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Parar de culpar o outro por nosso sofrimento

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Desde a “queda” no Jardim do Éden surgiu no íntimo do ser humano a tendência de culpar outra pessoa pelos nossos sofrimentos. Adão culpou Eva. Eva culpou a serpente. A serpente culpou Deus. E Deus procura ensinar que cada um precisa assumir sua responsabilidade no comportamento porque isto é o que pode produzir crescimento pessoal e boas relações humanas.

Desde a “queda” no Jardim do Éden surgiu no íntimo do ser humano a tendência de culpar outra pessoa pelos nossos sofrimentos. Adão culpou Eva. Eva culpou a serpente. A serpente culpou Deus. E Deus procura ensinar que cada um precisa assumir sua responsabilidade no comportamento porque isto é o que pode produzir crescimento pessoal e boas relações humanas.

Hoje é comum pais culparem seus filhos de serem rebeldes, preguiçosos, irresponsáveis, enquanto que, por outro lado, filhos culpam os pais de terem sido demasiado gratificadores dos desejos dos filhos e por isso não colocaram limites que os teriam ajudado a aprender a enfrentar as dificuldades da vida de maneira melhor, ou os que os culpam dizendo que seus pais foram muito rígidos na sua educação.

Entre casais, o marido culpa a esposa de várias coisas, como de ser “romântica” demais, muito geniosa ou passiva ao extremo. Enquanto que uma esposa pode culpar o marido de ser frio afetivamente, muito racional, dedicado demais ao trabalho e esquecendo da família, ou muito mulherengo, explosivo. Empregados culpam os patrões alegando que eles não pagam um bom salário, que exigem demais, enquanto que patrões reclamam de empregados porque eles não produzem, faltam ao trabalho, não têm iniciativa.

Culpar outros é comum em todos os tipos de relações humanas. E é verdade que muitas destas queixas procedem, podendo ter um fundamento. Porém, isto não elimina também a verdade de que a pessoa que faz a queixa pode ter problemas pessoais, independentes da situação exterior atual da qual ela se queixa e a qual crê ser a origem única de seus sofrimentos.

Maturidade envolve assumir que erramos, cometemos falhas, em vez de ficar apontando o dedo para os outros como se os erros deles fossem a explicação de todo o nosso sofrimento. Negação é o processo mental pelo qual fugimos da verdade, não necessariamente porque queremos enganar conscientemente a nós e a todos. Negamos enquanto não suportamos a verdade. Fugimos da verdade porque pode ser mais confortável fazer isso.

Parece ser difícil para muitos de nós dizer: “Desculpe, eu errei.”, ou “Você tem razão.” Alguns até falam isto só que colocam imediatamente um “Errei, mas...”. Seria construtivo e animador para vários tipos de relacionamentos se a pessoa apenas disse: “Desculpe, eu errei.” e ponto, assumindo sua falha sem argumentos para amenizá-la ou desculpá-la.

Quando estamos prontos para mudar para melhor, paramos de negar e culpar as pessoas por nossa infelicidade. Admitimos nossa parte no problema. E nos voltamos para dar uma olhada em nós mesmos para ver o que há de errado e o que precisa ser consertado em nossa pessoa.

Certa vez vi num quadro de uma sala de um grupo que trabalha com os Doze Passos uma frase que dizia assim: “Primeiro olhe-se a si mesmo... Depois... olhe-se de novo.” Existe maior gratificação quando assumimos que erramos, em vez de ficar culpando os outros, porque desta maneira olhamos a nós mesmos com coragem, humildade, honestidade e o sincero desejo de mudar para melhor, independentemente se a outra pessoa muda ou não. Felicidade verdadeira é uma questão pessoal. Depende se estamos dispostos a assumir nossa verdade, boa e ruim, e mudar o que está ruim em nós.

Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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É uma fria!

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Já comemorou cinquenta vezes o aniversário de falecimento

Não sei se você sabe o que é criogenia, ou mesmo se está interessado no assunto. Pode ser até que você já tenha feito uma encomenda ou, melhor dizendo, que você já tenha “se encomendado”. Em qualquer dos casos, vou passar algumas informações a respeito que poderão ser úteis, se não a você, talvez a algum outro leitor que sonhe com a imortalidade, não da alma e na eternidade, mas do próprio corpo e aqui na Terra mesmo.

Já comemorou cinquenta vezes o aniversário de falecimento

Não sei se você sabe o que é criogenia, ou mesmo se está interessado no assunto. Pode ser até que você já tenha feito uma encomenda ou, melhor dizendo, que você já tenha “se encomendado”. Em qualquer dos casos, vou passar algumas informações a respeito que poderão ser úteis, se não a você, talvez a algum outro leitor que sonhe com a imortalidade, não da alma e na eternidade, mas do próprio corpo e aqui na Terra mesmo.

A criogenia é, se assim se pode dizer, uma ciência, mas há quem ache que não passa de charlatanice ou, na melhor das hipóteses, de uma ilusão. Porque bem espantoso é o objetivo dessa pseudociência: conservar corpos humanos a uma temperatura tão baixa (- 1960. C) que ele não se desfaça com o tempo. Naturalmente, é necessário que o indivíduo, antes de mergulhar nessa friagem, esteja devidamente morto e que tenha manifestado em vida seu desejo de virar picolé.

