de Nova Friburgo! Parabéns a todos os friburguenses que construíram e continuam a construir a história desta terra, a nossa história!

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Mensagem do Papa Francisco para o 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais

terça-feira, 11 de maio de 2021

Todos os anos na celebração do Domingo da Ascensão do Senhor a Igreja dedica-se a refletir e dar destaque à importância das comunicações sociais para o sadio desenvolvimento social, bem como para a evangelização. Em 2021, a data será celebrada no próximo domingo, 16. Achamos por bem trazer nesta coluna um recorte da mensagem do Papa Francisco para este ano, na qual ele agradece à coragem dos jornalistas em dar voz à verdade dos fatos.

Todos os anos na celebração do Domingo da Ascensão do Senhor a Igreja dedica-se a refletir e dar destaque à importância das comunicações sociais para o sadio desenvolvimento social, bem como para a evangelização. Em 2021, a data será celebrada no próximo domingo, 16. Achamos por bem trazer nesta coluna um recorte da mensagem do Papa Francisco para este ano, na qual ele agradece à coragem dos jornalistas em dar voz à verdade dos fatos.

Para poder contar a verdade da vida que se faz história, é necessário sair da presunção cômoda do “já sabido” e mover-se, ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las, recolher as sugestões da realidade, que nunca deixará de nos surpreender em algum dos seus aspectos. Este ano, desejo dedicar a mensagem à chamada a “ir e ver”, como sugestão para toda a expressão comunicativa que queira ser transparente e honesta: tanto na redação de um jornal como no mundo da web, tanto na pregação comum da Igreja como na comunicação política ou social.

Pensemos no grande tema da informação. Há já algum tempo que vozes atentas se queixam do risco de um nivelamento em “jornais fotocópia” ou em noticiários de televisão, rádio e websites que são substancialmente iguais, onde os gêneros da entrevista e da reportagem perdem espaço e qualidade em troca de uma informação pré-fabricada, autorreferencial, que cada vez menos consegue confrontar a verdade das coisas e a vida concreta das pessoas, e já não é capaz de individuar os fenômenos sociais mais graves nem as energias positivas que se libertam da base da sociedade. (...)

Todo o instrumento só é útil e válido, se nos impele a ir e ver coisas que de contrário não chegaríamos a saber, se coloca em rede conhecimentos que de contrário não circulariam, se consente encontro que de contrário não teriam lugar. O próprio jornalismo, como exposição da realidade, requer a capacidade de ir aonde mais ninguém vai: mover-se com desejo de ver. Uma curiosidade, uma abertura, uma paixão. Temos que agradecer à coragem e determinação de tantos profissionais, se hoje conhecemos, por exemplo, a difícil condição das minorias perseguidas em várias partes do mundo, se muitos abusos e injustiças contra os pobres e contra a criação foram denunciados, se muitas guerras esquecidas foram noticiadas. Seria uma perda não só para a informação, mas também para toda a sociedade e para a democracia, se faltassem estas vozes: um empobrecimento para a nossa humanidade.

Numerosas realidades do planeta – e mais ainda neste tempo de pandemia – dirigem ao mundo da comunicação um convite a “ir e ver”. Há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos do mundo mais rico, de manter uma “dupla contabilidade”. Por exemplo, na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, pensemos no risco de exclusão que correm as pessoas mais indigentes. (...) Mas, também no mundo dos mais afortunados, permanece oculto em grande parte o drama social das famílias decaídas rapidamente na pobreza: causam impressão, mas sem merecer grande espaço nas notícias, as pessoas que, vencendo a vergonha, fazem a fila à porta dos centros da Cáritas para receber uma ração de víveres.

A rede, com as suas inumeráveis expressões sociais, pode multiplicar a capacidade de relato e partilha: muitos mais olhos abertos sobre o mundo, um fluxo contínuo de imagens e testemunhos. (...), entretanto foram-se tornando evidentes, para todos, os riscos de uma comunicação social não verificável. (...) Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controle que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade: a ir, ver e partilhar.

Na comunicação, nada pode jamais substituir, de todo, o ver pessoalmente. Algumas coisas só se podem aprender, experimentando-as. Na verdade, não se comunica só com as palavras, mas também com os olhos, o tom da voz, os gestos. O intenso fascínio de Jesus sobre quem o encontrava dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios. Os discípulos não só ouviam as suas palavras, mas viam-no falar. A palavra só é eficaz, se se «vê», se te envolve numa experiência, num diálogo. Por esta razão, o “vem e verás” era, e continua, a ser essencial.

