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O sentido do sofrimento

terça-feira, 27 de julho de 2021

Diante de uma visão panorâmica da sociedade contemporânea, desfila-se um quadro sobre um dos temas que estão entre as principais perguntas existenciais do homem: Qual o sentido do sofrimento? As práticas do homem moderno, suas ideologias e a compreensão da essência da humanidade parecem sempre caminhar para uma total negação do sofrimento e uma busca desenfreada pelo prazer. Neste sentido, o ser humano foge ou nega tudo aquilo que pode lhe proporcionar qualquer tipo de desprazer.

Diante de uma visão panorâmica da sociedade contemporânea, desfila-se um quadro sobre um dos temas que estão entre as principais perguntas existenciais do homem: Qual o sentido do sofrimento? As práticas do homem moderno, suas ideologias e a compreensão da essência da humanidade parecem sempre caminhar para uma total negação do sofrimento e uma busca desenfreada pelo prazer. Neste sentido, o ser humano foge ou nega tudo aquilo que pode lhe proporcionar qualquer tipo de desprazer. Não é à toa que numa sociedade como a que vivemos impere a lei do menor esforço, da vantagem, do individualismo, do egoísmo e do hedonismo.

No entanto, o sofrimento faz parte da existência humana. Não se pode evitá-lo. Ele é uma realidade! Mesmo que em graus diferentes algum dia todos se encontrarão com ele. Assim, aumenta a angústia do homem frente a esta realidade da qual não se pode fugir. Algumas correntes teológicas baseadas na concepção de que Deus criou o homem para a felicidade, seguem o mesmo caminho da sociedade hedonista.

A busca pelo prazer e pela satisfação, por vezes, vem mascarada de prosperidade garantida por Deus àqueles que professam nele a sua fé. Ou ainda a negação do sofrimento como uma realidade permitida por Deus, e que, por isso, deve ser superada.

A fé católica, centrada no exemplo de Cristo, que padeceu e se entregou ao sacrifício como livre oferta de amor, não pode se fundar sob o pretexto de proclamar a felicidade eterna em um mundo futuro. A fé não pode alienar-se à angústia do ser humano, muito menos subestimar o seu valor. Primeiramente, a fé destaca que o mal e o sofrimento sempre estiveram presentes na história e na humanidade. Depois, observa que, em grande parte, a fonte do mal e do sofrimento humano é o coração do homem, nos seus reflexos egoístas, no apetite pelo prazer e pelo poder, principalmente na dureza do coração. Fatos estes já apresentados como consequência da busca de uma vida sem tribulações.

Logo, a busca de uma vida assim gera ainda mais sofrimento. Pode parecer então que não existe esperança para quem sofre, contudo a revelação bíblica e a fé cristã incentivam o homem na busca de caminhos que o conduzem a uma mudança, apelando ao livre arbítrio e para o senso de responsabilidade. Afirma ainda a Igreja que a presença de dores e alegrias na vida dos povos é uma ação de Deus, para que tudo concorra para o bem dos que o amam.

Para além da tentativa de compreender e situar o sofrimento na vida do homem, a Igreja defende junto com São Paulo o gozo no sofrer e assim convida aos que sofrem a entrarem no sentido salvífico do sofrimento. A especificidade do agir cristão diante da angústia é testemunhada na pregação apostólica e no testemunho dos mártires. Entendem que seu sofrimento é uma forte via de união ao sacrifício de Cristo por toda a humanidade.

Por isso, ao invés de ser negado, evitado ou superado o sofrimento deve ser abraçado por amor a Cristo e à sua Igreja, mas não com mera passividade, e sim livre acolhimento e testemunha de amor ao sofrimento.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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O devorador

terça-feira, 20 de julho de 2021

O contexto atual é marcado pela velocidade e se encontra sob a (o)pressão do relógio. Esta máquina de medir o tempo, que antes ficava nas praças, depois invadiu as casas e nas paredes passou a tiranizar a existência humana. Com o progresso, foi entrando no bolso e chegou ao pulso do homem, e agora está dentro do coração/mente, onde marca o passo, um passo acelerado que oprime e que faz este homem esquivar-se de sua essência.

O contexto atual é marcado pela velocidade e se encontra sob a (o)pressão do relógio. Esta máquina de medir o tempo, que antes ficava nas praças, depois invadiu as casas e nas paredes passou a tiranizar a existência humana. Com o progresso, foi entrando no bolso e chegou ao pulso do homem, e agora está dentro do coração/mente, onde marca o passo, um passo acelerado que oprime e que faz este homem esquivar-se de sua essência.

A vida é contada pelo passar das horas, dos dias, dos meses e dos anos e não mais a partir das atividades realizadas nesse tempo. O homem rende-se ao senhorio do time cronológico. Este modo de proceder nos faz lembrar a figura mitológica do Chronos, o deus do tempo, que devorava seus próprios filhos para manter-se no poder.

O homem contemporâneo vive imerso em uma sociedade que exige cada dia mais agilidade e produtividade. Tanto que agora é possível acelerar áudios em aplicativos de mensagens, a fim de que se possa fazer mais em menos tempo. Subjugando, assim, as relações interpessoais ao lucro do tempo.

A regra da vida do homem não está mais relacionada ao seu corpo – tempo biológico – e às necessidades que este lhe apresenta. É cada vez mais comum encontrar pessoas que se rendem às jornadas de trabalhos exaustivas e abusivas. Não se respeita mais as horas de sono, de se alimentar, de descansar, mas respeitam-se unicamente os ponteiros do relógio que administra as horas de trabalho, de produção e de consumo.