Também é necessário que disponha de uma boa reserva de dólares, porque ficar dormindo num dos laboratórios que prestam esse serviço custa, nos Estados Unidos, duzentos mil dólares, para o corpo inteiro, e oitenta mil dólares somente para a cabeça ─ caso o freguês considere que já não vale mais a pena investir no corpo e queira preservar somente sua parte pensante, com tudo o que nela acumulou enquanto vivia. Na Rússia o serviço completo pode ser feito por modestos oitenta mil dólares, mas, como diria algum ucraniano, vá lá confiar na Rússia. Com um pequeno acréscimo é possível levar junto seu cão ou gato de estimação. Ninguém ainda manifestou o desejo de que venham a renascer também o patrão, o cunhado ou a sogra.

Se alguém acha que isso é uma loucura, fique sabendo que já existem 350 corpos congelados, à espera do dia feliz em que a medicina tenha encontrado um jeito de ressuscitar a matéria e trazer seu dono novamente à vida. Um desses terráqueos esperançosos já descansa agasalhado no gelo há cinco décadas. Ou seja, já comemorou cinquenta vezes o aniversário de falecimento.

As dúvidas ainda existentes não são apenas quanto ao retorno do corpo para o mundo dos vivos, mas também como será esse camarada que vier a ocupar novamente um lugar no planeta, depois de ter estado sabe-se lá onde, dormindo à espera da palavra mágica que o traga de volta. Será que ele reconheceria o mundo e as pessoas ou, mais grave ainda, será que ele reconheceria a si mesmo? Por outro lado, já imaginou se um dia for possível dar outra chance a um bilhão e duzentos milhões de chineses e a outro tanto de indianos? Vai faltar espaço para a entrada de gente nova.

         Quanto a mim, prefiro deixar a questão da morte nas mãos de Deus que, ao contrário dos criogenistas, sabe o que faz. E depois, é como escreveu o poeta Paulo Leminski:

“Vida e morte/ amor e dúvida/ dor e sorte/ quem for louco/ que volte.

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AVS: jornal de todas as linguagens e culturas!

terça-feira, 26 de julho de 2022

Nossa viagem pela edição do jornal do último fim de semana começou com um passeio bem diferente. Pudemos conhecer um pouco sobre a Clínica Santa Lúcia que ainda tem 111 pacientes internados. Quem nos guiou para esses conhecimentos foi a jornalista Adriana Oliveira, por meio de um emaranhado de situações dignas da nossa reflexão. A partir da criação de uma lei, de autoria do ex-deputado federal Paulo Delgado, foi determinada a desativação dos manicômios em todo o Brasil, inclusive, do Instituto Municipal Nise, no Rio de Janeiro.

Nossa viagem pela edição do jornal do último fim de semana começou com um passeio bem diferente. Pudemos conhecer um pouco sobre a Clínica Santa Lúcia que ainda tem 111 pacientes internados. Quem nos guiou para esses conhecimentos foi a jornalista Adriana Oliveira, por meio de um emaranhado de situações dignas da nossa reflexão. A partir da criação de uma lei, de autoria do ex-deputado federal Paulo Delgado, foi determinada a desativação dos manicômios em todo o Brasil, inclusive, do Instituto Municipal Nise, no Rio de Janeiro. O Nise “fechou as portas em novembro de 2021”, definitivamente.   

Em Nova Friburgo, o fechamento de vagas na Clínica Santa Lúcia, segundo a promotora de Justiça, Sheilla Vargas, “é um caminho sem volta” e a “reabertura dessa porta é irreversível”. Contudo, o Ministério Público ainda vai “apurar os casos pontuais e tentar acolher adequadamente a demanda”. A primeira residência terapêutica em nossa cidade está prevista para “em breve”, embora a gravidade do tema requeira urgência. Sabe-se que “o processo de desinstitucionalização é lento justamente para dar tempo à organização dos familiares dos pacientes e demais entes envolvidos no processo...”. A intenção é “humanizar o tratamento dos pacientes, devolvendo-lhes a reinserção na comunidade, dentro do que é possível”. Contudo, para complicar a liberação, a triste realidade é que muitos institucionalizados não têm mais “onde morar”. Que barra!

Ter onde morar é um direito de todos. E, estando tudo bem, escolher morar sozinho é prazeroso. Assim, quase 11 milhões de pessoas moram sozinhas no Brasil. Os dados foram destaque da reportagem de Thiago Lima, que nos trouxe informações da nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua divulgada pelo IBGE. Thiago conversou com o médico André Soares, de 29 anos, que preferiu morar sozinho para proteger os pais no início da pandemia da Covid-19. A precaução acabou caindo no gosto do jovem doutor, que se descobriu mais independente, fazendo as coisas do seu jeito, aproveitando melhor os seus momentos. A aposentada Neuza Gonçalves reconheceu as vantagens e desvantagens, mas preza muito pela paz e tranquilidade no dia a dia.