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O trabalho edifica

terça-feira, 04 de maio de 2021

A celebração do 1º de maio - Dia do Trabalho é a marca de conquistas históricas em favor de homens e mulheres que garantem a subsistência e a dignidade de suas famílias. Contudo, não podemos relegar o valor e a importância do trabalho somente como o meio de garantir o pão cotidiano. Ele é muito mais que isso.

A celebração do 1º de maio - Dia do Trabalho é a marca de conquistas históricas em favor de homens e mulheres que garantem a subsistência e a dignidade de suas famílias. Contudo, não podemos relegar o valor e a importância do trabalho somente como o meio de garantir o pão cotidiano. Ele é muito mais que isso.

São João Paulo II, ao refletir sobre o trabalho humano, adverte que se é verdade dizer que a humanidade se sustenta com o pão fruto do seu labor, isto equivale dizer que além do pão cotidiano que mantém vivo o corpo, o trabalho produz o pão da ciência e do progresso, da civilização e da cultura (cf. Laborem exercens, n. 1).

Ainda há de se considerar que o trabalho é também um ato de coragem diária, pessoal e coletiva, que encarna e reivindica as razões de um recomeço, que diz respeito a todos. Mais que esforços e canseiras pessoais comuns no ato do trabalho, o trabalhador tem que enfrentar muitas tensões, conflitos e crises que perturbam a vida de cada uma das sociedades ou mesmo da humanidade inteira.

Deste modo, é essencial ampliar nossa compreensão a cerca do conceito trabalho. A ideia difundida na primeira metade do século 19, e existente ainda nos dias atuais, equivocadamente equivale o trabalho a uma mercadoria que podia ser comprada ou vendida sem considerar o valor de quem o executava e de sua importância para o funcionamento da sociedade.

Devemos encarar o trabalho humano pela dimensão fundamental do sujeito, isto é, do homem-pessoa que o executa. Assim considerando, se entende que o trabalho é um bem do homem e da humanidade, na qual o trabalhador não transforma somente a natureza, adaptando-a à sua necessidade, mas, pelo trabalho, realiza-se a si mesmo como homem, tornando-se mais homem.

O Papa Francisco, ao refletir sobre o trabalho como vocação do homem, diz que: “É o trabalho que torna o homem semelhante a Deus, pois com o trabalho o homem é criador, é capaz de criar, de criar muitas coisas; até mesmo de criar uma família para seguir em frente. O homem é criador e cria com o trabalho. Esta é a vocação. E a Bíblia diz: «Viu Deus que tudo quanto tinha feito era muito bom» (Gn 1, 31). Ou seja, o trabalho tem em si uma bondade e cria a harmonia das coisas - beleza, bondade - e envolve o homem em tudo: no seu pensamento, na sua atuação, em tudo. O homem participa no trabalho. É a primeira vocação do homem: trabalhar. E isto dá dignidade ao homem. É a dignidade que o faz assemelhar-se a Deus. A dignidade do trabalho” (Homilia, 1º de maio de 2020).

Deste modo, toda a injustiça cometida a uma pessoa que com seu trabalho contribui para a edificação da comunidade é um ato de violência contra a própria dignidade humana. O trabalho é uma bonita vocação dada por Deus ao homem, mas só pode ser vivida em toda sua beleza e profundidade quando são oferecidas condições adequadas e respeitada a dignidade da pessoa.

Ao refletirmos sobre este tema, não temos como deixar de lembrar e sensibilizar com os mais de 14 milhões de desempregados do nosso país (fonte: IBGE). Neste ano dedicado a São José, no qual muitos irmãos e irmãs sofrem a calamidade do desemprego, peçamos ao humilde trabalhador de Nazaré, que nos oriente a Cristo, sustente o sacrifício daqueles que praticam o bem neste mundo e interceda por aqueles que perderam o próprio emprego ou não conseguem encontrá-lo.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Para não cair na indiferença

terça-feira, 27 de abril de 2021

Há na Esmolaria Apostólica, um departamento da Cúria Romana, uma fotografia icônica: noite de inverno, pessoas bem agasalhadas com casacos de pele, alegres e satisfeitas saindo de bons restaurantes e um desabrigado, faminto e com frio deitado ao chão. O registro fotográfico foi capaz de capturar com maestria o descaso e a indiferença das pessoas que desviavam o olhar do pobre homem jogado na sarjeta.