Outro fator que se pode evidenciar é o descaso, ou melhor, a inversão do tempo social. É notável que a vida do homem em sociedade, em certo período, vem se transformando a ponto deste homem perder-se em meio às horas contadas na exigência de produzir e não mais atentar para as necessidades de relacionamentos. O tempo reclama o homem só para ele. As relações com os outros – amigos, família, e até mesmo com o transcendente – estão cada vez mais restritas pelo tempo, que nunca sobra.

Um exemplo claro desta triste realidade é o descaso com os idosos. Homens e mulheres que viveram intensamente e que souberam extrair das horas vividas o bálsamo da sabedoria, agora são esquecidos à margem da sociedade. No próximo dia 25, a Igreja celebrará o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, instituído pelo Papa Francisco no começo de 2021, na busca de ressaltar o valor que a história tem para a construção do futuro.

O que nos falta é, sem dúvida, tomar as rédeas de nossa vida novamente em nossas próprias mãos. Porém, não se pode alimentar a ilusão de que seremos capazes de nos livrar do alcance do tempo sobre nossa vida. Somos seres temporais, temos o tempo como condição necessária para a existência. Contudo, é preciso vencer a opressão cronológica, e dar margens e valor ao tempo de nosso corpo, ao tempo sociocultural, cosmológico e religioso. Devemos, portanto, assumir a função de regente de nossa vida e de todas as formas de tempo que giram ao seu redor.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A espiritualidade conjugal e familiar

terça-feira, 13 de julho de 2021

No último capítulo da exortação apostólica Amoris Laetitia, o pastor maior da Igreja Católica, o Papa Francisco, reflete sobre a espiritualidade do casal e da família (313-325), destacando que a presença do Senhor habita na comunidade familiar real e concreta, com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos diários. O papa apresenta o seu entusiasmo pela "alegria do amor": "...apesar das muitas dificuldades" (1), é preciso ir em frente, contando sempre com Cristo. "Avancemos, famílias. Continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais!

No último capítulo da exortação apostólica Amoris Laetitia, o pastor maior da Igreja Católica, o Papa Francisco, reflete sobre a espiritualidade do casal e da família (313-325), destacando que a presença do Senhor habita na comunidade familiar real e concreta, com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos diários. O papa apresenta o seu entusiasmo pela "alegria do amor": "...apesar das muitas dificuldades" (1), é preciso ir em frente, contando sempre com Cristo. "Avancemos, famílias. Continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais! Não percamos a esperança por causa de nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida"(325).

Reafirma a inabitação do próprio Deus na comunhão familiar: "A presença do Senhor habita na família real e concreta, com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos divinos"; "A espiritualidade familiar é feita de milhares de gestos reais e concretos. Deus tem a sua própria habitação nesta variedade de dons e encontros que fazem maturar a comunhão. Esta dedicação une o 'humano e o divino' porque está cheia do amor de Deus" (315). Sublinha que "a comunhão familiar vivida é um verdadeiro caminho de santificação na vida ordinária e de crescimento místico, um meio para a união íntima com Deus".

Com o subtítulo - ‘Unidos em oração à luz da Páscoa’, ressalta a oração em família como "um meio privilegiado para exprimir e reforçar a fé pascal" (317), acentuando as expressões da piedade popular, com a culminância na palavra e na eucaristia na celebração e no descanso dominical. Com o outro subtítulo – ‘Espiritualidade do amor exclusivo e libertador’, reforça que se deve reconhecer a presença de Cristo no outro, onde "os esposos assumem o desafio e o anseio de envelhecer e gastar-se juntos e assim refletem a fidelidade de Deus. Esta firme decisão que marca um estilo de vida é uma 'exigência interior do pacto de amor conjugal" (319).

Tematizando a 'Espiritualidade da solicitude, da consolação e do estímulo', o sucessor de Pedro afirma que "os esposos cristãos são cooperadores da graça e testemunhas da fé um para o outro, para com os filhos e mais familiares". Para tal doação deve haver a disponibilidade gratuita e generosa, o despojamento e a liberdade interior, na compreensão de que não pode possuir o outro na sua total intimidade, mas que ambos pertencem ao Senhor, desenvolvendo uma madura autonomia. E enfatiza: "A vida em casal é uma participação na obra fecunda de Deus e cada um é para o outro uma permanente provocação do espírito. Assim, os dois são entre si reflexos do amor divino que conforta com a palavra, o olhar, a carícia, o abraço" (321). Espiritualidade refletida também na santidade da união afetivo-sexual, já abordada pelo papa (cf  74), cumprindo o fim unitivo do amor conjugal no matrimônio, como valorizara na exortação (cf  36), ao lado do outro fim, procriativo, na geração e educação dos filhos, na consciência e vivência amorosa das duas propriedades essenciais, a unidade-fidelidade e a indissolubilidade.

O papa chama esta divina missão de "pastoreio misericordioso", onde cada um é "pescador de homens" (Lc 5,10) ou "um lavrador que trabalha nesta terra fresca que são os seus entes queridos, incentivando o melhor deles". E conclui: "A fecundidade matrimonial implica promover" (...) "Isto é um culto a Deus, pois foi ele que semeou muitas coisas boas nos outros, com a esperança de que as façamos crescer" (322). O sentido missionário da família cristã que recoloca, com entusiasmo: "Sob o impulso do espírito, o núcleo familiar não só acolhe a vida no próprio seio, mas abre-se também, sai de si para derramar o seu bem nos outros para cuidar deles e procurar a sua felicidade" (324). E termina com uma belíssima oração pela família.

