Lives

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 08 de maio de 2020

Nesses tempos difíceis, eis que uma figura nova chegou com o ar da graça e veio com força total: as lives, transmitidas pelas redes sociais. Já tem gente com implicância contra elas. De tantas que são, todo santo dia. Uma, duas, três, 100 lives em um dia dentro da rede de contatos sociais. O isolamento repentino aliado à angústia de viver uma pandemia sem precedentes tem sido um terreno fértil e absolutamente propício a essas formas de interação e transmissão de informações.

Eu mesma já me rendi aos encantos. Já fiz algumas e assisti a tantas outras. Não houve escapatória. Há muitas coisas acontecendo e a partilha é inerente aos seres humanos do século 21. Já me rendi a toda forma de comunicação remota. Trabalho pelas telas e interajo com centenas de pessoas semanalmente por conta do meu ofício. Já me habituei, inclusive, a falar para uma tela cinza enquanto dezenas de pessoas me veem. É uma questão de costume. E de necessidade. Necessidade jamais vivida e imaginada. A gente aprende. Essa é a parte mais fácil de tudo que estamos vivendo. Não há razão para reclamar.

Devo confessar que a tecnologia tem sido “mocinha e bandida” na minha existência durante a pandemia. Pude participar do almoço de Páscoa virtual com a família, bati papo com meus primos ao redor do mundo, descobri o sexo do novo bebê da família em tempo real, tomei decisões importantes, reuni-me com meus chefes e colegas, com meus clientes e até mesmo com gente que nunca vi na vida, mas com quem troquei informações seletas pelos canais de comunicação.

Por aqui também vivi momento difíceis. Informei-me sobre a tragédia, decorei os sintomas da doença Covid-19 e os traços diferenciadores em relação à gripe comum, resfriado e alergia respiratória. Vi cenas chocantes, acontecimentos vergonhosos na política, estatísticas de doer a alma, números de mortes crescendo. Adoeci, chorei, sufoquei e consumi todo tipo de notícia ruim e triste até que um dia mudei a busca para sobreviver. O oposto de doença é cura? Ok. Vamos tentar focar nela. Esforço tremendo.

Já descobri também formas diferentes de meditar, conheci as funções dos aromas, participei das cerimônias religiosas da minha igreja, a última delas, transmitida ao vivo do Japão. Da janela de casa, por entre as nuvens todas, o esforço para perceber que o sol continua a brilhar.

Incrível o que a tecnologia tem feito conosco. Tem sido nosso elo, nosso canal com o mundo, com os médicos, com os amigos, com a família e com nosso trabalho. Alerta até que hoje é noite de lua cheia. Boa lembrança. Corro para ver. Existe céu e a lua também continua lá. As lives promovidas por artistas têm sido, por vezes, a única forma de entretenimento de tantas pessoas em sofrimento. Podem ser o alento de alguém no hospital. As lives informativas podem ser nossas fontes benéficas diante desse fluxo severo, veloz e alucinante de informações.

Não, não vou implicar com elas que têm sido portais de conexão com a vida real de tanta gente. Aliás, o Dia das Mães está aí, não perco esse encontro virtual com a família por nada. Salve a tecnologia.

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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