Há na Esmolaria Apostólica, um departamento da Cúria Romana, uma fotografia icônica: noite de inverno, pessoas bem agasalhadas com casacos de pele, alegres e satisfeitas saindo de bons restaurantes e um desabrigado, faminto e com frio deitado ao chão. O registro fotográfico foi capaz de capturar com maestria o descaso e a indiferença das pessoas que desviavam o olhar do pobre homem jogado na sarjeta.

Este é apenas um dentre inúmeros registros da falta de humanidade e de compaixão a que somos capazes. Ser indiferente não quer dizer, necessariamente, ser mal. Podemos ser pessoas muito boas com os que convivem conosco, com os que estão na mesma situação moral e social que nós, mas ainda assim a indiferença é capaz de ferir mortalmente a humanidade.

No próprio Evangelho podemos observar a cultura da indiferença impregnada no agir humano. Os evangelistas ao narrarem a multiplicação dos pães são unânimes em destacar a preocupação dos discípulos com a falta de alimento: “Despede a multidão, para que vá aos povoados e campos vizinhos procurar pousada e alimento” (Lc 9, 12). Neste posicionamento dos discípulos quase que os ouvimos dizer: “Não é problema nosso alimentar essa gente”.

Não quero dizer que os discípulos fossem maus. Eles não se preocupavam com a multidão, mas sim com o seu próprio bem-estar e também de Jesus. Mas a resposta de Jesus – “dai-lhes vós mesmo de comer” (Lc 9,13) – os ensina a prestar mais atenção às necessidades das pessoas, sobretudo das mais pobres.Quantas vezes mudamos nosso olhar de direção para não nos ferirmos com a miséria do outro? Ou quantas vezes somos incapazes de sentir a dor do outro?

Ainda o testemunho bíblico nos alerta para o abismo que criamos entre nós. Jesus, em um de seus discursos, conta a parábola do mau rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). O rico, mergulhado em sua individualidade dava inúmeros banquetes, vestia-se com roupas finas e caras, mas era incapaz de prover o bom sustento para o pobre Lázaro que ficava à sua porta.

Podemos ainda lembrar o Cego Bartimeu (cf. Mc 10, 46-52) que, sentado à beira do caminho, ao ouvir que Jesus se aproximava gritava para que tivesse piedade dele, era repreendido para que se calasse, pois incomodava. Poderíamos narrar aqui tantas outras situações em que, fechados em nossos projetos, realizações e comodismo, fomos indiferentes às necessidades dos demais. Vivemos uma era em que a informação chega a nós com eficaz velocidade, porém, ainda estamos insensíveis.

O Papa Francisco, relembrando sua primeira visita à ilha italiana de Lampedusa cunhou a expressão “globalização da indiferença”. E no contexto da pandemia refletiu: “Talvez nós hoje aqui em Roma estejamos preocupados porque ‘parece que as lojas estão fechadas, tenho que comprar isto, e parece que não posso passear todos os dias, e parece que...’: preocupados com as minhas coisas. E esquecemos as crianças famintas, esquecemos aquela pobre gente que nos confins dos países buscam a liberdade, aqueles migrantes forçados que fogem da fome e da guerra e encontram somente um muro, um muro feito de ferro, um muro de arame farpado, mas um muro que não os deixa passar. Sabemos que isto existe, mas não chega ao coração... Vivemos na indiferença: a indiferença é o drama de estar bem informado, mas não sentir a realidade dos outros.” (Homilia, 12 de março de 2020).

Sigamos o exemplo do coração de Jesus que viu a necessidade da humanidade e se compadeceu, não se fez indiferente.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras

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Confiança

terça-feira, 20 de abril de 2021

Buscando o verbete ‘confiança’ no dicionário encontraremos, entre tantas, a seguinte definição: “Crença ou fé de que determinadas expectativas se tornarão realidade; esperança”.

Em tempo de pandemia, lutamos todos os dias para superar as contrariedades do tempo e cultivar em nossos corações a certeza de que tudo se transformará para o bem. Contudo, a tentação de assumirmos o domínio, de termos o controle de tudo, é constante.

