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Saber ouvir

quarta-feira, 09 de setembro de 2020

Setembro tradicionalmente é conhecido pela Igreja no Brasil como o mês da Bíblia. Durante todo este período, se busca de maneira especial desenvolver o conhecimento da Palavra de Deus, para que seja mais viável sua aplicação na vida cotidiana.

Setembro tradicionalmente é conhecido pela Igreja no Brasil como o mês da Bíblia. Durante todo este período, se busca de maneira especial desenvolver o conhecimento da Palavra de Deus, para que seja mais viável sua aplicação na vida cotidiana.

O desejo de ouvir a Deus preenche o coração da humanidade. Todos sonhamos por entender o sentido de nossa vida, saber quais são os passos que devemos seguir. O Concílio Vaticano II, inspirado nas palavras de São Paulo a Timóteo nos ensina que toda escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, repreender, corrigir e instruir na justiça (cf. 2Tm 3,16-17).

Neste sentido, o Papa Francisco repetidas vezes chama atenção para a importância e lugar da Sagrada Escritura na vida de todo fiel. Na abertura do Sínodo para as famílias o Santo Padre ressaltou que “a Bíblia não é para ser colocada em um suporte, mas para estar à mão, para lê-la frequentemente, cada dia, seja individualmente ou juntos, marido e mulher, pais e filhos, talvez de noite, especialmente no domingo” (out. 2014).

Mas, este seria o único meio que Deus tem para falar a nós? Se dissermos que sim, como explicaremos a comunicação divina antes da Bíblia ser um livro legitimamente canonizado?

O Magistério da Igreja nos ensina que toda a Sagrada Escritura tem o Altíssimo por autor. Isto não significa que as sagradas letras foram ditadas pelo próprio Senhor, mas que “na redação dos livros sagrados Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar próprias faculdades e capacidades” (Dei verbum, 11).

Esta dinâmica nos ensina que o Senhor usa de meios naturais para nos comunicar sua verdade. Por isso, é preciso estar atento aos sinais divinos em nossas vidas. Seja qual for o meio que ele encontra para nos falar, sua palavra é sempre eficaz (cf. Hb 4,12).

Mas para escutar a Palavra de Deus, é preciso ter também o coração aberto para recebê-la no coração. O Senhor fala e nós nos colocamos em escuta, para depois pôr em prática o que ouvimos.

É muito importante ouvir. Algumas vezes o barulho no qual estamos imersos, as preocupações, a cultura individualista e egocêntrica não nos permite ouvir a Deus, que nos fala no silêncio de uma brisa mansa cotidiana (cf. 1Rs 19,12).

Mais uma vez o papa, em sua sabedoria, nos adverte: “A vida cristã é simples: ouvir a Palavra de Deus e a pôr em prática; não se limitar a ‘ler’ o Evangelho, mas questionar-se sobre como suas palavras falam à nossa vida” (homilia, 23 set,. 2014). Saibamos, pois, ouvir e praticar as palavras de Deus para construirmos um mundo de paz e de verdade.

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

 

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Onde está o teu coração?

terça-feira, 01 de setembro de 2020

No último domingo, 30 de agosto, a liturgia da Igreja apresentou na primeira leitura o trecho do livro do Profeta Jeremias: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jr 20,7). Estas belíssimas palavras expressam a rendição do profeta diante do poder sedutor da vocação e missão dada por Deus.

Não é fácil o seguimento! Em seu desabafo, este homem de Deus relata que sua obediência à vontade divina o tornou alvo de chacota e zombaria. Mas, com o coração ancorado na certeza do amor do Senhor, seguiu fiel ao chamado.

No último domingo, 30 de agosto, a liturgia da Igreja apresentou na primeira leitura o trecho do livro do Profeta Jeremias: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jr 20,7). Estas belíssimas palavras expressam a rendição do profeta diante do poder sedutor da vocação e missão dada por Deus.

Não é fácil o seguimento! Em seu desabafo, este homem de Deus relata que sua obediência à vontade divina o tornou alvo de chacota e zombaria. Mas, com o coração ancorado na certeza do amor do Senhor, seguiu fiel ao chamado.