Nos diversos ângulos da vida cristã e da edificação da pessoa humana, do casal, da família e da Igreja, a exortação apostólica Amoris Laetitia se apresenta como uma abençoada enciclopédia teológica, afetiva, espiritual e pastoral, refletindo a maternidade e a paternidade eclesial, no serviço de acolhida, compreensão, acompanhamento, cooperação, amparo, auxílio, conversão, direcionamento, iluminação, evangelização, santificação e salvação de cada filho, o mais perdido, o mais afastado, o mais equivocado, esmagado, desfigurado ou destruído, com todas as graças abundantes e regeneradoras da misericórdia do Bom Pastor.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler e assessor eclesiástico diocesano da Pastoral Familiar. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Consciência, comunhão e pastoral em favor da família

domingo, 04 de julho de 2021

Continuamos a nossa apresentação sintética sobre a exortação Amoris Laetitia, do Papa Francisco, sobre a alegria do amor na família, a dignidade e missão desta divina instituição do projeto de Deus. No quinto capítulo (163-198), o pontífice reflete sobre a fecundidade: “o amor conjugal ' não se esgota no interior do próprio casal (...). Os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmos a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe" (165).

Continuamos a nossa apresentação sintética sobre a exortação Amoris Laetitia, do Papa Francisco, sobre a alegria do amor na família, a dignidade e missão desta divina instituição do projeto de Deus. No quinto capítulo (163-198), o pontífice reflete sobre a fecundidade: “o amor conjugal ' não se esgota no interior do próprio casal (...). Os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmos a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe" (165). Aprofunda o sentido do amor dos pais e o lugar que os filhos ocupam na família. E constata: "desde o início, numerosas crianças são rejeitadas, abandonadas e subtraídas à sua infância e ao seu futuro. Alguns ousam dizer, como que para se justificar que foi um erro tê-las feito vir ao mundo. Isto é vergonhoso!".

E questiona: " Que aproveitam as solenes declarações dos direitos do homem e dos direitos da criança, se depois punimos as crianças pelos erros dos adultos?"  Ao contrário, o sucessor de Pedro afirma que "os pais ou os membros da família devem fazer todo o possível para aceitá-la (a criança) como dom de Deus e assumir a responsabilidade e carinho" (166). Também frisa a valorização e o amor aos idosos: "como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descarte, com a alegria transbordante de um novo abraço entre jovens e idosos" (191). Ainda ressalta a relação entre os irmãos: "...uma experiência forte, inestimável, insubstituível" (194). Destaca o valor da vida e da gravidez e agradece às mães: "Queridas mães, obrigado... por aquilo que sois na família e pelo que dais à Igreja e ao mundo". Incentiva a adoção e reafirma a valorização e o sentido cristão do corpo.

No sexto capítulo (199-258), reflete sobre as ações pastorais da Igreja em favor da família, destacando a preparação dos noivos, recordando a riqueza da atuação pastoral remota acentuada pela Familiaris Consortio, de São João Paulo II, a formação das crianças, adolescentes e jovens para o sentido profundo e responsável do matrimônio e da família, a preparação próxima, o cuidado para com a celebração, a assistência e apoio psicológico e espiritual dos casais mais experientes aos mais novos nos primeiros anos de vida matrimonial, com plantões e consultórios de acompanhamento da Pastoral Familiar;  o planejamento familiar, o suporte às crises da vida conjugal também por uma estrutura pastoral organizada, fazendo a mediação dos conflitos e sustentando a perseverança dos casais.

Conclui com as situações que chama de "complexas", como a homoafetividade, os casos de nulidade e a morte. Em todas estas situações deve haver um abraço acolhedor de misericórdia, compreendendo a pessoa humana e iluminando-a para um caminho de santificação, amparo e aperfeiçoamento espiritual a partir da proposta cristã. O que o Papa chama de progressividade pedagógica e pastoral.

No capítulo seguinte, reflete sobre a educação dos filhos, especialmente a moral, afetiva, sexual e religiosa. Relembra que os pais são os primeiros formadores na fé e na vida religiosa, sendo a família a Igreja doméstica e a primeira escola de virtudes humanas e cristãs. Alerta para o uso da internet, a educação para uma visão crítica e ética conforme os valores e os princípios do equilíbrio, na liberdade com a responsabilidade, exercendo também a correção no amor (259-290).

Trata ainda, no capítulo oitavo, sobre as situações chamadas de "irregularidades" no matrimônio (291-312) como o divórcio e o recasamento. Lembra que os casais em tal situação não estão excomungados da Igreja. Ao contrário, devem participar dela (243). Mostra que muitas realidades devem ser analisadas caso a caso, levando em consideração as injustiças, dores e sofrimentos das pessoas que vivenciam estas experiências, não se devendo tratar de forma generalizada todos os casos, evitando-se os julgamentos. Deve haver, sobretudo, a acolhida na misericórdia e o engajamento na vida e espiritualidade eclesial, com retiros, formações e atividades pastorais.

Reafirma ainda as normas da Igreja, sem absolutizá-las e conclui de forma iluminadora: "Compreendo aqueles que preferem uma pastoral mais rígida que não dê lugar a confusão alguma, mas creio sinceramente que Jesus Cristo quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito derrama no meio da fragilidade" (308).