Buscando o verbete ‘confiança’ no dicionário encontraremos, entre tantas, a seguinte definição: “Crença ou fé de que determinadas expectativas se tornarão realidade; esperança”.

Em tempo de pandemia, lutamos todos os dias para superar as contrariedades do tempo e cultivar em nossos corações a certeza de que tudo se transformará para o bem. Contudo, a tentação de assumirmos o domínio, de termos o controle de tudo, é constante.

O livro do Gêneses relata bem essa ambição. A serpente ao tentar a mulher, não encontrou melhor argumento do que lhe prometer a igualdade com Deus: “E sereis como deuses…” (Gn 3,5). Eva não hesitou, tomou o fruto e comeu (cf. Gn 3,6). O relato bíblico evidencia que o coração do homem, mesmo antes de ser ferido pelo pecado, se deixa apetecer com o sonho de ser “como deus”, de ser senhor de si, de não depender de nada e de ninguém.

A voz sedutora da serpente continua a ecoar, insistentemente, no coração da humanidade, que inebriada pelo desejo de imortalidade, alimenta a esperança de solucionar, por suas próprias capacidades, todos os problemas do mundo. Contudo, quando algo foge de nosso controle, facilmente aloja-se o desespero e a angústia. Diante do grande mistério da morte, a humanidade contempla sua impotência e fragilidade.

Quando tudo parece não ter mais jeito, somos levados a colocar nossa esperança em algo ou alguém que foge a lógica deste mundo. Neste Tempo Pascal celebramos a vitória da vida sobre a morte. Jesus, Deus e homem, ressurge da morte para dar vida a todos os que nele esperam. Na sua ressurreição temos alimentada a esperança de um mundo novo.

Somos chamados a nos abandonarmos com confiança em Deus em cada momento da nossa vida, especialmente na hora da provação e da perturbação, na certeza de que Ele nos fará ressurgir das trevas do medo.

O Papa Francisco ao refletir sobre esta grande tempestade que assola o mundo inteiro exorta: “Quando sentimos fortemente a dúvida e o medo e parece que estamos afundando, não devemos ter vergonha de gritar, como Pedro: ‘Senhor, salva-me!' (cf. Mt 14,22-36). É uma bela oração! E o gesto de Jesus, que imediatamente estende a mão e agarra a do seu amigo, deve ser contemplado durante muito tempo: Jesus é a mão do Pai que nunca nos abandona; a mão forte e fiel do Pai, que sempre e só quer o nosso bem” (Angelus, 9 de ago. 2020).

Nele é que devemos por nossa confiança. Ele é o Ressuscitado, o Senhor que passou pela morte para nos salvar. Ele que se fez próximo de nós, que nos chamou a fazer parte do seu Reino.

Busquemos fazer a experiência de nos abandonarmos nas mãos daquele que tudo sabe e tudo pode. Somos um pequeno grão de areia na imensidão do amor misericordioso de Deus. Ele está sempre presente ao nosso lado, disposto a nos reerguer das nossas quedas, nos faz crescer na fé e sustentar nossa esperança, basta estendermos a mão e gritar: “Senhor, salva-me”.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior Assessor Diocesano da Pastoral da Comunicação

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Ressurreição: o nosso Deus é um Deus vivo!

terça-feira, 13 de abril de 2021

Entre as sombras da dúvida, do nada, do silêncio do peito, do esvaziamento do cosmo, surge a vida! O glorioso Sol rasga as trevas, numa manhã solene de ressurreição! O túmulo vazio. Os guardas atônitos. Os apóstolos vibrantes de certeza! "Nosso Cristo está vivo”! Os materialistas repetem desde sempre a mesma mentira: " Roubaram o corpo"; " Jesus Cristo foi apenas um homem contra o sistema e está morto", Míopes em suas mancas afirmações e adoradores da surda-muda matéria, teimam em não sair de suas cavernas frias para a luz aquecedora do amor de Cristo.

Entre as sombras da dúvida, do nada, do silêncio do peito, do esvaziamento do cosmo, surge a vida! O glorioso Sol rasga as trevas, numa manhã solene de ressurreição! O túmulo vazio. Os guardas atônitos. Os apóstolos vibrantes de certeza! "Nosso Cristo está vivo”! Os materialistas repetem desde sempre a mesma mentira: " Roubaram o corpo"; " Jesus Cristo foi apenas um homem contra o sistema e está morto", Míopes em suas mancas afirmações e adoradores da surda-muda matéria, teimam em não sair de suas cavernas frias para a luz aquecedora do amor de Cristo.