Ao contemplar a vida de Jeremias, Francisco, Clara, Dulce, Teresa de Calcutá, e tantos outros homens e mulheres que se deixaram seduzir pelo Senhor, surge em nossos corações o questionamento: o que justifica essa entrega, esse abandono de si? E ainda: será que no contexto e cultura atual ainda há espaço para este chamado?

O Papa Francisco no início de seu pontificado falou sobre este desejo de eternidade que move o coração do cristão.  Refletindo as palavras evangélicas “Onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12, 34), o pontífice afirmou que este desejo se alimenta na esperança de nos encontrarmos com o Senhor, juntamente com os irmãos, com os companheiros de caminho.

“Todos nós temos um desejo. Pobre daquele que não tem desejos; o desejo de ir em frente, rumo ao horizonte. Gostaria de vos dirigir duas perguntas. A primeira: todos vós tendes um coração desejoso, um coração que deseja? Pensai e respondei em silêncio no vosso coração: tu tens um coração que deseja, ou um coração fechado, um coração adormecido, um coração anestesiado pelas situações da vida? O desejo de ir em frente, ao encontro de Jesus. E a segunda pergunta: onde está o teu tesouro, aquele que tu desejas? e eu pergunto: onde está o teu tesouro? Qual é para ti a realidade mais importante, mais preciosa, a realidade que atrai o meu coração como um ímã? O que atrai o teu coração? Posso dizer que é o amor de Deus? Há o desejo de fazer o bem ao próximo, de viver para o Senhor e para os nossos irmãos? Cada um responda no seu coração. Mas alguém pode dizer-me: mas padre, eu trabalho, tenho família, para mim a realidade mais importante é ocupar-me da minha família, do trabalho... Sem dúvida, é verdade, é importante. Mas qual é a força que mantém a família unida? É precisamente o amor, e quem semeia o amor no nosso coração é Deus, o amor de Deus, é mesmo o amor de Deus que confere sentido aos pequenos compromissos diários e que ajuda também a enfrentar as grandes provações. Este é o verdadeiro tesouro” (Ângelos, 11 ago. 2013).

Ainda neste pensamento, prosseguiu o Santo Padre: “Mas no que consiste o amor de Deus? Não é algo vago, um sentimento genérico. O amor de Deus tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. O amor de Deus manifesta-se em Jesus. Trata-se de um amor que confere valor e beleza a todo o resto; um amor que dá força à família, ao trabalho, ao estudo, à amizade, à arte e a cada obra humana. E dá sentido também às experiências negativas, porque este amor nos permite ir além destas experiências, ir mais além, sem permanecer prisioneiros do mal, mas impele-nos além, abrindo-nos sempre à esperança. Eis, o amor de Deus em Jesus sempre nos abre à esperança, àquele horizonte de esperança, ao horizonte final da nossa peregrinação. Assim, até as dificuldades e as quedas encontram um sentido. Até os nossos pecados encontram um sentido no amor de Deus, porque este amor de Deus em Jesus Cristo nos perdoa sempre, nos ama a ponto de nos perdoar sempre” (Ângelos, 11 ago. 2013).

Esta reflexão do Papa Francisco é muito atual. Precisamos todos os dias questionar o que nos move para seguirmos na busca pelo tesouro que nem a traça nem a ferrugem consome (cf. Mt 6, 20).

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A instabilidade do mundo

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Em tempos de crise, muito se propõe a resiliência. Um termo originário da física e diz respeito à propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original, após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Em seu sentido figurado, é a capacidade de se recobrar facilmente ou de se adaptar à má sorte ou às mudanças.

Em tempos de crise, muito se propõe a resiliência. Um termo originário da física e diz respeito à propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original, após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Em seu sentido figurado, é a capacidade de se recobrar facilmente ou de se adaptar à má sorte ou às mudanças.

É certo que não se pode parar na dificuldade ou nos problemas que se nos impõe. É necessário seguir em frente. Como diz o grande compositor Paulo Vanzolini, numa queda o importante é levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Mas, de onde podemos tirar forças para levantar? Como poderemos prosseguir se os sonhos se tornaram utopias e as expectativas foram frustradas?

Repetidas vezes temos que conviver com pensamentos de desânimo e vazios de esperança. Talvez isto seja consequência do lugar em que estejamos ancorando o nosso coração (cf. Mt 6, 21) e da significação que damos ao momento vivido.