Vivemos um tempo de coisas instantâneas, das comunicações rápidas e com isso ficamos mais expostos ao estresse da “polarização” que abala os relacionamentos. Eu sempre ouvi dizer que “ser feliz é mais importante do que ter razão”. Mas “a busca pela validação” tem mudado o dito popular. Christiane Coelho conversou com a psicóloga Cinthia Lima Ramos que destacou: “É importante ressaltar que no nosso atual cenário, ter razão se tornou mais importante do que cultivar as relações”. Em se tratando de redes sociais, principalmente em assuntos políticos, meia palavra pode gerar uma briga inteira. Assim, Cinthia recomenda: “Vale à pena correr o risco de perder uma amizade antiga ou brigar com algum parente pela política que muda a cada minuto?”

A charge de Silvério contemplou a data de 25 de julho, Dia do Motorista. E o Cão Sentado evocou a “Paz no Trânsito”. Na Igreja Católica, a data é dedicada a São Cristóvão, também padroeiro dos viajantes. O verdadeiro nome do santo era Réprobo, o guerreiro do rei. Pela sua força, ele atravessava, de bom grado, pessoas no rio. Sabendo, pelo exemplo do rei, que o demônio tinha medo da cruz, ao confrontá-lo com o sinal sagrado, o demônio fugiu, imediatamente. Um dia, Réprobo atravessou um menino no rio que, depois, ao ser identificado, era Jesus. O santo, então, prometeu que sempre serviria a Jesus e assim, ficou denominado como “o portador de Cristo, o São Cristóvão”. Que bonito!

Servir a Jesus é praticar o bem, trabalhando pela paz universal, imitando São Cristóvão, nos rios da vida, na travessia das pessoas, dos povos, acolhendo no coração a diversidade das nações. Nova Friburgo teve essa missão de acolhimento e tem recebido, desde sempre, o amor e a dedicação de seus imigrantes. Viva a Imigração! Viva o evento “Cadima Colônias” que está de volta! Viva a valorização das culturas de todos os povos que trouxeram, para a nossa terra, os valores, os sabores e os saberes de seus países!

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Festão julino e com casório

terça-feira, 26 de julho de 2022

Ao melhor estilo caipira, com DJ tocando músicas típicas, cachorro-quente, churrasquinho, quentão, bolos, pasteis, fogueiras e muito mais, além da tradicional quadrilha, o casal Roberto Carlos Botelho Corrêa e Jaqueline Batista Corrêa recebeu amigos e convidados em sua elegante residência no Cônego no último sábado, 23.

Ao melhor estilo caipira, com DJ tocando músicas típicas, cachorro-quente, churrasquinho, quentão, bolos, pasteis, fogueiras e muito mais, além da tradicional quadrilha, o casal Roberto Carlos Botelho Corrêa e Jaqueline Batista Corrêa recebeu amigos e convidados em sua elegante residência no Cônego no último sábado, 23.

Para coroar o evento, algo ainda mais significativo: o casal, conforme mostra a foto, confirmou sua união de quase quatro décadas de feliz convívio, inclusive com direito de cerimônia de casório na roça comandada por um padre caipira. Parabéns ao Roberto e a Jacqueline.

Família Sanglard em festa

A grandiosa e conceituada família Sanglard, que está completando 200 anos de Brasil, realiza seu 24º Encontro Festivo no próximo sábado, 30, com vasta programação e concorrida confraternização no espaço Casa Du Alemão, em Mury.

O evento terá a organização da Associação Mathieu Sanglard, atualmente presidida por Pedro Elias Erthal Sanglard, que é filho do saudoso Rui Sanglard, que dá nome a um populoso bairros de Nova Friburgo.

Como grande e oportuno aperitivo para este evento, na noite da sexta-feira no loteamento Barroso em Amparo, será promovido o sensacional "Arraiá dos Sangrá".

Saudade com um grande destaque

A escola de samba Unidos da Saudade conta agora com mais competente e representativo nome em sua diretoria.

Trata-se do meu quase xará, dr. Luiz Carlos Dias, o Kau, que assume o cargo de vice-presidente da roxo e branco. Ele é um  renomado advogado na cidade e na capital, com atuação nas áreas administrativa e tributária. Kau já foi diretor jurídico e presidente do Conselho Fiscal da própria Unidos da Saudade e da Liga das Escolas de Samba de Nova Friburgo, com vasta experiência e participação no Concurso Municipal de Fantasias. 

Uma de suas metas na nova missão, é a articulação da reforma do estatuto da entidade, com adequação às diretrizes do Código Civil de 2002.

 

Thayan aniversariou

Quem passou o último sábado, 23, recebendo parabéns e manifestações de carinho por parte de familiares e amigos, foi o querido Thayan Hebert Carestiato, que é consultor empresarial, professor e coordenador da Secretaria Municipal de Esportes de Nova Friburgo e co-coordenador do Polo de Extensão da Uerj.

Para o Thayan, que mostra bela atuação também junto ao seus companheiros do Rotary Clube Suspiro, nossas felicitações pela nova idade.

Passado, mas não esquecido

Enviamos nosso carinho, admiração e parabéns pelo aniversário celebrado no último dia 15, da simpática Mariana de Oliveira, que é servidora municipal atuando no setor de Segurança do Trabalho ligada à Secretaria de Finanças.