Os nossos domingos já não podem ser os mesmos! Existe um brilho diferente no ar, na calma da natureza apoteótica a bradar aleluia! Como naquele dia luminoso, aos olhos perplexos dos discípulos, o Senhor se elevava aos céus e prometia o seu espírito e a sua nova vinda para recolher.

Mas se este Jesus está vivo, por que aparece ainda pregado na cruz? Pode alguém perguntar. A cruz é o símbolo do gesto máximo do amor de Cristo por nós. É a recordação de quanto custou ao Deus feito homem a nossa libertação: sua vida, seu sangue, seu martírio. Se alguém dá a vida por nós, não podemos esquecer tal ato. O sacrifício da cruz é o grande sinal do amor cristão, o amor que não só vibra com a festa da vida, mas se solidariza e se doa nos sofrimentos e cruzes do irmão.

Para nós, católicos e demais cristãos, Jesus está vivo, sim, presente entre nós, Ressurreto, fulguroso e poderoso, mas sabemos o quanto sofreu por nós e, por isso, a sua cruz é para todos um instrumento símbolo de salvação.

Nestes ventos de ressurreição, devemos nos perguntar sobre nossos passos, sobre nossos rumos, sobre nossos corações... A luz que se acendeu há quase dois mil anos não se apagou... Ela se multiplica nos círios, no peito, nos sacrários do mundo inteiro, na chama da fé dos povos, na esperança ígnea que não se prostra nem mesmo com as bombas e perseguições, nem com as explosões de neon do ateísmo, do capitalismo selvagem. Ela se expande no brilho simples da verdade que quebra os sofisticados e ocos sofismas, meticulosamente talhados nas indústrias da exploração humana.

Este Deus vive entre nós. Vive em nós. Sua ação pasma a história, abrindo o mar com mão firme, curando toda enfermidade, transformando água em vinho, transubstanciando o próprio vinho em seu sangue, o pão em sua carne: eucaristia-ressurreição! Os véus do templo se rasgam de cima a baixo. Seu sudário permanece de século em século, questionando a análise dos químicos, médicos, cientistas em geral, ou de qualquer cético que queira apalpar a configuração do Senhor. Ei-lo! Eis o homem! Como apresentou Pilatos. Todo chagado e marcado por chicotes ferinos. Eis o Cristo de olho vazado pelos espinhos da coroa e sobre esta vista a imagem de uma moeda romana, conforme o costume.

Vejam o que queriam ver. Um Deus-homem impresso em negativo em um linho antiquíssimo, com pólen do século primeiro, pela explosão luminosa de sua ressurreição! Reconheçam que não há pintura em negativo com sangue AB judeu de quase dois mil anos que permaneça nítida após tantas intempéries. Figura que não é pintada e que após fotografia de um pesquisador, curiosamente aparece em positivo e apresenta tridimensionalmente o Senhor sofredor, sem nenhuma distorção em computador (o que normalmente aconteceria), o que só hoje, no século 21, os cientistas conseguiram colocar impresso em 3D.

A precisão dos traços e marcas da Paixão... funduras das chagas, inchações, todo o desenho anatômico das lesões, constatado por renomados cirurgiões, digitais de quem o transportou nas plantas dos seus pés... O que mais falta? O que mais? Frente às exigências empíricas dos que no fundo acham incômodo CRER, Jesus Ressuscitado diz ao Tomé de cada século: "Vem e vê. Põe o teu dedo em minhas chagas e no meu lado! Sou eu! Estive morto, mas venci a morte! Abre teu coração agora e abandona tua soberba! Tu creste porque viste. Felizes aqueles que creem, mesmo sem ver".

Caros irmãos, o nosso Deus é um Deus vivo! E você é convidado a viver e a beber desta fonte e a nunca mais ter sede! Feliz Páscoa!

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras. 