Esta é a marca e a reafirmação profética do pastoreio do Papa Francisco: o encontro, como o impulso acolhedor de Cristo, da missão pastoral com o coração humano onde está e como está, com suas dores e sofrimentos, com suas deficiências e dificuldades, limitações e contradições, erros e pecados... para o resgate amoroso e salvação, no abraço misericordioso do Pai, na iluminação do Espírito Santo.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler e assessor eclesiástico diocesano da Pastoral Familiar. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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O amor vivido e comunicado na família

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Nunca é demais falar sobre a família, sua importância, riqueza, beleza, valores, sua fundação divina. Comunicar a família, o alicerce de toda a sociedade, a escola primeira e permanente das virtudes humanas e cristãs, o santuário da vida e do amor, a Igreja doméstica... sempre será a nossa missão, preservando a identidade da própria pessoa humana e de toda a humanidade, cooperando para a realização do projeto de Deus da criação e sustentação da união sagrada familiar rumo à plenitude da santificação na comunhão celeste.

Nunca é demais falar sobre a família, sua importância, riqueza, beleza, valores, sua fundação divina. Comunicar a família, o alicerce de toda a sociedade, a escola primeira e permanente das virtudes humanas e cristãs, o santuário da vida e do amor, a Igreja doméstica... sempre será a nossa missão, preservando a identidade da própria pessoa humana e de toda a humanidade, cooperando para a realização do projeto de Deus da criação e sustentação da união sagrada familiar rumo à plenitude da santificação na comunhão celeste.

No capítulo terceiro ainda da Exortação Apostólica Amoris Laetitia (89-164), o Papa Francisco exalta o matrimônio como "a íntima comunidade de vida e amor conjugal que constitui um bem para os próprios esposos e a sexualidade está ordenada para o amor conjugal entre o homem e a mulher". E, por isso, "a vida conjugal cheia de sentido humano e cristão pode ser concretizada pelos esposos a quem Deus não concedeu ter filhos". "Contudo essa união está ordenada para a geração 'por sua própria natureza' (n. 80).

Ressalta ainda: "É preciso redescobrir a mensagem da encíclica Humanae Vitae de São Paulo VI que sublinha a necessidade de respeitar a dignidade da pessoa na avaliação moral dos métodos de regulação da natalidade(...) A escolha da adoção e do acolhimento exprime uma fecundidade particular da experiência conjugal". E completa: " Com particular gratidão a Igreja apoia as famílias que acolhem, educam, rodeiam de carinho os filhos portadores de necessidades especiais" (n. 82). Rejeita, com firmeza, o aborto, a eutanásia e a pena de morte. Afirma que "se a família é o santuário da vida, o lugar em que a vida é gerada e cuidada, constitui uma contradição pungente fazer dela o lugar em que a vida é engada e destruída".

Ainda neste capítulo, o Papa recorda a obrigação moral e a objeção de consciência àqueles que trabalham nas estruturas de assistência de saúde (n. 83). Conclui reafirmando que "a Igreja é chamada a colaborar com uma ação pastoral adequada, para que os próprios pais possam cumprir a sua missão educativa" (n. 85), a começar pela iniciação cristã, por meio de comunidades acolhedoras, lembrando que "a educação integral dos filhos é simultaneamente 'dever gravíssimo" e "direito primário" dos pais (n. 84). A Igreja é família de famílias constantemente enriquecida pela vida de todas as igrejas domésticas" (n. 87).

No quarto capítulo, o sucessor de Pedro reflete sobre o amor verdadeiro no matrimônio. Partindo do texto de 1Cor 13, apresenta suas atitudes essenciais: paciência, serviço, cura da inveja, humildade, amabilidade, desprendimento, conciliação, perdão, alegria, desculpa, confiança, espera, suportação. Fala, em seguida, sobre o crescer na caridade conjugal, num "... amor santificado, enriquecido e iluminado pela graça do sacramento do matrimônio". "O espírito que o Senhor infunde dá um coração novo e torna o homem e a mulher capazes de se amarem como Cristo nos amou" (n.120). "0 matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós" (n. 121).

Insiste que o amor entre os esposos deve crescer em Cristo, desde o namoro, na valorização do diálogo. É uma união de vida toda e de tudo em comum, com alegria e beleza, num casamento por amor. Amor que se manifesta e cresce, vivenciando as emoções, sinais afetivos basilares - prazer ou sofrimento, alegria ou tristeza, ternura ou receio - pressuposto da atividade psicológica elementar, buscando que se tornem um bem para a família e estejam a serviço da vida em comum, referencial de maturidade e de um amor sobrenatural. (n.123-146) Em seguida, o Papa refere-se à dimensão erótica do amor, entendendo-a como "dom de Deus que embeleza o 'encontro dos esposos". Rejeita a submissão sexual e enfatiza a riqueza do matrimônio, da virgindade e do celibato.

Em toda a exortação rebrilha a fundamental teologia do matrimônio, como expressão do amor infinito e misericordioso de Deus, com profunda sensibilidade pastoral, contemplando os diversos âmbitos da antropologia e da psicologia à luz da revelação cristã na construção da comunhão familiar.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese e assessor eclesiástico da Pastoral Familiar.

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Comunicar a alegria do amor na família

terça-feira, 22 de junho de 2021

Comemoramos em 2021, o Ano da Exortação Apostólica Amoris Laetitia. Publicada em 2016, esta rica palavra do nosso iluminado Papa Francisco ecoa nos campos da Igreja. Nela, ele trata da alegria do Amor na Família e o seu texto é a conclusão de uma longa jornada de reflexão com os bispos durante dois sínodos: em 2014 e 2015.