A coluna faz coro aos seus familiares e amigos desejando os votos sinceros de felicidades, mais sucessos e tudo de bom.

Homenagem em Cordeiro

Na manhã do próximo sábado, 30, o Cordeiro F.C. vai homenagear com solenidade no Estádio Mário Jorge, o seu saudoso e inesquecivel jogador, que inclusive também brilhou vestindo camisa de alguns times de Nova Friburgo, Carlinhos Carolina. Ele merece.

Bet em profusão

Especialmente nos estádios de futebol, todos estão podendo observar a verdadeira invasão de anúncios das casas de apostas que levam o nome Bet e que chegaram com força para atrair os apostadores online. São as novidades dos tempos tecnológicos.

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Ensina-nos a rezar

terça-feira, 26 de julho de 2022

No último domingo, 24, ouvimos o pedido sincero dos discípulos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Este clamor provindo de homens que conviviam diariamente com Jesus nos conduz a um lugar de reflexão tão importante nos tempos de hoje. Poderíamos pensar que este é um tema que se restringe apenas a uma religião específica. Contudo, aprendemos com o Papa Francisco que o ato da oração pertence a todos os homens de todas as religiões e até, de certo modo, àqueles que não professam religião alguma.

No último domingo, 24, ouvimos o pedido sincero dos discípulos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Este clamor provindo de homens que conviviam diariamente com Jesus nos conduz a um lugar de reflexão tão importante nos tempos de hoje. Poderíamos pensar que este é um tema que se restringe apenas a uma religião específica. Contudo, aprendemos com o Papa Francisco que o ato da oração pertence a todos os homens de todas as religiões e até, de certo modo, àqueles que não professam religião alguma.

A oração não é uma ação exterior ao orante, mas é fruto de um mergulho profundo no interior de si, é um encontro com o “eu” sem máscaras, sem reserva. O Catecismo ensina que o seu lugar de nascimento é o coração (cf. CIC, 2562-2563). Deste modo, “as emoções rezam, mas não se pode dizer que a oração é unicamente emoção. A inteligência reza, mas rezar não é apenas um ato intelectual. O corpo reza, mas pode-se falar com Deus até na invalidez mais grave. Por conseguinte, é o homem todo que ora, se o seu ‘coração’ reza” (Papa Francisco, 13 mai. 2020).

Assim, a oração é fruto do encontro do ‘eu’ consigo mesmo que o conduz ao ‘tu’, ao “outro’. Um caminho que vai sendo construído/conquistado a cada passo, numa dinâmica constante de esvaziamento de si e quebra de pré-conceitos. Este itinerário que não pode ser calculado é conduzido apenas pela necessidade de realizar a essência de ser social.

Contudo, a cultura atual se traduz em uma sociedade onde a comunicação a cada dia se torna mais virtual, esvaziando a beleza do encontro. Esta realidade tem atingido inclusive a vida de oração. Hoje, somos levados a viver uma realidade puramente intimista, voltada apenas para a satisfação de nossas paixões e caprichos. Anula-se o comprometimento de crescer no conhecimento de si e do encontro.

O tríplice âmbito do encontro – consigo, com Deus e com o outro - não pode ser substituído pelo vazio de muitas palavras. É preciso fortalecer o cuidado de, também na vida de oração, não substituir as relações interpessoais pelas amizades virtuais, limitando a vida, o contato, a proximidade, somente aos momentos de interesses. Hoje é recorrente ver amigos sentados em uma mesma mesa, cada qual conectado ao próprio mundo, fechados nos horizontes de seus próprios interesses e ignorando os que estão ao redor.

A oração encerrada no individualismo é estéril. A revolução gerada pelo cristianismo se fundamenta na relação entre Deus e o homem. O caminho de encontro é uma iniciativa do próprio Deus. É Ele que em primeiro se comunica e revela-se ao homem. Desde o ato criador, Deus entrou em relação conosco rompendo toda herança “feudal”, de servidão. “No património da nossa fé não existem expressões como ‘subjugação’, ‘escravatura’ ou ‘vassalagem’; mas sim palavras como ‘aliança’, ‘amizade’, ‘promessa’, ‘comunhão’, ‘proximidade’. No seu longo discurso de despedida dos discípulos, Jesus diz assim: «Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Ibidem).