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Páscoa – Saber perder é saber ganhar!

terça-feira, 06 de abril de 2021

Páscoa, no grego paskein, no hebraico, pesah, palavra que significa passagem. Da escravidão para a liberdade, da morte para a vida, do pecado para a graça, das trevas para a luz! Páscoa! Certeza da vitória da vida! Cristo, Deus feito homem nos ensina a amar e a dar a vida pelos irmãos. O seu olhar acolhedor e misericordioso nos transmite do alto da dor e da cruz que o amor é mais forte que a morte, é mais forte que qualquer sofrimento ou obstáculo.

Páscoa, no grego paskein, no hebraico, pesah, palavra que significa passagem. Da escravidão para a liberdade, da morte para a vida, do pecado para a graça, das trevas para a luz! Páscoa! Certeza da vitória da vida! Cristo, Deus feito homem nos ensina a amar e a dar a vida pelos irmãos. O seu olhar acolhedor e misericordioso nos transmite do alto da dor e da cruz que o amor é mais forte que a morte, é mais forte que qualquer sofrimento ou obstáculo.

Amar e perdoar. Libertar o coração de todo ressentimento e mágoa, de todo o rancor e ódio, de toda revolta ou sentimento de vingança. Purificar-se. Lavar as vestes e a alma no sangue redentor do cordeiro. Entregar-se totalmente nas mãos do Pai: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. 

Como Jesus, saber “perder”. Deixando que disputem sua túnica, o poder, a vaidade, as riquezas, os prazeres.  Poder verdadeiro e definitivo é o de Deus!  Ele te ressuscita, te revigora e te realiza plenamente no sentido hialino de viver. 

O nosso tesouro é Deus e esta feliz vida espiritual que ele nos dá já aqui no horizonte terrestre. A paz de ser amado e de amar com este sentir do coração de Cristo. Servir ao próximo sem interesse, sem ambiguidades, nem equívocos. É bálsamo para o espírito e alegria eterna multiplicada a cada gesto de bondade, gentileza, fraternidade, generosidade. Doação de si mesmo com total liberdade ao coração dos irmãos, especialmente os que mais precisam.  

No fim, na maturidade do “terceiro dia”, é o saber ganhar de Jesus, a vitória da luz e da verdade, o esplendor do bem, que se conquista com a renúncia, o esvaziamento, o sacrifício e o amor-entrega da Sexta-feira da Paixão.  

Assumir a cruz e transformá-la em luz para nós e para o mundo inteiro. Assim continuaremos a obra da salvação do Senhor. Feliz Páscoa!

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça, chanceler da Diocese de Nova Friburgo. 

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Dar vez a quem não tem vez, dar voz a quem não tem voz

terça-feira, 30 de março de 2021

É chegada a semana das semanas. Os dias que antecedem a grande solenidade da Páscoa possuem um caráter de grande reflexão e esperança. Celebrar a ressurreição de Jesus é celebrar a vitória da vida sobre a morte. Contemplando os passos da Paixão, somos levados a refletir as dores da humanidade. Olhar o Cristo chagado, escarnecido, humilhado é olhar a condição de muitos irmãos e irmãs relegados a condições subumanas em nossa sociedade.

É chegada a semana das semanas. Os dias que antecedem a grande solenidade da Páscoa possuem um caráter de grande reflexão e esperança. Celebrar a ressurreição de Jesus é celebrar a vitória da vida sobre a morte. Contemplando os passos da Paixão, somos levados a refletir as dores da humanidade. Olhar o Cristo chagado, escarnecido, humilhado é olhar a condição de muitos irmãos e irmãs relegados a condições subumanas em nossa sociedade.

A crise mundial causada pela Covid-19, unida e aguçada pelas chagas da desigualdade social, da devastadora discriminação e do descaso das autoridades com os menos favorecidos, sem dúvida alguma, revela o quanto se faz necessário e urgente pensar e promover, além da cura ao novo coronavírus, a cura ao vírus da injustiça social.

As doenças sociais se agravaram muito neste tempo pandêmico. Todos os dias, somos surpreendidos por inacreditáveis informações que noticiam a corrupção, fruto de corações endurecidos que não veem como sofre o povo. Quantas mortes poderiam ser evitadas com políticas públicas justas e comprometidas com o bem comum?

São histórias estarrecedoras de irmãos nossos que, privados da assistência mínima, veem suas vidas prematuramente ceifadas. Nosso país segue, a cada dia, batendo o recorde do número de mortes causadas pela Covid-19. Isso sem contar aqueles que morrem sem auxílio médico.

