Onda de xenofobia

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 05 de outubro de 2022

xenofobia regional é o nome que utilizamos para definir ações que discriminam um pessoa ou um grupo devido a suas identidades culturais. Apesar desse preconceito social ser histórico, ganhou grande relevância no cenário brasileiro, principalmente após o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras.

Com todas as urnas apuradas e os resultados divulgados de que o candidato A teria passado o candidato B na região, os ataques logo começaram nas redes sociais. Vindos de muitos desconhecidos e muitos conhecidos friburguenses, vi postagens chamando nordestinos de ”vermes” e associando-os à sede, burrice e fome.

Outras postagens associam o Nordeste à pobreza e a miséria. A região aparece como dependente de "assistencialismo", enquanto as demais seriam responsáveis pela produção de riqueza do país. Algumas publicações se referem aos nove estados como "Cuba do Sul" ou Venezuela. Há ainda mensagens que afirmam que os nascidos no Nordeste "não pensam", além de classificá-los como "manipuláveis" e "massa de manobra"...

Nas redes sociais, a palavra “nordestino” está entre as mais comentadas, com pessoas xingando e outras defendendo. E se eu fico incrédulo com isso? Supreendentemente, não. Sou filho de nordestina, meu avós eram retirantes e ainda que eu seja um friburguense nato, morei durante 12 anos em João Pessoa, capital da Paraíba, cidade pela qual eu tenho um carinho incondicional. Já sofri um pouco desse preconceito na pele.

Algumas vezes, pode ser até dificil reconhecermos esse tipo de violência. O preconceito emerge sempre de forma velada e amistosa, que soa sempre como uma grande brincadeira. Vêm-me a lembrança uma vez, indo a uma churrascaria no centro da cidade, e ao adentrar o elevador, uma criança apertou todos os botões do elevador e a mãe dela logo repreendeu: “Você parece um Paraíba que nunca viu um elevador na vida”.

Bom, imagine...foram longos dois minutos dentro daquele elevador, que parava em todo andar. Respira, inspira! Calei-me naquele momento – talvez não devesse, mas achei prudente. Mas refleti comigo: “João Pessoa à época detinha o título da cidade com maior número de construção de prédios e possui o segundo maior arranha-céu de todo território. Como é que essa mulher, morando em Friburgo, em que maior parte da população reside em casas, está falando isso?”.

Aquela situação me trouxe grande indignação. Mas percebi que muita gente desconhece o Nordeste brasileiro ou se recusa a descobrir um pouco mais sobre a região. Além de ser rico culturalmente e sua economia cresce a cada ano que passa, inclusive com muitas cidades de interior superando à nossa região.

A localidade conhecida como “Vale do Silício” brasileiro, que detém grande produção de tecnologia e softwares, é Campina Grande, na Paraíba, também conhecida como a promotora da maior festa de São João do mundo. A época, a cidade com mais carros de luxo por habitante nesse país, era João Pessoa. E ainda que parte das pessoas fale mal, sempre que tem oportunidade, vão passar férias lá... vai entender!

Lá em 2012, eu retornei para Nova Friburgo e aqui moro desde então. E uma coisa que aprendi com a minha pouca experiência de vida: o xenofóbico se julga diferente – superior - e a partir disso ele desenvolve o preconceito contra quem sua mente achar que deve e pelos motivos que achar conveniente e não há nada que mude isso.

O retrato que vemos agora não supreende. As mesmas brincadeiras feitas na roda dos amigos, na mesa da família, que eu presenciei, são externalizadas publicamente nas redes sociais camufladas de uma ”briga por um país melhor”. Mas que ainda sim, exprimem o arcaico preconceito.

Preconceito, que como todos nós sabemos, e se não sabíamos, o momento é agora: crime. Quem se julga diferente na verdade se revela despreparado e inculto e pode ser reprimido pelas garras da justiça e da lei. É o que diz o artigo 1º da Lei de Crimes Raciais: ”Serão punidos, na forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.” Crime inafiançável e imprescritível.

E mais uma vez reforço e apelo, liberdade de expressão jamais deve ser confundida com liberdade de agressão. O limite é sempre a lei. Associar quem pensa diferente à desinformação é um preconceito enorme e que deve ser combatido todos os dias. Infelizmente, dividiram o país em duas cores, duas pátrias. Mas já diria, um famoso escritor em seus livros: ”O nordestino é antes de tudo, um forte”. E é verdade! Enfrenta todo tipo de dificuldade e ainda assim consegue vencer, sorrir para a vida e ser um povo extremamente amável e hospitaleiro.

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