Procuremos, pois, entrar no grande mistério desta aliança de amor. Colocar-nos em oração nos braços misericordiosos de Deus, sentir-nos envolvidos por esse enigma de felicidade, que é a vida trinitária, conectando-nos com nossas dores e misérias, saindo ao encontro das urgências de nosso tempo.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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As abelhas e nossos adiantes

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Vivendo e aprendendo; lendo e descobrindo. Não se pode parar nem de
viver, nem de ler, uma vez que a vivência e a leitura são alimentos do corpo e
da alma que nos dão consistência e nos preparam para os passos que
daremos adiante.
Ora pois, não estamos vivos porque vamos adiante?
Muito bem. Para não fugir do tema, tendência que me faz desviar de
assuntos, vou, mais uma vez, aqui, me referir às fontes cristalinas da vida e da
literatura, nas quais é saudável que finquemos nossas raízes. São fontes

Vivendo e aprendendo; lendo e descobrindo. Não se pode parar nem de
viver, nem de ler, uma vez que a vivência e a leitura são alimentos do corpo e
da alma que nos dão consistência e nos preparam para os passos que
daremos adiante.
Ora pois, não estamos vivos porque vamos adiante?
Muito bem. Para não fugir do tema, tendência que me faz desviar de
assuntos, vou, mais uma vez, aqui, me referir às fontes cristalinas da vida e da
literatura, nas quais é saudável que finquemos nossas raízes. São fontes
constituídas por histórias. Sim, senhor!, das histórias existenciais e das criadas
literariamente. Da mesma maneira que a maior parte do nosso corpo é
composta de água, os modos como estamos na vida são estruturados por
ideias, e as ideias de palavras. Não é indicado bebermos em fontes de águas
poluídas de ideias precárias, confusas e distorcidas. As cristalinas dão
sustância à forma como imaginamos, percebemos e lidamos com a realidade.
Nada é mais agradável do que bebermos a água transparente de uma fonte, ou
mesmo nos banharmos num mar, onde seja possível ver as conchas
repousadas na areia.
E vejam só minha sede. Quase aos setenta anos, estou lendo “Os Três
Mosqueteiros”, de Alexandre Dumas, editado no século XIX, que me permitiu
fazer uma interessante descoberta: o autor se alimentou das ideias contidas
em “Dom Quixote de La Mancha”, publicada no início do século XVII, que conta
a história de um guerreiro idealista. Os “Três Mosqueteiros” e “Dom Quixote de
La Mancha” retrataram criticamente uma época, tendo a obra de Alexandre
Dumas um cunho história mais determinante.
Também autor do “O Conde de Monte Cristo”, o escritor francês compôs
histórias belamente elaboradas, capazes de prender o autor de qualquer idade,
sexo e nacionalidade. Certamente porque mergulhou em obras de outros
autores que escreveram com maestria. O talento existe, sem dúvidas, mas os
literatos que permaneceram vivos e atuais foram exímios leitores e estudiosos.

Assim é a vida. Será que vamos sobreviver com dignidade caso nos
adiantarmos à toa? O sociólogo Emile Durkheim constatou que as gerações
mais velhas preparam as mais novas para a vida, são fontes a serem
absorvidas por aquelas gerações que ainda não estão capacitadas para o
porvir. As experiências de vida e de leitura podem nos oferecer riquezas a
ponto de nos apoiarem em cada uma de nossas realizações.
Por isso estou lendo “Os Três Mosqueteiros” e aproveitando ao máximo
a narrativa, em cada parágrafo, em cada passagem. Dumas, como Cervantes,
construíram a realidade ficcional com riqueza de detalhes, penetraram no
âmago dos personagens, escreveram criativamente as cenas.
Ao escrever e viver, podemos tomar as abelhas como um bom exemplo.
O fazer do mel não é simples, é trabalhoso e resultado de um delicado
processo de elaboração. As abelhas buscam exatamente as flores que possam
lhes oferecer o néctar de qualidade. Depois de coletá-lo, misturam-no com
duas substâncias secretadas de duas glândulas situadas em suas cabeças, a
invertase e a glicose oxidase. Então, várias reações químicas transformam o
néctar em glicose e frutose, além de torná-lo ácido, impedindo a fermentação.
As abelhas agitam as asas para secar a água presente, desidratando o mel e
matando outros micro-organismos prejudiciais. Finalmente, produzem o mel,
um dos mais nobres e saborosos alimentos.
Não quero ser abelha, nem Dumas, tampouco Cervantes. Quero ser
Tereza, capaz de construir a vida com dignidade e deixar minha obra viva.
Aí, morro em paz!

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Serviço de água: Que descalabro!

sábado, 23 de julho de 2022

Edição de 22 e 23 de julho de 1972

Pesquisado por Thiago Lima

Manchetes

Edição de 22 e 23 de julho de 1972

Pesquisado por Thiago Lima

Manchetes

Que descalabro! - Aquela coisa desprezível que foi apelidada de Amae - Autarquia Municipal de Águas e Esgotos de Nova Friburgo - e que tantos desserviços prestou ao povo friburguense, para cúmulo da irresponsabilidade além de não pagar por muito tempo as contas da fornecedora de energia elétrica - que segundo soubemos somaram 150 milhões de cruzeiros antigos, deixou de cumprir duas prestações do empréstimo ao Banco de Habitação Popular, uma das quais, na importância total de Cr$ 143 mil que foi recentemente liquidada. Para quitação da dita prestação a atual autarquia da água teve que dispender Cr$ 23 milhões somente para juros e correção monetária, pelo atraso. Há que ser dito que o incompetente grupo que havia resolvido “acabar” com um tiquinho de coisa boa que possuia a Amae, destruindo-a como as saúvas destroem as plantações, jamais deixou em atraso o enorme percentual que mensalmente enviava para o escritório central e nunca os seus chefes deixaram de viajar constantemente de avião - que custam os tubos, como se sabe - para dar conta das estrepolias que faziam por aqui, em matéria de má administração. 