A resiliência é uma virtude admirável, mas não pode ser alcançada sem uma meta, sem um ‘porquê’ e um ‘para quê’. Diferentemente do proposto em seu conceito para a física, sempre que enfrentamos uma adversidade não saímos iguais. Isto foi o que disse o Papa Francisco na ocasião da solenidade de Pentecostes: “Das grandes provas da humanidade, e entre eles a pandemia, se sai melhor ou pior. Não se sai da mesma forma” (30 de maio de 2020).

No último domingo, 23, a liturgia nos levou à seguinte oração: “Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias” (Oração do dia, 21º domingo do tempo comum).

Assim compreendemos que o princípio para um processo resiliente diante da instabilidade do mundo é a capacidade de voltar o olhar para além da fase difícil, para além dos problemas, agarrando-se com fé e determinação na esperança de que as dores desta vida não se podem comparar às alegrias reservadas por Deus para todos nós.

Apesar de nossa fragilidade nos fazer questionar este amor de Deus, somos surpreendidos todos os dias pelas provas de sua existência e proximidade. O santo padre nos adverte que “as perguntas angustiantes sobre o mal não desaparecem repentinamente, mas encontram no ressuscitado o fundamento sólido que não nos deixa naufragar” (Audiência Geral, 8 de abril de 2020).

Repito, não é fácil se reerguer. Dói, dói muito, mas não podemos nos esquecer que a ressurreição acontece depois da cruz. Nosso Senhor com sua morte venceu a morte e nos garantiu a vida. Não fiquemos estagnados na cruz. Olhemos para ela como sinal e certeza da vida, que nasce do sofrimento.

Lembre-se, não estamos sozinhos. Temos um Deus que com seu amor gratuito nos reuniu como irmãos. Por isso, seja aquele que estende a mão, doa o coração e é sinal e presença de Deus para aquele que sofre. Pois, certamente, assim suas dores encontrarão sentido e serão também elas salvíficas.  

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras. 

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A cruz de Cristo na vida do cristão

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Na última semana, refletimos sobre o sofrimento e o anseio do homem em evitá-lo a todo custo. Diante da promessa de felicidade, da alegria do coração, sempre presente nas promessas do Senhor, o sofrimento se apresenta como um verdadeiro paradoxo. Neste contexto, retomam-se as palavras de São João Paulo II: “O homem é destinado à alegria, mas todos os dias experimenta variadíssimas formas de sofrimento e de dor” (Christifideles laici, 53).

Na última semana, refletimos sobre o sofrimento e o anseio do homem em evitá-lo a todo custo. Diante da promessa de felicidade, da alegria do coração, sempre presente nas promessas do Senhor, o sofrimento se apresenta como um verdadeiro paradoxo. Neste contexto, retomam-se as palavras de São João Paulo II: “O homem é destinado à alegria, mas todos os dias experimenta variadíssimas formas de sofrimento e de dor” (Christifideles laici, 53).

A adversidade que mais está presente na vida do homem é a enfermidade. No Antigo Testamento a enfermidade está misteriosamente ligada ao pecado e ao mal. Contudo, ela atinge também o justo, como se pode perceber no livro de Jó, assumindo o caráter de prova.

Já no Novo Testamento, o sofrimento do justo encontra verdadeira resposta. Na atividade pública de Jesus a cura das enfermidades é manifestação da sua missão como Messias, pois manifestam a vitória sobre todo o mal. Contudo, a cruz parece contrariar a esperança messiânica que os discípulos tinham em Cristo.

Mas é na ressurreição que se compreende verdadeiramente a perpetuidade messiânica de Jesus. Inspirado neste mistério pascal, o cristianismo constrói uma nova relação com o sofrimento; sofrer não é meramente uma consequência de uma culpa ou uma prova de Deus, mas um modo de se unir a Cristo e assim participar de sua ressurreição (.

Ao contemplar os algozes de Cristo, se abre para a vida pessoal do cristão um novo contexto. “O mistério da cruz não está simplesmente diante de nós, mas envolve-nos, dando um novo valor à nossa vida” (Ratzinger, J. Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a ressurreição, p. 213). O oferecimento de si, em Jesus, assume características de culto espiritual, sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Cf. Rm 12, 1).