Comemoramos em 2021, o Ano da Exortação Apostólica Amoris Laetitia. Publicada em 2016, esta rica palavra do nosso iluminado Papa Francisco ecoa nos campos da Igreja. Nela, ele trata da alegria do Amor na Família e o seu texto é a conclusão de uma longa jornada de reflexão com os bispos durante dois sínodos: em 2014 e 2015.

Com uma introdução e nove capítulos, o papa trata do tema em 325 números, com uma abertura inspirada na Sagrada Escritura, considerando a partir daí a situação atual das famílias, lembrando, a seguir, alguns elementos essenciais da doutrina da Igreja sobre o matrimônio e a família, dedicando depois dois capítulos ao amor. Destaca, em seguida, alguns caminhos pastorais que nos levam à construção familiar sólida e fecunda, conforme o plano de Deus, com um capítulo especial para a educação dos filhos. Faz, então, "um convite à misericórdia e ao discernimento pastoral perante situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor nos propõe". No final, traça breves linhas de espiritualidade familiar, concluindo a exortação com uma oração à Sagrada Família.

Todas as famílias, sem exceção, são oportunidades e não problemas, afirma o papa (nº 7). Falar da família é falar de uma boa notícia (nº 1). Insiste na sua beleza, missão e valor, inclusive a incompleta (n.n. 296-300). Reafirma a ideia central de que a família é o lugar de realização e de amor, mesmo tendo falhas e limitações. Crê que ela é espaço de felicidade sempre e encoraja a todos a apreciar os dons do matrimônio e da família, a uma convivência familiar. Reflete sobre a dignidade do casal (homem e mulher) e da família na Sagrada Escritura, a união conjugal que os leva a "tornar-se uma só carne", quando se tornam "mestres da fé para seus filhos", devendo educá-los, destacando-se nas famílias a virtude da ternura, nestes "tempos de relações frenéticas e superficiais" (n.28). Estas são as temáticas do primeiro capítulo (nn.8-30).

Num segundo capítulo (nn. 31-57), é apresentado o quadro atual da família e seus desafios, as luzes e sombras da instituição familiar. Por um lado, mais liberdade e distribuição das tarefas em casa, com uma comunicação pessoal valorizada. Por outro, os elementos que desagregam e destroem: individualismo, pressa e estresse, desvalorização do matrimônio, a cultura do provisório, a afetividade sem limite, o enfraquecimento da fé e da prática religiosa. Manifesta grande preocupação para com as questões delicadas como o abuso sexual de crianças, as migrações, a miséria e a exclusão, as pessoas com deficiências e os idosos. Ressalta também os desafios como a violência, a desconstrução jurídica da família, a negação da diferença e da reciprocidade natural entre homem e mulher, o desemprego.

Há uma profunda reflexão no terceiro capítulo sobre os ensinamentos de Jesus e da Igreja sobre a família, o valor do matrimônio (nn .61-75). O Papa Francisco fala da presença divina, as "sementes do verbo", nas situações de imperfeição. E "o olhar de Cristo, cuja luz ilumina cada homem" (Jo 1,9; Gaudium et Spes n. 22) que "inspira o cuidado pastoral da Igreja pelos fiéis que simplesmente convivem ou que só contraíram o casamento civil, ou então que são divorciados recasados.

Na perspectiva da pedagogia divina, a Igreja dirige-se com amor a quantos participam da vida dela de modo imperfeito: invoca com eles a graça da conversão, encoraja-os a realizar o bem, a cuidar com amor um do outro e a pôr-se a serviço da comunidade na qual vivem e trabalham..." (n. 78). E relembra aos pastores: "Diante de situações difíceis e de famílias feridas, é necessário recordar sempre um princípio geral: 'Saibam os pastores que, por amor à verdade, estão obrigados a discernir bem as situações' (Familiaris Consortio n. 84). O grau de responsabilidade não é igual em todos os casos e podem existir fatores que limitam a capacidade de decisão. Por isso, enquanto se deve expressar claramente a doutrina, é preciso evitar juízos que não levam em consideração a complexidade das diversas situações, e é necessário prestar atenção ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição"(n.79).

Este e outros temas importantes são abordados na exortação do Papa que continuaremos apresentando nos próximos artigos.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese e assessor eclesiástico diocesano da Pastoral Familiar. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Viver na verdade como São João Batista

terça-feira, 15 de junho de 2021

Estimados leitores, neste mês de junho celebramos, no próximo dia 24, São João Batista, padroeiro da nossa cidade de Nova Friburgo. E o que aprendemos com este grande santo? Em primeiro lugar, aprendemos a dar testemunho de Cristo com nossa vida, com nosso exemplo. Muitos acham que o dever de anunciar a Cristo se cumpre-se apenas com palavras ou gritos. Obviamente as palavras são necessárias, mas se não vão acompanhadas do nosso exemplo, nada do que falamos consegue penetrar e transformar a vida dos nossos ouvintes.

Estimados leitores, neste mês de junho celebramos, no próximo dia 24, São João Batista, padroeiro da nossa cidade de Nova Friburgo. E o que aprendemos com este grande santo? Em primeiro lugar, aprendemos a dar testemunho de Cristo com nossa vida, com nosso exemplo. Muitos acham que o dever de anunciar a Cristo se cumpre-se apenas com palavras ou gritos. Obviamente as palavras são necessárias, mas se não vão acompanhadas do nosso exemplo, nada do que falamos consegue penetrar e transformar a vida dos nossos ouvintes.