Umas das fórmulas descobertas pelos “estrangeiros da água” - era a de acumular dívidas principalmente para com financiadores exigentes, de modo a justificar as ameaças de execução judicial visando impressionar aos administradores e ao povo, para que a então moçada “se servisse” com tarifas altas e constantes aumentos de até 500%, como aconteceu com o último, que examinado no devido tempo pelo prefeito Feliciano Costa foi tornado sem efeito. Acontece que nós, como alguns outros estavam na estacada do bom combate, não permitindo que o cabuloso grupo continuasse a “zanzar” impunemente. Devemos formar fileira em torno do atual administrador da Autarquia Municipal da Água, para que seja completada a “operação limpeza” e estabelecidos os alicerces destinados à recuperação efetiva do combalido organismo que incompetentes e desinteressados pelas nossas coisas e nossas causas, dominaram impunemente tal qual bacilo de alta periculosidade. 

Entrega dos prêmios aos campeões do Carnaval 1972 - No próximo dia  26, o prefeito de Friburgo, Feliciano Costa, recepcionará em seu gabinete os vencedores do Carnaval de 1972, patrocinado pela municipalidade, ocasião em que distribuirá os lauréis conquistados pelas entidades e pessoas ligadas ao movimento carnavalesco friburguense. 

Pílulas

Não foi boato. Lemos no Diário Oficial a anulação da concorrência da pavimentação da estrada Friburgo-Teresópolis. Por que, ninguém disse… O assunto foi fundamentalmente fala aos interesses do turismo de nossa terra, diz de perto também, não haja a menor dúvida, com um problema, em favor do qual, a estrutura governativa fluminense está voltada. Daí, ninguém entende bulufas… 

Tem-se como certo o ingresso do industrial Alvaro de Almeida na Arena. Como se informa o querido e prestigiado homem público, não participará na próxima eleição como candidato, mas a sua ação no pleito será de molde a muito ajudar ao candidato que vier a apoiar para prefeito… 

A respeito de Alvaro de Almeida e do numeroso grupo que o acompanha, podemos informar que tão logo cumpra-se certo detalhe, um manifesto quente será dado a público. Garantimos que dito manifesto já está em elaboração e que o seu conteúdo não vai agradar a muita gente. Gente que não gosta de verdade… 

E mais…

Eucaliptos tombados no patrimônio histórico… 

Em breve, Friburgo vai ganhar mais mil telefones… 

Procissão em louvor de São Cristóvão… 

Sociais

A VOZ DA SERRA registra os aniversários de: Kátia Rocha e Lúcia de Souza (22); Paulo Humberto Chaves, Regina Coeli e Flávio de Moraes Folly (24); Henrique Malheiros (25); Paulo Braune (26); Edson Tavares (27); Aurora Ventura Fernandes (28) e José Antonio Alves (29).

Foto da galeria
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Os riscos da falta de conhecimento

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Conhecer as opções e os objetivos de diferentes produtos financeiros, também é educação financeira. Hoje eu quero desabafar; botar para fora toda a minha indignação baseada na exploração da falta de conhecimento.

Aqui, neste espaço, minha missão sempre foi dividir aprendizado. Contudo, apesar de um cenário difícil - quiçá cruel –, me motivo ao perceber o quão distante estou de cumpri-la. Neste texto, vou abrir algumas práticas comuns de grandes instituições financeiras responsáveis pela, já mencionada, exploração da falta de conhecimento.

Conhecer as opções e os objetivos de diferentes produtos financeiros, também é educação financeira. Hoje eu quero desabafar; botar para fora toda a minha indignação baseada na exploração da falta de conhecimento.

Aqui, neste espaço, minha missão sempre foi dividir aprendizado. Contudo, apesar de um cenário difícil - quiçá cruel –, me motivo ao perceber o quão distante estou de cumpri-la. Neste texto, vou abrir algumas práticas comuns de grandes instituições financeiras responsáveis pela, já mencionada, exploração da falta de conhecimento.

 Antes de mais nada, títulos de capitalização não são investimentos; não é qualquer plano de Previdência Privada que vai ser bom para você; e por fim, mas não menos importante, escolhas ruins fazem você perder dinheiro!

Que tal um pouco de conhecimento para chegarmos juntos a uma conclusão? Pode ser o caminho para desenvolver seu senso crítico financeiro.

  • Seu dinheiro perde poder de compra com o passar do tempo;
  • Depender de sorte não é investir;
  • Você precisa saber o tempo de resgate dos seus investimentos;
  • Se todo investimento tem risco, qual é o do seu investimento?

Títulos de Capitalização e fundos de Previdência Privada são os produtos de captação mais populares em grandes instituições financeiras. Um, de fato, é investimento e pode ser uma ótima opção se escolhido com cautela e entendendo as necessidades do cliente investidor; o outro, por sua vez, é apenas uma péssima decisão a ser tomada para o seu dinheiro.