Uma vez que o cristianismo apresenta Cristo como modelo e destino para o sofredor, se faz necessário compreender que a cruz se apresenta como a possibilidade de restauração da justiça infinitamente lesada de Deus, isto é, o sacrifício da cruz é concebido como um desagravo infinito de uma culpa igualmente infinita.

Assim, a entrega de Jesus representa, para a verdadeira fé cristã, a radicalidade do amor. A partir da cruz a fé cristã entende que Jesus não se limitou simplesmente a fazer ou dizer algo, mas é nele que a sua vida e missão se reconhecem. Deus se identifica com os sofredores até de modo físico, identifica-os com ele e os introduz no seio de seu amor ao ponto de podermos nos unir à sua paixão redentora (Cf. Catecismo da Igreja Católica, §1505).

Olhando para o exemplo de Jesus, devemos pautar nosso agir. É preciso valorizar e compadecer-se dos sofrimentos alheios. Neste sentido, o Papa Francisco afirma: “Para falar de esperança a quem está desesperado, é preciso compartilhar o seu desespero; para enxugar as lágrimas do rosto de quem sofre, é preciso unir o nosso pranto ao seu. Só assim podem as nossas palavras ser realmente capazes de dar um pouco de esperança” (Audiência Geral, 11 jan. 2017).

Tocados pela misericórdia do Senhor, entremos em solidariedade com o seu sofrimento, e assim nos tornemos disponíveis para completar na nossa carne o que falta aos padecimentos de Cristo, sendo próximos e caridosos uns com os outros.

 

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Padre Aurecir Marins de Melo Junior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A fuga do sofrimento

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Diante do sofrimento, a primeira atitude do homem é a fuga, o querer se livrar dele, haja visto que o sofrimento se apresenta como uma ameaça para sua felicidade. É difícil ao homem relacionar a beleza de toda a criação de Deus com as contrariedades que o afligem.

O papa emérito Bento XVI afirma não servir para nada uma visão de mundo que não consegue dar sentido ao sofrimento, e nos instiga a vê-lo como algo precioso. Em seus ensinamentos o pontífice demonstra, com maestria, as deficiências dos pensamentos que combatem o sofrimento.

Diante do sofrimento, a primeira atitude do homem é a fuga, o querer se livrar dele, haja visto que o sofrimento se apresenta como uma ameaça para sua felicidade. É difícil ao homem relacionar a beleza de toda a criação de Deus com as contrariedades que o afligem.

O papa emérito Bento XVI afirma não servir para nada uma visão de mundo que não consegue dar sentido ao sofrimento, e nos instiga a vê-lo como algo precioso. Em seus ensinamentos o pontífice demonstra, com maestria, as deficiências dos pensamentos que combatem o sofrimento.

"Devemos – é verdade – fazer tudo por superar o sofrimento, mas eliminá‐lo completamente do mundo não entra nas nossas possibilidades, simplesmente porque não podemos desfazer‐nos da nossa finitude e porque nenhum de nós é capaz de eliminar o poder do mal, da culpa que – como constatamos – é fonte contínua de sofrimento” (Spe salve, 36).

Algumas correntes filosóficas, e até mesmo religiosas, pregam a possibilidade de uma vida sem sofrimento, desenvolvendo, assim, uma apatia diante do mesmo. Esta intenção de esquivar-se das angústias se dá numa dupla vertente. O estoicismo, que estabelece um conjunto de preceitos racionais, e também a religiosidade asiática, busca atingir um completo esvaziamento interior que dá ao homem um domínio tal sobre si, que o faz capaz de anular qualquer dor ou sofrimento. Já o epicurismo ensina ao homem a técnica de suprimir o sofrimento com o exercício do prazer.

Estas correntes, cada vez mais dissolvidas no modo de pensar contemporâneo, podem até alcançar um certo virtuosismo, mas acabam por desembocar no orgulho que nega o ser do homem, reavivando o desejo que moveu o pecado original (Cf. Ratzinger, J. Escatología: la muerte y la vida eterna. p. 87-88).