Como bem nos lembra Santo Antônio de Pádua, que também celebramos neste mês, no último domingo, 13, “cessem as palavras, falem as obras”. E São João Batista viveu essa coerência entre o que pregava e o que vivia. Pregou a penitência e a conversão e buscou viver uma vida mortificada, de acordo com sua pregação.

Em segundo lugar, de São João Batista aprendemos também que nossa vida ganha sentido no serviço a Deus e ao nosso próximo. E como podemos servir a Deus e aos demais se estamos confinados, em plena pandemia? Certamente podemos servir a Deus nos demais em muitas situações do nosso dia a dia... Um telefonema a alguém que sabemos que está sofrendo com a solidão ou pela perda de um ente querido; nutrir conversas cheias de alegria e esperança, que infundam ânimo nos demais; se prontificar a ajudar aqueles que são do grupo de risco, indo para eles à farmácia, ao mercado, à padaria...; colaborar com as obras sociais de tantas Igrejas que, neste tempo de pandemia, não deixaram de ajudar os que estão em situação de rua ou famílias carentes; ser mais compreensivos e “gastar tempo” com os filhos pequenos, entediados com o isolamento... Enfim... muitas são as possibilidades de servir... E, servindo aos que mais necessitam, servimos também a Deus, já que estamos chamados a ver a Cristo naqueles que mais sofrem.

Por último, mas não menos importante, aprendemos que a nossa vida deve ser um compromisso com a verdade. Se antes falávamos da coerência de João Batista, essa coerência se dava por causa do seu compromisso com a verdade. E por ela João perdeu a sua vida, foi martirizado. A “voz que clama no deserto” (cf. Jo 1,23) foi silenciada... Mas nem por isso seu sangue derramado deixou de “gritar”, porque a verdade nunca pode ser abafada, camuflada, silenciada.

Vivemos numa sociedade que passa por uma “crise acerca da verdade”. Queremos nos comprometer com “nossa verdade”, não aceitamos a ideia de uma verdade universalmente válida. E, assim como atribuímos critérios subjetivos para descobri-la, também falamos de uma verdade subjetiva. “Importa o que eu penso sobre isso”, dizemos... E este caminho só nos leva ao equívoco, à confusão, ao erro. Perdemos de vista quem somos e ferimos nossa dignidade. Além do mais, a verdade é essencial na nossa convivência com os demais, pois, como diz Santo Tomás de Aquino: “os homens não poderiam viver juntos se não tivessem confiança recíproca, quer dizer, se não manifestassem a verdade uns aos outros”.

Assim sendo, qualquer cristão, qualquer um de nós, nunca pode renunciar a conhecer a verdade. E a verdade que nos liberta é Cristo. E o encontro com a pessoa de Cristo é sempre transformador e nos move a segui-lo. E, claro, esse seguimento é um constante caminhar na verdade do Evangelho, que é sempre atual. Neste caminhar experimentaremos, como João Batista, a verdadeira liberdade que nos conduz à autêntica felicidade.  

Que este grande santo interceda por nós e por nossa cidade, para que, servindo aos demais sem jamais renunciar à verdade, possamos construir uma civilização onde reine a justiça e a caridade.

Diácono Marcus Vinícius Linhares Muros, formador do Seminário Diocesano Imaculada Conceição. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Comunicar os valores, a missão e a dignidade da família

segunda-feira, 07 de junho de 2021

Inúmeros são os documentos e textos do Magistério Eclesiástico sobre a família, sua dignidade e missão, desde a pena dos papas e conclusões de concílios. É o Concílio Vaticano II, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, aquele que vai alertar para a tríplice idolatria do mundo hodierno: a do poder, do prazer e do dinheiro.

Inúmeros são os documentos e textos do Magistério Eclesiástico sobre a família, sua dignidade e missão, desde a pena dos papas e conclusões de concílios. É o Concílio Vaticano II, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, aquele que vai alertar para a tríplice idolatria do mundo hodierno: a do poder, do prazer e do dinheiro. Neste contexto, apresenta os riscos e os desafios colocados à família cristã, propondo como fundamental a educação dos valores humanos e cristãos, o sentido sagrado e sacramental do matrimônio, na sua unidade-fidelidade e indissolubilidade, nas finalidades do bem dos cônjuges e geração e educação dos filhos.

São Paulo VI segue este roteiro de forma brilhante e corajosa, defendendo a família e a comunhão conjugal autêntica, de verdadeiro amor humano, aberto à prole, dentro de um planejamento familiar, opondo-se aos métodos artificiais contraceptivos, fechados ao sentido integral da sexualidade e da vida humana, conforme o Plano da Criação Divina. Escreveu a profética encíclica Humanae Vitae. E para a evangelização nos valores do reino, diante das mudanças e desafiadoras realidades sociais, nos brindou com a inspiradora Evangelii Nuntiandi, dentre outros grandes escritos.