  • Títulos de Capitalização: lembrando mais uma vez (em alto tom de ironia), não são investimentos! Basicamente, funciona como um tipo de economia programada na qual o banco está autorizado a fazer determinada retirada mensal de sua conta corrente para comprar o título. Parece uma boa ideia pelo ponto de vista poupador, mas vai por mim: seria melhor deixar aplicações programadas na caderneta de poupança. Estes títulos são formas de captar dinheiro para os bancos e a única forma de você, cliente, sair com alguma rentabilidade é ter a sorte de ser contemplado nos sorteios que são feitos periodicamente. No final das contas, quem ganha mesmo é o banco, pois ao final do período predeterminado do título só retorna ao cliente a quantia aplicada ao longo do tempo; sem – ou pouquíssima – nenhuma rentabilidade. Ou seja, você perde dinheiro!
  • Fundos de Previdência Privada: aqui você tem a possibilidade de investir seu patrimônio, inclusive com recorrência de aplicações mensais, e ser remunerado através da performance da gestora dos seus investimentos. Mas nada aqui – nada! – é tão simples quanto o seu gerente de banco faz parecer. Você, ao contratar produto semelhante, já foi apresentado a alguma lâmina com demonstrativo de resultados do fundo? O resultado, à propósito, supera inflação e CDI? Teve acesso a todas as informações pertinentes a taxas de administração, performance, carregamento e saída (sim, são muitas)?

A previdência privada é alternativa de sucessão patrimonial, pode ser contratada com estratégia qualificada e pertinente a sua realidade. Aqui, você pode ter experiências ótimas ou péssimas, portanto, não fique à mercê da escolha às cegas de alguém.

Investir é fundamental para construir patrimônio e projetar o futuro com qualidade de vida. Não desista por experiências ruins; você só precisa de uma orientação especializada. O mundo tem passado por grandes mudanças e, com isso, novas profissões vêm surgindo; inclusive a de assessores e consultores de investimentos. Ademais, o que você realmente precisa, independente do profissional intermediador, é a atenção e sabedoria de quem pode, de fato, manter transparência e vontade de disseminar Educação Financeira.

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A graça da coisa

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Desapegar-se. Verbo simples. Prática difícil. Nada simples, porém muitas vezes, necessária. É preciso ter o pulso firme e coração leve para não nos prendermos demasiadamente a tudo e todos que têm valor para nós.

Ouvi dizer que o apego ofusca a luz, como se embaçasse a clareza que pudesse existir. Senti também. É verdade, o apego atrapalha, amarra, atravanca, pesa. Sentimento estranho e mal aplicado, por assim dizer.

Desapegar-se. Verbo simples. Prática difícil. Nada simples, porém muitas vezes, necessária. É preciso ter o pulso firme e coração leve para não nos prendermos demasiadamente a tudo e todos que têm valor para nós.

Ouvi dizer que o apego ofusca a luz, como se embaçasse a clareza que pudesse existir. Senti também. É verdade, o apego atrapalha, amarra, atravanca, pesa. Sentimento estranho e mal aplicado, por assim dizer.

Apego é diferente de amor. Diferente de querer. Diferente de zelo. Apego é apego e ponto. Nós sabemos do que se trata e convivemos bastante com esse sentimento.

Há quem lute por uma vida mais livre de apegos, seja aos sentimentos, às pessoas, às coisas, à posição social, ao emprego, à matéria. Levante a mão quem se identifica com esse ato de verdadeira coragem que é buscar um caminho com mais desapego e leveza.

Sei o quão dolorida e difícil é uma existência pautada no apego arraigado à alma. Dóem os ombros só de pensar. Dói a nuca também. E a têmpora direita. Sei o quanto a leveza de desapegar-se aos poucos dos excessos que encobrem o dia a dia é libertadora. E faz bem à saúde, diga-se de passagem.

Atualmente muito tem se falado nas práticas minimalistas, em valorizar um estilo de vida com menos acúmulo, menos barulho, menos objetos e mais espaço para o ar circular. Menos coisas e mais verde, mais contato com a natureza. Tenho percebido como essa tribo está ganhando integrantes. A galera que está valorizando mais o ser do que o ter, mais o tempo do que uma conta bancária recheada às custas de dias e noites de incessante trabalho, andando em corda bamba contra o fluxo do materialismo. Dá gosto de ver. E me parece um processo de desapego também. Desapegar-se do velho mundo e buscar um novo, o seu próprio mundo, mais próximo da verdadeira essência.

Essa reviravolta no meio da vida, esse desapego de tantas coisas e muitas vezes do próprio ego é um processo dos mais bonitos que tenho presenciado. Mas ainda assim, talvez não dê tão certo se não for bem delineado, se não contar com pitadas de sabedoria e um tanto de planejamento. O desapego é bom, traz leveza, mas para muitos, é um treinamento novo, sem precedentes e difícil de lidar. Ainda assim, vale a pena sentir e conhecer melhor o verdadeiro significado do desapego.

Como bem disse a escritora Martha Medeiros: “longa vida aos que conseguem se desapegar do ego e ver a graça da coisa.”