A gama de sofrimento existente no mundo parece refutar a existência de Deus, ou mesmo atestar sua pequenez e simplicidade. Levada pelo desespero e pela angústia a humanidade sede à tentação de assumir o lugar de um Deus. Esta postura, fundada numa equivocada compreensão do sofrer, nos estimula a acreditar que a justiça deve ser imposta a qualquer preço, relegando a segundo plano a esperança.

É inegável a urgência em evitar o sofrimento dos inocentes, ou mesmo diminuir suas dores. Neste propósito, instaura-se a justiça e a caridade, exigências fundamentais da existência cristã e de cada vida verdadeiramente humana (cf. Spe Salve,36).

Esta forma de combater o sofrimento difere da ação dos que tentam anulá-lo. A tentativa de eliminar toda adversidade induz o homem a uma vida vazia, na qual impera a solidão e a obscura sensação da falta de sentido. Conclui-se, deste modo, que “não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor” (Idem, 37).

A partir de então, insere-se no conceito de sofrimento a íntima relação com o amor. Considerando, pois, o amor como um sair de si, de sua realização pessoal da cômoda tranquilidade, não há possibilidade de desvinculá-lo do sofrimento. E, diante desta relação, há de se considerar que o sofrimento move o homem ao amor e à compaixão. O amor sem a renúncia de si torna-se verdadeiro egoísmo, e anula-se a si próprio.

Sem este princípio é impossível construir uma sociedade que seja sensível aos que sofrem. Pois, sem o amor, não há abertura ao outro. O sofrer com o outro, pelo outro e por amor da verdade e da justiça são elementos fundamentais da humanidade.

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras. 

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Desacreditar da verdade

terça-feira, 04 de agosto de 2020

A busca pela verdade sempre motivou a humanidade. Desde a era clássica, pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles divagaram exaustivamente sobre ela no intuito de defini-la e identificá-la no agir humano e social. A mesma questão instigava Pôncio Pilatos. Diante daquele que é a própria verdade, o governador romano releva a angústia do seu coração: “O que é a verdade?” (cf. João 18, 37-38). No seu silêncio, Jesus vai além da conceituação do termo. Ele revela que a verdade é a retidão do agir e da palavra humana, sem duplicidade, simulação e hipocrisia (cf.

A busca pela verdade sempre motivou a humanidade. Desde a era clássica, pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles divagaram exaustivamente sobre ela no intuito de defini-la e identificá-la no agir humano e social. A mesma questão instigava Pôncio Pilatos. Diante daquele que é a própria verdade, o governador romano releva a angústia do seu coração: “O que é a verdade?” (cf. João 18, 37-38). No seu silêncio, Jesus vai além da conceituação do termo. Ele revela que a verdade é a retidão do agir e da palavra humana, sem duplicidade, simulação e hipocrisia (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2468).

É certo que a cultura relativista e individualista perpetrada na sociedade hodierna, tem afogado no coração do homem o amor à verdade. Vivemos como se ela não mais importasse ou até mesmo inexistisse. Vivendo fechado na cela do seu egoísmo e alimentado pelo desejo de satisfação pessoal, o homem produz um mundo estéril de relações supérfluas e interesseiras.

O papa emérito Bento XVI, define a verdade como um ‘lógos’ que cria ‘diá-logos’ e, consequentemente, comunicação e comunhão. Santo Tomás de Aquino ressalta sua importância para a sadia relação entre os homens, pois ela é condição sine qua non para a confiança recíproca (cf. Summa theologiae, 2-2, q. 109, a. 3).

O relativismo da verdade, presente no contexto atual e cultural, tende a dificultar a construção de uma boa sociedade e de um verdadeiro desenvolvimento humano integral. A vivência em comunidade sem o valor absoluto da verdade é frágil. Sempre que as opiniões se divergirem, germinará a semente do ódio e da divisão, e se anulará qualquer possibilidade de ajuda mútua.

O escritor e filósofo russo Fiódor Dostoiévski adverte para o risco de uma vida ancorada na mentira. “Quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega a pontos de já não poder distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor, e assim começa a deixar de ter estima de si mesmo e dos outros. Depois, dado que já não tem estima de ninguém, cessa também de amar, e então na falta de amor, para se sentir ocupado e distrair, abandona-se às paixões e aos prazeres triviais e, por culpa dos seus vícios, torna-se como uma besta; e tudo isso deriva do mentir contínuo aos outros e a si mesmo” (Os irmãos Karamazov, II, 2).