Porém, quem vai reunir todo este rico conteúdo sobre a dignidade e missão da família no mundo contemporâneo é São João Paulo II na luminosa Familiaris Consortio, abordando todos os temas fundamentais e sua relação com o presente e o futuro da humanidade. São João Paulo II apresenta a família como projeto de Deus, célula mater da sociedade, a sua formação, a preparação remota, próxima e iminente do matrimônio, os valores éticos e cristãos, o combate às ideologias de destruição da pessoa humana e base familiar, já acusadas na Gaudium et Spes, e outras já sinalizadas pelos avanços tecnológicos e no campo da ciência genética, a importância e a essencialidade da pastoral familiar para a ação missionária da Igreja, sua organização e tarefas. Todos deveriam ler e aplicar esta Carta Magna da Família do Santo Papa.

Neste âmbito teológico moral, deixou-nos também os lúcidos escritos: Veritatis Splendor, sobre a verdade ética e os valores morais frente às correntes errôneas de pensamento - relativistas, hedonistas, utilitaristas, e a Evangelium Vitae, atualizando o ensinamento de Paulo VI na Humanae Vitae, na defesa da vida perante os novos procedimentos e artifícios da Biotecnologia e a manipulação antiética da vida humana.

Na mesma esteira, posicionaram-se os papas Bento XVI e Francisco sobre a nocividade dos relativismos teóricos e éticos que vão desfigurando a sociedade e a família humana e a importância do testemunho do amor cristão, renovando as estruturas sociais. Com este foco, o papa emérito nos enriquece com Deus caritas est, Spe salvi e sua encíclica social, unindo amor e verdade - Caritas in Veritate, dentre tantos outros profundos textos.

O Papa Francisco, acentuando uma Igreja em estado de saída, de permanente missão, apresenta o seu primeiro escrito integral, após complementar e publicar a Lumen Fidei, a Evangelii Gaudium, ressaltando a tarefa essencial da evangelização, como fez São Paulo VI, com a educação dos valores humano-cristãos, na cultura do encontro, na assunção das realidades mais duras e difíceis e no testemunho profético da verdade, no pastoreio zeloso, comunicando a fé e defendendo sempre a vida e a família.

Ainda os dois sínodos dos bispos sobre a família ofereceram uma forte e balizadora orientação para a edificação e o atendimento sempre mais pastoral das pessoas nas diversas periferias geográficas e existenciais, numa acolhida ao mesmo tempo fiel à instituição sagrada familiar e do matrimônio, conforme a vontade divina e humildemente misericordiosa no abraço a todos os irmãos, especialmente as ovelhas mais feridas, abandonadas ou marginalizadas nos caminhos da vida. Toda esta riqueza de contribuição foi reunida e completada com a inspiração condutora do sucessor de Pedro, nos presenteando com a exortação apostólica Amoris laetitia - A alegria do Amor.

Que o Espírito Santo, assistente permanente do magistério da Igreja, comunicador místico no interior de todo cristão, fale mais uma vez pela comunhão episcopal com Pedro, seu escolhido chefe dos apóstolos e de todo o rebanho, hoje Francisco, e faça ecoar por todo o recanto sua voz sábia e iluminadora, fortalecedora, confirmando todos os irmãos na fé.

Juntos, continuemos a comunicar a grandeza e a beleza da família!

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo e assessor diocesano da Pastoral Familiar. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A Eucaristia e a partilha do pão!

terça-feira, 01 de junho de 2021

"Dai-lhes vós mesmos de comer”. (Mt 14,16)

Na solenidade de Corpus Christi deste ano, celebrada nesta quinta-feira, 3, somos chamados a, além de contemplar Jesus vivo entre nós na Eucaristia, ter o olhar para os sofredores do nosso tempo pandêmico. A nossa diocese está nos convidando a partilhar o pão material com nossos irmãos que estão privados do alimento material.

"Dai-lhes vós mesmos de comer”. (Mt 14,16)

Na solenidade de Corpus Christi deste ano, celebrada nesta quinta-feira, 3, somos chamados a, além de contemplar Jesus vivo entre nós na Eucaristia, ter o olhar para os sofredores do nosso tempo pandêmico. A nossa diocese está nos convidando a partilhar o pão material com nossos irmãos que estão privados do alimento material.

A Eucaristia é o alimento espiritual de nossa caminhada para Deus como foi o maná que alimentou o povo de Deus por 40 anos, a caminho da Terra Prometida. (Ex 8,2-16). Esse maná era apenas uma figura do verdadeiro “pão vivo descido do céu”, que quem comer “viverá eternamente” (Jo 6,51). Hoje para se viver com dignidade está difícil para muitos irmãos!

São Cirilo de Jerusalém disse que após a comunhão, somos “Cristóforos”, portadores de Cristo. Se somos o sinal de Jesus para o mundo, precisamos nos compadecer daqueles que são nossos irmãos e que estão carentes do necessário para alimentar o seu corpo. Precisamos levar o alívio aos corações como o próprio Senhor nos diz: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28).

A maneira mais fácil de acolher esse convite amoroso do Senhor é na Eucaristia, e esta deve nos levar a enxergar quem está próximo de nós com fome!  O Senhor nos acolhe sempre e assim precisamos acolher os nossos irmãos... Devemos estar abertos às dores de muitos irmãos nesse tempo de pandemia. Comungar requer de nós esta abertura e sensibilidade. Não podemos ser insensíveis à dor do mundo.

O nosso papa emérito Bento XVI, em sua primeira encíclica, disse que, “Deus nos amou primeiro”, e que, então, amar a Deus e aos irmãos já não é apenas um mandamento, mas uma necessária retribuição de amor de nossa parte. Por isso, insisto em dizer que nossa amizade com Jesus Eucarístico deve nos levar à vivência do amor que se traduz em gestos concretos e um deles é a partilha do pão material com quem está privado.

