Sejamos

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Sejamos gentis com todas as dores. Com todas as perdas. Com todas as dificuldades. Com todos os amores. Sejamos educados para lidarmos com os outros, com os problemas deles, com suas dificuldades. Sejamos complacentes com a tragédia e o luto. Sejamos fortes para enfrentarmos barreiras. Para tratarmos de doenças. As físicas, as psíquicas, as da alma. Sejamos honestos com nossas limitações, com as coisas dos outros, com nossas responsabilidades e com o que podemos fazer. Sejamos justos em nossas ações, generosos em nossas palavras e benevolentes em nossos pensamentos.

Estou com muito medo. Além da angústia pelas perdas, o receio da doença, a apreensão pelo desconhecido, a iminente miséria, tenho medo de as pessoas perderem a humanidade, justamente a humanidade, que as fazem humanas.

Tenho a sorte de lidar com pessoas generosas, esforçadas em compreender, otimistas o suficiente para seguirem o percurso e enfrentarem a batalha, esperançosas para enxergarem luz no fim do túnel e compartilharem um pouco esse olhar. Acho que fiz boas escolhas na vida. As pessoas, esses tesouros que são o que mais importam. Escolhi essa gente de bem para caminhar comigo. Gente generosa, que estende mãos, que se coloca no lugar do outro. É o que me mantém sã. Que sustenta a sanidade e a fé nos homens.

Sinto pena verdadeira de quem não compartilha da mesma sorte que eu, que não escolheu suas pessoas com base em critérios e valores bem estabelecidos e afins com sua proposta de vida. Vejo muitas pessoas sambando na tragédia alheia, debochando das mortes, rindo de caixões, fazendo piada do pavor, ignorando os mais pobres, fingindo que nada está acontecendo e que esse problema não é humano. Sinto dó de quem já perdeu completamente a humanidade. De quem se desconectou de sentimentos de amor, de bondade, de empatia. De quem se endureceu a ponto de parecer uma pedra de verdade. Sem alma.

Ando muito triste com nosso cenário caótico. Tenho dificuldade de lidar com estatísticas de dor e sofrimento, por mais protegida que eu esteja. Ou que aparentemente esteja. Lidar com o invisível perigoso é um grande laboratório de vida que mudará nossas perspectivas e tudo o que conhecemos sobre existir até hoje. Não estou só. Sou parte integrante de um todo que está doído. Sou os enfermeiros que arriscam suas vidas e são atacados. Infelizmente, sou parte dessa sociedade com tanta ignorância e maldade. Compadeço-me com o sofrimento alheio e com o meu próprio sofrimento.

Enxergo bem a sociedade em que vivemos, absolutamente desigual. Sinto o vazio de não me sentir bem representada, desamparada, quando não achacada por quem deveria nos defender. Estamos cada vez mais sós nessa batalha e ao mesmo tempo, mais unidos do que nunca. Nós, a humanidade, com “h” maiúsculo, o planeta inteiro. O mínimo que devemos ser é humanos. Sejamos!

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Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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