Assim, a desvalorização da verdade tende a dividir a humanidade em pequenos grupos polarizados que defendem a todo preço suas próprias ‘verdades’, fechados ao diálogo e ao crescimento.

Vivemos um contexto muito polarizado. A facilitação da divulgação das opiniões pelas mídias sociais faz agravar ainda mais diferenças, muitas vezes fundamentadas em inverdades. Com o intuito de defender as ideologias, rompe-se com facilidade a barreira da dignidade e da justiça, promovendo o descrédito do outro, forçando sua representação como inimigo fomentando os conflitos (cf. Mensagem o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 13 mai. 2018).

A construção de um mundo melhor e mais justo só será possível se nos comprometermos com a busca da verdade em todas as relações. A busca do homem pela verdade e o questionamento sobre a realidade ganha sentido à luz da eterna verdade, que é Jesus. Por isso, façamos a experiência de propagar com austeridade o Evangelho, lembrando-nos sempre que todo o que é da verdade ouve a voz de Cristo.

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Civilização do amor

terça-feira, 28 de julho de 2020

Na última semana, refletimos sobre o princípio da corresponsabilidade, própria da vida em sociedade. Cada ação e/ou decisão, por mais íntima e pessoal que seja, sempre repercute em toda a comunidade. O Papa Francisco, insistidas vezes, fala sobre a necessidade que a humanidade tem de cultivar os anticorpos da justiça, da caridade e da solidariedade. “A globalização da indiferença seguirá ameaçando e tentando nosso caminhar.

Na última semana, refletimos sobre o princípio da corresponsabilidade, própria da vida em sociedade. Cada ação e/ou decisão, por mais íntima e pessoal que seja, sempre repercute em toda a comunidade. O Papa Francisco, insistidas vezes, fala sobre a necessidade que a humanidade tem de cultivar os anticorpos da justiça, da caridade e da solidariedade. “A globalização da indiferença seguirá ameaçando e tentando nosso caminhar. Não tenhamos medo de viver a alternativa da civilização do amor, que é uma civilização da esperança: contra a angústia e o medo, a tristeza e o desalento, a passividade e o cansaço” (20 de abril de 2020).

A construção da civilização do amor é uma tarefa cotidiana, ininterrupta, fruto de um esforço comprometido de todos, de uma comprometida comunidade de irmãos. A expressão ‘Civilização do amor’ foi cunhada em 1970, pelo então pontífice, São Paulo VI, na ocasião da Solenidade de Pentecostes. Evocando a superação das divisões e dos conflitos entre as pessoas e povos, fruto da ação do Espírito Santo, o Papa conclamou toda a humanidade ao compromisso de continuidade da realização de um mundo de justiça e paz.

Somos todos responsáveis por zelar pelo bem comum e por uma vida de mais respeito, dedicação, doação e amor. Ninguém pode isentar-se. Todas as instituições devem evoluir para algo melhor, buscando novos pensamentos, novas culturas, em vista de uma convivência fraterna, caritativa e solidária.

“Não será o ódio, nem a contenda, nem a avareza e seu discurso, mas o amor. O amor que gera amor, o amor do homem pelo homem, não por qualquer interesse provisório e equívoco, ou por qualquer condescendência amarga e mal tolerada. Mas amor a Cristo encontrado no sofrimento e na necessidade de cada um de nossos semelhantes” (São Paulo VI, 25 dez 1975).

A meta da civilização do amor prevalece nas lutas sociais pelo bem comum e pela dignidade humana. E ela será alcançada na sonhada transfiguração da humanidade. Precisamos retomar corajosamente com urgência e alegria nosso lugar nesta jornada.

Outro pontífice que defendeu o imperativo da civilização do amor foi São João Paulo II. Na celebração do Dia Mundial da Paz, o papa polonês advertiu que “o amor deverá animar todos os setores da vida humana, estendendo-se também à ordem internacional. Só uma humanidade onde reine a civilização do amor poderá gozar duma paz autêntica e duradoura (1º de janeiro de 2004).