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Cigarros eletrônicos: uma febre

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Menta, morango, chocolate, manga, limão, hortelã, uva, baunilha, café, cookie e até sabor de churros. Temperados pela imensa variedade de cores e sabores, os cigarros eletrônicos são uma febre, de norte à sul, especialmente na mão dos jovens brasileiros.

Menta, morango, chocolate, manga, limão, hortelã, uva, baunilha, café, cookie e até sabor de churros. Temperados pela imensa variedade de cores e sabores, os cigarros eletrônicos são uma febre, de norte à sul, especialmente na mão dos jovens brasileiros.

O cigarro foi uma grande febre nos anos 80. Saiu de moda. Agora, retornamos com toda força com os “vaporezinhos cheirosos” que seduzem não somente quem fuma, mas quem está ao redor. Divulgados no país como menos inofensivos, ou menos danosos que o cigarro convencional, os cigarros eletrônicos, ou vapes e pods, nomes que variam em função de detalhes, são todos dispositivos eletrônicos para o fumo.

Fato é que a tecnologia que avança de forma espetacular vai produzindo itens que facilitam a vida do homem, fazendo com que o ser humano, cada vez mais, tenha condições de desenvolver seus objetivos. A grande problemática é quanto o mau uso dela.

Eleonora Santi, médica com foco na medicina integrativa e ortomolecular, explica que de acordo com a Comissão de Combate ao Tabagismo foram identificadas, até o momento, cerca de 80 substâncias nos aerossóis, sendo muitas delas tóxicas e cancerígenas. Além disso, a grande maioria dos vapes e pods contém grandes concentrações de nicotina, droga psicoativa que causa intensa dependência em seus usuários.

“Engana-se quem pensa que os vapes e pods são menos lesivos que o cigarro convencional. O cigarro eletrônico pode causar consequências tão nocivas quanto o cigarro ‘não moderno’, tais como: câncer, angina, infarto, doenças pulmonares, alterações vasculares, crises de asma etc. O uso do ‘vaporezinhos cheirosos’ por não fumantes, principalmente adolescentes e jovens, aumentam em duas a três vezes o risco de migrarem para o consumo de cigarros ou outros produtos convencionais.”

Em média, um cigarro comum oferece 15 tragadas. Um maço teria, então, 300 tragadas. Logo, um cigarro eletrônico de 1,5 mil tragadas seria equivalente a cinco maços. Mas a comparação não é tão simples assim, porque um cigarro comum, no Brasil, pela determinação da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, tem no máximo um miligrama de nicotina.  Em diversos ‘pods’, como não são fiscalizados, podem conter muito mais além do permitido.

Proibidos pela Anvisa

Os dispositivos eletrônicos para fumar, incluindo os vapes e cigarros eletrônicos, são proibidos desde 2009 no Brasil, conforme resolução da Anvisa. Recentemente, no início deste mês, a decisão pela proibição foi revista pelo órgão e mantida por unanimidade. A comercialização destes produtos ocorre de forma ilegal no país.  

O advogado criminalista e professor universitário, Caio Padilha, mestre e especialista em direito e processo penal explana que o poder público vem cada vez mais intensificando a repressão ao comércio deste tipo de mercadoria, tanto nos pontos de fronteira como diretamente nos pontos de venda.

“A venda destes produtos é ilegal no Brasil e a pessoa que pratica essa conduta poderá responder pelo crime de contrabando: um delito que tem a pena de dois a cinco anos de reclusão, sendo possível a prisão em flagrante e não passível do arbitramento de fiança pelo delegado”, explica Caio.

Levantamentos apontam que o número de apreensão de cigarros eletrônicos aumentou mais de 200%, se comparado ao primeiro trimestre de 2021 no Brasil. Apesar de proibido, há quem se arrisque com a venda desses produtos por meio das redes sociais ou em festas, especialmente por ter se tornado um produto muito consumido pelos jovens. Mas e o consumo, é legal, dr. Caio?

“O consumo por si só não é criminalizado. Apesar de ser um produto proibido pela Anvisa, não está dentro do rol da portaria que define substâncias proibidas por serem consideradas drogas. Nesse sentido, o consumo não é criminalizado.”

Outro ponto importante de ser lembrado é que apesar dos relatos de que os cigarros eletrônicos têm sido usados de forma indiscriminada em ambientes fechados, a prática é proibida pela lei federal 9.294, de 1996. Cachimbos, cigarros, vapes, pods e narguilês são produtos fumígenos, e no entendimento da lei, independentemente de conterem tabaco ou não, são proibidos, seja qual for o tipo de estabelecimento fechado.

“Bom, mas se tiver alguém fumando no meu estabelecimento fechado? A multa é para o fumante, certo?”. A pena nesse caso recai sobre o dono do estabelecimento comercial, e varia entre R$ 2 mil e R$ 1,5 milhão, até a suspensão do alvará de funcionamento. A lei não estabelece punição para o fumante. É necessário que os donos de estabelecimentos, apesar de ser uma prática habitual, levem essa situação à sério.

A conclusão é simples e direta: ninguém é obrigado a ser fumante passivo de ninguém; faz mal; é crime vender esses produtos; e cuidado com a modernidade para, no futuro, não ter que fazer o bom uso da tecnologia usando um respirador da cama de um hospital.

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