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro registrou que no período entre abril e junho de 2020, somente em nosso estado, ao menos 730 pessoas morreram à espera de um leito de enfermaria ou UTI. Hoje, de acordo com a Secretaria estadual de Saúde, em todo território fluminense 678 pessoas aguardam uma vaga de terapia intensiva. Número que, apesar de assustador, cresce quando enumeramos a precariedade dos hospitais na falta de insumos básicos.

No início do ano, o Papa Francisco alertou para a instabilidade do tempo presente e advertiu: “Sabemos que as coisas vão melhorar na medida em que, com a ajuda de Deus, trabalharmos juntos para o bem comum, colocando no centro os mais fracos e desfavorecidos” (Angelus, 3 jan. 2021).

O imperativo “estende a tua mão ao pobre” (Eclo 7, 32) ressoa com toda a densidade do seu significado. Precisamos nos responsabilizar no auxílio aos irmãos. Concentrar o nosso olhar no essencial e superar as barreiras da indiferença à dor alheia. Em tempo como este é urgente lançar mão de nossos direitos e deveres cívicos e exigir o mínimo necessário a salvar vidas de tantos irmãos e irmãs.

Façamos o caminho da paixão, consolando nos irmãos o coração de Deus. “Ao longo da via sacra diária, encontramos os rostos de tantos irmãos e irmãs em dificuldade: não passemos adiante, deixemos que o coração seja movido à compaixão e nos aproximemos. No momento, como o Cirineu, poderemos pensar: "Por que logo eu?" Mas depois descobriremos o presente que, sem nosso mérito, nos foi dado” (Papa Francisco, Angelus, 28 mar. 2021).

Lembrando que a pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular, sejamos nós voz daqueles que foram silenciados pela esmagadora indiferença e injustiça.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Um com todos

terça-feira, 23 de março de 2021

Estamos enfrentando uma das maiores crises da contemporaneidade. Não digo isto em referência apenas à pandemia da Covid-19 e à crise econômica que ela desencadeou. Esta afirmação tende a ser mais abrangente. Todos os dias nos deparamos com situações que revelam o quanto há de maldade em nós e no meio em que estamos inseridos. É muito comum ouvirmos justificativas sobre a atual situação culpabilizando o sistema, a cultura, o governo, a população. A responsabilidade torna-se uma verdadeira “batata-quente”.

Estamos enfrentando uma das maiores crises da contemporaneidade. Não digo isto em referência apenas à pandemia da Covid-19 e à crise econômica que ela desencadeou. Esta afirmação tende a ser mais abrangente. Todos os dias nos deparamos com situações que revelam o quanto há de maldade em nós e no meio em que estamos inseridos. É muito comum ouvirmos justificativas sobre a atual situação culpabilizando o sistema, a cultura, o governo, a população. A responsabilidade torna-se uma verdadeira “batata-quente”.

O ato de transferir a culpa é bastante antigo. No livro do Gênesis, ao ser questionado pelo motivo de ter comido o fruto proibido, Adão transfere a culpa para a mulher, Eva por sua vez para a serpente (cf. Gn 3, 11-13). Contudo, esta dinâmica não muda nada, ao contrário somente tende a agravar ainda mais as divisões e os conflitos.

Não se pode esquecer, em momento algum, de que todo ato humano exercido em sua individualidade tem uma dimensão de abertura para Deus e para o próximo. Disto, concluímos que o pecado tem como consequência a ruptura com Deus e com os irmãos.

Cada indivíduo, no exercício de suas funções, tem a responsabilidade de zelar pelo bem, pela paz e pela vida. Também faz parte de sua missão cuidar para que as estruturas sociais não percam a dimensão da verdade, bondade e comunhão. O papa emérito Bento XVI ao analisar os desvios e o esvaziamento de sentido vividos pela sociedade hodierna, aponta o humanismo integral como única solução. “Só um humanismo aberto ao absoluto pode guiar-nos na promoção e realização de formas de vida social e civil – no âmbito das estruturas, das instituições, da cultura, do ethos – preservando-nos do risco de cairmos prisioneiros das modas do momento” (Caritas in veritate, 78).

O enfrentamento da crise social deve começar pelo questionamento de cada indivíduo sobre sua forma de ação na vivência comunitária. É absurdo o modo como alguns indivíduos, no afã de defender suas ideologias, torcem para que falhem ações que tendem ajudar a outrem. Como também são absurdas as manifestações de alegria quando algo dá errado.