Diante da pandemia de Covid-19, ficamos estarrecidos ao perceber o quanto a humanidade tem deixado de lado o projeto da civilização do amor. Infelizmente, o cuidado para com os outros está submetido ao lucro e aos interesses ideológicos ou pessoais.

É preciso resgatar o respeito entre os iguais. Não podemos mais permitir que vidas humanas sejam subjugadas. A crise na saúde e na educação, a desmoralização da dignidade da pessoa humana pelo uso indevido do dinheiro público ou as injustiças causadas pelo abuso de poder devem cessar.

A civilização do amor, fomentada pelos anticorpos da solidariedade, caridade e justiça, só deixará de ser uma utopia se, no uso de nossos direitos e no cumprimento de nossos deveres, agirmos como indivíduos que fazem a diferença pensando em todos, e não somente em nossos próprios interesses.

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Onde está teu irmão? (Gn 4,9)

terça-feira, 21 de julho de 2020

*Padre Aurecir Martins de Melo Júnior

A reconstrução de uma realidade pós-pandemia é um dos assuntos mais discutidos nos últimos dias. Contudo, parece que a realização desta expectativa está cada vez mais distante.

Estamos inseridos numa atmosfera de dor e incerteza que abala nossa esperança, enche nosso coração de angústia e alimenta em nós o questionamento: Como faremos para superar esta situação que nos sobreveio de repente e levar em frente nossa vida?

*Padre Aurecir Martins de Melo Júnior

A reconstrução de uma realidade pós-pandemia é um dos assuntos mais discutidos nos últimos dias. Contudo, parece que a realização desta expectativa está cada vez mais distante.

Estamos inseridos numa atmosfera de dor e incerteza que abala nossa esperança, enche nosso coração de angústia e alimenta em nós o questionamento: Como faremos para superar esta situação que nos sobreveio de repente e levar em frente nossa vida?

Na semana passada, refletimos sobre o que podemos aprender com esta situação complexa e dolorosa. Sem dúvida, o impacto de tudo o que está acontecendo, as graves consequências que se descortinam e se vislumbram, a dor e o luto por nossos seres queridos nos desorientam, entristecem e paralisam. Mas, ao mesmo tempo, nos provocam a tomar as rédeas da situação e começar uma nova etapa na história da humanidade.

Não podemos sepultar a esperança, é preciso fortalecê-la pela realização de nossas práticas pessoais e sociais de justiça, caridade e solidariedade. Como uma pequena porção de fermento leveda toda a massa (cf. Mc 8, 14 -21), toda atitude é, na verdade, um passo em direção ao futuro.

Todas as vezes que saímos de nossa comodidade e caminhamos ao encontro das dores e angústias das pessoas vulneráveis e anciãs que atravessam a quarentena na mais absoluta solidão, quando de alguma forma ajudamos as famílias que não sabem como colocarão um prato de comida sobre a mesa, e tantas outras formas que poderíamos enumerar, concretizamos um encontro condolente com nosso semelhante.

A Pontifícia Academia para a Vida em nota reflete: “A pandemia de Covid-19 nos coloca numa situação de dificuldade sem precedentes, dramática e global: a sua força de desestabilização do nosso projeto de vida cresce a cada dia. Estamos vivendo um paradoxo que nunca teríamos imaginado: para sobreviver à doença, devemos nos isolar uns dos outros, e vivendo assim, percebemos que viver com os outros é essencial para a nossa vida” (30 mar. 2020).

Somos todos responsáveis! Mais uma vez se comprova que não há lugar para o egoísmo no futuro da humanidade. Aquele que escreve sua história dando as costas ao sofrimento dos irmãos e excluindo-se da responsabilidade na construção de um futuro melhor, fere a essência da comunidade.

No panorama atual, podemos perceber o quanto isso atinge a nós. O isolamento (afastamento) social é a principal, se não a única, arma que temos no momento para combater a contaminação pelo coronavírus. Sobre este tema, advertiu o Santo Padre: “Cada ação individual não é uma ação isolada, para o bem ou para o mal, ela tem consequências para os demais, porque todo está conectado em nossa casa comum; e se as autoridades sanitárias ordenam o confinamento nos lugares, é o povo que o faz possível, consciente de sua corresponsabilidade para frear a pandemia” (Papa Francisco, Un plan para ressuscitar, 14 abr. 2020).

