O devorador

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Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo.

terça-feira, 20 de julho de 2021

O contexto atual é marcado pela velocidade e se encontra sob a (o)pressão do relógio. Esta máquina de medir o tempo, que antes ficava nas praças, depois invadiu as casas e nas paredes passou a tiranizar a existência humana. Com o progresso, foi entrando no bolso e chegou ao pulso do homem, e agora está dentro do coração/mente, onde marca o passo, um passo acelerado que oprime e que faz este homem esquivar-se de sua essência.

A vida é contada pelo passar das horas, dos dias, dos meses e dos anos e não mais a partir das atividades realizadas nesse tempo. O homem rende-se ao senhorio do time cronológico. Este modo de proceder nos faz lembrar a figura mitológica do Chronos, o deus do tempo, que devorava seus próprios filhos para manter-se no poder.

O homem contemporâneo vive imerso em uma sociedade que exige cada dia mais agilidade e produtividade. Tanto que agora é possível acelerar áudios em aplicativos de mensagens, a fim de que se possa fazer mais em menos tempo. Subjugando, assim, as relações interpessoais ao lucro do tempo.

A regra da vida do homem não está mais relacionada ao seu corpo – tempo biológico – e às necessidades que este lhe apresenta. É cada vez mais comum encontrar pessoas que se rendem às jornadas de trabalhos exaustivas e abusivas. Não se respeita mais as horas de sono, de se alimentar, de descansar, mas respeitam-se unicamente os ponteiros do relógio que administra as horas de trabalho, de produção e de consumo.

Outro fator que se pode evidenciar é o descaso, ou melhor, a inversão do tempo social. É notável que a vida do homem em sociedade, em certo período, vem se transformando a ponto deste homem perder-se em meio às horas contadas na exigência de produzir e não mais atentar para as necessidades de relacionamentos. O tempo reclama o homem só para ele. As relações com os outros – amigos, família, e até mesmo com o transcendente – estão cada vez mais restritas pelo tempo, que nunca sobra.

Um exemplo claro desta triste realidade é o descaso com os idosos. Homens e mulheres que viveram intensamente e que souberam extrair das horas vividas o bálsamo da sabedoria, agora são esquecidos à margem da sociedade. No próximo dia 25, a Igreja celebrará o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, instituído pelo Papa Francisco no começo de 2021, na busca de ressaltar o valor que a história tem para a construção do futuro.

O que nos falta é, sem dúvida, tomar as rédeas de nossa vida novamente em nossas próprias mãos. Porém, não se pode alimentar a ilusão de que seremos capazes de nos livrar do alcance do tempo sobre nossa vida. Somos seres temporais, temos o tempo como condição necessária para a existência. Contudo, é preciso vencer a opressão cronológica, e dar margens e valor ao tempo de nosso corpo, ao tempo sociocultural, cosmológico e religioso. Devemos, portanto, assumir a função de regente de nossa vida e de todas as formas de tempo que giram ao seu redor.

Foto da galeria

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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