Assim, o Papa Francisco além reforçar a prática do humanismo integral, aponta o diálogo construtivo como ferramenta fundamental para enfrentar os conflitos e divisões. “Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade”.

Mais uma vez, cabe a reflexão proposta pela quinta edição da Campanha da Fraternidade Ecumênica, a qual nos convida, pela prática do diálogo fraterno, a construir pontes ao invés de muros de separação. É hora de todos nós assumirmos nosso lugar no enfrentamento da crise atual, exercendo com responsabilidade, diálogo e justiça a missão de ser um com todos.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Fraternidade e diálogo

terça-feira, 16 de março de 2021

O período quaresmal é um momento de preparação para a grande festa da Páscoa. Durante este tempo a Igreja nos propõe os exercícios espirituais do jejum, esmola e oração. O jejum nos faz experimentar o esvaziamento, a expropriação, a libertação dos bens materiais abrindo nosso coração à fome de Deus e à disponibilidade de saciar a fome dos irmãos. Já a esmola é partilha, misericórdia, cuidado, entrega. O seu exercício é a verdadeira dinâmica do amor divino e nasce do encontro do tesouro escondido (cf. Mt 13, 44-46).

O período quaresmal é um momento de preparação para a grande festa da Páscoa. Durante este tempo a Igreja nos propõe os exercícios espirituais do jejum, esmola e oração. O jejum nos faz experimentar o esvaziamento, a expropriação, a libertação dos bens materiais abrindo nosso coração à fome de Deus e à disponibilidade de saciar a fome dos irmãos. Já a esmola é partilha, misericórdia, cuidado, entrega. O seu exercício é a verdadeira dinâmica do amor divino e nasce do encontro do tesouro escondido (cf. Mt 13, 44-46). A oração é fonte de intimidade entre um coração desapegado do homem e o coração misericordioso de Deus.

A prática destes exercícios nos auxilia no caminho de conversão e mudança de vida, desperta em nós a necessidade de partilha e nos aproxima em fraternidade. Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos apresenta a Campanha da Fraternidade como um caminho pessoal, comunitário e social de conversão e culminância das práticas quaresmais.

Num tempo de radicalizações e de polarizações no qual pululam conflitos, violência, racismos, xenofobias e outras práticas de ódio, se faz urgente a reflexão sobre a necessidade de superarmos a diferença e, em diálogo, nos unir na construção e propagação de um mundo mais justo e fraterno.

O tema “Fraternidade e diálogo”, em certa medida, parece ser redundante. Pois é certo que a prática religiosa conduz necessariamente ao diálogo e ao respeito aos irmãos. Infelizmente, para alguns esta certeza ainda não foi alcançada. Podemos, evocando o testemunho da história, enumerar várias situações em que o nome de Deus foi usado em discursos políticos carregados de ódio ou para justificar diversos genocídios. Ou ainda, ao abrir as redes sociais nos deparamos com inúmeros discursos cheios de ódio numa tentativa estéril de defender a fé.

As palavras do Papa Francisco na visita à cidade de Ur, no Iraque, enriquecem nossa reflexão: “os bens do mundo, que fazem muitos esquecer-se de Deus e dos outros, não são o motivo da nossa viagem sobre a terra. Erguemos os olhos ao céu para nos elevarmos das torpezas da vaidade; servimos a Deus, para sair da escravidão do próprio eu, porque Deus nos impele a amar. Esta é a verdadeira religiosidade: adorar a Deus e amar o próximo. No mundo atual, que muitas vezes se esquece do Altíssimo ou oferece uma imagem distorcida d’Ele, os crentes são chamados a testemunhar a sua bondade, mostrar a sua paternidade através da nossa fraternidade.” (6 de março de 2021).

Ao nos entregarmos à prática dos exercícios quaresmais, nos libertamos das paixões terrenas e do nosso próprio egoísmo. Nos tornamos capazes de ouvir o outro e respeitá-lo como um irmão, um igual, que caminha conosco ao encontro do amoroso coração de Deus. Somos chamados a “abrir o coração ao companheiro de estrada sem medos nem desconfianças, e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus” (Exort. Apost. Evangelii gaudium, n. 244). 

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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