Assim, se agimos como um só povo podemos pôr fim não só a esta crise que vivemos, mas a tantas outras epidemias que massacram a humanidade. Do simples uso de máscara de proteção ao voto consciente, assumimos que somos corresponsáveis e protagonistas na tarefa de tornar possível um novo mundo.

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Novo normal

terça-feira, 14 de julho de 2020

*Padre Aurecir Martins de Melo Júnior

Começamos uma fase de readaptação com as retomadas das atividades públicas que foram suspensas, total ou parcialmente, desde o início das medidas restritivas tomadas por motivo da pandemia causada pelo novo coronavírus.

*Padre Aurecir Martins de Melo Júnior

Começamos uma fase de readaptação com as retomadas das atividades públicas que foram suspensas, total ou parcialmente, desde o início das medidas restritivas tomadas por motivo da pandemia causada pelo novo coronavírus.

Sem dúvida, é um momento de alívio e esperança, mas não podemos deixar de atentar para a responsabilidade que todos temos na construção de um mundo melhor. A busca do ser humano pela normalidade, expressa pelo conceito “novo normal”, fundamenta-se pela proposta de um novo padrão que possa garantir nossa sobrevivência.

Esta nova etapa deve ser pautada na responsabilidade de promover a dignidade e a vocação integral da pessoa no seio das instituições e dos modelos econômicos, a qualidade das suas condições de existência, o encontro e a solidariedade dos povos e das nações com especial atenção à chaga dos pobres que são tão frequentemente esquecidos pela sociedade (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 35).

A Doutrina Social da Igreja atenta que a origem da sociedade não se encontra num ‘contrato’ ou ‘pacto’ convencional, mas na própria natureza humana, e que as ideologias do contrato social se apoiam numa antropologia falsa, ou seja, numa visão equivocada da natureza humana (cf. Leão XIII, Libertas praestantissimum, 8).

Seguindo este ensinamento, é inevitável o questionamento sobre o que até o momento é normal para nossa sociedade. Será que é conveniente voltarmos à normalidade vivida pré-pandemia?

Já em 2016, o Papa Francisco adverte sobre a urgente necessidade de renovação da prática social. Esta não deve ser pensada somente a nível econômico, mas regulada pela busca do bem comum da humanidade, do direito de cada pessoa a uma parte dos recursos deste mundo e de ter as mesmas oportunidades para realizar as próprias potencialidades, potencialidades que em última análise se baseiam na dignidade de filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança (cf. Discurso aos empresários participantes no Fortune-time Global Forum, 03 dez. 2020).

Acompanhamos com sentimento de descaso atitudes de governos que buscam formas para sair da crise e retomar a normalidade enquanto bilhões de pessoas estão confinadas. A pandemia descortinou e evidenciou muitos problemas sociais que o país já estava vivendo. Junto com a precariedade da saúde pública e privada estão o descaso com a educação, a falta de saneamento básico em muitas regiões do país e a esmagadora cultura de corrupção.  

Infelizmente, além dos sofrimentos inerentes à atual situação, une-se a equivocada e interessada prática política de nossas lideranças pela busca de poder e influência global em meio a esta crise desafiadora, na qual sofrem agudamente os mais necessitados (cf. Papa Francisco, Via Crucis, 2020)

Pacotes de emendas necessárias para suprir a crise gerada pelo novo coronavírus deparam-se com outros tantos prometidos para solucionar problemas sociais aos quais a população brasileira parece ter se acostumado.

O número excessivo de mortes revelou o que há muito tempo a parcela mais pobre de nossa sociedade já havia sentido na carne: o descaso com a saúde pública, refletido em hospitais sucateados, sem remédio, sem aparelhos, sem humanidade.

É urgente que este vale de lágrimas pelo qual estamos passando nos faça querer um novo normal. Um normal de mais comprometimento com a dor alheia, de mais fraternidade, solidariedade e consciência de nossa responsabilidade na construção de um futuro melhor, de esperança, respeito e dignidade.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação.
Esta coluna é publicada neste espaço às terças-feiras, a cada semana com a mensagem
de um membro do clero da Diocese de Nova Friburgo.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior
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