O querido Papa Francisco, em uma das suas audiências públicas sobre a Eucaristia, assim se expressou: “A Eucaristia nos torna fortes para dar frutos de boas obras para viver como cristãos”. Esses frutos recebidos na Eucaristia devem nos levar a ser homens e mulheres comprometidos com o fruto da partilha, num tempo onde se impera a ganância, o ódio e o egoísmo ao tirar proveito de tudo. Continua nos exortando a ser: “a comunidade eucarística, comunicando-se com o destino de Jesus servo, torna-se "serva".

O "servir" deve ser a marca de todo aquele que verdadeiramente se compromete com a Eucaristia, que recebe Cristo Vivo em cada missa. Se faz necessário levarmos o bálsamo do amor misericordioso de Deus a quem está com fome.

Concluo com o pontífice que nos chama a ver a Sagrada Eucaristia como centro da vida eclesial e como fonte de uma “cultura eucarística”, capaz de inspirar todos nós fiéis à solidariedade, à paz, à vida familiar e o cuidado com a criação. Que a Eucaristia nos ajude em nosso processo de conversão do nosso coração e de mudança da sociedade e da Igreja como samaritana. Amém! Graças e louvores se deem a todo momento, ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Padre Marcelo Campos da Silva é vigário episcopal do Norte e pároco da Paróquia São José, no distrito de São José do Ribeirão, em Bom Jardim

 

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Que todos sejam um (Jo 17, 21)

terça-feira, 25 de maio de 2021

Jesus na conhecida Oração Sacerdotal (cf. Jo 17), clama ao Pai pela unidade. “Que todos sejam um como eu e tu somos um” (Jo 17, 21). Estas palavras vêm adquirindo cada vez mais significado em nossas vidas. Infectada pelo vírus do individualismo, a humanidade tem sofrido as consequências da polarização que enfraquece os laços de amor e respeito.

Jesus na conhecida Oração Sacerdotal (cf. Jo 17), clama ao Pai pela unidade. “Que todos sejam um como eu e tu somos um” (Jo 17, 21). Estas palavras vêm adquirindo cada vez mais significado em nossas vidas. Infectada pelo vírus do individualismo, a humanidade tem sofrido as consequências da polarização que enfraquece os laços de amor e respeito.

Olhemos para o acontecimento de Pentecostes, celebrado pela Igreja Católica no último domingo, 23. Um grupo de 11 homens de culturas e educação diferentes, com ideias políticas diversas e visões de mundo opostas, reunidos num mesmo lugar. Ao receberem o espírito da verdade aprenderam a dar o primado, não a seus modos de vista humanos, mas ao bem comum. O que podemos comprovar pelos testemunhos dos primeiros séculos: “Os cristãos tinham tudo em comum” (At 2,44).

O Papa Francisco, na Solenidade de Pentecostes, advertiu à Igreja em sua missão de ser testemunha da unidade. “Hoje, se dermos ouvidos ao Espírito, deixaremos de nos focar em conservadores e progressistas, tradicionalistas e inovadores, de direita e de esquerda; O paráclito impele à unidade, à concórdia, à harmonia das diversidades” (Homilia, 23 mai. 2021).

A vivência de uma pandemia deveria despertar em todos nós o sentimento de unidade e corresponsabilidade. Mas, infelizmente, o que vemos é o aguçamento das ideologias e divisões geradas por elas. Na vazia luta de afirmar o próprio modo de pensar, os grupos ideológicos, absortos, são incapazes de perceberem o mal que fazem a si e à humanidade.

Ao contrário do acontecimento de Pentecostes, no qual homens de diferentes etnias ouviam os apóstolos falarem cada qual em sua própria língua, hoje o cenário se parece mais com o episódio da torre de Babel (Gn 11, 1-9). Cada partido, ávido de poder, é incapaz de dar ouvido à razão. Neste cenário turbulento, se faz necessário e urgente o surgimento de homens e mulheres de bem, que independentemente de sua crença, etnia e posicionamento político deem voz ao bom senso e sejam consolo em tempos de angústia.

“É preciso aprender a aceitar o outro na sua forma de ser e pensar de modo diverso. Para isso, é necessário fazer da responsabilidade comum pela justiça e a paz o critério basilar do diálogo. Um diálogo, onde se trate de paz e de justiça indo mais além do que é simplesmente pragmático, torna-se por si mesmo uma luta ética sobre a verdade e sobre o ser humano; um diálogo sobre os valores que são pressupostos em tudo. Assim o diálogo, ao princípio meramente prático, torna-se também uma luta pelo justo modo de ser pessoa humana. Embora as escolhas básicas não estejam enquanto tais em discussão, os esforços à volta de uma questão concreta tornam-se um percurso no qual ambas as partes podem encontrar purificação e enriquecimento através da escuta do outro. Assim estes esforços podem ter o significado também de passos comuns rumo à única verdade, sem que as escolhas básicas sejam alteradas. Se ambas as partes se movem a partir de uma hermenêutica de justiça e de paz, a diferença básica não desaparecerá, mas crescerá uma proximidade mais profunda entre eles” (Papa emérito Bento XVI, 21 dez. 2012).

É neste sentido que o Papa Francisco diz que nossa missão é sermos paráclitos, isto é, consoladores. “E como podemos fazer isso? Não fazendo grandes discursos, mas aproximando-nos das pessoas; não com palavras empoladas, mas com a oração e a proximidade” (23 mai. 2021).

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